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terça-feira, 18 de junho de 2013

O circo está pegando fogo e o pão está pela hora da morte


 Por Fátima Lacerda*

 Resgato a constatação, coletada no facebook, da arqueóloga Sílvia Peixoto, que sintetiza com exatidão o espírito das manifestações: o circo está pegando  fogo e o pão está pela hora da morte.

 “Quem disse que o Brasil é só futebol?” – lia-se em uma das faixas estendidas durante a manifestação em Brasília, na abertura da Copa das Confederações.  Anunciada a presença do presidente da Fifa, Joseph Blatter, o estádio Mané Garrincha explode em vaias ao mandatário da instituição que ostenta o título de “maior que a ONU” e à presidenta do Brasil, Dilma Rousseff.

 Dois dias depois (17), cem mil pessoas na Avenida Rio Branco e arredores, no Rio de Janeiro; 65 mil em São Paulo; mais de 20 mil em Belo Horizonte. Dez mil em Curitiba, Belém e Porto Alegre. Entre cinco e seis mil em Salvador, Brasília e Vitória. Quatro mil em Novo Humburgo (RS). Duas mil em Maceió (AL), Foz de Iguaçu (PR) e Campos (RJ). Mil em Fortaleza, Santos e Guarujá. Mais de 500 em Poços de Caldas (MG), Bauru (SP) e Três Rios (RJ). Em Pindamonhangaba (SP), 200. Até em Araraquara (SP), 150 pessoas, segundo a PM Os dados foram divulgados pelo G1. Grupos de brasileiros se manifestaram, em solidariedade, também em Nova Iorque (EUA) e em várias cidades da Europa.

 O movimento é plural. A maioria protesta pacificamente. No entanto, parte dos manifestantes, alguns de orientação anarquista, outros por simples revolta, faz questão de atingir os símbolos do poder, como vidraças de bancos e o Congresso Nacional, em Brasília. A Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) foi foco do confronto mais explosivo no final do dia desde histórico momento nacional.

O problema não são os vinte centavos do ônibus, não é simplesmente a corrupção do partido de plantão no governo federal. Não é apenas o “mensalão”, como dizem oportunistas da oposição de direita, que também já tiveram os seus “mensalões” e se comportam como urubus na carniça.  O problema é o roubo do sistema bancário, o roubo deslavado das empreiteiras acoitadas e associadas aos governadores e prefeitos. A violência de todos os lados, mas, sobretudo, a violência da polícia de Alckimin e de Cabral contra os pobres. É a violência dos ruralistas contra os nossos índios.

É o desrespeito aos símbolos da nossa cultura, como o acarajé e o Museu do Índio, patrimônios que os governos não se preocupam em preservar, desde que as obras milionárias possam render alguns milhões desviados da cultura, do saneamento básico, das escolas e dos hospitais para os bolsos dos empresários e políticos.

 As manifestações também são a expressão da falta de perspectiva. Para muitos, mais do que a revolta com a corrupção sistêmica, é o sentimento de ter sido traído por aqueles em quem confiavam. Eu nem precisaria citar o Partido dos Trabalhadores (PT). Que não se assanhe o PSDB. Ele e outros “Pês da vida” jamais serão herdeiros das esperanças dos jovens, porque estão ainda mais carcomidos.

 Por último, devo dizer: o momento da Copa das Confederações – ou seria da “Copa das Manifestações”? – é oportuno sim. A repercussão internacional não é nada desprezível como andei lendo em alguns sites que talvez não soubessem muito bem o que dizer. Foi por causa da Copa e de outros megaeventos programados no Brasil que pelo menos 250 mil pessoas foram despejadas. E sequer uma casa nova foi construída.

 Como se não bastasse, nossos políticos, sempre tão espertos, esqueceram de uma das lições básicas de Maquiavel: jamais deixe o povo sem pão e sem circo. O pão, as passagens, o pimentão, o tomate, está tudo pela hora da morte. A Fifa impôs ingressos caros, proibiu pandeiro, tamborim e até xingar o juiz nos estádios. Proibiu o povo de ter acesso aos jogos e pasteurizou tanto esse esporte que tirou toda a nossa graça de torcer.

 Pela primeira vez, desde que me entendo por gente, não se vê uma única rua pintada de verde e amarelo. Pensaram que iam nos fazer de bobos da corte? O brasileiro hoje já sabe que o futebol é um grande negócio para enriquecer meia dúzia de empresários e políticos. Foram com muita sede ao pote. Tiraram o pão da boca do povo e o povo da arena dos jogos. Queriam o quê? Agora estão colhendo aquilo que vêm plantando.

 Fonte: Fátima Lacerda é jornalista da Agência Petroleira de Notícias.