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sexta-feira, 22 de março de 2013

Luto e luta: hoje é o Dia Internacional da Água

22/03/2013 - por Zilda Ferreira (*)

O Brasil é o país mais rico em água do planeta. Mas, não tem políticas públicas adequadas que possam gerir esses recursos, em benefício do Estado e da população.

As dificuldades do povo, principalmente o mais carente, para ter acesso à água potável, em alguns municípios, mesmo em cima de aquíferos, denunciam essa má gestão dos recursos hídricos que  tem priorizado o mercado em detrimento do bem estar social.

A Resolução da ONU 64/292 determina como direito humano a água e o saneamento, mas ela não é cumprida. Por isso, não temos nada para comemorar, hoje, Dia Internacional da Água.

Para se ter ideia como a gestão das águas tem priorizado o mercado, basta viajar por este país.

Não se precisa de teoria e nem de uma literatura sobre o assunto, os dados e os fatos saltam aos olhos, principalmente onde o abastecimento é feito por concessões às empresas privadas.

A água é cara, quem não pode pagar não tem acesso, além da contaminação presente nela por falta de investimentos.

Na região Norte, durante um seminário de geologia, na UFPA (Universidade Federal do Pará), denunciou-se que em Manaus a água é a mais cara do país  A concessionária é uma empresa  francesa do grupo Suez e muitas pessoas pobres tiveram a água cortada por falta de pagamento.

Manaus fica na extremidade oeste do aquífero Alter do Chão, provavelmente, o maior do mundo em volume de água. 

Em Belém, segundo alguns estudantes presentes, estão tentando privatizar a água da cidade e por isso o abastecimento tem sido precário para que a ideia de privatização da empresa Cosanpa seja vendida como a tábua de salvação.

Em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, situada sobre o aquífero Guarani, a concessionária pertence a grupos políticos, não identificados.

Lá, conhecemos uma senhora que, ganhando salário minimo pagava uma conta de água de R$ 100,00 (cem reais). Embora ela passasse o dia fora e suas duas crianças ficassem na creche.

O Nordeste brasileiro é detentor do maior volume de água represado, em regiões semi-áridas do mundo. São 37 bilhões de metros cúbicos estocados em cerca  de 70 mil represas de portes variados.

A água existe, mas falta aos nordestinos uma política coerente de distribuição desses volumes para o atendimento de necessidades básicas.

Estes dados constam de um depoimento recente de João Suassuna, um dos maiores especialistas na questão hídrica nordestina.

Em Santarém, Pará (foto), em plena região dos maiores rios do Brasil, às vezes, não é possível tomar banho, necessidade primordial em virtude do calor e da poeira, porque não há água nas torneiras.

Essa maravilhosa cidade, às margens do Tapajós, fica no coração do aquífero Alter do Chão (foto).

Durante a Rio+20, a água foi o assunto principal, até nas filas para pegar o ônibus para o Riocentro, onde acontecia a Conferência...

Um engenheiro sanitarista comentava com uma jornalista:
- No Rio Grande do Norte não há perigo de privatizar a água.
- Por que? indagou ela.
- O processo de fornecimento lá, fica caro, temos que buscar (bombear) água de longe. Além disso, temos vários programas sociais de abastecimentos às populações carente. Não dá lucro. Por isso, não há demanda por concessões para prestar esse  serviço, respondeu o sanitarista.

O mesmo não acontece no norte de Mato Grosso, onde cada município tem uma concessionária, a demanda é grande, mas todas pertencem ao mesmo grupo.

A água é abundante e o abastecimento é precário e oneroso à população, informou uma pesquisadora da Universidade do Amazonas, explicando que essa região fica na chamada Amazônia Legal.

A ONU lançou 2013 como o Ano Internacional da Cooperação pela Água.

O objetivo da iniciativa é incentivar o relacionamento social positivo das pessoas e comunidades, a partir da água como instrumento de relação.

A ideia é boa, mas a política brasileira de gestão das águas, que prioriza o mercado em detrimento da população não permite essa cooperação.

Dizem que a atual ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira (foto), não vai conseguir entregar toda a água do país, porque é demais.

Tampouco toda a
biodiversidade existente em nossas terras, sem dúvida a maior megabiodiversidade do  planeta..., não haveria tempo suficiente para isso.

Mas com o MMA ela vai acabar.

Aliás já começou o desmonte do ministério.

Nesta última terça feira, dia 19, ela propôs o fim do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), instituído pela Lei 6938/81, que revolucionou a política ambiental brasileira e gerou o Art. 225 da Constituição Federal.

Para quem não lembra, a ministra Izabella Teixeira foi, há mais de quinze anos, a Coordenadora do PDBG - Programa de Despoluição da Baia de Guanabara que, ao final, redundou em um notório fracasso a exalar até os dias de hoje, o cheiro fétido, que os moradores do Complexo da Maré tão bem conhecem, de tanta incompetência.

A política ambiental do país é um espelho da do Rio de Janeiro, onde desastres ambientais em cascata, fruto de duas décadas de gestão do mesmo grupo político mentor da atual ministra do Meio Ambiente, escancaram cenas como - mais uma vez - a da recente mortandade de quase 100 toneladas de peixes da lagoa Rodrigues de Freitas, na zona sul da cidade.

Algo semelhante ao terror que assombra os moradores da região serrana a cada anúncio de chuvas, com as vidas ceifadas a cada verão, como as praias e rios poluídos, cujas imagens percorrem o mundo sem revelar a extensão desse drama.

Como as agressões - do que ainda sobra -, seja à Mata Atlântica ou à Floresta da Tijuca.

Luto e luta para saudar o Dia Internacional da Água. Mas nada pra comemorar.

(*) Zilda Ferreira é jornalista e editora deste blog


Não deixe de ler:
- Privatização da Água: o 'fracasso' melhor financiado - Revista Fórum - original do Envolverde
- A luta pelo direito à água na Rio+20 - Zilda Ferreira
- A centralidade da água - Mônica Bruckman

E mais:
- Quem são os donos dessas águas? - Antonio Fernando Araujo
- Água não se nega a ninguém - Carlos Walter Gonçalves
- Um mundo de águas, minérios e nomes que parecem poemas - Antonio Fernando Araujo

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Ato contra a venda do petróleo brasileiro

17/03/2013 - da Redação do site RedeDemocratica

A questão dos leilões é muito mais grave que a questão dos royalties.

Enquanto os royalties representam apenas 10% da renda do petróleo, os leilões envolvem todos esses recursos.

Enquanto todos brigam pelos royalties, para onde vão os outros 90%?

Vamos ocupar o “seminário-festa” dos especuladores do nosso petróleo nesta segunda (18/03), às 8h, no Hotel Windsor em Copacabana.

Um dos maiores crimes contra o povo brasileiro está com data marcada para acontecer em maio.

Não é a derrota da seleção brasileira. Nem o atraso das obras de um estádio para a Copa.

Também não se trata da separação de um casal de artistas famosos.

Nem de uma armadilha para o mocinho da novela das oito.

Estamos falando da entrega de 289 áreas de petróleo.

Isso mesmo, o petróleo que deveria ser nosso, do povo brasileiro irá para as mãos de empresários megamilionários, brasileiros e estrangeiros.

Se aceitarmos esse crime esqueça a ideia de utilizar esse recurso para transformar a educação e saúde públicas, construção de moradias populares, fazer acontecer a reforma agrária, desenvolver transportes de massa, espalhando metrôs, trens e barcas confortáveis e baratos pelo Brasil.

Inclusive, iremos perder a possibilidade de definir o ritmo de exploração do petróleo nacional e construir um plano concreto de mudança de matriz energética, desenvolvendo em larga escala energias limpas que substituam os poluentes combustíveis atuais.

Os movimentos sociais são contra a privatização do petróleo por entender que esse recurso deve ser de todo o povo e não apenas gerar lucro para poucos.

O governo do presidente Fernando Henrique criou um modo de entregar nosso ouro negro, o que ele chamou de Rodadas de Licitação de Blocos para Exploração e Produção de Petróleo e Gás.

O Lula continuou com esse processo de leilões.

E Dilma, infelizmente, marcou a 11ª rodada para maio desse ano.

Vamos assistir calados à entrega desses recursos que poderiam mudar a vida do nosso povo tão sofrido?

Muitos lutadores brasileiros, jovens e idosos, estudantes e trabalhadores, mulheres e homens, decidiram que não!

E passaram a construir a campanha O Petróleo Tem que Ser Nosso que exige o fim dos leilões, controle público sobre a Petrobrás e todo o petróleo e a destinação dessa riqueza para a resolução dos nossos graves problemas sociais.

A questão dos leilões é muito mais grave que a questão dos royalties.

Enquanto os royalties representam apenas 10% da renda do petróleo, os leilões envolvem todos esses recursos.

Queremos discutir “o elefante inteiro” e não “apenas o seu rabo”.

Enquanto todos brigam pelos royalties, para onde vão os outros 90%?

Mas por que a urgência?

No dia 11 de março, a Agência Nacional de Petróleo apresentou o edital sobre a 11ª Rodada de Licitação do Petróleo.

No edital, estava prevista a realização de um seminário.

Em plenária dos movimentos sociais que participam da campanha O Petróleo Tem que Ser Nosso, foi aprovada um ato de protesto durante o evento.

Todos estão convidados a se integrar à manifestação, na abertura do seminário, às 8h desta segunda-feira, 18 de março, no Hotel Windsor, na Av. Atlântica, 1020, Copacabana, Rio de Janeiro.

É importante reunir o máximo de pessoas, para mostrar que a população não aceitará calada os leilões marcados para maio.

Fonte: Agência Petroleira de Notícias [http://www.apn.org.br/w3/index.php/manchetes/urgente/5349-urgente-ato-contra-a-venda-do-petroleo-brasileiro]

Vergonha e Covardia
Por Francisco Soriano de Souza Nunes

Você sabia que a Audiência Pública sobre a 11ª Rodada, pela primeira vez na História do Brasil, foi realizada dentro de um quartel das Forças Armadas?

Foi na Escola de Guerra Naval, avenida Pasteur, 480, na Urca (RJ), no dia 19/02/2013, quase em segredo.

Nove dias depois da audiência já realizada, foram colocados a venda mais 117 Blocos, o que constitui mais uma aberração porque tais blocos não constaram da referida Audiência.

Vide a notícia abaixo:

28/02/2013 - autorizado mais 117 blocos exploratórios de petróleo e gás na 11ª rodada de licitações - Gabriel Palma - Repórter da Agência Brasil      

Brasília – O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) autorizou hoje (28), por meio de resolução publicada no Diário Oficial da União, que a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) inclua 117 áreas na 11ª rodada de licitações de blocos para exploração e produção de petróleo e gás natural.

O governo acrescentou 65 blocos na Bacia da Foz do Amazonas, no Amapá; seis na do Espírito Santo; dez na de Pernambuco-Paraíba e 36 na bacia terrestre de Tucano Sul, na Bahia.

Agora serão 289 blocos a serem leiloados em 14 e 15 de maio. A ampliação foi solicitada pela presidenta Dilma Rousseff no mês passado, de acordo com a Agência Brasil.

Fonte:
http://www.rededemocratica.org/index.php?option=com_k2&view=item&id=4098:ato-contra-a-venda-do-petr%C3%B3leo-brasileiro

Nota:
A inserção de algumas imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.

domingo, 17 de março de 2013

Área indígena sagrada vai virar hidrelétrica

02/07/2012 - Instituto Humanitas Unisinos - Renée Pereira
- publicado no O Estado de S. Paulo em 01/07/2012

Na curva onde o rio divide os Estados do Pará e Mato Grosso, as águas esverdeadas e velozes do Teles Pires escondem um santuário de belezas naturais e um reino místico da cultura indígena.

Para o "homem branco", nada mais é do que a sequência de sete quedas de corredeiras. Entre os povos indígenas, trata-se de um lugar sagrado, que não pode ser mexido.

Ali, entre ilhas, pedras e uma mata ainda intocada, eles acreditam que vivem os espíritos de seus antepassados, a mãe dos peixes e da água. "Se for destruído, coisas ruins vão acontecer para o homem branco e para a comunidade indígena", prevê o cacique João Mairavi Caiabi (foto), que aos 51 anos comanda 206 pessoas da aldeia Cururuzinho.

Segundo ele, algumas dessas maldições já perturbam o dia a dia dos índios: "Temos pessoas com suspeita de tuberculose. Isso nunca aconteceu antes na comunidade. É reflexo das intervenções no rio e na floresta".

Os caiabis moram a alguns quilômetros das corredeiras Sete Quedas, nas margens do rio onde está sendo levantada a Hidrelétrica de Teles Pires, a quarta maior usina em construção no Brasil, com 1.820 megawatts (MW) de potência - energia suficiente para abastecer 5 milhões de habitantes, a maioria do Sudeste.

Na região, também moram os índios da etnia mundurucu, considerados mais arredios, e apiacá, que juntos somam uma população de cerca de 600 índios - alguns deles são acusados de nunca terem ido nas Sete Quedas.

A exemplo de outras obras, como Belo Monte (PA), a barragem, de R$ 3,6 bilhões, enfrenta fortes protestos de índios, ambientalistas e do Ministério Público, contrários à expansão das usinas na Amazônia.

A preocupação do cacique João é que, só na Bacia do Teles Pires, devem ser construídas mais quatro hidrelétricas, além das duas em andamento (Teles Pires e Colíder).

Para tirar os projetos do papel, cerca de 70 mil hectares de floresta dariam lugar aos lagos - isso significa 70 mil campos de futebol.

Embora elevado, o número é bem inferior ao das usinas do passado - a Hidrelétrica de Balbina, no Amazonas, inundou quase três vezes mais para gerar apenas 275 MW.

Hoje, diante da preocupação ambiental, quase todas as usinas são a fio d'água, sem grandes áreas de reservatório.

Se por um lado reduzem a potência da unidade, por outro diminuem substancialmente o impacto ambiental.

Isso não significa, entretanto, impacto zero, especialmente para os indígenas.

Compensação ambiental
O lago de Teles Pires terá 9.500 hectares de área inundada, sendo que 7 mil hectares terão de ser desmatados.

Em compensação, a Companhia Hidrelétrica de Teles Pires (CHTP, formada por Neoenergia, Furnas, Eletrosul e Odebrecht), que detém a concessão da usina, terá de pôr em prática 45 programas sociais, ambientais e indígenas, num total de quase meio bilhão de reais (15% do valor total da obra).

Estão sendo criados projetos de monitoramento de clima, água e solo; controle de prevenção de doenças; construção de escolas, unidades de saúde, terminal rodoviário, pontes e a pavimentação de ruas.

Há ainda programas de resgate de fauna e flora de toda área impactada, além do monitoramento de algumas espécies em extinção.

Não importa se é um grande mamífero ou simplesmente uma borboleta, como a Agrias Claudina, ameaçada no Pará. "Todos precisam ser resgatados e catalogados", afirma a gerente de Meio Ambiente da CHTP, Maíra Fonseca Moreira Castro.

Mas, numa região com a biodiversidade tão rica como na Amazônia, é praticamente impossível evitar todos os prejuízos.

Maíra conta que já foram resgatadas 1.084 espécies diferentes de árvores na área da usina, sendo que 638 delas foram descobertas após os estudos de impacto ambiental.

Só de orquídeas (foto) são 85.326 espécies diferentes. Tudo isso catalogado e resgatado por 60 pessoas.

O Plano Básico Ambiental (PBA) indígena é tratado a parte.

A CHTP desenhou 12 programas com investimentos para atender as 12 aldeias indígenas da área.

Mas a proposta está longe de atender aos anseios das lideranças da região, que ainda não aprovaram o documento.

"O PBA está muito fraco. Precisamos de projetos melhores na saúde, educação e habitação", afirma Elenildo Caiabi (foto), um jovem de 25 anos que conhece bem tanto a cultura indígena como a do "homem branco".

Para ele, as aldeias precisam reivindicar seus direitos enquanto a usina está em construção. "Depois vão todos embora e nós ficamos apenas com os prejuízos, sem lugar para caçar e pescar."

A lista de equipamentos pedidos pelos índios à CHTP é grande - e cara.

Inclui caminhonetes importadas, como Mitsubishi, barcos e motores, antenas parabólicas, etc. A justificativa é a localização.

Para chegar à aldeia Cururuzinho (foto), no Pará, há duas alternativas.

De avião, gasta-se meia hora saindo de Paranaíta, a cidade mais próxima no Estado de Mato Grosso. Mas esse é um meio de transporte apenas para os visitantes. Normalmente, os índios levam cinco horas para chegar à cidade, sendo duas horas de carro e mais três horas de barco.

Modernidades
Na comunidade, cercada de um lado pelo Rio Teles Pires e de outro pela Floresta Amazônica, as casas - algumas retangulares e outras, ovais - ainda são feitas de madeira e cobertas de folhas de palmeiras. No chão, apenas terra batida.

A única casa de alvenaria é reservada aos visitantes da aldeia. Mas alguns avanços da cidade já fazem parte da vida dos caiabis.

A aldeia tem um orelhão e energia elétrica produzida por gerador, que funciona à noite ou quando alguém precisa usar o computador, por exemplo.

Eles têm fogão a gás, mas quase nunca usam. Preferem o fogão a lenha, improvisado com tijolos e uma chapa, melhor para assar peixes e carne de animais nativos, como jacu, cateto e paca.

Alguns alimentos do "homem branco" também integram as refeições dos índios, como arroz, café e açúcar.

"Mas preferimos o peixe, a caça e a farinha de mandioca, plantada aqui do lado", afirma Valdete Caiabi, que aos 25 anos é mãe de cinco filhos.

"Dizem que não vai ter nenhum impacto para nós. Mas temos parentes que moram perto de outras hidrelétricas e hoje não têm mais peixe para comer. O rio é o nosso mercado", diz ela.

Em março, a Justiça suspendeu a licença de instalação da usina, alegando que os índios não haviam sido ouvidos. As obras, na época com 2 mil trabalhadores, ficaram paralisadas por 12 dias. A CHTP teve de alugar avião para levar os trabalhadores para casa durante esse período.

De acordo com a empresa, todas as audiências públicas foram feitas dentro da lei e gravadas. Mas para o procurador da República no Pará, Felício Pontes (foto), pela lei, é o Congresso Nacional que tem de fazer oitivas nas aldeias indígenas e não engenheiros e executivos. Segundo ele, entre Ministério Público Federal e Estadual, há cerca de 11 ações propostas contra a usina de Teles Pires.

"Fizemos várias alterações no projeto para reduzir os impactos ambientais na região. Vamos produzir mais megawatts com menos área alagada e devastada", afirma o diretor de Sustentabilidade da CHTP, Marcos Azevedo Duarte. As mudanças, no entanto, não seduzem os caiabis: "Queria o rio do jeito que Deus deixou", diz Valdete.

Índios e brancos vivem em clima hostil
No lugar da placa de "Bem-vindo", uma faixa com letras garrafais escancara um problema que vai além da construção da Hidrelétrica de Teles Pires.

É com a frase "Unidos contra a demarcação de terras indígenas" que a pequena cidade de Paranaíta, de 10 mil habitantes, recebe seus visitantes.

A demarcação para elevar de 117 mil para mais de 1 milhão de hectares o tamanho da reserva das três etnias (caiabis, mundurucus e apiacás) deveria ter sido iniciada dia 22, mas foi suspensa pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

No município, que teve origem em 1979 e foi emancipado sete anos depois, conta-se nos dedos quem seja a favor dos índios. Naturalmente, os fazendeiros que ajudaram a fundar a cidade são os mais arredios. Foram eles que patrocinaram a confecção de várias faixas espalhadas pela cidade.

Algumas, no entanto, foram assinadas pela própria prefeitura de Paranaíta. "Temos de defender o lado da economia. Há um grupo de pecuaristas que terão os investimentos inviabilizados. Além disso, vamos perder as jazidas de calcário na região, que não poderão ser exploradas", observa o prefeito de Paranaíta, Pedro Miyazima.

Mas não são apenas os latifundiários que hostilizam os índios. Até mesmo aqueles que se dizem descendentes, como José Hermínio da Silva, são contra as tribos locais. "Eles se intrometem em tudo", reclama o baiano, de 77 anos, que chegou em Paranaíta em 1988 para trabalhar no garimpo.

Não fez fortuna, mas conseguiu comprar uma casa e dois lotes de terra. "Vendi uns 80 quilos de ouro, mas reinvesti tudo. Continuo pobre", conta ele, que guarda na boca as lembranças da época do garimpo. Seus dois caninos são revestidos de ouro.

Do outro lado, os povos indígenas reclamam da agressividade do "homem branco". "Quando chegamos na cidade, ouvimos: Por que esses índios estão aqui? Por que não ficam em suas aldeias?", relata Elenildo Caiabi.

Segundo ele, seu povo está estudando e conhecendo melhor a cultura do não índio para lutar pelos seus direitos.

"Eles alegam que um 1 milhão de hectares é muito para nós, mas nunca nenhum deles veio aqui saber como vivemos", diz Elenildo, referindo-se aos prefeitos e governadores dos Estados do Mato Grosso e Pará.

Da mesma forma, os índios são acusados de nunca terem ido às corredeiras Sete Quedas, que hoje dizem ser um local sagrado.

A briga pela demarcação das terras já dura mais de 23 anos. "O governo fez tanta promessa e não cumpriu nenhuma delas. Mas não vamos desistir", completa Valdete Caiabi.

A decisão da Justiça de suspender a demarcação poderá ter reflexo na construção da Hidrelétrica de Teles Pires, vista como moeda de troca para a comunidade indígena.

O cacique João Mairavi Caiabi ameaça invadir o canteiro de obras da usina se o governo federal não resolver logo a situação.

"Os fazendeiros têm medo de perder suas propriedades. Nós temos medo de perder nosso rio, nossa floresta, nossa comida", completa Valdete.

Fonte:
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/511063-area-indigena-sagrada-vai-virar-hidreletrica

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade e, excetuando uma ou outra, inexistem no texto original.

sábado, 16 de março de 2013

Os repolhos e a geração eólica

11/03/2013 - Por Rogério Maestri - Luis Nassif on line

Em 1989 o Diretor de um laboratório de Hidráulica chinês, me contou uma história anedótica ocorrida no auge da Revolução Cultural da China, que serve muito para projeção de nosso futuro.

Num determinado ano houve nos arredores de Pequim uma superprodução de repolhos, como se estava no auge da revolução cultural e todos os chineses deveriam contribuir para o não desperdício de alimentos no país, eles receberam uma cota extra para a compra de repolhos.

Como bons revolucionários, não revisionistas, todos eles compraram a preços simbólicos três repolhos por família.

Mesmo com a grande população a produção de repolhos era mais intensa, com isto a cota aumentou.

Recebida a segunda cota ainda restavam repolhos e desta forma a cota aumentou ainda mais.

Como todos eram bons revolucionários, mas o organismo não aguentava tantos pratos com variações de repolho, diligentemente todos levaram para suas casa a super cota de repolhos.

Porém como as casas eram pequenas e já estavam cheias de repolhos, os nossos amigos depositaram seus repolhos nos corredores dos apartamentos, resultando que por algum tempo Pequim ficou cheirando a repolho e a maioria desses teve que ser colocados no lixo depois de apodrecerem.

Bem qual é a correlação dos repolhos com a geração eólica, muito simples, a energia elétrica gerada pelo vento é mais ou menos como a produção dos repolhos, pode ser alta ou pode ser baixa.

Quando escutamos uma notícia do tipo: As turbinas eólicas que estão sendo instaladas gerarão energia necessária para abastecer 20.000 residências estão nos vendendo a superprodução de repolhos, ou seja, no ano em que os ventos foram favoráveis, nos dias em que estes forem fortes e na hora em que os ventos foram mais vigorosos, os geradores abastecerão o suficiente para 20.000 residências.

Como não podemos esperar o ano, os dias e as horas em que esta energia for fornecida pelos aerogeradores, devemos ter um número suficiente para que quando estas condições não forem satisfeitas se tenha uma energia mínima que satisfaça o consumo.

Isto ocorre com hidrelétricas também, no momento em que não houver chuvas e as vazões dos rios estiverem baixas, devemos nos servir de alguma reserva, ou deveremos dimensionar as usinas para a pior situação possível (usinas a fio d’água).

Esta condição de ter um número suficiente de aerogeradores para sozinhos garantir o consumo de pique, poderia ser considerada satisfatória desde que a diferença entre a energia máxima gerada e a mínima não atingisse relações de 10 para 1.

Se considerarmos primeiro a variação diária da energia gerada, mais a variação semanal e incluirmos algo que é claramente escondido pelas empresas de geração eólica, a variabilidade decadal, podemos facilmente ter em anos “secos de ventos” uma variabilidade em relação à geração de anos “ventosos” mais de 20%.

Esta variabilidade decadal já é patente analisando os dados de geração de energia eólica entre os anos de 2007 e 2012 (dados de produção de energia do Operador Nacional do Sistema) para os mesmos aproveitamentos (atenção à série histórica ainda é pequena, caso for realizado algum trabalho estatístico com estes dados talvez esta diferença de ano a ano possa atingir, mais de 35%).

Caso não se queira utilizar a própria energia eólica como reserva dela mesmo, é necessário ter um sistema de “backup”.

Logo todo o discurso pela implementação da geração eólica deve ser relativizado, citam os defensores desta energia como solução para a falta no Brasil um valor de R$ 87,94 por megawatt/hora (MWh) obtido nos últimos leilões, porém se não houver outra geração de energia sobrando (que no Brasil não há) na realidade este valor se torna R$ 87,94 + CUSTO DO BACKUP.

Agora vamos ao absurdo que ocorre no nosso país com a DEMONIZAÇÃO das hidrelétricas.

Levantam-se tantas restrições ambientais, sociais e políticas a construção de novas hidrelétricas com grandes reservatórios que é mais fácil se conseguirem uma licença ambiental de uma usina a carvão ou a derivados do petróleo do que para uma hidrelétrica.

Desta forma o Governo Federal para não sofrer o desgaste de ONGs preservacionistas e de outros grupos parte para um sistema de BACKUP através de usinas termoelétricas.

Gostaria que todos aqueles preocupados com a falta de energia se dessem conta que a DEMONIZAÇÃO das HIDRELÉTRICAS, que EM TODO O MUNDO É CONSIDERADA A ENERGIA MAIS LIMPA, está nos levando ao maior dos absurdos, a utilização de combustíveis fósseis, poluidores e recursos esgotáveis, no lugar de hidrelétricas, não poluidoras e não esgotáveis.

Agora vamos ao fechamento final, se investirmos somente em energia eólica, num sistema que já está com capacidade limitada de geração, teremos ou construir usinas de BACKUP que ficarão paradas em boa parte do tempo, ou devemos dimensionar os aerogeradores para a situação mais crítica, e para os anos mais ventosos, fazer como os chineses, deixar os repolhos apodrecerem nos corredores.

O comentário de 2 leitores e o de um doutor em engenharia nuclear:

seg, 11/03/2013 - 13:41 - Bruno Cabral
A solução é energia geotérmica, cada casa cavando seu poço e instalando seu próprio gerador.

Precisa de mais energia, faz outro poço e instala outro gerador. A geração será constante e conhecida.

Epa, "cada casa" é incompatível com empresas geradoras e distribuidoras!

seg, 11/03/2013 - 14:23 - Olhar de urbanista - Oscar Müller
No final da estória, energia é energia, mas a geração limpa, por hidroelétricas, eólicas, ou solares precisa ser privilegiada, e não há motivo para descartar nenhuma destas modalidades.

O texto chama atenção para o óbvio: uma coisa é gerar, outra estocar, e só estocando que se obtém segurança. Até aí tudo certo, só faltou lembrar que basta usar a energia excedente para bombear a água já usada pela hidroelétrica de volta para a represa, para estocá-la, e assim o repolho não apodrece.

Bruno, lembrou bem, a energia geotérmica é outra fonte limpa, e a micro geração uma opção ainda demasiadamente subestimada. E também não podemos esquecer que a nova legislação já atende às necessidades da micro geração, ao permitir que o consumidor devolva à rede seu excedente.

Energia é riqueza, e não é difícil constatar que o bicho homem não costuma medir esforços (e muitíssimo menos consequências) para obtê-la, o consumismo desvairado da atualidade é óbvio fator, mas certamente não é o único, e não sei dizer se seria o cerne da questão, entretanto é justamente neste contexto, que a micro geração (lembrada aqui pelo Bruno) se mostra super esperta.

Além do evidente, também intuo que as soluções adotadas de baixo para cima sejam mais eficientes e longevas. Mera intuição...

ILDO SAUER - doutor em engenharia nuclear pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology, nos EUA), é coordenador do Programa de Pós-Graduação em Energia da USP e diretor de energia da Fiesp. Foi gerente do projeto do Circuito Primário do Reator Nuclear da Marinha (1986-1989).

Energia nuclear no Brasil pós-Fukushima
É natural que países sem recursos energéticos lancem mão da opção nuclear, mas a dotação de recursos do Brasil permite outra estratégia.

Após duas décadas de hibernação dos planos nucleares, no final do governo anterior foram anunciadas a conclusão de Angra 3 e mais quatro usinas, possivelmente às margens do rio São Francisco.

A previsão de investimento é da ordem de R$ 8 bilhões por unidade, atingindo R$ 40 bilhões para a instalação de 6.800 MW.

O país dispõe de capacidade tecnológica, de recursos humanos e de conjunto de recursos naturais para expandir a oferta de energia elétrica, em dados aproximados: 150 mil MW de potencial hidráulico remanescente, em adição aos 100 mil MW já desenvolvidos e em desenvolvimento; 143 mil MW eólicos; 15 mil MW de biomassa, mormente bagaço de cana; 17 mil MW em pequenas centrais hidrelétricas; 10 mil MW em cogeração e geração descentralizada por gás natural.

Isso tudo sem as possibilidades decorrentes da repotenciação e da modernização de usinas antigas e dos programas de racionalização do uso de energia. A energia eólica vem apresentando uma curva de aprendizado tecnológico notável, no mundo e no Brasil, conforme demonstrado pelas contratações recentes, com custos declinantes, já competitivos com a opção nuclear.

A própria opção fotovoltaica, conectada à rede de distribuição, tende a repetir o sucesso da eólica. Várias combinações entre esses recursos são possíveis para suprir a energia disponibilizada pela alternativa nuclear proposta, todas elas com custos de cerca da metade da opção nuclear, economizando mais de R$ 20 bilhões em investimentos para o mesmo benefício energético.

O desenvolvimento de 70% da capacidade hidráulica e de 50% do potencial eólico permitiria gerar anualmente cerca de 1,4 bilhão de MWh de fontes inteiramente renováveis, produção superior ao 1,1 bilhão de MWh requerido para atender a demanda brasileira prevista para a década de 2040, considerando uma duplicação do consumo per capita anual, para 5 MWh (semelhante ao padrão atual de Itália e Espanha), quando, segundo o IBGE, a população se estabilizará em torno de 220 milhões.

Há uma tendência natural de complementaridade das disponibilidades energéticas entre os ciclos hídrico e eólico. Além disso, eventual complementação com usinas térmicas, com suprimento flexível de combustível para operação em períodos hidroeólicos críticos, permitiria aumentar a confiabilidade e reduzir os custos.


É natural que países destituídos de recursos energéticos, como Japão, Coreia, França, ou mesmo Índia e China, lancem mão da opção nuclear como principal alternativa.

Mas a dotação de recursos do Brasil permite outra estratégia.

A construção de usinas nucleares, por si só, não garante avanços significativos no domínio da tecnologia nuclear. A consolidação de nossa capacidade nuclear, inclusive para geração elétrica, depende de planejamento, projeto, desenvolvimento e construção de reatores, especialmente de pesquisa, no país. Há dois projetos para tanto.

O primeiro é o reator experimental de 50 MW, de iniciativa da Marinha, projetado e cujos equipamentos foram construídos e estão estocados há 20 anos. Ele deveria, finalmente, ser montado e operado, podendo testar tecnologia de convecção natural, base da segurança passiva, capaz de garantir o resfriamento do núcleo mesmo na ausência de energia elétrica.

Outro é o reator de alto fluxo de nêutrons, para teste de materiais, apoio a pesquisa em agricultura, biologia e medicina e produção de radioisótopos, caros e em falta.

O investimento estimado para os dois projetos é de cerca de R$ 1 bilhão, 5% dos custos economizados com o cancelamento do plano atual de geração nuclear e sua substituição por outras fontes, renováveis, sustentáveis e sem deixar como herança carga radioativa a exigir cuidados das gerações futuras.

Fonte:
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/os-repolhos-e-geracao-eolica

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade e, excetuando uma ou outra, inexistem no texto original.