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sexta-feira, 2 de março de 2012

Verdades e Mentiras sobre a Síria - Perspectivas da Revolução Árabe


("Muito já se disse sobre o que ocorre na Síria hoje. Os meios de comunicação de massa, nacionais e internacionais, expressam o que pensa o Pentágono. Com honrosas exceções, tudo que recebemos no Brasil em particular, publicados em língua pátria no Globo, Abril, Folha e Estadão [órgãos da Família GAFE da Imprensa] reproduz quase que sem retirar nenhuma frase, o que as agências noticiosas internacionais despacham para o mundo todo. Agências, diga-se de passagem, que sequer possuem um só correspondente em Damasco, capital da Síria. A seguir, para auxiliar nossos leitores, fazemos um pequeno resumo de tudo que se diz sobre a República Árabe da Síria. Resumimos 15 pontos que se destacam na atualidade." - do blog burgos4patas)


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24.02.2012 - Perspectivas da Revolução Árabe - relação com o que ocorre hoje na Síria
Por Lejeune Mirhan * - Portal da Fundação Maurício Grabois

Gostaria muito de tratar mais globalmente sobre a Revolução Árabe, iniciada há pouco mais de um ano. Poderia tratar do Egito e suas eleições, as eleições também ocorridas na Tunísia ou mesmo no Iêmen, cujo ditador de 33 anos acaba de cair de deve refugiar-se em alguma monarquia reacionária árabe da vizinhança ou mesmo nos EUA (seu vice assumiu, mas segue sendo ditadura). No entanto, a pauta segue sendo a Síria. Por isso, voltamos ao tema neste artigo que, entre outras fontes, estão as abaixo consultadas.


Verdades e Mentiras sobre a Síria

1. Governo de Bashar Al-Assad mata milhares – Mentira
Dia após dia, manchetes garrafais estampam que o governo vem matando “milhares” de sírios, todos “inocentes”. A única fonte de informação que o Ocidente inteiro possui sobre tais “dados” de mortes é de um obscuro Observatório Sírio de Direitos Humanos (sic), com sede em Londres e que recebe farto financiamento de países do Golfo Pérsico, todos, sem exceção, monarquias antidemocráticas, absolutistas e extremamente reacionárias e pró-EUA.

Como isso esta ficando uma vergonha para quem pratica um jornalismo sério, a grande imprensa, quando publica os números “assustadores” de mortos, ultimamente vem pelo menos acrescentando sempre “segundo o Observatório Sírio de DH”, que “não puderam ser comprovadas”.

De fato, os únicos dados confiáveis são os fornecidos pelo próprio governo, que atesta que pelo menos dois mil soldados, policiais e cidadãos sírios foram assassinados por grupos terroristas e mercenários, seja em ataques diretos ou em atentados a bomba que vêm ocorrendo com maior intensidade nas últimas semanas.

2. Exército Síria Livre é formado por desertores – Mentira
Não há desertores no Exército sírio. Pelo menos não em expressão. Todas as deserções em todas as divisões do Exército da República Árabe da Síria são pontuais e ocorrem apenas e exclusivamente na baixa oficialidade.

O que se tem de concreto é que essa organização é composta de mercenários altamente remunerados, usando armas contrabandeadas, inclusive do arsenal líbio. Se um AK-47, fuzil de assalto mais famoso no mundo, podia ser comprado a cem dólares tempos atrás, hoje, com os bilhões de dólares que a Arábia Saudita e o Qatar vêm despejando para a derrubada do governo do Dr. Bashar, não se compra uma arma dessa, muito popular, por menos que 1,5 mil dólares.

Esse tal “exército” esta acampado na fronteira com a Turquia e por esta é estimulado e seu comando vem de Istambul. O governo turco, que presta um péssimo papel achando que voltará a ter o comando do sultanato otomano, tem procurado dar guarida a essa milícia terrorista e facínora, apoiada por Israel e pelos EUA. Seu “comandante”, o coronel desertor Riad El Assad, esta na folha de pagamento do Departamento de Estado.

3. Liga Árabe pede Democracia e Liberdade na Síria – Mentira
(Não tem moral para isso)
A Liga Árabe, organismo multilateral fundado em 1945, é integrado pelos 21 países árabes e a OLP que representa a Palestina. Ainda que possa ser duvidoso que em algum momento tenha cumprido algum papel relevante na vida dos árabes, a certeza é de que hoje ela é um organismo fracassado.

Tomado de assalto pelas monarquias do Golfo, com seus bilhões de dólares, esse organismo presta-se hoje como auxiliar tanto do CS da ONU, quanto da União Europeia e dos EUA. De árabe essa tal Liga não tem mais nada. Não representa mais os anseios e as verdadeiras aspirações do povo árabe, que hoje são quase 400 milhões de pessoas.

Esse organismo serve apenas para propor ao CS da ONU resoluções que os EUA e a União Europeia não teriam a coragem de propor. Os petrodólares da Casa de Saud e do emirado do Qatar é que sustentam a organização. Esta completamente esvaziada. Iraque, Líbano, Argélia e a própria Síria nem mais tem comparecido às reuniões, que perderam completamente a sua eficácia.

Mas, o que é pior. Que moral tem a Arábia Saudita e o Qatar em pedir democracia na Síria? Falam em liberdade, mas não a praticam em seus países, que não tem parlamento e nenhum partido funcionando. Uma hipocrisia completa. Uma falsa moralidade. Indignam-se com o que ocorre na Síria, mas é uma indignação seletiva.

4. Rússia e China vetam resolução anti-Síria na ONU – Verdade
(E ambos têm suas razões)
Essas duas potências mundiais – ambos BRICS – ficaram escaldadas com o golpe europeu-estadunidense que, usando a OTAN, rasgaram a resolução 1973 de 17 de março de 2011, que mencionava apenas “proteção” a civis líbios. Com essa resolução a OTAN bombardeou toda a Líbia na linha da ordem dada por Obama/Hilary: derrubem o regime! A linha foi a da mudança de regime, coisa que só o povo líbio teria poder de decidir. Assassinaram mais de 200 mil líbios!

Os EUA e seus clientes europeus não aceitaram nenhuma modificação proposta por estes dois países na nova resolução proposta em 4 de fevereiro passado. E pior que isso. Expressaram sua indignação sobre o veto exercido dentro das regras da Carta das Nações. Quando os EUA vetam dezenas de resoluções contra Israel no CS/ONU nada se fala. Uma vez na vida duas potências vetam uma resolução que abriria brecha para a OTAN atacar a Síria, vem a indignação seletiva.

A embaixadora dos EUA da ONU, Susan Rice, chegou a dizer que o “mundo não poderia ficar refém de dois países” (sic). Tenho em mãos uma pesquisa sobre os vetos dos EUA contra resoluções a favor dos palestinos e que criticavam Israel. A pesquisa compreende apenas dez anos (1972 a 1982). Só nesse curto período foram exatos 43 resoluções vetadas pelos EUA!

Hoje, felizmente, tanto a China como a Rússia têm visto o que realmente ocorre no OM. Derrubar o governo da Síria hoje, passando por cima da soberania desse país árabe pode significar ainda um maior fortalecimento do imperialismo estadunidense e seus estados clientes europeus.

O fato é que a Rússia volta com força ao cenário internacional. Não titubeou nenhuma vez em defesa da soberania síria. Enviou armas e uma frota naval esta ancorada no estratégico porto de Tartous. Como já vimos falando, a unipolaridade no mundo tende ao seu fim. Vários pólos vão sendo criados e a Rússia vai ganhando seu espaço, fazendo-se ouvir depois de mais de vinte anos de um mundo unipolar.

5. EUA, Israel e seus aliados árabes são os maiores inimigos – Verdade (É preciso que sejam dados nomes aos bois)
Os maiores entraves para o avanço da Revolução no mundo Árabe são as petromonarquias. Elas têm nome: Arábia Saudita, Kuwait, Emirados Árabes, Qatar, Omã e Bahrein. A esses se somam países que não são fortes produtores de petróleo, mas são monarquias reacionárias e pró-EUA, como a Jordânia e o Marrocos.

O centro da resistência ao avanço revolucionário árabe vem de Riad, no reino dos sauditas. Estes reservaram em 2011 mais de cem bilhões de dólares para a contrarevolução. E contratam mercenários a peso de ouro. Apoiados pelos EUA, ainda que discretamente, e mais discretamente por Israel e sua inteligência do Mossad. Isso esta amplamente documentado. Pelo WikiLeaks e pela imprensa verdadeiramente livre e a blogosfera.

6. Se a Síria cair, isso reflete em todo o OM – Verdade
Há hoje um eixo de resistência ao imperialismo estadunidense. Esse eixo apoia as mudanças profundas no OM, apoia a causa palestina, faz oposição à Israel, defende o rompimentos dos acordos de paz assinados com esse país pelo Egito e Jordânia, de forma unilateral.

O bloco de países que integram o eixo da resistência são hoje, além da Síria, o Iraque, Líbano, a Argélia e o Irã (que é persa). O Partido de Deus (Hezbolláh), do Líbano, que forma governo com os cristãos patrióticos (maronitas do Marada e MPL de Aoun), sunitas e xiitas de várias organizações (Amal de Berri e drusos de Jumblat) e o PC Libanês de Khaled, seria o primeiro a sofrer consequências. O Hezbolláh – apesar do nome, é uma organização política e não defende no Líbano um estado religioso – além de muitos deputados e ministros, tem a maior milícia armada de resistência ao exército sionista de Israel que insiste em ocupar o Sul do país.

A própria luta de resistência palestina contra a ocupação, com todas as suas organização que compõem a OLP e o Hamas (que não integra a Organização), se enfraqueceriam imensamente com a queda do governo sírio e a instalação nesse país de um governo pró-EUA.

7. A Irmandade Muçulmana encabeça a oposição na Síria – Verdade
Essa organização tem seus tentáculos em mais de 70 países. Fundada por Hassan El-Bana em 1928, funciona como partido político, tendo uma ideologia de caráter teológico de linha islâmica fundamentalista. Na maioria das ditaduras e monarquias árabes, cujas liberdades partidárias são praticamente nenhuma, a única forma de uma parte da população expressar-se acaba sendo por essa Irmandade.

Não fiquei surpreso com o fato do seu braço político recém legalizado no Egito e na Tunísia terem ficado em primeiro lugar nas eleições ocorridas recentemente após a queda dos ditadores desses países. Não havia outra forma de expressão política além do islamismo, além da máscara de apelo ao Islã fundamentalista.

No entanto, é preciso deixar claro. Em que pese esse pessoal ter jogado algum papel na resistência à ditadura Mubarak, sempre fez acordos com ele. Aceitavam as regras do jogo, qual seja, que a oposição ao ditador pudesse chegar a no máximo 20% dos votos – eleições fraudadas – tanto para presidente como no parlamento.

A Irmandade é uma organização conservadora, que prega o fundamentalismo islâmico mais próximo do Wahabiya – linha da família Al-Saud, portanto sunitas. Sempre foi e sempre será anticomunista. Por baixo do pano sempre fez acordos, inclusive com o imperialismo britânico e mais recentemente o norte-americano. Seus líderes rapidamente disseram, depois dos resultados das eleições parlamentares no Egito, onde venceram, que não romperiam o acordo de paz com Israel.

Hoje, na Síria, os principais líderes da insurreição interna, que organizam os ataques terroristas aos prédios públicos, oleodutos, gasodutos, escolas e hospitais, são membros da Irmandade. Lamentável. Mas é a verdade amplamente documentada, mas omitida pela grande imprensa.

8. A oposição síria não tem unidade e tem força no exterior apenas – Verdade (Mas a grande imprensa não mostra isso)
É preciso que se diga. Há duas oposições na síria hoje. Uma interna e outra que funciona apenas e tão somente no exterior.

A que tem sede no exterior, seus escritórios ficam em Londres, Paris e Istambul. Esta não tem credibilidade alguma. Financiada pelas monarquias do Golfo e pelo Departamento de Estado – amplamente documentado – elas vivem para dar entrevistas na grande mídia internacional, que repercute amplamente essas “reportagens”. No Brasil, a Folha e o Estadão publicaram várias delas. Todas falsas, sem provas, com “líderes” que nunca ninguém viu. É uma oposição sem respaldo algum junto ao povo sírio. Defende abertamente uma resolução no CS/ONU que abra a possibilidade – que eles tanto sonham – da OTAN atacar a Síria. Como acreditar em “lideranças” que pedem que potências estrangeiras bombardeiem seu próprio país, ainda que a pretexto de “proteger civis inocentes”?

Há outra oposição. A interna. No entanto, esta também se divide em duas grandes partes. Uma delas, participa do chamado Diálogo Nacional. Há uma mesa de negociações formada pelo governo da Síria. No rumo das mudanças que o país precisa de fato. E, tais mudanças, vêm ocorrendo (falaremos disso mais à frente). Não se sabe o tamanho dessa oposição. As eleições marcadas para o mês que vem devem mostrar a dimensão dessa oposição. Essa oposição prega a construção de um governo de unidade nacional. Em hipótese alguma defende a intervenção externa. Diz que os problemas dos sírios devem ser resolvidos pelos próprios sírios, sem ingerência externa.

A outra parte da oposição interna, não dialoga com o governo. Esta radicalizada. Arma-se até os dentes e apoia a sabotagem de prédios públicos. Alia-se com o autointitulado Exército da Síria Livre e com o Conselho Nacional Sírio. Prega também abertamente a intervenção externa, ainda que não de forma clara defenda os ataques da OTAN. Faz, na prática, o jogo das potências imperialistas.

A oposição não se unifica. Há pelo menos 53 grupos políticos e tendências atuando de forma conflitiva no tal Conselho Nacional Sírio, organismo criado no exterior e apoiado pelos EUA. Em reuniões com autoridades europeias, essa tal oposição exige que sejam feitas várias reuniões, pois eles não conseguem sequer sentar-se à mesma mesa. Não há unidade política entre eles. Talvez o único ponto em comum seja remover Assad do poder. Nada mais. Mesmo que as reformas sejam profundas – como esta ocorrendo de fato – isso hoje pouco importa. A única agenda, a agenda da CIA, dos EUA, de Israel, da Casa de Saud e do Mossad é mudar o regime. Nada mais lhes interessa.

Tanto a externa, quanto à interna que não dialoga com o governo, possuem amplo e plena interlocução em especial com os EUA, Inglaterra e França.

9. Bashar Al-Assad é um sanguinário e genocida – Mentira
É evidente que os processos eleitorais tanto na Síria quanto em qualquer país árabe não seguem os padrões que vivemos no Brasil e no Ocidente. No entanto, não se pode falar em democracia na Síria e não se falar desse tema nos outros países árabes. Mesmo no Ocidente. Agora mesmo na Grécia se pede inclusive suspensão das eleições para que um possível novo governo de oposição não rompa os acordos de traição nacional que estão sendo assinados às claras e abertamente.

Os mesmos monarcas que falam em “democracia” na Síria, são os que mais reprimem seus próprios povos, como na Arábia Saudita, Qatar e Bahrein. Essa gente não tolera manifestação, não tolera povo organizado. Essas monarquias sequer possuem parlamento funcionando, partidos políticos são proibidos.

Em que pese todas as restrições às amplas liberdades na República Árabe da Síria, esse país ainda é o mais livre em termos de funcionamento de partidos políticos em todo o Oriente Médio. São oito os partidos políticos existentes e legalizados. Claro, o Partido Socialista Árabe Sírio, o Baath é o maior e do governo. Esta no poder há pelo menos 42 anos. Mas temos dois partidos comunistas no país funcionando. Temos o Partido Nacional Sírio e outros. Depois dos pleitos por reformas amplas, outros cinco partidos foram legalizados, ampliando para 13 o número de partidos com direito a concorrer nas próximas eleições.

O relatório dos observadores da Liga dos Estados Árabes – 160 pessoas que ficaram na síria por trinta dias – menciona em uma parte que contataram e viram funcionando 147 órgãos de imprensa nesse país árabe! Entre rádios, TVs e jornais que circulam amplamente.

Bem ou mal, as eleições para o parlamento sírio ocorrem a cada quatro anos e os oito partidos funcionam livremente. Não é a democracia mais avançada, popular, que defendemos, mas não se pode dizer que as restrições são totais. Há muito que se fazer. E esta sendo feito. Mas, a grande imprensa não divulga uma só linha sobre tudo isso. Chegou às minhas mãos – nunca divulgadas pela grande imprensa – um conjunto de 33 grandes medidas, ações governamentais, decretos e leis adotadas entre abril de 2011 e fevereiro de 2012 que mudam completamente a realidade política desse país árabe.

10. A Síria é o único país árabe hoje a apoiar com firmeza a causa palestina – Verdade
E não se pode falar em apoio pela metade, parciais. Apenas a Síria, em sua capital, funcionam escritórios de todas as organizações da resistência palestina. O enfrentamento que o povo e o governo da Síria vêm dando à Israel, contra as ocupações que o estado sionista faz em terras árabes é o maior que se te visto em todo o OM.

Desde a derrubada do governo de Saddam Hussein e seu assassinato, que procurava dar enfrentamento à ocupação estadunidense de toda a região; desde a queda e o assassinato de Muammar Khadaffi em outubro passado, um a um foram caindo todos os focos de resistência ao imperialismo estadunidense e à Israel. Restou a Síria. É preciso instalar governos dóceis aos norte-americanos e aos sionistas em todo o mundo árabe para que se complete seu projeto neocolonial na região.

E é preciso deixar claro: derrubar Bashar hoje significa enfraquecer a resistência libanesa e palestina e isolar completamente o Irã! Quem não compreender essa geopolítica no OM não entende nada nem de OM nem de política internacional!

11. A OTAN e a Al Qaeda estão em aliança – Verdade (A grande mídia esconde isso)
Aqui é preciso esclarecer muitas coisas. Ainda que isso possa parecer inacreditável, para quem foi bombardeado durante anos com a informação de que a rede Al Qaeda de Osama Bin Laden sempre foi uma rede terrorista, que teriam feito os atentados às torres gêmeas em 11 de setembro de 2001, isso pode parecer mesmo um verdadeiro absurdo. Mas não é.

Escritores, jornalistas independentes e intelectuais progressista a cada dia vêm trazendo informações precisas e importantes que comprovam essa informação. E os próprios comunicados da organização Al Qaeda pelo seu novo “comandante”, o médico pediatra egípcio Ayman Al Zawahiri atestam isso. Textos recentes da lavra desse senhor ou a ele atribuídos, mencionam a importância fundamental da derrubada do governo sírio em aliança com as forças do autoproclamado Exército Síria Livre. E essa organização prega o Estado Islâmico.

Essa organização faz questão de não dialogar com o governo. Foi assim na Líbia quando ela apoiou abertamente a queda de Khadaffi e fez aliança com as forças da OTAN. Agora, da mesma forma, conversações de alto (?) nível entre emissários dessa organização militar europeia – agora mundial! – com líderes da Al Qaeda que atuam na Síria mostra essa aliança, que é abastecida fartamente com dólares do petróleo árabe das monarquias do Golfo e dinheiro da CIA e do Mossad de Israel, via território curdo.

Como diz Pepe Escobar, combativo jornalista brasileiro correspondente do Asia Times, “quem imaginaria que o que a Casa de Saud deseja ver na Síria é exatamente o que a Al Qaeda deseja para a Síria? Quem imaginaria que o CCG e a OTAN desejam para a Síria é o mesmo que a Al Qaeda deseja para esse país?”.

12. A Turquia e seu governo deram as costas para os árabes – Verdade
É lamentável ter que reconhecer isso, mas o governo de Recep Tayyip Erdogan, cujo partido governa a Turquia há quase nove anos (desde 14 de março de 2003), com o seu Partido da Justiça e do Desenvolvimento – PJD (em turco AKP, ou Adalet ve Kalninma Partisi), tem outros projetos para seu país e para uma liderança de toda a região.

Como bem sabemos, a região do OM é habitada por diversos povos. Além do árabe, que são a esmagadora maioria, temos ainda os persas (Irã), os judeus (Israel) e os turcos na Turquia, que é um país laico (apesar de 97% da população pertencer ao islamismo sunita) e foi ocidentalizado de tal forma que até seu alfabeto foi modificado. A separação das entidades e instituições religiosas do Estado é absoluta. No entanto, com Erdogan isso vem sendo gradativamente modificado.

Na verdade, esse Partido vem vencendo as eleições por, gradativamente, ir modificando o cenário turco de tal forma que boa parte da população já admite certa islamização da sociedade. A imprensa apresenta Erdogan como membro de um partido “muçulmano moderado” (sic) sabe-se lá o que isso significa.

No entanto, o grande sonho, o grande projeto desse Partido, o AKP (em turco), é integrar-se à Europa. Isso o falecido cientista político estadunidense Samuel Huntington já havia previsto em seu artigo clássico da Foreing Office de 1995 que causou polêmica acadêmica no mundo todo intitulado Clash of Civilization (Choque de Civilizações, posteriormente transformado em livro pela Editora Objetiva, em 1997).

A crítica que a Turquia receberia desse intelectual era de que o país viraria as costas para o mundo islâmico e teria maiores interesses em olhar para a Europa. Hungtinton afirmaria – quase que como uma profecia – que ele nunca seria admitido na Europa, por ser o continente extremamente preconceituoso, cristão e antiislâmico, por mais que a Turquia fosse um país laico. Sabe-se que o Vaticano se pronuncia contra o ingresso da Turquia na Europa. Era discreto com João Paulo II e agora é aberto com Bento XVI.

Nesse sentido, desde 2003 Erdogan vem se aproximando da Europa. Seu país é membro da OTAN e tem bases militares dessa organização militar, antes contra a URSS e hoje contra qualquer mudança progressista ou revolucionária em qualquer país do mundo. Chegou a ensaiar passos contra Israel. Não é para menos. O governo sionista de Netanyahú interceptou em 2010 uma flotilha de vários navios e fuzilou nove cidadãos turcos. Erdogan teve que subir o tom. Chegou a jogar um papel importante na tentativa de tirar o Irã do isolamento em seu programa nuclear que contou com o apoio de Lula do Brasil.

Mas, mudou de posição. Voltou ao que sempre foi. Tem um sonho de ser a grande liderança do Oriente Médio e dos árabes inclusive. Baixou completamente o tom de voz contra Israel. Apoiou os ataques da OTAN/Europa à Líbia e apoia abertamente a derrubada do governo da Síria em uma clara ingerência nos assuntos internos de um país vizinho que teria que respeitar. Dá abrigo ao exército mercenário estacionado nas suas fronteiras com a Síria. Faz uma manobra arriscada. Coloca em pé de guerra todos os milhões de curdos que vivem em território turco que odeiam o seu governo (pelo menos na Síria eles são melhores tratados). A política de Erdogan de “zero problemas com os vizinhos” hoje vemos uma situação de “zero amigos”.

Talvez sonhe com a volta do império turco-otomano. Mas não há espaço para isso. Ele terá que fazer escolha. E, neste momento, vem escolhendo o que tem de pior para o mundo árabe e para toda a Ásia, qual seja, uma aliança tácita com o imperialismo estadunidense e europeu. Lamentamos por isso.

13. Relatório sobre a Situação da Síria só Vale Quando Fala Mal do Governo – Verdade
Dois relatórios foram produzidos nos últimos 90 dias sobre a Síria. Um, da lavra do representante da ONU para Direitos Humanos na Síria, o brasileiro e meu colega sociólogo Paulo Sérgio Pinheiro, da USP e outro, assinado pelo general sudanês, Mohammed Ahmad Al-Dabi.

Escrevi um artigo sobre o primeiro relatório. O Prof. Paulo Sérgio sequer entrou na Síria, mas escreveu sobre o que não viu. Fez um relatório faccioso, tendencioso, parcial. Não ouviu ninguém do governo, apenas opositores no exílio. Tal relatório foi amplamente saudado pela imprensa internacional como “equilibrado”. Atacava o governo de todas as formas possíveis.

O outro relatório foi feito sob a coordenação do experiente general sudanês, ex-presidente de seu país. A comissão formada era oficial da Liga Árabe. Era integrada por 160 pessoas. Passaram trinta dias na Síria. Visitaram várias cidades, ouviram oposicionistas e o governo. Não constataram a violência que o mundo diz haver no país. Não atestaram o número exorbitante de mortos que a imprensa ocidental divulga. Ao contrário. Constaram sim milhares de mortos das forças regulares, do exército e da polícia. Presenciaram milhões nas ruas em apoio ao governo do Dr. Bashar. Mas, como disse Kissinger em recente artigo o governo é amado pelo povo, mas mesmo assim tem que cair (sic). Esse foi o relatório que apontou a existência de 147 órgãos de imprensa funcionando livremente na Síria.

Imediatamente, a Liga Árabe, que representa hoje apenas as petro-monarquias do Golfo e os interesses da OTAN prontamente rejeitou tal relatório, levando o seu presidente a renunciar aos trabalhos. De fato, dois pesos e duas medidas. Só não vê quem não quer.

14. Os EUA vivem uma Indignação Seletiva – Verdade
Nunca a famosa frase de “dois pesos e duas medidas” ficou tão claro e tão evidente como no momento atual da diplomacia norte-americana com Barak Obama. Seus planejadores do Pentágono e do Departamento de Estado são hoje mais ideólogos que planejadores. São seletivos em suas análises, facciosos.

Colocam-se contra o Irã e seu programa nuclear pacífico, mas nada falam sobre as duzentas ogivas nucleares que Israel possui. Falam o tempo todo contra o “ditador” Bashar, mas não se pronunciam contra as monarquias absolutistas, obscurantistas, fascistas e feudais do Golfo, por estes serem seus aliados, amigos e pró-Israel. Pronunciaram-se contra a “repressão” na Síria, mas calaram-se com o massacre dos xiitas no Bahrein. Falam contra o uso das forças armadas sírias que defende o país, mas calam-se contra a invasão que as forças armadas sauditas fizeram no Bahrein, sede da 5ª Frota dos EUA que patrulha o Golfo Pérsico-Arábico. Abusam do direito de veto no CS/ONU em favor de Israel, mas indignam-se contra um veto exercido dentro das regras previstas na Carta das Nações usado pela China e pela Rússia.

15. Terroristas agem abertamente na Síria – Verdade
A grande imprensa apenas acusa o governo de matar dezenas, centenas de cidadãos. No entanto, ela tem sido obrigada a noticiar mais e mais atentados terroristas contra prédios públicos, oleodutos, gasodutos, escolas e até mesmo hospitais. São feitos por mercenários contratados a peso de ouro pelo obscuro Exército da Síria Livre. O objetivo desses ataques é quebrar a infraestrutura do país e jogar a opinião pública contra o governo.

É preciso destacar que a ação desses grupos mercenários conta com apoio e total suporte da OTAN que os treina e financia, a partir de acampamentos na fronteira da Turquia. Estão envolvidos nessa operação a CIA e o MI6 inglês, além, claro, como sempre, o Mossad de Israel. Isso não vem surtindo efeito. Ao contrário. Pesquisas confiáveis de opinião mostram o grande apoio da opinião pública ao governo.

Conclusões
Nunca tivemos dúvidas, desde o início do processo da Revolução Árabe, que a Síria viveria uma situação distinta, particular. O caráter de um governo se mede pelas tarefas que assume, pelos seus objetivos, pela ação que pratica. Por isso nunca duvidamos do caráter antiimperialista, popular e em defesa dos palestinos que o governo da família Assad sempre expressaram.


Defendemos, tal qual as organizações sindicais, populares e os partidos comunistas da Síria, reformas profundas no país, ampliação das liberdades políticas e de organização. No entanto, não podemos somar nossas vozes com grupos terroristas, mercenários à soldo do imperialismos de todas as matizes, sejam eles norte-americano, inglês ou francês. Não bastasse isso, já esta claro mais que provado por diversas fontes, a ampla aliança da Al Qaeda com a OTAN. E somado a isso, os serviços secretos da CIA, MI6 e Mossad israelense.


Somamos nossas vozes às do povo e do governo da Síria, em seu projeto em defesa da soberania nacional e sua autodeterminação. Não à ingerência estrangeira nos assuntos internos da Síria. Apoiamos e defendemos o diálogo nacional. Apoiamos as eleições livres que ocorrerão no mês que vem, sob nova e democrática constituição da República Árabe da Síria.


Ao que tudo indica, o jogo parece que vai terminando. E com uma derrota fragorosa para as forças imperialistas e sionistas. Para as forças que querem barrar o avanço da Revolução Árabe. A Rússia e China estão resolutas em não apoiar qualquer intervenção externa na Síria. Já chega de destruição de uma nação árabe. Não ficou pedra sobre pedra no Iraque. Agora a mesma coisa na Líbia, antes o país de maio IDH de toda a África. Sem falar na própria destruição do Afeganistão. Agora querem destruir e tomar a síria, último bastião e pilar do verdadeiro nacionalismo e panarabismo, herdados de Gamal Abdel Nasser. A oposição externa já perdeu as ilusões de apoios. Até Sarkouzy já disse que não se ganha uma guerra de fora do país!


A OTAN não tem como intervir e já disse isso com todas as letras. Resta-lhes apoiar os terroristas da rede Al Qaeda, financiada pela CIA. A Turquia vai acabar tendo que retirar todo seu apoio aos mercenários recrutados pelos dólares sauditas, a que ela vem chamando de Exército da Síria “Livre” (Free Syrian Army – FSA em inglês). Vai ficando isolada e sem amigos no OM.


O risco de um conflito regional no OM, que já foi maior, deve estar sendo redimensionado pelos tais planejadores de Washington. Não há como um conflito dessa natureza deixar de fora as capitais Tel Aviv, Riad e Ancara. Um incêndio de razoáveis proporções.


O CS/ONU e a Liga Árabe (do Golfo...) não conseguem mais executar a política estadunidense. Não pelo menos com antes, com a desenvoltura anterior. Há resistências da Rússia e China e agora do Líbano, Iraque, Argélia, do Irã e da própria Síria e do seu bravo povo. A Liga Árabe acabou. Precisará ser, no futuro, recomposta ou outra organização surgirá. Hoje, é palco para monarquias fascistas, feudais, como as da Arábia Saudita e do Qatar.


O governo da Síria, sob o comando do seu jovem presidente, o médico Bashar El Assad, segue no caminho da tentativa de pacificação do país. Mais de 30 decretos, portarias e novas leis, editadas em oito meses vão reformando o regime, o governo, o país, dando-lhes feições mais modernas e democráticas. Avança o diálogo nacional com todas as organizações, governamentais ou não, no rumo de eleições democráticas, nova constituição e eleições presidenciais em 2013. Novos pactos, novas alianças, regionais e internacionais, devem atender aos interesses dos sírios. Novos acordos econômicos com países amigos, em especial Rússia e China, devem ser assinados em breve.


Quero registrar meu profundo lamento a uma esquerda que não consegue compreender a dimensão do que está em jogo naquela região e insiste em somar suas forças, pequenas é verdade, às do império estadunidense e seus lacaios, tentando derrubar o governo patriótico da Síria.


Posso estar enganado, mas contas feitas pelo imperialismo e sionismo, pela direita islâmica, o melhor mesmo talvez seja melhor bater em retirada. Difícil prever em detalhes, mas é esse o cenário que vislumbramos.

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Fontes Pesquisadas e Citadas


- Aisling Byrne. A realidade sempre mal contada na mídia sobre a Síria, do Asian Times Online, de 4 de janeiro de 2012;
- Assad Frangiéh, em www.elmarada.com.br em Editorial, O começo do fim. Agradeço ao Dr. Assad em particular por observações na primeira versão deste trabalho.
- Camila Carduz. Irã promete apoiar resistência libanesa e palestina contra Israel. Prensa Latina.
- Evguêni Satanóvski. Atual estratégia russa para o Oriente Médio permite ao país salvar as aparências e ganhar tempo. Presidente do Instituto de Estudos sobre o OM.
- Michel Chossudovsky. Syria: NATO’s next “humanitarian” war? http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=29234
- Pepe Escobar. Síria, a nova Líbia. Asia Times Online.
- Pepe Escobar. É que o Bahrein não é a Síria... http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/NB15Ak03.html
- Robert Fisk, Bashar Al-Assad não cairá. Não, pelo menos, agora. The Independent.
- Sharmine Narwani. Veterano diplomata americano questiona a narrativa sobre a Síria. Al-Akhbar, Beirute.
- Thierry Meyssan. Fin de partie au Prouche-Orient. Rede Voltaire Net. http://www.voltairenet.org/Fin-de-partie-au-Proche-Orient

Observação: os artigos traduzidos para o português sem menção de páginas da Internet foram realizados pelo coletivo de tradutores da Vila Vudu, a quem de público agradeço.

* Lejeune Mirhan é sociólogo, Professor, Escritor e Arabista. Colunista de Oriente Médio do Portal da Fundação Maurício Grabois (http://grabois.org.br/). Colaborador da Revista Sociologia da Editora Escala. E-mail: lejeunemgxc@uol.com.br

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Primavera Árabe só deu outra cor à censura

31/1/2012 - por Simba Shani Kamaria Russeau, da Inter Press Service - postado em Envolverde - Jornalismo & Sustentabilidade


Cairo, Egito, 31/1/2012 – Os esforços dos regimes do Oriente Médio e do norte da África, para impedir o fluxo de informação durante as revoltas populares do ano passado, deixaram uma grande quantidade de jornalistas mortos, feridos ou detidos. Hoje, a censura continua. “No começo da Primavera Árabe, o controle de informação foi uma prioridade para as autoridades”, contou à IPS (Inter Press Service) a pesquisadora para o Oriente Médio e a África do Norte da organização Repórteres Sem Fronteiras, Soazig Dollet. “Os governos tratam de censurar a cobertura da repressão lançada pelas forças de segurança contra os protestos, impedindo o acesso à internet e bloqueando os telefones celulares, bem como atacando jornalistas locais e internacionais”, denunciou.

O levante popular na Tunísia, em janeiro de 2011, que levou à queda do presidente Zine al-Abidine Ben Ali, deu origem a uma onda de protestos que rapidamente se propagou pelo resto do mundo árabe. No dia 25 daquele mês, foi a vez do Egito, quando manifestantes começaram a reclamar o fim do regime de 30 anos do presidente Hosni Mubarak. Após o êxito de Egito e Tunísia, outros países como Bahrein, Marrocos, Líbia, Iêmen e Síria lançaram suas próprias revoltas.

A imprensa teve um papel fundamental informando sobre as manifestações e a consequente repressão, mas os profissionais correram sérios riscos quando as autoridades trataram de bloquear a propagação de notícias. Um informe da Repórteres Sem Fronteiras diz que pelo menos 20 jornalistas foram mortos e 553 agredidos ou ameaçados na Primavera Árabe, o que fez do Oriente Médio e do norte da África uma das regiões mais perigosas para os trabalhadores da imprensa.
Os regimes dos países onde houve levantes populares tentaram, no começo, censurar a informação”, apontou Ayman Mhanna, diretor-executivo da Fundação Samir Kassir. “Começaram bloqueando o acesso a redes sociais como Facebook e Twitter, mas depois se deram conta de que podiam abrir esses sites para controlar quem escrevia e o que escreviam. Depois restringiram o acesso a jornalistas estrangeiros e independentes, a menos que estivessem totalmente sob seu controle”, disse Mhanna à IPS.

A situação melhorou um pouco, salvo na Síria e no Bahrein. No primeiro país, os jornalistas estrangeiros só entram furtivamente, a menos que aceitem trabalhar sob controle das autoridades, que, por outro lado, não garantem sua segurança. A morte de Gilles Jacquier (no dia 11) é um exemplo disso”, afirmou Mhanna. “No Bahrein, a situação é muito difícil. Os países do Conselho de Cooperação do Golfo têm interesses em bloquear a revolução nesse país. Todos os meios de comunicação opositores estão censurados, e os que são afinados com o regime distorcem totalmente a informação”, ressaltou.

Defensores dos direitos humanos consideram o Oriente Médio e o norte da África uma das regiões com maior censura pela abundância de controles, leis, normas, hostilidades, detenções e restrições físicas. Disposições legais de todo tipo são usadas para deter jornalistas, acusando-os de prejudicar a reputação do Estado, freando, assim, denúncias de corrupção contra funcionários públicos. As autoridades do Bahrein utilizaram a Lei de Imprensa de 2002 para censurar. O Código Penal da Síria criminaliza a propagação de notícias no estrangeiro. Além disso, Egito e Síria têm leis de emergência que permitem perseguir e deter sem o devido processo jornalistas, trabalhadores de imprensa em geral e ativistas políticos.

Durante o regime de Mubarak houve muitas formas de censura, como pressão sobre os editores, proibições de impressão de determinados números em particular, confisco de edições diárias, hostilidades contra jornalistas e apreensão de seus pertences”, contou Ramy Raoof, diretor de mídia na internet para a Iniciativa Egípcia de Direitos Pessoais. “Estas coisas continuam ocorrendo, mas com diferentes funcionários. No lugar do pessoal do Ministério do Interior, entra o do sistema militar. Por exemplo, no dia 22 de fevereiro de 2011, uma carta da Marinha enviada aos jornais egípcios dizia, de modo resumido, que não publicassem nada sobre o exército”, afirmou Raoof à IPS.

Os códigos de imprensa da maioria dos países árabes pretendem respeitar a liberdade de imprensa, mas na realidade deixam amplos espaços para serem violados pelos regimes da vez. Alguns de seus artigos, como ‘desmoralizar a nação’, são usados muito nos últimos tempos na Síria. Acusar ativistas de traição ou de cooperar com inimigos estrangeiros é outra acusação à qual se recorre frequentemente”, esclareceu Mhanna.

No entanto, um ano depois do começo da Primavera Árabe, quando vários países lutam para construir um futuro democrático e em outros continuam ocorrendo manifestações reclamando democracia, ainda é difícil para os jornalistas fazerem seu trabalho.

Agora “os jornalistas podem expressar suas opiniões com maior liberdade porque quebraram a barreira do medo. Porém, continua sendo perigoso expressar sua opinião onde as revoluções conseguiram derrubar o regime ou onde cresce o peso de grupos religiosos extremistas”, alertou Mhanna. “De certa forma, mudou a natureza da censura. Agora, são perigosas as consequências do que escreve ou diz um jornalista”, acrescentou.

Envolverde/IPS