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sábado, 3 de agosto de 2013
O cerco informativo ao governo Dilma
Por Carlos Castilho em 28/07/2013 - Observatório da Imprensa
O governo federal está encurralado no cenário político nacional em matéria de estratégias de comunicação e informação, numa situação que pode ter reflexos diretos na campanha eleitoral para as eleições presidenciais de 2014.
A imagem pública da presidente Dilma Rousseff foi desconstruída ao longo de um processo em que a imprensa teve um papel relevante, e que começou já há bastante tempo. Trata-se de um processo onde a construção ou desconstrução da forma como o público vê um político tem mais a ver com percepções do que com evidências. É como no famoso dito de que, em política, as versões são mais importantes do que os fatos.
Dilma hoje está sendo julgada mais pela imagem que a imprensa, a oposição partidária e os desafetos presidenciais no Poder Judiciário construíram em torno da presidente do que pelos feitos de seu governo. Entre a imagem e os feitos há uma considerável diferença – e os eventuais benefícios factuais capazes de ser capitalizados por Dilma estão sendo pulverizados pelos efeitos devastadores do encurralamento comunicacional e informativo.
O governo federal está claramente na defensiva porque a estratégia comunicacional dos adversários de Dilma logrou associar sua gestão à incerteza econômica ao supervalorizar processos como a inflação, queda do PIB, declínio da atividade econômica e redução do superávit na balança comercial. São todos fenômenos muito condicionados pela situação econômica internacional, mas foram apresentados como exclusivamente domésticos para associá-los a uma imagem de má gestão.
A onda de protestos de rua, em junho, confundiu o panorama político e ameaçou tirar Dilma do clinch político-partidário. [Clinch é o jargão usado no boxe para definir uma situação em que um lutador se abraça ao adversário para impedi-lo de continuar atacando.] Ela até que tentou retomar a iniciativa com a proposta de plebiscito, da reforma política, aumento das verbas para a educação e o envio de médicos para o interior. Mas faltou ousadia para romper com o fantasma da governabilidade. Para concretizar a sua estratégia destinada a encampar o clamor das ruas, a presidente tentou ganhar apoio parlamentar – e foi aí que ela se perdeu.
Negociar com políticos e candidatos em véspera de eleições é a forma mais segura de emascular uma proposta política que altere o status quo, especialmente quando se trata de acabar com privilégios e aberrações da atividade parlamentar. Surgiu uma aliança informal entre políticos e magistrados do Supremo Tribunal Federal com o apoio corporativista dos médicos que transformou em fumaça o projeto emergencial do governo.
Para romper o cerco, a presidente tem as redes sociais na internet como provavelmente a única alternativa para desenvolver uma nova estratégia de comunicação política. Mas essa opção exige uma considerável ousadia porque implica meter-se num ambiente informativo com regras e procedimentos bem diferentes dos usados habitualmente pelos altos escalões do governo.
Uma aposta nas redes sociais virtuais permitiria ao governo prescindir da imprensa como mediadora na relação com os cidadãos. Mas para tentar essa estratégia, a presidente teria que abrir mão da busca da tal governabilidade e da barganha de ministérios com partidos políticos. Poderia governar como pediam os participantes dos protestos de rua, em junho. Seria uma jogada de altíssimo risco.
Os desafetos da presidente não têm muita intimidade com o uso dos mecanismos digitais. Deputados federais, senadores, magistrados e até mesmo a imprensa preferem os métodos tradicionais de comunicação, embora eles se distanciem cada vez mais das ferramentas virtuais adotadas pelos jovens que saíram às ruas para exigir um país diferente.
Os riscos da opção estratégica pelas redes sociais são consideráveis. Primeiro, porque o governo teria que conviver com um forte criticismo de um segmento importante da blogosfera. A internet é muito mais transparente que a imprensa convencional e isso faz com que o debate político siga caminhos bem diferentes dos usuais. A convivência com xingamentos e acusações passa a ser uma necessidade porque o objetivo é o conjunto das opiniões e não a de um indivíduo isolado.
Nem pensar em controlar os comentários porque isso seria imediatamente associado à censura, o que anula qualquer eventual efeito positivo da presença online do governo federal. Além disso, uma estratégia online do Planalto exigiria uma profunda reciclagem comunicacional da cúpula do governo, que é tão conservadora em relação à internet quanto a oposição.
A aposta é arriscadíssima, mas a presidente está na posição de se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.
http://observatoriodaimprensa.com.br/posts/view/o_cerco_informativo_ao_governo_dilma
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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
Credibilidade de blogueiro tem preço
15/01/2013 - O preço da credibilidade nos blogs de jornais
- Por Carlos Castilho - Observatório da Imprensa
A maioria dos jornais adotou em massa a solução dos blogs autorais como forma de personalizar conteúdos informativos a baixo custo, mas agora os editores começam a ter dores de cabeça com a cobrança de rigor jornalístico por parte de leitores.
Este é o teor do desabafo do ombudsman do The Washington Post, Patrick Pexton, que constatou ser impotente a corrida dos autores de blogs em agir rápido para manter a fidelidade dos leitores, ao mesmo tempo em que as redações e os leitores cobram precisão, objetividade, isenção e ineditismo com base no patrimônio editorial da revista ou jornal.
Trata-se de um conflito de duas lógicas e que dificilmente será resolvido com base apenas nas normas vigentes nas redações.
Os blogs têm uma dinâmica, um formato e um objetivo diferentes dos de uma reportagem, notícia ou comentário impressos. A grande maioria dos blogs é um produto individual, enquanto o material de um jornal, revista, ou telejornal é resultante de um trabalho coletivo.
Os blogs precisam ter uma alta rotatividade de textos para manter a fidelidade de seus leitores porque espaços muito grandes entre uma atualização e outra abrem a possibilidade de que o usuário seja atraído por outro blog.
A narrativa dos blogs também é muito mais informal e coloquial do que de uma notícia de jornal. Idealmente, eles seriam conversas entre o autor e os leitores, ao contrário dos textos impressos, que funcionam mais como comunicados.
Finalmente temos a questão do objetivo, pois os blogs vivem mais da informação segmentada e do comentário opinativo do que de uma pauta geral e ampla, como a de um jornal diário.
Essas diferenças fazem com que não seja possível avaliar um blog com a mesma régua usada pelos leitores para medir as informações de um jornal.
Mas a cultura predominante na audiência da imprensa escrita e dos veículos audiovisuais ainda é a do século 20.
Daí a cobrança de uma exatidão, isenção e credibilidades impossíveis de serem alcançadas pelos blogs.
Os blogueiros são hoje uma solução e um problema para a maioria dos jornais.
Solução porque permitem diversificar, dinamizar e personalizar o cardápio informativo do veículo.
Um problema porque nem o autor e nem a redação conseguem conferir no detalhe todas as informações publicadas no blog, quando ele está hospedado num jornal ou revista.
O próprio ombusdman do The Washington Post reconhece que a checagem detalhada das informações inseridas num blog obrigaria o seu autor a publicar em média um texto a cada 15 dias, o que segundo os entendidos é a rota mais curta para a perda de leitores.
Assim, a convivência com o erro é inevitável e só pode ser tolerada se for entendida pelos leitores como um esforço para chegar à credibilidade e não como a expressão acabada da verdade.
Os leitores não terão outra alternativa senão desenvolver as suas próprias técnicas de leitura crítica para poder comparar blogs e identificar seus erros ou deficiências.
Implica uma atitude mais ativa do que o comportamento passivo imposto pela impossibilidade de interagir mais intensa e rapidamente com as redações convencionais.
As redações, por seu lado, estão descobrindo na prática como é difícil, quase impossível, manter o férreo controle do produto editorial de um veículo impresso ou audiovisual.
Quando as redações eram grandes, o controle ainda era possível, mas com a crise elas foram reduzidas quase “ao osso”, justo no momento em que a oferta informativa passou a crescer freneticamente.
A solução do dilema entre a rapidez e a exatidão só pode ser alcançada se o conteúdo de blogs e jornais for avaliado em seu contexto especifico, levando em conta as exigências comuns de credibilidade, exatidão, relevância e pertinência.
Não se trata de ser mais tolerante com os erros de blogueiros, porque em matéria de credibilidade o leitor tem toda a razão ao exigir tolerância zero. Mas também não adianta cobrar o impossível.
Uma possibilidade é ver os blogs como algo parcial, fluido, incompleto e diverso.
Um insumo para análise e reflexão mais do que um padrão a ser seguido. Ver os blogs como um conjunto, onde as partes podem ser contraditórias e conflitantes.
Avaliá-los como se fossem intervenções num debate público em que cada leitor tira depois as suas conclusões pessoais.
Fonte:
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/posts/view/o_preco_da_credibilidade_nos_blogs_de_jornais
Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade e, excetuando uma ou outra, inexistem no texto original.
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