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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Que a justiça faça justiça, apesar da mídia


Editorial da edição 496 do Brasil de Fato

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ayres Britto, considera necessário dar uma resposta enérgica à impunidade aos escândalos de corrupção. Para ele, a Ação Penal 470, (mensalão do PT para a mídia tucana), é uma ótima oportunidade para o Supremo passar essa mensagem ao país. Não há nenhuma observação contrária a essa preocupação do presidente do Supremo. Ao contrário, é merecedora de elogios.
No entanto, acreditamos que o presidente Ayres Britto sabe que o combate à impunidade da corrupção, incrustada histórica e estruturalmente no Estado brasileiro, não se restringe à condenação dos acusados presentes nos bancos dos réus. Há que prevalecer a Justiça. Esta, nos parece, exige um processo que respeite plenamente as regras do jogo, imparcial, livre de qualquer interferência externa. Um julgamento em que seja assegurado, completamente, o direito de defesa dos réus. E mais. Que seja assegurado o direito de presunção de inocência dos que são acusados.
Ora, se são essas algumas premissas para que a Justiça faça justiça, independente do resultado julgamento, a “imagem da corte está em risco e, com ela, a do Poder Judiciário”, alerta Renato Janine Ribeiro, professor titular de Ética e Filosofia Política na Universidade de São Paulo.
Em agosto de 2007 o ministro do STF Ricardo Lewandowski denunciou que “a imprensa acuou o Supremo” para que ocorresse a abertura da Ação Penal contra os acusados. “Supremo votou com a faca no pescoço, afirma Lewandwski”, foi a manchete de alguns jornais. Daquela data aos dias de hoje, a mídia identificada que sempre se opôs ao governo petista, não esperou pelo julgamento: condenou sumariamente os réus. O direito de presunção de inocência foi posto na lata do lixo pela mídia corporativa. O jornalista Jânio de Freitas, da tucana Folha de S. Paulo, chegou a escrever: “O julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal é desnecessário. Entre a insinuação mal disfarçada e a condenação explícita, a massa de reportagens e comentários lançados agora, sobre o mensalão, contêm uma evidência condenatória que equivale à dispensa dos magistrados e das leis a que devem servir os seus saberes”.
Partindo do mesmo caso, a Ação Penal 470, o advogado constitucionalista Pedro Estevam Serrano conclui que no Brasil há dois tribunais: um do Estado, outro da mídia. Só falta, agora, os editoriais da mídia tucana exigirem que ambos sejam unificados e a corte togada se mude para as dependências da Folha, Estadão ou da Globo.
A postura dessa mídia não surpreende ninguém. Partidarizada e sem compromissos com a verdade e com a ética, manipula a informação em prol dos seus interesses particulares. Ridículo é alguns ministros se submeterem a essa pressão da mídia e aceitarem, passivamente, a pressão de quem coloca a faca em seu pescoço. Patética é a figura do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que escreveu nos jornais exigindo a condenação antes mesmo dos advogados dos réus apresentarem a defesa dos mesmos.
Prevalecem, ainda hoje, incertezas e inseguranças sobre os rumos do julgamento. O próprio ministro Marco Aurélio Mello faz críticas à condução do julgamento. A decisão do Supremo de fragmentar o julgamento em vez de cada ministro ler seu voto sobre o processo de uma só vez, definida durante o julgamento, pegou de surpresa tanto o ministro Lewandowski, na condição de revisor do voto do relator, quanto os advogados de defesa dos réus. Alguns advogados chegaram a alertar que a decisão adotada era uma aberração e configurava um julgamento de exceção.
Pressionado pela mídia, que exigiu a realização do julgamento nos meses que antecedem as eleições de 2012, a cada dia surgem novas interrogações e propostas de mudanças das regras. Algumas dessas dificuldades são naturais de um processo longo e complexo. Outras são de correntes da pressão a que foi submetido o STF.
Superadas essas e outras dificuldades – inclusive os fatos e notícias que diariamente minam a autoridade intelectual e moral dos membros da Corte – esperamos que o STF faça justiça e continue sinalizando sua disposição de combater a corrupção no país.
Casos é que não faltam. O chamado mensalão tucano, tratado de forma diferenciada pelo STF e pelo Mistério Público Federal (MPF), pode ser também, ministro Ayres Britto, um exemplo de combate a corrupção. Inexplicavelmente o banqueiro Daniel Dantas – figura central nas privatizações promovidas pelo governo FHC – jamais foi chamado para explicar sua vinculação com os esquemas do Marcos Valério. E, certamente, o presidente do STF, Ayres Britto, e o Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, desconhecem a existência do livro A Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr. Fartamente documentado, receamos que Ayres Britto somente terá tempo para lê-lo após sua aposentadoria. Já o Procurador Gurgel, pela qualidade da peça acusatória que apresentou no julgamento da AP 470, imaginamos, tem uma enorme dificuldade para lidar com provas documentais, preferindo condenações sem provas e denuncias baseadas no achismo de testemunhas. Afinal, “como quase sempre ocorre, os chefes das quadrilhas não aparecem na execução dos crimes”, afirmou o Procurador Gurgel.
Diante das fartas provas apresentadas pelo jornalista Amaury Ribeiro Jr. e desse sagaz raciocínio do Roberto Gurgel, deduzimos que o José Serra, uma das figuras centrais do referido livro, não pode ser o chefe da quadrilha que se locupletou com a privataria tucana. Quem será então?
Fonte: Jornal Brasil de Fato

terça-feira, 19 de junho de 2012

Na Cúpula dos Povos, Marchas para deixar marcas

18/06/2011 - Marcha das Mulheres reúne 8 mil pessoas no Rio de Janeiro
da Agência Pulsar - site do MST

A Marcha das Mulheres foi realizada na manhã hoje (18) [ontem] no Centro do Rio de Janeiro e reuniu cerca 8 mil pessoas de várias partes do mundo.

Este foi o primeiro ato público realizado dentro da Cúpula dos Povos, evento paralelo à Rio+20.

A manifestação reuniu mulheres e homens do campo e da cidade para lutar contra a desigualdade de gênero, o racismo e todas as formas de preconceito. As feministas defenderam a mudança do atual modelo econômico, que, segundo elas, aprofunda as desigualdades e que coloca as mulheres em um regime de submissão e muita pobreza.

A representante da Via Campesina Internacional Marta Cecília afirmou que as mulheres estão na luta pela defesa da “Mãe Terra”, da soberania alimentar, agroecologia e pela reforma agrária. A campesina fez um chamado pela união latino-americana.

Graciela Rodrigues

A integrante da Marcha das Mulheres Graciela Rodrigues alertou para a importância dos temas que estão sendo discutidas na Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20). No entanto, de acordo com ela, as propostas apresentadas na conferência não garantem um futuro melhor para o planeta.

Durante a marcha um grupo de mulheres ocupou a sede do Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O grupo questiona a atuação do banco que tem realizado diversos investimentos em atividades consideradas de grande impacto social e ambiental como: produção de etanol, construção de hidrelétricas e monocultivos.

Mais fotos: http://mstrio.casadomato.org/marcha-das-mulheres-na-cupula-dos-povos-rio-2012/
 
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19/06/2012 - Manifestação denuncia retrocessos socioambientais do governo
Brasil de Fato - redação
 
Cerca de duas mil pessoas saíram às ruas dos Rio de Janeiro para protestar contra as contradições desenvolvimentistas do governo Dilma
 
Nesta segunda-feira (18), cerca de duas mil pessoas saíram às ruas do Rio de Janeiro para denunciar os retrocessos socioambientais do governo Dilma. Diante do falso discurso de progresso levado pelo Brasil à Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a manifestação, chamada de Marcha à Ré da Rio +20, teve como objetivo protestar contra a presidenta Dilma Rousseff, apontando suas contradições desenvolvimentistas que retrocederam à agenda socioambiental.
 
Segundo a organização da manifestação, mesmo com toda a mobilização nacional pelo “Veta, Dilma”, a presidenta não atendeu aos pedidos da população de vetar integralmente o texto que altera o Código Florestal, "incitando o desmatamento e a impunidade". Além disso, a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte é marcada pelo desprezo às regras de licenciamento, às condicionantes ambientais e à necessidade de consulta à população indígena afetada.

"A gestão atual reduziu ainda as unidades de conservação, o poder de fiscalização do Ibama e a regularização fundiária, o que resultou no aumento da violência no campo", disse em nota a coordenação da manifestação. Nesse sentido, a marcha critica o atual modelo de desenvolvimento do país e encontra embasamento na declaração feita pelos próprios funcionários do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Instituto Chico Mendes e Ministério do Meio Ambiente que, recentemente, denunciaram as pressões que sofrem do governo federal.

O protesto integra a campanha "Rio+20: Dilma, com que cara você chega?", uma ação articulada pelo Brasil Pelas Florestas, de São Paulo (SP); Comitê Fluminense em Defesa das Florestas, do Rio de Janeiro (RJ); e Comitê Universitário em Defesa das Florestas, de Brasília (DF).

"Os três movimentos sociais são pacíficos, apartidários, sem vínculos com instituições ou empresas, e representam brasileiros conscientes e mobilizados por um país que vá além do discurso e parta para uma real política de sustentabilidade", explicou a organização da campanha em nota. (do Brasil pelas Florestas)
 
Fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/9848
Fotos: Fora do Eixo/CC

sábado, 7 de abril de 2012

Roger Waters defende a causa palestina e sofre ameaça

03/04/2012 - Baby Siqueira Abrão - Correspondente no Oriente Médio - Brasil de Fato

A Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro (FIERJ) entra com ação para calar um dos fundadores do Pink Floyd, por críticas a Israel em entrevista realizada no Brasil.


A passagem pelo Brasil de Roger Waters, um dos fundadores do extinto grupo de rock progressivo Pink Floyd, enfureceu os sionistas.

Ativista da causa palestina desde 2006, quando decidiu conhecer a Cisjordânia depois de um show em Tel Aviv, Waters, em entrevista coletiva realizada no Rio de Janeiro, defendeu os palestinos, criticou o governo israelense e declarou apoio à campanha BDS, que boicota produtos fabricados em Israel. Também divulgou o Fórum Social Palestina Livre, encontro internacional a ser realizado em Porto Alegre de 28 de novembro a 1º. de dezembro de 2012.

As declarações desagradaram a Federação Israelita do Rio de Janeiro (FIERJ). Segundo nota publicada na coluna de Alcelmo Gois, em O Globo, o advogado da FIERJ, Ricardo Brajterman, tentou impedir na Justiça que Roger Walters voltasse a fazer “declarações antissionistas” no show realizado no Engenhão em 29 de março.

Acostumados à submissão europeia e estadunidense, os sionistas não esperavam a reação dos brasileiros, de afirmação da liberdade de expressão e de rejeição a todas as tentativas de calar as pessoas, em especial as que fazem críticas a Israel pela violação dos direitos humanos dos palestinos.

Várias organizações, como o Comitê de Solidariedade e Apoio ao Povo Palestino do Rio de Janeiro, a Frente em Defesa do Povo Palestino e a Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal) divulgaram notas públicas de apoio às declarações de Roger e de repúdio à atitude da FIERJ.

Israel ocupa territórios palestinos em desacordo com todas as leis internacionais, ergueu o muro do apartheid e da colonização, que foi declarado ilegal pelo Tribunal Internacional [de Justiça]. Constrói assentamentos na Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel, em desacordo com todas as resoluções internacionais. Cerca e bombardeia a Faixa de Gaza, onde 1,5 milhão de palestinos estão sujeitos a sobreviver abaixo das mínimas condições de alimentação, educação e saúde. Israel não respeita e não cumpre as resoluções da ONU e do direito internacional, em total isolamento com a [sic] comunidade internacional. O governo de Israel faz tudo isso em nome do sionismo e quer impedir as pessoas de criticar essas ilegalidades e ações desumanas e opressoras?”, escreveram os ativistas da Fepal.

Os que querem calar Roger precisam ser informados de que o Brasil é um país democrático, o Brasil não ocupa e não oprime nenhum povo, o Brasil é um país onde convivem, pacificamente e com respeito, judeus, árabes, cristãos e muçulmanos, todos com os mesmos direitos e deveres estabelecidos na constituição da Republica Federativa do Brasil.

Repudiamos toda tentativa de intimidação e censura à liberdade de expressão por parte dessa [FIERJ] ou de qualquer outra organização. Tal atitude – inconstitucional, nos moldes da ditadura militar que vigorou no Brasil dos anos 1960 aos anos 1980 –, não tem mais espaço no Brasil”, afirmaram o Comitê de Solidariedade e Apoio ao Povo Palestino e a Frente em Defesa do Povo Palestino, citando, em seguida, artigos da Constituição brasileira e da Declaração de Direitos Humanos.

“[...] são ilegítimas e só podem ser encaradas como censura e perseguição as ameaças da Fierj ao cantor e ativista. Uma postura tão conhecida quanto inaceitável, de tentar criminalizar os movimentos sociais e as pessoas de consciência que se levantam contra a opressão ao povo palestino e contra a ocupação de suas terras. Repudiamos veementemente a atitude e as ameaças da FIERJ e reafirmamos nosso apoio a Roger Waters, à liberdade de expressão e aos valores democráticos. Aproveitamos para agradecer Roger Walters por não silenciar diante da injustiça e por emprestar sua imagem e sua voz para essa nobre causa da humanidade.”

Reclamações também foram feitas ao Ministério Público, que pode abrir processo contra a FIERJ.

Se o exemplo brasileiro fosse seguido em outras partes do mundo, os ativistas de direitos humanos e os críticos dos sionistas não sofreriam tanta perseguição nem tantos processos por exercer o sagrado direito de manifestar livremente o que pensam. Hoje, militantes da causa palestina estão sendo processados na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos.


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Carta que Roger Waters divulgou no Brasil:



Desde minha visita a Israel e aos territórios ocupados, em 2006, eu faço parte de um movimento internacional para apoiar o povo palestino em sua luta por liberdade, justiça e igualdade.


Sinto-me honrado por ter sido convidado pelo Comitê Nacional Palestino BDS para anunciar a iniciativa da realização do Fórum Social Mundial Palestina Livre em Porto Alegre, Brasil, em novembro deste ano, em cooperação com o movimento social brasileiro e redes internacionais da sociedade civil.

O objetivo será a criação de um encontro internacional que irá incentivar o instinto humano básico em todos os homens e mulheres de boa fé para se unirem em apoio ao povo palestino em sua luta por autodeterminação.


Em todo o mundo, nosso movimento está crescendo.

Incentivado por eventos como o que acontecerá aqui no Brasil, a nossa voz vai crescer.

Continuaremos o nosso apelo pelo fim da ocupação israelense de terras palestinas, pela derrubada dos muros de colonização e de apartheid, pela criação de um Estado palestino com sua capital em Jerusalém, pela concessão de direitos plenos e iguais aos cidadãos árabe-palestinos de Israel e pelo direito dos refugiados palestinos de voltar para suas casas, conforme exigido pela Convenção de Genebra, como estipulado na resolução 194 da ONU de 1949 e também reafirmado pelo Tribunal Internacional de Justiça em 9 de julho de 2004.

Estou muito encorajado pelo crescimento desse movimento em Israel, especialmente entre os jovens judeus israelenses, e também pelo não menos importante "Boicote de Dentro", com quem estou em contato.

Nós estamos com vocês.


Eventos em Israel e nos territórios ocupados não são amplamente relatados nem com precisão no Ocidente. Em novembro próximo, o Fórum Social Mundial Palestina Livre, em Porto Alegre, vai ajudar a quebrar os muros de desinformação e cumplicidade.


Conclamo as pessoas de consciência para que apoiem este fórum e ajudem a torná-lo um divisor de águas na solidariedade internacional ao povo palestino.



A verdade nos libertará.

Em solidariedade,



Roger Waters

domingo, 18 de março de 2012

Augusto Boal e o Teatro do Oprimido - No palco, soluções para a vida real

15/03/2012  - Atividades homenageiam Augusto Boal e o Teatro do Oprimido
Da redação - Brasil de Fato

Dramaturgo completaria 81 anos nesta sexta-feira, 16/03/2012

Diversas atividades celebrarão, a partir desta sexta-feira (16), o Dia Mundial do Teatro do Oprimido. A escolha da data é uma homenagem ao criador do Teatro do Oprimido, o carioca Augusto Boal, que completaria 81 anos em 2012.

Nascido em 16 de março de 1931, o diretor de teatro, dramaturgo e ensaísta dedicou a vida e obra em favor das lutas sociais. Baseadas em uma estética preocupada com as questões políticas e sociais, as técnicas e práticas do dramaturgo foram difundidas em todo o mundo.

No Centro de Teatro do Oprimido (CTO), as atividades iniciam às 19h, com a apresentação de pouporrit musical do espetáculo Coisas do Gênero, com elenco do CTO. A exibição do documentário "Augusto Boal e o Teatro do Oprimido", do cineasta Zelito Viana, mostrará a trajetória de vida e obra do dramaturgo. O Centro do Teatro do Oprimido fica na Avenida Mem de Sá, 31, no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro.

A programação também contará com a apresentação de performance internacional com elenco da Guatemala, Argentina, Bolívia, Chile, Uruguai, Peru, França, Alemanha, Espanha, Itália e Brasil, e com o lançamento do livro "A Estética de Boal – Odisséia pelos Sentidos", de Flávio Sanctum.

Já no dia 17, haverá apresentação do Grupo de Teatro do Oprimido do Complexo da Maré – GTO Maré, às 15h no Museu da Maré. O grupo formado por adolescentes criou a peça "Quem pode leva", que levanta a discussão sobre o preconceito que os jovens sofrem por morarem na favela. O Museu da Maré está localizado na Avenida Guilherme Maxwell, 26, em frente ao PSF – Programa de Saúde da Família – Augusto Boal, uma homenagem da Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro.

Ainda nesta sexta-feira (16), será lançado o Projeto Centro Interuniversitário de Memória e Documentação (CIM), locado na Universidade Federal do Rio de Janeiro. A proposta, financiada pelo Ministério da Educação, é criar um espaço para a divulgação de acervos artísticos e científicos que potencialize ações e políticas de preservação do patrimônio material e imaterial brasileiro.

A data de lançamento foi escolhida em homenagem a Boal, já que a restauração e divulgação de seu acervo são projetos-piloto do CIM, em parceria com a Faculdade de Letras (FL), a Casa da Ciência, a Reitoria da UFRJ e o Instituto Augusto Boal.

De 16 a 23 de março serão realizados diversos eventos para resgatar a trajetória do artista, falecido em 2009. No último dia, será concedido a ele o título de doutor honoris causa (post mortem) pela Faculdade de Educação (FE) da UFRJ. A programação completa pode ser conhecida aqui.

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05/05/2009 - Reeditamos a entrevista: "No palco, soluções para a vida real"
concedida a Nestor Cozetti, do Rio de Janeiro (RJ) - Brasil de Fato

Mais importante do que assistir a um filme, diz o dramaturgo, é que as pessoas pensem também ser capazes de fazer filmes Augusto Boal inovou e reinventou o teatro”, já disse sobre ele o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Mais importante do que assistir a um filme, diz o dramaturgo, é que as pessoas pensem também ser capazes de fazer filmes. Ou que as pessoas que recebam um livro para ler sejam também incentivadas a escrever livros elas mesmas. Essas afirmações definem não apenas Boal como todo o seu trabalho, mais que conhecido – praticado nos cinco continentes. Criador do Teatro do Oprimido, ele foi o diretor artístico do Festival Nacional do Teatro Legislativo, que aconteceu entre os dias 25 e 30 de outubro, no Rio de Janeiro.

Nesta entrevista ao Brasil de Fato, Boal fala de seu trabalho e conta que a primeira lei brasileira de proteção às testemunhas de crimes importantes surgiu a partir de um projeto do Centro do Teatro do Oprimido, no qual os grupos populares apresentavam espetáculos em que o público é convidado a entrar em cena, substituir o protagonista e buscar alternativas para o problema encenado.

Brasil de Fato – O que é o Teatro Legislativo?
Augusto Boal – O Teatro Legislativo foi a necessidade que nós sentíamos, antes de eu ser vereador, de transformar em lei aquilo que era um desejo manifestado pela população do Teatro Fórum. Neste, você apresenta o problema, e não as soluções possíveis. Por exemplo, o Shakespeare tem uma peça, Hamlet, em que ele fala que o texto deve ser um espelho, e esse espelho deve refletir a realidade como ela é: com nossos vícios e nossas virtudes. Isso é a opinião dele, o teatro é um espelho. Eu acho isso bonito e tudo. Mas ao mesmo tempo acho que a gente não tem que pensar só em compreender a realidade. Tem que procurar transformar a realidade. Esta sempre deve ser passível de uma transformação e vai necessitar sempre da transformação. Então, eu gostaria que o teatro fosse um espelho mágico, no qual você penetra e, não gostando da imagem que ele reflete, você vai lá dentro e lá modifica essa imagem. A gente sentiu que estava tendo idéias muito boas e tudo isso, mas na realidade a gente precisava de alguma lei. Mesmo que a gente saiba que as leis não são respeitadas no Brasil, é melhor tê-las ao nosso lado do que contra, contra nós. Então a gente começou a pensar na idéia de transformar em lei, entrando para a Câmara dos Vereadores. E eu fui candidato, fui eleito, por quatro anos.

BF – Por qual partido?
Boal – Pelo Partido dos Trabalhadores. Durante quatro anos a gente criou quase 20 grupos, no Rio de Janeiro inteiro, fazendo o Teatro Fórum. De 1993 a 1996. Chegamos a produzir quase 50 projetos de lei. Desses, 13 foram aprovados e hoje são leis. Algumas foram leis bastante localizadas.

BF – Projetos de lei surgiram dessas encenações?
Boal – Sim, com a platéia entrando em cena, havendo a discussão contraditória. Quer dizer, a peça trazia um problema, mas o primeiro espectador não achou uma solução boa, contra o segundo, o terceiro, o quinto. Então, fazendo muito o Teatro Fórum, a gente chegou a poder dizer: bom, o que eles estão querendo é uma lei nesse sentido. E eu apresentava essa lei. Entre elas, a primeira lei brasileira de proteção às testemunhas de crimes. Não havia nenhuma lei que protegesse as testemunhas. Nós fizemos durante meio ano, nas ruas, nas igrejas, nos sindicatos, nas escolas,em toda parte a gente ia, levava as peças e depois fazia a discussão teatral, com o espectador entrando em cena e dando sugestões. E aí, essa foi a primeira lei brasileira, que depois se transformou em uma lei estadual no Espírito Santo. E passou também a ser a base da lei federal.

BF – Fruto de uma encenação do Teatro do Oprimido?
Boal – Sim, de vários grupos, sobre o mesmo tema. Claro que depois o tema foi para Brasília, se ampliou enormemente, porque as possibilidades federais são bem maiores que as municipais. Quando eu saí (da Câmara de Vereadores) a gente continuou fazendo isso. Tem agora três ou quatro leis aprovadas depois que eu saí, porque é muito mais difícil manter a lei, sem ter um vereador ou deputado, assim totalmente empenhado.

BF – Como nasceu o Teatro do Oprimido?
Boal – Em 1970,quando eu trabalhei uma forma chamada Teatro Jornal, eram doze técnicas para ajudar as pessoas a transformarem notícias de jornal em cena teatral. Foi aí a semente do Teatro do Oprimido. O que aconteceu é que a gente não podia mais fazer teatro, tinha censura, invasão da polícia, prisões e tudo. Aí a gente falou: em vez de dar o produto acabado, vamos dar os meios de produção, a platéia produz o seu teatro.

BF – Um meio de produção cultural?
Boal – Sim, e teatral. Depois eu fui exilado, em 1971. Antes fui preso, torturado, aquela coisa “normal” da época. Fui banido, expulso do país. Na Argentina, comecei a desenvolver formas de teatro, como, por exemplo, o Teatro Invisível, em que agente vai para a rua e faz uma cena, e não revela que é teatro, para que todo mundo participe. Depois, no Peru, é que eu comecei com o Teatro Fórum, em que agente apresenta o problema, o espectador entra em cena e mostra alternativas. Então fui para Portugal, de lá passei a trabalhar em quase todos os países da Europa.

BF – E nesses países ficaram frutos de seu trabalho?
Boal – Sim, até hoje e cada vez mais. Na internet existe uma página internacional do Teatro do Oprimido.

BF – Qual o endereço?
Boal – O nome é em inglês, porque a página é holandesa: www.theatreoftheoppressed.org/en. Então, você acessando aí vê que tem um mapa-mundi e aí você clica em qualquer continente e aparecem todos os países onde se pratica o Teatro do Oprimido. São, setenta, oitenta países. É o primeiro método da América Latina, de um continente do Hemisfério Sul, que é praticado no mundo inteiro.

BF – Por que você e o Teatro do Oprimido são excluídos da grande mídia?
Boal – Eu acho que todos aqueles artistas que fazem alguma coisa que é extremamente útil para a população e tudo, mas que não tem um gancho, como por exemplo, um ator de televisão conhecido, ou algum outro evento que individualize as pessoas, esses são excluídos. Não é o Teatro do Oprimido, nem eu. É qualquer artista que não fizer assim. É excluído mesmo. Em geral, a mídia se interessa pela individualidade, só. E o que nós estamos tentando é fazer com que o Teatro do Oprimido seja usado em todo o tecido social. Não é ver, por exemplo, onde estão os talentos da favela da Maré. Nós não queremos transformá-los em atores de televisão, não é isso. Agora estamos lançando um projeto novo, que é a Estética do Oprimido. Nosso objetivo não é descobrir qual é o melhor poeta de Jacarepaguá, ou qual é o melhor pintor de tal lugar.

BF – Então, o que vocês querem não é o produto final, mas o processo de elaboração.
Boal – Sim, o processo estético é mais importante que o produto artístico. Agora, para quê agente quer isso, não é um capricho, não é? É que a gente vive na Terceira Guerra Mundial, clara, e estamos perdendo. E essa guerra mundial que estamos perdendo é a guerra da informação. Liga a televisão, hoje, e você vai ver somente filmes estadunidenses, e só de violência. Você nota se o filme é estadunidense ou não, de inspiração em Hollywood ou não, se em cada cinco minutos tem um soco, um tiro, ou uma explosão. Aí isso é estadunidense. O filme europeu raramente tem isso.

BF – E o Teatro do Oprimido, também por não fazer isso não sai na mídia?
Boal – Não sai. Porque a gente quer é o contrário, quer que as pessoas em vez de ficar assimilando, produzam, produzam. Então elas vão questionar, inclusive, as informações recebidas. Se você é obrigado a escrever um poema, depois você se anima, porque os poetas se animam. Entre as domésticas, tem uma que não pára de escrever. Atola a gente de poemas.

BF – Essa é a Estética do Oprimido?
Boal – É isso, é fazer com que as pessoas se apropriem da arte. Não sejam massacradas pela informação.

BF – E como é o seu trabalho com os movimentos sociais?
Boal – Com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o trabalho é muito bom, mas seria melhor se a gente tivesse meios para isso. Há alguns anos, eles começaram a vir ao Rio de Janeiro, do Brasil inteiro. Trabalharam com a gente durante algum tempo, e passamos para eles o que podemos. Depois eles voltaram para seus Estados, Rio Grande do Sul, Pará, Pernambuco etc., e lá eles começaram a desenvolver o Teatro o Oprimido.

BF – São dificuldades logísticas?
Boal – E econômicas. Mas a gente trabalha com eles. E também com os sindicatos dos bancários, dos professores. E estamos trabalhando com dez grupos da periferia. Nas prisões, em seis ou sete Estados brasileiros. Com um projeto de um ano e meio, com o Ministério da Justiça apoiando. E sai caro, porque você imagina ir daqui para Recife e voltar.

BF – Trabalho com os prisioneiros?
Boal – Fazemos as duas coisas. Desta vez tentamos fazer com os funcionários, para que se sintam também participantes desse processo. Quer dizer, que eles entendam que são oprimidos também, e que não resolvem a opressão deles oprimindo outros.

BF – E o que é para o senhor a democratização da cultura e meios de produção cultural?Boal – Democratização da cultura é uma expressão que está sendo muito usada, mas num sentido que não me agrada. Porque é como se dissessem assim: existem algumas pessoas excepcionais, que são os produtores de cultura. Então, esses produtores de cultura vão democratizá-la levando a um maior número de pessoas. Mas o maior número é entendido como de consumidores, e não como de produtores de cultura. Acho mais importante ainda que as pessoas que recebem o filme sejam também capazes de poder pensar em fazer filme. Ou as pessoas que recebem um livro para ler sejam também incentivadas a escrever elas mesmas.

Gonzaguinha e Marlene - Projeto Pixinguinha

BF – É o que acontece com a democratização da comunicação, também queremos democratizar os meios de fabricar o jornal. 
Boal – É, se você só democratizar a leitura, a exibição e tal, e transformar os outros somente em consumidores, é ruim. Mas tem que ser complementado com dizer: bom, nós viemos mostrar a vocês esses poemas. Agora escrevam vocês mesmos, vocês têm que escrever também. Democratizar a cultura é permitir que as pessoas criem cultura. É democratizar os produtores de cultura e não apenas da produção terminada. Senão se está criando mercados, e criar mercados não é o objetivo da cultura. E na informação é a mesma coisa, a gente tem que criar meios de informar, de contra-informar, de se opor informações para que dessa confrontação, para que dessas dúvidas, inclusive, nasçam certezas. E é isso o que a gente está tentando fazer.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Regiões mais ricas em recursos naturais são palco de conflitos


Patrícia Benvenuti/Brasil de Fato


Enviada a San Juan de Pasto e Barrancabermeja (Colômbia)

Além de aumento da militarização, simbolizado agora pela instalação de sete bases militares estadunidenses em seu território, os colombianos enfrentam outra ameaça não menos agressiva: o avanço de empresas transnacionais no país. Minas repletas de ouro, manganês e outros recursos são algumas das riquezas nacionais que têm atraído corporações de todo o mundo nos últimos dez anos. Segundo o líder do Comitê de Integração do Maciço Colombiano (Cima), Robert Daza Guevara, atualmente há pelo menos 137 transnacionais atuando no país, que recebem concessões para a exploração em todo o território.

As corporações, porém, não vieram desacompanhadas. Junto com elas, veio a intensificação dos conflitos armados no país. De acordo com o dirigente, muitas empresas agem no sentido de expulsar os trabalhadores do campo, a fim de tomar suas terras. Para isso, fazem uso até do patrocínio de grupos paramilitares. “Em Arauca [departamento], há grupos paramilitares que são financiados por empresas multinacionais petrolíferas. É onde há os mais altos índices de assassinatos e violações dos direitos humanos”, destaca.

Para Guevara, a atuação dos paramilitares em certas áreas está mais relacionada com a existência de recursos naturais do que com presença grupos guerrilheiros. O paramilitarismo, segundo ele, faz parte de um esquema articulado por várias frentes. “As corporações transnacionais, em cumplicidade com o governo, com os militares e em aliança com os paramilitares, retiram as pessoas do seu território. E as bases militares vêm a ser um apoio técnico e militar a todas essas estratégias”, enfatiza.

Como exemplo, ele cita a transnacional AngloGold Ashanty, que ganhou concessão de exploração em 26 dos 32 departamentos colombianos. Dos 13 milhões de hectares concedidos pelo Ministério de Minas e Energia, 800 mil já tem permissão de exploração. Ao recusarem vender suas terras, agricultores, indígenas e negros sofrem ameaças que se concretizam em assassinatos.

Forças Públicas

As terras onde há mais concentração com recursos, no entanto, também têm recebido forte aparato das Forças Públicas colombianas. Em uma hora de viagem entre os municípios de Sapuyes e Ricaurto, no departamento de Nariño, é possível observar cinco bases permanentes da polícia, que conta ainda com outras três ocasionais. A área, uma das mais ricas em ouro, também registra altos índices de violência.

Já em Cajamarca, departamento de Tolima, a disputa por uma grande mina de ouro é a causa de violações e massacres, muitos dos quais atribuídos ao próprio Exército colombiano.

Fomigação

A violência direta, porém, não é a única arma usada contra os camponeses. Sob pretexto de erradicar o plantio de coca, é usada a técnica da fumigação, pelo despejo aéreo de glifosato sobre as lavouras. Como a coca já adquiriu proteção ao glifosato, o prejuízo fica sobre lavouras de alimentos básicos aos agricultores, como cacau, arroz e banana.

Somente nos últimos oito anos, cerca de 4,5 milhões de trabalhadores foram expulsos do campo. Hoje, dos 45 milhões de habitantes da Colômbia, apenas 11 milhões vivem nas zonas rurais.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Haiti: estamos abandonados

por Otávio Calegari Jorge, do Grupo de Pesquisadores da Unicamp no Haiti, em 13/1/10
A noite de ontem foi a coisa mais extraordinária de minha vida. Deitado do lado de fora da casa onde estamos hospedados, ao som das cantorias religiosas que tomaram lugar nas ruas ao redor e banhado por um estrelado e maravilhoso céu caribenho, imagens iam e vinham. No entanto, não escrevo este pequeno texto para alimentar a avidez sádica de um mundo já farto de imagens de sofrimento.

O que presenciamos ontem no Haiti foi muito mais do que um forte terremoto. Foi a destruição do centro de um país sempre renegado pelo mundo. Foi o resultado de intervenções, massacres e ocupações que sempre tentaram calar a primeira república negra do mundo. Os haitianos pagam diariamente por esta ousadia.

O que o Brasil e a ONU fizeram em seis anos de ocupação no Haiti? As casas feitas de areia, a falta de hospitais, a falta de escolas, o lixo. Alguns desses problemas foram resolvidos com a presença de milhares de militares de todo mundo?

A ONU gasta meio bilhão de dólares por ano para fazer do Haiti um teste de guerra. Ontem pela manhã estivemos no BRABATT, o principal Batalhão Brasileiro da Minustah. Quando questionado sobre o interesse militar brasileiro na ocupação haitiana, Coronel Bernardes não titubeou: o Haiti, sem dúvida, serve de laboratório (exatamente, laboratório) para os militares brasileiros conterem as rebeliões nas favelas cariocas. Infelizmente isto é o melhor que podemos fazer a este país.

Hoje, dia 13 de janeiro, o povo haitiano está se perguntando mais do que nunca: onde está a Minustah quando precisamos dela?

Posso responder a esta pergunta: a Minustah está removendo os escombros dos hotéis de luxo onde se hospedavam ricos hóspedes estrangeiros.

Longe de mim ser contra qualquer medida nesse sentido, mesmo porque, por sermos estrangeiros e brancos, também poderíamos necessitar de qualquer apoio que pudesse vir da Minustah.

A realidade, no entanto, já nos mostra o desfecho dessa tragédia – o povo haitiano será o último a ser atendido, e se possível. O que vimos pela cidade hoje e o que ouvimos dos haitianos é: estamos abandonados.

A polícia haitiana, frágil e pequena, já está cumprindo muito bem seu papel – resguardar supermercados destruídos de uma população pobre e faminta. Como de praxe, colocando a propriedade na frente da humanidade.

Me incomoda a ânsia por tragédias da mídia brasileira e internacional. Acho louvável a postura de nossa fotógrafa de não sair às ruas de Porto Príncipe para fotografar coisas destruídas e pessoas mortas. Acredito que nenhum de nós gostaria de compartilhar, um pouco que seja, o que passamos ontem.

Infelizmente precisamos de mais uma calamidade para notarmos a existência do Haiti. Para nós, que estamos aqui, a ligação com esse povo e esse país será agora ainda mais difícil de ser quebrada.

Espero que todos os que estão acompanhando o desenrolar desta tragédia também se atentem, antes tarde do que nunca, para este pequeno povo nesta pequena metade de ilha que deu a luz a uma criatividade, uma vontade de viver e uma luta tão invejáveis.

Otávio Calegari Jorge

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Presidente da CNBB demite editores e manda recolher jornal católico em Minas Gerais

Decisão é motivada por conteúdo que faz duras críticas a prefeitos da região e ao governador
por Danilo Augusto, do Brasil de Fato

Dom Geraldo Lyrio Rocha, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e arcebispo de Mariana (MG), demitiu parte do conselho editorial do Jornal Pastoral e mandou recolher os exemplares da edição do mês de setembro, proibindo assim sua circulação. O periódico, com tiragem de aproximadamente 2 mil exemplares, é de responsabilidade da diocese de Mariana e tem circulação garantida em aproximadamente 70 municípios da região.

Segundo religiosos envolvidos no caso, entrevistados pelo Brasil de Fato e que não se identificaram temendo perseguições, o que levou dom Geraldo a adotar tal medida foi o conteúdo do editorial da edição de setembro. Intitulado “Do toma lá dá cá ao projeto popular”, o texto faz duras críticas a prefeitos da região e ao governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB). De acordo com um dos religiosos, o texto estava totalmente pautado no pensamento da Igreja. “O editorial condiz com o que pensa a Igreja voltada para o compromisso social. Por isso, avaliamos que esta é uma posição pessoal do bispo”, completa.

Questionamento

Em trechos, o editorial questiona as despesas da prefeitura de Piranga (MG), que gastou aproximadamente R$ 375 mil nas obras de uma praça. O valor gasto pela administração do prefeito Eduardo Sérgio Guimarães (PSDB) estaria em média R$ 225 mil acima do valor de mercado, como informou um laudo técnico do engenheiro Carlos Alberto Gomes Beato. Saindo do âmbito regional, o editorial desenvolve críticas à administração do governo mineiro apontando que “levantamento publicado no jornal Estado de Minas do dia 30/08/2009 mostra que em 81 dos 85 municípios com menor índice de desenvolvimento [renda, emprego, saúde e educação] a pobreza caminha de mãos dadas com a corrupção”.

Em outro momento, o nome do governador mineiro é citado: “O governo Aécio, sob a diligência da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, canalizou recursos da ordem de R$ 15 bilhões, em grande parte recursos públicos, para quatro empresas (Vallourec, Sumitomo, CSN e Gerdau) ampliarem ou consolidarem seus próprios negócios na região do Alto Paraopeba. O dinheiro é suficiente para a construção de 700 mil casas populares ao preço de R$ 20 mil cada, quase quatro vezes mais do que os R$ 4 bilhões reservados pelo governo federal para programas de moradia em todo o Brasil. Se esse recurso fosse distribuído para as três cidades Congonhas, Ouro Branco e Jeceaba, onde as empresas ‘sortudas’ estão instaladas, que somam 70 mil habitantes, tocariam perto de R$ 219 mil para cada pessoa ou quase R$ 1 milhão por família.

Os nomes envolvidos no editorial também seriam motivos para a tal atitude de dom Geraldo. “O texto cita nomes de políticos e esses políticos citados poderiam cobrar a igreja por meio do bispo uma satisfação sobre o editorial. Isto foi uma motivação política e não religiosa. O bispo quer manter o seu lado do poder, ele não quer perder isso”, explica um dos nossos entrevistados.

Resgate

O editorial também faz um histórico dos financiamentos do governo de Minas em empresas privadas desde o ano de 2003. “As ricas áreas desapropriadas e entregues de mão beijada às minerados e siderúrgicas em Jeceaba e Congonhas chegam a 4 mil hectares. E, de 2003 a 2008, foram canalizados R$ 199 bilhões para as empresas em todo o estado de Minas Gerais, em negociatas de compadrio e cumplicidade tipo ‘unha e carne'”, finaliza.

“Não concordo...”

Em resposta, no mês de outubro, dom Geraldo afirma em editorial do Jornal Pastoral, que “não concordo, não aceito e não aprovo o editorial do Jornal Pastoral do mês de setembro. A Arquidiocese de Mariana não se responsabiliza pelas afirmações e acusações aí expressas. Seja essa a última vez que o Jornal Pastoral incorre em erro tão grave. A fé cristã implica em compromisso social e a Igreja Católica nunca renunciará à sua missão de ser advogada dos pobres e injustiçados”.

Esse trecho, segundo religiosos ouvidos pelo Brasil de Fato, evidencia a postura de uma parte dos lideres católicos. “Ele tem uma visão de Igreja. E nessa visão ele tem preocupação de manter o nome da Igreja. E qualquer coisa que venha colocar em questionamento a posição da Igreja ele teme e foge do conflito. Pois grande parte da Igreja ainda tem medo do conflito e tem medo de se colocar contra a posição do poder político. E na hora desse conflito eles se colocam do lado de quem detém o poder”, observa.

Contrário

Os religiosos acrescentam que essa posição e essa atitude de dom Geraldo não causaram estranhamento. “Acreditamos que essa posição do bispo não é a mais importante de toda a situação. Ele tem posição contrária diante da Romaria dos Trabalhadores, posição contrária em relação à denuncia contra corrupção, posição de afastamento de padres que se envolvem com pautas de movimentos sociais e populares. Então, há uma série de coisas que vão definindo o rumo da diocese e a linha de trabalho dele” lamenta.

Segundo eles, esse posicionamento é contraditório com o atual momento vivido pela Igreja Católica, que apóia o projeto Ficha Limpa e que tem como tema da Campanha da Fraternidade de 2010 “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro”. “Essa posição é contraditória, pois bate de frente com o momento vivido pela Igreja, que é o posicionamento contra a corrupção política. O editorial condena pessoas politicamente corruptas. A posição do bispo em relação a isso é uma contradição e acaba ficando contra a coleta de assinaturas para o projeto de Ficha Limpa. Ele ficou preocupado com a imagem diante do Senado Federal, na pessoa representada por José Sarney, diante do Estado e dos políticos citados pelo texto”.

Fé em movimento

No Brasil, mesmo estando em queda, os católicos ainda são maioria. De acordo com última pesquisa realizada em 2007 e divulgada pelo Datafolha, aproximadamente 64% dos brasileiros se dizem católicos. O número é 11% menor que uma pesquisa realizada pelo mesmo instituto em 1994. Soma-se a isso o crescimento dos evangélicos pentecostais e não pentecostais, que somam mais de 22%. Esses dados preocupam os religiosos, tendo em vista que muitas vezes o caminho da Igreja é traçado por pessoas como dom Geraldo. “Esse posicionamento dificulta muito a caminhada da Igreja. Por outro lado, eu acredito que a força da Igreja está se manifestando nos movimentos populares. Uma atitude como essa não demora muito tempo a ruir” completa.

O Brasil de Fato informa que entrou várias vezes em contato com o arcebispo dom Geraldo Lyrio Rocha, mas ele não atendeu e nem retornou as ligações

O GOVERNADOR E O ARCEBISPO

por Laerte Braga, jornalista e analista político

A Igreja Católica Apostólica Romana resistiu dois mil anos, mas não vai sobreviver a João Paulo II e Bento XVI. Não tem como. Dois predadores conscientes do papel que cumpriu o primeiro e cumpre o segundo. E toda a equipe montada pacientemente desde a ascensão de Wojtila e seu braço capitalista, o cardeal Marcinkus.

Dom Geraldo Lyrio Rocha, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) demitiu parte do conselho editorial do JORNAL PASTORAL e mandou retirar de circulação exemplares da edição de setembro. A denúncia foi feita pelo jornalista Danilo Augusto, no jornal BRASIL DE FATO. A tiragem do JORNAL PASTORAL é de dois mil exemplares, circulando em pelo menos 70 municípios da região.

Pensar que o arcebispo de Mariana era Dom Luciano Mendes de Almeida.

Dom Geraldo Lyrio não gostou de criticas feitas ao governador de Minas Aécio Neves e a prefeitos tucanos de cidades da região da sua arquidiocese. Para ser ter uma idéia de uma das mutretas abençoadas pela decisão do arcebispo, o prefeito de Piranga gastou 375 mil reais em obras numa praça da cidade, pelo menos 225 mil acima dos custos reais. O prefeito é Eduardo Sérgio Guimarães, do PSDB.

O jornal publicou ainda parte de trabalho do ESTADO DE MINAS que denuncia (deve ter escapado e o jornalista já deve ter sido demitido) que 81 dos 85 municípios da região com menor índice de desenvolvimento (renda, emprego, saúde e educação), no que diz respeito ao governo Aécio, a “pobreza caminha de mãos dadas com a corrupção”.

D. Geraldo Lyrio não gostou, tomou a decisão em caráter pessoal, bem ao estilo truculento do esquema montado desde o papado de João Paulo II. O JORNAL PASTORAL mostra também que as verbas públicas estavam e estão sendo empregadas em empresas privadas. “O governo Aécio, sob a diligência da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, canalizou recursos da ordem de 15 bilhões de reais para quatro empresas.”

Vallourec, Sumitomo, CSN e Gerdau. São os tais que defendem a iniciativa privada, o deus mercado (que orienta D. Lyrio), mas tudo com dinheiro público. Esse valor, na denúncia formulada pelo jornal daria para a construção de 700 mil casas populares ao preço de 20 mil reais cada uma, quatro vezes mais que os bilhões reservados pelo governo federal para programas de moradia em todo o Brasil.

Em compensação as obras de caridade do arcebispo devem estar bem fornidas, o palácio episcopal deve ter a despensa sortida de caridade empresarial, tanto quanto a caixinha do governador de Minas para sua campanha presidencial.

E mais. “Se esse recurso fosse distribuído para as três cidades Congonhas Ouro Branco e Jeceaba, onde as empresas sortudas estão instaladas, a totalidade dos 70 mil habitantes teria em programas de saúde, educação, moradia, 219 mil reais por pessoa, cerca de um milhão por família.”

Os demitidos pelo gesto inquisitório de Dom Lyrio consideram que a decisão do arcebispo foi política e não religiosa. O santo homem não gostou de ver o governador de Minas exposto assim de público como corrupto e pilantra, naturalmente, movido por piedade cristã.

Não deve ser por outra razão que quando as máfias foram criadas na Itália (Marcinkus tinha ligações com mafiosos e foi pedida sua prisão por esse motivo) decidiram que os chefões seriam chamados de Dom.

O jornal apontou também que terras em áreas privilegiadas foram desapropriadas e entregues de mão beijada a essas empresas, com toda certeza para gerar “progresso”, “emprego”, etc, etc, essa pilantragem Aécio fez semana passada em Juiz de Fora, Minas, onde prefeita o corrupto tucano Custódio Matos.

Preocupado e com medo de perder os convescotes no Palácio em BH, o arcebispo Dom Lyrio, na edição de outubro diz que não concorda com as críticas.

A eminência vai de encontro, na visão correta dos demitidos à campanha de candidatos ficha limpa. A de Aécio é branquinha, mas de outra coisa. E não é pinga não.

Fica fácil explicar o motivo da queda do número de católicos no País nos últimos anos. Da ordem de 11% revela pesquisa do DATA FOLHA, feita em 2007.

Se já não recebeu a medalha Tiradentes, em Ouro Preto, com toda certeza Dom Lyrio vai recebê-la e mais muitas coisas. Um convite para uma semana em Honduras, onde o cardeal de lá apóia o golpe militar (prendeu, torturou, estuprou e matou mais de mil resistentes), com direito a estadia na base militar dos EUA, um fim de semana na CERVEJARIA/TRAMBIQUETERIA CASA BRANCA e se bobear ainda ganha de Obama o direito de abençoar os 40 mil homens que “vão completar o serviço no Afeganistão”.

Breve no Vaticano e em todas as dioceses e arquidioceses, a bandeira ornada com a suástica e Bento XVI de bigodinho, relembrando seus velhos tempos de juventude hitlerista.

O jornal BRASIL DE FATO, que denuncia o esquema D. Lyrio/Aécio (Gerson Camata deve ter alguma participação no batismo imagino) tentou ouvir o Dom, mas não obteve resposta a seus pedidos.

Já já vira cardeal.