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domingo, 4 de novembro de 2012

O sangrento fracasso dos EUA na Síria

02/11/2012 - original em 01/11/2012, no Xinhua News Agency, Pequim:
- Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
- para a redecastorphoto

PEQUIM – “Já dissemos bem claramente que o Conselho Nacional Sírio não pode continuar a ser visto como líder visível da oposição”, disse a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton [foto] em visita à Croácia, na 4ª-feira [31/10], “exigindo” modificações na liderança da oposição síria.

A recente “grande virada”, que visa a descartar o Conselho Nacional Sírio que tem base em Istambul, Turquia – o mesmo CNS que os EUA até agora haviam apoiado sem restrições – mostra a confusão reinante nas “táticas” do ocidente para a Síria que, hoje, se veem ante o grande problema de encontrar outros representantes locais aos quais apoiar.


Os EUA, que em nenhum momento se ocuparam em buscar alguma verdade factual em campo e temerariamente acolheram como aliado e “representante local” o Conselho Nacional Sírio, acabam de constatar que o aliado é absolutamente imprestável; e retiram-lhe todo o apoio. Os EUA estão esmurrando, de fato, a própria cara.

Agora, os EUA partem à procura de outras forças de oposição as quais apoiar. Mas o mais provável é que a nova tentativa falhe outra vez, dado que, outra vez, os EUA deixam sem considerar as causas que continuam ativas na raiz daquela crise crônica e, outra vez, rejeitam qualquer solução política para a Síria.

Desde o início do conflito, há 20 meses, o ocidente nada faz além de, obcecadamente, trabalhar para derrubar o governo do presidente Bashar al-Assad [foto], sem em momento algum considerar objetivamente a potência variável das diferentes facções que disputam o governo da Síria.

Forças leais a Assad continuam a combater cabeça à cabeça contra rebeldes, e absolutamente não se vê no horizonte qualquer possibilidade de processo de paz.

Até agora, aqueles confrontos já fizeram mais de 32 mil mortos.

Sem conseguir conter os confrontos, a trégua de quatro dias, para a Festa do Sacrifício em outubro de 2012, iniciada pelo enviado da ONU, Lakhdar Brahimi e prevista para marcar o começo de um processo de paz, também já deu em nada.

A experiência já mostrou que a intervenção e a “exigência” de que Assad deixe o poder não conseguiram conter a violência ainda crescente e precipitaram a Síria em caos ainda mais profundo.

Aparentemente, Washington ainda insiste na velha ideia intervencionista, que mais de uma vez levou os EUA a beco sem saída. Em nenhum caso o ocidente deveria apoiar um dos lados, na luta para varrer do mundo a oposição, porque esse tipo de ação sempre implica consequências incontroláveis.

Nem Clinton dá sinais de saber o que faz em relação à Síria e insiste em esperar que rebeldes consigam derrotar o governo de Assad. Na 4ª-feira [31/10], a secretária Clinton disse que não é segredo que muitos na Síria, especialmente grupos minoritários, temem que o governo de Assad seja substituído por governo da oposição sunita. “Não que amem o regime Assad” – disse ela. – “Mas estão, com muita razão, preocupados com o futuro”.

É mais que hora de o ocidente entender que a única abordagem razoável é apoiar genuinamente uma solução política e diplomática para a crise.

A China, com a Rússia e outros países, tem buscado incansavelmente apoiar os esforços do enviado internacional e tem insistido na direção de que todas as partes envolvidas busquem desempenhar papel mais construtivo.

Na 4ª-feira, o Ministro de Relações Exteriores da China, Yang Jiechi [foto acima] apresentou proposta chinesa, de quatro pontos, para encaminhar solução estável para o conflito sírio.

Os chineses entendem que é absolutamente necessário que os lados em conflito respeitem o cessar-fogo acordado e deem início, imediatamente, a uma transição política negociada.

Os EUA ainda precisam aprender que soluções políticas demandam paciência e tempo.

Fonte:http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2012/11/o-sangrento-fracasso-dos-eua-na-siria.html

segunda-feira, 16 de julho de 2012

A Hidra em Damasco

14/07/2012 - Pepe Escobar
em 13/7/2012, no Asia Times Online – The Roving Eye - “A Hydra in Damascus”
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu para a redecastorphoto

Kofi Annan está cada vez mais parecido com Austin Powers [1], menos os ternos vermelhos; misterioso agente internacional, que voa de capital em capital, pelo mundo, tentando impedir uma guerra terrível.

O “Dr. Mal”, claro, é Bashar al-Assad, da Síria. “Mexa-se, baby”! [2]

O mediador-em-chefe da ONU está agora convencido de que Irã e Iraque apoiam seu novo plano de transição política para Damasco, que, na essência, é o plano anterior, de 12 de abril remixed, por causa de uma equipe de exilados oportunistas conhecidos como Conselho Nacional Sírio (CNS) [orig. Syrian National Council (SNC)].

Há matéria [3] com detalhes deliciosos do encontro em Damasco, no início da semana, entre Annan e Assad. Como em qualquer show decente, as melhores falas aparecem antes dos créditos:

Annan: Por quanto tempo você acha que essa crise continuará?
Assad: Durará enquanto o regime financiá-la.
Annan: Você acha que todo o dinheiro é deles?
Assad: Eles estão por trás de muitas coisas que acontecem em nossa região. Acham-se capazes de liderar todo o mundo árabe hoje e para sempre.
Annan: Mas tenho a impressão de que eles não têm a população necessária para tanta ambição. [Todos riem]

Chamem o agente Kofi Powers, para salvar o mundo?

Não apenas Annan e Assad: todo mundo sabe que “o regime” referido é o Qatar.

E por isso o CNS não aceita cumprir o cessar-fogo decidido no plano anterior de Annan – e novamente não aceitarão agora, pelo segundo plano. Todos sabem que o Qatar – e a Arábia Saudita – continuarão a armar os “rebeldes”, sejam desertores, associados ao CNS ou não, membros dos diferentes ramos do Exército-sírio-nada-Livre, ou mercenários salafistas-jihadistas outra vez alugados em alegre colaboração com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

O CNS foi a Moscou, para conversar com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov (foto abaixo). [4] Os russos não se impressionaram. Nas palavras do novo chefe do CNS, Abdulbaset Sayda, “Exigimos a partida imediata de todos os representantes do atual governo, a começar pelo líder Assad (...) Qualquer tentativa de reconciliação com o atual regime dará em nada”.

Quer dizer: outra vez, o CNS está torpedeando Kofi Powers Annan e sua transição política, antes até de haver alguma transição. Para nem dizer que já deram jeito de alienar Moscou, cujo principal interesse é ser o principal mediador de um governo sírio de transição. Moscou redigiu uma resolução, para prorrogar a missão da ONU na Síria por mais três meses, trocando o monitoramento de uma trégua que ninguém respeita, pela negociação de uma transição política.

O chamado plano de seis pontos de Annan implica imediato cessar-fogo (que jamais será respeitado pelo CNS e pelo ESL); retirada, de vilas e cidades, de todo o armamento pesado e forças militares; acesso para socorro humanitário e jornalistas; e criação de um mecanismo para a transição política.

Mais uma vez, até essa “transição política”, baseada em “aceitação mútua” – decidida em Genebra, dia 30 de junho – já começa plantada sobre terreno extremamente movediço. Para Washington, “aceitação mútua” significa “Assad fora”. Para Moscou, “aceitação mútua” significa que o sistema Assad é parte da negociação.

A oposição síria, representada pelo CNS e pelo Exército Sírio Livre (ESL) – devidamente apoiada pela secretária de Estado Hillary (“Viemos, vimos, ele morreu”) Clinton e sua gangue de “Amigos da Síria” – continua aos gritos: que se danem as negociações; queremos o poder e queremos já. Que democracia seria essa?

You say you want a revolution [5]

A essa altura, Kofi Powers já deveria ter subido a aposta e usado alguma tática de intimidação sedosa contra aquele pessoal. Afinal, é sua reputação que está em jogo. Não acontecerá.

Assim sendo, não surpreende que toda a gangue desejante – do pessoal do Pentágono, CIA e gente do Departamento de Estado, aos aliados turcos do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, incluindo aqueles “democratas” exemplares do Golfo – estejam salivando ante a possibilidade de... e o que mais seria?!... um golpe.

Agora, quando por todos os cantos florescem as “democraturas” [4/7/2012, redecastorphoto, Pepe Escobar: E tudo sempre pode acabar em “democratura” - ver em http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2012/07/pepe-escobar-e-tudo-sempre-pode-acabar.html], o cardápio parece bem apetitoso. No Egito, o orwelliano Conselho Supremo das Forças Armadas já desferiu seu golpe, imediatamente antes das eleições presidenciais. No Iêmen, a Casa de Saud instalou o substituto preferido, no posto de Abdul Saleh, depois de uma espécie de golpe branco.

Considerando que a OTAN e os “Amigos da Síria” são totalmente ineptos/incapazes para montar golpe semelhante, e considerando que as elites no topo do poder da Síria absolutamente não racharam, o quadro é semelhante ao de Hosni Mubarak: tenta-se cortar a cabeça da cobra, mesmo que, imediatamente, novas minicabeças já estejam brotando na mesma cobra, como na Hidra.

Fachadas de inteligência dos EUA, como a recentemente hackeada-detonada empresa Stratfor, temem que esse arranjo só beneficie Irã e Rússia, ambos com complexas redes instaladas dentro da Síria, e ambos interessados em manter o atual sistema, porque interessa aos seus projetos geopolíticos.

Altamente útil será manter olho vivo, acompanhando o que o clã Assad enfrenta, no plano interno. Uma “transição” liderada de dentro da Síria pode dar ainda mais poder a alguns seletos sunitas e talvez a uns poucos cristãos e curdos – mas a mudança nada terá a ver com a “revolução” com que o CNS delira. Em termos estruturais, continuará tudo mais ou menos como está.

Dentre os sunitas que ganham poder num cenário pós-Assad, os principais candidatos são o ministro do Interior Mohammad Ibrahim al-Shaar; o Comandante do Estado-maior do Exército Fahd Jasem al-Farij; o vice-secretário regional do Partido Baath Muhammad Said Bukhaytan; e o comandante da Guarda Republicana Manaf Tlas (o qual, sim, desertou e já está em Paris [6]).

Dr. Evil e Mini-me

 Até agora, contudo, as deserções são praticamente irrelevantes; mas há um grupo que é preciso observar de perto. Se alguém desse grupo desertar, então, sim, o clã Assad pode começar a enfrentar problemas graves. Nesse grupo estão Jamil Hassan; Abdel-Fatah Qudsiyeh; Ali Mamlouk; e Muhammad Deeb Zaitoon. São os chefes das quatro agências de inteligência da Síria (sim, a Síria de Assad é estado policial de linha ultra dura). E, claro, Hisham Bakhtiar – chefe do Conselho de Segurança Nacional e principal conselheiro de segurança de Assad.

No pé em que estão as coisas hoje, o grupo governante sírio ainda parece monoliticamente indestrutível. Não sairão de lá e só serão arrancados com luta extrema. E a “alternativa” é a Fraternidade Muçulmana e o Conselho Nacional Sírio – cujas credenciais “revolucionárias”, para nem falar em democracia, são, para dizer o mínimo, pífias. As massas de civis apanhadas sob fogo cruzado, talvez até se interessassem pela possibilidade de golpe. Melhor que acabar governados pelos sinistros “Amigos da Síria”, o que seria substituir um Dr.Mal por um Dr. Mini-Mal [7], só que “democrático”.

Notas dos tradutores
[1] Personagem de três filmes sobre um agente do Ministério da Defesa britânico, e seu arqui-inimigo-nêmesis, Dr. Evil [Dr. Mal], obcecado com apressar o fim-do-mundo-como-o-conhecemos, e cujos planos Austin sempre consegue fazer fracassar. Imagens em: “Film: Austin Powers”. (ver em: http://tvtropes.org/pmwiki/pmwiki.php/Film/AustinPowers?from=Main.AustinPowers )

[2] De License to swing, da série Austin Powers, trailer a seguir: (ver em: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=wvHWmmZ3q5w )

[3] 10/7/2012, Al-Akhbar, em: “Assad and Annan: Back to Square One”. (ver em: http://english.al-akhbar.com/content/assad-and-annan-back-square-one )

[4] 11/7/2012, RIANOVOSTI, “Syrian Opposition Group Calls for Revolution”. (ver em: http://www.en.rian.ru/world/20120711/174555887.html )

[5] É verso de Revolution, Beatles, 1968, assista e ouça em: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=VKB-w179PIQ

[6] 6/7/2012, Syria Comment, “Manaf Tlas Defection Confirmed: His Statement from Paris”. (ver em: http://www.joshualandis.com/blog/?p=15233 )

[7] Orig. Mini-me. É personagem da série Austin Powers. Sobre ele, com imagens. (ver em: http://en.wikipedia.org/wiki/Mini-Me )

Postado por Castor Filho - em:
http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2012/07/pepe-escobar-hidra-em-damasco.html

sexta-feira, 2 de março de 2012

Verdades e Mentiras sobre a Síria - Perspectivas da Revolução Árabe


("Muito já se disse sobre o que ocorre na Síria hoje. Os meios de comunicação de massa, nacionais e internacionais, expressam o que pensa o Pentágono. Com honrosas exceções, tudo que recebemos no Brasil em particular, publicados em língua pátria no Globo, Abril, Folha e Estadão [órgãos da Família GAFE da Imprensa] reproduz quase que sem retirar nenhuma frase, o que as agências noticiosas internacionais despacham para o mundo todo. Agências, diga-se de passagem, que sequer possuem um só correspondente em Damasco, capital da Síria. A seguir, para auxiliar nossos leitores, fazemos um pequeno resumo de tudo que se diz sobre a República Árabe da Síria. Resumimos 15 pontos que se destacam na atualidade." - do blog burgos4patas)


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24.02.2012 - Perspectivas da Revolução Árabe - relação com o que ocorre hoje na Síria
Por Lejeune Mirhan * - Portal da Fundação Maurício Grabois

Gostaria muito de tratar mais globalmente sobre a Revolução Árabe, iniciada há pouco mais de um ano. Poderia tratar do Egito e suas eleições, as eleições também ocorridas na Tunísia ou mesmo no Iêmen, cujo ditador de 33 anos acaba de cair de deve refugiar-se em alguma monarquia reacionária árabe da vizinhança ou mesmo nos EUA (seu vice assumiu, mas segue sendo ditadura). No entanto, a pauta segue sendo a Síria. Por isso, voltamos ao tema neste artigo que, entre outras fontes, estão as abaixo consultadas.


Verdades e Mentiras sobre a Síria

1. Governo de Bashar Al-Assad mata milhares – Mentira
Dia após dia, manchetes garrafais estampam que o governo vem matando “milhares” de sírios, todos “inocentes”. A única fonte de informação que o Ocidente inteiro possui sobre tais “dados” de mortes é de um obscuro Observatório Sírio de Direitos Humanos (sic), com sede em Londres e que recebe farto financiamento de países do Golfo Pérsico, todos, sem exceção, monarquias antidemocráticas, absolutistas e extremamente reacionárias e pró-EUA.

Como isso esta ficando uma vergonha para quem pratica um jornalismo sério, a grande imprensa, quando publica os números “assustadores” de mortos, ultimamente vem pelo menos acrescentando sempre “segundo o Observatório Sírio de DH”, que “não puderam ser comprovadas”.

De fato, os únicos dados confiáveis são os fornecidos pelo próprio governo, que atesta que pelo menos dois mil soldados, policiais e cidadãos sírios foram assassinados por grupos terroristas e mercenários, seja em ataques diretos ou em atentados a bomba que vêm ocorrendo com maior intensidade nas últimas semanas.

2. Exército Síria Livre é formado por desertores – Mentira
Não há desertores no Exército sírio. Pelo menos não em expressão. Todas as deserções em todas as divisões do Exército da República Árabe da Síria são pontuais e ocorrem apenas e exclusivamente na baixa oficialidade.

O que se tem de concreto é que essa organização é composta de mercenários altamente remunerados, usando armas contrabandeadas, inclusive do arsenal líbio. Se um AK-47, fuzil de assalto mais famoso no mundo, podia ser comprado a cem dólares tempos atrás, hoje, com os bilhões de dólares que a Arábia Saudita e o Qatar vêm despejando para a derrubada do governo do Dr. Bashar, não se compra uma arma dessa, muito popular, por menos que 1,5 mil dólares.

Esse tal “exército” esta acampado na fronteira com a Turquia e por esta é estimulado e seu comando vem de Istambul. O governo turco, que presta um péssimo papel achando que voltará a ter o comando do sultanato otomano, tem procurado dar guarida a essa milícia terrorista e facínora, apoiada por Israel e pelos EUA. Seu “comandante”, o coronel desertor Riad El Assad, esta na folha de pagamento do Departamento de Estado.

3. Liga Árabe pede Democracia e Liberdade na Síria – Mentira
(Não tem moral para isso)
A Liga Árabe, organismo multilateral fundado em 1945, é integrado pelos 21 países árabes e a OLP que representa a Palestina. Ainda que possa ser duvidoso que em algum momento tenha cumprido algum papel relevante na vida dos árabes, a certeza é de que hoje ela é um organismo fracassado.

Tomado de assalto pelas monarquias do Golfo, com seus bilhões de dólares, esse organismo presta-se hoje como auxiliar tanto do CS da ONU, quanto da União Europeia e dos EUA. De árabe essa tal Liga não tem mais nada. Não representa mais os anseios e as verdadeiras aspirações do povo árabe, que hoje são quase 400 milhões de pessoas.

Esse organismo serve apenas para propor ao CS da ONU resoluções que os EUA e a União Europeia não teriam a coragem de propor. Os petrodólares da Casa de Saud e do emirado do Qatar é que sustentam a organização. Esta completamente esvaziada. Iraque, Líbano, Argélia e a própria Síria nem mais tem comparecido às reuniões, que perderam completamente a sua eficácia.

Mas, o que é pior. Que moral tem a Arábia Saudita e o Qatar em pedir democracia na Síria? Falam em liberdade, mas não a praticam em seus países, que não tem parlamento e nenhum partido funcionando. Uma hipocrisia completa. Uma falsa moralidade. Indignam-se com o que ocorre na Síria, mas é uma indignação seletiva.

4. Rússia e China vetam resolução anti-Síria na ONU – Verdade
(E ambos têm suas razões)
Essas duas potências mundiais – ambos BRICS – ficaram escaldadas com o golpe europeu-estadunidense que, usando a OTAN, rasgaram a resolução 1973 de 17 de março de 2011, que mencionava apenas “proteção” a civis líbios. Com essa resolução a OTAN bombardeou toda a Líbia na linha da ordem dada por Obama/Hilary: derrubem o regime! A linha foi a da mudança de regime, coisa que só o povo líbio teria poder de decidir. Assassinaram mais de 200 mil líbios!

Os EUA e seus clientes europeus não aceitaram nenhuma modificação proposta por estes dois países na nova resolução proposta em 4 de fevereiro passado. E pior que isso. Expressaram sua indignação sobre o veto exercido dentro das regras da Carta das Nações. Quando os EUA vetam dezenas de resoluções contra Israel no CS/ONU nada se fala. Uma vez na vida duas potências vetam uma resolução que abriria brecha para a OTAN atacar a Síria, vem a indignação seletiva.

A embaixadora dos EUA da ONU, Susan Rice, chegou a dizer que o “mundo não poderia ficar refém de dois países” (sic). Tenho em mãos uma pesquisa sobre os vetos dos EUA contra resoluções a favor dos palestinos e que criticavam Israel. A pesquisa compreende apenas dez anos (1972 a 1982). Só nesse curto período foram exatos 43 resoluções vetadas pelos EUA!

Hoje, felizmente, tanto a China como a Rússia têm visto o que realmente ocorre no OM. Derrubar o governo da Síria hoje, passando por cima da soberania desse país árabe pode significar ainda um maior fortalecimento do imperialismo estadunidense e seus estados clientes europeus.

O fato é que a Rússia volta com força ao cenário internacional. Não titubeou nenhuma vez em defesa da soberania síria. Enviou armas e uma frota naval esta ancorada no estratégico porto de Tartous. Como já vimos falando, a unipolaridade no mundo tende ao seu fim. Vários pólos vão sendo criados e a Rússia vai ganhando seu espaço, fazendo-se ouvir depois de mais de vinte anos de um mundo unipolar.

5. EUA, Israel e seus aliados árabes são os maiores inimigos – Verdade (É preciso que sejam dados nomes aos bois)
Os maiores entraves para o avanço da Revolução no mundo Árabe são as petromonarquias. Elas têm nome: Arábia Saudita, Kuwait, Emirados Árabes, Qatar, Omã e Bahrein. A esses se somam países que não são fortes produtores de petróleo, mas são monarquias reacionárias e pró-EUA, como a Jordânia e o Marrocos.

O centro da resistência ao avanço revolucionário árabe vem de Riad, no reino dos sauditas. Estes reservaram em 2011 mais de cem bilhões de dólares para a contrarevolução. E contratam mercenários a peso de ouro. Apoiados pelos EUA, ainda que discretamente, e mais discretamente por Israel e sua inteligência do Mossad. Isso esta amplamente documentado. Pelo WikiLeaks e pela imprensa verdadeiramente livre e a blogosfera.

6. Se a Síria cair, isso reflete em todo o OM – Verdade
Há hoje um eixo de resistência ao imperialismo estadunidense. Esse eixo apoia as mudanças profundas no OM, apoia a causa palestina, faz oposição à Israel, defende o rompimentos dos acordos de paz assinados com esse país pelo Egito e Jordânia, de forma unilateral.

O bloco de países que integram o eixo da resistência são hoje, além da Síria, o Iraque, Líbano, a Argélia e o Irã (que é persa). O Partido de Deus (Hezbolláh), do Líbano, que forma governo com os cristãos patrióticos (maronitas do Marada e MPL de Aoun), sunitas e xiitas de várias organizações (Amal de Berri e drusos de Jumblat) e o PC Libanês de Khaled, seria o primeiro a sofrer consequências. O Hezbolláh – apesar do nome, é uma organização política e não defende no Líbano um estado religioso – além de muitos deputados e ministros, tem a maior milícia armada de resistência ao exército sionista de Israel que insiste em ocupar o Sul do país.

A própria luta de resistência palestina contra a ocupação, com todas as suas organização que compõem a OLP e o Hamas (que não integra a Organização), se enfraqueceriam imensamente com a queda do governo sírio e a instalação nesse país de um governo pró-EUA.

7. A Irmandade Muçulmana encabeça a oposição na Síria – Verdade
Essa organização tem seus tentáculos em mais de 70 países. Fundada por Hassan El-Bana em 1928, funciona como partido político, tendo uma ideologia de caráter teológico de linha islâmica fundamentalista. Na maioria das ditaduras e monarquias árabes, cujas liberdades partidárias são praticamente nenhuma, a única forma de uma parte da população expressar-se acaba sendo por essa Irmandade.

Não fiquei surpreso com o fato do seu braço político recém legalizado no Egito e na Tunísia terem ficado em primeiro lugar nas eleições ocorridas recentemente após a queda dos ditadores desses países. Não havia outra forma de expressão política além do islamismo, além da máscara de apelo ao Islã fundamentalista.

No entanto, é preciso deixar claro. Em que pese esse pessoal ter jogado algum papel na resistência à ditadura Mubarak, sempre fez acordos com ele. Aceitavam as regras do jogo, qual seja, que a oposição ao ditador pudesse chegar a no máximo 20% dos votos – eleições fraudadas – tanto para presidente como no parlamento.

A Irmandade é uma organização conservadora, que prega o fundamentalismo islâmico mais próximo do Wahabiya – linha da família Al-Saud, portanto sunitas. Sempre foi e sempre será anticomunista. Por baixo do pano sempre fez acordos, inclusive com o imperialismo britânico e mais recentemente o norte-americano. Seus líderes rapidamente disseram, depois dos resultados das eleições parlamentares no Egito, onde venceram, que não romperiam o acordo de paz com Israel.

Hoje, na Síria, os principais líderes da insurreição interna, que organizam os ataques terroristas aos prédios públicos, oleodutos, gasodutos, escolas e hospitais, são membros da Irmandade. Lamentável. Mas é a verdade amplamente documentada, mas omitida pela grande imprensa.

8. A oposição síria não tem unidade e tem força no exterior apenas – Verdade (Mas a grande imprensa não mostra isso)
É preciso que se diga. Há duas oposições na síria hoje. Uma interna e outra que funciona apenas e tão somente no exterior.

A que tem sede no exterior, seus escritórios ficam em Londres, Paris e Istambul. Esta não tem credibilidade alguma. Financiada pelas monarquias do Golfo e pelo Departamento de Estado – amplamente documentado – elas vivem para dar entrevistas na grande mídia internacional, que repercute amplamente essas “reportagens”. No Brasil, a Folha e o Estadão publicaram várias delas. Todas falsas, sem provas, com “líderes” que nunca ninguém viu. É uma oposição sem respaldo algum junto ao povo sírio. Defende abertamente uma resolução no CS/ONU que abra a possibilidade – que eles tanto sonham – da OTAN atacar a Síria. Como acreditar em “lideranças” que pedem que potências estrangeiras bombardeiem seu próprio país, ainda que a pretexto de “proteger civis inocentes”?

Há outra oposição. A interna. No entanto, esta também se divide em duas grandes partes. Uma delas, participa do chamado Diálogo Nacional. Há uma mesa de negociações formada pelo governo da Síria. No rumo das mudanças que o país precisa de fato. E, tais mudanças, vêm ocorrendo (falaremos disso mais à frente). Não se sabe o tamanho dessa oposição. As eleições marcadas para o mês que vem devem mostrar a dimensão dessa oposição. Essa oposição prega a construção de um governo de unidade nacional. Em hipótese alguma defende a intervenção externa. Diz que os problemas dos sírios devem ser resolvidos pelos próprios sírios, sem ingerência externa.

A outra parte da oposição interna, não dialoga com o governo. Esta radicalizada. Arma-se até os dentes e apoia a sabotagem de prédios públicos. Alia-se com o autointitulado Exército da Síria Livre e com o Conselho Nacional Sírio. Prega também abertamente a intervenção externa, ainda que não de forma clara defenda os ataques da OTAN. Faz, na prática, o jogo das potências imperialistas.

A oposição não se unifica. Há pelo menos 53 grupos políticos e tendências atuando de forma conflitiva no tal Conselho Nacional Sírio, organismo criado no exterior e apoiado pelos EUA. Em reuniões com autoridades europeias, essa tal oposição exige que sejam feitas várias reuniões, pois eles não conseguem sequer sentar-se à mesma mesa. Não há unidade política entre eles. Talvez o único ponto em comum seja remover Assad do poder. Nada mais. Mesmo que as reformas sejam profundas – como esta ocorrendo de fato – isso hoje pouco importa. A única agenda, a agenda da CIA, dos EUA, de Israel, da Casa de Saud e do Mossad é mudar o regime. Nada mais lhes interessa.

Tanto a externa, quanto à interna que não dialoga com o governo, possuem amplo e plena interlocução em especial com os EUA, Inglaterra e França.

9. Bashar Al-Assad é um sanguinário e genocida – Mentira
É evidente que os processos eleitorais tanto na Síria quanto em qualquer país árabe não seguem os padrões que vivemos no Brasil e no Ocidente. No entanto, não se pode falar em democracia na Síria e não se falar desse tema nos outros países árabes. Mesmo no Ocidente. Agora mesmo na Grécia se pede inclusive suspensão das eleições para que um possível novo governo de oposição não rompa os acordos de traição nacional que estão sendo assinados às claras e abertamente.

Os mesmos monarcas que falam em “democracia” na Síria, são os que mais reprimem seus próprios povos, como na Arábia Saudita, Qatar e Bahrein. Essa gente não tolera manifestação, não tolera povo organizado. Essas monarquias sequer possuem parlamento funcionando, partidos políticos são proibidos.

Em que pese todas as restrições às amplas liberdades na República Árabe da Síria, esse país ainda é o mais livre em termos de funcionamento de partidos políticos em todo o Oriente Médio. São oito os partidos políticos existentes e legalizados. Claro, o Partido Socialista Árabe Sírio, o Baath é o maior e do governo. Esta no poder há pelo menos 42 anos. Mas temos dois partidos comunistas no país funcionando. Temos o Partido Nacional Sírio e outros. Depois dos pleitos por reformas amplas, outros cinco partidos foram legalizados, ampliando para 13 o número de partidos com direito a concorrer nas próximas eleições.

O relatório dos observadores da Liga dos Estados Árabes – 160 pessoas que ficaram na síria por trinta dias – menciona em uma parte que contataram e viram funcionando 147 órgãos de imprensa nesse país árabe! Entre rádios, TVs e jornais que circulam amplamente.

Bem ou mal, as eleições para o parlamento sírio ocorrem a cada quatro anos e os oito partidos funcionam livremente. Não é a democracia mais avançada, popular, que defendemos, mas não se pode dizer que as restrições são totais. Há muito que se fazer. E esta sendo feito. Mas, a grande imprensa não divulga uma só linha sobre tudo isso. Chegou às minhas mãos – nunca divulgadas pela grande imprensa – um conjunto de 33 grandes medidas, ações governamentais, decretos e leis adotadas entre abril de 2011 e fevereiro de 2012 que mudam completamente a realidade política desse país árabe.

10. A Síria é o único país árabe hoje a apoiar com firmeza a causa palestina – Verdade
E não se pode falar em apoio pela metade, parciais. Apenas a Síria, em sua capital, funcionam escritórios de todas as organizações da resistência palestina. O enfrentamento que o povo e o governo da Síria vêm dando à Israel, contra as ocupações que o estado sionista faz em terras árabes é o maior que se te visto em todo o OM.

Desde a derrubada do governo de Saddam Hussein e seu assassinato, que procurava dar enfrentamento à ocupação estadunidense de toda a região; desde a queda e o assassinato de Muammar Khadaffi em outubro passado, um a um foram caindo todos os focos de resistência ao imperialismo estadunidense e à Israel. Restou a Síria. É preciso instalar governos dóceis aos norte-americanos e aos sionistas em todo o mundo árabe para que se complete seu projeto neocolonial na região.

E é preciso deixar claro: derrubar Bashar hoje significa enfraquecer a resistência libanesa e palestina e isolar completamente o Irã! Quem não compreender essa geopolítica no OM não entende nada nem de OM nem de política internacional!

11. A OTAN e a Al Qaeda estão em aliança – Verdade (A grande mídia esconde isso)
Aqui é preciso esclarecer muitas coisas. Ainda que isso possa parecer inacreditável, para quem foi bombardeado durante anos com a informação de que a rede Al Qaeda de Osama Bin Laden sempre foi uma rede terrorista, que teriam feito os atentados às torres gêmeas em 11 de setembro de 2001, isso pode parecer mesmo um verdadeiro absurdo. Mas não é.

Escritores, jornalistas independentes e intelectuais progressista a cada dia vêm trazendo informações precisas e importantes que comprovam essa informação. E os próprios comunicados da organização Al Qaeda pelo seu novo “comandante”, o médico pediatra egípcio Ayman Al Zawahiri atestam isso. Textos recentes da lavra desse senhor ou a ele atribuídos, mencionam a importância fundamental da derrubada do governo sírio em aliança com as forças do autoproclamado Exército Síria Livre. E essa organização prega o Estado Islâmico.

Essa organização faz questão de não dialogar com o governo. Foi assim na Líbia quando ela apoiou abertamente a queda de Khadaffi e fez aliança com as forças da OTAN. Agora, da mesma forma, conversações de alto (?) nível entre emissários dessa organização militar europeia – agora mundial! – com líderes da Al Qaeda que atuam na Síria mostra essa aliança, que é abastecida fartamente com dólares do petróleo árabe das monarquias do Golfo e dinheiro da CIA e do Mossad de Israel, via território curdo.

Como diz Pepe Escobar, combativo jornalista brasileiro correspondente do Asia Times, “quem imaginaria que o que a Casa de Saud deseja ver na Síria é exatamente o que a Al Qaeda deseja para a Síria? Quem imaginaria que o CCG e a OTAN desejam para a Síria é o mesmo que a Al Qaeda deseja para esse país?”.

12. A Turquia e seu governo deram as costas para os árabes – Verdade
É lamentável ter que reconhecer isso, mas o governo de Recep Tayyip Erdogan, cujo partido governa a Turquia há quase nove anos (desde 14 de março de 2003), com o seu Partido da Justiça e do Desenvolvimento – PJD (em turco AKP, ou Adalet ve Kalninma Partisi), tem outros projetos para seu país e para uma liderança de toda a região.

Como bem sabemos, a região do OM é habitada por diversos povos. Além do árabe, que são a esmagadora maioria, temos ainda os persas (Irã), os judeus (Israel) e os turcos na Turquia, que é um país laico (apesar de 97% da população pertencer ao islamismo sunita) e foi ocidentalizado de tal forma que até seu alfabeto foi modificado. A separação das entidades e instituições religiosas do Estado é absoluta. No entanto, com Erdogan isso vem sendo gradativamente modificado.

Na verdade, esse Partido vem vencendo as eleições por, gradativamente, ir modificando o cenário turco de tal forma que boa parte da população já admite certa islamização da sociedade. A imprensa apresenta Erdogan como membro de um partido “muçulmano moderado” (sic) sabe-se lá o que isso significa.

No entanto, o grande sonho, o grande projeto desse Partido, o AKP (em turco), é integrar-se à Europa. Isso o falecido cientista político estadunidense Samuel Huntington já havia previsto em seu artigo clássico da Foreing Office de 1995 que causou polêmica acadêmica no mundo todo intitulado Clash of Civilization (Choque de Civilizações, posteriormente transformado em livro pela Editora Objetiva, em 1997).

A crítica que a Turquia receberia desse intelectual era de que o país viraria as costas para o mundo islâmico e teria maiores interesses em olhar para a Europa. Hungtinton afirmaria – quase que como uma profecia – que ele nunca seria admitido na Europa, por ser o continente extremamente preconceituoso, cristão e antiislâmico, por mais que a Turquia fosse um país laico. Sabe-se que o Vaticano se pronuncia contra o ingresso da Turquia na Europa. Era discreto com João Paulo II e agora é aberto com Bento XVI.

Nesse sentido, desde 2003 Erdogan vem se aproximando da Europa. Seu país é membro da OTAN e tem bases militares dessa organização militar, antes contra a URSS e hoje contra qualquer mudança progressista ou revolucionária em qualquer país do mundo. Chegou a ensaiar passos contra Israel. Não é para menos. O governo sionista de Netanyahú interceptou em 2010 uma flotilha de vários navios e fuzilou nove cidadãos turcos. Erdogan teve que subir o tom. Chegou a jogar um papel importante na tentativa de tirar o Irã do isolamento em seu programa nuclear que contou com o apoio de Lula do Brasil.

Mas, mudou de posição. Voltou ao que sempre foi. Tem um sonho de ser a grande liderança do Oriente Médio e dos árabes inclusive. Baixou completamente o tom de voz contra Israel. Apoiou os ataques da OTAN/Europa à Líbia e apoia abertamente a derrubada do governo da Síria em uma clara ingerência nos assuntos internos de um país vizinho que teria que respeitar. Dá abrigo ao exército mercenário estacionado nas suas fronteiras com a Síria. Faz uma manobra arriscada. Coloca em pé de guerra todos os milhões de curdos que vivem em território turco que odeiam o seu governo (pelo menos na Síria eles são melhores tratados). A política de Erdogan de “zero problemas com os vizinhos” hoje vemos uma situação de “zero amigos”.

Talvez sonhe com a volta do império turco-otomano. Mas não há espaço para isso. Ele terá que fazer escolha. E, neste momento, vem escolhendo o que tem de pior para o mundo árabe e para toda a Ásia, qual seja, uma aliança tácita com o imperialismo estadunidense e europeu. Lamentamos por isso.

13. Relatório sobre a Situação da Síria só Vale Quando Fala Mal do Governo – Verdade
Dois relatórios foram produzidos nos últimos 90 dias sobre a Síria. Um, da lavra do representante da ONU para Direitos Humanos na Síria, o brasileiro e meu colega sociólogo Paulo Sérgio Pinheiro, da USP e outro, assinado pelo general sudanês, Mohammed Ahmad Al-Dabi.

Escrevi um artigo sobre o primeiro relatório. O Prof. Paulo Sérgio sequer entrou na Síria, mas escreveu sobre o que não viu. Fez um relatório faccioso, tendencioso, parcial. Não ouviu ninguém do governo, apenas opositores no exílio. Tal relatório foi amplamente saudado pela imprensa internacional como “equilibrado”. Atacava o governo de todas as formas possíveis.

O outro relatório foi feito sob a coordenação do experiente general sudanês, ex-presidente de seu país. A comissão formada era oficial da Liga Árabe. Era integrada por 160 pessoas. Passaram trinta dias na Síria. Visitaram várias cidades, ouviram oposicionistas e o governo. Não constataram a violência que o mundo diz haver no país. Não atestaram o número exorbitante de mortos que a imprensa ocidental divulga. Ao contrário. Constaram sim milhares de mortos das forças regulares, do exército e da polícia. Presenciaram milhões nas ruas em apoio ao governo do Dr. Bashar. Mas, como disse Kissinger em recente artigo o governo é amado pelo povo, mas mesmo assim tem que cair (sic). Esse foi o relatório que apontou a existência de 147 órgãos de imprensa funcionando livremente na Síria.

Imediatamente, a Liga Árabe, que representa hoje apenas as petro-monarquias do Golfo e os interesses da OTAN prontamente rejeitou tal relatório, levando o seu presidente a renunciar aos trabalhos. De fato, dois pesos e duas medidas. Só não vê quem não quer.

14. Os EUA vivem uma Indignação Seletiva – Verdade
Nunca a famosa frase de “dois pesos e duas medidas” ficou tão claro e tão evidente como no momento atual da diplomacia norte-americana com Barak Obama. Seus planejadores do Pentágono e do Departamento de Estado são hoje mais ideólogos que planejadores. São seletivos em suas análises, facciosos.

Colocam-se contra o Irã e seu programa nuclear pacífico, mas nada falam sobre as duzentas ogivas nucleares que Israel possui. Falam o tempo todo contra o “ditador” Bashar, mas não se pronunciam contra as monarquias absolutistas, obscurantistas, fascistas e feudais do Golfo, por estes serem seus aliados, amigos e pró-Israel. Pronunciaram-se contra a “repressão” na Síria, mas calaram-se com o massacre dos xiitas no Bahrein. Falam contra o uso das forças armadas sírias que defende o país, mas calam-se contra a invasão que as forças armadas sauditas fizeram no Bahrein, sede da 5ª Frota dos EUA que patrulha o Golfo Pérsico-Arábico. Abusam do direito de veto no CS/ONU em favor de Israel, mas indignam-se contra um veto exercido dentro das regras previstas na Carta das Nações usado pela China e pela Rússia.

15. Terroristas agem abertamente na Síria – Verdade
A grande imprensa apenas acusa o governo de matar dezenas, centenas de cidadãos. No entanto, ela tem sido obrigada a noticiar mais e mais atentados terroristas contra prédios públicos, oleodutos, gasodutos, escolas e até mesmo hospitais. São feitos por mercenários contratados a peso de ouro pelo obscuro Exército da Síria Livre. O objetivo desses ataques é quebrar a infraestrutura do país e jogar a opinião pública contra o governo.

É preciso destacar que a ação desses grupos mercenários conta com apoio e total suporte da OTAN que os treina e financia, a partir de acampamentos na fronteira da Turquia. Estão envolvidos nessa operação a CIA e o MI6 inglês, além, claro, como sempre, o Mossad de Israel. Isso não vem surtindo efeito. Ao contrário. Pesquisas confiáveis de opinião mostram o grande apoio da opinião pública ao governo.

Conclusões
Nunca tivemos dúvidas, desde o início do processo da Revolução Árabe, que a Síria viveria uma situação distinta, particular. O caráter de um governo se mede pelas tarefas que assume, pelos seus objetivos, pela ação que pratica. Por isso nunca duvidamos do caráter antiimperialista, popular e em defesa dos palestinos que o governo da família Assad sempre expressaram.


Defendemos, tal qual as organizações sindicais, populares e os partidos comunistas da Síria, reformas profundas no país, ampliação das liberdades políticas e de organização. No entanto, não podemos somar nossas vozes com grupos terroristas, mercenários à soldo do imperialismos de todas as matizes, sejam eles norte-americano, inglês ou francês. Não bastasse isso, já esta claro mais que provado por diversas fontes, a ampla aliança da Al Qaeda com a OTAN. E somado a isso, os serviços secretos da CIA, MI6 e Mossad israelense.


Somamos nossas vozes às do povo e do governo da Síria, em seu projeto em defesa da soberania nacional e sua autodeterminação. Não à ingerência estrangeira nos assuntos internos da Síria. Apoiamos e defendemos o diálogo nacional. Apoiamos as eleições livres que ocorrerão no mês que vem, sob nova e democrática constituição da República Árabe da Síria.


Ao que tudo indica, o jogo parece que vai terminando. E com uma derrota fragorosa para as forças imperialistas e sionistas. Para as forças que querem barrar o avanço da Revolução Árabe. A Rússia e China estão resolutas em não apoiar qualquer intervenção externa na Síria. Já chega de destruição de uma nação árabe. Não ficou pedra sobre pedra no Iraque. Agora a mesma coisa na Líbia, antes o país de maio IDH de toda a África. Sem falar na própria destruição do Afeganistão. Agora querem destruir e tomar a síria, último bastião e pilar do verdadeiro nacionalismo e panarabismo, herdados de Gamal Abdel Nasser. A oposição externa já perdeu as ilusões de apoios. Até Sarkouzy já disse que não se ganha uma guerra de fora do país!


A OTAN não tem como intervir e já disse isso com todas as letras. Resta-lhes apoiar os terroristas da rede Al Qaeda, financiada pela CIA. A Turquia vai acabar tendo que retirar todo seu apoio aos mercenários recrutados pelos dólares sauditas, a que ela vem chamando de Exército da Síria “Livre” (Free Syrian Army – FSA em inglês). Vai ficando isolada e sem amigos no OM.


O risco de um conflito regional no OM, que já foi maior, deve estar sendo redimensionado pelos tais planejadores de Washington. Não há como um conflito dessa natureza deixar de fora as capitais Tel Aviv, Riad e Ancara. Um incêndio de razoáveis proporções.


O CS/ONU e a Liga Árabe (do Golfo...) não conseguem mais executar a política estadunidense. Não pelo menos com antes, com a desenvoltura anterior. Há resistências da Rússia e China e agora do Líbano, Iraque, Argélia, do Irã e da própria Síria e do seu bravo povo. A Liga Árabe acabou. Precisará ser, no futuro, recomposta ou outra organização surgirá. Hoje, é palco para monarquias fascistas, feudais, como as da Arábia Saudita e do Qatar.


O governo da Síria, sob o comando do seu jovem presidente, o médico Bashar El Assad, segue no caminho da tentativa de pacificação do país. Mais de 30 decretos, portarias e novas leis, editadas em oito meses vão reformando o regime, o governo, o país, dando-lhes feições mais modernas e democráticas. Avança o diálogo nacional com todas as organizações, governamentais ou não, no rumo de eleições democráticas, nova constituição e eleições presidenciais em 2013. Novos pactos, novas alianças, regionais e internacionais, devem atender aos interesses dos sírios. Novos acordos econômicos com países amigos, em especial Rússia e China, devem ser assinados em breve.


Quero registrar meu profundo lamento a uma esquerda que não consegue compreender a dimensão do que está em jogo naquela região e insiste em somar suas forças, pequenas é verdade, às do império estadunidense e seus lacaios, tentando derrubar o governo patriótico da Síria.


Posso estar enganado, mas contas feitas pelo imperialismo e sionismo, pela direita islâmica, o melhor mesmo talvez seja melhor bater em retirada. Difícil prever em detalhes, mas é esse o cenário que vislumbramos.

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Fontes Pesquisadas e Citadas


- Aisling Byrne. A realidade sempre mal contada na mídia sobre a Síria, do Asian Times Online, de 4 de janeiro de 2012;
- Assad Frangiéh, em www.elmarada.com.br em Editorial, O começo do fim. Agradeço ao Dr. Assad em particular por observações na primeira versão deste trabalho.
- Camila Carduz. Irã promete apoiar resistência libanesa e palestina contra Israel. Prensa Latina.
- Evguêni Satanóvski. Atual estratégia russa para o Oriente Médio permite ao país salvar as aparências e ganhar tempo. Presidente do Instituto de Estudos sobre o OM.
- Michel Chossudovsky. Syria: NATO’s next “humanitarian” war? http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=29234
- Pepe Escobar. Síria, a nova Líbia. Asia Times Online.
- Pepe Escobar. É que o Bahrein não é a Síria... http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/NB15Ak03.html
- Robert Fisk, Bashar Al-Assad não cairá. Não, pelo menos, agora. The Independent.
- Sharmine Narwani. Veterano diplomata americano questiona a narrativa sobre a Síria. Al-Akhbar, Beirute.
- Thierry Meyssan. Fin de partie au Prouche-Orient. Rede Voltaire Net. http://www.voltairenet.org/Fin-de-partie-au-Proche-Orient

Observação: os artigos traduzidos para o português sem menção de páginas da Internet foram realizados pelo coletivo de tradutores da Vila Vudu, a quem de público agradeço.

* Lejeune Mirhan é sociólogo, Professor, Escritor e Arabista. Colunista de Oriente Médio do Portal da Fundação Maurício Grabois (http://grabois.org.br/). Colaborador da Revista Sociologia da Editora Escala. E-mail: lejeunemgxc@uol.com.br

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

BRICS e o veto ao projeto de resolução para a Síria

Pepe Escobar - A Síria e os “disgusting” [1] BRICS - 7/2/2012, Pepe Escobar, Asia Times Online - Syria and those “disgusting” BRICS
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Um coro grego de “incomodados”, “repugnados” e “ultrajados” saudou, como bem se poderia prever, o duplo veto dos BRICS China e Rússia ao projeto de resolução do Conselho de Segurança da ONU para impor mudança de regime na Síria. O projeto vetado era apoiado pela Liga Árabe, aquele paraíso de democracia, organização controlada pelas seis monarquias/emirados do Conselho de Cooperação do Golfo, antigamente chamada Liga Árabe.

A secretária de Estado dos EUA Hillary Clinton chamou de “travesti” o duplo veto. Na sequência, Clinton incitou “os amigos da Síria democrática” a continuar trabalhando para mudar o regime, mudança que era o objeto da resolução vetada. O proprietário do copyright dessa ideia é o libertador da Líbia, o neonapoleônico Nicolas Sarkozy, presidente da França, que disse que Paris já estava trabalhando para criar um “Grupo de Amigos do Povo Sírio” da CCGOTAN, encarregado de implementar o plano de mudança de regime da Liga Árabe.

Logo em seguida, em fila, Burhan Ghalyun, fantoche de Paris, chefe do Conselho Nacional Sírio (CNS) – grupo da oposição guarda-chuva – convocou os países “amigos do povo sírio”. Todos sabem quem são: EUA, Grã-Bretanha, França, Israel e dois membros do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG): o Qatar e a Arábia Saudita. Com amigos como esses, o “povo sírio” não precisa de inimigos.

Os “disgusting” BRICS
A embaixadora dos EUA na ONU, Susan Rice – chefe da torcida organizada pró “Responsabilidade de Proteger” (R2P), também conhecida como bombardeio humanitário – declarou “disgusting” o duplo veto.

Até as vetustas pedras da mesquita Umayyad em Damasco sabem que só Washington tem o direto de exercer poder de veto na ONU – e sempre para proteger o direito que só Israel tem, de matar palestinos, homens, mulheres e crianças, com tanques e bombardeio cerrado, sem tomar conhecimento de resoluções da ONU. Uma relação parcial das vezes que os EUA vetaram projetos de resolução da ONU pode ser lida em: "US on UN Veto: “Disgusting”, “Shameful”, “Deplorable”, “a Travesty” . . . Really?"

A Rússia, em alto e bom som – e a China, discretamente – já haviam informado sobre o veto, há semanas: esqueçam resoluções da ONU para mudar regime na Síria ou, ainda pior, para abrir as portas da Síria para invasão ao estilo do bombardeio humanitário que a OTAN promoveu na Líbia.

A Rússia tem suas próprias razões geopolíticas para definir a Síria como limite infranqueável: a única base naval russa no Mediterrâneo está em território sírio, no porto de Tartus; e a Síria compra armas da Rússia. Mas, de fato, todos os cinco BRICS – mais a ampla maioria do mundo em desenvolvimento – estão em sincronia: esqueçam resoluções da ONU para viabilizar mudança de regime promovida pelos suspeitos de sempre, o trio ocidental EUA-França-Grã Bratanha e – o ápice da hipocrisia – planejada pelos hiper “democráticos” Qatar e Casa de Saud.

Na próxima 3ª-feira, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, estará em Damasco, para reunião com o presidente Bashar al-Assad, na qual discutirão plano sério para tentar pôr fim à violência. Lavrov explicou calma e ponderadamente as razões do veto russo.

Disse que enviou diretamente à secretária Clinton as emendas que a Rússia propunha ao texto da resolução: “Quem desse atenção àquelas emendas facilmente perceberia a racionalidade e a objetividade de nossa posição”, disse ele. Mas de nada adiantou. O projeto de resolução não foi emendado e permaneceu “unilateral” – nada pedindo à oposição armada. Lavrov disse claramente: “Nenhum presidente que não esteja absolutamente derrotado e que se respeite aceitaria algum dia essa exigência, por mais ameaçado que esteja. E nada, em nenhum caso, justifica render-se e entregar o país, sem resistência, a extremistas armados”.[2] Imaginem se Homs fosse cidade do Texas e alguma liderança local decidisse mudar o regime de Washington! Mesmo assim, o Conselho Nacional Sírio declarou que Moscou e Pequim são “responsáveis pela escalada nos atos de matança e genocídio” e facilitadoras de uma “licença para matar”. Lavrov não se deixou abalar: “Já dissemos várias vezes que não estamos protegendo Assad. Estamos protegendo a lei internacional. O Conselho de Segurança da ONU não tem competência para intervir em questões internas dos estados”.

Homs: Quem está matando quem?
O embaixador da Síria à ONU, Bashar Ja’afari, negou firmemente as acusações da oposição de que o exército sírio estaria bombardeando o bairro de Khadiliya em Homs, usando tanques e artilharia e que teria matado mais de 200 pessoas. Disse que “nenhum ser racional lançaria ataque desse tipo na véspera de o Conselho de Segurança da ONU votar a resolução sobre a Síria”. Sem qualquer investigação, a França declarou que teria havido “um massacre” em Homs, “crime contra a humanidade”. Alguma coisa semelhante, talvez, ao que a França fez várias vezes na guerra da Argélia?

Para começar a entender o que está em jogo, é preciso ter em mente quem está desertando do exército sírio. Os militares de mais alto escalão do exército sírio – e membros do Partido Ba’ath – são praticamente todos alawitas, seita xiita (10% da população total). Esses não estão desertando.

Os desertores são soldados sunitas (70% da população total). Esses desertam e formam milícias armadas, ao estilo do que se viu na Líbia, e milícias que acolhem muitos mercenários pesadamente armados pelo Conselho de Cooperação do Golfo e que matam soldados do exército regular. A resposta do governo sírio foi atacar os bairros onde vivem as famílias desses desertores. O centro de Homs está hoje sob controle dos rebeldes. O que, então, está acontecendo em campo, em Homs? Reproduzo aqui trechos de um e-mail crucialmente importante, que recebi de fonte cristã e síria, altamente confiável:

"Muitos sírios estão entusiasmadíssimos com o duplo veto, mas a situação em Homs é muito preocupante. A oposição espalhou notícias sobre um massacre pouco antes da votação, falando de centenas [de mortos]. É inacreditável, mas a mesma notícia foi repetida em todos os canais de televisão (todos sempre citando “ativistas”), sem qualquer verificação. No máximo, o número de mortos foi reduzido para cerca de 33. Nenhum canal de notícias mostrou bombardeios ou cadáveres ou gente ferida (...) só homens despidos ou vestindo só cuecas, e lavados para serem enterrados, com mãos e pés atados, e com sinal de tiro de execução na cabeça. Que arma incrível será essa, do arsenal do governo sírio, uma bomba tão inteligente que consegue despir e amarrar os inimigos e, em seguida, executa-os com um tiro na testa?!

O que se sabe com certeza absoluta é que não há presença militar em Homs. Meus pais deixaram a cidade e retornaram para lá no sábado pela manhã – dia do alegado massacre – e nada viram. Como fazem sempre, telefonaram para um número (115) que fornece informações sobre segurança nas estradas. O operador disse que podiam viajar tranquilamente para Homs, que não havia qualquer sinal de agitação ou combates, nem na cidade nem nos arredores. Mas quase toda a cidade, principalmente a parte antiga, está sob controle de milícias armadas. O bairro onde moram meus pais e onde eu cresci (o bairro cristão de Bustan al-Diwan) está completamente tomado pelas milícias.

Há vídeos em YouTube que mostram que o Exército Síria Livre atacou e removeu os postos de vigilância que o exército mantinha em outro bairro próximo (Bab al-Dreib) e, em seguida, atacou e removeu o posto que protegia o nosso bairro. Pessoas que moram perto de nossa casa não viram qualquer sinal de agitação e não falam de qualquer tipo de agitação, embora todos saibam que alguns ‘revolucionários’ invadiram algumas casas cujos moradores partiram naqueles dias ou antes; e que também invadiram uma escola, a redação do jornal Homs Newspaper (operado pela igreja ortodoxa há mais de um século) e alguns restaurantes. Essas são as únicas reclamações que se ouvem por aqui. Quero dizer: se se considera o que esse Exército Síria Livre tem feito contra os alawitas, a comunidade cristã está sendo muito bem tratada, até aqui.

O que se diz por aqui é que os corpos mostrados amarrados e que teriam sido mortos em Khalidiya, e que seriam cadáveres de “homens, mulheres e crianças” mortos em bombardeio pelo exército sírio regular, são, de fato, soldados do exército sírio que foram sequestrados. Há também alawitas sequestrados, que não foram libertados (em trocas de prisioneiros). Quando o Exército Sírio Livre começou a sequestrar pessoas, os alawitas também passaram a sequestrar, para ter o que negociar e conseguir libertar soldados presos pelas milícias. Nem sempre dá certo, e muitos que não foram “trocados” apareceram mortos em Khalidiya.

O que se pode garantir é que, até agora, não há qualquer tipo de ataque pelo exército sírio regular na cidade. Os rebeldes continuam a atacar outros postos de segurança do exército. Ninguém por aqui tem qualquer ideia sobre o que o governo pensa fazer em relação à situação em Homs. É terrível para mim ver o nosso bairro transformado em campo de batalha e tantos amigos meus, que partem da cidade."

A informação da minha fonte coincide perfeitamente com o que escreveu o jornalista Nir Rosen, autor do indispensável Aftermath: Following the Bloodshed of America's Wars in the Muslim World: em Homs estão acontecendo ataques das milícias armadas contra postos de controle do exército sírio na estrada; e o exército sírio ataca alguns dos bairros onde vivem as milícias armadas. Segundo Rosen: "Não há luta em Homs. O governo bombardeia algumas áreas onde suspeita que haja rebeldes (o que sugere que o regime não tenha meios para atacar Khalidiya) (...). Até agora não houve qualquer baixa entre os rebeldes. Em Khaldiyeh houve 130 mortos e 800 feridos (mas não eram combatentes). É muita gente, sim, mas se você assiste aos noticiários... Segundo os noticiários, Homs teria sido destruída pelo governo da Síria. Essa notícia é falsa. De fato, o ataque das milícias em Homs sugere que, ali, o regime está enfraquecido, sem meios para atacar as milícias. [3]"
Confirma-se assim o que minha fonte escreveu: “Ninguém por aqui tem qualquer ideia sobre o que o governo pensa fazer em relação à situação em Homs”.

Todo o planeta viu como o milionário prefeito de New York respondeu ao movimento Occupy Wall Street – movimento pacífico. Imaginem, então, qual seria a resposta das autoridades a uma insurreição armada, para mudança de regime, que eclodisse numa cidade de porte médio nos EUA. 

Os “disgusting” BRICSs já deixaram bem claro que não haverá bombardeio humanitário à moda CCGOTAN na Síria. Mas o CCGOTAN pode estar conseguindo sucesso no seu plano B: lançar a Síria numa guerra civil.

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Notas dos tradutores
[1] Orig. disgusting. É palavra de difícil tradução ao português, no contexto da fala das autoridades dos EUA; cobre um campo semântico que vai de “incômodo” ou “desagradável”, até “repugnante” e “nojento”.
[2] 5/2/2012, “Ministro russo explica veto à Resolução sobre Síria”.
[3] 4/1/2012, The Angry Arab News Service, “What happened in Homs”