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quinta-feira, 4 de julho de 2013

Globo veta plebiscito



Por Fernando Brito, no blog Tijolaço: em 4/07/2013

São 20 horas e a mensagem de Dilma propondo o plebiscito já caiu das principais chamadas dos sites de notícias.

No lugar dela, a morte do projeto da “cura-gay”.

Espero um pouco mais, e vem o Jornal Nacional. Lá no fim, depois de uma imensa reportagem sobre a indústria em queda e a inflação em alta, vem a matéria sobre o plebiscito.

O vice-presidente Michel temer só falta pedir desculpas por ter levado a proposta de Dilma ao Congresso.

Os líderes da base “não tão aliada” querem que isso vire referendo para 2014.

Aecinho, pontificando, diz que Dilma mandou uma proposta que até ela sabe que não é possível viabilizar.

Os líderes acharam tudo complicado e só vão falar isso na semana que vem.

Depois, destaque na nota do TSE de que, se o Congresso não implementar, até o início de outubro, o resultado do plebiscito ”não haverá efeitos, no pleito eleitoral subsequente, o que pode ser fator de deslegitimação da chamada popular”.Claro, não houve menção ao final da nota, onde a Ministra Carmen Lúcia e os 27 presidentes de TREs dizem que “o sonho do povo brasileiro é a democracia plena e eficiente. O dever do juiz é garantir o caminho do eleitor para que o sonho venha a ser contado para virar a sua realidade. O juiz não se descuida do poeta. É a sua forma de atentar ao eleitor, única razão de ser da Justiça Eleitoral”.

Dois ex-ministros do TSE aparecem para dizer que “não haverá tempo”.

Resumo de tudo, nas palavras do líder do PT na Câmara, José Guimarães: “quando se quer, dá tempo; quando não se quer, não dá”.

Alguém acha que o Congresso quer reforma?

E assim, ficamos com a nossa triste ordem democrática, onde o povo votar e decidir qualquer coisa diferente do interesse de suas elites é inviável.

Leia também: http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2013/07/dilma-afirma-que-e-necessario-teimar-para-garantir-transformacoes-sociais-4392.html

 É fundamental ler essa denúncia...
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2013/07/duble-da-globo-e-o-lider-da-veja.html?spref=tw

 

Transição do ciclo econômico se acelera. E a restauração em marcha sabota plebiscito

por Saul Leblon - Carta Maior
   

Transição de ciclo econômico se acelera

Retomada norte-americana amplia o poder de coação dos capitais que migram da bolsa brasileira em 3ª feira marcada, ainda, por queda na produção industrial e dados ruins na balança comercial.

A transição de ciclo econômico se acelera: o Brasil terá que discutir as linhas de passagem para renovar a sua agenda de desenvolvimento.

Há escolhas a fazer e não são singelas.

O país dará liberdade aos fundos e rentistas internacionais para saquearem as suas reservas em revoadas para o exterior?

Oferecerá arrocho salarial e juro alto na tentativa de conte-los aqui?

Sacrificará investimentos em infraestrutura para entregar o superávit fiscal cheio', como pede a banca local e forânea?

Saberá pactuar prioridades sociais escalonadas em calendário crível e realista?

Se as respostas a essas e outras perguntas forem ordenadas pela lógica blindada do interesse financeiro, o resultado é sabido.

O Brasil pode virar um imenso Portugal.

Portanto, não é apenas a reforma política que requer amplo debate democrático.

A travessia para um novo ciclo de desenvolvimento só contemplará os anseios das ruas por mais democracia social, se vier ancorada em sincera e corajosa discussão progressista com a sociedade.

É o oposto do que uivam os centuriões do conservadorismo.

Para eles a rua já deu o que tinha que dar: o desgaste do governo do PT.

Todo o seu empenho agora é para descongestionar o ambiente político de qualquer contaminação associada a mecanismos de democracia direta.

A rejeição nervosa ao plebiscito reflete a ansiedade defensiva de quem sabe que o divisor entre economia e política é tênue; nas crises, desmancha-se no ar.

Deixar o governo sangrar até 2014, sob estrita vigilância dos ‘mercados' é o seu sonho de consumo eleitoral.

Daí o esforço preventivo de desqualificação de qualquer novidade política que possa empurrar a agenda do futuro econômico para o relento do debate em campo aberto.

Não interessa aos ventríloquos dos livres mercados serem acareados pelo discernimento social.

Cabe às forças progressistas abortar esse cinturão sanitário, fazendo da travessia econômica uma extensão da agenda da reforma política. A ver.


Restauração em marcha sabota plebiscito: 'as ruas já deram o que tinham que dar'

Dos partidos da oposição, o único que aceitou o convite da Presidenta Dilma para conversar sobre o Brasil e a reforma política foi o PSOL.

Demotucanos e assemelhados declinaram.

Os campos se definem em relação às ruas.

Caminha-se para um realinhamento da cena política brasileira.

Se a conversa Dilma/PSOL abrir espaços para um aggiornamento à esquerda da governabilidade, algo de inestimável importância terá acontecido nos dias correm.

Alegam PSDB, Demos e PPS não ter sobre o que conversar.

Faz sentido.

Dilma pretendia ouvi-los sobre a convocação de um plebiscito para estreitar a aderência do sistema político às ruas.

A proposta foi enviada ao Congresso nesta 3ª feira, cercada pela rejeição conservadora.

‘Ora direis ouvir as ruas’, replicam demotucanos em sua esférica coerência.

Ouvir as ruas é tudo o que o credo neoliberal entende que não deva ser feito nessa hora; em qualquer hora.

A escuta forte da sociedade soa como dissonância chavista aos ouvidos congestionados pela cera secular do interesse dominante.

A democracia para esse sistema auditivo é um ornamento.

Um adereço nos colóquios dos salões elegantes. Um caramelo, após o cafezinho.

Nos dias que correm, a democracia é a citação de rodapé da judicialização da política.

Sobretudo, a democracia destas siglas gêmeas deve lubrificar a obediência da sociedade aos livres mercados.

É o oposto do que pensa a tradição socialista: a democracia cresce justamente quando escapa aos limites liberais e se impõe como força normativa aos mercados.

Ganha relevância assim.

Quando assume o papel de contrapeso histórico aos apetites rapinosos do dinheiro grosso.

É democracia de fato ao romper a película liberal para se tornar, também, democracia social.

O extremo oposto conservador entende que ouvir as ruas é algo que só cabe em doses módicas.

Com o dinheiro a cerzir as amarras entre o presente e o futuro.

De quatro em quatro anos.

Nunca em ciclos curtos, ou de crise, quando o mais aconselhável são as elites – no limite, os quartéis - assumirem a tutela da vontade popular.

Consultas regulares à cidadania e tudo o mais que possa tornar volátil o mando e o comando devem ser execrados.

Volatilidade é uma prerrogativa dos capitais.

Irrepartível.

À política cabe a tarefa de calcificar o poder e embalsamar a sociedade.

Editoriais de O Globo, Estadão e Veja, ademais de centuriões da mesma extração, uivam a rejeição ao plebiscito e à Constituinte.

O que lhes interessava das ruas, as ruas já deram.

O Datafolha, no calor da Paulista, recompôs a chance de um 2º turno em 2014.

A narrativa tratou de ofuscar o ruído de longo curso, subjacente ao desabafo da hora: se candidato, Lula levaria de 1ª, com 46% dos votos.

A Folha entendeu; e tanto que escondeu o tropeço na primeira página. E pisoteou a informação nas entrelinhas internas.

É preciso desfrutar a ‘colheita’, crua, se necessário, para não desperdiçar a janela de oportunidade.

Interesses que operam no sentido de subtrair fatias de poder à democracia estão satisfeitos com o saldo.

Há mais de 30 anos tem sido hábeis em interditar o debate das grandes escolhas do desenvolvimento.

Para isso, escavaram fossos intransponíveis entre a soberania nacional e a supremacia das finanças desreguladas no circuito global.

Assim se assegurou a hegemonia do poder extra-ruas.

Por que abririam mão dele justamente agora, em pleno divisor de ciclo, quando linhas de passagem terão que ser erguidas em direção a um novo projeto de desenvolvimento?

O ‘não’ ao convite de Dilma encerra a solidez de uma coerência histórica.

A contrapartida cabe à esquerda.

A sorte do país e o destino de sua democracia dependem, em grande parte, do desdobramento concreto que o diálogo simbólico entre Dilma e o PSOL produzir na unificação da agenda progressista brasileira.Não apenas para articular a reforma política. Mas para democratizar o crucial debate sobre o passo seguinte da luta pelo desenvolvimento.

A ver.

Fonte: Carta Maior - Blog das Frases por Saul Leblon

Leia também: A indignação brasileira mira políticos, mas esquece o capital
http://blog-sem-juizo.blogspot.com.br/2013/07/indignacao-brasileira-mira-politicos.html

domingo, 30 de junho de 2013

A esquerda não pode piscar

Por Saul Leblon - Carta Maior
   
O Brasil ingressa num ciclo de turbulência do qual a democracia participativa poderá emergir como parteira de uma sociedade mais equilibrada e justa.

Mas a esquerda não pode piscar.

A disputa fratricida, hoje, é o coveiro das esperanças nacionais.

Nos anos 50, um pedaço das forças progressistas só foi perceber o seu lado no jogo quando o povo já incendiava os carros do jornal 'O Globo', em resposta ao tiro com o qual Getúlio encerrou a sua resistência e convocou a das massas.

Ontem, como agora, o enclausuramento ideológico, o acanhamento organizativo e a dispersão programática pavimentam o caminho da ameaça regressiva.

É a hora da verdade de toda uma geração.

Cabe-lhe sustentar um novo desenho progressista para o desenvolvimento do país.

Um notável volume de investimentos é requerido para adequar a logística social e a infraestrutura às dimensões de uma nação que incorporou milhões de pobres ao mercado de consumo nos últimos anos.

Agora lhes deve a cidadania.

O novo giro da engrenagem terá que ocorrer num momento paradoxal.

A recuperação norte-americana encoraja as apostas no fim da crise, mas complica a mecânica do crescimento na periferia do mundo, encarecendo o custo do capital.

Asfixiada antes pela valorização do Real, a indústria brasileira agora é o canal de transmissão da alta do dólar nos índices de preços, por conta das importações.

Dotado de uma base fabril atrofiada pelo irrealismo cambial, o país importa quase 25% das manufaturas que consome.

A sangria transfere empregos ao exterior e corrói o principal irradiador de inovação em um sistema produtivo, ademais de fragilizar as contas externas.

O déficit comercial da indústria este ano alcançará o equivalente a 20% das reservas cambiais.

É só um vagalhão da tempestade perfeita que cobra respostas em várias frentes: prover a infraestrutura, combater a inflação, resgatar a industrialização, dar progressividade ao sistema tributário, ajustar o câmbio, modular o consumo.

Tudo junto e com a mesma prioridade.

A urgência das ruas sacudiu essa equação que há menos de um mês tornava a economia cada vez mais permeável a uma transição de ciclo preconizada pelo conservadorismo.

Com um título sugestivo, ‘Um Plano para Dilma’, coube ao editorial da Folha de 02/06, como já comentou Carta Maior, enunciá-la em detalhes.

O ‘plano’ consistia em impor ao país o projeto derrotado em 2002, 2006 e 2010.

A saber: arrocho fiscal e monetário; entrega do pré-sal às petroleiras internacionais; redução dos gastos sociais e dos ganhos reais de salários; renúncia ao Mercosul e adesão aos tratados de livre comércio.

Essa plataforma envelheceu miseravelmente nas últimas horas.

Mas não foi arquivada.

O interesse conservador que antes pretendia usar o governo para escalpelar as ruas, subtraindo-lhe conquistas e recursos na ordenação de um novo ciclo, agora quer usar as ruas para desidratar o governo.

A bipolaridade reflete a ansiedade típica de quem sabe que joga a carta do tudo ou nada.

Não por acaso, o jornalismo a serviço do dinheiro já constata receoso: ‘o que a rua pede colide com o que o mercado pretende'.(Valor Econômico)

Curto e grosso: o espaço para um ajuste convencional se estreita na rota de colisão entre a agenda do Estado mínimo e a da Democracia Social.

Quem dará coerência ao desenvolvimento brasileiro a partir de agora? -- perguntava Carta Maior há menos de um mês.

Antes turva, a resposta desta vez emerge mais limpa.

A nova coerência macroeconômica terá que ser buscada na correlação de forças redesenhada pelas grandes multidões que invadiram as ruas nas últimas semanas.

Emparedado pela lógica conservadora o governo Dilma passou a ter escolhas (leia a advertência de Paulo Kliass e a análise das opções orçamentárias feita por Amir Khair; nesta pág)

E o PT ganhou a chance de se reinventar, explicitando uma agenda clara para o passo seguinte da história.

Sua e a do país.

O bônus não autoriza o conjunto das forças progressistas a adotar a agenda da fragmentação suicida.

O focalismo cego às interações estruturais é confortável como um conto de fadas, em que a varinha de condão substitui as prioridades orçamentárias.

O descompromisso com partidos e organização dá leveza e audiência na mídia conservadora.

Mas levam ao impasse autodestrutivo e à inconsequência histórica.

Em entrevista ao correspondente de Carta Maior em Londres, Marcelo Justo, o pesquisador Paolo Gerbaldo, do Kings College, lembra que os indignados do Cairo rechaçaram os partidos na praça Tahrir. E abriram caminho a um governo desastroso da Irmandade Muçulmana no Egito (leia nesta pág).

Não se faz política sem poder; não se conquista poder sem disputar o Estado.

A responsabilidade de interferir num processo histórico pressupõe a adoção de balizas e estruturas que impeçam o retrocesso e assegurem coerência às mudanças.

Sem alianças aglutinadoras, nada feito.Sem construir linhas de passagem entre o real e o ideal, semeia-se angústia e decepção.

O jogo é pesado.

Limites estritos à ação convergente do Estado (mínimo) foram erguidos em todo o mundo nos últimos 30 anos.

A liberdade dos capitais manteve nações, projetos, partidos e governos sob chantagem impiedosa.

Domínios insulares foram instalados no interior do aparato público.

O conjunto elevou a tensão política que explode periodicamente, como agora --como em 2002, em 2006 e em 2010-- quando os mercados blindados se preparam para enfrentar a democracia insatisfeita nas urnas.

Teoricamente, essa é a hora em que o bancário e o banqueiro tem o mesmo peso no escrutínio do futuro.

Na prática, a locomotiva dos grandes levantes populares é que delimita a fronteira da democracia social em cada época. A urna, em geral, dá o acabamento do processo.

A alavanca brasileira, no caso, foram os levantes operários do ABC paulista dos anos 70/80 e a luta cívica contra a ditadura militar.

Nasceria daí o PT.

E o subsequente ciclo de governos do partido, caracterizado pela negociação permanente do divisor entre os dois domínios, o do dinheiro e o dos interesses gerais da sociedade.

Negociou-se ‘sem romper contratos’ durante os últimos 12 anos.

Com acertos, equívocos e hesitações fartamente listados.

Ainda assim, o saldo configura ‘um custo Brasil’ intolerável aos interesses acantonados no polo oposto do braço de ferro.

Um dado recente do Ipea explica essa rejeição: a renda dos 10% mais pobres cresceu 550% mais rápido do que a dos 10% mais ricos, no Brasil dos últimos 12 anos.

Avançar à bordo da composição de forças que delimitou a ação progressista até aqui tornou-se cada dia mais penoso.

Não apenas por conta do esgotamento real de um ciclo econômico.

Mas também porque se descuidou de prover a sociedade de canais democráticos para comandar o passo seguinte do processo.

A ausência de regulação que assegurasse um sistema audiovisual pluralista entregou a opinião pública à Globo.

A negligência com a organização democrática dos segmentos mais beneficiados pelas políticas públicas estreitou o seu foco nas gôndolas dos supermercados.

Faltava a locomotiva da história apitar outra vez para esticar os limites do possível na discussão do novo ciclo de crescimento que o país requer.

Foi o que as ruas fizeram.

A presidenta Dilma viu o bonde passar e não hesitou. Reagiu na direção certa.

Ao propor uma reforma plebiscitária para redesenhar os perímetros da democracia, deixou implícito --queira ou não-- que a soberania popular é também o único impulso capaz de harmonizar as balizas do novo ciclo de desenvolvimento.

Não é pouco o que se tem sobre a mesa.

Vive-se um meio fio histórico.

De um lado, há a chance de uma ruptura efetiva do desenvolvimento brasileiro com a camisa de força do neoliberalismo.

De outro, a espiral descendente dos impasses pode jogar o país no abismo de uma recaída ortodoxa devastadora.

O tempo urge.

Terão as lideranças progressistas discernimento e prontidão suficiente para negociar uma agenda comum feita de bandeiras, fóruns e ações que ordenem essa travessia?

A ver.

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