terça-feira, 10 de julho de 2012

A frustrada desforra paulista em 1932

10/07/2012 - por Mauro Santayana
extraído do site Correio do Brasil

Todos os historiadores deveriam partir da advertência de Spinoza e buscar entender a realidade, antes de exercer a lisonja ou o ódio.

oitenta anos, os paulistas se levantavam contra o governo Vargas, sob a bandeira da constitucionalização do país.

Ora, o pretexto era frágil, uma vez que, em 14 de maio – três meses antes dessa insurreição armada – o governo provisório emitira o Decreto 21.402, nomeando comissão de juristas, encarregada de elaborar anteprojeto de Constituição e marcando a data de 3 de maio do ano seguinte para a eleição dos delegados constituintes. O prazo de um ano era razoável, porque os membros da comissão necessitavam de tempo hábil para discutir a nova ordem jurídica, depois da ruptura da Revolução de 30.

Não era bem a falta de uma Constituição que estimulara São Paulo à rebelião, que vinha sendo preparada desde a vitória militar da Revolução Liberal, em 3 de outubro de 1930. O que açulava os paulistas era a desejada revanche contra a sua derrota. As elites de São Paulo, todas vindas das oligarquias rurais, não podiam engolir a capitulação militar de Washington Luís diante de tropas mineiras, nordestinas e gaúchas. Os altos quatrocentões, apoiados por vitoriosos imigrantes, que também viviam da exportação de café, sentiam-se como junkers prussianos, acossados pela ralé de bárbaros. Apesar do relativo desenvolvimento da indústria manufatureira, promovido pelos imigrantes, as oligarquias rurais não queriam o desenvolvimento industrial do país, que as deslocaria de seu poder secular.

O sentimento de superioridade, que levara Washington Luís a insistir na continuidade de São Paulo no comando da República, induzira muitos dos chefes do movimento a pensar na independência do Estado, se sua hegemonia econômica não se confirmasse no comando político do país. Essa era uma das razões, mas havia outras, e mais importantes.

A ruptura da República Velha não fora simples mudança de homens ou de partidos no poder, e muito menos coligação de estados pobres, ressentidos contra a pujança econômica de São Paulo. Getúlio, na plataforma da Aliança Liberal, lida em janeiro de 1930, na Esplanada dos Ministérios, fora claro. O Brasil não poderia continuar um país vazio, só ocupado, desde o descobrimento, no litoral e em escassas manchas humanas no resto do território. A Guerra do Paraguai já nos alertara para a necessidade do intensivo povoamento do Centro-Oeste. O Brasil precisava sair do casulo conservador e dar empregos e vida digna a seu povo.

O confronto se fazia entre o pensamento renovador e a reação conservadora. Tanto é assim que, em Minas, o partido dos aliados das oligarquias paulistas se identificava, sem embuços, como sendo a Concentração Conservadora. Nomes importantes de Minas, conduzidos por motivos diferentes, estiveram com São Paulo, não só em 30, como em 32, entre outros Artur Bernardes e Fernando Mello Viana. E no Rio Grande do Sul, também. No caso, mesclavam-se os interesses pessoais e as questões políticas internas.

Tanto foi assim que os primeiros tiros da Revolução de 30 foram disparados em 6 de fevereiro de 1930, em Montes Claros – terra de Darci Ribeiro, é bom anotar. O tiroteio começou quando uma caravana conservadora, chefiada pelo então vice-presidente da República, o mineiro Mello Viana, passou diante da casa de João Alves e sua mulher, dona Tiburtina, e houve os disparos. A versão mais conhecida é a de que o primeiro tiro partiu do grupo provocador, e foi respondido pelos partidários da Aliança Liberal, que se encontravam no sobrado. Ali morreram seis pessoas e Mello Viana escapou por pouco – uma bala atingiu-lhe levemente o pescoço.

Getúlio pretendia a industrialização do país e justiça social para com os trabalhadores. O mundo começava a mudar, depois da Revolução de Outubro, na Rússia, e os desafios da Depressão iniciada meses antes, com a queda da Bolsa em Nova Iorque. Em 1930, no governo do Estado de Nova Iorque, Roosevelt iniciaria a sua política social e econômica que o levaria em 1932, à presidência e ao New Deal.

Roosevelt e Getúlio estavam na mesma estrada. Em contraponto à política de solidariedade para com os trabalhadores, Washington Luís definia a sua posição, ao afirmar que “a questão social é apenas um caso de polícia”.

Infelizmente, ao que parece, os oligarcas paulistas – e seus representantes na política atual – não entenderam até hoje as razões dos revolucionários de 30. Continuam com a mesma posição que tiveram em julho de 1932. O ódio contra Getúlio e o seu governo – que, pela primeira vez via o povo como protagonista da História – permanece até hoje. Não há, em São Paulo, uma ruela qualquer com o nome do grande presidente.

Não é por mero exercício retórico que Fernando Henrique Cardoso decretou, sem consegui-lo, “o fim da era Vargas”. Foi por convicção.

Não fazemos a apologia de 1932, nem lhe temos ódio, mas procuramos entender o movimento dos revolucionários paulistas como um gesto que, tendo sido de arrogância contra o Brasil (não nos esqueçamos de seu lema, non dvcor, dvco), foi importante para o desenvolvimento político e econômico do nosso país. Sem seu movimento, não teríamos a consolidação revolucionária do governo provisório, nem o projeto nacional de Vargas, que promoveu a industrialização do país, a participação do Brasil na Guerra e o fim do mito conformista de que deveríamos ser sempre um país essencialmente agrícola, eterno exportador de café e açúcar.

Ora, São Paulo foi o Estado mais beneficiado com a política industrial de Vargas. Como disse Delfim Neto ao jornalista Leonardo Attuch, São Paulo não perdoa a Getúlio o bem que ele fez a São Paulo.

E como a História é feita pelos homens e para os homens, não teríamos, sem a guerra paulista, tido a carreira política de Juscelino, que, sucedendo a Vargas, deu o grande salto para a afirmação do Brasil no mundo. Como se sabe, foi combatendo os paulistas, no Túnel da Mantiqueira, que o capitão médico se tornou político.

E tampouco nos devemos esquecer que os paulistas, derrotados em 32, afinal, ganharam, em 64, quando muitos de seus empresários, reunidos no IEPES, aliaram-se aos militares para derrubar Jango.

Eles se mantiveram no poder, diretamente ou pelos seus delegados, até a restauração democrática de 1985.

Quando a repressão se exacerbou em São Paulo – e foi exercida pelo Doi-Codi e pela Oban (Operação Bandeirantes), financiada por grande parte daquele grupo de empresários – muitos dos que tombaram não tiveram o privilégio de cair em pleno combate, como o tiveram os mortos em 30 e em 32. Só Deus e os torturadores sabem como eles pereceram.

O povo paulista começa a desvincular-se das elites, e a autonomia de sua ação política, na solidariedade com os brasileiros de todas as regiões, é a argamassa necessária à autêntica coesão nacional.


Publicado no Jornal do Brasil 

Fonte:
http://correiodobrasil.com.br/mauro-santayana-a-frustrada-desforra-paulista-em-1932/483754/ 

segunda-feira, 9 de julho de 2012

A imprensa pós Rio+20

09/07/2012 - Por Marcus Tavares - blog Revista Ponto Com

Capas de jornais e revistas. Entrevistas e debates. Vídeos, matérias especiais e muitos artigos. A Rio+20 ocupou boa parte do noticiário da imprensa brasileira há algumas semanas. E agora, o que ficou? Foi apenas mais um evento sobre meio ambiente divulgado?


Em vinte anos, o Rio de Janeiro/Brasil foi sede de dois grandes encontros. De alguma forma, isso contribuiu para uma cobertura mais profunda sobre a ecologia no país?

A revistapontocom conversou com o jornalista Wilson Bueno. Professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp), Bueno vem estudando há alguns anos a interface jornalismo e meio ambiente. Segundo ele, a mídia precisa desempenhar um novo papel: ”Mas essa que aí está parece não ter competência ou disposição para exercê-lo. Precisamos sacudi-la, reformulá-la e criarmos alternativas cidadãs em nome do país e do planeta que desejamos para as novas gerações”, destaca.

Acompanhe:


revistapontocom – Como o senhor avalia a cobertura da mídia sobre o meio ambiente?
Wilson Bueno – Embora a cobertura da temática ambiental tenha crescido significativamente nos últimos anos, ela ainda está refém de fatos espetaculares (eventos, acidentes ambientais, debates como o do Código Florestal) e não mantém uma frequência, compatível com a sua importância. Além disso, com raras exceções, a imprensa não assume uma perspectiva investigativa e se omite em relação a grandes questões, como a segurança alimentar, a postura insustentável de grandes empresas ou setores (mineradoras, montadoras, papel e celulose, agroquímicas e empresas de biotecnologia etc), assumindo, quase sempre, a posição dos grandes interesses empresariais ou políticos. Felizmente, há algumas mídias ambientais autênticas e profissionais competentes comprometidos com o meio ambiente que têm feito o debate avançar e ganhar qualidade. Ainda que seja importante denunciar abusos e equívocos, é fundamental superar o nível da mera denúncia, inclusive para aprofundá-la e provocar mobilização a sociedade para enfrentar empresas, governos etc que ousam afrontar recorrentemente o meio ambiente.

revistapontocom – A ECO 92 não trouxe alguma mudança neste sentido?
Wilson Bueno - Embora não tenha trazido resultados concretos porque as nações boicotaram o que havia sido acordado durante a ECO 92, o evento se constituiu em um marco por ter trazido a questão ambiental para a linha de frente, alavancado a cobertura da imprensa e permitindo a mobilização de grupos organizados que têm se mantido ativos até hoje. A ECO 92 contribuiu para que a questão ambiental fosse contemplada planetariamente até porque havia um contexto favorável para que isso ocorresse.

revistapontocom – Entre a ECO 92 e a Rio+20, o que aconteceu com a cobertura da imprensa?
Wilson Bueno – Ela se ampliou, viu surgir novos veículos e novos espaços de divulgação, novas fontes surgiram e se consolidaram ao longo do tempo e, mesmo com as lacunas apontadas anteriormente, assumiu um novo patamar, mantendo-se presente em inúmeros veículos, ambientes, programas etc. Mas a grande imprensa e os monopólios da comunicação não têm efetivamente colocado o dedo na ferida porque isso não lhes interessa. Tratam o tema cosmeticamente, privilegiando mais o aspecto midiático, o aumento da audiência do que buscando despertar consciências e mobilizar a população.

revistapontocom – E com a Rio+20, algo mudou nesta interface?
Wilson Bueno – A Rio+20 se caracterizou pela omissão e timidez dos governantes, mas, pelo menos no Brasil, serviu para acirrar o debate, incrementar uma postura crítica em relação a países e empresas, promover uma maior articulação entre os comprometidos com a solução do impasse ambiental. A imprensa cobriu o evento em si, mas pouco avançou em termos de trazer novos elementos para o debate e aprofundá-lo. A Rio+20, na imprensa, se constituiu em um evento midiático que não trouxe, pelo menos por enquanto, novos desdobramentos em termos de cobertura qualificada, com raríssimas exceções. Para a maioria dos veículos, foi mais um evento que passou.

revistapontocom – O que pode explicar essa ‘evolução’ da cobertura: o jornalismo diferenciado, a pressão da sociedade, a atuação de organismos internacionais?
Wilson Bueno – Há pressão de todo lado, sobretudo porque se aprofunda a consciência de que o impasse ambiental precisa ser equacionado com urgência, mas a imprensa, refém das fontes oficiais ou empresariais, caminha lentamente e não temos certeza de que ela efetivamente possa contribuir para que as mudanças necessárias ocorram antes que os problemas se tornem mais dramáticos. A cobertura tem sido mais ampla, o que não quer dizer que seja mais qualificada. Ainda predominam as ações de marketing verde e essa visão cosmética que caracteriza a chamada “economia verde”, particularmente com a ação nefasta de corporações que insistem em descolar o discurso da realidade, uma postura marcadamente predadora.

revistapontocom – Embora o Estado possua, no Brasil, seus meios de comunicação, é a grande imprensa – privada – que consegue uma maior penetração entre a sociedade. Ao cobrir o tema de meio ambiente, essa imprensa possui outros objetivos, além do serviço público da informação?
Wilson Bueno – A imprensa tem seus compromissos e interesses e necessariamente eles não estão sintonizados com as demandas reais da sociedade. Ela continua demonizando os movimentos sociais, esvaziando debates (como os relativos aos monopólios na área de sementes, às relações espúrias entre governos e corporações etc) e contribuindo para reforçar ações irresponsáveis comprometidas com o marketing verde. Há uma hipocrisia empresarial sustentada por ações comerciais da mídia privada. A imprensa brasileira é notadamente um grande balcão de negócios. As exceções (que felizmente existem) confirmam a regra.

revistapontocom – O que fica da Rio+20 para a interface mídia e meio ambiente?
Wilson Bueno - Para a grande imprensa, poucas mudanças irão acontecer e o cenário permanecerá o mesmo já descrito nessa avaliação, mas certamente irão surgir novas mídias ambientais, haverá maior presença da temática ambiental nas redes e mídias sociais e a sustentabilidade será incorporada gradativamente ao debate que hoje anima os jovens. Os governos e as empresas estarão sob vigilância, mesmo porque, se nada for feito com urgência, o problema tenderá a se agravar, tornando inevitáveis ações imediatas e de grande impacto. Se dependermos de empresas e governantes pouco esclarecidos ou omissos, que continuam, assim como os empresários inescrupulosos, predominando entre as fontes que repercutem a temática ambiental, a cobertura permanecerá morna, não crítica e contaminada por interesses comerciais e políticos. A coragem e a competência de alguns jornalistas não conseguirão se não houver uma mobilização efetiva da sociedade, promover as mudanças que todos queremos. Há estruturalmente, pela ação desse capitalismo predatório, condições para que os privilégios e os interesses escusos prevaleçam em detrimento da qualidade de vida e da preservação da nossa diversidade (ambiental, social e cultural). A mídia precisa desempenhar um novo papel, mas essa que aí está parece não ter competência ou disposição para exercê-lo. Precisamos sacudi-la, reformulá-la e criarmos alternativas cidadãs em nome do país e do planeta que desejamos para as novas gerações.

Fonte:
http://www.revistapontocom.org.br/entrevistas/a-imprensa-pos-rio20

domingo, 8 de julho de 2012

Brasil supera meta e terá 259 atletas nas Olimpíadas de Londres

8 de Julho de 2012 - original extraído do site Vermelho

Com o encerramento do Troféu Brasil de Atletismo no (1º), o Time Brasil alcançou seus números finais de vagas para os Jogos Olímpicos Londres 2012.

O Brasil será representado por 259 atletas, sendo 136 homens e 123 mulheres, em 32 modalidades, mesmo número que participou de Pequim 2008.

O número supera a meta do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), de levar 250 atletas.

Até o momento, 99 beneficiados pelo programa Bolsa-Atleta, do Ministério do Esporte, têm o passaporte carimbado para os Jogos.

Isso porque das vagas alcançadas, apenas 183 nomes estão definidos, já que algumas seleções ainda divulgarão os atletas que representarão o país nas Olimpíadas.

"Estamos muito satisfeitos por termos atingido a nossa primeira meta para os Jogos Olímpicos que se aproximam. Em Londres teremos uma delegação com ainda mais qualidade, com atletas que passaram por seletivas difíceis, algumas mais duras até que as estipuladas por algumas Federações Internacionais, como foi o caso do atletismo e da natação. Estamos confiantes de que o Brasil terá um bom desempenho em Londres", afirmou Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB.

As seleções de basquete feminino e masculino (24 atletas), futebol masculino (18 atletas), ginástica artística (1 atleta no masculino e 5 no feminino), hipismo saltos (4 atletas) e a equipe masculina e feminina de vôlei (24 atletas) ainda definirão os atletas que representarão o país em Londres.

"A certeza é de que tivemos a melhor preparação da história, a partir de um planejamento estratégico conjunto com as confederações, que focou na qualidade desta delegação que estamos levando para Londres", analisou Marcus Vinicius Freire, superintendente executivo de esportes do COB.

"Durante o ciclo olímpico, o COB ofereceu todo o suporte para que os atletas brasileiros pudessem competir com as mesmas condições que as grandes potências do esporte. Estamos aprimorando nosso nível de serviço para dar um salto de qualidade no Rio 2016. Para Londres, nossa expectativa é de um desempenho próximo ao de Pequim em termos de medalhas, quando conquistamos 15, e uma participação maior em finais olímpicas, já que em Pequim foram 41", analisou Marcus Vinicius Freire.

A equipe brasileira chega a Londres com algumas conquistas importantes como: o retorno do basquete masculino. A última participação olímpica aconteceu em Atlanta 1996; a classificação recorde de dez pugilistas, sendo três atletas femininas nas três categorias em disputa; classificação em todas as 14 categorias do judô (inédito); classificação inédita do ciclismo BMX, com o ciclista Renato Rezende sendo o primeiro brasileiro a competir na modalidade.

Outras classificações são inéditas como: as duas equipes completas no tênis de mesa, sendo o país representado por três homens e três mulheres; três atletas da ginástica artística masculina, dois a mais que na última competição mundial - embarcam para Londres Diego Hypolito, Sergio Sassaki e mais um nome a ser definido defenderão as cores do país.

O tiro esportivo feminino também foi classificado, após 20 anos de ausência dos Jogos. Ana Luiza Ferrão vai encerrar um período de 20 anos sem uma atiradora brasileira disputando uma edição dos Jogos Olímpicos. A última a participar foi Tânia Giansante, que disputou os Jogos de Barcelona 1992.

O Brasil também se classificou em todas as armas na esgrima. Renzo Agresta, no sabre, Athos Schwantes, na espada, e Guilherme Toldo, no florete, serão os esgrimistas do Brasil em Londres.

No levantamento de peso, desde Sidney 2000, a delegação do Brasil não contava com a participação de uma atleta feminina no levantamento de peso. Em Londres, Jaqueline Ferreira representará o país.

Ginástica artística feminina
Após dez dias de preparação no Centro de Treinamento de Ginástica, o Velódromo, no Rio de Janeiro, a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) está mais próxima de definir as atletas que representarão o país em Londres. Das nove ginastas que participaram da última fase de treinos, sete foram convocadas para participar do período de aclimatação em Ipswich, na Inglaterra.

As ginastas Adrian Gomes, Bruna Leal, Daiane dos Santos, Daniele Hypolito, Ethiene Franco, Harumi de Freitas e Laís Souza foram as sete convocadas e seguem para a Inglaterra na terça-feira (10) para a aclimatação a 122 km de Londres. Adrian, Daniele e Bruna já estão confirmadas nas Olimpíadas. Quatro atletas disputam ainda as duas vagas remanescentes, já que apenas cinco integrarão a seleção olímpica. Foram cortadas Gabriela Soares e Letícia da Costa.

A equipe definitiva será anunciada no dia 25 de julho, dois dias antes da abertura oficial dos Jogos Olímpicos 2012. As disputas da equipe de ginástica artística feminina começam no dia 29 de julho, no North Greenwich Arena, em Londres.

Com informações do Ministério do Esporte
Fonte:
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=1&id_noticia=187740

sábado, 7 de julho de 2012

A vida privada de Assange usada para tentar ocultar o grande triunfo de WikiLeaks

01/07/2012 - por Patrick Cockburn
Original: The Independent “Patrick Cockburn: How Julian Assange's private life helped conceal the real triumph of WikiLeaks”
Traduzido pelo Coletivo de Tradutores da Vila Vudu

A partir do momento em que Julian Assange conseguiu evitar a prisão, buscando refúgio na embaixada do Equador em Knightsbridge, escapando assim de ser extraditado para a Suécia, e provavelmente, em seguida, para os EUA, os jornalistas, colunistas e comentaristas britânicos tornaram-no alvo da mais escandalosa agressão.

Parecem babar de ódio, enquanto repetem os mais mesquinhos “exemplos” de uma pressuposta grosseria, pressuposto egoísmo e aparência pressuposta “péssima”, como se o que dizem fosse verdade e, por ser escrito pelos que escrevem, como se tratasse de crimes imperdoáveis.


O que se lê na imprensa britânica fala, uma vez mais, muito mais do convencionalismo e do instinto de manada dos formadores britânicos de opinião, do que de Assange.

O que passa sem ser noticiado, em toda a cobertura, é o quase inacreditável sucesso do fundador de WikiLeaks, que conseguiu publicar documentos do governo dos EUA, os quais, publicados, permitiram que muitos, em todo o mundo, começassem a saber como realmente agem seus governos. Que os eleitores conheçam, precisamente, esse tipo de fato é a alma da democracia, porque os eleitores têm de ser bem informados, para que consigam eleger representantes que de dediquem a fazer “governo do povo, pelo povo e para o povo”.

Graças a WikiLeaks, a opinião pública teve acesso a mais informação sobre o que fazem pelo mundo os EUA e seus aliados do que nunca antes, em toda a história da imprensa ocidental. O único momento semelhante a esse que me vem à mente foi a publicação, pelos bolcheviques vitoriosos em 1917, de tratados secretos, incluindo planos da Grã-Bretanha e da França, para ocupar o Oriente Médio [1].

Paralelo mais fácil foi a publicação dos Papéis do Pentágono, graças a Daniel Ellsberg em 1971, que revelaram as sistemáticas mentiras do governo Johnson sobre o Vietnã. Como se fez contra Assange, Ellsberg foi massacrado pela imprensa e pelo governo dos EUA, que o ameaçou com as mais severas penas.

Aspecto extraordinário da campanha contra Assange é que jornalistas, colunistas e “especialistas” sentem-se perfeitamente livres para publicar milhares de palavras sobre alegadas faltas de Assange, sem que se leia qualquer indignação contra os crimes de Estado, infinitamente mais graves, que WikiLeaks revelou ao mundo.

Os críticos e os leitores que concordam com eles deveriam, antes de falar, assistir a 17 minutos de um filme divulgado por WikiLeaks, filmado pela tripulação de um helicóptero Apache, sobre um bairro na parte leste de Bagdá, dia 12/7/2007. Mostra a tripulação do helicóptero matando, a rajadas de metralhadora, pessoas que se veem no solo, e que os soldados norte-americanos dizem supor que fossem guerrilheiros armados. Examinando o filme, não consigo ver arma alguma. O que teria sido tomado por arma, em mãos de um dos mortos, foi depois identificado como câmera de filmagem que estava sendo usada por Namir Noor-Eldeen, jovem fotógrafo da agência Reuters, morto, com o motorista também a serviço da Reuters, Saeed Chmagh. O vídeo mostra o helicóptero voltando para um segundo ataque, dessa vez contra uma caminhonete que parou para recolher os cadáveres e os feridos. O motorista dessa caminhonete também foi morto, e duas crianças foram feridas. "Há-há-há! Acertei eles!” – grita, em triunfo, um dos soldados norte-americanos. Olhem só os filhos da puta mortos!”

Eu estava em Bagdá quando a matança aconteceu e lembro que, no momento, nem eu nem outros jornalistas que lá estavam acreditamos no que o Pentágono informou, que todos eram guerrilheiros armados. Mas não havia como provar que o Pentágono mentira. Rebeldes armados não estariam conversando na esquina, com helicópteros dos EUA à vista. Logo se soube que havia um vídeo da matança, mas o Departamento de Defesa recusou-se terminantemente a divulgá-lo, nem quando se invocou a Lei da Liberdade de Informar [orig. Freedom of Information Act]. A versão oficial nunca pôde ser desmentida, até que o vídeo chegasse a WikiLeaks, enviado, parece, por um soldado dos EUA, Bradley Manning. WikiLeaks publicou o vídeo em 2010. [2]

Os telegramas diplomáticos que chegaram a WikiLeaks foram publicados adiante, no mesmo ano, em cinco jornais –The New York Times, The Guardian, Le Monde, Der Spiegel e El País – mas a resposta ao trabalho de Assange foi surpreendentemente mesquinha. Os jornalistas pareceram ter ficado furiosos por seu campo de caça privativo ter sido invadido por um nerd australiano, que fizera o trabalho que os jornalistas não haviam feito. Na Grã-Bretanha, o colunariato das empresas jornalísticas é clube notoriamente fechado, conservador e hostil a quem chegue de outros contextos culturais, com diferentes normas políticas.

Mas nem isso bastaria para explicar que toda a mídia planetária declarasse aberta a temporada de caça a Assange. Para que isso acontecesse, foi preciso que aparecessem acusações de que Assange seria autor de estupro na Suécia. Acusações de estupro destroem qualquer reputação, por mais frágeis que sejam as provas e mesmo que não haja prova alguma. Assange nunca conseguiu recuperar-se completamente daquelas acusações.

Quanto à sugestão de que ele estaria exagerando o risco de ser extraditado da Suécia para os EUA, é parte da caçada: quem, em sã consciência se exporia a algum acaso, mesmo que com 5% de probabilidades de deixar-se meter-se num voo para a Suécia que poderia levá-lo a sentença de 40 anos de cadeia nos EUA?

Muitos jornalistas e comentaristas agarraram-se ao argumento oficial de que os vazamentos teriam “posto vidas em risco”. Esse lobby começou a fracassar e a calar em 2011, quando funcionários do Pentágono tiveram de reconhecer, extraoficialmente, que não havia qualquer prova de que alguém tivesse sido ferido ou morto por causa dos vazamentos.

Resposta melhor seria que WikiLeaks nada revelou de realmente secreto; e que os documentos aos quais o cabo Manning teve acesso não eram classificados como secretos. Outro bom argumento de defesa ouvi de um diplomata dos EUA em Cabul, onde eu estava na época da publicação. Disse ele: “Não há segredo algum a ser divulgado por WikiLeaks, porque os “segredos” já foram vazados pela Casa Branca, Pentágono ou Departamento de Estado, que não souberam proteger os próprios documentos sigilosos, se fossem sigilosos”.

Na prática, os documentos publicados por WikiLeaks são exclusivamente e vastamente informativos sobre o que os EUA fazem e sobre o que os EUA pensam sobre o mundo no qual vivemos. Por exemplo, há um telegrama enviado da embaixada dos EUA em Cabul, em 2009, no qual o primeiro-ministro é descrito como “indivíduo paranoico e fraco, sem qualquer familiaridade com o básico da construção nacional”. [3]

Especialistas em Afeganistão comentaram que os defeitos de Karzai absolutamente não eram segredo ou novidade para ninguém. Deixaram de comentar que ali se ouvia a opinião de diplomatas norte-americanos experientes, falando sobre um homem que os norte-americanos e os britânicos estavam matando e morrendo, não para tirar do poder, mas para manter no poder.

Todos os governos são hipócritas, em maior ou menor medida, e há grande distância entre o que dizem em público e no privado.

Quando o povo exige transparência democrática em ações ou políticas gerais, o Estado e os governos fingem que enfrentam demandas por total transparência, que tornaria inviável qualquer governança efetiva.

A rapidez com que convertem demandas razoáveis em demandas alucinadas visa, quase sempre, a ocultar algum fracasso ou a defender o monopólio do poder.

Naquele caso, os EUA desejavam manter secreta bem mais que uma opinião negativa sobre Karzai, principal aliado local dos EUA. O real segredo que os EUA desejavam manter secreto é que não tinham qualquer parceiro confiável no Afeganistão e que, portanto, a guerra contra os Talibã tinha de ser dada por antecipadamente perdida.

Assange e WikeLeaks não desmascararam alguma incoerência, na opinião de um ou outro embaixador. Desmascararam a duplicidade de julgamentos para justificar a insistência dos EUA em prosseguir guerras fracassadas, nas quais morrem dezenas de milhares. Informações recentes mostram que esse tipo de segredo e o sigilo oficiais, com a ajuda empenhada de jornalistas “incorporados” às tropas, muitas vezes geram exatamente os resultados que se esperam deles.

No Iraque, nos meses anteriores à eleição presidencial de 2004 nos EUA, muitas embaixadas estrangeiras em Bagdá sabiam e informavam que os EUA só controlavam porções ínfimas de território, em país hostil. Mas o governo Bush conseguiu persuadir do contrário os eleitores norte-americanos: que estaria combatendo e vencendo uma batalha para instalar a democracia, contra os restos do regime de Saddam Hussein e seguidores de Osama bin Laden.

O controle da informação pelo Estado e a capacidade de manipular a informação, servindo-se para isso da imprensa-empresa, tornam sem sentido, na prática, o direito democrático de votar. Por isso os povos precisam muito de gente como Assange: para dar sentido, novamente, ao voto democrático.

Notas dos tradutores:
[1] A publicação desses tratados secretos foi dos primeiros atos do governo revolucionário bolchevique. Foram publicados dia 17/11/1917, por ordem de Trotsky, então Comissário do Povo para Assuntos Internacionais. Em 26/2/1922, o New York Times publicou matéria sobre eles em: EUROPE'S SECRET TREATIES. Em resumo acessível hoje dessas notícias, lê-se: “Desconfiança reina na Europa. Rússia revela os Tratados Secretos. Confiança nos EUA segue inabalável”.

[2] Os que não conheçam podem comprovar assistindo as cenas terríveis no vídeo que se segue:

[3] WikiLeaks “Diplomatic Cables”, Tuesday, 07 July 2009, 13:29 - S E C R E T SECTION 01 OF 03 KABUL 001767/ SIPDIS EO 12958 DECL: 07/03/2019 / TAGS PGOV, PREL, AF SUBJECT: KARZAI ON THE STATE OF US-AFGHAN RELATIONS – The Guardian, UK, em: “US embassy cables: Karzai feared US intended to unseat him and weaken Afghanistan”

Fonte:
http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2012/07/vida-privada-de-assange-usada-para.html

sexta-feira, 6 de julho de 2012

No Mato Grosso, tensão aumenta entre xavantes e latifundiários em terra cobiçada por agronegócio

06/7/2012 - por Felipe Milanez, da Carta Capital (*)
extraído do site Envolverde

No norte do Mato Grosso, um conflito entre índios e fazendeiros por uma terra homologada como indígena há 14 anos, porém quase toda invadida por latifundiários, tem ganhado proporções que perpassam a disputa local.

Nas últimas semanas, especialmente após a Rio+20 e seguida de um acórdão do Tribunal Reginal Federal que garante a posse aos índios, os ânimos foram acirrados e a iminência de violência física aumenta à medida que começa a se esgotar o prazo para o governo federal promover a retirada de não-índios da área.

O território xavante, chamado Marãiwatsédé, está no centro de um eixo de escoamento de soja e gado, onde o governo federal quer asfaltar a BR-158. O traçado ficaria fora da reserva e da Ferrovia Centro-Oeste, que liga as cidades de Campinorte (GO) e Lucas do Rio Verde (MT).

A disputa por este território expõe a dificuldade do governo em controlar os conflitos fundiários na Amazônia. Os pequenos posseiros, tradicionais inimigos dos índios na região, deram lugares aos grandes ruralistas – que se negam a deixar o território. A pressão externa tem provocado divisões internas dos Xavantes, que colocam em risco a vida das principais lideranças. “Nós vamos conseguir, tenho certeza”, diz o advogado dos fazendeiros, Luiz Alfredo Abreu, irmão da senadora Kátia Abreu (PSD-TO), uma das principais líderes dos agropecuaristas no Congresso Nacional.

Eu não tenho medo. Eu quero a terra. Eu morro pela terra”, rebate o cacique Damião Paridzané.

Liderados por Damião, os Xavante realizaram uma série de protestos durante a Rio+20, no Rio de Janeiro, no fim de junho. Auxiliados pela Operação Amazônia Nativa (Opan), foram recebidos pelo Greenpeace no navio da ONG atracado na cidade durante o encontro internacional. O ato simbólico acabou ganhando visibilidade internacional, o que irritou profundamente os fazendeiros.

Problema surgiu nos anos 60
A diáspora de Marãiwatsédé é decorrente da expulsão dos índios da região em 1966, e um dos problemas mais constrangedores do indigenismo no Brasil. Os Xavante foram levados em aviões da FAB para um outro território Xavante localizado 400 quilômetros ao sul, um aldeamento organizado por uma missão católica. Nos primeiros quinze dias, uma epidemia de sarampo matou 150 índios, e os sobreviventes fugiram para outras áreas Xavante, vivendo em uma espécie de exílio interno no País.

Após ser adquirido por uma empresa colonizadora paulista, de Ariosto da Riva, o território Marãiwatsédé passou para as mãos do Grupo Ometto e se transformou no latifúndio Suiá-Missu, com 1,8 milhão de hectares. Depois foi adquirido pela Liquigás e, em seguida, passou para as mãos da empresa italiana Agip Petrolli.

Nessa sucessão jurídica de posse, o esbulho dos Xavante passou em silêncio. Foi na Eco-92 que a situação mudou. O encontro internacional serviu para dar visibilidade, e a Agip foi constrangida, na Itália, por seus atos contrários aos direitos indígenas no Brasil. A sede da empresa decidiu devolver as terras aos índios, mas, no Brasil, o latifúndio foi invadido. Os posseiros e os fazendeiros que hoje ocupam ilegalmente a área chegaram durante esse período.

Cizânia interna faz parte dos Xavante aliar-se aos fazendeiros
Há alguns anos, os fazendeiros invasores ganharam aliados inesperados: alguns guerreiros xavantes, pintados e armados com bordunas, que há alguns anos estavam do outro lado do front. Chamados de “mercenários” pelo grupo indígena, envolve uma questão bem mais profunda de conflitos de poder dos Xavante. Visto de fora, no entanto, esse grupo de dissidentes tem sido considerado parte da “estratégia de Cortéz”, em referência ao “conquistador” espanhol do México, que fomentava divisões internas e alianças com índios rivais para a conquista dos territórios.

No caso, a briga interna acirrada nos últimos anos é entre o cacique Damião e seu irmão, Rufino, expulso da aldeia. Damião, segundo alguns sertanistas da Funai, teria ganho demasiado poder em uma má atuação do órgão indígenista para dirimir as divergências, como acumulando um cargo no órgão e o poder interno. Rufino, uma liderança também importante e que lutou, por anos, pelo retorno ao território, estaria sofrendo graves problemas de saúde – ele já teve uma perna amputada em razão de diabetes. A fragilidade física, junto da falta de espaço na aldeia, e com o território ocupado, teria sido o estopim para a aliança improvável com os posseiros.

Rufino, que também é uma liderança importante, procurou aliados xavante em outras terras indígenas, como Parabubure, São Marcos, e na aldeia Água Branca, fundada por Damião no território Pimentel Barbosa. Alguns desses índios, segundo informações de fontes do local, estariam recebendo 300 reais para participar da mobilização e teriam sido levados em ônibus fretados pelos fazendeiros. “Esses índios estão sendo usados, eles não sabem de nada, só ganharam dinheiro de fazendeiro. Eles não querem trabalhar na área”, acusa Damião.

As reivindicações de Rufino, que não foi localizado pela reportagem, não são claras. Algumas fontes afirmam que ele reivindica as terras do Parque Estadual que está sendo oferecido pelo estado do Mato Grosso, e outras que ele reivindica as terras dos cemitérios antigos.

Acirramento recente
A disputa local entre posseiros, sem terra e fazendeiro contra os índios ganhou, a partir de 2011, ares nacionais. A Confederação Nacional da Agricultura (CNA), junto da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), passaram a ver a área como prioritária na defesa dos interesses ruralistas. Denúncias do Greenpeace sobre produção ilegal de carne na área indígena, e que seria vendida ao frigorifico JBS, numa campanha em que a ONG não levou adiante, serviu para aumentar a animosidade com os ruralistas. E houve o encontro dos Xavante com o Greenpeace durante a Rio+20.

Enquanto, no Mato Grosso, fazendeiros, posseiros e xavante aliados reunia-se com o governador do estado, em Brasília, a Funai organizava um encontro na Casa Civil com a Polícia Federal e o Incra para definir as estratégias para promover a desintrusão da área. O órgão deve cumprir a decisão do Tribunal Regional Federal de devolver a terra aos índios em 20 dias a partir da publicação do acórdão. No entanto, o advogado Abreu, dos ruralistas, diz que vai recorrer aos tribunais superiores (STJ e o STF). A favor do interesse de seus clientes ele aponta fatos novos, como a recente aliança com a divergência indígena, a tentativa de impugnação de laudo de uma antropóloga e um mapa onde a Funai aponta a existência de aldeias e cemitérios fora da área.

Evocando um costumaz argumento da “pressão internacional”, os ruralistas miram seus argumentos contra o apoio do Greenpeace e as decisões favoráveis aos índios na Justiça Federal: “Esses tribunais regionais e de primeira instancia sofrem pressão de ONGs, desse encontro internacional que foi a Rio+20, sofre a pressão e não estão isentos para julgar. Penso que só os tribunais superiores vão ter a possibilidade de julgar com isenção sem que se sintam pressionados, por esse momento historico que vive o Brasil que é a Rio+20", afirma o advogado Luiz Alfredo Abreu, que entrou no processo ano passado, após dois desastres de aviões que mataram os advogados do caso.

Ainda em 2011, na tribuna do Senado, o senador Jayme Campos (DEM) disse estar preocupado com o “aumento exacerbado” na ampliação e criação de novas reservas indígenas em Mato Grosso: “Meu Deus, onde nós vamos parar? O Mato Grosso vai acabar.” O argumento tenta restringir a capacidade da Funai de demarcar terras. “Sem o controle do Legislativo, áreas indígenas são hoje determinadas, na maioria das vezes, de acordo com a conveniência isolada de militantes sociais e antropólogos, amparados por resoluções, portarias e instruções normativas, não raro arbitrárias ou a partir de critérios dúbios, que trazem como resultado final uma reconfiguração do território brasileiro que nem sempre corresponde à realidade dos interesses nacionais”, avaliou.

Marãiwatséde é área indígena, homologada e garantida judicialmente”, afirma o assessor da presidência da Funai, Aluízio Azanha. “O governo vai cumprir a desintrusão. Primeiro, retirando os grandes fazendeiros que estão lá ilegalmente. Em seguida, os pequenos posseiros que possuem direito a reforma agrária”. A Funai também estaria se mobilizando para desarticular a divisão interna dos Xavante, que estaria sendo utilizada pelos ruralistas. “Marãiwatsédé é terra indígena mais desmatada do país. Não é possível falar em produção quando não se respeita a legislação. Isso é insustentável”, afirma Azanha.

Os xavante são os maiores latifundiários do mundo”, afirma Abreu. “Eles têm 1,5 milhão de hectares no Mato Grosso, isso dá 26 mil hectares por família”. Afirmando que a terra está demarcada irregularmente, diz que os índios, junto dos proprietários, vão entrar com recurso no Supremo. “Xavante é uma etnia que não vive na mata, só no Cerrado. As plantas medicinais, as iniciações sexuais, são tudo feito através de plantas medicinais do Cerrado”, explica.

Damião, o líder xavante, rebate. “Nós não vamos desistir do que é nosso. Eu quero é que saia fazendeiro e posseiro. Isso é que a comunidade quer”, diz Damião. “Eles usam os índios, mas a cabeça é dos fazendeiros. Aqui tá difícil, queimaram ponte, fizeram buraco na estrada para ninguém passar.” Damião tinha em torno de 8 anos quando foi transferido, junto de seu povo, e aparece nas fotografias da época, ao lado do avião da FAB. “Eu nasci e cresci em Marãiwatsédé”, diz ele. “E quero morrer em Marãiwatsédé”.

(*) Publicado originalmente no site Carta Capital.

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