quinta-feira, 12 de abril de 2012

Venezuela, dez anos depois do golpe. O que vem pela frente?

10/04/2012 - Gilberto Maringoni - Carta Maior

Malogro do 11 de abril de 2002 marca uma novidade na América Latina. Nunca uma articulação envolvendo classes dominantes, Igreja Católica, mídia e Estados Unidos fracassara por aqui. Hoje, com a popularidede acima de 60%, Chávez é o favorito na disputa presidencial. Mas um drama pessoal ameaça se transformar em fator político determinante: a gravidade de seu quadro de saúde. Se a situação se agravar, não há substituto à altura. Não há uma Dilma do Chávez.
O artigo é de Gilberto Maringoni.

Estive pela primeira vez na Venezuela três semanas após o fracassado golpe de 11 de abril de 2002. O motivo foi um convite do jornalista Raimundo Pereira, um dos pais do jornalismo político moderno no país e editor da revista Reportagem. “Você não quer passar uns dias em Caracas, saber como foi essa volta do Chávez ao poder e fazer uma matéria extensa?”, perguntou ele em uma curta e objetiva reunião que tivemos dois dias após o fim da aventura de Pedro Carmona e seus aliados.

Aceitei e fiz as malas sem saber muito do país, além da generalidade superficial de quem lê o noticiário da mídia brasileira. Dias antes, Arnaldo Jabor havia saudado o golpe. Aparecera com aquele ar de amigo esperto nas telas da Globo, segurando uma taça de vinho numa mão e uma banana na outra. “Vamos brindar o fim de mais uma república bananeira”, ironizou, antes de fazer biquinho para saborear a bebida.

O Estado de S. Paulo foi mais direto. No editorial de sábado, 13 de abril tascou o seguinte: “O que ocorreu na Venezuela não foi um simples golpe de Estado que tirou do poder o coronel Hugo Chávez. Foi - assim como ocorreu no Brasil em 1964 - uma reação cívica a um governo que, eleito em pleito livre, em consequência do cansaço popular com partidos que já não tinham representação e se excediam na corrupção, se esmerou, uma vez no poder, em eliminar progressivamente todo e qualquer vestígio daquilo que se poderia chamar de institucionalidade democrática”.

Clima pesado
Em Caracas, o clima era mais pesado. Os jornais e os noticiários de TV praticamente diziam que Chávez era o responsável pelo golpe. Havia denúncias e mais denúncias, anúncios catastróficos sobre a reforma agrária e um rosário de torpedos verbais contra o presidente em todos os horários e canais. Mas os atendentes, camareiras, garçons, camelôs, balconistas, mendigos, cobradores de ônibus e lideranças de bairros estavam exultantes. “Intentaran sacar el presidente porque él és nuestro”, me falou baixinho a copeira do hotel onde fiquei.

A sensação nas ruas era semelhante. As marchas da oposição exibiam loiras oxigenadas, com blusas de oncinha, calça de couro e salto alto. Também se viam rapazes, marombados por intermináveis horas nas academias, descendo de Pajeros e Cherokees. A ala dos governistas era composta por mulatos, mestiços, desdentados e malvestidos. Visualmente, o panorama era de ricos contra pobres, quase uma imagem de manual de luta de classes.

O malogro
O malogro da ação se deu por três fatores:
1. Os golpistas não conseguiram maioria nas forças armadas. A cúpula queria a saída de Chávez, mas a média oficialidade e os cabos e soldados não embarcaram na intentona. Na própria madrugada do dia 12, enquanto o presidente era detido, várias guarnições importantes começaram a se rebelar;
2. A formidável reação popular evidenciou a rarefeita legitimidade da nova situação e
3. O novo governo conheceu um acachapante isolamento internacional.

O fim da trapalhada ficará marcado como uma das mais belas e emocionantes páginas das lutas sociais de todo o mundo. O figurino continental desandou. Puxadas de tapetes com sólidos apoios entre o empresariado, a Igreja Católica, os militares e a embaixada dos Estados Unidos nunca foram revertidos de forma tão espetacular.


A volta de Hugo Chávez ao palácio de Miraflores, rodeado por centenas de milhares de apoiadores, tornou-se também objeto de disputa entre a direita e a esquerda.

Qual o real significado das movimentações daqueles dias?

A oposição valia-se de um argumento semelhante ao do jornal O Estado de S. Paulo: não houve golpe, mas um levante cívico militar contra a baderna. Golpista seria Chávez, que liderou um fracassado levante militar em 1992. O presidente, de seu lado, não economizou palavras para demonstrar a aliança de Pedro Carmona com a Casa Branca, num quadro de radicalização internacional promovida pelo governo de George W. Bush, poucos meses após os atentados de 11 de setembro de 2001.

Produto de uma crise
O mandato de Chávez, desde sua posse, em janeiro de 1999, foi pontuado por tensões e enfrentamentos. Mas, ao contrário do que a mídia internacional martelava incessantemente, o presidente não provocara crise alguma em seu país. Ele sim, como personagem político, é fruto de uma avassaladora crise econômica, social e política que castigava a Venezuela desde a segunda metade dos anos 1980. Iniciada com uma queda vertiginosa dos preços internacionais do petróleo, principal produto de exportação, o desarranjo mostrou-se estrutural, corroendo serviços e instituições públicas, partidos e lideranças políticas, num quadro de descrédito coletivo.

Um olhar superficial poderia classificar o surgimento de Chávez na cena política como a chegada de um salvador da Pátria. Ao longo dos anos, ele mostrou ser não apenas um dirigente capaz de recompor as bases institucionais da Venezuela, mas de tornar-se um fator de estabilidade política.

As classes dominantes locais e seus aliados internacionais somente muito mais tarde perceberiam não estar diante de mais um governante que poderia ser apeado da cadeira presidencial a qualquer momento. O ex-militar tornou-se caudatário de algo mais profundo. Sua legitimidade expressa uma mudança na estrutura de classes do país, com a entrada em cena de multidões empobrecidas e desiludidas, com difusos anseios de mudança.

Seria muito difícil, nessas condições, o governo golpista se estabilizar. Se derrotasse a investida popular, Carmona teria de seguir lançando medidas draconianas para se manter.

Força e fraqueza
A força do governo é, contraditoriamente, a razão de sua fraqueza. O presidente é não só um líder, mas o principal e praticamente único garantidor da estabilidade política e social. É o porta-voz central de seu governo, assim como é o grande intelectual, formulador e estrategista das ações de Estado.

O câncer que acomete atualmente o presidente Hugo Chávez tem, assim, duas dimensões principais. É um drama pessoal. Não se conhece claramente sua extensão ou gravidade. E pode se tornar uma tragédia política. Se a situação se agravar, não há substituto à altura. Nenhum membro do governo ou das forças aliadas poderia conduzir o processo político local sem enfrentar sérias turbulências iniciais.

Não há uma Dilma do Chávez.

Dez anos depois do golpe, o presidente continua a manter índices de aprovação acima de 60%. Há fatores objetivos para alavancar tais indicadores: a vida melhorou na Venezuela. Os pobres comem mais, têm mais acesso à saúde, educação e serviços sociais essenciais. A sociedade segue violenta, mas a desigualdade se reduziu. Se tentarmos sintetizar esse período, podemos dizer que a grande diretriz oficial tem sido a de fortalecer o Estado e investir prioritariamente nas áreas sociais.

Os mandatos de Chávez têm sido marcados por enfrentamentos de variados tipos. Eles vão de tentativas de tirá-lo do poder a turbulências econômicas agravadas pela crise de 2008. A isso se somam dificuldades enfrentadas por um país quase sem indústrias, cuja economia baseia-se em grande parte na exportação de petróleo.

Chávez é o grande favorito para vencer as eleições presidenciais de outubro. Mas a vitória não representará o fim dos problemas. O presidente agora luta pela vida. Nas condições atuais da Venezuela, isso tem um significado político vasto, profundo e decisivo para o país.


quarta-feira, 11 de abril de 2012

"Algumas peripécias do governador de Goiás"

De: Sonia Montenegro
Assunto: Algumas peripécias do governador de Goiás
Para: "Jornal O Globo"
Data: Domingo, 8 de Abril de 2012, 3:24

Em carta ao jornal O Globo a leitora Sonia Montenegro escreveu:


"Algumas peripécias do governador de Goiás


04/07/2001 - Gravação mostra como funciona o esquema de propina, envolvendo empreiteiras e lobistas, para arrecadar fundos para a reeleição de Marconi Perillo para o governo de Goiás.


13/03/2005 - O Globo - Marconi Perillo (PSDB-GO) e Simão Jatene (PSDB-PA), são acusados por abuso de poder político e econômico em suas campanhas eleitorais em 2002, mas seguem sem julgamento.


09/08/2005 - Anselmo Góis, em O Globo: Marconi Perillo, que tentou incriminar o Lula no caixa 2 do PT, chamado de'mensalão', recebeu dinheiro do Banco Rural, incriminado nas denúncias como partícipe das supostas irregularidades.


04/09/2007 - acusações contra o senador Marconi Perillo (PSDB-GO)
- Inquérito 2504 - Crime contra a administração pública, licitação pública, irregularidade
- Inquérito 2481 - Crime contra a administração pública, corrupção ativa e passiva
- Inquérito 2562 - Crime de imprensa, calúnia.


19/10/2007 - O Globo - Procuradora Mariane Guimarães Oliveira denuncia o ex-governador e atual senador Marconi Perillo e sua mulher [Valéria Perillo] por tratamento privilegiado. A Faculdade Goiânia [ALFA-Faculdade Alves Faria] criou uma turma de direito exclusiva para o casal, pagos com o dinheiro do contribuinte, é claro! No dia 05/12, diante da denúncia, a mordomia acabou.


28/05/2008 - Congresso em Foco - Denúncias com indícios relevantes de tráfico de influência, intermediação de interesses privados, exploração de prestígio contra o senador Marconi Perillo foram insuficientes para serem investigadas pelo Conselho de Ética do senado.


09/07/2008 - UOL - Claudio Drewes, procurador regional eleitoral do MPF, pede o afastamento da presidente do TRE de Goiás, Beatriz Figueiredo Franco, sob acusação de improbidade administrativa. Ela foi flagrada em escutas telefônicas autorizadas pela justiça, recebendo orientação do senador Marconi Perillo (PSDB-GO), na decisão em um processo que envolvia a prefeitura de Itumbiara, e atendeu o pedido em menos de 48 horas.


11/07/2008 - Congresso em Foco - Com a nomeação do senador Marconi Perillo (PSDB-GO) para 1º vice-presidente, a Comissão Mista do Orçamento terá metade da presidência composta de parlamentares com processos no STF, por terem direito ao foro privilegiado. O senador responde a 3 inquéritos abertos no STF por crimes contra a administração pública, licitação pública, corrupção ativa e passiva e é investigado por crimes eleitorais cometidos em 2006. Todos os quatro processos correm em segredo de Justiça.

31/10/2008 - Congresso em Foco divulga servidores do senado exonerados por serem parentes de diretores ou senadores: Carla Pimentel Pinheiro Limongi e Vicente Limongi Neto, sobrinha e cunhado da chefe-de-gabinete do senador Marconi Perillo.


05/07/2009 - Nepotismo no Senado - os campeões: Almeida Lima (PMDB-SE), Gilvam Borges (PMDB-AP), Marconi Perillo (PSDB-GO), Fernando Collor (PTB-AL), ACM Junior (DEM-BA), Heráclito Fortes (DEM-PI), Papaléo Paes (PSDB-AP).

13/10/2011 - Procuradoria Regional Eleitoral de Goiás solicita ao TRE-GO representação contra Marconi Perillo, por captação e gastos de recursos ilícitos e pede a sua cassação.

05/03/2012 - Folha de São Paulo - Justiça suspende concorrência promovido pelo Governo de Goiás para obras de saneamento, com verbas do PAC, sob acusação de fraude na licitação."

Bem, pra finalizar, contam por aí que o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB) também andou bebendo água de cachoeira.

"Em abril de 2012, a revista Carta Capital acusou Marconi de envolvimento no escândalo Carlinhos Cachoeira (bicheiro). Os exemplares da revista foram da revista apreendidos das bancas de revista no Estado e a imprensa local foi intimidada para não dar informações a respeito."

E um pouco mais: "Segundo o jornal O Anápolis, há uma lista de parentes diretos ou próximos de Marconi Perillo e de Valéria Perillo nomeados em comissão entre 1999 e 2006, em diversas esferas do poder, tais como Adriana Moraes Perillo Bragança, Vânia Pires Perillo Cardoso e Nilton Perillo Ribeiro. Também é acusado de nepotismo cruzado em favor do bicheiro Carlinhos Cachoeira, dentro da Secretaria de Indústria de Comércio, onde trabalhariam seis parentes de Cachoeira e do ex-presidente da Câmara Municipal de Goiânia, Wladimir Garcez, apontado pela PF como arrecadador de campanha de Perillo." (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Marconi_Perillo)


terça-feira, 10 de abril de 2012

NOVO CERCO AO BRASIL

05/04/2012 - Mauro Santayana - em seu blog


(JB) - Se, amanhã, os terrestres vierem a colonizar Marte, como muitos sonham, o feito será, dentro das circunstâncias do tempo e da ciência, menos surpreendente do que foi o desembarque europeu na América do Sul e a ocupação do espaço ainda desconhecido. Sabemos hoje muito mais do planeta vermelho do que os contemporâneos do Renascimento podiam conhecer da América do Sul. Na realidade, nem mesmo podiam ter certeza de que a quarta parte existisse.

Não só a conquista do território continental, mas a construção da consciência de pátria - da plena identidade e da soberania de nossos povos - tem sido ato permanente de luta e de resistência, contra a natureza hostil e contra a opressão política.


Só há dois séculos, na esteira da Revolução Francesa, da Guerra de Independência dos Estados Unidos e das guerras napoleônicas, admitiram a nossa existência como povo, mas sob arrogante tutela e subordinação aos seus interesses.

O pior é que as coisas continuam quase da mesma forma.


Querem-nos apenas como fornecedores de matérias primas. Ao usar o vocábulo commodities para designar nossos produtos primários, os neoliberais brasileiros engambelam-nos com a sonoridade britânica do termo, como antes os colonizadores nos engabelavam com os espelhos e miçangas. Continuamos exportando minérios e comprando máquinas; exportando soja e pagando royalties por tecnologia; exportando produtos de nossa singular biodiversidade, e importando medicamentos.



Se houvesse sido possível a exportação da cana em seu estado natural, não teríamos construído aqui os primeiros engenhos açucareiros. Só depois da Independência erigimos forjas para a fundição econômica do ferro; até então foices e enxadas vinham da Europa, por via de Portugal. A independência dos paises latino-americanos foi de interesse da Grã Bretanha, que substituiu Madri e Lisboa. A partir de então, Londres se livrou dos intermediários e passou a disputar, com os Estados Unidos, que cresciam, o nosso mercado, como fornecedor de matérias primas e comprador de produtos manufaturados.

É interessante notar que todas as vezes que as circunstâncias nos ajudavam, o cerco estrangeiro se fechava sobre o Brasil – e sobre os paises do continente. Nosso desenvolvimento industrial no Segundo Reinado - em que houve, para o bem e para o mal, a aliança da Coroa com Mauá - foi tolhido pela ação britânica, contra a economia brasileira e com o cerco ao grande empreendedor, cuja presença política no continente incomodava a geopolítica imperialista.

A República, não obstante todos os seus avanços, propiciou, pelas dificuldades políticas de sua consolidação, o assédio britânico. As negociações draconianas da nossa dívida com a praça de Londres – o famoso funding loan é o exemplo da arrogância e voracidade dos banqueiros internacionais – favoreceram o desembarque de suas empresas no país, que, logo se associaram às norte-americanas.


Em 1922, em uma visão histórica equivocada, os tenentes se levantaram contra a eleição do mineiro Artur Bernardes, a partir de cartas falsas, a ele atribuídas, e que ofendiam o marechal Hermes da Fonseca. Até hoje não sabemos, exatamente, a quê e a quem serviram os falsários, não obstante as versões divulgadas. Era um bom momento para o Brasil, e que se frustrou em parte, na medida em que o presidente teve que defender, a ferro e fogo, o seu mandato – não tendo, em razão disso, conseguido ampliar as medidas nacionalistas adotadas contra os interesses anglo-saxônicos, entre elas as de nosso desenvolvimento siderúrgico.



Para não lembrar episódios menores no intervalo, o cerco a Getúlio, em seu segundo mandato, é nisso exemplar. O presidente entendera, desde os anos 30, que não teríamos soberania sem que tivéssemos a energia necessária ao desenvolvimento da economia. Por isso, cuidou da Petrobrás e da Eletrobrás, como bases necessárias à economia industrial brasileira.

Os interesses estrangeiros – leia-se, norte-americanos – se mobilizaram, conforme documentos ianques indesmentíveis, com a ajuda dos meios de comunicação brasileiros, e políticos cooptados, a fim de acossar o presidente até a tragédia de 24 de agosto de 1954. Não satisfeitos, desde que o tíbio governo de Café Filho não os garantira, tentaram novamente o golpe, em 11 de novembro de 1955, mediante os seus cúmplices nacionais. Se impedissem a posse de Juscelino, como queriam - e Lacerda vociferava em seus ataques ao mineiro - a primeira medida seria a revogação do monopólio estatal do petróleo.



A reação dos militares nacionalistas, chefiados por Lott, frustrou-lhes os planos, e Juscelino pôde, em seu qüinqüênio presidir ao extraordinário salto do Brasil rumo ao futuro - enfrentando, ao mesmo tempo os interesses estrangeiros e o derrotismo conformista de muitos brasileiros. A vitória de Jânio e sua renúncia, meses depois, interromperam o processo de consolidação democrática.



A facção pró-americana, de civis e militares, que não queria o desenvolvimento autônomo do país, também açulada por Lacerda e outros, iniciou o processo golpista, prontamente contido pela reação de Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul.


Diante da iminência da guerra civil, houve negociações que mudaram o sistema, implantando-se o parlamentarismo. Jango assumiu reduzido em seus poderes constitucionais, outorgados pelas eleições livres, e era natural que a nação lutasse para que ele os recuperasse, como os recuperou, com a vitória no referendo popular.

O novo momento foi, mais uma vez, usado pelos norte-americanos, com a desavergonhada intromissão em nossos assuntos internos, mediante o IBAD e outros instrumentos.


O golpe de 1964 se fez contra o Brasil, e não em defesa da soi-disant democracia hemisférica contra Cuba e a União Soviética.

O que eles temiam, e continuam a temer, é a transformação de nosso país em grande potência econômica, provida de conseqüente força militar, capaz de garantir a sua presença política continental e sua soberania no mundo.


Estamos em momento similar, e em plena ascensão. Essa situação auspiciosa, é bom repetir até a exaustão, recomenda a todos os brasileiros, civis e militares, conscientes de seu pertencimento à comunidade nacional, o máximo de prudência.


É preciso fechar as nossas portas aos estrangeiros, interessados em retirar o seu butim de eventuais conflitos internos, como fazem no Iraque, no Afeganistão, na Líbia - e se preparam para fazer na Síria e no Irã.

Mauro Santayana é jornalista


segunda-feira, 9 de abril de 2012

O poema que desmascarou Israel

07/04/2012 - Baby Siqueira Abrão - Correspondente no Oriente Médio
- redecastorphoto

O escritor alemão Günter Grass, prêmio Nobel de Literatura de 1999, provoca polêmica internacional ao publicar um poema afirmando que Israel é um risco à paz mundial e criticando o país pelo arsenal nuclear e pelas ameaças ao Irã.

A polêmica começou em 4 de abril, quando o Süddeutsche Zeitung (literalmente, Jornal do Sul da Alemanha) publicou o mais novo poema de Günther Grass, “Was gesagt werden muss” ("O que deve ser dito"). Nele, Grass critica Israel por seu poderio nuclear e pelas ameaças de ataque ao Irã. E vai além, chamando Netanyhau, primeiro-ministro israelense, de “fanfarrão” que quer exterminar o povo iraniano. O escritor também critica a Alemanha, que há pouco tempo vendeu outro submarino nuclear ao governo de Israel.


Importantíssimas são as sugestões de Grass para que Israel e Irã permitam que autoridades internacionais inspecionem suas instalações nucleares; para que os sionistas renunciem à força; e o desafio à hipocrisia do Ocidente, que silencia diante dos crimes israelenses por temer a acusação de “antissemitismo” – segundo o poeta, uma “gravosa mentira”, uma coação. É preciso lembrar que os sionistas acusam seus críticos de “antissemitas”, procurando identificar esse termo com “antissionismo”.

Na verdade, ambas as palavras referem-se a conceitos muito diferentes.

Antissemitas”, vocábulo cunhado no final do século 19 no contexto europeu de perseguição aos judeus, refere-se – com muita impropriedade, destaque-se, uma vez que grande parte da população árabe é semita e os judeus da Europa não o são – às pessoas que se opõem aos que professam o judaísmo. Já “antissionismo” diz respeito ao crescente movimento mundial daqueles que repudiam a ideologia sionista, considerada racista, militarista, apoiada em mitos que falseiam a história, na violência e na violação de direitos humanos, em função da opressão a que submete o povo palestino há mais de 100 anos.

O sionismo conta com profissionais para criar argumentos que, distorcendo e negando a realidade, fazem a defesa de suas políticas e de suas práticas. Esses argumentos têm como objetivo desviar, do foco das críticas, a situação criada pelos sionistas na Palestina.

Enviados a sionistas e judeus do mundo todo, são repetidos por eles à exaustão. Podem convencer ao interlocutor desacostumado a esse debate, mas são facilmente desmontados por aqueles que têm um mínimo de conhecimento sobre a história do sionismo, as pressões internacionais que seus adeptos fizeram para tomar a Palestina e a violência a que os sionistas submetem os palestinos desde fins do século 19.

Günter Grass não chega ao ponto de desmascarar a falsa relação que os sionistas fazem entre antissemitismo e antissionismo ou as falácias que sustentam essa relação. Mas, numa Europa em que a população vive acuada, temendo ser acusada de antissemita, é um grande passo denunciar o uso da palavra como instrumento político de coação, destinado a calar os opositores dos sionistas (instrumento, por sinal, também utilizado no Brasil).

Esses pontos, fundamentais no debate sobre o perigo que Israel representa para a ordem mundial, ao, entre outras ilegalidades, violar a legislação internacional, fabricar e armazenar secretamente armas de destruição em massa, praticar genocídio (*) contra o povo palestino, foram colocados na pauta mundial por Grass.

Diante desse fato, as qualidades literárias do poema, consideradas abaixo da média pela crítica especializada, e o fato de o poeta ter participado de uma organização nazista aos 15 anos de idade (o que pode ser explicado por sua imaturidade, aliada à confiança que o povo alemão, Grass incluído, depositava no nazismo quando o levou ao poder), não têm a mínima importância.

Trata-se de um poema militante, de um homem que conheceu a barbárie da guerra e teme que a humanidade, indefesa, seja submetida a barbárie muito pior em consequência dos caprichos de governantes desvairados.

Conheça o poema de Günter Grass, traduzido da versão espanhola.

O que deve ser dito

Porque guardo silêncio há demasiado tempo
sobre o que é manifesto
e se utilizava em jogos de guerra
em que no fim, nós sobreviventes,
acabamos como meras notas de rodapé.

É o suposto direito a um ataque preventivo,
que poderá exterminar o povo iraniano,
conduzido ao júbilo
Benjamin Netanyahu - Primeiro Ministro de Israel
e organizado por um fanfarrão,
porque na sua jurisdição se suspeita
do fabrico de uma bomba atômica.

Mas por que me proibiram de falar
sobre esse outro país [Israel], onde há anos
- ainda que mantido em segredo –
se dispõe de um crescente potencial nuclear,
que não está sujeito a nenhum controle,
pois é inacessível a inspeções?
Antisemiticroths - Charles Lucien Léandre


O silêncio geral sobre esse fato,
a que se sujeitou o meu próprio silêncio,
sinto-o como uma gravosa mentira
e coação que ameaça castigar
quando não é respeitada:
“antissemitismo” se chama a condenação.

Agora, contudo, porque o meu país,
acusado uma e outra vez, rotineiramente,
de crimes muito próprios,
sem quaisquer precedentes,
vai entregar a Israel outro submarino
cuja especialidade é dirigir ogivas aniquiladoras
para onde não ficou provada
a existência de uma única bomba,
se bem que se queira instituir o medo como prova… digo o que deve ser dito.

Por que me calei até agora?

Porque acreditava que a minha origem,
marcada por um estigma inapagável,
me impedia de atribuir esse fato, como evidente,
ao país de Israel, ao qual estou unido
e quero continuar a estar.

Por que motivo só agora digo,
já velho e com a minha última tinta,
que Israel, potência nuclear, coloca em perigo
uma paz mundial já de si frágil?

Porque deve ser dito
aquilo que amanhã poderá ser demasiado tarde [a dizer],
e porque – já suficientemente incriminados como alemães –
poderíamos ser cúmplices de um crime
que é previsível,
pelo que a nossa cota-parte de culpa
não poderia extinguir-se
com nenhuma das desculpas habituais.

Admito-o: não vou continuar a calar-me
porque estou farto
da hipocrisia do Ocidente;
é de esperar, além disso,
que muitos se libertem do silêncio,
exijam ao causador desse perigo visível
que renuncie ao uso da força
e insistam também para que os governos
de ambos os países permitam
o controle permanente e sem entraves,
por parte de uma instância internacional,
do potencial nuclear israelense
e das instalações nucleares iranianas.


Só assim poderemos ajudar todos,
israelenses e palestinos,
mas também todos os seres humanos
que nessa região ocupada pela demência
vivem em conflito lado a lado,
odiando-se mutuamente,
e decididamente ajudar-nos também.

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(*) Segundo o artigo 6 do Estatuto de Roma, que fundou o Tribunal Penal Internacional, entende-se por “genocídio” qualquer dos seguintes atos: “perpetrados com a intenção de destruir total ou parcialmente um grupo nacional, étnico,
a) Matança de membros do grupo;
b) Lesão grave à integridade física ou mental dos membros do grupo;
c) Sujeição intencional do grupo a condições de existência que acarretem sua destruição física, total ou parcial;
d) Medidas destinadas a impedir nascimentos no seio do grupo;
e) Transferência, por meio da força, de crianças do grupo a outro grupo”.

As práticas sionistas também se inscrevem em outros crimes estabelecidos pelo Estatuto de Roma: lesa-humanidade (capítulo 7) e crimes de guerra (artigo 8).
Esses crimes são imprescritíveis e o leitor pode comprovar pelos artigos abaixo, com seus próprios olhos, que esses crimes foram e continuam sendo cometidos contra o povo palestino.

Outros artigos sobre o mesmo assunto:
- As cobaias humanas de Israel (ver em: http://www.brasildefato.com.br/content/cobaias-humanas-de-israel )
- O genocídio do povo de Gaza (ver em: http://www.brasildefato.com.br/node/3426 )
- Massacre em Gaza (ver em: http://www.cartamaior.com.br/templates/index.cfm?home_id=94&alterarHomeAtual=1 )
- O inferno de Gaza agora Israel chega a um acordo com a verdade (ver em: http://www.libreidee.org/pt/2010/07/linferno-di-gaza-ora-israele-fa-i-conti-con-la-verita/ )

- Vídeo Visita a Gaza (imagens de Miguel Portas, deputado do Parlamento Europeu) (ver em: http://www.youtube.com/watch?v=t9QPfG9iu3E&feature=player_embedded )