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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

A Aliança do Pacífico e sua nova cúpula

13/02/2014 - A nova cúpula da Aliança do Pacífico
- Mauro Santayana em seu blog

(JB) - Se há uma coisa que muitas vezes, impressiona, em certos segmentos da elite e do empresariado nacional, é a facilidade com que se deixam pautar e manipular pela imprensa estrangeira – e seus replicantes locais – sem entender que por trás de tudo que não seja absolutamente factual, existem determinados interesses.

Esse é o caso, por exemplo, dos artigos e “análises” feitas pela mídia, a respeito da Aliança do Pacífico, que engloba o México, a Colômbia, o Peru e o Chile, e que reuniu-se há alguns dias, em Bogotá, proclamando retumbantemente o corte de 92% das tarifas no comércio entre seus sócios.

A AP está sendo apresentada, dentro e fora do Brasil, como o último prego no caixão do Mercosul, do ponto de vista econômico, e como a aliança que servirá de alternativa – principalmente, ideológica – para os diferentes mecanismos de integração – como a UNASUL e o Conselho de Defesa – que estão sendo promovidos pelo Brasil em nosso continente neste momento.

Em primeiro lugar, é preciso lembrar, Colômbia, Peru e Chile, longe de serem contra o Mercosul, são membros associados da organização – o México tem status de observador – e também da UNASUL e do CDS, o Conselho de Defesa Sul-Americano.

E o Chile, a partir da posse da presidente eleita Michelle Bachelet [foto], tende se reaproximar do Brasil e do próprio Mercosul. 

Acreditar que o Brasil vai perder para o México esses parceiros – com quem dividimos até projetos militares - é ignorar o fator geográfico, e esquecer que já dispomos de acesso facilitado a esses mercados, privilégio que não poderá ser alterado, sob pena de essas nações também terem seus produtos barrados no mercado brasileiro, o maior das Américas, depois dos Estados Unidos.    

Em segundo lugar é preciso relativizar a importância da AP, lembrando, por exemplo, que só o Brasil tem uma economia maior do que a de todos os seus membros reunidos.

E que o Mercosul, como um todo, com a recente inclusão da Venezuela, e um PIB total de 3.3 trilhões de dólares, representaria, se fosse uma nação, a quinta maior força econômica do mundo.

Por trás do mito da Aliança do Pacífico, existe a ilusão de um maior dinamismo da economia mexicana, o principal país do grupo – que cresceu no ano passado 1.2% - com relação à brasileira, a maior do Mercosul – que avançou  2.5% no mesmo período.

Existem mais coisas que definem o lugar que o Brasil e o México pretendem ocupar no mundo – e seus respectivos projetos de desenvolvimento – do que a mera geografia e o volume de exportações.

O México é um país totalmente integrado à América do Norte, e, nessa integração, ficou bom em terceirizar mão-de-obra barata, fabricar refrigerantes, cimento e pão de forma, e prestar serviços de telefonia.

O Brasil é um país integrado à América do Sul e ao BRICS, que privilegia o crescimento de seu  mercado interno, tem como principal parceiro comercial a China, e vende para todos os continentes do mundo.

Somos o mais avançado país em pesquisa agropecuária, extração de petróleo a milhares de metros de profundidade, em alto mar, a centenas de quilômetros da costa; em desenhar e fabricar aviões civis de passageiros de até 120 lugares. Produzimos mísseis navais e aéreos, foguetes de saturação, radares e mísseis de cruzeiro.

Dominamos o ciclo do enriquecimento do urânio, fabricamos e possuímos aceleradores de partículas (o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron está em funcionamento e vem aí o Sirius, com 165 metros de diâmetro e 650 milhões de reais de investimentos), e estamos aprendendo a fazer submarinos nucleares, aviões de caça supersônicos e sistemas de transporte a levitação magnética (o Cobra-Maglev da Coppe), por exemplo.

Na internet, alguns mexicanos gostam de apresentar – ao contrário de nós mesmos, que não nos arriscamos a fazer o mesmo - como “mexicana” uma suposta superioridade em manufatura com relação ao resto da América Latina, que se desmente pelos seguintes fatos:

- A quase totalidade das fábricas instaladas no México são de outros países – não existe uma única marca mexicana de automóveis ou de bens de consumo avançados.

- O comércio exterior do México, embora volumoso, é tradicionalmente deficitário.

- A pesquisa e a engenharia de caráter industrial são majoritariamente desenvolvidas em outras regiões do mundo.

- Se não fossem os baixos salários e o mercado dos Estados Unidos do outro lado da fronteira, os mexicanos sequer teriam a sombra do parque “industrial” que possuem.  

E não seriam um país exportador, considerando-se que 90% do que fabricam, tem como destino o TLCA - NAFTA (Canadá e Estados Unidos).

Trata-se, portanto, de condições, que não seria possível repetirmos aqui mesmo se quiséssemos - o que não é o caso - ou  se viajássemos para a fronteira de Tijuana e regredíssemos de volta no tempo.

Mesmo quando se considera a indústria automobilística, paradigma de uma suposta superioridade industrial mexicana com relação ao Brasil, até mesmo pesquisadores daquele país se recusam a endossar isso.

Esse é, por exemplo, o caso do estudo “Industria Automotriz en México y Brasil: Una comparación de resultados después  de la crisis de 2008”, da Dra. Lourdes Alvarez Medina, da UNAM – a maior universidade do México, que conclui seu texto da seguinte forma:

Respecto a las características de cada industria se observa que México no ha desarrollado marcas propias, importa una gran cantidad de autopartes y componentes y no ha diversificado sus exportaciones ni tiene procesos de innovación importantes. Depende completamente del mercado de los Estados Unidos y ha descuidado su mercado interno.

Brasil por su parte tiene algunos productores locales de autobuses y chasis, tiene una cadena productiva mejor conformada y en algunos modelos tiene contenido local hasta de 90% y sus exportaciones automotrices están muy diversificadas y su mercado interno creció en tiempo de crisis. Además, los autos manufacturados en Brasil consumen gasolina y etanol en diferentes proporciones lo que le da a la flota vehicular brasileña cierta independencia del petróleo.

Com todo o respeito pelo sofrido passado do México, que perdeu metade de seu território para os EUA, e pelo povo mexicano, sua arte, cultura milenar e literatura, se me perguntassem, principalmente, hoje, se preferiria estar no lugar do México ou do Brasil, ficaria – ao contrário do que muita gente pensa por aqui - na condição em que estamos.


Considerando-se nosso território, população, economia, capacidade de cooperação e articulação, dimensão e projeção geopolítica, ainda é preferível ser o principal país da América do Sul, do que um mero apêndice  norte-americano.

Fonte:
http://www.maurosantayana.com/2014/02/a-nova-cupula-da-alianca-do-pacifico.html

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, pois inexistem no texto original.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

O México do Nafta, da pobreza e dos baixos salários

07/01/2014- Nafta trouxe pobreza e baixos salários ao México
-Miguel do Rosário - Tijolaço

Começamos o dia com uma reportagem de ontem [06/01/2014] do Valor, que é de arrepiar os cabelos.

Não teve destaque no próprio Valor, nem terá em nenhuma outra mídia.

Foi feita, naturalmente, por repórter estrangeiro, Mark Stevenson, da Associated Press, pois duvido que algum barão da mídia permitisse que um jornalista brasileiro fosse tão ousado.

A reportagem diz, em suma, que a Nafta, o acordo comercial entre México e EUA (que inclui o Canadá também), que derrubou uma série de barreiras comerciais e trabalhistas entre os dois países, não trouxe contribuição social relevante ao México.

Ao contrário, a situação piorou. Confira os trechos abaixo:

“(…) o México é o único dos grandes países latino-americanos em que a pobreza também cresceu nos últimos anos.

Segundo a Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), a pobreza caiu de 48,4% em 1990 para 27,9% em 2013 em toda a América Latina.

No México, onde estava em 52,4% em 1994, a taxa de pobreza chegou a cair para 42,7% em 2006; mas em 2012 tinha voltado a subir para 51,3%.”

“(…) os empregos do setor no México são notoriamente mal remunerados, e pouco se avançou em reduzir o fosso salarial em relação aos EUA.

(…) A média dos salários na indústria de transformação do México correspondia a cerca de 15% dos pagos nos EUA em 1997. Em 2012 esse percentual tinha aumentado para apenas 18%.

Em alguns setores, os salários praticados na China, na verdade, superaram os pagos no México.”

O Nafta corresponde a Alca, o acordo que os EUA queriam implantar em toda a América do Sul.

Foi enterrada com a eleição de Lula e outros governantes progressistas.

Agora sabemos os resultados a que ela se propunha.

Não teríamos o combate a pobreza que vimos por aqui e os EUA ficariam ainda mais ricos.

A íntegra da matéria está adiante.

Fonte:
http://tijolaco.com.br/blog/?p=12311

*****


06/01/2014 - O México conta poucos ganhos com o Nafta
- Por Mark Stevenson - Associated Press - Valor Econômico

Ao vermos um México coalhado de lojas da Starbucks, Walmart e Krispy Kreme, é difícil se lembrar de como era o país antes do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta, nas iniciais em inglês), que ampliou drasticamente as opções do consumidor e o comércio desde que entrou em vigor há 20 anos.

Embora o pacto tenha mudado o país em alguns aspectos fundamentais, ele jamais cumpriu muitas de suas promessas revolucionárias de acabar com o fosso salarial entre o México e os EUA, impulsionar o crescimento do nível de emprego, combater a pobreza e defender o meio ambiente.

A fragilidade dos sindicatos do México e a concorrência da Ásia e da América Central mantiveram os salários em níveis baixos;

- o reforço da segurança na fronteira com os EUA fechou a válvula de escape mexicana da imigração, e as cláusulas ambientais do acordo se mostraram menos potentes do que as destinadas a proteger os investidores.

O México se beneficiou com o acordo com os EUA e o Canadá em algumas áreas.

Os setores automobilístico, de produtos eletrônicos e agrícola cresceram, e bancos estrangeiros ingressaram no país, aumentando o acesso ao crédito.

Mas a maioria dos mexicanos não viu muitas vantagens em termos de renda.

Embora a classe média seja, sem dúvida, maior atualmente, o México é o único dos grandes países latino-americanos em que a pobreza também cresceu nos últimos anos.

Segundo a Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), a pobreza caiu de 48,4% em 1990 para 27,9% em 2013 em toda a América Latina.

No México, onde estava em 52,4% em 1994, a taxa de pobreza chegou a cair para 42,7% em 2006; mas em 2012 tinha voltado a subir para 51,3%.

O economista Alfredo Coutiño [foto], diretor da Moody's Analytics para a América Latina, diz que "os benefícios vieram, mas talvez não na magnitude que se esperava".

Ele destaca que, "se esse acordo não tivesse sido assinado, o México estaria numa situação muito pior do que a dos últimos 20 anos".

Antes do Nafta, o México era uma economia fechada, dominada pelo Estado, que se ressentia do endividamento e dos problemas estruturais da agricultura mexicana - de baixa produtividade, em pequenas propriedades.

Isso originara uma tempestade perfeita de desemprego em massa.

O acordo comercial, a globalização e o investimento externo contribuíram, efetivamente, para criar empregos, embora mal remunerados.

Nos supermercados, os consumidores conhecem todos os produtos, desde amoras até o chai (bebida à base de chá preto, mel e leite) e o limão (em contraposição à lima mexicana) que poucos tinham experimentado antes de o tratado derrubar as barreiras comerciais e as tarifas praticadas entre México, Canadá e Estados Unidos.

Os endinheirados do México têm ampla variedade de produtos e opções para gastar, principalmente na esfera dos aparelhos eletrônicos e automóveis.

Coutiño lembra que "antes, no México, era uma questão de prestígio social ter um par de tênis importados, eles eram muito caros... Agora a maioria dos mexicanos pode ter essas coisas consideradas artigos de luxo no passado".

Os mexicanos continuam divididos: uma recente pesquisa do jornal "Universal" e da consultoria Buendía-Laredo revelou que, enquanto 50% da população aprovaria o pacto comercial se ele fosse reapresentado atualmente, cerca de 34% o rejeitariam. O restante não soube responder. A margem de erro foi de 3,5%, para mais ou para menos.

Mas não há volta.

Os três países da América do Norte estão se empenhando em aumentar seu grau de integração econômica.

Com a reforma energética recém-aprovada pelo México, que permite o investimento privado no setor petrolífero do país, eles pretendem declarar também a independência energética do continente.

O Nafta foi quase esquecido no mais recente e polêmico esforço de livre-comércio, a Parceria Transpacífico (TPP, nas iniciais em inglês), uma negociação entre 12 países, entre os quais os três do Nafta, para abrir o comércio entre a Ásia e as Américas.

A oposição ao TPP é reminiscência das previsões terríveis formuladas por ocasião das negociações em torno do Nafta, no início da década de 1990.

Na época, os opositores ao Nafta previram que milhões de postos de trabalho americanos seriam transferidos para o sul, e os grupos representativos de trabalhadores e agricultores prognosticaram um êxodo em massa da zona rural mexicana.

Mas, como afirma um relatório de 2010 do Serviço de Pesquisa do Congresso americano, "a maioria dos estudos realizados após a entrada em vigor do Nafta detectou que os efeitos sobre a economia mexicana tendem a ser, no máximo, modestos".

Do lado positivo, o comércio entre os três países aumentou grandemente, para níveis cerca de 3,5 vezes superiores aos de 1994, embora o intercâmbio dos EUA com a China e com outros países asiáticos tenha se expandido com rapidez ainda maior nas últimas duas décadas.

Um número maior de montadoras estrangeiras instalou unidades no México, que agora produz cerca de 3 milhões de veículos ao ano.

O México aumentou os postos de trabalho no setor automobilístico em aproximadamente 50% desde 1994.

Mas os empregos do setor no México são notoriamente mal remunerados, e pouco se avançou em reduzir o fosso salarial em relação aos EUA.

A média dos salários na indústria de transformação do México correspondia a cerca de 15% dos pagos nos EUA em 1997. Em 2012 esse percentual tinha aumentado para apenas 18%.

Em alguns setores, os salários praticados na China, na verdade, superaram os pagos no México.

O Nafta também não cumpriu todas as promessas no front ambiental.

O Banco de Desenvolvimento da América do Norte, parte dos acordos paralelos do tratado, gastou mais de US$ 1,33 bilhão no financiamento de projetos de tratamento de água potável, água servida e esgoto.

Mas o esgoto não tratado continua a fluir, e a qualidade do ar continua baixa em muitas comunidades fronteiriças.

As exportações dos EUA de baterias de automóveis usadas de chumbo-ácido para o México dispararam 500% entre 2004 e 2011.

Só agora as autoridades mexicanas estão começando a estudar a imposição de exigências de certificação a empresas que exportam baterias para processamento destinado a recuperar o chumbo.

O Nafta foi, porém, muito eficiente em proteger os investidores estrangeiros.

O pacto comercial instituiu grupos de arbitragem vinculantes, por meio dos quais os investidores podem contornar os tribunais com reclamações de que a regulamentação do governo afeta deslealmente seus negócios.

As queixas são muitas vezes contra a gestão dos recursos naturais ou as normas ambientais.

O México e o Canadá pagaram cerca de US$ 350 milhões em indenizações aos investidores estrangeiros, enquanto os Estados Unidos não pagaram nada.

"O processo [de arbitragem] não se assemelha ao Judiciário, não é justo e aberto", disse Scott Sinclair [foto], do Centro Canadense de Políticas Públicas Alternativas.

Fonte:
http://www.valor.com.br/internacional/3385498/mexico-conta-poucos-ganhos-com-nafta

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, pois inexistem no texto original.

Leituras afins:
- América Latina - fim de um ciclo - Elaine Tavares
- O fim de uma era - Fernando Brito
- Então, que venha do BRICS um desenvolvimento inteligente - Fabíola Ortiz
- Capitalismo sustentável, existe isso? - Eduardo Viveiros de Castro

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Novo 'papado' para o capitalismo

14/02/2013 - Capitalismo global busca um novo 'papado'
- Saul Leblon - Carta Maior

Passados cinco anos de implosão da ordem neoliberal, o sistema capitalista ainda não pode dizer: 'habemus papam'. 

Entre a austeridade imposta à Europa e a liquidez contracíclica dos EUA, seus cardeais ora parecem hesitar, ora ganhar tempo. 

Nesta 4ª feira (13/02), os dois lados da crise transatlântica convergiram para um meio fio que os elucida mais que todas as palavras e aparências. 

A ideia é criar um grande 'nafta' europeu/norte-americano, 'equivalente à metade da produção mundial' (leia a reportagem de nosso correspondente em Londres, Marcelo Justo).

Labirínticos acordos de eliminação recíproca de tarifas e outras formas dissimuladas de protecionismo (legislações sanitárias, por exemplo) terão que ser vencidos para o desfecho da crise redundar nessa imensa 'pátria grande dos livres mercados'.

A bandeira motivacional é defender ambas as margens do avanço implacável da concorrência chinesa.

Do ponto de vista social significa algo do tipo: façamos com o emprego, a indústria, a agricultura e os serviços aquilo que a concorrência oriental faria de qualquer jeito.

O relevante nesse aceno do consistório conservador é o fato de dobrar a aposta na mesma lógica que jogou a humanidade na pior crise desde os anos 30.

O papel reservado a governos e Estados no processo é o de sempre.

E estrito: desregular, desbastar, escalpelar direitos, abrir espaços, pavimentar as free ways para o livre fluxo dos capitais e negócios.

E seja o que Deus quiser.

O combustível da corrida é o apetite canibal dos capitais, aguçado pela dieta da crise. Fusões e aquisições pipocam diariamente nos quatro cantos do planeta.

O canibalismo é induzido pelas inovações tecnológicas assadas em fogo alto nos laboratórios das corporações, que tem escala e capital para isso.

De novo: 'e seja o que Deus quiser'.

Externalidades como o custo adicional em pobreza e desigualdade, ademais da soberania dos povos, ficam a cargo do poder de ajuste e convencimento dos respectivos centuriões locais.

Aécios Neves estão, como sempre estiveram, disponíveis nas mais remotas latitudes.

Sua caixa de ressonância midiática, idem.

Há poucos dias a banca europeia fechou a conta de seu desempenho em 2012: 55 mil demissões.

A pátria sem fronteiras dos acionistas aplaudiu.

Ajustes e aplausos equivalentes ocorrem em todas as áreas e nos diferentes pontos cardeais do planeta, mediante a exibição de números equivalentes.

A república dos dividendos gostaria que algo parecido acontecesse com a Petrobrás no Brasil. Cortes; redução drástica de conteúdo nacional nas encomendas; bombeamento maciço de óleo para exportação; zero de novas refinarias. E por aí afora.

Um feérico exercício de musculatura está em marcha urbi et orbi.

Dele emergirá o novo papado. A nova ordem pós-crise.

Não a dos cardeais europeus da fé ortodoxa; nem a dos discursos bonitos do cardeal Obama. Mas a das corporações globais embaladas em acirrada disputa pelo controle dos mercados no pós-crise.

O efeito em cadeia dessa recomposição de massa muscular é imaginável.

Contrapor-se à modelagem unilateral do futuro requer alguns ingredientes estratégicos.

Facilita muito dispor de um mercado interno de massa, assim como de uma base industrial capaz de competir por um naco do século 21.

Articulações regionais, como a do Mercosul e a da Unasul, idem.

Mas nada acontecerá sem um imperativo de desassombro político insubstituível: restituir algum nível de comando do Estado sobre a economia e o mercado.

A extensão dessa ordenação pública depende da equação política de cada sociedade. 

É o que o Brasil de Dilma, a Argentina, de Cristina, a Venezuela de Chávez e Maduro, a Bolívia e o Uruguai tentam implementar, de acordo com o acumulo de forças internas, caso a caso.

Não é fácil.

Estados egressos de décadas de desmonte neoliberal não foram suficientemente regenerados.

Mesmo por que não se trata simplesmente de reeditar o estatismo autoritário.

É preciso ir além.

E criar espaços de socialização do planejamento público, possibilidade concreta sinalizada pelas conferências setoriais, realizadas no governo Lula.

Na realidade concreta, porém, improvisa-se. 

Da mão para a boca; na tentativa de manter a cabeça fora d'água. E resgatar alguma capacidade de comando sobre o destino econômico e social.

Avanços e hesitações compõem a norma nessa corrida.

Um episódio resume todos os demais.

O governo Dilma acaba de redefinir a margem de retorno dos projetos de infraestrutura oferecidos à iniciativa privada.

O capital privado tem caixa e interesse em investir e o país necessita, visceralmente, desse investimento complexo de longo prazo.

O governo Dilma reajustou a taxa de retorno original considerada baixa pelo mercado. 

Não renunciou à prerrogativa de planejar o país e definir os projetos prioritários a serem implementadas, ademais de fixar o seu prazo, a qualidade e a taxa de retorno correspondente.

Mas cedeu um percentual maior na remuneração do investimento.

Poderia ter feito diferente? Poderia, em tese.

Por exemplo, ter confiscado o caixa ocioso das empresas com uma brutal taxação sobre a aplicação financeira.

Em teoria. 

Na prática, a equação política permitiu outra solução: previamente o espaço de fuga do capital ocioso foi comprimido cortando-se significativamente a taxa de juros que serviria de abrigo confortável e seguro à liquidez e ao curto prazo.

O saldo é quase o mesmo, a um custo futuro maior de tarifa pública; a fricção política, menor.

Ambas as escolhas refletem os ares do mundo.

Vive-se uma corrida contra o tempo.

O governo Dilma não escapa ao tique-taque implacável dos ponteiros.

Ou o país desencadeia um novo ciclo de investimentos pesado com algum grau de racionalidade pública - o maior possível; ou a lógica selvagem das grandes corporações acabará modelando o futuro brasileiro no pós-crise.

A esquizofrenia midiática que acusa Dilma ora de intervencionista, ora de privatizante 'à la FHC', abstrai as variáveis estratégicas em jogo.

Omite as implicações sociais distintas entre um desfecho e outro.

Na verdade, o papado de sua preferência é conhecido.

Abortado por Lula na primeira tentativa, quem sabe o país não pega o segundo bonde da 'nova grande nafta', preconizada pelos EUA e a UE como saída para a crise?

É esse o jogo de forças do consistório em marcha. 

Diante dele os países em desenvolvimento tem que articular a sua melhor resistência, no menor tempo possível.

Ou serão asfixiados pela fumaça que anunciar o 'habemus papam' do novo ciclo.

Fonte:
http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=6&post_id=1191

Não deixe de ler:

- O Banco do Vaticano é o principal acionista da maior indústria de armamentos do mundo, a Pietro Beretta (02/08/2012) 

- Banco do Vaticano é o principal acionista da maior indústria de armamentos do mundo, via Atrevete a pensar, texto publicado em 10/7/2012. Ver aqui em 14/02/2013, publicado no blog Limpinho & Cheiroso


Nota:

A inserção de algumas imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.