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segunda-feira, 23 de julho de 2012

Invasão da Síria: Começou a Batalha de Damasmo


Os poderes ocidentais e do Golfo lançaram a mais importante operação de guerra secreta desde os “Contras”, na Nicarágua. A batalha de Damasco não visa derrubar o presidente Bashar Al-Assad, mas fraturar o Exército Sírio para assegurar o domínio de Israel e Estados Unidos sobre o Oriente Próximo. Enquanto a cidade se prepara para um novo assalto dos mercenários estrangeiros Thierry Meissan realiza um balanço da situação.
Há cinco dias, Washington e Paris lançaram a operação “Erupção em Damasco, terremoto na Síria”. Não é nova campanha de bombardeio aéreo, mas operação militar secreta, similar à usada no tempo de Reagan na América Central.

De 40 a 60 mil “Contras”, na sua maioria líbios, entraram em poucos dias no país, quase sempre pela fronteira jordaniana. A maioria destes está ligada ao “Exército Síria Livre”(Free Syrian Army), estrutura de fachada para as operações secretas da OTAN, atualmente sob comando turco. Alguns são filiados a grupos de fanáticos, inclusive a Al-Qaeda, estão sob o comando do Qatar ou de uma facção da família real saudita, os Sudeiris.

De passagem, tomaram alguns postos de fronteira, e então se mudaram para a capital, onde semeiam a confusão, atacando alvos aleatórios que eles encontram: grupos de policiais ou militares isolados.
Quarta de manhã, uma explosão destruiu a sede da Segurança Nacional, onde se reuniam alguns membros do Conselho de Segurança Nacional. O ataque tirou a vida do general Daoud Rajha (Ministro da Defesa), do general Assef Shawkat (Vice-Ministro) e do general Hassan Turkmani (assistente do vice-presidente da República). Os termos da operação permanecem incertos: pode ter sido tanto um ataque suicida quanto o disparo de um drone(avião não-tripulado) furtivo.

Washington esperava que a decapitação parcial do aparelho militar levaria alguns oficiais superiores a desertar com suas unidades, ou até mesmo a se voltar contra o governo civil. Isso não aconteceu. O presidente Bashar al-Assad imediatamente assinou os decretos designando seus sucessores e a continuidade do Estado foi assegurada
.
Em Paris, Berlim e Washington, os patrocinadores da operação se sentem livres para jogar o jogo indigno que consiste em condenar a ação terrorista, reafirmando o seu apoio político, logístico e militar aos terroristas. Sem pudor algum, eles concluíram que a responsabilidade por esses assassinatos não cabe aos culpados, mas às vítimas, na medida em que haviam se recusado a renunciar sob pressão e entregar sua terra natal aos apetites ocidentais.

Caracas e Teerã enviaram suas condolências a Síria, sublinhando que o ataque foi encomendado e financiado pelas potências ocidentais e do Golfo. Moscou, igualmente, expressou suas condolências e disse que as sanções levadas ao Conselho de Segurança contra a Síria equivalem a um apoio político aos terroristas que realizaram o ataque
.
Os canais de TV estatais sírios passaram a transmitir clipes militares e canções patrióticas. Interrompendo a programação, o ministro da Informação, al-Omran Zou'bi apelou à mobilização de todos: o tempo já não é mais de disputas políticas entre governo e oposição, é a nação que está sendo atacada. Lembrando o artigo do Komsomolskaya Pravda em que descrevi a operação midiática de desmoralização preparada pelos canais ocidentais e do Golfo, ele advertia seus compatriotas sobre o desastre iminente. Aproveitou para negar os boatos tóxicos dos canais de TV do Golfo segundo os quais um motim eclodira na quarta divisão e explosões haviam devastado seu quartel principal.
Os canais estatais levaram ao ar várias vezes anúncios que mostravam como capturar seu sinal pelo satélite Atlantic Bird, em caso de interrupção dos satélites Arabsat e Nilesat.

No Líbano, Sayyed Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, lembrou a fraternidade de armas que une o Hezbollah à Síria contra o expansionismo sionista, e garantiu ao Exército Sírio seu apoio.
O ataque foi um sinal para o início da segunda parte da operação. Os comandos infiltrados na capital passaram então a atacar vários alvos, mais ou menos premeditados. Assim, um grupo de cem “Contras” atacou a casa adjacente ao meu apartamento aos gritos de “Allah Akbar!”(Deus é maior). Um militar de alta patente reside lá. Foram dez horas de combate ininterrupto.

No início da noite, o Exército respondeu com medidas. Mais tarde a ordem foi para usar a força sem restrições. Já não era o caso de lutar contra os terroristas que tentavam desestabilizar a Síria, mas enfrentar uma invasão estrangeira que não diz seu nome, e salvar o país em perigo.

A aviação síria entrou em ação para destruir as colunas de mercenários que se dirigiam à capital.
No final da manhã, a calma retornou gradualmente a cidade. Os “Contras” e seus colaboradores em todos os lugares foram forçados a se retirar. O tráfego foi restaurado nas principais estradas e postos de controle foram instalados no centro da cidade. A vida recomeçou. No entanto, ainda ouvimos tiros dispersos aqui e ali. A maioria das empresas estão fechadas, e há longas filas em frente às padarias.
Todos esperam que o assalto final seja lançado na noite de quinta para sexta, e por toda sexta-feira. Há pouca dúvida de que o exército sírio vai sair vitorioso novamente, a correlação de forças é favorável, o exército é apoiado pela população, inclusive pela oposição política interna.

Como era esperado, os satélites Arabsat e Nilesat desligaram o sinal de televisão Ad-Dounia no meio da tarde. A conta de Twitter do Ad-Dounia foi pirateada pela CIA para a divulgação de falsas mensagens que anunciam uma retirada do Exército sírio.

Os canais de TV do Golfo anunciaram o colapso da moeda do país como um prelúdio para a queda do Estado. O governador do Banco Central, Adib Mayaleh, falou em rede nacional de televisão para negar a desinformação e confirmar a taxa de câmbio de 68,30 libras sírias por dólar dos EUA.

Reforços foram mobilizados em torno da praça dos Omíadas para proteger os estúdios da televisão estatal que são considerados um alvo prioritário para todos os inimigos da liberdade. Estúdios de substituição foram instalados no hotel Rose de Damas, onde estão hospedados os observadores das Nações Unidas. A presença destes, que deixaram que se perpetra-se o ataque na capital sem que se interrompe-se a sua ociosidade, é a proteção de facto para os jornalistas sírios que tentam informar os seus compatriotas sobre o perigo que ameaça suas vidas.

No Conselho de Segurança, Rússia e China vetaram pela terceira vez um projeto de resolução dos países do Ocidente e do Golfo para tornar possível uma intervenção militar internacional. Seus representantes têm denunciado incansavelmente a propaganda destinada a transformar o ataque estrangeiro contra a Síria como uma revolta reprimida com derramamento de sangue.
A Batalha de Damasco deve retomar hoje à noite.

De Damasco
Por  Thierry Meissan
19 de julho de 2012

Extraído da Rededemocrática

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Os EUA na segunda armadilha de Bin Laden

08/02/2012 - Immanuel Wallerstein - Tradução: Antonio Martins em seu blog
Outras Palavras


Wallerstein antecipa: depois de perder influência sobre o Paquistão, Washington arrisca-se a ficar sem aliado ainda mais estratégico: a Arábia Saudita

Em outubro de 2001, logo depois do 11 de Setembro, escrevi o seguinte:

“Os regimes [do Paquistão e Arábia Saudita] apoiam-se numa coalizão entre as elites modernizantes pró-ocidentais e um establishment islâmico extremamente conservador, com bases populares. Os regimes mantêm-se estáveis por serem capazes de articular esta combinação. E podem alimentá-la graças à ambivalência de suas políticas e pronunciamentos públicos."
“Os Estados unidos dizem agora que chega de ambiguidades. Esta posição pode prevalecer, é claro. Mas no processo, os regimes saudita e paquistanês poderão descobrir que sua base popular está irremediavelmente erodida…"
“Considere que este pode ter sido o plano de Bin Laden. O objetivo de sua própria missão suicida pode ter sido conduzir os Estados Unidos a tal armadilha”

Acredito que Bin Laden conseguiu agora o que planejou no Paquistão. O fim das ambiguidades acabou significando que o país já não opera geopoliticamente em favor dos interesses dos Estados Unidos. Bem ao contrário! Tomou distância e está promovendo, no Afeganistão e não só lá, políticas às quais os EUA opõem-se firmemente. Falta, agora, o segundo objetivo.

Que está ocorrendo na Arábia Saudita? Não há dúvidas de que, de alguma maneira, o país passou a agir mais independentemente dos Estados Unidos do que fizera nos últimos 70 anos. Mas não houve, ainda, uma ruptura definitiva, como no Paquistão. Ela ocorrerá, em futuro próximo? Penso que talvez.

Analise os múltiplos dilemas internos do regime. A riqueza de cerca de 10% dos sauditas provocou o crescimento agudo das demandas por “modernização” do Estado. São mais visíveis em temas ligados às mulheres (direito ao emprego e a conduzir carros). Mas tais reivindicações por mais direitos são a ponta de um iceberg, de um clamor mais amplo pelo afrouxamento das restrições impostas pela ortodoxia wahhabista. À medida em que o rei se move numa trajetória contínua, mas cautelosa, para atender a estas demandas, ele antagoniza-se ainda mais com o establishment religioso – que está se tornando muito inquieto.

Além disso, as elites “modernizantes” têm outras queixas. O governo saudita é, essencialmente, uma gerontocracia, conduzida por homens na faixa dos 70 e 80 anos. No curioso sistema de sucessão o regime lembra o da antiga União Soviética. Há algo similar a uma votação, no processo sucessório – mas ela se dá entre uma dezena de pessoas, ou um pouco mais. A probabilidade de que o poder passe para gente na faixa dos 50 e 60 é extremamente baixa, se não inexistente. Repare, no entanto, que este grupo de “jovens”, mesmo que formado apenas no interior da família real, cresceu consideravelmente em número, e está impaciente. Isso pode levar a uma séria cisão no próprio topo da elite? É bem possível que sim.

O regime saudita maneja algo como um estado de bem-estar social para os cidadãos comuns. Porém, as desigualdades de renda e riqueza estão crescendo, como em toda parte. E pequenas redistribuições, de tempos em tempos, não vão acalmar as camadas inferiores, mas apenas aguçar seu apetite por novas demandas. Os extratos médios e baixos podem inclusive (surpresa, surpresa!) ecoar os apelos da Primavera Árabe por “democracia”.

E há uma minoria xiita. Afirma-se que ela representa apenas cerca de 10% da população; mas é provável que seja maior e – mais importante – está estrategicamente localizada no sudeste do país, sobre as maiores reservas de petróleo. Por que tais xiitas seriam os únicos, nas nações do Oriente Médio dominadas por sunitas, a não lutar por suas reivindicações identitárias?

O regime saudita tem tentado jogar um papel de destaque na geopolítica da região. Está insatisfeito com as políticas e aspirações do Irã e com a intransigência do presidente Assad, na Síria. Mas, no frigir dos ovos, comporta-se de modo muito moderado, em relação a estes temas. Teme as consequências de guinadas bruscas. E julga as políticas norte-americanas orientadas demais pelos interesses internos dos EUA, e por seus infinitos compromissos com Israel.

Os sauditas têm sido muito “razoáveis” também com Israel. Não creem que esta moderação tenha sido bem recompensada – quer por Israel, quer pelos Estados Unidos. Podem estar prontos, agora, para apoiar o Hamas de forma muito mais aberta. Não enxergam nada “razoável” nas políticas do governo israelense, nem perspetiva alguma de que estas políticas sejam alteradas em breve.

Este quadro não contribui para um regime politicamente estável. Certamente, não ajuda a manter as “ambiguidades” que permitiram ao regime ser, no passado, um aliado inabalável dos Estados Unidos na região.

 A segunda armadilha irá se fechar?

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Primavera Árabe só deu outra cor à censura

31/1/2012 - por Simba Shani Kamaria Russeau, da Inter Press Service - postado em Envolverde - Jornalismo & Sustentabilidade


Cairo, Egito, 31/1/2012 – Os esforços dos regimes do Oriente Médio e do norte da África, para impedir o fluxo de informação durante as revoltas populares do ano passado, deixaram uma grande quantidade de jornalistas mortos, feridos ou detidos. Hoje, a censura continua. “No começo da Primavera Árabe, o controle de informação foi uma prioridade para as autoridades”, contou à IPS (Inter Press Service) a pesquisadora para o Oriente Médio e a África do Norte da organização Repórteres Sem Fronteiras, Soazig Dollet. “Os governos tratam de censurar a cobertura da repressão lançada pelas forças de segurança contra os protestos, impedindo o acesso à internet e bloqueando os telefones celulares, bem como atacando jornalistas locais e internacionais”, denunciou.

O levante popular na Tunísia, em janeiro de 2011, que levou à queda do presidente Zine al-Abidine Ben Ali, deu origem a uma onda de protestos que rapidamente se propagou pelo resto do mundo árabe. No dia 25 daquele mês, foi a vez do Egito, quando manifestantes começaram a reclamar o fim do regime de 30 anos do presidente Hosni Mubarak. Após o êxito de Egito e Tunísia, outros países como Bahrein, Marrocos, Líbia, Iêmen e Síria lançaram suas próprias revoltas.

A imprensa teve um papel fundamental informando sobre as manifestações e a consequente repressão, mas os profissionais correram sérios riscos quando as autoridades trataram de bloquear a propagação de notícias. Um informe da Repórteres Sem Fronteiras diz que pelo menos 20 jornalistas foram mortos e 553 agredidos ou ameaçados na Primavera Árabe, o que fez do Oriente Médio e do norte da África uma das regiões mais perigosas para os trabalhadores da imprensa.
Os regimes dos países onde houve levantes populares tentaram, no começo, censurar a informação”, apontou Ayman Mhanna, diretor-executivo da Fundação Samir Kassir. “Começaram bloqueando o acesso a redes sociais como Facebook e Twitter, mas depois se deram conta de que podiam abrir esses sites para controlar quem escrevia e o que escreviam. Depois restringiram o acesso a jornalistas estrangeiros e independentes, a menos que estivessem totalmente sob seu controle”, disse Mhanna à IPS.

A situação melhorou um pouco, salvo na Síria e no Bahrein. No primeiro país, os jornalistas estrangeiros só entram furtivamente, a menos que aceitem trabalhar sob controle das autoridades, que, por outro lado, não garantem sua segurança. A morte de Gilles Jacquier (no dia 11) é um exemplo disso”, afirmou Mhanna. “No Bahrein, a situação é muito difícil. Os países do Conselho de Cooperação do Golfo têm interesses em bloquear a revolução nesse país. Todos os meios de comunicação opositores estão censurados, e os que são afinados com o regime distorcem totalmente a informação”, ressaltou.

Defensores dos direitos humanos consideram o Oriente Médio e o norte da África uma das regiões com maior censura pela abundância de controles, leis, normas, hostilidades, detenções e restrições físicas. Disposições legais de todo tipo são usadas para deter jornalistas, acusando-os de prejudicar a reputação do Estado, freando, assim, denúncias de corrupção contra funcionários públicos. As autoridades do Bahrein utilizaram a Lei de Imprensa de 2002 para censurar. O Código Penal da Síria criminaliza a propagação de notícias no estrangeiro. Além disso, Egito e Síria têm leis de emergência que permitem perseguir e deter sem o devido processo jornalistas, trabalhadores de imprensa em geral e ativistas políticos.

Durante o regime de Mubarak houve muitas formas de censura, como pressão sobre os editores, proibições de impressão de determinados números em particular, confisco de edições diárias, hostilidades contra jornalistas e apreensão de seus pertences”, contou Ramy Raoof, diretor de mídia na internet para a Iniciativa Egípcia de Direitos Pessoais. “Estas coisas continuam ocorrendo, mas com diferentes funcionários. No lugar do pessoal do Ministério do Interior, entra o do sistema militar. Por exemplo, no dia 22 de fevereiro de 2011, uma carta da Marinha enviada aos jornais egípcios dizia, de modo resumido, que não publicassem nada sobre o exército”, afirmou Raoof à IPS.

Os códigos de imprensa da maioria dos países árabes pretendem respeitar a liberdade de imprensa, mas na realidade deixam amplos espaços para serem violados pelos regimes da vez. Alguns de seus artigos, como ‘desmoralizar a nação’, são usados muito nos últimos tempos na Síria. Acusar ativistas de traição ou de cooperar com inimigos estrangeiros é outra acusação à qual se recorre frequentemente”, esclareceu Mhanna.

No entanto, um ano depois do começo da Primavera Árabe, quando vários países lutam para construir um futuro democrático e em outros continuam ocorrendo manifestações reclamando democracia, ainda é difícil para os jornalistas fazerem seu trabalho.

Agora “os jornalistas podem expressar suas opiniões com maior liberdade porque quebraram a barreira do medo. Porém, continua sendo perigoso expressar sua opinião onde as revoluções conseguiram derrubar o regime ou onde cresce o peso de grupos religiosos extremistas”, alertou Mhanna. “De certa forma, mudou a natureza da censura. Agora, são perigosas as consequências do que escreve ou diz um jornalista”, acrescentou.

Envolverde/IPS

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Primavera árabe: À frente de todo homem há uma mulher



por Simba Russeau, da IPS
1287 Primavera Árabe: À frente de todo homem há uma mulherMohammed Omer/IPS
Protestos na Praça Tahrir.
Cairo, Egito, 19/5/2011 – As mulheres árabes assumiram claros papéis de liderança nos levantes populares do Bahrein, Egito, Líbia, Marrocos, Tunísia e Iêmen, contrariamente ao velho mito ocidental de que se encontram indefesas e escravizadas. “É realmente injusto ignorar a história e tentar interpretar mal a realidade”, disse à IPS, Fatima Outaleb, fundadora da União para a Ação das Mulheres no Marrocos. “Quem pode negar a essa mulher que entoe palavras de protesto e leve os homens atrás de si? É uma mulher com um véu, mas também é uma líder”, afirmou. Segundo Outaleb, as mulheres – sejam mães ou donas de casa, usem ou não o véu, simpatizantes de partidos islâmicos ou sem filiação política – sempre tiveram um papel importante no mundo árabe. “A mídia ocidental se guia por certas agendas e prioridades que tem em mente. Ignora a realidade de que as mulheres árabes foram o coração das revoluções na região, seja liderando, elaborando estratégias, criando consciência ou mobilizando por meio de blogs ou do Facebook”, disse Outaleb.
As mulheres egípcias representaram quase 20% dos milhões de ativistas que lotaram a Praça Tahrir no Cairo e na cidade de Alexandria, ao Norte. “Não gosto do fato de, durante nossa revolta de 18 dias, a cobertura da mídia internacional se concentrar nas mulheres assediadas sexualmente. Havia mulheres entre os mártires, enfrentando as forças de segurança e dormindo na Praça Tahrir”, disse à IPS Doaa Abdelaal, da organização Mulheres que Vivem sob Leis Muçulmanas. “As mulheres trabalharam muito tempo em nível de base e nos movimentos de trabalhadores para criar este momento”, afirmou.
Desde 2004, trabalhadores egípcios realizaram quase três mil greves contra a privatização e as políticas do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial. As mulheres desempenharam importantes papéis nessas ações, exigindo melhores condições econômicas e opondo-se ao regime do ex-presidente Hosni Mubarak. Em um país onde 95% dos 27 incidentes de violação que ocorrem diariamente não são registrados, onde 33% das mulheres sofrem violência física e onde há desigualdades profissionais e crescente violação sexual, os grupos feministas se destacam por dedicar tempo e energia nos últimos 20 anos a quebrar muitos tabus.
Fundadora e chefe-executiva da coalizão árabe contra a violência de gênero Karama, a somaliana Hibaaq Osman, disse que os meios de comunicação ocidentais estavam assombrados por verem mulheres nas ruas protestando lado a lado com os homens. “É preciso entender a psicologia da mídia ocidental. Querem ver uma mulher frágil, submissa e burra”, disse à IPS.
Osman afirmou que a Europa, que segundo ela inclina-se cada vez mais para a direita política, deveria compreender que suas comunidades muçulmanas, na realidade, não refletem o mundo árabe, já que os imigrantes estão desligados socialmente de suas terras de origem e não foram plenamente acolhidos nos países onde vivem. “Na França, demorou apenas um dia para ser aprovada uma lei contra o véu, mas quanto vai demorar para ser apresentada uma lei para apoiar, capacitar, dar emprego e fortalecer economicamente os imigrantes que vivem no país?”, perguntou.
“Creio que é hora de o Ocidente olhar bem para si mesmo, pois é fácil apontar com o dedo para o mundo muçulmano, e ver como as mulheres são tratadas quando a Igreja Católica ainda tem grandes problemas com os anticoncepcionais e não pode decidir se uma mulher tem direito de usar seu próprio corpo”, disse Osman. “Não nos preocupa o que a mídia ocidental pense sobre nós, pois sabemos que é tendenciosa. Como podem ignorar o papel das mulheres! Elas nunca estiveram ausentes, fazem parte da sociedade”, ressaltou.

Envolverde/IPS

sábado, 5 de março de 2011

Líbia: teria faltado protagonismo ao Itamaraty?

 Beto Almeida*


A impressionante euforia de uma quase unânime campanha midiática atuando como os tambores de guerra,  tendo como alvo a Líbia,  já provocou seus estragos iniciais: uma diplomacia facciosa,  agressiva e guerreira arrancou à força uma condenação do país africano, sem sequer uma investigação concreta. Para tal foram suficientes os relatos de uma mídia controlada pela indústria bélica. Agora,  prepara-se o terreno para novos passos da máquina de guerra imperialista. O desejo de uma intervenção militar na Líbia é sonho antigo do Pentágono, nunca concretizado. Mas, agora, se de fato for lançada, pode ter como objetivo reprimir todos os povos árabes em rebelião com o intuito de assegurar a hegemonia dos interesses dos Eua na região, atualmente sob questionamento, seja pelas rebeliões populares, seja pela nova relação de forças em países como Irã, Turquia e Líbano.

 Por tudo isto, é justo perguntar se não teria havido falta de protagonismo do Itamaraty na votação do caso Líbia na ONU? Será que    todo o esforço do governo Lula em consolidar uma aliança Países Árabes e América do Sul não estaria sendo deixado um tanto de lado quando a representante do Brasil na ONU aparece posicionada ao lado de resoluções que podem facilitar a balcanização da Líbia, e, como conseqüência, trazer um grave retrocesso nas relações do Brasil com aquela região, como já se pode perceber na retirada parcial das empresas brasileiras do território líbio? Saem Queiroz Galvão, Odebrecht e Camargo Correia, e entra a Haliiburton? Seria este um dos resultados da intervenção pré-militar? Sem contar uma montanha de cadáveres....... O Artigo é de Beto Almeida.
(Publicado em Patria Latina)
 


Não foi simples para o Presidente Lula construir sua política externa. Os adversários se posicionaram prontamente, fora e dentro do território nacional. Aqui dentro toda a mídia que, naturalmente, sempre foi historicamente vassala editorial de idéias emanadas pelas grandes potências. Não há uma única mídia de grande alcance hoje no Brasil que sustente uma linha editorial contrária à manutenção do status de vulnerabilidade ideológica, política, tecnológica, econômica e até militar em que se encontra o Brasil desde o nefasto período dos privateiros. Nem mesmo  a TV Brasil conseguiu fazer uma linha editorial diferenciada, com um mínimo de sintonia, sequer exploratória,  com o que foi a política externa lulista.

Retórica itamarateca?

Entre os argumentos manipuladamente utilizados contra Lula repetia-se  -  sem diversidade informativa alguma, como se pede na Constituição -  que tudo era apenas uma retórica itamarateca. Não é preciso muitas linhas para contestar este pseudo-argumento: basta que se verifiquem os volumes do comércio, dos acordos, e das relações entre o Brasil e os países do Oriente Médio antes e depois de Lula. Lembremo-nos: neste período foi realizada, sob oposição dos EUA, a primeira Cúpula América do Sul-Países Árabes na história.

Há uma forte simbologia quando grandes empresas brasileiras retiram seus funcionários em função do evidente agravamento da crise na Líbia e a ameaça não apenas de uma guerra civil, mas de uma intervenção bélica da Otan para, quem sabe, levar novamente ao poder remanescentes da monarquia Idris, desde que concordem, obviamente, em privatizar novamente o petróleo líbio hoje estatizado, entregando-o a empresas norte-americanas, como no Iraque e na Arábia Saudita hoje.

Paralisação produtiva

A Revolução Líbia colocou a receita do petróleo para a elevação do padrão de vida de seu povo, tanto é que pertence a este país o mais elevado IDH da África, um salário mínimo dos mais elevados de todo o terceiro mundo, superior ao brasileiro,  uma renda per capta parecida à nossa, sem contar a oferta de serviços públicos e gratuitos de saúde e educação em razoável qualidade. A receita petroleira tem sido também utilizada para  a contratação de empresas e tecnologia do exterior para a realização de obras de infra-estrutura de grande porte, entre elas gigantescos canais de irrigação para alavancar a produção agrícola num território que, em 90 por cento, é desértico. A ingerência já produziu uma paralisação produtiva no País.

A construção de uma política externa brasileira enfatizando a integração latino-americana, não apenas em discursos mas, concretamente, com obras unificadoras de infra-estrutura que já não podem mais ser negadas pelo dilúvio de mentiras midiáticas, tem seu desdobramento na formatação de uma relação mais cooperativa com o mundo árabe e também com o Irã.  Além disso, a busca de uma diversificação de exportações e importações -  o que nunca agradou aos EUA  -  desdobra-se coerentemente numa relação mais protagonista a partir da relação com os países do Brics, bem como no G-20. Imagine o tamanho da crise que o Brasil enfrentaria se tivesse permanecido submetido a uma relação prioritária com os EUA...


Esta nova maneira de estar presente no mundo levou o Brasil a pelo menos duas operações de alto esforço e coragem, qual sejam, a busca de uma saída negociada e pacífica para a crise a partir do prepotente veto imperial ao programa nuclear do Irã, e também, na questão de Honduras, quando o governo Lula assumiu com arrojo a defesa da democracia diante do golpe de estado contra Zelaya, sinalizando que ela, a democracia, não é um atributo que estaria fora da agenda da cooperação e integração latino-americana, bem como do princípio da autodeterminação dos  povos, violentada nestas duas oportunidades pelos EUA.
Comissão Internacional para uma solução pacífica

Lamentavelmente,  a proposta de formação de uma Comissão Internacional  para solução pacífica da crise da Líbia não partiu do Brasil, como era justo esperar, mas da Venezuela. Aliás, quando da tentativa de golpe contra a Venezuela, teria partido exatamente do Brasil, sob o governo Lula, a idéia de criar o Grupo de Amigos da Venezuela, buscando assegurar uma mesa de negociações e desencorajar qualquer aventura intervencionista. Certamente, embora  justa, a proposta agora capitaneada pela Venezuela, teria muitíssimo mais abrangência e força política se oriunda do Brasil, tal como o Brasil se empenhou no caso do Irã para convencer a ONU a não dobrar-se aos tambores de guerra. Estes, vale recordar, estão sempre prontos a repicar, especialmente diante da uma crise econômica que não foi vencida ainda pelos EUA, e que pode levar sua economia marcadamente dominada pela indústria bélica, a aproveitar a crise da Líbia para dinamizar a recuperação de sua crise interna, às custas de vidas e mais vidas, como se vê hoje no Iraque e no Afeganistão, sem qualquer vislumbre de solução no horizonte. Mas, para a indústria guerreira, a expansão das encomendas é a própria solução. Sobretudo, se a intervenção militar traz nova possibilidade de privatizar petróleo público, assegurando, sob a cobertura da ONU, uma rapina que não pode ser feita sem demolir as estruturas da Revolução Líbia e transformá-la num novo Kossovo, ou seja, em mais uma base militar dos EUA, como as mais de mil espalhadas pelo mundo hoje.

 A política externa brasileira não pode estar associada a qualquer idéia que facilite a concretização deste plano sinistro! Seria sim um distanciamento ou falta de continuidade daquilo que foi construído pelo Itamaraty nos oito anos de Lula. E, para um país que pretende ter assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, não é recomendável deixar de zelar pelo prestígio internacional alcançado pelo Brasil exatamente por sua política externa soberana, independente, criativa e vocacionada para promoção da solução pacífica dos conflitos.


Razões propagandísticas


O passivo endosso brasileiro na ONU a esta escalada de agressividade diplomática dos EUA baseada, por sua vez, num dilúvio de informações manipuladas e jamais comprovadas, nos faz lembrar a tragédia de uma guerra lançada contra o Iraque e seu povo com base na suposta “existência de armas químicas de destruição em massa naquele país”. A semelhança com as “razões propagandísticas” utilizadas por Hitler para expandir o seu exército pela Europa é robusta. Assim como o atentado ao World Trade Center, cuja versão oficial encontra crescente contestação pelos mais eminentes cientistas norte-americanos, atuou como “razão propagandística” a la Hitler para que Bush impusesse sua guerra ao terror, inclusive contra países que mal possuem sistema de água encanada, como o Afeganistão, acusado, paradoxalmente,  de ter perpetrado tão sofisticada operação.

Com coragem, o Brasil se opôs oficialmente à ação militar no Iraque no início do governo Lula.. Seria de se esperar a continuidade desta acertada política externa quando agora, contra a Líbia, também se constroem versões   -  razões propagandísticas – para que aquele território seja ocupado pelos marines. Se manipulação grosseira das teses dos direitos humanos é o que baliza a autorização diplomática para tal monstruosidade militar, é de se esperar condenação a todos que estão hoje encharcando de sangue muçulmano o solo do oriente. A começar pelos EUA que já mataram mais de um milhão de civis no Iraque e , somente nesta semana, despejou bombardeios que causaram a morte de 65 civis no Afeganistão. Por que o Itamaraty não condena tal carnificina?

Caso a intervenção militar da OTAN venha de fato a concretizar-se, nossa política externa deveria ter exigentes motivos para preocupar-se, jamais para, de algum modo, ter colaborado direta ou indiretamente com mais uma guerra. Nem na Guerra das Malvinas o Brasil deixou de reivindicar uma solução negociada e pacífica, o que não impediu de oferecer algum tipo de apoio logístico aos argentinos, seja por meio de aviões, de informações etc. conforme comprovam documentos em posse do estado brasileiro.

Lições para o futuro

Possuidor do maior tesouro de biodiversidade (Amazônia), de riquezas minerais monumentais como urânio, titânio, silício etc e também das reservas petroleiras pré-sal, além de território farto em água, o Brasil tem razões para buscar construir uma política estratégica cuidadosa, sobretudo se e quando as potências imperiais dão passos mais largos e ameaçadores no tabuleiro do xadrez mundial. Qual será o próximo? Diante deste quadro fica evidente porque os EUA impõe vetos ao Programa Nuclear Brasileiro, como ao do Irã, e também ao nosso Programa Espacial, como revelaram os telegramas divulgados pelo Wikiliekes sobre a conduta do Embaixador norte-americano em Brasília a pressionar a Ucrânia para que não  transfira tecnologia espacial ao Brasil. Os EUA, anos atrás, já havia pressionado Kadafi a abrir mão do Programa Nuclear líbio. Sem nada em troca, além de sanções, agressões,  desestabilizações e bombardeios.

O que é difícil é entender por que o Brasil não faz agora um esforço prioritário para barrar mais uma guerra, associando-se a países que também podem formatar uma resistência internacional a mais esta aventura de uma economia imperial viciada em guerra e petróleo? Será delírio imaginar que no futuro não muito longe seja o Brasil o alvo de sanções simplesmente por dar continuidade ao seu programa nuclear? Vale lembrar que a energia nuclear só é considerada insegura e perigosa quando nas mãos de países como Irã ou Brasil, nunca sob o controle dos EUA, Inglaterra ou França.

Antes mesmo de qualquer investigação ou comprovação, a Líbia já foi penalizada com o congelamento de seus recursos financeiros depositados em bancos internacionais, o que, por outro lado, recomenda acelerar a concretização do lentíssimo projeto de construção do Banco do Sul, onde os recursos dos povos do sul poderiam estar depositados com segurança, não na insegurança dos bancos norte-americanos ou ingleses ou franceses, com um histórico de instabilidade e de fraudes recentes  impressionantes.

Descontinuidade com o passado recente

A política externa formatada e aplicada por Lula, que a ela se empenhou pessoalmente em inúmeras viagens, alterou sobremaneira e positivamente a presença qualitativa do Brasil no mundo. Tal política requer consolidação, continuidade e aprofundamento, seja no plano da integração latino-americana, ou com a África, ou com os países árabes e do Oriente Médio, por onde encontram-se instaladas muitas empresas, equipamentos e pessoal brasileiros; como requer também  não recuar da linha de diversificação sem se deixar prender por um ou outro grande país. No caso da Líbia, será constrangedor contabilizar o imenso prejuízo para a economia brasileira acarretado pela retirada de empresas e trabalhadores brasileiros. Especialmente se elas vierem a ser substituídas por empresas diretamente vinculadas à indústria bélica, como a Haliburton, já que guerra e petróleo, para os EUA, são atributos de uma mesma política. Mais constrangedor será reconhecer que a política externa brasileira não teria atuado com o protagonismo que poderia exercer e que projetou durante os 8 anos do governo Lula, deixando margem para uma constatação amarga: a de que  o endosso passivo e sem questionamento a sanções arrancadas à  base de dilúvios midiáticos manipulativos na ONU, teve também alguma participação do Itamaraty. Uma descontinuidade com o passado recente.

*Beto Almeida, Jornalista
Prezados e prezadas, apenas contando algo: há alguns dias, após escrever o texto respondendo a agressão da Folha a Telesur, fui surpreendido por nota no Blog Gonzun, do Miguel do Rosário, em que afirmava "Telesur se desmoralizou ao fazer cobertura pró-Kadafi".
Preocupado com o equívoco, escrevi a ele solicitando que esclarecesse em que teria se baseado, em qual notícia, em qual editorial, em que imagem, para afirmar semelhante estapafúrdio. Ele disse que teria se baseado em mensagem do Rovai, que afirmava que Kadafi estava bombardeando seu próprio povo, que os níveis de vida e o IDH da Líbia, bem como os serviços públicos de saúde e educação gratuitos não tinham tanta importância pois era um país pequeno e muito rico em petróleo. A Arábia Saudita também é rica, nem porisso aplica sua renda petroleira na elevação do padrão de vida de seu povo. Ao contrário. É uma didtadura monárquica, carcomida, protegida pela mídia capitalista, inclusive a Folha. Lembrei ao Miguel o quanto de mentiras se estava utilizando contra a Líbia, entre elas a do "bombardeio do seu próprio povo", repetida por Hillary Clinton, por Obama, pelo Rovai, pela Fox News, pela TV Globo e pelo blog Gozun.....Miguel me aconselhou então ler o noticiário e a "não me deixar me levar pelo ódio à mídia".  Percebi que por estes argumentos não era razoável insistir numa discussão política e apenas perguntei a ele se publicaria o meu artigo em resposta à agressão feita pela Folha de São Paulo a Telesur. Não publicou, não respondeu, não esclareceu. Hoje , a própria Folha publica declarações do Secretário de Defesa dos EYA, Robert Gates, concedidas à imprensa americana, onde ele afirma " Não ha confirmação de que tenham ocorrido bombardeios ordenados por Kadafi contra o seu povo". É o secretário de defesa dos EUA!!! Junte-se a isso uma nota da imprensa russa, na qual se informa que o Comando do Exército Russo, tendo monitorado incessantemente os satélites localizados naquela região da Líbia, afirmou que não houve nenhum bombardeio aéreo como os relatados pela mídia internacional, e, lamentavelmente, repetidos por Rovai e Miguel do Rosário.  Mando-lhes a seguir as duas notas. Mas, uma delas está na Folha de hoje, na coluna "Toda Mídia", ao alto da página. A outra mando por internet.
Telesur está com duas equipes de reportagem na Líbia, uma em Trípoli e outra em Bengazhi. Tem retratado que há apoio a Kadafi, como também que existem ações militares de rebeldes, inclusive de um setor de oposição que apela a  Otan para que lance bombardeios sobre a Líbia. Ouvimos os dois lados, documentamos tudo, estamos no terreno desde o início. Onde está a desmoralização da Telesur?  Há blogueiros progressistas que se deixam influenciar pelo dilúvio de notícias mentirosas.......E não podem explicar em que se baseiam para suas afirmações. Mas, negam publicar o artigo que critica o comportamento da Folha de São Paulo, tal como a Folha, que também não publicou o meu artigo.

Beto

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