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sábado, 14 de abril de 2012

O contador e as fitas que estão por aí

13 de abril de 2012 às 14:12 - Amedrontar e circunscrever [título original do post]
por Luiz Carlos Azenha - Blog Viomundo

A Globo pediu acesso a todos os documentos da Operação Monte Carlo, que resultaram num processo que corre em segredo de Justiça, no STF. A Carta Maior também pediu. O acesso foi negado a ambos.

Demóstenes Torres, como parte envolvida, teve acesso.


Curiosamente, por pura coincidência, depois que isso aconteceu sobrou para Protógenes Queiroz, Agnelo Queiroz e a construtura Delta — a construtora do PAC, grita O Globo –, que também seria a favorita de Sergio Cabral.

O objetivo que precede a CPI é jogar a rede o mais amplamente possível, suscitar medos e, ainda que não impeça a Comissão, domá-la desde o início.

Al Capone não faria melhor.


Faz sentido a notícia de que a tática dos acusados seria a de não falar absolutamente nada durante os depoimentos, deixando a bomba explodir no colo dos políticos e agentes públicos convocados.

Não digo que a tática vá funcionar, mas que faz sentido divulgar a suposta tática agora, colocando minhoca na cabeça dos deputados e senadores antes que eles criem a CPI.

Mas será que eu assino esta CPI, que pode se voltar contra quem a criou?

O movimento inclui jogar Lula — que apóia a CPI — contra Dilma que, segundo a Folha de S. Paulo, teme a investigação.

Mas, será que teme mesmo?

O movimento inclui dizer que o PT pretende usar politicamente a CPI para cercear a liberdade de imprensa.


Compreendam: a mídia corporativa tem muito a perder com a CPI do Cachoeira. Pela primeira vez na história da República, o grande público terá acesso aos métodos aplicados em nome do “jornalismo investigativo” e à relação entre arapongas e redações. São estes métodos que garantem à mídia ascendência sobre políticos e agentes públicos e, portanto, atendimento a importantes interesses econômicos. Ou vocês acreditam que os tucanos alimentam a mídia paulista por achá-la boazinha?


Além disso, as capas bomba da revista Veja eram repercutidas automaticamente, sem qualquer questionamento. A bola rolava na revista, era impulsionada pelo JN de sábado e ganhava as páginas de O Globo, Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo já no domingo. A ordem era repercutir, repercutir, repercutir. Se possível, com novos ângulos e novas investigações. O mar de lama, curiosamente, só banhava uma praia.

Não foi por acaso que nada menos que quatro senadores se negaram a relatar as acusações contra Demóstenes Torres no Conselho de Ética do Senado, Lobão Filho (PMDB-MA), Ciro Nogueira (PP-PI), Gim Argello (PTB-DF) e Renan Calheiros (PMDB-AL). O que Demóstenes teria guardado contra eles?

Sobrou para o ex-ministro da Saúde Humberto Costa (PT-PE).

Costa, lembrem-se, foi acusado de envolvimento com a máfia dos sanguessugas, que atuou no Ministério da Saúde desde “o governo anterior”, como em priscas eras o JN se referia ao governo de FHC. Em 2006, na semana que antecedia o primeiro turno das eleições, o Jornal Nacional noticiou com destaque o indiciamento dele — que era candidato a governador de Pernambuco — no inquérito, ao lado do ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares. Mas a lista de indiciados era muito mais longa e incluía gente próxima do ex-ministro José Serra, como Platão Fischer-Pühler — Serra concorria ao governo paulista. A lista completa dos indiciados, disse Fátima Bernardes naquela ocasião, você vê no site do Jornal Nacional.

Posteriormente, Costa foi inocentado de todas as acusações. Mas, em 2006, nem chegou ao segundo turno.

Se a CPI sair — só acredito vendo –, vai nascer amedrontada.


Tem muita gente com muito a perder. Ou será que teremos um acordão no fim-de-semana? É esperar e ver…


PS do Viomundo: Fonte bem informada, que nunca nos decepcionou, diz que o homem-chave continua foragido, o contador de Carlinhos Cachoeira, Giovani Pereira da Silva. Giovani, diz a fonte, guardava num cofre as fitas produzidas pela arapongagem a serviço de Cachoeira. Nos próximos dias podem vazar fitas, que serão atribuídas ao inquérito mas na verdade são do arquivo de Cachoeira. A própria fonte, no entanto, disse que às vezes é impossível discernir quem está a serviço de quem, no submundo de Brasília. Há, segundo ele, brincando, “agentes duplos, triplos e quadrúpedes”.


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Outra novela do mensalão vem aí

16/02/2012 - Gilson Caroni Filho - Mensalão: o anúncio do grotesco midiático
blog Viomundo

A manchete do jornal O Globo, em sua edição de 15 de fevereiro de 2012 (“Marcos Valério é o primeiro condenado do Mensalão”), não deixa dúvidas quanto ao espetáculo que dominará páginas e telas depois do carnaval: à medida em que se aproxima o julgamento do processo que a imprensa chama de “escândalo da mensalão”, velhos expedientes são reeditados sem qualquer cerimônia que busque manter a aparência de jornalismo sério.

A condenação do publicitário por crimes de sonegação fiscal e falsificação de documentos públicos seria, mesmo que não surjam provas de conduta delituosa por parte dos réus, a senha para o STF homologar a narrativa midiática e não ficar maculado pela imagem de “pizza” que uma absolvição inevitavelmente traria à mais alta corte do país. Essa é a intimidação diária contida em artiguetes e editoriais.

Como destaca Pedro Estevam Serrano, em sua coluna para a revista CartaCapital, "o que verificamos é a ocorrência constante de matérias jornalísticas em alguns veículos que procuram nitidamente criar um ambiente de opinião pública contrária aos réus, apelando a matérias mais dotadas da verossimilhança dos romances que à verdade que deveria ser o mote dos relatos jornalísticos".

Os riscos aos pilares básicos do Estado Democrático de Direito são nítidos na empreitada. Serrano alerta para o objetivo último das corporações:
“E tal comportamento tem intenção política evidente, qual seja procurar criminalizar o PT e o governo Lula, pois ao distanciar o julgamento de sua concretude por relatos abstratos e simbólicos o que se procura pôr no banco dos réus não são apenas as condutas pessoais em pauta mas sim todo um segmento político e ideológico.”

A unificação editorial em favor da manutenção dos direitos do CNJ em votação de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) não revela apenas preocupação com o indispensável controle externo do poder judiciário, mas o constrangimento necessário de juízes às vésperas de um julgamento que envolve, a construção política mais cara à mídia corporativa. No lugar do contraditório, a imposição de uma agenda. Ocupando o espaço da correta publicidade dos fatos, a recorrente tentativa de manipulação da opinião pública. A trama, no entanto, deve ser olhada pelo que traz de pedagógico, explicitando papéis e funções no campo jornalístico.

O pensamento único, para o ser, não basta ser hegemônico; tem que ser excludente. Não apenas de outros pensamentos, mas do próprio pensar. Parafraseando Aldous Huxley, “se o indivíduo pensa, a estrutura de poder fica tensa”. Na verdade, na sociedade administrada não pode haver indivíduo. Apenas a massa disforme, cujo universo cognitivo e intelectivo é, de alto a baixo, subministrado pelos detentores do poder social. É nessa crença que se movem articulistas, editores e seus patrões.

Em um sistema de dominação é essa, e nenhuma outra,, a função da “mídia”: induzir o espírito de manada, o não-pensar, o abrir mão da razão e aderir entusiasticamente à insensatez programada pelos que puxam os cordões. Os fracassos recentes não nos permitem desdenhar do capital simbólico que as corporações ainda detêm para defender os seus interesses e o das frações de classe a ela associadas.

Nesse processo, o principal indutor é o “Sistema Globo”, que o falecido Paulo Francis, antes de capitular, apropriadamente crismou como “Metástase”, pois de fato suas toxinas se espalham por todo o tecido social. Seus carros-chefe, que frequentemente se realimentam reciprocamente, são o jornal da classe média conservadora e, principalmente, o Jornal Nacional, meticulosamente pautado “de [William] Bonner para Homer [Simpson]“ que, de segunda a sábado, despeja ideologia mal travestida de notícia sobre dezenas de milhões de incautos.

E o que “deu” no Jornal Nacional “pauta” desde as editorias dos jornais impresso — O Globo por cima e o Extra por baixo — e das revistas, “da casa” ou de uma “concorrência” cujo único objetivo é ser ainda mais sensacionalista e leviana. Algumas vezes, o movimento segue o sentido inverso: uma publicação semanal produz a ficção que só repercute graças à reprodução da corporação.

Os outros instrumentos de espetaculosidade complementam o processo, impondo suas versões de pseudo-realidade: o Fantástico, ersatz dominical do JN; as novelas “campeãs de audiência”, com seus “conflitos” descarnados e suas “causas sociais” oportunisticamente selecionadas como desconversa; e, culminando, o Big Brother Brasil, a celebração máxima da total vacuidade.

Processo análogo vem sendo usado, há mais de duas décadas, para esvaziar e despolitizar a política, reduzindo-a às futricas de bastidores, ao “em off” e aos “papos de cafezinho”; e, em época eleitoral, à corrida de cavalões das pesquisas de intenção de voto que ocupam as manchetes, o noticiário, as colunas – ah, as colunas! – e até mesmo a discussão supostamente acadêmica. A não menos velha desconversa nacional: olha todo mundo pra cá, e pela minha lente, para que ninguém olhe pra lá.

Falar-se em “opinião pública”, nesse cenário, é um escárnio. “Opinião” pressupõe um espaço interno, em cada indivíduo, para reflexão, ponderação, crítica e elaboração, não controlado pelo poder social. “Pública” requer que exista uma esfera pública, de discurso racional entre iguais, aberto ao contraditório e não subordinado aos ditames do “mercado” ou subministrado de fio a pavio pelo braço “midiático” do mesmo poder. Nem uma nem outra condição pode existir em ambiente que tenta subjugar “corações e mentes”, induzindo-o sistemática e deliberadamente à loucura social.

Avançamos bastante, mas não nos iludamos: o que vem por aí é uma luta renhida. De um lado, o espetáculo autoritário. E, de outro, a cidadania e o Estado de Direito como permanente construção.

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PS do Viomundo:
Vimos de dentro o processo de dar pernas às capas da Veja. Elas pulavam direto para o Jornal Nacional de sábado e ganhavam a imprensa escrita na semana seguinte. A primeira novela do mensalão ocupou toda a campanha de reeleição de Lula, em 2006.

Em nome da equidade, a Globo dava 50 segundos para cada candidato. Tinha dia em que três candidatos atacavam o governo (150 segundos), contra 50 segundos de Lula.

Foi nesse período que o então editor de economia do Jornal Nacional em São Paulo, Marco Aurélio Mello, recebeu a ordem para “tirar o pé” da cobertura econômica (o crescimento da venda de cimento, no cálculo da Globo, era notícia positiva para Lula). Além disso, poderia atrapalhar a paginação do JN, que vinha carregada de matérias investigativas contra o governo.

Quando a pressão interna conseguiu emplacar uma única pauta sobre o escândalo das ambulâncias, que poderia atingir indiretamente o candidato do PSDB ao governo paulista, José Serra, ela foi feita, editada, mas nunca entrou no ar! O problema é que o escândalo das ambulâncias superfaturadas estava na conta do PT, apesar de Lula ter “herdado” o esquema do “governo anterior” (eufemismo da Globo quando era inconveniente falar em governo FHC ou governo do PSDB). A matéria arquivada tinha um único dado comprometedor: 70% das ambulâncias superfaturadas tinham sido entregues na gestão de José Serra como ministro da Saúde — e do sucessor que ele deixou na vaga quando concorreu ao Planalto, em 2002. Isso, sim, era de estragar a paginação do JN. Descrevi isso melhor no post "O que eu pretendia dizer na TV sobre as ambulâncias de Serra"  (http://www.viomundo.com.br/denuncias/o-que-eu-pretendia-dizer-na-tv-sobre-as-ambulancias-de-jose-serra.html).

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Pinheirinho, um especulador, um rapper e uma reintegração de posse

Do blog Viomundo

"Caro Azenha:
Aqui no Vale do Paraíba paulista o caso mais absurdo do momento se refere à desapropriação da área conhecida como Pinheirinho, em São José dos Campos.
Desde 1994, 1.500 famílias (cerca de 5000 pessoas) ocuparam uma área pertencente à massa falida de uma empresa [As terras pertenceriam a empresa Selecta, do empresário e especulador da Bolsa de Valores, Naji Nahas]
Desde o início, estas famílias fizeram a proposta de comprar lotes, mas em nenhum momento houve ajuda da Prefeitura (comandada pelo PSDB há muito tempo). Representantes do Governo Federal e Estadual se reuniram com moradores, OAB, igrejas, mas ninguem da prefeitura. Agora foi expedida ordem de reintegração de posse.
O risco de confronto é real. Divulgar o caso é fundamental para que não ocorra um massacre !!!"


A Rua é Nóiz - sugerido por Igor Felippe

A partir da foto acima, do Estadão, que mostra os moradores do bairro de Pinheirinho, em São José dos Campos, preparados para enfrentar a reintegração de posse, o rapper Emicida escreveu em seu blog A Rua é Nóiz:

"Senti orgulho de ver nossos irmãos no front e tristeza pela situação em si, que ainda muito se repetirá por nosso país. Meu desejo com este texto e com estas palavras, é enviar-lhes força, pois partilhamos do mesmo sonho, um Brasil sem desigualdade social, onde não exista tanta terra na mão de tão pouca gente, um país onde os mais pobres não tenham que pagar com o que não tem, pelas ideias bilionárias de quem pouco se importa com quantas vidas serão destruídas pela construção dos alicerces de seus edifícios. E ainda chamam isto de progresso! Na verdade até é: o termo progresso possui uma conotação ambígua, o que nos resta é lutar para que o termo possa ser empregado mais vezes com um sentido positivo.

Esta semana, coincidentemente, recebi o email de um companheiro do MST que me enviou a letra de “Num É Só Ver”, dizendo como esta letra trabalhava o tema com perfeição. Sincronicidade é foda! Nossos corações estão ligados a um mesmo sonho, a uma mesma luta, é involuntário que nossas poesias sejam um espelho disto.

Muito amor e todo apoio ao povo do Pinheirinho." (A Rua é Nóiz." - Emicida)


Num é só ver
(Rael da Rima/ Emicida)

Empresários perdem milhões
Pobres acham, devolvem
Barões matam nações
Que se refazem, se movem
Manipulam informações
Fodem!
Grandes populações
Que não se envolvem
Trancados em mansões
É, eles podem
Seguros das monções
Oh right, no problem
Epidemias, liquidações
Dormem pessoas simples nos barracões
Orem
Calam manifestações
Protesto: morador empunha espada improvisada (Nilton Cardin/AE)


Olhem
Por cifras, com vidas
Não estranhe que joguem
Atrás de notícias compradas
Se escondem
Sem dó tiram comida
De outro homem
Artistas fazem rir
Presidentes fazem chorar
Tiros são barulhentos
Mas não impedem de escutar
O canto dos que lutam pelo povo
Sempre vivo
Gente louca faz música
Gente séria explosivo.



Hoje, 17/01/2012, Justiça suspende reintegração de posse do Pinheirinho, em São José dos Campos. Portal R7, Agência Record

Desde 2004 moradores resistem no local


Moradores do Pinheirinho em São José dos Campos, no Vale do Paraíba, interior de São Paulo, comemoraram uma liminar emitida pela Justiça Federal, durante a madrugada desta terça-feira (17), suspendendo temporariamente a operação de reintegração de posse na ocupação.


Comemoração: suspensa reintegração de posse.
Nelson Antoine/Fotoarena/AE


Cerca de 1.800 policiais militares, incluindo homens da Cavalaria e do Canil, chegaram a cercar o terreno de 1 milhão e 300 mil metros quadrados, mas não entraram.

A área foi ocupada irregularmente em 2004 por uma comunidade ligada ao Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem-Teto (MTST). Pelo menos 1.600 famílias, totalizando mais de 5.500 pessoas, vivem no local.

Na semana passada, um "exército" de moradores exibiu armas e escudos para resistir à ordem da Justiça. A entrada do assentamento segue sob vigilância. Um grupo de moradores de Pinheirinho fez uma manifestação na manhã de sexta-feira (13/01) contra a reintegração de posse do terreno. Na mesma manhã, representantes do acampamento se reuniram com membros da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e com lideranças sindicais para tentar definir o futuro dos moradores da área.

De acordo com o PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado), representantes de 18 sindicatos, além de movimentos sociais, partidos políticos e entidades estudantis participaram de um ato em solidariedade ao Pinheirinho também na sexta-feira, em frente à ocupação. Cerca de 500 moradores estiveram na manifestação.

A ordem de reintegração de posse foi assinada pela juíza Márcia Loureiro, da 6ª. Vara Cível de São José dos Campos, em meio a negociações de acordo já iniciadas pelos governos federal, estadual e municipal. O maior impasse entre as esferas do governo está nas mãos da prefeitura de São José dos Campos, que se recusa a inscrever a ocupação no Programa Cidade Legal, o primeiro passo para a regularização da área.