Estudo também mostra que no interior o índice de homicídios cresce, enquanto nas capitais, diminui.
Agência Notisa – A violência é uma das principais causas de morte entre a população de 15 a 44 anos de idade em todo o mundo. A cada ano, aproximadamente 1,6 milhão de pessoas perdem a vida violentamente. De acordo com Andréa Maria Barbosa, da Secretaria Municipal de Saúde de Recife (PE), o perfil de mortalidade por violência no Brasil segue a tendência mundial: maior concentração nas regiões metropolitanas, maior incidência entre o gênero masculino e no grupo de adolescentes e adultos jovens – chegando a ser a primeira causa de mortalidade na faixa etária de 15 a 34 anos, em algumas metrópoles.
Em um estudo realizado em parceria com pesquisadores da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco, Andréa verificou a tendência da mortalidade por homicídios na cidade de Recife. O trabalho mostra que, entre as regiões metropolitanas do país, a região que engloba o Recife, no ano de 2006, aparece em terceiro lugar, com coeficiente de mortalidade de 68,4/100 mil habitantes, atrás das regiões metropolitanas de Maceió, capital de Alagoas, e Vitória, capital do Espírito Santo.
Publicada em junho na revista Epidemiologia e Serviços de Saúde, a pesquisa “Análise da mortalidade por homicídios no Recife-PE: tendências no período entre 1997 e 2006” comprova uma taxa maior de homicídios entre o gênero masculino. Foram registrados 9.850 óbitos por homicídio, sendo que 9.220 eram homens, representando um percentual de 93,6%.
O estudo revela também uma predominância dos homicídios no grupo de 15 a 29 anos de idade. “Essas mortes nos obrigam a uma importante reflexão quanto a seus determinantes e – principalmente – quanto aos chamados ‘comportamentos geradores de risco’ assumidos por nossos jovens. Segundo a ONU, a taxa de criminalidade urbana tem apresentando tendência de estabilização, à exceção dos crimes entre jovens (12 a 25 anos), particularmente menores de idade ( 12 a 18 anos), observando-se, inclusive, que a idade de ingresso nos delitos vem diminuindo, de 15 para 12 anos”, dizem os autores no artigo.
Os pesquisadores acreditam que essa alta taxa de mortes é consequência das condições sociais em que os jovens vivem. “Recife, assim como outras capitais brasileiras, convive com a pobreza e as desigualdades urbanas. Essa situação compromete a qualidade de vida, principalmente da população jovem, que, compelida ao trabalho nas ruas como estratégia de sobrevivência, com outros grupos, volta-se para a ociosidade e o consumo de drogas”, dizem.
Segundo eles, essa realidade se reflete na formação dos cinturões de miséria e marginalidade, na periferia das grandes cidades, com baixa qualidade de vida, desenvolvimento de doenças e produção de mortes quase sempre relacionadas à violência.
Para os grupos de 30 a 59 anos e 60 anos ou mais, o estudo mostrou diminuição nas taxas de homicídios, com redução estatisticamente significante entre os homens e na população geral, o que mostra, de acordo com os autores, que o envelhecimento é um fator de proteção para os homicídios. Eles explicam que a estabilização dos homicídios nessa parcela da população é uma tendência no país todo.
O estudo ainda revela o que outros estudos já mostraram: o crescimento dos homicídios no interior é significativamente maior do que o experimentado pelas capitais e regiões metropolitanas brasileiras. Esse fenômeno é chamado pelos autores de “interiorização da violência”.
“Por volta de 1998, os municípios com mais de 100 mil habitantes já apresentavam tendência descendente e aqueles com menos de 100 mil habitantes, mostravam tendência ascendente. Para a região Nordeste, as taxas de homicídios decresceram nas cidades com mais de 20 mil habitantes, enquanto naquelas com menos de 20 mil, as taxas apresentaram discreto aumento nos últimos anos da série”, afirmam os autores.
Para ver o artigo na íntegra, acesse a revista Epidemiologia e Serviços de Saúde em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/rev_epi_vol20_n2.pdf.
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