Construir a cidadania a partir do exercício do direito de todos a expressão, comunicação e informação
Mostrando postagens com marcador crise mundial. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador crise mundial. Mostrar todas as postagens
sábado, 24 de agosto de 2013
A hora da ação política
Por Luiz Inácio Lula da Silva, no sítio do Instituto Lula:
A lenta retomada da economia global e os seus enormes custos sociais, especialmente nos países desenvolvidos exigem uma corajosa mudança de atitude. É preciso identificar com clareza a raiz da crise de 2008, que em muitos aspectos se prolonga até hoje, para que os líderes políticos e os órgãos multilaterais façam o que deve ser feito para superá-la.
A verdade é que, no dia 15 de setembro de 2008, quando o banco Lehman Brothers pediu concordata, o mundo não se viu apenas mergulhado na maior crise financeira desde a quebra da Bolsa de Nova York em 1929. Viu-se também diante da crise de um paradigma.
Outros grandes bancos especuladores nos Estados Unidos e na Europa só não tiveram o mesmo destino porque foram socorridos com gigantescas injeções de dinheiro público. Ficou evidente que a crise não era localizada, mas sistêmica. O fracasso não era somente desta ou daquela instituição financeira, mas do próprio modelo econômico (e político) predominante nas décadas recentes. Um modelo baseado na ideia insensata de que o mercado não precisa estar subordinado a regras, de que qualquer fiscalização o prejudica e de que os governos não tem nenhum papel na economia, a não ser quando o mercado entra em crise.
Segundo este paradigma, os governos deveriam transferir a sua autoridade democrática, oriunda do voto – ou seja, a sua responsabilidade moral e política perante os cidadãos – a técnicos e organismos cujo principal objetivo era o de facilitar o livre trânsito dos capitais especulativos.
Cinco anos de crise, com gravíssimo impacto econômico e sofrimento popular, não bastaram para que esse modelo fosse repensado. Infelizmente, muitos países ainda não conseguiram romper com os dogmas que levaram ao descolamento entre a economia real e o dinheiro fictício, e ao círculo vicioso do baixo crescimento combinado com alto desemprego e concentração de renda nas mãos de poucos.
O mercado financeiro expandiu-se de modo vertiginoso sem a simultânea sustentação do crescimento das atividades produtivas. Entre 1980 e 2006, o PIB mundial cresceu 314%, enquanto a riqueza financeira aumentou 1.291%, segundo dados do McKinseys Global Institute e do FMI. Isso, sem incluir os derivativos. E, de acordo com o Banco Mundial, no mesmo período, para um total de US$ 200 trilhões em ativos financeiros não derivados, existiam US$ 674 trilhões em derivativos.
Todos sabemos que os períodos de maior progresso econômico, social e político dos países ricos durante o século XX não tem nada a ver com a omissão do Estado nem com a atrofia da política.
A decisão política de Franklin Roosevelt, de intervir fortemente na economia norte-americana devastada pela crise de 1929, recuperou o país justamente por meio da regulação financeira, o investimento produtivo, a criação de empregos e o consumo interno. O Plano Marshall, financiado pelo governo norte-americano na Europa, além de sua motivação geopolítica, foi o reconhecimento de que os EUA não eram uma ilha e não poderiam prosperar de modo consistente num mundo empobrecido. Por mais de trinta anos, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, o Welfare State foi não apenas o resultado do desenvolvimento mas também o seu motor.
Nas últimas décadas, porém, o extremismo neoliberal provocou um forte retrocesso. Basta dizer que, de 2002 a 2007, 65% do aumento de renda dos EUA foram absorvidos pelos 1% mais ricos. Em quase todos os países desenvolvidos há um crescente número de pobres. A Europa já atingiu taxas de desemprego de 12,1% e os EUA, no seu pior momento, de mais de 10%.
O brutal ajuste imposto à maioria dos países europeus – que já foi chamado de austericidio – retarda desnecessariamente a solução da crise. O continente vai precisar de um crescimento vigoroso para recuperar as dramáticas perdas dos últimos cinco anos. Alguns países da região parecem estar saindo da recessão, mas a retomada será muito mais lenta e dolorosa se forem mantidas as atuais políticas contracionistas. Além de sacrificar a população europeia, esse caminho prejudica inclusive as economias que souberam resistir criativamente ao crack de 2008, como os EUA, os BRICS e grande parte dos países em desenvolvimento.
O mundo não precisa e não deve continuar nesse rumo, que tem um grande custo humano e risco político. A redução drástica de direitos trabalhistas e sociais, o arrocho salarial e os elevados níveis de desemprego criam um ambiente perigosamente instável em sociedades democráticas.
Está na hora de resgatar o papel da política na condução da economia global. Insistir no paradigma econômico fracassado também é uma opção política, a de transferir a conta da especulação para os pobres, os trabalhadores e a classe média.
A crise atual pode ter uma saída economicamente mais rápida e socialmente mais justa. Mas isso exige dos líderes políticos a mesma audácia e visão de futuro que prevaleceu na década de 1930, no New Deal, e após a II Guerra Mundial.
É importante que os EUA de Obama e o Japão de Shinzo Abe estejam adotando medidas heterodoxas de estímulo ao crescimento. Também é importante que muitos países em desenvolvimento tenham investido, e sigam investindo, na distribuição de renda como estratégia de avanço econômico, apostando na inclusão social e na ampliação do mercado interno. O aumento de renda das classes populares e a expansão responsável do crédito mantiveram empregos e neutralizaram parte dos efeitos da crise internacional no Brasil e na América Latina. Investimentos públicos na modernização da infraestrutura também foram fundamentais para manter as economias aquecidas.
Mas para promover o crescimento sustentado da economia mundial isso não é suficiente. É preciso ir além. Necessitamos hoje de um verdadeiro pacto global pelo desenvolvimento, e de ações coordenadas nesse sentido, que envolvam o conjunto dos países, inclusive os da Europa.
Políticas articuladas em escala mundial que incrementem o investimento público e privado, o combate à pobreza e à desigualdade e a geração de empregos podem acelerar a retomada do crescimento , fazendo a roda da economia mundial girar mais rapidamente.
Elas podem garantir não só o crescimento, mas também bons resultados fiscais, pois a aceleração do crescimento leva à redução do déficit público no médio prazo. Para isso, é imprescindível a coordenação entre as principais economias do mundo, com iniciativas mais ousadas do G-20. Todos os países serão beneficiados com essa atuação conjunta, aumentando a corrente de comércio internacional e evitando recaídas protecionistas.
A economia do mundo tem uma larga avenida de crescimento a ser explorada: de um lado pela inclusão de milhões de pessoas na economia formal e no mercado de consumo – na Ásia, na África e na América Latina – e de outro com a recuperação do poder aquisitivo e das condições de vida dos trabalhadores e da classe média nos países desenvolvidos. Isso pode constituir uma fonte de expansão para a produção e o investimentos mundiais por muitas décadas.
Fonte:Blog do Miro
sábado, 29 de outubro de 2011
A Islândia põe os seus banqueiros na prisão
“A primeira vítima da crise financeira constitui-se como uma valente tentativa de pedir responsabilidades”. Claudi Pérez (El País) conta neste artigo a história da ascensão e da queda da economia islandesa.
A Interpol emitiu um mandado de busca em nome de Sigurdur Einarsson, presidente executivo de um dos maiores bancos da Islândia, o Kaupthing, que acabou nacionalizado quando da crise de 2008.
Isto é a Islândia, o pedaço de gelo e rocha vulcânica que em tempos foi o país mais feliz do mundo (assim, tal como consta) e onde agora os taxistas lançam os mesmos olhares furibundos que em todas as partes quando se lhes pergunta se estão mais chateados com os banqueiros ou com os políticos. Enfim, Isto é a Islândia: paraíso sobrenatural, reza o cartaz que se avista do avião, mesmo antes de desembarcar.
O tipo da foto chama-se Sigurdur Einarsson. Era o presidente executivo dum dos grandes bancos da Islândia e o mais temerário de todos, Kaupthing (literalmente, "a praça do mercado"; os islandeses têm um estranho sentido de humor, para além duma língua milenar e impenetrável). Einarsson já não está na lista da Interpol. Foi detido há uns dias na sua mansão de Londres. E é um dos protagonistas do livro mais lido na Islândia: nove volumes e 2400 páginas para uma espécie de saga delirante sobre os desmandes que a indústria financeira pode chegar a perpetrar quando está totalmente fora de controlo.
Nove volumes: praticamente episódios nacionais em que se demonstra que nada disso foi um acidente. A Islândia foi saqueada por cerca de 20 ou 30 pessoas. Uma dezena de banqueiros, uns poucos empresários e um punhado de políticos formaram um grupo selvagem que levou o país inteiro à ruína: 10 dos 63 parlamentares islandeses, incluindo os dois líderes do partido que governou quase ininterruptamente desde 1944, tinham empréstimos pessoais concedidos por um valor de quase 10 milhões de euros por cabeça. Está por demonstrar que isso seja delito (embora pareça que parte desse dinheiro servia para comprar acções dos próprios bancos: para fazer inchar as cotações), mas pelo menos é um escândalo enorme.
A Islândia é uma excepção, uma singularidade; uma raridade. E não só por deixar os seus bancos ir à falência e perseguir os banqueiros. A ilha é uma paisagem lunar com apenas 320 000 habitantes a meio caminho entre a Europa, os EUA e o círculo polar, com um clima e uma geografia extremos, com uma das tradições democráticas mais antigas da Europa e, último tópico, com uma gente de indomável carácter e uma forma de ser e fazer do mais peculiar. Um lugar onde um desses taxistas furibundos, depois de deixar para trás a capital, Reikiavik, se mete por uma língua de terra rodeada de água e deixa o jornalista ao pé da distinta residência presidencial, com o mesmíssimo presidente esperando na soleira da porta: qualquer um pode aproximar-se sem problemas, não há medidas de segurança, nem sequer um polícia. Só o pormenor exótico duma enorme pele de urso polar no alto duma escadaria tira do pasmo quem numa primeira entrevista com um presidente dum país dá com um mandatário - Ólagur Grímsson, que considera "uma loucura" que os seus concidadãos "tenham de pagar a factura da banca sem serem consultados".
E do presidente ao cidadão de pé-no-chão: da particularidade à categoria. Arnar Arinbjarnarsson é capaz de resumir o apocalipse da Islândia com surpreendente impavidez, à frente dum fumegante capuchino no central Café Paris, a dois passos do Althing, o Parlamento. Arnar tem 33 anos e estudou engenharia na universidade, mas, ao acabar nem sequer lhe passou pela cabeça desenhar pontes: um dos bancos contratou-o, apesar de não ter formação financeira. "A banca estava a experimentar um crescimento explosivo, e para um engenheiro é relativamente simples aprender matemática financeira, sobretudo se o ordenado for estratosférico", alega.
A Islândia costumava ser o país mais pobre da Europa nos princípios do século XX. Nos anos oitenta, o governo privatizou a pesca: dividiu-a em quotas e fez uns quantos pescadores milionários. A partir daí, sob o influxo de Ronald Reagan e Margaret Thatcher, o país converteu-se na quintessência do modelo liberal, com uma política económica de baixos impostos, privatizações, desregulamentações e além do mais: a sombra de Milton Friedman, que viajou durante essa época para Reikiavik, é alargada. Aquilo funcionou. O rendimento per capita situou-se entre os mais altos do mundo, o desemprego estabilizou em 1% e o país investiu em energia verde, unidades industriais de alumínio e tecnologia. O cúmulo deu-se com o novo século: o Estado privatizou a banca e os banqueiros iniciaram uma corrida desaforada pela expansão dentro e fora do país, ajudados pelas mãos deixadas livres com a falta de regulamentação e com taxas de juro à volta de 15% que atraíam as poupanças dos dentistas austríacos, dos reformados alemães e dos comerciantes holandeses. Uma economia sã, assente em sólidas bases, converteu-se numa mesa de black jack. Nem sequer faltou uma campanha nacionalista a favor da supremacia racial da casta empresarial, o que talvez demonstre como é perigoso meter esse tipo de tontarias na cabeça das pessoas, seja "as casas nunca baixam de preço" ou "os islandeses controlam melhor o risco pelo seu passado viking".
A festa descontrolou-se: os activos dos bancos chegaram a multiplicar o PIB por 12. Apenas a Irlanda, outro exemplo de modelo liberal, se aproxima dessas cifras. Até que da noite para o dia - com o colapso da Lehman Brothers e o estouro financeiro mundial - tudo se desmoronou, no que foi "o choque mais brutal e fulminante da crise internacional", assegura Jon Danielsson, da London School of Economics.
Mas voltemos a Arnar e ao seu relato: "a banca começou a desbaratar dinheiro em farras com champanhe e estrelas de rock; comprou ou ajudou a comprar meia Oxford Street, vários clubes de futebol da liga inglesa, bancos na Dinamarca, empresas por toda a Escandinávia: tudo o que estivesse à venda e tudo a crédito". Os executivos concediam créditos milionários a si mesmos, a familiares, a amigos e aos políticos próximos, frequentemente sem garantias. A Bolsa multiplicou o seu valor por nove entre 2003 e 2007. Os preços dos andares triplicaram. "Os bancos levantaram um obsceno castelo de cartas que levou tudo à frente", conta Arnar, que conserva o seu emprego, mas com metade do ordenado. Acaba de comprar um barco a meias com o pai com a intenção de mudar de vida: quer dedicar-se à pesca.
A fábula duma ilha de pescadores que se converteu num país de banqueiros tem uma moral: "Talvez seja a hora de voltar ao começo", reflecte o engenheiro. "Talvez todo esse dinheiro e esse talento que a banca absorve quando cresce demasiado não só se converta num foco de instabilidade, como que subtraia recursos a outros sectores e possa chegar a ser nocivo ao impedir que uma economia desenvolva todo o seu potencial", diz o presidente Grímsson.
A magnitude da catástrofe foi espectacular. A inflação descontrolou-se, a coroa veio por ali abaixo, o desemprego cresceu a toda a velocidade, o PIB caiu 15%, os bancos perderam uns 100 mil milhões de dólares (há-de passar muito tempo até haver números definitivos) e os islandeses continuaram a ser ricos, mais ou menos: metade do que eram antes. De quem foi a culpa? Dos bancos e dos banqueiros, naturalmente. Dos seus excessos, daquele forrobodó de crédito, da sua desmedida cobiça. Os bancos são o monstro, a culpa é deles e, de toda a forma, dos políticos que lhes permitiram tudo isso. OK. Não há dúvida. Somente dos bancos?
"O país inteiro viu-se apanhado numa bolha. A banca sentiu um desenvolvimento repentino, coisa que agora vemos como algo estúpido e irresponsável. Mas as pessoas fizeram algo parecido. As regras normais das finanças permaneceram suspensas e entramos na era do vale tudo: duas casas, três casas por família, um Range Rover, uma moto de neve. Os salários subiam, a riqueza parecia sair do nada, os cartões de crédito deitavam fumo", explica Ásgeir Jonsson, ex-economista chefe da Kaupthing. O também economista Magnus Skulasson assume que essa loucura colectiva levou um país inteiro a parecer dominado pelos valores de Wall Street, da banca de investimento mais especulativa. "Nós islandeses contribuímos decisivamente para que se passasse o que passou, por permitirmos que o governo e a banca fizessem o que fizeram, mas também participamos dessa combinação de cobiça e estupidez. Os bancos merecem ficar afastados do jogo e nós merecemos uma parte do castigo: mas só uma parte", afirma no restaurante dum hotel central.
Uma coisa salva os islandeses, de alguma maneira os redime de parte desses pecados. No seu incisivo Indignai-vos!, Stephane Hessel descreve como os financeiros na Europa e nos EUA, culpados indiscutíveis da crise, salvaram o buraco e continuam com a sua vida como sempre: voltaram os lucros, os bónus, essas coisas. Em compensação, as suas vítimas não recuperaram o nível de ganhos, e muito menos o emprego. "O poder do dinheiro nunca havia sido tão grande, insolente, egoísta com todos", acusa e, contudo, "os banqueiros mal suportaram as consequências dos seus desaforos", acrescenta no prólogo do livro o escritor José Luis Sampedro.
Assim é: salvo talvez no Árctico. A Islândia fez uma valente tentativa de pedir responsabilidades. "Deixar falir os bancos e dizer aos credores que não vão cobrar tudo o que se lhes deve ajudou a mitigar algumas das consequências das loucuras dos seus banqueiros", assegura por telefone a partir do Texas o economista James K. Galbraith.
Contada assim, a versão islandesa da crise tem um toque romântico. Mas a economia é sempre mais prosaica do que parece. Há quem relate uma historia diferente: "Simplesmente, não havia dinheiro para resgatar os bancos: caso contrário, o Estado tê-los-ia salvado: Chegamos a pedi-lo à Rússia!", critica o politólogo Eirikur Bergmann. "Foi um acidente: não queríamos, mas tivemos de deixá-los falir e agora os políticos tratam de vender essa lenda de que Islândia deu outra resposta".
Seja como for, a crise deixou uma cicatriz enorme que continua bem visível: há controlo de capitais, um delicioso eufemismo do que no hemisfério Sul (e mais concretamente na Argentina) costuma chamar-se corralito. O desemprego continua acima dos 8%, taxas desconhecidas por estes lares. A queda da coroa empobreceu todo o país, excepto as empresas exportadoras. Quatro em cada dez lares endividaram-se em divisas ou com créditos ligados à inflação (parece que, em geral, para comprar segundas residências e carros de luxo), o que deixou um buraco considerável no bolso das pessoas. Depois de deixar falir o sistema bancário, o Estado nacionalizou-o e acabou a injectar montões de dinheiro - o equivalente a uma quarta parte do PIB - para que a banca não deixasse de funcionar e agora começa a reprivatizá-lo: a vida, de algum modo, continua igual.
Tudo isso elevou a dívida pública acima de 100% do PIB e para controlar o défice os islandeses nem sequer se livraram da maré de austeridade que percorre a Europa desde o Estreito de Gibraltar até à costa da Gronelândia: mais impostos e menos gastos públicos. No final a Islândia teve que pedir um resgate ao FMI e o Fundo aplicou as receitas habituais: elevaram o IRS e o IVA islandeses e criaram novos impostos, e pelo lado dos gastos baixaram os salários e benefícios sociais e estão a fechar escolas; reduziu-se o Estado social. Que é o que costuma suceder quando de repente um país é menos rico do que pensava.
"Andámos uma década para trás", encerra Bergman. E mesmo assim o governo e o FMI asseguram que a Islândia crescerá este ano uns 3%: a queda da coroa permitiu um arranque das exportações, há sectores de ponta - como o alumínio - que estão a ter uma crise muito proveitosa, e, ao fim e ao cabo, a Islândia é um país jovem com um nível educativo excelente. Entre a dezena de fontes consultadas para esta reportagem, contudo, não abunda o optimismo. Um dos economistas mais brilhantes da Islândia, Gylfi Zoega, desenha um panorama preocupante: "os bancos ainda não estão operacionais, os balanços das empresas estão prejudicados, o acesso ao mercado de capitais está fechado, o governo mostra uma debilidade alarmante. Não há consenso sobre que lugar deve Islândia e a sua economia ocupar no mundo. Vamos à deriva... não se engane: nem sequer o colapso dos bancos foi uma opção; não havia alternativa. A Islândia não pode ser modelo de nada".
Há quem duvide inclusivamente de que os banqueiros venham finalmente a dar com os ossos na cadeia: "os executivos foram detidos várias vezes, e depois, postos em liberdade: como tantas outras vezes, isso é mais uma brincadeira com a opinião pública que outra coisa", assegura Jon Danielsson. Hannes Guissurasson, assessor do anterior governo e conhecido pela sua férrea defesa de postulados neoliberais, até traça uma estreita linha entre o delito e algumas das práticas bancárias dos últimos anos. "Muito poucos banqueiros vão parar à prisão, se é que algum vai: a excessiva tomada de riscos infringe que lei?" pergunta-se.
Mas os mitos são os mitos (e um jornalista deve defender a sua reportagem até ao último parágrafo) e a Islândia deixa várias lições fundamentais. Uma: não está claro se deixar cair um banco é um acto reaccionário ou libertário, mas o custo, ao menos para Islândia, é surpreendentemente baixo; o PIB da Irlanda (cujo governo garantiu toda a dívida bancária) caiu o mesmo e as suas perspectivas de recuperação são piores. Dois: ter moeda própria não é um mau negócio. Em caso de aflição desvaloriza-se e vitória, vitória que se acabou a história; isso permite sair da crise com exportações, algo que nem a Grécia nem a Irlanda (nem a Espanha) podem fazer.
O último e definitivo ensinamento vem da mão do grupo selvagem que ninguém viu vir: nem as agências de notação nem os auditores anteciparam os problemas (ainda que o que uma boa auditoria não descobre, uma boa crise desvela: Pricewaterhousecoopers está acusada de negligência). Mas os problemas estavam aí: a prova é que a imensa maioria dos executivos da banca estão na rua e alguns aguardam julgamento. O nosso Sigurdur Einarsson, o banqueiro mais procurado, tratou de comprar uma mansão em Chelsea, um dos bairros mais exclusivos de Londres, por 12 milhões de euros. A maioria dos banqueiros que tem problemas com a justiça fizeram o mesmo durante os anos do boom, e menos mal que o fizeram: as pessoas apupavam-nos no teatro, atiravam-lhes bolas de neve em plena rua, lançavam bocas nos restaurantes ou deixavam espirituosas pinturas nas casas. Saíram a correr da Islândia. O caso é que Einarsson não teve de sair: vivia na sua estupenda mansão londrina desde 2005. A hipoteca não era problema: Einarsson decidiu alugá-la ao banco enquanto vivia na casa; ao fim e ao cabo, um presidente é um presidente e esse é o tipo de demonstrações de talento financeiro que só trazem surpresas no improvável caso de que a justiça se meta no meio.
A Islândia parece o lugar adequado para que sucedam coisas improváveis: segundo as estatísticas, mais de metade dos islandeses acredita em elfos. No avião de volta percebe-se melhor a publicidade do aeroporto, sobretudo porque as fontes consultadas descartam que, se finalmente há condenação dos banqueiros, o governo islandês vai conceder apenas um indulto. Isto é a Islândia: paraíso sobrenatural. Ai não que não é!
O tubarão putrefacto é um dos pratos típicos da Islândia, que tem uma noite infindável (não só pelas horas de escuridão), uma das poucas primeiras-ministras do mundo (Johana Sigurdardottir, abertamente lésbica) e um museu do pénis (e isto não é uma gralha). A lista de peculiaridades é infindável: é mais fácil entrevistar o presidente da Islândia que o presidente da câmara de Reikiavik, Jon Gnarr, célebre por fazer acordos só com quem tenha visto as quatro temporadas de The Wire. Com a crise, as singularidades alcançaram mesmo o sempre aborrecido sector financeiro: em Londres chegaram a aplicar-lhe métodos antiterroristas.
Landsbanki, um dos três grandes bancos islandeses, abriu uma filial pela Internet com uma conta de poupança a altas taxas de juro, Icesave, que fez furor entre britânicos e holandeses. Quando as coisas começaram a dar para o torto e o governo britânico detectou que o banco estava a repatriar capitais, aplicou-lhe a lei antiterrorista para congelar os fundos. Esse foi o detonador de toda a crise: provocou a falência em cadeia de toda a banca. E continua a dar tremendas dores de cabeça à Islândia.
A Holanda e o Reino Unido devolveram aos seus cidadãos 100% dos depósitos e agora exigem esse dinheiro: 4 mil milhões de euros, um terço do PIB islandês, nada menos. O governo chegou a um acordo para que os cidadãos pagassem em 15 anos e a 5,5% de juro: as pessoas organizaram-se para deitá-lo abaixo num referendo, depois do veto do presidente. Assim chegou um segundo pacto, mais vantajoso (juros de 3%, a pagar em 37 anos), e de novo as pessoas decidirão em Abril em referendo se pagam ou não pelos desmandes dos seus bancos [o artigo foi escrito antes do referendo de dia 9 de Abril, do qual saiu recusado este novo acordo – quase 60% dos islandeses votaram não]. Agni Asgeirsson, ex-executivo que foi despedido da Kaupthing e agora trabalha como engenheiro em Río Tinto, é cortante a esse respeito: "o primeiro acordo era claramente uma fraude. Este é mais discutível. Não queremos pagar, mas isso acrescentaria incerteza legal sobre o futuro do país. Mas interessante é como reagiram as pessoas". Esse é talvez o maior atractivo da resposta islandesa: a parlamentar e ex-magistrada francesa Eva Joly (a quem se atribuiu o início da investigação sobre a banca) assegura que o mais chamativo na Islândia é que num país "que se considerava a si mesmo um milagre neoliberal e onde se tinha perdido gradualmente todo o interesse pela política, agora as pessoas querem ter o destino nas suas próprias mãos".
"Isso sim: a fé nos políticos e nos banqueiros demorará a voltar, antes de muito, muito, tempo", diz a terminar o cônsul de Espanha, Fridrik S. Kristjánsson.
Artigo de Claudi Pérez/El País. Tradução de Paula Sequeiros.
Fonte: Rede Democrática
Marcadores:
bancos,
crise mundial,
Islândia,
sistema financeiro
terça-feira, 18 de outubro de 2011
Milhares protestam na Europa contra ditadura do mercado
por Eduardo Febbro*
Dezenas de milhares de manifestantes saíram às ruas em importantes capitais europeias na jornada “unidos por uma mudança global”. Maiores atos ocorreram em Bruxelas, Madri, Barcelona, Roma e Londres. Para Jon Aguirre Such, um dos integrantes do grupo Democracia Já, da Espanha, o alcance e a extensão dos protestos “demonstra que não se trata de um tema que diz respeito unicamente aos espanhóis, mas sim ao mundo inteiro. A crise é mundial, os mercados atuam em escala global, a resposta, então, é mundial”.
“A bolsa ou a vida!” O cartaz colocado na fachada do edifício da Bolsa de Bruxelas serviu de fio condutor da jornada “unidos por uma mudança global”, que reuniu dezenas de milhares de pessoas em todo o planeta no dia 15. Ao longo do trajeto pela capital belga, cada vez que os cerca de sete mil manifestantes passavam por um banco ou qualquer outra instituição financeira um coro de vaias e gritos em todos os idiomas possíveis rompia o consenso festivo da marcha. Assim como em outras capitais do mundo, a impunidade dos bancos foi o alvo principal da manifestação popular. “Culpables, ladrones cabrones”, gritava um enraivecido senhor belga de aproximadamente 50 anos, que aprendeu com um indignado espanhol a dizer essas palavras em castelhano. Quando a marcha chegou à sede da Bolsa, a gritaria se tornou um slogan comum: “Culpados!”.
Logo em seguida, os indignados vindos de vários países da Europa lançaram uma chuva de sapatos contra o edifício da Bolsa, ante o olhar atônito e cheio de incompreensão dos jornalistas belgas que cobriam o evento. Um imenso fosso segue separando os círculos oficiais dos meios de comunicação e os milhares de jovens e adultos que saíram às ruas para expressar seu rechaço e sua repugnância frente a um sistema mundial que protege e subvenciona os ladrões e castiga as vítimas com todo o peso da irresponsabilidade e da indolência.
Ao longo da marcha, os indignados colaram dezenas de adesivos nos caixas automáticos de bancos, fizeram uma parada na Praça de Burckère, lançaram muitos insultos na frente da sede do banco Euroclear – a instituição pretende demitir 500 pessoas – sem cansar-se jamais de cantar o hino mundial das marchas: “We are the 99%”, ou seja, os 99% da humanidade vítima da barbárie social perpetrada sem piedade “por esses senhores de gravata, salários de reis e contas bancárias com dinheiro que não pertence a eles”, segundo disse André, um jovem belga com diploma de engenheiro de redes, mas sem trabalho. À medida que ia passando o tempo e os números da participação em outras cidades do mundo iam chegando aos seus ouvidos, os indignados celebravam e aplaudiam o êxito e a visibilidade planetária do movimento. “Não somos nem marionetes, nem mercadoria do liberalismo, somos gente com consciência, e aqui estamos para que nos vejam”, disse Antonio, um indignado espanhol que se expressava com orgulho e em um tom alto de voz.
Jon Aguirre Such, um dos integrantes do grupo Democracia Já, da Espanha, que impulsionou o movimento do 15M, resumiu muito bem a situação quando explicou que o alcance e a extensão dos protestos “demonstram que não se trata de um tema que diz respeito unicamente aos espanhóis, mas sim ao mundo inteiro. A crise é mundial, os mercados atuam em escala global, a resposta, então, é mundial”. Até os mais aguerridos militantes contra o sistema financeiro mundial observam espantados a forma como que, paulatinamente, os protestos contra o sistema financeiro, o repúdio à forma que foi reduzida a democracia, vêm ganhando as capitais do mundo.
Neste sentido, o economista Thomas Coutrot, co-presidente do movimento Attac, assinalou que “o que está acontecendo é um fenômeno muito promissor. Os cidadãos já não querem delegar as decisões aos políticos e aos partidos. Querem influenciar. É uma espécie de retorno às fontes da democracia”.
“Os países da zona do euro puseram 160 bilhões de euros para salvar a Grécia sem consultar ninguém, e isso em um momento em que os sistemas sociais da Europa estão afundando sob o peso dos cortes orçamentários. Isto não é democracia”, disse, colérico, Jean, outro jovem indignado belga. Ao lado dele, na concentração diante da Bolsa, Javier, um indignado espanhol que veio a Bruxelas há uma semana para participar das oficinas sociais organizadas desde o dia 9, completou o panorama com cifras mais concretas: “Se fazemos um balanço, dá calafrios; os Estados europeus entregaram US$ 5,3 trilhões para resgatar os bancos da crise. Nenhum Estado consultou a população, ou seja, quem vota naqueles que estão no poder. Essa soma equivale a 16 vezes o valor da dívida da Grécia e é mais de 400% do que todos os países da União Europeia gastam, juntos, em educação ou saúde pública. Estão nos tomando como idiotas!”.
Os argumentos destes indignados deixam em uma posição ridícula o punhado de contramanifestantes que se concentraram no início da marcha para protestar contra os indignados. Era um grupo de dândis, vestidos como tais, a quem um indignado disse: “se vocês não nos deixam decidir, nós não deixaremos vocês dormirem”. Com alguns incidentes, vidros quebrados, mas sem choques fortes com a polícia, a marcha belga se dirigiu para o ato final no Parque do Centenário. “Aqui estamos, e somos muitos”, disse Pierre, um indignado francês que caminhou desde Tolouse até Bruxelas. “Estamos aqui, em Roma, Madri, Washington, Nova York, México, Nova Délhi, Berlim, Paris, onde seja. Os poderosos do mundo trabalham para um pequeno grupo de amigos, ignorando a vontade popular. Essa lógica nos levou à hactombe que estamos vivendo. Isso acabou”.
O 15-O levantou boa parte do planeta, com maior ou menor êxito segundo o lugar. Em Roma, o protesto ultrapassou as intenções dos indignados. Sob uma enorme faixa que dizia “Povo da Europa, de pé”, dezenas de milhares de italianos encheram as ruas da capital italiana expressando sua indignação. Estudantes, políticos e representantes de associações civis percorreram Roma com globos e cartazes em uma caminhada pacífica até que um pequeno grupo de violentos semeou o caos no centro da cidade. Os incidentes aconteceram perto da estação de trens Roma Termini, na Via Merulana. Não restam dúvidas de que os distúrbios foram provocados pelo que se conhece como “profissionais da provocação urbana”.
Cerca de 200 manifestantes violentos queimaram automóveis, quebraram caixas automáticos, saquearam vitrines e incendiaram um anexo do Ministério da Defesa. Os distúrbios deixaram um saldo de 70 feridos. Nada disso ocorreu em Londres. A marcha londrina iniciou em um clima festivo, mas com episódios engraçados devido à corrida de gato e rato entre a polícia e os manifestantes. A Scotland Yard protegeu com um muro de policiais o objetivo final dos manifestantes, a saber, a Bolsa de Valores de Londres. Os manifestantes conseguiram rodear a Bolsa, mas sem maiores incidentes. Ante a surpresa geral, Julian Assange, fundador do Wikileaks, detido na Grã-Bretanha a espera de uma decisão judicial sobre o pedido de sua extradição para a Suécia, somou-se aos manifestantes. Assange disse à multidão que estava ali em “solidariedade aos movimentos que estão ocorrendo no mundo inteiro” e porque “todos queremos que haja um pouco de justiça no sistema financeiro mundial”.
Madri e Barcelona também foram cenário de mobilizações impressionantes. Em Madri, os indignados lotaram a Praça Cibeles e voltaram a ocupar a Porta do Sol, símbolo histórico dos protestos do 15M. Os indignados da capital espanhola puseram em cena um “escudo antimercados”. Cada manifestante levantou o amuleto que tinha na mão para afuguentar a “magia negra” dos mercados. Em Barcelona, dezenas de milhares de pessoas se concentraram na Praça da Catalunha com o mesmo propósito que animou manifestações no resto do planeta. A única diferença radica em uma cifra: o desemprego dos jovens na Espanha é de 20,89%.
Curiosamente, na França, o país de Stéphane Hessel, autor do livro Indigne-se, que deu nome ao movimento através do mundo, as marchas tiveram um impacto limitado. Em Paris, houve vários grupos de manifestantes que convergiram para a sede da Prefeitura, onde realizaram uma Assembleia Popular. Os indignados se reuniram também em uma dezena de cidades do país, mas sem alcançar jamais a intensidade de outras cidades do mundo. Os analistas explicam a escassa mobilização pelo fato de que o desemprego da juventude é menor e que, globalmente a situação é melhor do que a da Espanha ou Itália. No entanto, o sistema financeiro goza dos mesmos privilégios e da mesma impunidade em Londres, Madri ou Nova York. O 15-O demonstrou que o espírito da revolta e da indignação semeado há sete meses na Praça do Sol irradia hoje em todo o planeta enquanto os dirigentes políticos guardam um silêncio de mortos ante o desfile das dezenas de milhares de seres vivos que marcham com a mesma consigna: “Basta, ladrões!”.
Tradução: Katarina Peixoto.
* Direto de Bruxelas.
Fonte: Publicado originalmente no site Agência Carta Maior.
Marcadores:
bolsa,
crise mundial,
mídia,
protestos na Europa
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
A CALÇA E SEUS REMENDOS
Laerte Braga
O problema é que num determinado momento que não há mais o que remendar. Nem colocar remendos sobre remendos. Vai ser um tal de arrebenta aqui, arrebenta ali e o rei vai ficar nu. O rei ficar nu nada demais. O pior disso é que para se vestir sua majestade desanda a maquinar remendos/arranjos que serão pagos pelos trabalhadores, os costureiros/as.
Ai é o diabo. Nem o tal “mata capeta”, spray inventado por um pilantra travestido de pastor (vende nuvens no céu para moradia futura dos fiéis) resolve.
Os índices de pobreza nos Estados Unidos são os mais altos da história do país. Os índices de riqueza das elites norte-americanas são também os mais altos de todos os tempos.
O terror neoliberal se impõe com ogivas nucleares espalhadas pelo mundo – principalmente as colônias agregadas sob o nome de Comunidade Européia.
Países da Comunidade Européia querem ajuda dos países que formam o BRICS. Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Já não bastam os tesouros acumulados e desperdiçados ao longo dos séculos, desde os tempos em que a América, a África e a Ásia eram colônias em sua grande maioria.
A dívida dos EUA é impagável.
Barack Obama, em plena campanha pela reeleição, enviou carta a cada uma das famílias de vítimas da ação de guerra que derrubou as torres gêmeas do World Trade Center falando em vigilância, segurança, contribuição patriótica, o de sempre.
Brad Manning, o militar que é acusado de liberar documentos secretos norte-americanos para o site WIKILEAKS continua preso em condições subumanas e o campo de concentração de Guantánamo funcionando a pleno vapor.
Israel prossegue sua sanha sanguinária de buscar o extermínio do povo palestino. A ONU vota neste mês o reconhecimento do Estado Palestino. Os EUA são contra. Israel detém o controle acionário do país.
A Turquia assesta sua defesa antiaérea para poder atingir Israel diante das barbáries do governo de Tel Aviv, inclusive contra turcos (cinco foram assassinados numa das flotilhas humanitárias que levavam ajuda a Gaza e a ajuda, lógico, confiscada, entra na coluna do lucro).
Neste momento e até segunda ordem o Irã deixou de ser o grande vilão do mundo cristão, democrático e coisa e tal. Os remendos da calça do capitalismo não se sustentam mais, a cada dia o rei tenta tampar um buraco, mas aparece outro.
O modelo está falido.
Num desses atos da boçalidade que marca a tal democracia cristã e ocidental aviões da OTAN – braço terrorista europeu de ISRAEL/EUA TERRORISMO S/A – bombardearam e destruíram o maior aqueduto do planeta. Um rio subterrâneo construído na Líbia, com três mil e quinhentos quilômetros de extensão, cinco metros de diâmetros que levou água a todos os líbios.
Permitiu o desenvolvimento da agricultura, geração de energia e condições de saneamento mínimas, além de muitos outros benefícios. A UNICEF, órgão das Nações Unidas está comprando água para distribuir aos cidadãos de Trípoli, capital da Líbia, agora “libertada” pelas tais forças cristãs, democráticas, etc.
Falta água na Líbia, mas o petróleo está garantido para as grandes empresas que controlam o setor e são acionistas privilegiados do complexo capitalista/terrorista que controla o mundo.
O aqueduto construído pelo governo do coronel Gadaffi permitiu transformar o deserto em região fértil. Os aviões da OTAN levaram de volta a infertilidade na barbárie definida pelo governador geral da Micro Bretanha – antiga Grã Bretanha – como o “fim do multiculturalismo”.
Mas querem ajuda de países como o Brasil, a Índia e a África do Sul, além de Rússia e China. Ora como? Não somos um povo miscigenado?
As calças estão rotas, não há chances de remendo, os países da Comunidade Européia vivem um processo de extinção que se segue à colonização imposta por ISRAEL/EUA TERRORISMO S/A.
Quem sabe não importam o pastor Malafaia e seu novo “mata capeta”. Às vezes, nunca se sabe, o spray abre uma linha direta com o divino e conseguem que a rainha Elizabeth tenha mais cem anos de reinado. Compra uma nuvem, reina dos céus.
É só não levar o príncipe Charles. Esse não tem jeito. Lionel Messi joga muito mais e é latino, argentino. E não sei se nas nuvens de Malafaia existem farmácias que vendam “tampax”.
Não há como remendar essa calça. Está pronta para ser jogada no lixo. O capitalismo vive seus estertores na inconseqüência que traz consigo em cada um dos seus momentos. Na barbárie que lhe é implícita. O principal gene do modelo.
E nem devem os países do BRICS colocar seu rico dinheirinho para socorrer falidos, já que não socorrem seres humanos. Mas banqueiros, grandes empresários e controladores dos nossos latifundiários.
No caso do Brasil. Paga 12% para tomar dinheiro emprestado e empresta pela metade a essa súcia européia. Por que?
No final das contas quem paga somos os brasileiros.
É a típica armadilha que no nosso caso se desenha nas contradições do governo. Uma no cravo e outra na ferradura e o peso de alianças que forjam ministros como esse do Turismo que saiu enquanto o que entra vai aguardar sua vez.
Aí deita e rola a mídia inconseqüente e venal, ressuscitam vozes dos porões da ditadura militar preocupadas com a Comissão da Verdade e no final sobra sempre o risco de um tresloucado como Aécio Neves ser eleito presidente.
Dá para imaginar Aécio desembarcando num aeroporto de um país qualquer da Comunidade Européia, vestido de conde mineiro (pobre Minas Gerais governada por um ornitorrinco) e jogando dinheiro para o alto?
Não vai nem querer passar perto do bafômetro.
O governo Dilma não pode imaginar que a calça remendada dos países da Comunidade Européia tenha que ser cerzida pelo dinheiro brasileiro. Não tem como.
Professores, profissionais de saúde no Brasil, servidores públicos (serviços públicos são direitos fundamentais do cidadão, dever do Estado) vivem jogado ao relento nas políticas voltadas para os interesses das elites.
Ou o governo toma um rumo ou continua à deriva e a mercê dos bandidos que infestam tanto essa arca da aliança – espúria – como a oposição, montada no viés tucano de vestir o País e o povo com calças irremendáveis.
Esse modelo já foi para as calendas. É hora de realidade, logo é hora de luta nas ruas. Do contrário vamos pagar os custos da Maison Dior, enquanto os professores são espancados pelas polícias militares que matam juízes/as e fazem acordo com traficantes.
Não dá nem para fazer uma colcha de retalhos. Isso se faz com perfeição aqui em Minas Gerais (longe de Aécio), nos estados do Nordeste e do Norte (longe de coronéis como Sarney), na luta dos trabalhadores, nunca nos vestidos de madame Alckimin e quatro milhões de devo no dinheiro público da Prefeitura de São Paulo.
Não dá capa de VEJA. A revista, O GLOBO, ÉPOCA, FOLHA DE SÃO PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO, ISTO É foram comprados por nove milhões de reais traduzidos em assinaturas para distribuição na rede de escolas públicas e em troca do silêncio.
A ajuda a Comunidade Européia (isso é disfarce, na verdade bases do completo ISRAEL/EUA TERRORISMO S/A) é armadilha. Mais ou menos como as caçadas do rei da Espanha. Cinco mil dólares por búfalo abatido. No caso, querem abater o Brasil.
É que nem aquela história né, só porque John Wayne usava calças de brim, calças jeans significam liberdade.
Usava botas também e esporas. Continuam usando. Pesados coturnos com que sufocam trabalhadores no mundo inteiro, enquanto mantêm a glória dos banqueiros. Das grandes corporações e latifundiários que nos servem veneno no agrotóxico de cada dia.
Manda o Sérgio Cabral para Paris, contrata o escritório da mulher dele, quem sabe essa combinação “mata capeta” com Cabral e Aécio (são aliados agora) não consegue resolver o problema das rotas calças européias, legalizando tudo assim que nem a casa ilegal do Luciano Huck?
É tudo questão de por cento.
Ah! De quebra podem contratar também o Ricardo Teixeira e os juízes e bandeirinhas do campeonato brasileiro. No mínimo dá empate. Os dois lados falam.
Marcadores:
Brad Manning,
BRICS,
Comunidade Européia,
crise europeia,
crise mundial,
eua,
midia,
WikiLeaks
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
Às suas ordens, Dotô Mercado!
O mercado “pensa”, o mercado “avalia”, o mercado “propõe”, o mercado “desconfia”, o mercado “sugere”, o mercado “reage”. E aí sim, de vez em quando, o tom de voz sobe e o mercado “exige”!! E, aos poucos, o que era antes um sujeito, o indivíduo “mercado” também vai ganhando ares de divindade
Paulo Kliass*
Uma das inúmeras lições que a atual crise econômica tem a nos oferecer é a possibilidade de compreender um pouco melhor os mecanismos de funcionamento da economia capitalista em sua fase de tão ampla e profunda internacionalização financeira. Depois de baixada a poeira e dado o devido distanciamento temporal, imagino a quantidade de teses que serão desenvolvidas para tentar entender e explicar aquilo que estamos vivendo a quente pelos quatro cantos do planeta.
As alternativas de enfoque são muitas. A relação conflituosa entre os interesses do capital produtivo e os do capital financeiro stricto sensu. A autonomia – na verdade, uma quase independência – do circuito monetário em relação ao chamado lado “real” da economia. A contradição entre o discurso liberal ortodoxo patrocinado pelos dirigentes dos países mais ricos até anteontem e a prática atual de medidas protecionistas de seus próprios interesses nacionais. A postura inequívoca e amplamente expandida de defesa das vontades das grandes instituições financeiras em primeiro lugar, sempre às custas de cortes nos gastos orçamentários na área social voltados à maioria da população de seus países. A dita solidez das estruturas do mercado financeiro, agora tão confiável quanto a de um castelo de cartas. A perda completa de credibilidade das instituições financeiras, a exemplo das chamadas agência de rating, que passam a escancarar a sua relação incestuosa com setores econômicos. O fim do mito da chamada “independência” dos Bancos Centrais, cujas políticas monetárias estariam sendo implementadas de forma neutra e isenta, uma vez que baseadas em critérios técnicos e científicos (sic...) do conhecimento econômico acumulado. A falência das correntes que se apegavam às teorias chamadas da “racionalidade dos agentes” para buscar assegurar que não haveria o que temer com o funcionamento das livres forças de mercado, pois o equilíbrio entre oferta e demanda sempre apontaria a solução mais racional possível. E por aí vai. A lista é quase infindável.
Mas um elemento, em especial, chama a atenção em meio a essa enormidade de aspectos. E trata-se de algo importante, pois diz respeito à tentativa de legitimação de toda e qualquer ação dos poderes públicos na busca da saída para a crise econômica. Com isso procura-se fugir da conseqüência mais próxima em caso de fracasso: colocar em risco a sua própria legitimidade política. Ainda que nos momentos de maior tensão seja perceptível uma contradição entre os desejos dos representantes do capital financeiro e as possibilidades oferecidas pelos agentes do governo, no final quase tudo acaba se resolvendo no conluio entre o público e o privado. Nos bastidores do poder, a ação do Estado é ditada, via de regra, pelos interesses do capital.
Mas nas conjunturas de crise profunda, como a atual, passa a operar também a chamada opinião pública. Os temas de economia e de finanças, antes restrito às páginas dos jornais especializados, ganham as manchetes de capa e se convertem em preocupação de amplos setores da sociedade. A população se assusta, exige mais explicações, quer entender melhor! Porém, não se consegue tornar tão claros os mecanismos de funcionamento da dinâmica econômica em tão pouco tempo e em tão poucas linhas. E nesse momento ganham importância os interlocutores chamados a explicar: os economistas dos grandes bancos, os analistas das instituições financeiras, os responsáveis pelas empresas de consultoria, enfim os chamados “especialistas”. Cabe a eles a tarefa de convencimento do grande público de que a crise é causada por este ou aquele fator, ou então de que as medidas anunciadas há pouco por um determinado Ministro da Economia são ou não adequadas para resolver os problemas a que se propõem.
E aqui entra em campo um elemento essencial na dinâmica do discurso. Uma entidade que passa a ser reverenciada em ampla escala, coisa que era antes reduzida a uma platéia restrita. Trata-se do famoso “mercado” – muito prazer!. Um dos grandes enigmas da história da humanidade, tanto estudado e ainda tão pouco desvendado em seus aspectos essenciais, passa a ser tratado como um ser humanizado, um quase indivíduo. Isso porque para justificar a necessidade das decisões duras e difíceis a serem tomadas - sempre às custas de muitos e para favorecer uns bem poucos – recorre-se às opiniões de “alguém” que conheça, que assegure que não há realmente outra solução. Tem-se a impressão de que o mercado vira gente, um dos nossos!
As matérias dos grandes jornais, as páginas das revistas de maior circulação, os sítios da internet, os programas na televisão e no rádio, enfim, por todos os meios de comunicação passamos a conhecer aquilo que nos é vendido como sendo a opinião dessa entidade, dessa quase pessoa. As frases e os estilos podem variar, mas no fundo, lá no fundo, tudo é sempre mais do mesmo. Recorrer a um mecanismo que beira a abstração para justificar as medidas mais do que concretas. Fazer um chamamento a uma entidade externa, com ares de messianismo e divindade, para convencer de que as proposições - expostas numa linguagem e numa lógica incompreensíveis para a maioria - são realmente necessárias. Sim, sim, é preciso também ter fé! Pois em caso contrário, aquilo que nos espera é ainda pior do que o péssimo do vivido agora. Será o caos!
É o que tem acontecido na atual crise da dívida norte-americana ou na seqüência dos diversos capítulos da crise dos países da União Européia. O mercado “pensa”, o mercado “avalia”, o mercado “propõe”, o mercado “desconfia”, o mercado “sugere”, o mercado “reage”. E aí sim, de vez em quando, o tom de voz sobe e o mercado “exige”!! E depois o mercado “ameaça”. O mercado “cai”, o mercado “sobe”, o mercado “se recompõe”. O mercado “se sente inseguro”, o mercado “fica satisfeito”, o mercado “comemora”. O mercado “não aceita” tal medida, o mercado “se rebela” contra tal decisão.
E assim, à força de repetir à exaustão essa fórmula aparentemente tão simples, o que se busca, na verdade, é fazer um movimento de aproximação. Tornar a convivência com um ser que conhece de forma tão profunda a dinâmica da economia um ato quase amical e familiar para cada um de nós. Mas o “mercado” - sujeito de tantos verbos de ação e de percepção - não tem nome! Ele não pode ser achado, pois o mercado não tem endereço. Ele não pode ser entrevistado, pois o mercado nunca comparece fisicamente nos compromissos. Ele tampouco pode ser fotografado, pois o mercado não tem rosto. O que há, de fato, são uns poucos indivíduos que fazem a transmissão de suas idéias, de seus pensamentos, de seus sentimentos. São verdadeiros profetas, que têm o poder de fazer a interlocução entre o “mercado” e o povo. Pois, não obstante a tentativa de torná-la íntima de todos nós, essa entidade não se revela para qualquer um.
Ele escolhe uns poucos iluminados para representá-lo aqui entre nós. Como se, estes sim, tivessem a procuração sagrada para falar em seu nome e representar aqui seus interesses. E aos poucos o que era antes um sujeito, o indivíduo “mercado” também vai ganhando ares de divindade. Tudo se passa como ele se manifestasse exclusivamente por meio de seus oráculos, os únicos capazes de captar e interpretar o desejo do deus mercado. Pois ele pensa, fala, acha, opina, mas não se apresenta para um aperto de mão, ou mesmo para uma prosinha que seja, para confirmar o que andam falando e fazendo em seu nome aqui pelos nossos lados.
Mas, apesar de toda evidente fragilidade da cena construída, não há como contestá-la. O mercado é legitimado por quem tem poder de legitimar. O discurso dos que não acreditam e dos que desconfiam não chega à maioria. Sim, pois aqui tampouco pode haver espaço para a dúvida. Nenhuma chance para o ato irresponsável que seria dar o espaço para o contraditório. A única certeza é de que o mercado sempre tem razão. E ponto final. Assim, todos passam horas na angústia e na agonia para saber como o mercado “reagirá” na abertura das bolsas de valores na manhã seguinte ou para tentar antecipar como o mercado “avaliará” hipotéticas medidas anunciadas para as transações de câmbio na noite da véspera.
O resultado de toda essa construção simbólica pode ser sintetizado na tentativa do convencimento político e ideológico dos caminhos escolhidos para a solução da crise. O mercado “alertou”, o mercado “ponderou”, o mercado “pressionou”, o mercado “exigiu”. E, finalmente, o mercado “conseguiu”. Por todo e qualquer lado que se procure, tentam nos convencer que não havia realmente outra forma possível de evitar o pior dos mundos. Como somos todos mesmo ignorantes em matéria de funcionamento dessa coisa tão complexa como a economia, somos chamados a delegar também as formas de solução para a crise. E, como sempre acontece em nossa tradição, estamos às suas ordens, Dotô Mercado...
*Paulo Kliass é Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal e doutor em Economia pela Universidade de Paris 10.
Fonte: texto enviado pelo jornalista Ernesto Germano Perés, ( no clipping do dia 17/08/11)
Marcadores:
crise mundial,
mercado,
Paulo Kliass,
sistema financeiro
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
“ATIRADOR”, “VÂNDALOS” E “TERRORISTAS” – OS “PRINCÍPIOS DA GLOBO”
Laerte Braga
O primeiro-ministro da antiga Grã Bretanha – Micro Bretanha – foi ao Parlamento dizer que a Scotland Yard iria manter a ordem, impedir novos atos de “vandalismo”. David Cameron é o responsável pelo fim do “multiculturalismo” em declarações que fez numa conferência em Berlim. Foi apoiado por Ângela Merkel, chanceler alemã.
“Senhor: Sois célebre e vossas obras alcançam tiragem de trinta mil exemplares. Vou dizer-vos por quê: é que amais os homens. Tende o humanismo no sangue: eis a vossa sorte... Deleitai-vos quando vosso vizinho pega uma xícara da mesa porque há um modo de pegar que é propriamente humano e que sempre descrevestes em vossas obras como menos elástico e menos rápido que o do macaco não é?” (Sartre, O MURO, Nova Fronteira, 2005, Rio de Janeiro).
Ao longo de todos esses anos que existe, desde que inventado por potências do mundo à época, o Estado de Israel mata sistemática e deliberadamente palestinos. Rouba terras, rouba água, serviu de base para os Estados Unidos por esses anos todos no Oriente Médio. Hoje controla os EUA através de banqueiros e grandes corporações empresariais. Estende suas asas nazi/sionistas por todo o mundo.
As suásticas tremulam em Wall Street e nos píres que passam pelo mundo recolhendo riquezas para sustentar-lhes – as elites – a opulência e a arrogância.
“A burguesia é um grande incesto”. D. Thomas Balduíno em palestra feita em Juiz de Fora, MG, na década de 70.
Acreditam-se enviados divinos, povo superior, a taxa de juros é elevadíssima.
“Se não houvesse entre nós uma pequena diferença de gosto, eu não vos importunaria. Mas tudo se passa como se tivésseis a graça e eu não. Sou livre para gostar ou não de lagosta a americana, mas se não gosto de homens sou um miserável e não posso encontrar lugar ao sol. Monopolizaram a vida”. Do mesmo Sartre, no mesmo livro.
Comunidade Européia. O presidente da França Nicolas Sarlozy reuniu-se com seus ministros para avaliar a crise que devasta a Grécia, a Espanha, a Itália, a Irlanda, Portugal, começa a esticar seus tentáculos para a antiga Grã Bretanha e pode chegar tanto à França como ao reino de sua majestade a rainha Elizabeth II.
Louis Francis Albert Victor Nicholas Mountbatten, o primeiro Conde Mountbatten de Burma. Almirante da esquadra pirata de sua majestade a rainha, e tio materno do Príncipe Philip, Duque de Edimburgo, consorte da rainha Elizabeth. Em tempo algum negou seu fascínio pelo nazismo.
Os mulambos do conde assombram aos gritos e espasmos de HEIL HITLER na baía de Donegal, na República da Irlanda.
Para a GLOBO os rebeldes ingleses são “vândalos”. A idéia de problemas sociais não passa pela cabeça dos que dirigem a organização e falam através de editorial em “princípios”.
O norueguês de olhos azuis e cabelos louros que matou quase uma centena de pessoas num ato de “purificação” segundo disse à polícia de seu país é um “atirador”.
Os que derrubam um helicóptero de assassinos norte-americanos no Afeganistão são “terroristas”.
Tudo segundo o editorial assinado pelos Marinhos. Os donos.
“... Eu vos digo: ou amamos os homens ou eles não nos permitem trabalhar a sério. Eu não quero meio termos. Vou pegar, agora mesmo, meu revólver, descerei à rua e verei se é possível executar alguma coisa contra eles. Adeus Senhor, talvez seja vós quem vou encontrar. Não sabereis jamais com que prazer explodirei vossos miolos. Se não – é o caso mais provável –, lede os jornais de amanhã. Lá vereis que um indivíduo chamado Paul Hilbert matou, numa crise de furor, cinco transeuntes no bulevar Edgard-Quinet. Sabeis melhor que ninguém o que vale a prosa dos grandes diários. Compreendei que não estou furioso. Estou muito calmo, pelo contrário, e vos peço que aceiteis meus melhores cumprimentos”.
Corta para aviões da OTAN – Organização do Tratado Atlântico Norte –, em nome da democracia, dos direitos humanos, dos valores cristãos e ocidentais bombardeando a Líbia, matando cidadãos líbios, homens, mulheres, criança, destruindo cidades, escolas e hospitais. Dão a isso o nome de “ajuda humanitária”.
William Bonner ou o outro, o preferido de Hilary Clinton, o Waack, noticiam solenes e pomposos esses “princípios”.
A GLOBO nasceu na mentira, vive na mentira.
São os “princípios” da organização. Como as máfias os têm.
A denúncia do jornalista Rodrigo Viana acerca do cerco a Celso Amorim define o verdadeiro caráter dessa gente.
Cada vez mais a democracia deixa de existir e se transforma numa imensa rede de comissões, agências, notáveis, sem o menor respaldo popular.
O mundo dos bancos, das grandes corporações, do latifúndio – o veneno em nossas mesas – e o ser humano transformado em objeto descartável.
É outro “princípio” da GLOBO. O do Homer Simpson, aquele que diz que somos idiotas.
Não há vida no mundo institucional da verdade única do capitalismo. É hora de começar a derrubar os muros mesmo que sejamos “vândalos” ou “terroristas”, nunca seremos atiradores.
Não temos olhos azuis, não somos louros e nem descendência de vikings. E segundo a carta de centenas de laudas deixadas pelo “atirador”, somos miscegenados, logo, incapazes de alcançar o nirvana de metralhadoras “purificando”.
Para os “princípios” da GLOBO somos o alvo do espetáculo vazio. Por isso os rios estão cheios de monstros, de loucos e loucas.
Que guardem a chave dos cofres e seus preciosos ”princípios” medidos em dólares. O ruído dos oprimidos está chegando.
“Que Deus abençoe a América e os americanos”. Barack Obama após o assassinato de Osama bin Laden. Centenas de pessoas dançavam nas imediações da Casa Branca e um louco matava colegas de trabalho para “purificar” o mundo.
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Crise neoliberal e sofrimento humano
Leonardo Boff, teólogo*
O balanço que faço de 2010 vai ser diferente. Enfatizo um dado pouco referido nas análises: o imenso sofrimento humano, a desestruturação subjetiva especialmente dos assalariados, devido à reorganização econômico-financeira mundial.
Há muito que se operou a "grande transformação" (Polaniy), colocando a economia como o eixo articulador de toda a vida social, subordinando a política e anulando a ética. Quando a economia entra em crise, como sucede atualmente, tudo é sacrificado para salvá-la. Penalisa-se toda a sociedade como na Grécia, na Irlanda, em Portugal, na Espanha e mesmo dos USA em nome do saneamento da economia. O que deveria ser meio, transforma-se num fim em si mesmo.
Colocado em situação de crise, o sistema neoliberal tende a radicalizar sua lógica e a explorar mais ainda a força de trabalho. Ao invés de mudar de rumo, faz mais do mesmo, colocando pesada cruz sobre as costas dos trabalhadores. Não se trata daquilo relativamente já estudado do "assédio moral", vale dizer, das humilhações persistentes e prolongadas de trabalhadores e trabalhadoras para subordiná-los, amedrontá-los e, por fim, levá-los a deixar o trabalho. O sofrimento agora é mais generalizado e difuso afetando, ora mais ora menos, o conjunto dos países centrais. Trata-se de uma espécie de "mal-estar da globalização" em processo de erosão humanística.
Ele se expressa por grave depressão coletiva, destruição do horizonte da esperança, perda da alegria de viver, vontade de sumir do mapa e até, em muitos, de tirar a própria vida. Por causa da crise, as empresas e seus gestores levam a competitividade até a um limite extremo, estipulam metas quase inalcançáveis, infundindo nos trabalhadores, angústias, medo e, não raro, síndrome de pânico. Cobra-se tudo deles: entrega incondicional e plena disponibilidade, dilacerando sua subjetividade e destruindo as relações familiares. Estima-se que no Brasil cerca de 15 milhões de pessoas sofram este tipo de depressão, ligada às sobrecargas do trabalho.
A pesquisadora Margarida Barreto, médica especialista em saúde do trabalho, observou que no ano passado, numa pesquisa ouvindo 400 pessoas, que cerca de um quarto delas teve ideias suicidas por causa da excessiva cobrança no trabalho. Continua ela: "é preciso ver a tentativa de tirar a própria vida como uma grande denúncia às condições de trabalho impostas pelo neoliberalismo nas últimas décadas". Especialmente são afetados os bancários do setor financeiro, altamente especulativo e orientado para a maximalização dos lucros. Uma pesquisa de 2009 feita pelo professor Marcelo Augusto Finazzi Santos, da Universidade de Brasília, apurou que entre 1996 a 2005, a cada 20 dias, um bancário se suicidava, por causa das pressões por metas, excesso de tarefas e pavor do desemprego. Os gestores atuais mostram-se insensíveis ao sofrimento de seus funcionários, acrescentando-lhes ainda mais sofrimento.
A Organização Mundial de Saúde estima que cerca de três mil pessoas se suicidam diariamente, muitas delas por causa da abusiva pressão do trabalho. O Le Monde Diplomatique de novembro do corrente ano, denunciou que entre os motivos das greves de outubro na França, se achava também o protesto contra o acelerado ritmo de trabalho imposto pelas fábricas causando nervosismo, irritabilidade e ansiedade. Relançou-se a frase de 1968 que rezava: "metrô, trabalho, cama", atualizando-a agora como "metrô, trabalho, túmulo". Quer dizer, doenças letais ou o suicídio como efeito da superexploração capitalista.
Nas análises que se fazem da atual crise, importa incorporar este dado perverso que é o oceano de sofrimento que está sendo imposto à população, sobretudo, aos pobres, no propósito de salvar o sistema econômico, controlado por poucas forças, extremamente fortes, mas desumanas e sem piedade. Uma razão a mais para superá-lo historicamente, além de condená-lo moralmente. Nessa direção caminha a consciência ética da humanidade, bem representada nas várias realizações do Fórum Social Mundial, entre outras.
*Leonardo Boff é autor de "Proteger a Terra-Cuidar da vida: como evitar o fim do mundo" - Record, 2010
Tweet
O balanço que faço de 2010 vai ser diferente. Enfatizo um dado pouco referido nas análises: o imenso sofrimento humano, a desestruturação subjetiva especialmente dos assalariados, devido à reorganização econômico-financeira mundial.
Há muito que se operou a "grande transformação" (Polaniy), colocando a economia como o eixo articulador de toda a vida social, subordinando a política e anulando a ética. Quando a economia entra em crise, como sucede atualmente, tudo é sacrificado para salvá-la. Penalisa-se toda a sociedade como na Grécia, na Irlanda, em Portugal, na Espanha e mesmo dos USA em nome do saneamento da economia. O que deveria ser meio, transforma-se num fim em si mesmo.
Colocado em situação de crise, o sistema neoliberal tende a radicalizar sua lógica e a explorar mais ainda a força de trabalho. Ao invés de mudar de rumo, faz mais do mesmo, colocando pesada cruz sobre as costas dos trabalhadores. Não se trata daquilo relativamente já estudado do "assédio moral", vale dizer, das humilhações persistentes e prolongadas de trabalhadores e trabalhadoras para subordiná-los, amedrontá-los e, por fim, levá-los a deixar o trabalho. O sofrimento agora é mais generalizado e difuso afetando, ora mais ora menos, o conjunto dos países centrais. Trata-se de uma espécie de "mal-estar da globalização" em processo de erosão humanística.
Ele se expressa por grave depressão coletiva, destruição do horizonte da esperança, perda da alegria de viver, vontade de sumir do mapa e até, em muitos, de tirar a própria vida. Por causa da crise, as empresas e seus gestores levam a competitividade até a um limite extremo, estipulam metas quase inalcançáveis, infundindo nos trabalhadores, angústias, medo e, não raro, síndrome de pânico. Cobra-se tudo deles: entrega incondicional e plena disponibilidade, dilacerando sua subjetividade e destruindo as relações familiares. Estima-se que no Brasil cerca de 15 milhões de pessoas sofram este tipo de depressão, ligada às sobrecargas do trabalho.
A pesquisadora Margarida Barreto, médica especialista em saúde do trabalho, observou que no ano passado, numa pesquisa ouvindo 400 pessoas, que cerca de um quarto delas teve ideias suicidas por causa da excessiva cobrança no trabalho. Continua ela: "é preciso ver a tentativa de tirar a própria vida como uma grande denúncia às condições de trabalho impostas pelo neoliberalismo nas últimas décadas". Especialmente são afetados os bancários do setor financeiro, altamente especulativo e orientado para a maximalização dos lucros. Uma pesquisa de 2009 feita pelo professor Marcelo Augusto Finazzi Santos, da Universidade de Brasília, apurou que entre 1996 a 2005, a cada 20 dias, um bancário se suicidava, por causa das pressões por metas, excesso de tarefas e pavor do desemprego. Os gestores atuais mostram-se insensíveis ao sofrimento de seus funcionários, acrescentando-lhes ainda mais sofrimento.
A Organização Mundial de Saúde estima que cerca de três mil pessoas se suicidam diariamente, muitas delas por causa da abusiva pressão do trabalho. O Le Monde Diplomatique de novembro do corrente ano, denunciou que entre os motivos das greves de outubro na França, se achava também o protesto contra o acelerado ritmo de trabalho imposto pelas fábricas causando nervosismo, irritabilidade e ansiedade. Relançou-se a frase de 1968 que rezava: "metrô, trabalho, cama", atualizando-a agora como "metrô, trabalho, túmulo". Quer dizer, doenças letais ou o suicídio como efeito da superexploração capitalista.
Nas análises que se fazem da atual crise, importa incorporar este dado perverso que é o oceano de sofrimento que está sendo imposto à população, sobretudo, aos pobres, no propósito de salvar o sistema econômico, controlado por poucas forças, extremamente fortes, mas desumanas e sem piedade. Uma razão a mais para superá-lo historicamente, além de condená-lo moralmente. Nessa direção caminha a consciência ética da humanidade, bem representada nas várias realizações do Fórum Social Mundial, entre outras.
*Leonardo Boff é autor de "Proteger a Terra-Cuidar da vida: como evitar o fim do mundo" - Record, 2010
Tweet
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Gasto militar mantém equilíbrio do terror financeiro nos EUA
Por Osvaldo Martinez*
A estrutura do orçamento dos EUA e a lógica de sua política econômica é a de uma economia de guerra na qual o gasto militar exacerba o déficit fiscal, mas permite o funcionamento de um “equilíbrio do terror financeiro”, repassa imensos lucros ao complexo militar industrial e mantém uma chantagem global baseada na força militar.
Uma simples olhada no orçamento de 2010 dos Estados Unidos permite examinar a magnitude do gasto militar e o papel que este joga em conjunto com o gasto para os pacotes de resgate dos bancos e entidades financeiras quebradas.
O montante do orçamento é de 3,94 trilhões de dólares e o déficit previsto é de 1,75 trilhão, equivalente a quase 12% do PIB. (1)
O gasto militar oficial é de 739,5 bilhões de dólares, embora se forem incluídos outros gastos indiretos ou encobertos, o gasto superaria 1 trilhão de dólares.
O gasto no resgate das entidades financeiras falidas na crise, efetuado pelas administrações de Bush e Obama alcança 1,45 trilhão, enquanto que os juros devidos pela dívida pública são de 164 bilhões de dólares.
Isto significa que quase toda a receita do orçamento (2,38 trilhões) se consome somente pelo gasto militar mais os resgates da oligarquia financeira e uma pequena proporção por juros da dívida pública. Não fica praticamente nada para outros tipos de gastos.
Se considerarmos que o gasto militar ronda o trilhão de dólares e que a parte da receita orçamentária correspondente aos impostos familiares é de 1,06 trilhão, temos que quase todos os impostos pagos pelas famílias nos Estados Unidos mal dão para cobrir o enorme gasto militar.
Os Estados Unidos são o país mais endividado do mundo, embora o significado prático disto seja diferente para este país que para qualquer outro, porque se encontra endividado na moeda nacional que ele mesmo cria e faz circular.
O financiamento da enorme dívida pública federal ascendente a 14 trilhões de dólares, sem incluir dívidas dos estados e municípios é de características surrealistas.
Para o crescimento dessa dívida pública contribuíram os pacotes de resgate aos bancos, mas essa dívida é financiada por uma retorcida operação mediante a qual o governo financia seu próprio endividamento, pois o dinheiro dado como resgate aos bancos é financiado em parte tomando empréstimos aos mesmos bancos.
Por sua vez, os bancos impõem condicionalidades ao governo no manejo da dívida e como o dinheiro deve ser empregado. Depois de terem sido “resgatados” os bancos exigem cortes maciços no gasto público em serviços para a população, a privatização de infraestruturas e serviços como água, rodovias, lazer, mas não se toca no gasto militar.
E não se toca porque “War is Good for Business” (A guerra é boa para os negócios) e a mesma oligarquia que maneja o mercado financeiro obtém elevados lucros procedentes do gasto militar. E esse gasto militar - como parte do déficit público - é financiado por operações de guerra econômica que se aquecem cada vez mais e ameaçam mesclar a guerra econômica com a guerra provavelmente nuclear que os Estados Unidos incubam na complexa meada de seus interesses e contradições econômicas e geoestratégicas.
O equilíbrio do terror financeiro
A peculiar estrutura mediante a qual os Estados Unidos atuam como uma economia parasitária que financia seus déficits e seu gasto militar recebendo injeções financeiras do resto do mundo é parte da “normalidade” da ordem econômica global. Ter reservas monetárias em dólares que se reciclam para comprar bônus ou outros instrumentos do Tesouro que financiam a dívida estadunidense, e com ela a escalada militar, é considerado pelos neoliberais como uma manifestação do equilíbrio de mercados livres.
O poder midiático apresenta esta reciclagem como resultado da confiança na fortaleza econômica dos Estados Unidos porque outros países enviam para lá seus dólares para ser investidos. (2)
O real é que os estrangeiros põem seu dinheiro nos Estados Unidos não porque sejam importadores de mercadorias desse país, nem tampouco são investidores privados comprando ações ou bônus. Os maiores aplicadores de dinheiro nos Estados Unidos são os bancos centrais que não fazem outra coisa senão reciclar os dólares que seus exportadores obtiveram e por sua vez cambiaram por moedas nacionais.
Com déficits comercial e fiscal crescentes nos Estados Unidos, se produz uma inundação de dólares para o exterior, que agora são impulsionados pela baixa taxa de juros norte-americana e pela emissão alegre de papéis verdes.
Os países receptores de dólares (a China em especial) se vêem colocados diante de um dilema. Não participam nem têm influência alguma sobre decisões econômicas do governo dos Estados Unidos, que se aproveita do privilégio do dólar. Se aceitam a inundação de dólares, seja por excedentes comerciais ou pela baixa taxa de juros norte-americana ou por ambos os fatores, sofrem a pressão para a elevação da sua taxa de câmbio, a perda de competitividade comercial e o perigo de deixar aninhar perigosos capitais especulativos de curto prazo.
Para evitar essa inundação, a conduta imposta é comprar papéis de dívida emitidos pelo governo norte-americano e acumulá-los nas reservas monetárias, sofrendo o perigo de que qualquer desvalorização do dólar seja uma desvalorização de suas reservas. À China ou a outros países que acumulam grandes volumes de dólares ou de papéis da dívida norte-americana denominados em dólares, não se lhes permite comprar ativos não financeiros nos Estados Unidos. Quando a China tentou (a compra de instalações para a distribuição de combustíveis) o governo dos Estados Unidos o proibiu. Nesse caso não valem o livre fluxo de capitais, o livre comércio e a retórica habitual. Só podem comprar ativos financeiros para financiar os déficits estadunidenses.
Ao comprar os bônus do Tesouro os países entram no “equilíbrio do terror financeiro” e passam a contribuir para financiar um destino não previsto nem desejado: o gasto militar do Pentágono.
Ocorre assim para os países receptores de dólares surgidos dos déficits norte-americanos, uma dupla compreensão. São lesionados ao ver-se estruturalmente empurrados a financiar passivamente a máquina militar norte-americana por meio de um “equilíbrio do terror financeiro” baseado não em sua superioridade econômica, mas no poderio militar. E ao fazê-lo, países como a China e a Rússia estão alimentando o mesmo gasto e poderio militar que aponta armas nucleares para eles.
O maciço gasto militar tem um objetivo geoestratégico hegemônico e sua lógica última é a guerra.
Não poucas pessoas nos Estados Unidos crêem nas virtudes de estímulo econômico que uma guerra pode trazer. Recordam com nostalgia que a guerra hispano-cubano-americana, a primeira guerra da etapa imperialista, serviu em 1898 para que os Estados Unidos escapassem da crise econômica daquela década. O que foi a Segunda Guerra Mundial? Esta finalmente provocou a suficiente destruição de forças produtivas para deixar para trás a Grande Depressão e abrir caminho aos dourados anos 1950. A recessão de finais dos anos 1940 foi superada com a ajuda da guerra da Coréia.
Esta nostalgia, que incrementa o perigo de uma catastrófica guerra nuclear, ignora que aquelas guerras convencionais correspondentes à época pré-nuclear poderiam atuar como estímulos anticrises, mas a guerra atual da era nuclear perdeu essa capacidade.
As guerras com armas convencionais tinham duas virtudes como reanimadoras da economia: mediante a produção maciça de armamento convencional para atender pedidos do Estado em guerra, se gerava emprego nas cadeias produtivas de então, e também a guerra convencional acelerava a destruição de forças produtivas que a crise econômica tinha iniciado, e levava ao nível suficiente para impulsionar a recuperação sobre a base da reconstrução do pós-guerra. A destruição era a suficiente para completar e acelerar o peculiar papel da crise econômica como destruidora de riqueza para iniciar depois outra fase expansiva e não era tanta ao ponto de ameaçar a vida da espécie humana e do planeta. Era possível para o capitalismo não só sobreviver, mas utilizar a guerra como tônico estimulante para a economia.
A guerra nuclear na atual etapa não seria estimulante frente ao principal problema orgânico da crise que é o desemprego, pois agora a tecnologia sofisticada para fabricar armas utiliza muito pouca força de trabalho, mas sua capacidade destrutiva é tão formidável que o destruído não seriam fábricas, capitais financeiros ou algumas cidades, mas o planeta e a espécie humana depois do cataclismo do inverno nuclear.
A guerra atual, se é guerra convencional de desgaste como a do Iraque e do Afeganistão, não pode ser ganha pelos Estados Unidos nem é estimulante para sair da crise econômica, se é guerra nuclear que se estabelece como ameaçadora possibilidade, tampouco serviria para sair da crise porque não eliminaria o grande problema do desemprego, mas serve para fazer grandes negócios a partir do tipo de gasto público que se maneja com total opacidade e falta de critério, o gasto no qual os Bernanke, Geithner, Summers, Strauss Kahn, nada decidem: o gasto militar, o qual é capaz de reunir em si mesmo a ambição hegemônica e o super lucro do grande negócio.
Para os Estados Unidos, debilitado economicamente e com uma cultura produtiva declinante, o recurso de última instância é a ameaça constante de guerra sustentada no gasto militar crescente. Mas, a ameaça constante de guerra e o gasto militar possuem uma dinâmica diabólica que tende a realizar-se na guerra real, quando convergem a mentalidade belicista, os conflitos pela hegemonia em petróleo, gás, água etc., disfarçados de razões humanitárias ou religiosas e a crença de que na guerra nuclear pode haver vencedores.
O declínio da economia da maior potência militar apresenta fortes tensões entre um poderio militar muito superior a qualquer outro e, pela mesma razão, ambicioso de hegemonia, e uma economia em retrocesso, que exportou boa parte de sua capacidade industrial, mergulhou no parasitismo financeiro, se acomodou no consumismo do produzido por outros e perdeu a cultura produtiva que alguma vez foi relevante. Alguns assinalam que seguindo essas tendências, o país que ao terminar a Segunda Guerra Mundial dominava a economia mundial com sua capacidade produtiva, se encaminha a consumir os produtos do exterior e a exportar somente filmes, espetáculos musicais, imagens glamorosas de um consumismo insustentável e armas.
O atraso econômico frente aos ritmos de crescimento da China e não só dela, mas do chamado BRIC+3 (Indonésia, Coréia do Sul, Malásia) é também uma fonte de tensões. Ao ritmo que crescem estes países chamados emergentes, seu PIB chegará em 2020 ao que agora tem o G-7.
As tendências apontam para o retrocesso econômico dos Estados Unidos e a previsível utilização da força militar para manter a posição dominante da segunda metade do século 20.
Essas tensões se manifestam nas guerras no Iraque, Afeganistão, Paquistão, na ameaça de guerra nuclear contra o Irã e a Coréia do Norte e também nos golpes e intentos de golpes de estado na América Latina (Honduras, Venezuela, Equador, Bolívia); adicionalmente, na crescente militarização na forma de instalação de bases militares norte-americanas em escala global e na conformação de uma doutrina de guerra que inclui, entre outras coisas, a perigosa redefinição das bombas nucleares “pequenas” - podem oscilar entre a metade e até 6 vezes a capacidade da bomba de Hiroshima - como armas que fazem parte de um menu de opções cuja utilização pode em teoria, ser decidida pelo comando no teatro de operações. Significa que um general no teatro de operações dispõe de uma “caixa de ferramentas” para escolher, na qual tem disponíveis mini bombas nucleares que poderia utili zar como o faria com os blindados, a artilharia etc. Mais
*economista e parlamentar cubano. Fonte: Cuba Debate
(1) Michel Chossudovsky e Andrew Gavin Marchall. The Global Economic Crisis. (A Crise Econômica Global), em Global Research. 2010. Pág. 47-48.
(2) Michael Hudson: The “Dollar Glut”. Finances America’s Global Military Build Up. ("O Excesso de Dólar”. As Finanças do Crescimento Militar Global da América), em The Global Economic Crisis. Capítulo 10.
Tweet
A estrutura do orçamento dos EUA e a lógica de sua política econômica é a de uma economia de guerra na qual o gasto militar exacerba o déficit fiscal, mas permite o funcionamento de um “equilíbrio do terror financeiro”, repassa imensos lucros ao complexo militar industrial e mantém uma chantagem global baseada na força militar.
Uma simples olhada no orçamento de 2010 dos Estados Unidos permite examinar a magnitude do gasto militar e o papel que este joga em conjunto com o gasto para os pacotes de resgate dos bancos e entidades financeiras quebradas.
O montante do orçamento é de 3,94 trilhões de dólares e o déficit previsto é de 1,75 trilhão, equivalente a quase 12% do PIB. (1)
O gasto militar oficial é de 739,5 bilhões de dólares, embora se forem incluídos outros gastos indiretos ou encobertos, o gasto superaria 1 trilhão de dólares.
O gasto no resgate das entidades financeiras falidas na crise, efetuado pelas administrações de Bush e Obama alcança 1,45 trilhão, enquanto que os juros devidos pela dívida pública são de 164 bilhões de dólares.
Isto significa que quase toda a receita do orçamento (2,38 trilhões) se consome somente pelo gasto militar mais os resgates da oligarquia financeira e uma pequena proporção por juros da dívida pública. Não fica praticamente nada para outros tipos de gastos.
Se considerarmos que o gasto militar ronda o trilhão de dólares e que a parte da receita orçamentária correspondente aos impostos familiares é de 1,06 trilhão, temos que quase todos os impostos pagos pelas famílias nos Estados Unidos mal dão para cobrir o enorme gasto militar.
Os Estados Unidos são o país mais endividado do mundo, embora o significado prático disto seja diferente para este país que para qualquer outro, porque se encontra endividado na moeda nacional que ele mesmo cria e faz circular.
O financiamento da enorme dívida pública federal ascendente a 14 trilhões de dólares, sem incluir dívidas dos estados e municípios é de características surrealistas.
Para o crescimento dessa dívida pública contribuíram os pacotes de resgate aos bancos, mas essa dívida é financiada por uma retorcida operação mediante a qual o governo financia seu próprio endividamento, pois o dinheiro dado como resgate aos bancos é financiado em parte tomando empréstimos aos mesmos bancos.
Por sua vez, os bancos impõem condicionalidades ao governo no manejo da dívida e como o dinheiro deve ser empregado. Depois de terem sido “resgatados” os bancos exigem cortes maciços no gasto público em serviços para a população, a privatização de infraestruturas e serviços como água, rodovias, lazer, mas não se toca no gasto militar.
E não se toca porque “War is Good for Business” (A guerra é boa para os negócios) e a mesma oligarquia que maneja o mercado financeiro obtém elevados lucros procedentes do gasto militar. E esse gasto militar - como parte do déficit público - é financiado por operações de guerra econômica que se aquecem cada vez mais e ameaçam mesclar a guerra econômica com a guerra provavelmente nuclear que os Estados Unidos incubam na complexa meada de seus interesses e contradições econômicas e geoestratégicas.
O equilíbrio do terror financeiro
A peculiar estrutura mediante a qual os Estados Unidos atuam como uma economia parasitária que financia seus déficits e seu gasto militar recebendo injeções financeiras do resto do mundo é parte da “normalidade” da ordem econômica global. Ter reservas monetárias em dólares que se reciclam para comprar bônus ou outros instrumentos do Tesouro que financiam a dívida estadunidense, e com ela a escalada militar, é considerado pelos neoliberais como uma manifestação do equilíbrio de mercados livres.
O poder midiático apresenta esta reciclagem como resultado da confiança na fortaleza econômica dos Estados Unidos porque outros países enviam para lá seus dólares para ser investidos. (2)
O real é que os estrangeiros põem seu dinheiro nos Estados Unidos não porque sejam importadores de mercadorias desse país, nem tampouco são investidores privados comprando ações ou bônus. Os maiores aplicadores de dinheiro nos Estados Unidos são os bancos centrais que não fazem outra coisa senão reciclar os dólares que seus exportadores obtiveram e por sua vez cambiaram por moedas nacionais.
Com déficits comercial e fiscal crescentes nos Estados Unidos, se produz uma inundação de dólares para o exterior, que agora são impulsionados pela baixa taxa de juros norte-americana e pela emissão alegre de papéis verdes.
Os países receptores de dólares (a China em especial) se vêem colocados diante de um dilema. Não participam nem têm influência alguma sobre decisões econômicas do governo dos Estados Unidos, que se aproveita do privilégio do dólar. Se aceitam a inundação de dólares, seja por excedentes comerciais ou pela baixa taxa de juros norte-americana ou por ambos os fatores, sofrem a pressão para a elevação da sua taxa de câmbio, a perda de competitividade comercial e o perigo de deixar aninhar perigosos capitais especulativos de curto prazo.
Para evitar essa inundação, a conduta imposta é comprar papéis de dívida emitidos pelo governo norte-americano e acumulá-los nas reservas monetárias, sofrendo o perigo de que qualquer desvalorização do dólar seja uma desvalorização de suas reservas. À China ou a outros países que acumulam grandes volumes de dólares ou de papéis da dívida norte-americana denominados em dólares, não se lhes permite comprar ativos não financeiros nos Estados Unidos. Quando a China tentou (a compra de instalações para a distribuição de combustíveis) o governo dos Estados Unidos o proibiu. Nesse caso não valem o livre fluxo de capitais, o livre comércio e a retórica habitual. Só podem comprar ativos financeiros para financiar os déficits estadunidenses.
Ao comprar os bônus do Tesouro os países entram no “equilíbrio do terror financeiro” e passam a contribuir para financiar um destino não previsto nem desejado: o gasto militar do Pentágono.
Ocorre assim para os países receptores de dólares surgidos dos déficits norte-americanos, uma dupla compreensão. São lesionados ao ver-se estruturalmente empurrados a financiar passivamente a máquina militar norte-americana por meio de um “equilíbrio do terror financeiro” baseado não em sua superioridade econômica, mas no poderio militar. E ao fazê-lo, países como a China e a Rússia estão alimentando o mesmo gasto e poderio militar que aponta armas nucleares para eles.
O maciço gasto militar tem um objetivo geoestratégico hegemônico e sua lógica última é a guerra.
Não poucas pessoas nos Estados Unidos crêem nas virtudes de estímulo econômico que uma guerra pode trazer. Recordam com nostalgia que a guerra hispano-cubano-americana, a primeira guerra da etapa imperialista, serviu em 1898 para que os Estados Unidos escapassem da crise econômica daquela década. O que foi a Segunda Guerra Mundial? Esta finalmente provocou a suficiente destruição de forças produtivas para deixar para trás a Grande Depressão e abrir caminho aos dourados anos 1950. A recessão de finais dos anos 1940 foi superada com a ajuda da guerra da Coréia.
Esta nostalgia, que incrementa o perigo de uma catastrófica guerra nuclear, ignora que aquelas guerras convencionais correspondentes à época pré-nuclear poderiam atuar como estímulos anticrises, mas a guerra atual da era nuclear perdeu essa capacidade.
As guerras com armas convencionais tinham duas virtudes como reanimadoras da economia: mediante a produção maciça de armamento convencional para atender pedidos do Estado em guerra, se gerava emprego nas cadeias produtivas de então, e também a guerra convencional acelerava a destruição de forças produtivas que a crise econômica tinha iniciado, e levava ao nível suficiente para impulsionar a recuperação sobre a base da reconstrução do pós-guerra. A destruição era a suficiente para completar e acelerar o peculiar papel da crise econômica como destruidora de riqueza para iniciar depois outra fase expansiva e não era tanta ao ponto de ameaçar a vida da espécie humana e do planeta. Era possível para o capitalismo não só sobreviver, mas utilizar a guerra como tônico estimulante para a economia.
A guerra nuclear na atual etapa não seria estimulante frente ao principal problema orgânico da crise que é o desemprego, pois agora a tecnologia sofisticada para fabricar armas utiliza muito pouca força de trabalho, mas sua capacidade destrutiva é tão formidável que o destruído não seriam fábricas, capitais financeiros ou algumas cidades, mas o planeta e a espécie humana depois do cataclismo do inverno nuclear.
A guerra atual, se é guerra convencional de desgaste como a do Iraque e do Afeganistão, não pode ser ganha pelos Estados Unidos nem é estimulante para sair da crise econômica, se é guerra nuclear que se estabelece como ameaçadora possibilidade, tampouco serviria para sair da crise porque não eliminaria o grande problema do desemprego, mas serve para fazer grandes negócios a partir do tipo de gasto público que se maneja com total opacidade e falta de critério, o gasto no qual os Bernanke, Geithner, Summers, Strauss Kahn, nada decidem: o gasto militar, o qual é capaz de reunir em si mesmo a ambição hegemônica e o super lucro do grande negócio.
Para os Estados Unidos, debilitado economicamente e com uma cultura produtiva declinante, o recurso de última instância é a ameaça constante de guerra sustentada no gasto militar crescente. Mas, a ameaça constante de guerra e o gasto militar possuem uma dinâmica diabólica que tende a realizar-se na guerra real, quando convergem a mentalidade belicista, os conflitos pela hegemonia em petróleo, gás, água etc., disfarçados de razões humanitárias ou religiosas e a crença de que na guerra nuclear pode haver vencedores.
O declínio da economia da maior potência militar apresenta fortes tensões entre um poderio militar muito superior a qualquer outro e, pela mesma razão, ambicioso de hegemonia, e uma economia em retrocesso, que exportou boa parte de sua capacidade industrial, mergulhou no parasitismo financeiro, se acomodou no consumismo do produzido por outros e perdeu a cultura produtiva que alguma vez foi relevante. Alguns assinalam que seguindo essas tendências, o país que ao terminar a Segunda Guerra Mundial dominava a economia mundial com sua capacidade produtiva, se encaminha a consumir os produtos do exterior e a exportar somente filmes, espetáculos musicais, imagens glamorosas de um consumismo insustentável e armas.
O atraso econômico frente aos ritmos de crescimento da China e não só dela, mas do chamado BRIC+3 (Indonésia, Coréia do Sul, Malásia) é também uma fonte de tensões. Ao ritmo que crescem estes países chamados emergentes, seu PIB chegará em 2020 ao que agora tem o G-7.
As tendências apontam para o retrocesso econômico dos Estados Unidos e a previsível utilização da força militar para manter a posição dominante da segunda metade do século 20.
Essas tensões se manifestam nas guerras no Iraque, Afeganistão, Paquistão, na ameaça de guerra nuclear contra o Irã e a Coréia do Norte e também nos golpes e intentos de golpes de estado na América Latina (Honduras, Venezuela, Equador, Bolívia); adicionalmente, na crescente militarização na forma de instalação de bases militares norte-americanas em escala global e na conformação de uma doutrina de guerra que inclui, entre outras coisas, a perigosa redefinição das bombas nucleares “pequenas” - podem oscilar entre a metade e até 6 vezes a capacidade da bomba de Hiroshima - como armas que fazem parte de um menu de opções cuja utilização pode em teoria, ser decidida pelo comando no teatro de operações. Significa que um general no teatro de operações dispõe de uma “caixa de ferramentas” para escolher, na qual tem disponíveis mini bombas nucleares que poderia utili zar como o faria com os blindados, a artilharia etc. Mais
*economista e parlamentar cubano. Fonte: Cuba Debate
(1) Michel Chossudovsky e Andrew Gavin Marchall. The Global Economic Crisis. (A Crise Econômica Global), em Global Research. 2010. Pág. 47-48.
(2) Michael Hudson: The “Dollar Glut”. Finances America’s Global Military Build Up. ("O Excesso de Dólar”. As Finanças do Crescimento Militar Global da América), em The Global Economic Crisis. Capítulo 10.
Tweet
Marcadores:
américa latina,
BRICS,
crise mundial,
economia,
eua,
G20,
G8,
guerra,
imperialismo,
Osvaldo Martinez
Assinar:
Postagens (Atom)