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quarta-feira, 27 de abril de 2011

Itamaraty pede paz nos países árabes e critica ataques à Líbia


Brasília, 27 abr (EFE).- O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, afirmou nesta quarta-feira que os países árabes precisam de "paz e desenvolvimento" e reiterou suas críticas aos ataques da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) contra a Líbia, pois, disse, podem ter efeitos contrários aos desejados.
Patriota participou de uma audiência realizada na Comissão de Relações Exteriores do Senado, na qual abordou diversos aspectos da agenda internacional, com especial ênfase na conflituosa situação provocada pelas revoltas em diversos países árabes.

O ministro indicou que a comunidade internacional deve buscar fórmulas que permitam levar "paz, desenvolvimento e segurança" a essas nações, das quais, segundo ele, que ficaram "excluídas" do processo de globalização e da "prosperidade" levada a outras regiões.

Em relação ao caso particular da Líbia, que é alvo de uma ofensiva militar da Otan autorizada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, Patriota considerou que a situação "se voltou mais complexa" desde o início dos bombardeios.

Patriota ressaltou que o Brasil, membro rotativo do Conselho de Segurança, se absteve da votação que autorizou os ataques justamente pelo temor de que eles provocassem um efeito contrário ao desejado, que é a proteção da população civil.

Ele reiterou as críticas do Brasil aos bombardeios que foram lançados por aviões da Otan contra propriedades do líder líbio Muammar Kadafi, que, em sua opinião, estão fora do marco traçado pela resolução do Conselho de Segurança da ONU.

Segundo Patriota, esses ataques poderiam não ser "compatíveis" com as resoluções adotadas pelo Conselho de Segurança, pois vão além do objetivo de "proteger a população civil". EFE

Fonte Yahoo Notícias

terça-feira, 29 de março de 2011

Uranio empobrecido, uma estranha forma de proteger os civis líbios

Será que os povos franceses, americanos e ingleses gostariam de ser
protegidos com uranio empobrecido, como seus governantes estão
protegendo os líbios? (indagação da editora do Blog).

Por David Wilson, do Stop the War Coalition



Nas primeiras 24 horas de bombardeios a Libia, os aliados gastaram 100 milhões de libras esterlinas em munição dotada de ponta de urânio empobrecido. Trata-se de um resíduo do processo de enriquecimento de urânio que é utilizado nas armas e reatores nucleares, sendo uma substância muito valorizada no exército por sua capacidade para atravessar veículos blindados e edifícios. Esse urânio empobrecido pode causar danos renais, câncer de pulmão, câncer ósseo, problemas de pele, transtornos neurocognitivos, danos genéticos em bebês e síndromes de imunodeficiência, entre outras doenças.

“Os mísseis que levam pontas dotadas de urânio empobrecido se ajustam à perfeição à descrição de uma bomba suja...Eu diria que é a arma perfeita para assassinar um monte de gente”, explicou Marion Falk, especialista em física e química (aposentada), Laboratório Lawrence Livermore, Califórnia (EUA).

Nas primeiras vinte e quatro horas do ataque contra a Líbia, os B-2 dos EUA lançaram 45 bombas de 2 mil libras de peso cada uma (um pouco menos de uma tonelada). Estas enormes bombas, junto com os mísseis de cruzeiro lançados desde aviões e navios britânicos e franceses, continham ogivas de urânio empobrecido.

O DU (urânio empobrecido, na sigla em inglês) é um resíduo do processo de enriquecimento de urânio que é utilizado nas armas e reatores nucleares. Trata-se de uma substância muito pesada, 1,7 vezes mais densa que o chumbo, muito valorizada no exército por sua capacidade para atravessar veículos blindados e edifícios. Quando uma arma que leva uma ponta de urânio empobrecido golpeia um objeto sólido, como uma parte de um tanque, penetra através dele e depois explode formando uma nuvem quente de vapor. Esse vapor se transforma em um pó que desce ao solo e que é não só venenoso, mas também radioativo.

Um míssil com urânio empobrecido quando impacta algo sólido queima a 10.000°C. Quando alcança um objetivo, 30% dele fragmentam-se em pequenos projéteis. Os 70% restantes se evaporam em três óxidos altamente tóxicos, incluído o óxido de urânio. Este pó negro permanece suspenso no ar, e dependendo do vento e das condições atmosféricas pode viajar a grandes distâncias. Se vocês pensam que Iraque e Líbia estão muito distantes, lembrem-se que a radiação de Chernobyl chegou até Gales.

É muito fácil inalar partículas de menos de 5 micra de diâmetro, que podem permanecer nos pulmões ou em outros órgãos durante anos. Esse urânio empobrecido inalado pode causar danos renais, câncer de pulmão, câncer ósseo, problemas de pele, transtornos neurocognitivos, danos genéticos, síndromes de imunodeficiência e estranhas enfermidades renais e intestinais. As mulheres grávidas expostas ao urânio empobrecido podem dar à luz a bebês com deformações genéticas. Uma vez que o pó se vaporiza, não cabe esperar que o problema desapareça. Como emissor de partículas alfa, o DU tem uma vida média de 4,5 milhões de anos.

No ataque da operação “choque e pavor” contra o Iraque foram lançadas, somente sobre Bagdá, 1.500 bombas e mísseis. Seymour Hersh afirmou que só o terceiro comando de aviação dos Marines dos EUA lançou mais de “quinhentas mil toneladas de munição”. E tudo isso carregava pontas de urânio empobrecido.

A Al Jazeera informou que as forças invasoras estadunidenses dispararam 200 toneladas de material radioativo contra edifícios, casas, ruas e jardins de Bagdá. Um jornalista do Christian Science Monitor levou um contador Geiger até zonas da cidade que sofreram uma dura chuva de artilharia das tropas dos EUA. Encontrou níveis de radiação entre 1.000 e 1.900 vezes acima do normal em zonas residenciais. Com uma população de 26 milhões de habitantes, isso significa que os EUA lançaram uma bomba de uma tonelada para cada 52 cidadãos iraquianos, ou seja, uns 20 quilos de explosivos por pessoa.

William Hague, Secretário de Estado de Assuntos Exteriores britânico, disse que estávamos indo a Líbia “para proteger os civis e as zonas habitadas por civis”. Vocês não têm que olhar muito longe para ver a quem e o que está se “protegendo”.

Nas primeiras 24 horas, os aliados gastaram 100 milhões de libras esterlinas em munição dotada de ponta de urânio empobrecido. Um informe sobre controle de armamento realizado na União Europeia afirmava que seus estados membros concederam, em 2009, licenças para a venda de armas e sistemas de armamento a Líbia no valor de 333.357 milhões de euros. A Inglaterra concedeu licenças às indústrias bélicas para a venda de armas a Líbia no valor de 24,7 milhões de euros e o coronel Kadafi pagou também para que a SAS (sigla em inglês do Serviço Especial Aéreo) para treinar sua 32ª Brigada.

Eu aposto que nos próximos 4,5 milhões de euros, William Hague não irá de férias ao Norte da África.

Tradução: Katarina Peixoto


(Envolverde/Carta Maior )

quarta-feira, 23 de março de 2011

Os riscos de defender a vida


Por Marcelo Barros*


No norte da África, a juventude e a sociedade civil se levantam contra ditadores e exigem mudanças sociais e políticas. Eles se unem a muita gente que, no mundo inteiro, nos dão testemunho de profunda coragem e doação da vida. Certamente muitos filhos escutam de seus pais argumentos para não irem às ruas protestar. É perigoso! Um artigo na internet ressalta a importância da participação das mulheres nas rebeliões cívicas no Egito e na Líbia. É uma verdadeira profecia de fé e confiança no futuro.

Ainda há quem continua dizendo que este mundo não muda nunca. Sempre foi injusto e sempre o será. Entretanto, cada vez é maior o número de pessoas que, em todos os continentes, se mobilizam para transformar a sociedade e tornar a vida mais feliz para todos.

Foi das aldeias indígenas e das culturas mais oprimidas e sofridas da América Latina que surgiu o conceito de viver em plenitude, ou simplesmente bom viver. Nos Andes, os índios quétchua chamam isso de sumak Kwasay; os Aymara falam em Sumak Kamana. Outros povos têm  nomes diferentes para indicar o mesmo valor: o objetivo social e político de garantir uma vida feliz para todos. O Equador e a Bolívia integraram a meta indígena do “Bom Viver” em suas Constituições nacionais, elaboradas pela sociedade civil e votadas recentemente por todo o povo.

 A sociedade capitalista vê sempre a vida como luta, o trabalho como batalha para ganhar o pão e a relação humana como concorrência. Para uma cultura assim, procurar uma vida feliz parece ser utopia irreal. Entretanto, a maioria das tradições espirituais sempre insistiu que o ser humano tem por vocação a felicidade e a plenitude da vida. Jesus Cristo lutou e deu a vida por isso. Conforme o evangelho, ele teria dito: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10, 10).

Na América Latina, muitos irmãos e irmãs deram a vida por este ideal da vida digna e justa para todos. Nesta quinta feira, 24, celebramos o aniversário do martírio de Dom Oscar Romero, arcebispo de El Salvador, assassinado em meio à missa que celebrava em uma capela de hospital (1980). Conheci e convivi com o padre Inácio Ellacuría, um dos jesuítas assassinados em 1989, na mesma cidade. Dois dias depois do assassinato do arcebispo, durante uma celebração em sua memória, o padre Ellacuria afirmou: “Com Dom Romero, a presença de Deus em El Salvador se tornou mais visível”.

Na época em que o arcebispo Oscar Romero e os jesuítas da Universidade de El Salvador foram assassinados, o país estava em uma guerra civil na qual mais de 50 mil pessoas perderam a vida. Desde os anos 80, a imensa maioria dos assassinatos, cometida por militares, nunca foi investigada nem punida.  Nos últimos anos, o país começou a mudar. Os esquadrões da morte foram desbaratados, o principal suspeito do assassinato do arcebispo foi julgado e ninguém mais precisa viver exilado para não morrer. O país elegeu como presidente Maurício Funes, jornalista, ex-guerrilheiro e casado com uma brasileira. A partir do respeito à Constituição e de forma democrática, o país tem integrado o grupo de países latino-americanos que caminham para uma autonomia maior e uma libertação da influência norte-americana. Mesmo sem usar o nome de “bolivarianismo”, os salvadorenhos querem formar com todos os povos do continente uma pátria grande.

Eles tornaram Dom Óscar Romero um herói nacional, homenageado como mártir e como exemplo de humanidade. Uma palavra do arcebispo ressoa ainda hoje como apelo à humanidade: “O grande inspirador da libertação de toda humanidade e de cada pessoa humana é Jesus Cristo. Por sua vida doada e sua ressurreição, ele diz a todos os poderosos da terra: “Vocês não libertam ninguém. Só quem consegue superar o egoísmo e destruir as cadeias que aprisionam o coração humano consegue libertar a si mesmo e aos outros. Se não partir do mais profundo do interior humano, a libertação não é duradoura, nem verdadeira”.

*Publicado originalmente no site do Brasil de Fato - http://www.brasildefato.com.br/node/5919

(Envolverde/Brasil de Fato)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Gasto militar mantém equilíbrio do terror financeiro nos EUA

Por Osvaldo Martinez*
A estrutura do orçamento dos EUA e a lógica de sua política econômica é a de uma economia de guerra na qual o gasto militar exacerba o déficit fiscal, mas permite o funcionamento de um “equilíbrio do terror financeiro”, repassa imensos lucros ao complexo militar industrial e mantém uma chantagem global baseada na força militar.

Uma simples olhada no orçamento de 2010 dos Estados Unidos permite examinar a magnitude do gasto militar e o papel que este joga em conjunto com o gasto para os pacotes de resgate dos bancos e entidades financeiras quebradas.

O montante do orçamento é de 3,94 trilhões de dólares e o déficit previsto é de 1,75 trilhão, equivalente a quase 12% do PIB. (1)

O gasto militar oficial é de 739,5 bilhões de dólares, embora se forem incluídos outros gastos indiretos ou encobertos, o gasto superaria 1 trilhão de dólares.

O gasto no resgate das entidades financeiras falidas na crise, efetuado pelas administrações de Bush e Obama alcança 1,45 trilhão, enquanto que os juros devidos pela dívida pública são de 164 bilhões de dólares.

Isto significa que quase toda a receita do orçamento (2,38 trilhões) se consome somente pelo gasto militar mais os resgates da oligarquia financeira e uma pequena proporção por juros da dívida pública. Não fica praticamente nada para outros tipos de gastos.

Se considerarmos que o gasto militar ronda o trilhão de dólares e que a parte da receita orçamentária correspondente aos impostos familiares é de 1,06 trilhão, temos que quase todos os impostos pagos pelas famílias nos Estados Unidos mal dão para cobrir o enorme gasto militar.

Os Estados Unidos são o país mais endividado do mundo, embora o significado prático disto seja diferente para este país que para qualquer outro, porque se encontra endividado na moeda nacional que ele mesmo cria e faz circular.

O financiamento da enorme dívida pública federal ascendente a 14 trilhões de dólares, sem incluir dívidas dos estados e municípios é de características surrealistas.

Para o crescimento dessa dívida pública contribuíram os pacotes de resgate aos bancos, mas essa dívida é financiada por uma retorcida operação mediante a qual o governo financia seu próprio endividamento, pois o dinheiro dado como resgate aos bancos é financiado em parte tomando empréstimos aos mesmos bancos.

Por sua vez, os bancos impõem condicionalidades ao governo no manejo da dívida e como o dinheiro deve ser empregado. Depois de terem sido “resgatados” os bancos exigem cortes maciços no gasto público em serviços para a população, a privatização de infraestruturas e serviços como água, rodovias, lazer, mas não se toca no gasto militar.

E não se toca porque “War is Good for Business” (A guerra é boa para os negócios) e a mesma oligarquia que maneja o mercado financeiro obtém elevados lucros procedentes do gasto militar. E esse gasto militar - como parte do déficit público - é financiado por operações de guerra econômica que se aquecem cada vez mais e ameaçam mesclar a guerra econômica com a guerra provavelmente nuclear que os Estados Unidos incubam na complexa meada de seus interesses e contradições econômicas e geoestratégicas.

O equilíbrio do terror financeiro
A peculiar estrutura mediante a qual os Estados Unidos atuam como uma economia parasitária que financia seus déficits e seu gasto militar recebendo injeções financeiras do resto do mundo é parte da “normalidade” da ordem econômica global. Ter reservas monetárias em dólares que se reciclam para comprar bônus ou outros instrumentos do Tesouro que financiam a dívida estadunidense, e com ela a escalada militar, é considerado pelos neoliberais como uma manifestação do equilíbrio de mercados livres.

O poder midiático apresenta esta reciclagem como resultado da confiança na fortaleza econômica dos Estados Unidos porque outros países enviam para lá seus dólares para ser investidos. (2)

O real é que os estrangeiros põem seu dinheiro nos Estados Unidos não porque sejam importadores de mercadorias desse país, nem tampouco são investidores privados comprando ações ou bônus. Os maiores aplicadores de dinheiro nos Estados Unidos são os bancos centrais que não fazem outra coisa senão reciclar os dólares que seus exportadores obtiveram e por sua vez cambiaram por moedas nacionais.

Com déficits comercial e fiscal crescentes nos Estados Unidos, se produz uma inundação de dólares para o exterior, que agora são impulsionados pela baixa taxa de juros norte-americana e pela emissão alegre de papéis verdes.

Os países receptores de dólares (a China em especial) se vêem colocados diante de um dilema. Não participam nem têm influência alguma sobre decisões econômicas do governo dos Estados Unidos, que se aproveita do privilégio do dólar. Se aceitam a inundação de dólares, seja por excedentes comerciais ou pela baixa taxa de juros norte-americana ou por ambos os fatores, sofrem a pressão para a elevação da sua taxa de câmbio, a perda de competitividade comercial e o perigo de deixar aninhar perigosos capitais especulativos de curto prazo.

Para evitar essa inundação, a conduta imposta é comprar papéis de dívida emitidos pelo governo norte-americano e acumulá-los nas reservas monetárias, sofrendo o perigo de que qualquer desvalorização do dólar seja uma desvalorização de suas reservas. À China ou a outros países que acumulam grandes volumes de dólares ou de papéis da dívida norte-americana denominados em dólares, não se lhes permite comprar ativos não financeiros nos Estados Unidos. Quando a China tentou (a compra de instalações para a distribuição de combustíveis) o governo dos Estados Unidos o proibiu. Nesse caso não valem o livre fluxo de capitais, o livre comércio e a retórica habitual. Só podem comprar ativos financeiros para financiar os déficits estadunidenses.

Ao comprar os bônus do Tesouro os países entram no “equilíbrio do terror financeiro” e passam a contribuir para financiar um destino não previsto nem desejado: o gasto militar do Pentágono.

Ocorre assim para os países receptores de dólares surgidos dos déficits norte-americanos, uma dupla compreensão. São lesionados ao ver-se estruturalmente empurrados a financiar passivamente a máquina militar norte-americana por meio de um “equilíbrio do terror financeiro” baseado não em sua superioridade econômica, mas no poderio militar. E ao fazê-lo, países como a China e a Rússia estão alimentando o mesmo gasto e poderio militar que aponta armas nucleares para eles.

O maciço gasto militar tem um objetivo geoestratégico hegemônico e sua lógica última é a guerra.

Não poucas pessoas nos Estados Unidos crêem nas virtudes de estímulo econômico que uma guerra pode trazer. Recordam com nostalgia que a guerra hispano-cubano-americana, a primeira guerra da etapa imperialista, serviu em 1898 para que os Estados Unidos escapassem da crise econômica daquela década. O que foi a Segunda Guerra Mundial? Esta finalmente provocou a suficiente destruição de forças produtivas para deixar para trás a Grande Depressão e abrir caminho aos dourados anos 1950. A recessão de finais dos anos 1940 foi superada com a ajuda da guerra da Coréia.

Esta nostalgia, que incrementa o perigo de uma catastrófica guerra nuclear, ignora que aquelas guerras convencionais correspondentes à época pré-nuclear poderiam atuar como estímulos anticrises, mas a guerra atual da era nuclear perdeu essa capacidade.

As guerras com armas convencionais tinham duas virtudes como reanimadoras da economia: mediante a produção maciça de armamento convencional para atender pedidos do Estado em guerra, se gerava emprego nas cadeias produtivas de então, e também a guerra convencional acelerava a destruição de forças produtivas que a crise econômica tinha iniciado, e levava ao nível suficiente para impulsionar a recuperação sobre a base da reconstrução do pós-guerra. A destruição era a suficiente para completar e acelerar o peculiar papel da crise econômica como destruidora de riqueza para iniciar depois outra fase expansiva e não era tanta ao ponto de ameaçar a vida da espécie humana e do planeta. Era possível para o capitalismo não só sobreviver, mas utilizar a guerra como tônico estimulante para a economia.

A guerra nuclear na atual etapa não seria estimulante frente ao principal problema orgânico da crise que é o desemprego, pois agora a tecnologia sofisticada para fabricar armas utiliza muito pouca força de trabalho, mas sua capacidade destrutiva é tão formidável que o destruído não seriam fábricas, capitais financeiros ou algumas cidades, mas o planeta e a espécie humana depois do cataclismo do inverno nuclear.

A guerra atual, se é guerra convencional de desgaste como a do Iraque e do Afeganistão, não pode ser ganha pelos Estados Unidos nem é estimulante para sair da crise econômica, se é guerra nuclear que se estabelece como ameaçadora possibilidade, tampouco serviria para sair da crise porque não eliminaria o grande problema do desemprego, mas serve para fazer grandes negócios a partir do tipo de gasto público que se maneja com total opacidade e falta de critério, o gasto no qual os Bernanke, Geithner, Summers, Strauss Kahn, nada decidem: o gasto militar, o qual é capaz de reunir em si mesmo a ambição hegemônica e o super lucro do grande negócio.

Para os Estados Unidos, debilitado economicamente e com uma cultura produtiva declinante, o recurso de última instância é a ameaça constante de guerra sustentada no gasto militar crescente. Mas, a ameaça constante de guerra e o gasto militar possuem uma dinâmica diabólica que tende a realizar-se na guerra real, quando convergem a mentalidade belicista, os conflitos pela hegemonia em petróleo, gás, água etc., disfarçados de razões humanitárias ou religiosas e a crença de que na guerra nuclear pode haver vencedores.

O declínio da economia da maior potência militar apresenta fortes tensões entre um poderio militar muito superior a qualquer outro e, pela mesma razão, ambicioso de hegemonia, e uma economia em retrocesso, que exportou boa parte de sua capacidade industrial, mergulhou no parasitismo financeiro, se acomodou no consumismo do produzido por outros e perdeu a cultura produtiva que alguma vez foi relevante. Alguns assinalam que seguindo essas tendências, o país que ao terminar a Segunda Guerra Mundial dominava a economia mundial com sua capacidade produtiva, se encaminha a consumir os produtos do exterior e a exportar somente filmes, espetáculos musicais, imagens glamorosas de um consumismo insustentável e armas.

O atraso econômico frente aos ritmos de crescimento da China e não só dela, mas do chamado BRIC+3 (Indonésia, Coréia do Sul, Malásia) é também uma fonte de tensões. Ao ritmo que crescem estes países chamados emergentes, seu PIB chegará em 2020 ao que agora tem o G-7.

As tendências apontam para o retrocesso econômico dos Estados Unidos e a previsível utilização da força militar para manter a posição dominante da segunda metade do século 20.

Essas tensões se manifestam nas guerras no Iraque, Afeganistão, Paquistão, na ameaça de guerra nuclear contra o Irã e a Coréia do Norte e também nos golpes e intentos de golpes de estado na América Latina (Honduras, Venezuela, Equador, Bolívia); adicionalmente, na crescente militarização na forma de instalação de bases militares norte-americanas em escala global e na conformação de uma doutrina de guerra que inclui, entre outras coisas, a perigosa redefinição das bombas nucleares “pequenas” - podem oscilar entre a metade e até 6 vezes a capacidade da bomba de Hiroshima - como armas que fazem parte de um menu de opções cuja utilização pode em teoria, ser decidida pelo comando no teatro de operações. Significa que um general no teatro de operações dispõe de uma “caixa de ferramentas” para escolher, na qual tem disponíveis mini bombas nucleares que poderia utili zar como o faria com os blindados, a artilharia etc. Mais
*economista e parlamentar cubano. Fonte: Cuba Debate

(1) Michel Chossudovsky e Andrew Gavin Marchall. The Global Economic Crisis. (A Crise Econômica Global), em Global Research. 2010. Pág. 47-48.

(2) Michael Hudson: The “Dollar Glut”. Finances America’s Global Military Build Up. ("O Excesso de Dólar”. As Finanças do Crescimento Militar Global da América), em The Global Economic Crisis. Capítulo 10.