sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Em crianças, dengue é instável e evolui rapidamente

COBERTURA ESPECIAL – 49º Congresso Científico do HUPE/UERJ
 

Segundo especialistas, o acompanhamento constante do paciente é fundamental para diminuir o risco de agravamento do quadro.
 
Agência Notisa – Em 2008, o Brasil viveu o pior surto de dengue de sua história. Segundo Luana Sicuro, do departamento de pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), foram registrados mais de 580 mil casos, com uma taxa de internação 200% maior do que as observadas anteriormente. Além disso, diferentemente do que se verificava antes, a doença passou a acometer muitas crianças (50% dos internados) e essas apresentavam com frequência quadros graves, instáveis e de evolução rápida. Essas foram algumas das características discutidas durante um painel realizado na manhã de quinta-feira (25), durante o 49º Congresso Científico do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ.
 
Luana lembrou que desde 1998 a dengue é considerada a segunda doença infecciosa mais importante no mundo, atrás apenas da malária. No Brasil, segundo a médica, determinadas características favorecem a disseminação da doença, por exemplo, a alta densidade populacional em área urbana; o aumento da população brasileira; as condições climáticas; o abastecimento irregular de água e o aumento de lixo.
 
Desde 2006, segundo a pediatra, a doença que acometia principalmente adultos jovens, teve sua prevalência aumentada entre crianças. “A presença de infecção prévia e anticorpos maternos podem aumentar de 40 a 80% a chance desses pacientes apresentarem dengue grave”, afirmou Luana.
 
Mas, segundo ela, outros fatores vão influenciar a gravidade da infecção, por exemplo, crianças menores de um ano tendem a ter uma evolução pior, assim como pacientes com doenças de base. Os sorotipos (DENV1; DENV2; DENV3 e DENV4) também podem interferir nesse contexto.
 
Uma outra mudança que a infecção vem sofrendo é relacionada ao período de ocorrência. Segundo a pediatra Denise Sztajnbok, da FCM-UERJ, que coordenou o painel, está ocorrendo uma alteração na sazonalidade e a dengue não está mais restrita ao verão.
 
Atualmente, a Organização Mundial da Saúde prega uma nova classificação da doença em: subclínica; sem sinais de alarme; com sinais de alarme e grave.
 
Em crianças, segundo Denise, a doença se manifesta de forma muito variável, há uma dificuldade de suspeição e pode evoluir para um agravamento súbito.
 
Devido a essa instabilidade, Flavio Czernocha, também do departamento de pediatria da FCM-UERJ, lembrou a importância de manejo terapêutico adequado. Segundo ele, é preciso que os sinais de alarme sejam observados, pois eles indicam uma possível evolução para dengue grave.
 
Os sinais clínicos desse quadro grave, segundo Flávio, são “hepatomegalia; dor abdominal; vômitos persistentes; alteração do comportamento; hemorragia das mucosas; queda das plaquetas e extravasamento de plasma”. Entretanto, Denise afirmou que a disfunção de órgãos caracteriza dengue grave, mesmo sem que haja esse extravasamento plasmático.
 
Segundo Flávio, o mais importante é tentar evitar que o paciente evolua para choque. Uma das formas, disse ele, para aumentar as chances de um bom prognóstico é realizar uma estratificação de risco nos serviços de emergência. Além disso, ele destacou que a hidratação é fundamental, assim como o acompanhamento desse paciente. “Os pais ou responsáveis devem ser orientados a voltar ao serviço de saúde em 24h; na cessação ou declínio da febre e se houver sinais de alarme”, disse.
 
Em 2008, segundo o pediatra Eduardo Macedo Soares, da UERJ, apenas no Rio de Janeiro foram registrados 1.624 casos graves de dengue. “Dos pacientes que morreram, mais de 90% tiveram choque”, afirmou.
 
Os médicos lembraram que a fase crítica da doença, ao contrário do que se possa imaginar, ocorre quando há melhora da febre. O paciente geralmente mesmo em choque permanece lúcido e orientado. Nesse momento, o vírus da dengue não está mais ativo e os problemas são causados principalmente pela reação inflamatória exacerbada do próprio organismo.

Agência Notisa (science journalism – jornalismo científico)