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quarta-feira, 20 de julho de 2011

Resistir é preciso....



por Nemércio Nogueira*


1187 Resistir é preciso...No dia 27 do mês passado, São Paulo assistiu a um evento de grande importância para a História do Brasil, proporcionado pelo projeto “Resistir é Preciso…”, promovido pelo Instituto Vladimir Herzog com o patrocínio da Petrobras.
O lançamento desse trabalho foi feito no Memorial da Resistência (antigo DOPS), resgatando para a nossa memória a trajetória de uma imprensa nacional que, com a   intenção explícita de resistir à ditadura e combatê-la, nasceu, cresceu e se expandiu no exílio , na clandestinidade e até nas bancas de jornais.
Essas três formas da imprensa resistir ao totalitarismo e à ditadura fazem parte fundamental de um cenário mais amplo da historiografia brasileira: a circulação de jornais para difundir idéias, sem a concordância do poder do momento. Vale lembrar, aliás, que o Correio Braziliense, marco do nascimento da imprensa brasileira, em 1808, era editado no exílio de Londres e distribuído clandestinamente para escapar à censura da corte portuguesa, que se mudara para a colônia brasileira.
A profunda pesquisa em que se baseia o projeto “Resistir é Preciso…” parte de uma coleção de mais de 250 títulos de publicações produzidas nas mais adversas condições, recolhidas pelo historiador José Luiz del Roio e catalogadas pelo Centro de Documentação e Memória da UNESP-Universidade Estadual Paulista. O projeto foi implementado sob a coordenação geral de Clarice Herzog e tendo os jornalistas Ricardo Carvalho como coordenador de conteúdo e Vladimir Sacchetta como coordenador de pesquisa. Com uma vida inteira dedicada à arte e à cultura, Fábio Magalhães é o curador de exposições do projeto.
O resultado desse trabalho é constituído da pesquisa, digitalização, contextualização e álbuns de fac-simile, dez documentários de 26 minutos, 60 depoimentos em vídeo dos protagonistas dessa história em uma coleção de 12 DVDs, programetes de três minutos de duração, uma publicação bilíngue amplamente ilustrada, portal de internet e exposições no Centro Cultural Banco do Brasil.
A revista Pif Paf, fundada por Millôr Fernandes em Maio de 1964, um mês após o golpe militar, foi a primeira publicação da imprensa chamada alternativa, que marcou o período de 1964 até a anistia, promulgada em 1979. Tinha como colaboradores alguns dos melhores jornalistas, escritores e cartunistas da época, como Rubem Braga, Antonio Maria, Sergio Porto, Ziraldo, Claudius, Fortuna e outros. Pif Paf, porém, só durou oito edições, porque a censura do governo a tirou de circulação. Em seu último número, um texto que transpira a ironia de Millôr advertia: “Se o governo continuar deixando que circule esta revista, com toda sua irreverência e crítica, dentro em breve estaremos caindo numa democracia”.
Ao longo dos 15 anos que durou esse período triste da nossa História, outros títulos se tornaram amplamente conhecidos, como Opinião, Movimento, Ex- e O Pasquim, o mais famoso de todos. Essas eram publicações alternativas, ou seja, legalmente constituídas, com autores e locais de impressão oficialmente sabidos. Menos conhecidos são órgãos produzidos na clandestinidade e no exílio, como Revolução, ligada a setores católicos radicais, ou a Frente Brasileira de Informações, que circulou na Argentina e Chile.
Publicações como essas surgiram no Brasil e no exterior como forma dos que se opunham ao regime totalitário manifestarem suas ideias e opiniões – e, naturalmente, quem as escrevia, publicava e distribuía era alvo prioritário da repressão.
Ao promover a realização do projeto “Resistir é preciso…”, o Instituto Vladimir Herzog cumpre sua principal missão, que é ajudar a preservar a História do Brasil, com foco especial a partir do golpe de 1964 e tendo como centro de referência a própria história do jornalista Vladimir Herzog, torturado e assassinado pela ditadura.
Fundado em 25 de Junho de 2009, com o objetivo de contribuir para a reflexão e produção de informação que garanta o direito à vida e à justiça, o Instituto, sem fins lucrativos e com neutralidade político-partidária, tem também por meta promover, orientar e premiar trabalhos de comunicação sobre temas pertinentes às questões que afetam tais direitos.

* Nemércio Nogueira é consultor de empresas e diretor executivo do Instituto Vladimir Herzog.
(O autor)

Fonte: publicado originalmente no site Envolverde

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Tempo de Dilma, tempo de batalha

'A casa é nossa e estamos em boa companhia'. Foto: F.R. Pozzebom/ABr

Christina Iuppen*

Compas,

Amanhecemos num domingo diferente, um tempo diferente.

Entre amigos, companheiros, gente amada, eu vivi o momento esperado, tão trabalhado e tão longamente temido: nosso presidente Lula finalmente desceu a rampa.

Tudo é novo agora para os militantes, para nosso povo. Natural, atávico temermos o novo.

Eu me pergunto se, para além de todas as nossas teorias, temos a dimensão do que estamos vivenciando.

Porque, enquanto conspurcava a solenidade da cerimônia de posse 'pagando mico' com o nariz escorrendo e os olhos inchados, eu pensava, 'descobria' que ali se cristalizavam os sonhos de gerações de nossa melhor gente: ali estava um operário consagrado pelo povo, passando o poder formal a uma guerrilheira. Legalmente, voluntariamente, em paz. A tão famosa paz que surge do trabalho e do equilíbrio. E, fungando cada vez mais bandeirosamente, não controlei a viagem pela História e vi Manoel Fiel Filho, Vlado Herzog, Stuart, Iara, Honestino, Lyda, Grabois, Lamarca, Mariguela, Tito, Zuzu, vi todo o panteão que nossas gerações celebraram abraçado pela faixa verde-amarela, punhos definitivamente erguidos para a vitória.

O povo, o operariado, a resistência, a guerrilha. Lembra cartilha marxista-leninista versão tupiniquim, mas aconteceu na tarde nublada de ontem, no barro vermelho de Brasília.

Enfim, Lula repousou a cabeça por um momento no peito da companheira Dilma. E desceu. Sem gravata, descabelado, amassado, olhos bem mais inchados que os meus, missão cumprida, feliz, descomposto, desceu para ficar entre nós, os militantes.

Muita, muita batalha espera os que sabemos que é preciso combater a diário, lutar a diário para construir e manter o sonho. Que ainda é preciso muito até para configurar mesmo o sonho. Mas a casa é nossa. Cheia de tranqueiras e sapos, de obstáculos e infiltrações. Mas é nossa casa, nossa conquista, nossa tarefa. E estamos em boa companhia.

Saludos fraternos,

Christina
*professora de idiomas e militante da esquerda no Rio de Janeiro

sábado, 20 de novembro de 2010

Comentando os documentos sobre Dilma Rousseff

Se você não leu O Globo ontem, saiba do que estamos falando.

Por Gustavo A. Medeiros*

A reportagem de O Globo sobre o inquérito não mostra que ela assessorou o assalto.

"(...) descrevem a ex-militante como uma figura de expressão nos grupos em que atuou, que chefiou greves e 'assessorou assaltos a bancos' e nunca se arrependeu".

Onde está a descrição? Não era relevante para estar na reportagem? A reportagem se baseou em fatos ou  apenas em achismos dos órgãos de repressão?

Mostra também que a Dilma não necessariamente sabia dos eventos ocorridos.

"Dilma contou que, em outro encontro, um companheiro falou da realização de uma 'grande ação' que iria render bastante dinheiro para os cofres da organização. Essa ação, soube Dilma depois, tratava-se do assalto à residência de Ana Capriglione, ex-secretária do ex-governador Ademar de Barros."

Adhemar de Barros que não tinha reputação de honesto.
www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8137/tde-09022009-103517/pt-br.php

Outra coisa, os integrantes das organizações não necessariamente sabiam das ações uns dos outros. Havia uma grande autonomia nas ações por medida de segurança, a razão é obvia, se um "caía" nem sempre todos cairiam. Por isto, nem a Dilma Rousseff e nem o esposo dela sabiam os nomes verdadeiros um dos outros.

Na ditadura, houve a alegação ridícula de que Vladimir Herzog era da KGB. O que prova que eles não eram bons de avaliação ou, pelo menos, belos mentirosos e manipuladores.

"Fica quieto aí, menino, você não sabe de nada! Ele era agente da KGB e o governo está infiltrado de agentes da KGB. O governo está infiltrado de agentes da KGB e nós estamos sabendo quem são".

Depois se soube que tudo não passava de uma briga política dentro da própria ditadura.

"E depois ele ainda disse o seguinte: 'E vocês têm que entender qual é a nossa função: a pessoa entrou aqui a gente baixa o cacete. Pode ser até o presidente da República, entrou aqui a gente baixa o cacete!'. Eu também achei essa referência nada fortuita ao presidente da República como uma indicação, não é verdade?"
www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=352DVH005

Vlado era um homem pacífico, mas nem precisou pegar em armas para ser brutalmente reprimido, como está dito no Blog do Noblat:

"A maioria deles tinha ligações com o Partido Comunista Brasileiro (PCB). O aparelho de repressão do regime havia aniquilado com as demais organizações clandestina de esquerda que pegaram em armas contra a ditadura. O PCB não pegou. Defendia o enfrentamento pelos meios legais – ou quase isso. Nem por isso foi tolerado."
oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2009/03/11/vladimir-herzog-30-anos-167943.asp

Aliás, o pessoal do Partido Comunista Brasileiro que passou a ser contra pegar em armas foi sistematicamente eliminado.

Vale lembrar que bastava lutar contra o regime ou participar de instituições contra a ditadura para ser considerado terrorista. Veja que até Serra foi considerado terrorista:

"Consultados por Última Instância, as fichas, prontuários e dossiês compilados pelo Deops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social) nos anos 1960 e 1970 – hoje no Arquivo Público do Estado de São Paulo – revelam que, para os órgãos de segurança, Serra também esteve 'envolvido em atos de terrorismo' e fazia discursos 'extremistas', conclamando estudantes e trabalhadores para a 'revolução'".

"Serra também foi julgado, à revelia, pela Justiça Militar, e condenado a três anos de prisão por 'fazer publicamente propaganda de processos violentos para a subversão da ordem política ou social’".
ultimainstancia.uol.com.br/noticia/PARA+DITADURA+SERRA+TAMBEM+ERA+TERRORISTA+E+PREGAVA+A+REVOLUCAO+TUCANO+FOI+CONDENADO+A+TRES+ANOS+DE+PRISAO+_71749.shtml

Independentemente do que a atual presidenta tenha feito ou não:

1 – Dilma estava lutando contra um regime ilegal e usurpador da vontade do povo. As pessoas da direita não levam em conta que é direito legítimo de os seres humanos lutarem contra regimes opressores.

2 – Muito do que foi dito nestes inquéritos foi dito sob tortura, o que invalidaria todo o processo. As pessoas que a acusam de assaltante e assassina tem provas? Se as tem, são provas livres de vícios?

3 – Mesmo que ela tivesse cometido algum crime, foi presa por 3 anos e, portanto, teria pagado o suposto “crime”.

4 – Se Dilma foi assassina como dizem, nunca teria pegado pena de 3 anos de prisão. Ou pegaria uma pena mais pesada ou teria sido morta e seu cadáver teria desaparecido, o que seria o mais provável.

5 – Supondo que a presidenta eleita tenha sido esta assassina e terrorista como alguns querem acreditar, depois nunca mais ela participou da vida clandestina e viveu uma vida normal. Se Dilma foi esta pessoa "ruim", ela não poderia ter mudado? É só lembrar que Paulo de Tarso matou pessoas, tempos depois se tornou cristão e de perseguidor passou a ser perseguido. Aliás, fundou o cristianismo moderno que prega o perdão e mudança de atitude. O mesmo cristianismo que foi usado por moralistas para jogar pedras na atual presidenta antes da eleição.
*leitor do Luis Nassif Online, em comentário deixado na caixinha do blog