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sábado, 7 de setembro de 2013

A 'anti-CNN' russa na guerra das imagens


"A terceira guerra já começou e a maior arma é a informação", dizia Agusto Boal. Esta matéria ilustra bem esta frase.( nota da editora do Blog).

Por Benjamin Bidder em 03/09/2013 na edição 762 - Observatório da Imprensa

Reproduzido do Estado de S.Paulo, 1/9/2013, tradução de Celso Paciornik
   
O programa político noturno com frequência começa com uma mistura de caos e notícias sensacionalistas. Abby Martin, a apresentadora americana que trabalha para o Kremlin, com os lábios ligeiramente separados, está aplicando um batom vermelho, que combina com seu casaco preto, saltos altos e tatuagem no tornozelo. Em seguida, ela brande um malho e destrói um aparelho de TV sintonizado na ‘CNN’, o modelo americano e nêmese de sua empregadora, a rede de TV internacional por satélite ‘Russia Today’.

Esta abertura espetacular tem, ao que parece, a intenção de ilustrar principalmente uma coisa: que a Rússia é agressiva e informada – e parece estar bem no processo.

Há uma foto de Edward Snowden, o informante que os Estados Unidos querem levar para casa para enfrentar acusações, projetada na parede do estúdio. Depois vem uma reportagem sobre o campo de detenção de Guantánamo, que tem ferido a reputação dos Estados Unidos. A Russia Today usa incansável e abundantemente o material de fonte que os EUA fornecem a seus rivais.

Nem os pecadilhos relativamente menores de Washington passam despercebidos. Por exemplo, o programa também inclui uma matéria sobre o ditador do Gabão, Ali Bongo Ondimba, que é apoiado pelo presidente americano Barack Obama.

Há muita gente no Ocidente interessada também em ver uma cobertura crítica à autoproclamada maior potência mundial. A Russia Today já é mais bem-sucedida do que outras estações de TV estrangeiras disponíveis em importantes cidades americanas, como San Francisco, Chicago e Nova York.

Em Washington, 13 vezes mais pessoas veem o programa russo do que as que sintonizam a Deutsche Welle, a estação internacional pública da Alemanha. Dois milhões de britânicos assistem regularmente ao canal do Kremlin. Sua presença online também é mais bem-sucedida do que a de todos seus competidores. E tem mais. Em junho, a Russia Today quebrou um recorde no YouTube ao ser a primeira estação de televisão a receber um bilhão de vistas de seus vídeos.

Estrela

A estação ficou ainda mais triunfal quando contratou Larry King, uma lenda do jornalismo americano de rádio e televisão, que começou a trabalhar na Russia Today neste verão russo. Antes disso, King foi o rosto da CNN por 25 anos. Seus suspensórios são ainda mais chocantes que o provocador batom de Abby Martin. “O melhor entrevistador de TV da América está desertando para os russos”, escreveu o jornal Times, de Londres, em maio.

King e seus novos colegas têm uma missão simples: eles devem “quebrar o monopólio da mídia de massa anglo-saxônica”, disse o presidente Vladimir Putin durante uma visita ao estúdio algumas semanas atrás. A receita de sucesso dos russos tem três ingredientes: sex appeal, que tem sido atípico na maioria dos canais noticiosos; uma postura rigidamente antiamericana; e um fluxo interminável de dinheiro do Kremlin.

Desde 2005, o governo russo aumentou em mais de dez vezes o orçamento anual do canal, de US$ 30 milhões para mais de US$ 300 milhões. O orçamento da Russia Today cobre os salários de 2,5 mil empregados e contratados em todo o mundo, 100 deles apenas em Washington. E o canal não teme cortes orçamentários agora que Putin emitiu um decreto proibindo seu ministro das Finanças de tomar medidas neste sentido.

A liderança de Moscou vê os recursos que entram no canal como dinheiro “bem investido”, diz Natalya Timakova, a assessora de imprensa do primeiro-ministro russo, Dmitry Medvedev. O governo também gastou muito dinheiro no centro de transmissão na zona nordeste de Moscou, para o qual a Russia Today se mudou em maio. A estação, citando requisitos de confidencialidade, não está disposta a informar o preço exato. Nos terrenos de uma antiga fábrica de chá soviética, a emissora está criando agora programação em árabe, inglês e espanhol.

A Russia Today se vê como uma defensora de um público global crítico do Ocidente. Mas também se propõe a amplificar as dúvidas próprias de europeus e americanos que foram obrigados pelos acontecimentos recentes a se perguntar se seus próprios países – como a Rússia e a China – são corruptos e controlados por um aparelho de inteligência invasivo.

De qualquer modo, a estação tem uma rara bossa para a propaganda. A idade média dos editores é inferior a 30 anos e quase todos falam inglês fluente. Para apimentar as notícias, os diretores às vezes usam efeitos especiais estilo Hollywood, como jatos israelenses que fazem uma pirueta virtual pelo estúdio antes de largarem suas bombas sobre um mapa da Síria.

Arma

Margarita Simonyan é a mulher que transformou a Russia Today na arma mais eficaz na batalha por influenciar as opiniões do público global. Em seu escritório no oitavo andar de sua sede em Moscou, a editora-chefe tem ícones da Igreja Ortodoxa sobre a sua escrivaninha e uma dezena de telas cintilando ao seu redor. Putin colocou Margarita à testa da estação noticiosa em 2005. Na época, ela tinha apenas 25 anos e era criticada como uma repórter desconhecida pelo enxame de jornalistas que acompanha o presidente em reuniões.

A missão de Margarita é evitar que a Rússia perca uma imagem de guerra como a que perdeu em agosto de 2008. Na ocasião, tanques russos avançavam pelo sul do Cáucaso, parando somente às portas de Tbilisi, a capital do pequeno país da Geórgia. O jovem presidente georgiano na época, Mikhail Saakashvili – eloquente e educado nos Estados Unidos –, apareceu em todos os canais para condenar a Rússia como agressora, apesar de ele mesmo ter provocado a guerra ao ter sido o primeiro a ordenar a invasão da república separatista da Ossétia do Sul, que mantém laços estreitos com a Rússia.

A CNN mostrou imagens de edifícios destruídos, alegadamente tiradas após um bombardeio russo da cidade provincial georgiana de Gori. Segundo a Russia Today, porém, os disparos tinham sido feitos da capital da Ossétia do Sul, Tskhinvali, após um ataque georgiano. “Não há nenhuma objetividade”, diz Margarita, “somente aproximações da verdade pelo máximo de vozes diferentes”.

Perda

A desconfiança da mídia doméstica é também maior do que nunca nos Estados Unidos. A CNN, por exemplo, enfrenta uma perda maciça de espectadores. E políticos americanos às vezes tornam particularmente fácil aos russos lançarem seus ataques. Quando um avião transportando o presidente boliviano Evo Morales foi obrigado a pousar em Viena porque agências de inteligência americanas acreditavam que Snowden estava a bordo, Abby Martin expressou o que muitos estavam pensando: “Quem diabos Obama pensa que é?”

Ao mesmo tempo, a Russia Today também usa uma mistura caótica de teorias da conspiração e propaganda bruta. No programa The Truthseeker, o ataque na Maratona de Boston, em que dois chechenos mataram três pessoas com bombas, em abril, foi transformado numa conspiração do governo americano.

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Benjamin Bidder, do Der Spiegel

Fonte:http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed762_a_anti_cnn_russa_na_guerra_das_imagens

Leia também: http://noticias.terra.com.br/mundo/oriente-medio/,b214489e9a3f0410VgnCLD2000000dc6eb0aRCRD.html

http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013/05/1273903-rebeldes-sirios-usaram-armas-quimicas-afirma-inspetora-da-onu.shtml


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Brasil que não se vê na TV

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012 - Laurindo Lalo Leal Filho, Revista do Brasil 
postado no blog do Miro

O Brasil que se vê na TV está restrito ao Rio e à São Paulo, salvo raras exceções. Exibem-se nas novelas e nos telejornais, lindas paisagens e graves problemas urbanos dessas metrópoles para todo o país.

Fico a me perguntar o que interessa ao morador de Belém o congestionamento da Marginal do Tietê, exaustivamente mostrado pelas redes nacionais de TV? Não haveria fatos locais muito mais importantes para a vida dos telespectadores do Pará do que as mazelas da capital paulista?

No entanto, o conteúdo que vai ao ar não é determinado pelos interesses ou necessidades do telespectador e sim pela lógica comercial. Para o empresário de TV local é mais barato e mais lucrativo reproduzir o que a rede nacional de televisão transmite, inserindo alguns comerciais da região, do que contratar profissionais para produzir seus próprios programas.

Para as grandes redes trata-se de uma economia de escala: com um custo fixo de produção, o lucro cresce à medida em que os anúncios são veiculados num número crescente de cidades.

Isso ocorre porque como qualquer outra atividade comercial a lógica do capital é a da concentração, regra da qual a televisão, movida pela propaganda, não escapa. Só que a TV não é, ou não deveria ser, apenas um negócio como outro qualquer.

Por transmitir valores, idéias, concepções de mundo e de vida, ela é também um bem cultural e não uma simples mercadoria. Dai a necessidade de ser regulamentada e ter os seus serviços acompanhados de perto pela sociedade.

Como concessões públicas, as emissoras têm obrigação de prestar esses serviços de maneira satisfatória, atendendo às necessidades básicas de informação e entretenimento a que todos tem direito. Caso contrário, caberiam reclamações, processos e punições, como ocorre em quase todas as grandes democracias do mundo.

Aqui, além de não existirem órgãos reguladores capazes receber as demandas do público e dar a elas os devidos encaminhamentos, não temos uma legislação capaz de sustentar esse processo. Por aqui vale tudo.

E quem perde é a sociedade, empobrecida culturalmente por uma televisão que a trata com desprezo. Diretores de emissoras chegam a dizer, preconceituosamente, que “dão ao povo o que o povo quer”.

Um caso emblemático da falta que faz essa legislação é o da produção e veiculação de programas regionais. Se o mercado concentra a atividade televisiva no eixo Rio-São Paulo, cabe a lei desconcentrá-lo, como determina artigo 221 da Constituição, até hoje não regulamentado.

Sua tramitação é seguidamente bloqueada no Congresso por parlamentares que representam os interesses dos donos das emissoras de TV.

Em 1991 a então deputada Jandira Feghali apresentou um projeto de lei estabelecendo percentuais de exibição obrigatórios para produção regional de TV no Brasil. Doze anos depois, em 2003, após várias concessões feitas para atender aos interesses dos empresários, o texto foi aprovado na Câmara e seguiu para o Senado, onde dorme um sono esplendido até hoje.

São mais de vinte anos perdidos não apenas para o telespectador, impossibilitado de ver o que ocorre na sua cidade e região. Perdemos também a oportunidade de abrir novos mercados de trabalho para produtores, jornalistas, diretores, atores e tantos outros profissionais obrigados a deixar suas cidades em busca de oportunidades limitadas nos grandes centros.

Mas se os interesses empresariais das emissoras bloqueiam esse florescimento artístico e cultural, as novas tecnologias estão abrindo brechas nessas barreiras. O barateamento e a diminuição dos equipamentos de captação de imagens impulsionaram o vídeo popular e a internet vem sendo um canal excelente de divulgação desses trabalhos.

Combina-se a vontade e a capacidade de fazer televisão fora das emissoras tradicionais com a necessidade do público de acompanhar aquilo que acontece perto de sua casa ou de sua cidade.

O que não descarta a necessidade da existência de programação regional nas grandes emissoras, como forma de tornar o Brasil um pouco mais conhecido pelos próprios brasileiros.