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domingo, 22 de setembro de 2013

Investigador da ONU trabalha para Israel e OTAN

19/09/2013 - Relatório Sellstrom, distribuído pela ONU: Investigador da ONU trabalha para Israel e OTAN
- 18/9/2013, Yoichi Shimatsu [*], Global Research [1]
- Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Ake Sellstrom entrega Relatório a Ban Ki-Moon sobre armas químicas na Síria em 17/9/2013

Em vez de assegurar investigação não politizada e análises laboratoriais, a investigação pela ONU sobre ataques denunciados na Síria, por gás venenoso, foi dirigida pelo professor Ake Sellstrom, homem cercado de mistérios, cujos relacionamentos políticos e militares são envoltos num denso véu de sigilos.

O Relatório sobre a Síria para a ONU e, antes, os relatórios sobre inspeções feitas na Síria são ambos duvidosos, para dizer o mínimo. Aos olhos dos leigos, sua aparente objetividade e a aparente isenção baseiam-se no mito da neutralidade da Suécia. A opinião pública assume – erradamente – que a Suécia jamais tomaria partido em guerras e nos conflitos geopolíticos.

A fraude da neutralidade
O verniz apenas cosmético da neutralidade sueca já foi outras vezes habilmente explorado por Israel e pela OTAN para perpetrar falsidades, servindo-se para isso do trabalho de Sellstrom na ONU, inclusive para negar as causas químicas e biológicas da “Síndrome da Guerra do Golfo” e os embarques de armas químicas fornecidas pelos EUA ao governo de Saddam Hussein.

No Iraque, as equipes de inspetores de Hans Blix [foto] e Ake Sellstrom não investigaram os bunkers de armas especiais que foram bombardeados por aviões norte-americanos na invasão.

Sellstrom jamais fez qualquer tentativa de examinar as embalagens de mais de um metro de altura, fabricação norte-americana, do gás VX de efeito neurológico que foram encontradas na Base Aérea de Balad por soldados da American National Guard.

A missão de Sellstrom não era provar a culpa do Irã, mas livrar Washington do crime de ter fornecido gás de destruição em massa a Bagdá. Salvar da desgraça funcionários do governo dos EUA como Donald Rumsfeld, que seria acusado de traição, é muito mais importante para o poder imperial que descobrir fatos num teatro de guerra.

A crítica mais radical das investigações da ONU no Iraque foi feita por um investigador norte-americano, Scott Ritter, que acusou a equipe de ter espionado a favor de Washington e da OTAN.

A mesma dúvida surge hoje, sobre o relatório Sellstrom sobre a Síria. Sellstrom trabalhou para Washington e Telavive?

Homem de frente da OTAN
O que se divulga publicamente sobre Sellstrom é que trabalha como bioquímico chefe do Centro Europeu CBRNE, na Umea University no norte da Suécia, patrocinado pelo Ministério da Defesa da Suécia (FOI).

Embora o país não seja membro da OTAN, os militares e a polícia sueca têm papel importante nos negócios de segurança europeia, e são os autores do projeto de ação repressiva de 2009 da União Europeia, baseado no Programa de Contraterrorismo de Estocolmo.

Praticamente todo o dinheiro que mantém os projetos de pesquisas interdisciplinares do CBRNE vem do orçamento da União Europeia para guerra ao terror.

Esses projetos incluem: defesa estratégica para ataques terroristas de grande escala (o relatório recém divulgado sobre a Síria usa inacuradamente a expressão “relativamente grande escala”); recomendações à União Europeia para resposta médica de emergência; e treinamento especializado para os especialistas na Umea University, inclusive para oficiais militares ligados à OTAN.

O complexo militar sueco, que inclui Saab e Bofors, é qualquer coisa, menos pacifista ou neutro. A imagem de neutralidade que o reino oferece é útil, sobretudo a Israel, que já explorou a imagem de limpeza da Escandinávia, quando se tratou de montar uma política para palestinos e estados árabes, como se comprovou nos Acordos de Oslo.

A Umea University mantém vínculos profundos de pesquisa com o Instituto Israel de Tecnologia (Technion) [vista aérea, acima], a universidade com sede em Haifa que produz tecnologia de ponta para o exército israelense e suas agências de inteligência.

Vários departamentos, envolvidos em pesquisas conjuntas com especialistas de Israel, participam de estudos multidisciplinares no Centro CBRNE de Sellstrom, dentre os quais, o departamento de computação, que coopera com o Technion israaelense no setor de sistemas de controle desde 2004; a faculdade de Medicina; e no campo da química, área de estudos do próprio Sellstrom.

A pesquisa em cooperação sueco-israelense é ativamente estimulada pela Real Academia Sueca de Ciências, que oferece bolsas e prêmios para aproximar as indústrias e as universidades dos dois países.

Esse ano, o Estado de Israel está patrocinando o programa Start Tel Aviv de expansão de laços culturais, numa incansável campanha para subverter a Escandinávia.

A agenda fortemente política e os laços militares por trás da cooperação bilateral já foram causa de uma ação de boicote anti-Israel, entre os professores e acadêmicos suecos.

Nenhuma credibilidade na questão síria
A expressão “relativamente grande escala” que aparece na introdução do relatório da ONU sobre a Síria é erro e exagero, porque qualquer ataque um pouco maior com gás sarin teria resultado em dezenas de milhares de mortos, sobretudo se o gás tivesse sido dispersado por foguetes militares.

Os primeiros vídeos de Ghouta mostravam moradores saindo das casas para a rua, ofegantes, à procura de ar limpo. Se tivessem sido usados foguetes eficientes, todos eles, sem exceção, teriam morrido na rua, instantaneamente. A liberação do gás, portanto, aconteceu em ambiente fechado e tem de ter sido acidental, mais provavelmente num arsenal secreto de grupos rebeldes.

Resíduos químicos de supostos foguetes teriam sido oxidados pelo calor do impacto e com absoluta certeza não restaria nenhum traço detectável de organofosfato, porque o sarín decompõe-se quimicamente em 20 minutos.

Os foguetes são desenhados com um sistema binário, pelo qual dois precursores químicos misturam no ar, no momento da dispersão. Portanto, não há necessidade de estabilizadores ou de dispersantes, o que implica que não restam vestígios químicos identificáveis.

Os inspetores da ONU chegaram muito depois de expirado o prazo para testar amostras. E é também possível que o local e os pedaços de foguete tenham sido mascarados com sinais falsificados pelos rebeldes e seus conselheiros militares estrangeiros.

Não é possível conhecer o número exato de mortos, e com certeza não se veem nos vídeos mais que uma dúzia de cadáveres em cada imagem. As cenas com crianças são clássicas na propaganda de guerra e não são críveis, se só se veem poucos rostos. O efeito somatório daquelas imagens é mais próximo da teatralização que da reportagem confiável.

A estratégia de Sellstrom, como tudo indica, é apontar o dedo acusatório contra o regime sírio, ao mesmo tempo em que fecha a possibilidade de cenários alternativos e, de fato, mais prováveis.

Agenda Oculta
A embaixadora dos EUA à ONU, Samantha Power [foto], fez questão de esclarecer com muita ênfase, que “o gás de efeito neurológico usado na Síria era mais concentrado que o gás de efeito neurológico no Iraque”.

A declaração dela, corretamente redigida é: “Saddan pode até ter transferido para a Síria o gás letal que os EUA lhe forneceram, mas não foi o nosso gás letal que matou civis sírios”.

O ponto crucial do Relatório Sellstrom é: salvar Washington do crime de ter sido o principal fornecedor de precursores do gás letal, das fórmulas, dos sistemas da tecnologia de emprego e armazenagem do gás letal para todo o Oriente Médio, incluindo Israel, Egito, Líbia, Iraque e, possivelmente, também para a Síria (durante a era de boa vontade de Clinton).

O relatório da ONU sobre armas químicas na Síria não tem os mínimos requisitos de credibilidade, também dado o currículo duvidoso do inspetor chefe, Ake Sellstrom, financeira e politicamente comprometido em todos os níveis.

É necessária uma missão técnica imparcial, de especialistas investigadores internacionais conhecidos e respeitados pela própria comunidade de especialistas, mas nem essa terá qualquer chance de fazer investigação confiável, enquanto Washington continuar a fornecer armas e apoio político aos insurgentes, inclusive à Al-Qaeda.


O objetivo geopolítico que se oculta por trás da cenografia orquestrada pela Casa Branca para a Síria é tirar de Damasco a sua já limitada capacidade de contenção contra as forças nucleares israelenses.

Gás de efeito neurológico não chega a ser resposta à altura de um ataque com ogivas nucleares, mas o objetivo de Israel parece ser a absoluta supremacia estratégica contra os estados árabes e o Irã.

Com o novo relatório da ONU sobre a Síria, Telavive está muitíssimo mais perto de conseguir deixar todos os seus vizinhos, além de divididos, também sem defesas.
_______________________

[*] Yoichi Shimatsu é jornalista especializado em ciências, que trabalha em Hong Kong e coordenou a equipe de jornalistas investigativos do jornal Japan Times Weekly. Foi consultor da revista Takarajima 30, na investigação sobre o ataque com gás sarin, no metrô de Tóquio, em 1995.

Nota dos tradutores 
[1] Este artigo foi dica de Pepe Escobar, pelo Facebook: “Até agora, a melhor matéria sobre o caso da inspeção da ONU na Síria. Shimatsu é jornalista de alta credibilidade. A hipótese mais aceitável, para ele, é que não houve foguete algum; que o mais provável é que tenha sido um acidente, num arsenal dos jihadistas; coincide com o que escreveu Dave Gavlak, que entrevistou moradores de Ghouta” (Pastebin)

Ver aqui:
- Sírios acusam a Arábia Saudita pelo fornecimento de armas químicas - por Dale Gavlak e Yahya Ababneh

Fonte:
http://redecastorphoto.blogspot.co.at/2013/09/relatorio-sellstrom-distribuido-pela.html?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed:+redecastorphoto+(redecastorphoto)

sábado, 21 de setembro de 2013

Breve história da guerra dos EUA contra a Síria

15/09/2013 - Uma breve história da guerra dos EUA contra a Síria: 2006-2014
- 14/9/2013, Blog Moon of Alabama, EUA
- Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

"O Congresso dos EUA desobedeceu ao AIPAC [American-Israel Public Affairs Committee] e ao lobby israelense."

"Foi a primeira vez que isso aconteceu, em 22 anos."

"A Síria reconquistou a própria independência."

"O mais provável é que, em 2014, Bashar al-Assad seja reeleito presidente da República Árabe Síria."

"A história síria o recordará para sempre, como governante civilizado e herói do seu povo."

"O povo dos EUA, pela primeira vez em décadas, conseguiu fazer parar uma guerra que o presidente desejava."

"Essa é vitória imensa e um precedente."

"Que todos os norte-americanos lembrem bem desses dias, quando aparecer outra guerra inventada, ou esse ou aquele país pequeno ou distante levantar-se."

"Os norte-americanos, nós, temos os meios para fazer parar qualquer guerra."

Mapa atualizado (até 22/8/2013) da guerra da Síria
(clique na imagem para aumentar)

Em 2006 os EUA estavam em guerra no Iraque. Muitas das forças inimigas contra as quais os EUA lutavam furiosamente chegavam ao Iraque através da 
Síria. No mesmo ano o Hezbollah derrotou Israel, que invadira o Líbano.

As forças armadas de Israel eram emboscadas cada vez que tentavam penetrar no Líbano, enquanto o Hezbollah [foto] usava foguetes contra as posições do exército israelense e nas cidades.

O Hezbollah recebia apoio e suporte da Síria e do Irã, que chegavam através da Síria. Os planos de longo prazo dos EUA e Irã, para manter a supremacia no Oriente Médio dependiam de interromper as vias de abastecimento para o Hezbollah.

Os países sunitas sectários do Golpe viram seus sunitas serem derrotados no Iraque e um governo xiita, apoiado pelo Irã, assumir no Iraque.

Todos esses países tinham motivos para tentar atacar a Síria. E também havia razões econômicas, que tornavam necessário derrubar uma Síria independente.

Um gasoduto, do Qatar à Turquia, competia com outro, do Irã à Síria. 

Grandes reservas de gás natural descobertas nas águas de Israel e Líbano, faziam aumentar muito a possibilidade de que também houvesse gás em águas nacionais sírias.

No final de 2006, os EUA começaram a financiar uma oposição externa ao partido Baath, que governava a Síria. 

Aqueles opositores eram na maioria exilados da Fraternidade Muçulmana expulsos da Síria depois que fracassaram várias tentativas de golpe de Estado, entre 1976 e 1982.

Em 2007, EUA, Israel e Arábia Saudita construíram um plano para “mudança de regime” na Síria. O objetivo do plano era destruir a aliança da resistência” entre o Hezbollah, Síria e Irã:

"Para minar o Irã, predominantemente xiita, o governo Bush decidiu, de fato, reconfigurar suas prioridades no Oriente Médio. No Líbano, o governo cooperara com o governo da Arábia Saudita, que é sunita, em operações clandestinas que visam a minar o Hezbollah, organização de xiitas apoiada pelo Irã."

"Os EUA também tomaram parte em operações clandestinas contra o Irã e seu aliado, a Síria. Resultado colateral dessas atividades foi provocar a radicalização de grupos sunitas extremistas, que têm uma visão militante do Islã e são hostis aos EUA e simpáticos à Al-Qaeda."

Em 2011, três anos de seca, provocada pelo aquecimento global e pela Turquia, que construiu barragens e gigantescos projetos de irrigação na região, haviam enfraquecido a economia síria.

Grandes populações, das áreas rurais mais pobres, perderam seus meios de sobrevivência e acorreram às cidades. Esses fatores criaram o terreno fértil a partir do qual lançar um golpe contra o estado sírio.

A parte que coube aos EUA naquele plano foi garantir cobertura “midiática” e o necessário “clima de opinião”, na opinião pública global, para viabilizar o golpe. Para isso, os EUA usaram as ferramentas que conhecem bem, de criar “revoluções coloridas”.

Jornalistas cidadãos” foram recrutados, treinados e armados com o necessário equipamento de vídeo e comunicações bem conhecidos da “mídia comercial” de propaganda, em todo o mundo. Outros foram treinados para organizar “manifestações civis pacíficas”.

Os sauditas [ao lado] encarregaram-se da parte mais tenebrosa do plano: financiaram e armaram grupos rebeldes, muitos deles associados à exilada Fraternidade Muçulmana, com a tarefa de instigar movimento mais amplo e atacar forças do estado sírio, além de atacarem também manifestantes civis pacíficos.

Uma manifestação local em Deraa, perto da fronteira da Jordânia, foi usada para iniciar o golpe. Manifestações começaram pacíficas, mas logo começaram os ataques à bala contra manifestantes e contra a polícia. Inevitavelmente, os dois lados escalaram.

Grupos armados pelos sauditas passaram a atirar consistentemente contra soldados do estado sírio.

Com colegas mortos e feridos, as forças do exército sírio retaliaram contra os manifestantes. Grupos de manifestantes armaram-se, eles também, para enfrentar o exército sírio.

Os “cidadãos jornalistas” entraram em cena, com propaganda de que só haveria vítimas entre os “manifestantes pacíficos” e jamais noticiaram o 
número de vítimas entre os soldados sírios.

As agências “ocidentais” de noticiário integraram-se ao esquema. Ativaram-se células já organizadas em outras cidades da Síria.

Mais uma vez, a expressão “manifestantes pacíficos” foi apresentada como cobertura para “uma terceira força”, como disse a comissão de investigação da Liga Árabe, que lutava contra as forças do governo sírio e também instigava os manifestantes a armarem-se.

O governo dos EUA ajudou com sua própria campanha de propaganda; por exemplo, quando mentiu sobre ataques da artilharia síria contra manifestantes – que não haviam acontecido.

Organizações para-governamentais norte-americanas, como  Avaaz, Anistia Internacional e Human Rights Watch, uniram-se à campanha contra o governo 
sírio.

E a ciberguerra, movida contra agências noticiosas sírias, suprimiu completamente o outro lado da história. Até hoje, a Agência Sírio-Árabe de Notícias [orig. Syrian Arab News Agency, sana.sy] continua expurgada dos resultados de procura no Google. [1] 

Rapidamente se tornou visível que a estratégia concebida para criar uma “revolução colorida” não funcionara.

O estado sírio mostrou-se mais capaz de resistir do que parecia. O presidente sírio Bashar al-Assad [foto] era mais respeitado e querido pelos sírios do que os instigadores do golpe haviam suposto.

E o presidente atendeu rapidamente várias das demandas dos manifestantes autênticos.

A Constituição síria for reformada, criaram-se novos partidos, houve eleições e as forças de segurança mais violentas e abusivas foram contidas, postas sob 
controle estrito. As grandes cidades, mesmo aquelas nas quais a maioria era de sunitas, não apoiaram e nem se uniram à violência crescente dos milicianos sectários.

As deserções do exército sírio e de quadros políticos foram poucas e sem importância. Durante algum tempo, até a economia conseguiu resultados bastante satisfatórios.

Os inimigos da Síria tiveram de aumentar o “envolvimento”.

Arábia Saudita e Qatar usaram todas as suas capacidades para recrutar jihadis de outros países dispostos a lutar na Síria.

A CIA, alimentada com dinheiro saudita, enviou para lá toneladas de armas e munição, recolhida de seus arsenais pelo mundo. Grupos terroristas foram criados, com treinamento e inteligência de combate.

E criou-se um grupo de exilados, para começar a ser apresentado ao mundo como futuro governo possível para a Síria. O governo sírio foi forçado a recolher-se, para preservar seus soldados.

Grandes porções da Síria rural foram tomadas pelos grupos terroristas. A 
população dessas áreas fugiu pelas fronteiras ou para as cidades maiores. 

Nas áreas urbanas onde os terroristas se acastelaram, tornou-se difícil 
desalojá-los sem causar vasto dano aos prédios e à infraestrutura. Mas o governo sírio, dessa vez, já sabia o que fazer.

Com a ajuda de aliados, unidades armadas do Irã, unidades armadas do Hezbollah foram retreinadas para guerra contra grupos terroristas insurgentes. 

E criaram-se unidades paramilitares locais, para reocupar as áreas das quais o exército já desalojara os terroristas. A Rússia cuidou de manter o suprimento de artigos necessários à sobrevivência dos civis e armamento para as forças do exército sírio.

Do lado dos instigadores do golpe as coisas começaram a dar errado.

Os Jihadis providenciados pela Arábia Saudita se mostraram combatentes eficientes, mas fanáticos religiosos, e não encontraram espaço no contexto 
social da Síria – de governo laico e sociedade multirreligiosa liberal inclusiva. 

Começaram os confrontos com a população e com combatentes locais pró-Assad. Ainda hoje chegaram notícias de luta violenta no nordeste da Síria, entre terroristas jihadistas e bandidos locais.

Questões sobre suprimentos de armas a serem recebidas da Líbia, entre os EUA e grupos da Al-Qaeda, mataram o embaixador dos EUA em Benghazi.

Apesar de ter sido “reformatado” pelo menos três vezes, o planejado grupo para um governo no exílio mostrou-se inefetivo, dadas as disputas internas entre os vários grupos entre si e entre seus patrocinadores.

A campanha de imprensa sobre “manifestantes pacíficos” começou a fazer água, à medida que mais e mais imagens e histórias emergiam, mostrando massacres cometidos pelos grupos golpistas, contra soldados sírios.

população nos países que inicialmente apoiara o que supunha ser um levante democrático mudou de opinião, e passou a opor-se a qualquer 
envolvimento naquele conflito.

Quando se tornou mais evidente que os golpistas não conseguiriam derrotar o exército sírio, o presidente Barack Obama dos EUA apareceu com sua linha vermelha” sobre o uso de armas químicas.

Foi como um convite aos golpistas, para que usassem armas químicas no cenário da guerra, para em seguida culpar o governo sírio.

Assim se criaria a necessidade, dado o que dissera o presidente, de os EUA intervirem militarmente, ao lado dos jihadistas terroristas. Tentaram fazer isso algumas vezes, mas Obama não deu sinal de disposição para usar a força.

Para tentar impedir que, no caso de os terroristas conseguirem tomar o governo sírio, eles assumissem o poder, os EUA alteraram o plano: agora, haveria terroristas moderados”, treinados pelos EUA, que assumiriam o controle dos combates, sobretudo em torno da capital Damasco.

Em meados de agosto de 2013, um grupo de 300 combatentes treinados pela CIA entraram na Síria pela Jordânia. (Hoje, o governo Obama está tentando alterar essa data).

A tarefa deles era ir até Damasco e assumir, eles mesmos, a luta contra o governo sírio. Foram impedidos. Pararam, sem conseguir avançar mais, a 
caminho de um subúrbio de Damasco. Sem o apoio aéreo dos EUA, como havia acontecido na Líbia, o uso de forças especiais treinadas pelos EUA revelou-se 
inútil. Foi ativado então o plano “linha vermelha”.

Locais dos ataques com gás em bairo de Damasco em 21/8/2013
(clique na imagem para visualizar)

Dia 21 de agosto, algum produto químico venenoso foi liberado no ar em alguns subúrbios de Damasco. Instantaneamente surgiram pelo canal YouTube enorme quantidade de vídeos em que se viam cadáveres enfileirados de supostas vítimas de ataque “químico” [abaixo].

Mas os vídeos não indicavam nenhum dos sintomas corretos de vítimas de exposição ao gás sarin, nem os atingidos que se via estavam recebendo os cuidados médicos de protocolo para o caso de ataque real com armas químicas. Tudo era falso.

A conclusão de que se tratava de falsa operação “armada” para inculpar o governo Assad correu o mundo.

Mas Obama ainda tentou convencer o mundo de que o governo sírio usara armas químicas, e insistiu em distribuir fiapos de evidências, mas, de 

fato, não exibiu qualquer prova. E convocou aliados para que se unissem a ele numa intervenção militar.

O Parlamento britânico votou e decidiu que não. O povo britânico, como o povo norte-americano já não tem estômago para mais guerras. [David Cameron, ao lado]

Obama viu-se preso num “ardil 22”: [2] podia ir à guerra sem consultar o Congresso; nesse caso, corria o risco de ser tirado da presidência por impeachment, de uma Câmara de Representantes muito hostil; ou pedia autorização ao Congresso para ir à guerra.

Em pouco tempo Obama desceu da posição de “faço a guerra sozinho[3] e pediu autorização ao Congresso.

O povo dos EUA já era amplamente contrário a mais uma guerra no Oriente Médio, e os militares também.

Pressionados pelos eleitores, e ante o fato de que não havia prova alguma do tal “massacre”, o Congresso negou a licença para matar que Obama lhe pedira.

O Congresso dos EUA desobedeceu ao AIPAC e ao lobby israelense. Foi a primeira vez que isso aconteceu, em 22 anos.

Obama tem agenda urgente a cuidar, no plano doméstico. Há o Obama-care, o orçamento, e disputa já iminente pelo teto da dívida. Depois de perder a guerra no Congresso, Obama não poderia, baseado só em pressupostos poderes presidenciais, ir à guerra. Os riscos eram altos demais: ou um 
impeachment imediato, ou status de pato manco até o final do mandato. O que fazer?

Foi quando o cavaleiro russo, Vladimir Putin [foto], acorreu em socorro de Obama.

Putin ofereceu um negócio: a Síria aceitaria entregar armas não convencionais; e os EUA aceitariam que o governo sírio e o presidente Assad permanecessem no poder.

Não é ideia nova: apareceu há um ano, em agosto de 2012, quando o ex-senador Richard Lugar propôs exatamente isso, em Moscou.

As armas químicas sírias são praticamente inúteis, no campo tático. Mas podem ser usadas contra centros de população israelenses – e têm, por isso, importante poder dissuasório e de contenção, contra a violência de Israel. Mas nas atuais circunstâncias converteram-se em risco a evitar. 

Ao mesmo tempo, os mísseis convencionais do Hezbollah já se comprovaram muito efetivos, como força de contenção; e não implicam os mesmos problemas associados às armas não convencionais.

A Síria pode, com segurança, entregar parte de seu armamento de contenção dissuasória. E confia que seus aliados Irã e Rússia providenciarão substitutos efetivos, se necessário.

Obama agarrou-se à boia que Putin lançou para ele.

Sabia que entrar abertamente em guerra contra oponente bem preparado e aliados significaria guerra longa e incerta. Metera-se em situação de perde-perde, mas agora voltava a ainda parecer vencedor.

Resgatou Israel de uma situação em que estava ameaçada por bombas de gás e ainda arranjou a alguma coisinha para fazer trotar seu cavalinho de batalha premiado – o desarmamento de armas de destruição em massa.

Hoje, os ministros de Relações Exteriores da Federação Russa e dos EUA assinaram umas “Linhas Gerais para a Eliminação das Armas Químicas Sírias” [orig. 
Framework for Elimination of Syrian Chemical Weaponsp].

Exige-se que, sendo possível, todas as armas químicas sírias estejam eliminadas até meados de 2014.

O documento nada diz sobre o futuro do governo Assad.

Mas a Rússia com certeza já providenciou para dar e obter as necessárias garantias.

Nem a Síria teria entregado suas armas sem negociação precisa e suficiente.

A Rússia, tanto quanto a Síria, sabe que Obama tem de manter a imagem, e ninguém falará sobre o real acordo firmado horas antes em Genebra. 

Agiram, aliás, como Nikita Khrushchev, que manteve silêncio sobre seu acordo com Kennedy, sobre a remoção dos mísseis nucleares norte-americanos da Turquia, depois da crise dos mísseis em Cuba.

À parte as garantias anunciadas, o cumprimento das garantias de desarmamento, que pode demorar um pouco mais do que foi acordado hoje, depende da sobrevivência do governo de Assad.

Derrubar Assad é assunto que, por hora, os russos proibiram.

Daqui em diante, Obama começará, aos poucos, a reduzir o apoio aos terroristas na Síria. Pressionará Israel, Arábia Saudita e Turquia para que 
façam o mesmo. Quanto mais rapidamente a Síria promover a eliminação das armas químicas, mais rapidamente Obama se recolherá.

A imprensa-empresa nos EUA rapidamente descobrirá a disputa pelo orçamento e o negócio da espionagem pela Agência de Segurança Nacional dos EUA, que voltarão às manchetes. E, aos poucos, a opinião pública dos EUA esquecerá que existe Síria.

A oposição síria não está gostando do acordo e não deseja que dê certo. O Conselho Militar Sírio fará o possível para que dê errado. Mas logo perceberá que ficou sem apoio político e sem dinheiro.

Enquanto isso, as forças locais do CMS combatem contra grupos aliados da al-Qaeda. É bem possível que alguns grupos locais anti-Assad rapidamente se aliem ao exército sírio, contra os terroristas jihadistas. O general Selim Idris talvez consiga algum emprego burocrático de baixo escalão em Dubai ou no Qatar.

                                     Rei Abdullah, da Arábia Saudita, o grande derrotado

O rei saudita [acima] odeia os ideólogos da al-Qaeda tanto quanto odeia a Fraternidade Muçulmana e todos os persas. Concordará em pôr fim à guerra e 
atacará o bolso dos que insistam em continuar a financiá-la.

O príncipe Bandar [ao lado], responsável por recrutar terroristas jihadistas, deu-se muito mal (outra vez) e não fez o que foi pago para fazer, porque disse que controlava, mas não controlava seus jihadistas alugados. Pode ser mandado de volta para o deserto bravio.

Os estados do Golfo seguirão (terão de seguir) o exemplo dos sauditas.

Em Israel, Netanyahoo já viu que, essa, ele perdeu. A derrota do AIPAC no Congresso já o informou disso. 

Embora esse round contra a Resistência não tenha sido decisivo, é verdade que grande parte da Síria foi destruída e que o arsenal estratégico sírio está, por hora, reduzido.

Netanyahoo também concordará com o plano dos EUA de reduzir os latidos pró-guerra, mas exigirá alguma “compensação” imerecida. É o que ele sempre faz, e Obama sempre cede.

O premiê turco Erdogan [foto] tentará continuar a apoiar os jihadistas na Síria. É o único estadista do planeta que o faz por razões ideológicas: Erdogan é crente fiel.

Mas tem também muitos problemas com outros vizinhos e a economia turca movida a empréstimos externos está à beira de precipício profundo.

Há sinais vindos da Rússia e do Irã, de que pode haver algumas dificuldades técnicas, motivadas pelo inverno, com os suprimentos de gás para a Turquia. Provavelmente bastarão para induzir Erdogan a jogar a toalha.

Há também gente dentro de seu próprio partido, sobretudo empresários da Anatólia, que já não o aceitam como líder. Podem usar a fraqueza política de Erdogan para trazer outro ator para o palco.

Sem apoio e sem qualquer possibilidade de vencer a luta, a parte síria da oposição que se armou provavelmente deporá armas e tentará algum acordo 
de anistia com o governo.

Os quadros estrangeiros da al-Qaeda continuarão a lutar. Mas têm mínima base ideológica de apoio entre a população síria; e não têm qualquer chance contra exército experiente e plenamente mecanizado. Haverá bloqueio contra seus financiadores.

Mas o terrorismo é duro de matar. É possível que, em breve, os EUA ajudem a Síria, com inteligência ou drones, a combatê-los.

Claramente, a Rússia é a grande vitoriosa estratégica na guerra à Síria. Está de volta ao cenário do Oriente Médio, em condições de aí permanecer por algum tempo.

Ganhou por larga margem de pontos, a batalha pela opinião pública global.

A Gazprom ficará feliz se puder ajudar a Síria na prospecção e na extração de gás de suas reservas oceânicas. Daí virão os fundos para reconstruir e rearmar a Síria.

A Gazprom pode também comprar gás do gasoduto Irã-Síria, vendê-lo à Europa e reforçar seu monopólio por ali.

O Irã reforçou seu papel estratégico e está hoje bem posicionado para negociar um bom entendimento com os EUA, que pode pôr fim a 30 anos de 
hostilidades quentes e frias. Investiu muito na Síria e mais gastará para ajudar a reconstruir o país, mas o resultado estratégico – vitória do 
eixo da Resistência” – vale bem o que custou.

A Síria e o povo sírio venceram a guerra e perderam muito.

Serão precisos muitos anos para reintegrar os refugiados, para reconstruir o país e esperar que cicatrizem feridas profundas.

Mas a Síria também reconquistou a própria independência. O mais provável é que, em 2014, Bashar al-Assad seja reeleito presidente da República Árabe Síria. A história síria o recordará para sempre, como governante civilizado e herói do seu povo.

O povo dos EUA, pela primeira vez em décadas, conseguiu fazer parar uma guerra que o presidente desejava. Essa é vitória imensa e um precedente.

Que todos os norte-americanos lembrem bem desses dias, quando aparecer outra guerra inventada, ou esse ou aquele país pequeno ou distante levantar-se. Os norte-americanos, nós, temos os meios para fazer parar qualquer guerra.

Notas dos tradutores:
[1] TALVEZ ISSO ACONTEÇA SÓ NOS EUA. No Brasil, encontra-se o que se vê em Syrian Free Press, acessada às 19h04, 14/9/2013; e encontramos facilmente a Agência SANA, acessada, às 19h03, 14/9/2013.

[2] Ardil 22 é título de um famoso romance-sátira da 2ª Guerra Mundial, lançado em 1961, depois, filme. O “ardil 22” é uma lei-armadilha pela qual os pilotos-personagens sempre
acabavam obrigados a voar em missões de guerra: "Você pode se declarar louco, para não ser mandado voar a missão que eles inventam. Mas se eles perceberem que você não quer voar a missão, prova-se que você não está louco, e eles mandam você voar a missão."

[3] 31/8/2013, Moon of Alabama em: “Syria: Obama’s Climb-down - Congress Vote On All Out War”

"Naquele momento, Obama só poderia ter uma de duas ideias na cabeça: ou
(a) ele não quer guerra e espera que o Congresso o salve daquela estúpida “linha vermelha”, armadilha que ele mesmo inventou para si próprio e que foi a causa real da operação clandestina, falsa, no subúrbio de Damasco; ou
(b) ele quer guerra e espera que o AIPAC, com seu descomunal lobby, ponha ordem no Congresso e lhe dê sua guerra, para benefício do sionismo universal."

Fonte:
http://redecastorphoto.blogspot.co.at/2013/09/uma-breve-historia-da-guerra-dos-eua.html

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Bashar al-Assad, da Síria, entrevistado pelo Rússia 24

15/09/2013 - Entrevista com o Presidente Bashar al-Assad da Síria em 13/9/2013, ao canal Rossiya-24 TV (vídeo em russo)
Entrevista traduzida da transcrição em inglês pelo pessoal da Vila Vudu

Vídeo em russo: canal TV Rússia 24:

Rossiya-24: Senhor presidente, obrigado por receber o canal Rossiya-24. Para começarmos com a pergunta mais importante: por que a Síria concordou com a iniciativa da Rússia de pôr armas químicas sob controle internacional, e por que se chegou tão rapidamente a esse acordo?

Presidente Bashar al-Assad: A Síria já apresentara essa proposta à ONU há mais de dez anos – para livrar a região do Oriente Médio de armas de destruição em massa, especificamente, porque essa é região caracterizada por instabilidades e guerras que, algumas, duraram anos. Tudo isso começou há séculos. 

Remover daqui todas as armas de destruição em massa teria impacto importante para estabilizar a região. Só os EUA opuseram-se à nossa proposta. 

Não gostamos de saber que há armas de destruição em massa no Oriente Médio. Sempre nos interessou mais a estabilidade e a paz na região. 

Esse é um lado. O outro lado da questão tem a ver com a situação atual. Não há como não ver que o estado sírio tem empreendido todos os esforços para impedir que nosso país e outros países da região sejamos arrastados para outra guerra insana, que alguns dos que pregam guerra nos EUA querem desencadear no Oriente Médio.

Até hoje, os sírios pagamos o preço por guerras que os EUA fizeram, por exemplo no Afeganistão – mesmo sendo país distante da Síria – ou no Iraque, que está aí, num país aqui bem próximo.

Minha opinião é que qualquer guerra contra a Síria afetará muito negativamente toda a região, com o Oriente Médio inteiro empurrado para décadas de instabilidade e de problemas. Haverá guerra até para as nossas futuras gerações. 

A terceira razão pela qual nos interessa a proposta que volta, agora, com os russos, e a mais importante, é a própria proposta. Não tivesse havido agora essa iniciativa, seria muito difícil para a Síria, só ela, obter o mesmo resultado e caminhar nessa direção.

Nossas relações com a Rússia são construídas a partir de mútua confiança, e essa confiança só cresceu durante a crise síria, nos últimos dois anos e meio. A Rússia confirmou que merece a confiança dos sírios, por suas ações. Mostrou que tem compreensão clara sobre o que está acontecendo em nossa região. A Rússia fez prova de que é confiável, provou que é governo sério, no qual se pode confiar. 

Por todas essas razões, a Síria aceitou assinar a Convenção para Proibição de Armas Químicas. 

Rossiya-24: O presidente dos EUA, Sr. Obama, e o secretário de Estado dos EUA, Kerry, creem que a Síria decidiu entregar suas armas químicas ao controle internacional exclusivamente porque foi ameaçada militarmente. O que lhe parece?

Presidente Bashar al-Assad: Se se pensa sobre os eventos e as ameaças dos EUA, que duraram semanas, vê-se que as ameaças nada tinham a ver com garantir que as armas químicas fossem bem guardadas. As ameaças não passaram de provocação. E a provocação começou quando foram usadas armas químicas num subúrbio de Damasco, Al-Ghouta. 

Aquela provocação foi organizada pelo governo dos EUA. Em outras palavras, ninguém ameaçou a Síria pensando em conseguir que nós entregássemos 
armas químicas. Nada disso é verdade. Só depois do encontro do G-20 na Rússia, os norte-americanos começaram a falar sobre a entrega das armas 
químicas à guarda internacional. Nós só começamos a considerar a possibilidade depois da iniciativa dos russos e das negociações relacionadas a isso que mantivemos com os russos. 

Quero sublinhar bem, mais uma vez, que, se não fosse por essa iniciativa dos russos, sequer discutiríamos a questão com o outro lado. Os norte-
americanos tentam agora uma espécie de golpe de propaganda. Kerry e o governo, inclusive Obama, sempre querem aparecer como vencedores, como se tivessem obtido alguma coisa com suas ameaças. Mas nada disso nos interessa, nem nos diz respeito. 

Rossiya-24: Ontem, surgiu a notícia de que a Rússia apresentou ao senhor um plano para a transferência das armas químicas para supervisão
internacional. Que mecanismos estão sendo considerados para esse processo?

Presidente Bashar al-Assad: A Síria entrará em contato com a ONU e a Organização para a Proibição de Armas Químicas nos próximos dias. Nesse processo há documentos técnicos, necessários para a assinatura do acordo. Depois começará o trabalho para a assinatura da Convenção das Armas Químicas. 

Essa Convenção inclui vários pontos. Um deles dispõe sobre a proibição de produzir armas químicas, armazenamento e uso. Depois, a Convenção passa 
a ter vigência. Pelo que sei até agora, a Convenção passará a ter vigência um mês depois de assinada. E a Síria começará a transmitir informações 
sobre suas armas químicas para aquela organização internacional. São processos padronizados. E nos pautaremos por eles. 

Mas é preciso que todos entendam bem o seguinte ponto: esses mecanismos não funcionam só para um lado. Nada disso implica que a Síria assina, 
preenche as condições estipuladas e está feito. Esse é um processo de duas mãos, que visa, em primeiro lugar, a que os EUA suspendam essa 
política de ameaçar a Síria. Depende também de até que ponto se implemente a proposta dos russos. 

Tão logo os sírios estejamos convencidos de que os EUA estão realmente interessados na estabilidade de nossa região, e suspendam as ameaças e as 
tentativas de atacar a Síria, quando cortarem o suprimento de armas para os terroristas, então, sim, entenderemos que podemos dar andamento aos 
processos até o fim, que o processo todo é efetivo e aceitável para a Síria. 

Todos esses mecanismos, como já disse, não são mecanismos a serem usados de um lado só. A Rússia tem papel muito importante a desempenhar nesse processo, porque não temos nem confiança nem conexões com os EUA. A Rússia é o único país que pode assumir esse papel. 

Rossiya-24: Consideremos a questão de implementar a iniciativa russa: que organização internacional interagirá com a estrutura da República Árabe Síria para assumir o controle das armas químicas? Essa não é uma situação padrão, que se vê todos os dias. 

Presidente Bashar al-Assad: Entendemos que a estrutura lógica apropriada para esse papel é a Organização para a Proibição de Armas Químicas, porque só ela reúne os especialistas nessa área e também monitora o cumprimento da Convenção para Armas Químicas em todos os países do mundo. 

Todos sabemos que Israel assinou a Convenção para Armas Químicas, mas ainda não a ratificou. A Síria exigirá e insistirá para que Israel afinal 
implemente a assinatura da Convenção. 

Quando a Síria, antes, apresentou um projeto para abolir as armas de destruição em massa no Oriente Médio, os EUA impediram a aprovação. Uma das razões pelas quais fizeram isso foi para permitir que Israel continuasse autorizado a possuir essas armas de destruição em massa. Se queremos 
realmente estabilizar o Oriente Médio, todos os países têm de aderir à Convenção. 

E o primeiro país que tem de aderir é Israel, porque Israel tem armas químicas, biológicas e nucleares, em termos gerais, Israel tem todos os 
tipos catalogados de armas de destruição em massa. É importante assegurar que nenhum país tenha essas armas. Só assim todos ficaremos protegidos 
contra guerras futuras, devastadoras e muito custosas – não só no Oriente Médio, mas em todo o mundo. 

Rossiya-24: A Síria põe suas armas químicas sob controle internacional. Mas já se sabe, com certeza absoluta, porque a inteligência russa já comprovou, que grupos terroristas rebeldes usaram armas químicas num subúrbio de Aleppo. Na sua opinião, o que terá de ser feito para proteger o povo sírio e de países vizinhos contra esses terroristas que já usaram armas químicas, pelo menos, com certeza, uma vez?

Presidente Bashar al-Assad: O incidente a que você se refere aconteceu em março passado, quando os moradores da região de Khan al-Assal, perto de Aleppo foram atacados por terroristas, com foguetes carregados com toxinas químicas. Houve dúzias de vítimas. Recorremos à ONU. Pedimos que a ONU enviasse especialistas para esclarecer esse incidente e determinar que grupo fora responsável por aquele ataque. Para nós, a situação é bem clara: foi trabalho de terroristas. 

Mas naquele momento, os EUA opuseram-se ao envio de especialistas da ONU à Síria. Consequentemente, trabalhamos com especialistas russos, que 
receberam todas as provas que havíamos reunido. Ficou fartamente provado que os terroristas que ainda operam no norte da Síria cometeram aquele 
ataque químico. 

Necessário agora é que a delegação de especialistas que estiveram na Síria até a semana passada, retornem e retomem as investigações. Terão de 
voltar à Síria, porque ficou acordado que voltariam, há esse acordo entre o governo sírio e aqueles especialistas. Esse acordo diz respeito a 
investigações ainda a fazer em várias províncias, principalmente em Khan al-Assal. 

É preciso examinar cuidadosamente tudo isso, para determinar, por exemplo, a composição química dos venenos usados e, a partir daí, as condições 
do solo onde as armas químicas foram usadas. Também é importante determinar de onde vieram aquelas substâncias químicas, como chegaram aos grupos terroristas. Os responsáveis têm de ser julgados. 

Rossiya-24: Senhor presidente, permita que lhe faça uma pergunta indispensável: é realista supor que se consiga realmente tomar todas as armas químicas que ainda estejam em mãos de grupos terroristas? 

Presidente Bashar al-Assad: Tudo depende de se saber que países, dos que mantêm relações com os terroristas, estão envolvidos na venda ou no contrabando das armas químicas. Todos os países dizem que não apoiam terroristas, mas sabemos, com certeza, que o ocidente lhes dá apoio 
logístico – embora digam que seriam coisas “não letais” ou, até, “ajuda humanitária”. 

De fato, já não há dúvidas de que o ocidente e alguns países da região – Turquia, Arábia Saudita, antes também o Qatar – mantêm contato direto 
com grupos terroristas, aos quais apoiam com todos os tipos de armas. Trabalhamos com a ideia de que um desses países forneceu armas químicas aos terroristas. Evidentemente, quem dava pode parar de dar.

Mas há também grupos terroristas que não ouvem nenhum dos lados. Esses grupos, quando têm acesso a armas e, portanto, à capacidade de destruir, não se acham obrigados a respeitar acordos, nem a obedecer a nada e ninguém, nem aos que lhes tenham dado dinheiro e aquelas armas. 

Rossiya-24: Alguns veículos nos EUA noticiaram que oficiais do Exército Sírio Árabe teriam pedido sua aprovação para usar armas químicas contra gangues da oposição armada. Dizem que o senhor negou a autorização, mas que apesar disso aqueles oficiais teriam usado armas químicas contra 
sírios, especialmente em Ghouta Leste. É verdade? Essas operações são possíveis na Síria?

Presidente Bashar al-Assad: Não passa de propaganda americana. Esse tipo de propaganda serve-se de todos os tipos de mentiras para justificar suas guerras. É conversa parecida com a de Colin Powell, no governo de George Bush Jr., para justificar a guerra contra o Iraque, há pouco menos de dez anos. Naquela ocasião, apresentaram o que diziam que seriam provas de que Saddam Hussein produzia armas de destruição em massa. Mais 
adiante se soube que era mentira. Hoje as mentiras mudaram um pouco, como essa que você acaba de mencionar.

A verdade é que conversa desse tipo jamais aconteceu, nem comigo nem com ninguém na Síria. Essas armas são administradas de modo centralizado em 
vários países e exércitos do mundo, sempre pelas forças armadas. Nenhum soldado raso, ou comandante de escalão inferior manuseia essas armas, nem 
forças terrestres, nem as unidades blindadas ou quaisquer outras. São um tipo especial de arma de uso restrito de Forças Especiais. Essa notícia é mentirosa e nem faz sequer sentido. Ninguém acreditaria numa história dessas. 

Rossiya-24: Recentemente apareceram no Congresso dos EUA o que para alguns seriam “provas convincentes” e “indubitáveis” – vídeos, que 
comprovariam que se usaram armas químicas no subúrbio de Damasco, em Ghouta, e que foram usadas pelo Exército Sírio. O que o senhor tem a dizer 
sobre essa versão americana? 

Presidente Bashar al-Assad: Não têm prova alguma, nem o Congresso, nem a imprensa, nem o povo, ninguém jamais viu ou mostrou prova alguma de coisa alguma. Nem nenhum outro país conseguiu exibir prova alguma, nem a Rússia, que participou do processo de negociação. Nada disso jamais aconteceu. São só palavras, sempre e só, mais propaganda norte-americana.

A mais elementar lógica, por outro lado, diz que ninguém usaria armas de destruição em massa a poucas centenas de metros de onde esteja o seu 
próprio exército. Ninguém usaria armas de destruição em massa em áreas densamente habitadas, sem causar centenas de milhares de vítimas.

Ninguém jamais usaria armas de destruição em massa no mesmo local e momento em que seus próprios soldados estão avançando em terra. Nada disso faz sentido. Agora, as lideranças políticas nos EUA meteram-se numa posição difícil. Mentiram de modo ainda menos convincente, até, do que as 
mentiras contadas pelo governo George Bush.

O governo anterior, nos EUA, mentiu muito, mas mentiu mentiras que, pelo menos num primeiro momento, tinham alguma chance de convencer pelo menos uma parte da opinião pública mundial. O atual governo dos EUA, com suas mentiras, não conseguiu convencer nem os seus próprios aliados. Nada do que disseram faz qualquer sentido. Não é lógico. É implausível.

Rossiya-24: Tenho de lhe fazer mais uma pergunta, porque diz respeito à segurança de toda a região. A imprensa russa noticiou recentemente que as gangues armadas de oposição ao seu governo planejam provavelmente outra provocação, que poderia envolver uso de armas químicas contra Israel, que seria desencadeada a partir de um território controlado pelo Exército Sírio. O que o senhor sabe sobre isso, como comandante-em-chefe? 

Presidente Bashar al-Assad: Já há confirmação de que grupos terroristas têm armas químicas, dado que até já as usaram na Síria, contra nossos soldados e civis. É claro que têm. Além disso, também sabemos que aquelas gangues terroristas e os que os controlam, sim, querem provocar um ataque aéreo dos norte-americanos. Já em ocasiões anteriores tentaram envolver Israel na crise síria. Não se pode excluir a possibilidade de que 
essa informação seja correta e que vise, outra vez, aos mesmos objetivos. 

Se há guerra numa região, o caos se expande. Mas, para que o caos se expanda, é essencial que os territórios sejam permeáveis às gangues 
terroristas, para que possam causar o máximo de dano e destruição. Esses são riscos reais, não são ameaças inventadas, porque, sim, os 
terroristas têm armas químicas, que recebem de outros países.

Rossiya-24: Obrigado por nos receber e responder nossas perguntas.

Fonte:
http://redecastorphoto.blogspot.co.at/2013/09/entrevista-com-o-presidente-bashar-al.html