sábado, 9 de julho de 2011

"JUÍZA" ANULA A LEI ÁUREA - O QUE IMPORTA É A CANA




Laerte Braga


Segundo a juíza Marli Lopes Nogueira, da 20ª Vara do Trabalho do Distrito Federal o trabalho escravo não pode ser interrompido antes de completada a colheita da safra de cana. Foi esse o conteúdo da liminar que a “juíza” concedeu à empresa INFINITY AGRÍCOLA, suspendendo uma operação de resgate de trabalhadores escravos numa fazenda da empresa no município de Navaraí, no Mato Grosso do Sul.

A operação estava sendo conduzida por auditores do trabalho, um procurador do trabalho e policiais federais. Estavam retirando 1817 trabalhadores em regime de escravidão, muitos deles migrantes (de Minas Gerais, Pernambuco e 275 indígenas), todos submetidos a condições humilhantes de serviço.

A juíza – é um escárnio e deve ter recebido propina da empresa – suspendeu inclusive a interdição das frentes de trabalho imposta pelas autoridades do setor. Os trabalhadores não contavam com banheiros, a jornada de trabalho superava o permitido em lei, numa temperatura inferior a 10 graus. Para a “magistrada”, do alto de sua competência e de seus privilégios, numa sala aquecida em Brasília, importante é que seja completada a colheita/corte da cana para que a empresa não tenha prejuízo.

Está anulada em nome da empresa privada a Lei Áurea que extinguiu em 1888 a escravidão no Brasil.

Esse tipo de decisão do Judiciário está previsto no acordo firmado entre o Superior Tribunal de Justiça e o Banco Mundial, que orienta o Judiciário (Judiciário?) a tomar decisões que não prejudiquem o capital.

A decisão afirma taxativamente que a “interdição está causando prejuízos irreversíveis, já que desde a data da interdição a cana cortado está estragando e os trabalhadores e equipamentos parados. A “juíza”, subornada é óbvio, impede que a empresa seja colocada na chamada lista suja, a que registra as que usam trabalho escravo.

O procurador do trabalho no local Jonas Ratier Moreno afirmou que a “juíza” – comprada evidente – ignorou o laudo técnico sobre as condições degradantes a que estavam submetidos os trabalhadores, “uns farrapos” e que “a empresa não fornecia nem cobertores diante do frio”.

A rescisão do contrato de trabalho entre a empresa e os escravos não mais acontecerá pela decisão da “juíza” – corrupta é lógico – e os trabalhadores terão que voltar ao trabalho sob pena de serem até presos.  É que com a rescisão os direitos trabalhistas teriam que ser pagos, aí, foram parar na conta da “juíza”, ou alguém tem dúvida?

A INFINITY AGRÍCOLA, defensora do “progresso”, dos “valores morais e cristãos” está na lista suja desde 2010 quando foi pega usando escravos, 64 trabalhadores, em outra usina de cana de açúcar do grupo. Em fevereiro de 2011 conseguiu uma liminar na justiça retirando-a da lista (eita Justiça, em Minas um desembargador foi afastado faz pouco porque vendia sentenças a traficantes).

A Advocacia Geral da União está tentando reverter a decisão da “juíza”, esperando encontrar – existem muitos – juízes sérios e competentes que façam com que a lei seja cumprida e não a vontade dos senhores de terra, os latifundiários. Um tipo de câncer para o qual a cura é a reforma agrária e a permanência, em futuro próximo, é a transformação de extensas áreas em desertos pelo cultivo impróprio e uso de agrotóxicos, além dos desmatamentos. O cara que Dilma convidou para o Ministério dos Transportes – recusou –. Blairo Maggi é o rei da moto-serra. Preferiu continuar nos “negócios”.

No Rio de Janeiro numa operação da Polícia “Pacificadora” do corrupto governador Sérgio Cabral a Polícia Militar mata uma criança – o menino Juan – e some com o corpo. A Polícia Civil faz corpo mole nas investigações e o assunto só veio a público por conta da grita da família.

Polícia Militar com a estrutura que tem em nosso País, os privilégios, a orientação que recebe (inimigo é estudante, trabalhador, camponês) é tão somente uma organização terrorista legitimada pelo Estado, ou alguém acha que o BOPE cumpre a lei? É um bem que desceu dos céus cercado de anjos por todos os lados?

A forma como a mídia trata esses casos ao contrário de se transformar em fator de indignação com a barbárie, a corrupção, acaba criando mitos montados na boçalidade e na descaracterização de qualquer sentimento humano. Trabalho paciente para alienar.

O importante é que a cana seja colhida e a “ralé” não chegue aos domínios das elites políticas e econômicas que no estranho governo de alianças em que o vice-presidente é dono de parte do aparelho estatal e no fim chamam isso tudo de democracia.

Penso que a “juíza” que revogou a Lei Áurea deveria ser condenada a trabalhar dez dias, pelo menos, em condições semelhantes aos escravos da INFINITY AGRÍCOLA. É o mínimo.



 

A CRÍTICA E A CRÍTICA



Laerte Braga


Há uma diferença abissal entre a crítica de setores e partidos de esquerda ao governo Dilma e a crítica feita, por exemplo, pela GLOBO, ou por VEJA. No jornal que apresenta às 18 horas de segunda a sexta a GLOBONEWS – tevê por assinatura – edição de quarta-feira, a apresentadora fez questão de ressaltar a importância da denúncia de irregularidades no governo, onde quer que seja como papel do jornalista de estar sempre indignado – uma espécie de reflexo da indignação pública – com a corrupção que resultou na demissão do ministro dos Transportes.

O PSDB divulgou, quinta-feira, nota oficial onde afirma que esse Ministério “é a herança maldita da ética”. Nota oficial do PSDB falando em ética é complicado. Não é um partido, é uma quadrilha. E a indignação da jornalista deveria se estender a toda a série de irregularidades acontecidas no governo FHC, nos governos de Serra e Alckimin no estado de São Paulo e em qualquer governo tucano em qualquer lugar do País, todos bandidos.

Circula na internet, no youtube, um vídeo mostrando as relações do ex-governador de Minas Aécio Neves com a rede GLOBO e o jornal ESTADO DE MINAS, o terror implantado em seu governo no sentido de silenciar a mídia crítica, as muitas demissões de jornalistas por ousarem enfrentar o hoje senador.

Ano passado, em plena campanha eleitoral, o ex-governador e pilantra José Serra denunciou a existência de um complô via dossiê contra sua candidatura armado pelo partido do governo, o PT (são tantos). Uma ligeira investigação e Serra deixou de lado a denúncia. É que o dossiê fora encomendado e pago por Aécio Neves, quando ele e o tucano paulista disputavam a indicação do partido como pré-candidatos presidenciais e Aécio se vingava de Serra que havia antes encomendado um outro dossiê sobre ele Aécio. Aquele insinuado pelo jornalista capacho de Serra, Juca Kfoury, sobre os boatos que o mineiro era usuário de drogas.

Lula e Dilma pagam o preço da opção por alianças com partidos como o PR – Partido da República. É um partido de ladrões, quadrilha, ligado a uma igreja neopentecostal, seus principais acionistas são pastores e essa gente não faz outra coisa que não ludibriar a boa fé das pessoas, aquele negócio de vender tijolinho para ir fazendo casa no céu, ou dependendo do dízimo, mansão nas paragens cuja portaria é controlada por São Pedro.

Os chefes mesmo preferem morar em Miami.

Lula segurou e continua sendo segura, a decisão de expropriação automática de terras onde seja descoberto trabalho escravo para fins de reforma agrária. Quase todo dia a Polícia Federal ou o Ministério do Trabalho descobrem latifundiários e empresas do agronegócio se valendo de trabalho escravo, inclusive um deles, o tal rei do feijão, prefeito de uma cidade mineira e tucano, óbvio.

Dilma está prestes – se já não transformou – um dos maiores bandidos da política brasileira, Blairo Maggi, ministro dos Transportes. Responsável por desmatamentos ilegais no Centro-Oeste, envolvido em corrupção generalizada em seu governo no Mato Grosso, ligado a contrabandistas e empresas estrangeiras interessadas no nióbio brasileiro (sem ele não existiria arsenal nuclear norte-americano, ou qualquer outro) e Lula e o ex-ministro José Dirceu estão envolvidos nisso até a alma. Maggi é useiro e vezeiro em trabalho escravo.

Os baús da ditadura, outro exemplo. Não se sabe por que razão permanecem sigilosos os documentos que mostram os crimes cometidos pelos militares durante a ditadura e nem se entende o receio do governo em exibi-los. Entender a covardia dos torturadores atrás da lei da anistia – feita para eles, para inocentá-los das felonias cometidas – é fácil. A tortura é da natureza de todo covarde como Brilhante Ulstra, hoje colunista do jornal FOLHA DE SÃO PAULO (que nunca é demais lembrar, emprestava os caminhões para a desova de presos políticos assassinados no DOI/CODI paulista, ou no OBAN – OPERAÇÃO BANDEIRANTES -, financiada por empresas como a Mercedes).

Quando o secretário geral do PCB – PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO – definiu o governo Lula como “capitalismo a brasileira”, estava indo muito além de uma frase de efeito, ou de uma constatação.

O que Ivan, com certeza, quis denunciar, caracterizar, era exatamente a opção que Lula fez e Dilma mantém por determinado setor do empresariado dentro do modelo. Ou seja, o ex-presidente e a atual presidente, agregaram parte do empresariado, do latifúndio e todos os banqueiros que atuam no Brasil para implementar suas políticas, algo como uma negociação em troca de ar que lhes permitisse respirar, avançar em alguns setores, sem mudar coisa alguma, mantendo intactos os cartórios.

Só isso. Nas alianças feitas pelos governos Lula e Dilma o que existe é isso. Aceita-se a participação de quadrilhas, PR, setores do PMDB (que ainda tem muita gente digna), fecha-se os olhos a determinadas irregularidades, enquanto se toca o que consideram principal dentro dos parâmetros ditados pelo modelo. Como? A política econômica. A política de juros altos. As privatizações agora dos aeroportos e outras

Abílio Diniz envolvido em várias irregularidades fiscais, trapaças, etc, num dado momento do governo Lula chamou o presidente de “grande estadista”. Ele não acha nada disso, apenas estava no grupo de empresários absorvidos por Lula.

Eike Batista sustenta o governo Sérgio Cabral – cada vez mais Collor de Mello e já carecendo de impeachement faz tempo – em troca de grandes contratos, de concessões, etc, etc.

Não é só a casinha de Luciano Huck (regularizada pela ex-mulher de Cabral, através de seu escritório de advocacia) multado agora por cercá-la de bóias afetando o ambiente. O cinismo desses pilantras globais é impressionante. Não é o caso da jornalista que apresenta o jornal da seis da GLOBONEWS, pelo contrário, é da organização GLOBO mesmo, quadrilha. São grandes trapaças, grandes negociatas e tudo bem. Cabral pede desculpas de público, continuam morrendo assassinadas pela PM crianças na “polícia pacificadora” (caso do menino Juan), nada acontece.

Dia desses, num consultório médico, enquanto aguardava, nessas revistas velhas que povoam consultórios médicos e odontológicos (os tais da colgate que resolve tudo), li uma declaração da apresentadora do JORNAL NACIONAL (um câncer na informação, nas comunicações), falo da jornalista Fátima Bernardes, que “o meu cabelo é patrimônio nacional”. Ora, a moça perdeu completamente a noção de ser humano, incorporou o espírito robô e se acha acima do bem e do mal.

Quando VEJA e a GLOBO se “indignam” com a corrupção é porque os empresários ligados a eles estão sendo “prejudicados” em alguma negociata. No caso do ministro (bandido) Alfredo Nascimento, a concorrência com a RECORDE. O PR é um braço do esquema neopentecostal, o melhor “negócio divino” existente no País hoje e em boa parte do mundo.

Ao se afirmar que Lula cometeu erros em concessões várias e Dilma está sem rumo, perdida (Jobim chamou figuras do governo que não nominou de “idiotas” diante de FHC e Serra e continua ministro), ao mesmo tempo que se propõe uma revisão de políticas públicas em vários setores, aí sim, para que o País possa avançar, não se está fazendo o jogo da direita. Esse jogo é feito pelas debilidades do governo Dilma. Ou o caso do ministro Alfredo Nascimento, quadrilheiro de carteirinha, foi inventado e deveria ser objeto de silêncio para não prejudicar “a governabilidade e os avanços”. Que avanços?

O custo do trem bala Rio/São Paulo está orçado em 80 milhões o quilômetro, o custo da ponte – a maior do mundo – construída agora e mostrada ao mundo pelos chineses foi de dois milhões de dólares o quilômetro. Quando o PSDB e VEJA, ou GLOBO denunciam uma irregularidade é briga de quadrilhas empresariais. É diferente da crítica, muito diferente, que se faz ao modelo e às práticas do governo, mesmo porque embora pense que tenha inventado a esquerda, o socialismo, não é bem assim. Arqueólogos já comprovaram que a esquerda, o socialismo é anterior ao PT. As lutas populares são anteriores ao PT.

A discussão da reforma política que senadores e deputados deitam sapiência no curso da semana com propostas assim e assado. O que tem sido feito é apenas uma busca meticulosa de uma “reforma” que não mude coisa alguma e permita a um corrupto sem entranhas como José Sarney, repulsivo, permanecer senador e pior, presidente do Senado e um dos grandes avalistas do governo.

A crítica feita pela mídia privada reflete o que a mídia privada o é. Um braço do capitalismo, de potência estrangeira, de uma forma de terrorismo que entre outras coisas busca alienar e aterrorizar o telespectador, ouvinte, leitor, o cidadão, quando lê matéria como a da revista VEJA imputando a muçulmanos inverdades e atos inexistentes.

VEJA é podre da primeira a última página.

A crítica feita por partidos à esquerda do PT (é hoje um partido social democrata, de centro-esquerda) trabalha ao mesmo tempo – e muitas vezes é dos movimentos sociais também – a importância do debate público, da participação popular, da luta de frente com essas quadrilhas que lotam a política brasileira, caso do PR, de transformações políticas e econômicas para que se possa ter um caminho alternativo a esse “capitalismo a brasileira”.

E acima de tudo é responsável. Tem plena consciência do que significa a perspectiva de volta do tucanato ao poder. Foi por isso mesmo que esses partidos ficaram com Dilma no segundo turno (a maior parte deles) e outra vez o PCB refletiu essa responsabilidade, essa consciência, ao proclamar “com Dilma nas urnas, contra Dilma nas ruas”.

O tamanho do tsunami que se forma para atingir a América Latina nessa crise que vive o capitalismo é apavorante. E nesse diapasão, nessas alianças, nesse chove não molha, nessas discussões estéreis a cúpula do PT (pelega) e os governos petistas terão uma parcela imensa de culpa. O não perceber que o caminho não passa por alianças, mas por enfrentar o modelo.

A história que não tem como ser diferente é bobagem, desculpa esfarrapada. Falta é peito mesmo. E aí, tem que conviver com Alfredo Nascimento, com Nelson Jobim, Moreira Franco, essa corja que pulula no governo Dilma. Blairo Maggi? É o senhor do agronegócio no Brasil. Continuamos no brejo do capitalismo disfarçado de programas sociais que longe de serem transformadores, apenas adéquam parcela da população ao modelo perverso que vive seus dias finais em termos de história.

E um aspecto importante. O PT não inventou a esquerda. Tanto não inventou que hoje mal consegue se segurar na centro-esquerda.

A propósito da nota do PSDB falando em ética os caras não entendem do assunto e ficam dando palpite errado, falando besteira. Hitler tinha uma ética. Ben Gurion o primeiro chefe de governo de Israel e colaborador do nazismo tinha uma ética. Drácula tem a ética do sanguessuga. A do PSDB é a da amoralidade. Tem horror de bafômetro e adora pedágio (propinas maiores). A de Israel, desde Ben Gurion é de ressuscitar a suástica e fundi-la à cruz de David e está conseguindo fazer.

Com urgência é necessário contatar o espírito de Marx e explicar a ele que nada do que disse ou escreveu vale se não tiver o crivo do PT. Marx e todos os pensadores de esquerda desde os primórdios.

"O uso de agrotóxicos no Brasil é abusivo, exagerado e incontrolável"



por Redação IHU
 

“Os agrotóxicos são usados sem nenhum controle pela sociedade brasileira. Seu uso está sob os interesses do que se chama de agronegócio”, constata o professor José Juliano de Carvalho, na entrevista a seguir, concedida por telefone para a IHU On-Line.
194 300x217 O uso de agrotóxicos no Brasil é abusivo, exagerado e incontrolávelProfessor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), Carvalho tem percebido a destruição e a inviabilização da agricultura familiar não apenas pelo agrotóxico, mas pelo conjunto do modelo do agronegócio. “É preciso que se institua a regulação do agronegócio. Senão, pega-se um investimento público feito para a agricultura familiar ou para áreas de assentamento e deixa-se que essa área seja dominada por monoculturas ligadas ao agronegócio, com uso de agrotóxicos, transgênicos, prejudicando assim todas as pessoas que ali estão.”
José Juliano de Carvalho Filho possui graduação e doutorado em Economia pela Universidade de São Paulo, e pós-doutorado pela Ohio State University. Além de professor, integra a Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra).
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Qual sua opinião em relação ao uso de agrotóxicos no Brasil?
José Juliano de Carvalho – Minha atividade de pesquisa junto às populações camponesas durante muitos anos me colocou em contato com os efeitos do agrotóxico. Mas o que importa é discutir esse modelo que se chama de agronegócio. Não se trata de uma simples técnica. É um modelo com efeitos perversos para a economia nacional, que nos faz voltar ao passado em relação à exportação de produtos primários e, o pior, com a dependência de poucas empresas multinacionais.
O agrotóxico, evidentemente, está ligado à questão das patentes e dos transgênicos. E os efeitos do enorme consumo de agrotóxicos no Brasil, que chega a 5,7 litros de veneno por habitante, estão ligados a esse modelo.
Isto tudo está dentro de uma questão maior, a questão agrária, que se caracteriza aqui no Brasil pela concentração fundiária, que está crescendo.
Os agrotóxicos são usados sem nenhum controle pela sociedade brasileira. Seu uso está sob os interesses do que se chama de agronegócio. Olhando para o campo, veremos que há um mecanismo que torna o governo refém dos ruralistas. Neste mecanismo, está embutida a própria questão macroeconômica, que tem um déficit crescente em contas correntes. Isto implica pressão para se exportar mais commodities e o governo acaba ficando refém.
Basta olhar para o Congresso Nacional e ver que ali há um domínio muito amplo dessas forças, que eu considero as mais retrógradas do país. Tenho visto muito a destruição e a inviabilização da agricultura familiar. Não só por causa do agrotóxico, mas pelo conjunto do modelo do agronegócio.
Um caso emblemático no Rio Grande do Sul é a detecção do agrotóxico no leite materno. A mãe, ao amamentar, envenena o filho com o próprio leite. Isto é um absurdo, um descontrole total. Minha opinião sobre o uso de agrotóxicos no Brasil é que é abusivo, exagerado, incontrolável.
Ficou muito mais difícil para a agricultura familiar. Quando se fala em integração da agricultura familiar com a indústria, eu vejo mais uma relação de subordinação. O Brasil se sujeita a se entregar à economia mundial num lugar subalterno e sob o domínio de grandes empresas multinacionais. Elas fazem o que querem aqui, sem regulação e com domínio total. E não são punidas por seus crimes.
IHU On-Line – Então o impacto do uso de agrotóxicos pode prejudicar a economia brasileira?
José Juliano de Carvalho – Penso que sim. E falo do impacto do pacote inteiro do modelo do agronegócio. Existe um eufemismo em torno disso, que vem dos Estados Unidos com o agrobusiness. O modelo inteiro prejudica o agrotóxico, inclusive, visto que ele está junto. É preciso que se institua a regulação do agronegócio. Senão, pega-se um investimento público feito para a agricultura familiar ou para áreas de assentamento e deixa-se que essa área seja dominada por monoculturas ligadas ao agronegócio, com uso de agrotóxicos, transgênicos, prejudicando assim todas as pessoas que ali estão.
IHU On-Line – O Brasil é um dos países que mais utilizam agrotóxicos. O que isto revela sobre a posição brasileira em relação ao futuro da agricultura?
José Juliano de Carvalho – Isto revela a subordinação brasileira na nova divisão internacional do trabalho. A nós coube voltar nossa pauta de exportação para os produtos primários, vendendo etanol, massa de celulose, soja, sempre com pouco valor agregado. Estamos nos colocando não como o país do futuro, mas como subalternos. Continuaremos sendo periferia.
IHU On-Line – Por que os países em desenvolvimento são os que mais utilizam agrotóxicos?
José Juliano de Carvalho – Porque eles são dominados pelas empresas, que têm um domínio inclusive sobre as terras. E a tática que essas empresas usam é do jogo mais baixo possível. Fazem de tudo, até suborno. Isto está ligado ao avanço do capital financeiro em todo o mundo, sendo que esses países vão perdendo a capacidade de fazer política. Eles fazem apenas a pequena política.
IHU On-Line – Quais são as alternativas aos agrotóxicos?
José Juliano de Carvalho – Nós podemos ter uso de química na agricultura, mas tem que ser um uso regulado. O que eu não vejo é alternativa ao modelo do agronegócio. Porque não é um modelo de produção, mas um modelo de domínio econômico, em que nem a reprodução das sementes é mais facultada aos agricultores. Eles têm que pagar pelas sementes e estas implicam no uso do agrotóxico X. É preciso quebrar o poder de mercado dessas empresas. Um país como o nosso deveria regular a atividade do agronegócio, voltada aos interesses nacionais. Como  podem ser usados produtos que prejudicam a saúde da própria população trabalhadora?
* Publicado originalmente no site IHU On-Line.
(IHU On-Line)

sexta-feira, 8 de julho de 2011

A internet e a rebelião dos homens


por Mauro Santayana*

Imagine o leitor que em fevereiro de 1848 já houvesse a rede mundial de computadores. Vamos supor que, em lugar de imprimir os primeiros e poucos exemplares do Manifesto Comunista, Marx e Engels tivessem usado a internet, de forma a que todos os trabalhadores europeus e norte-americanos pudessem ler o texto. Qual teria sido o desenvolvimento do processo? Como sabemos, o ano de 1848 foi de rebeliões operárias na Europa, reprimidas com toda a violência.



O capitalismo selvagem de então, um dos filhos bastardos da Revolução Francesa, sentiu-se animado pela derrota dos trabalhadores. Na França a burguesia tomou conta do poder e, derrotada a monarquia, assumiu-o sem disfarces e sem intermediários, em um período que os historiadores denominam de “A República dos homens de negócios”. Os trabalhadores e intelectuais tentaram, mais tarde, em 1871, logo depois de a França ser derrotada pelos alemães, criar um governo autônomo e igualitário em Paris. Com a ajuda dos invasores, o Exército de Thiers executou 20.000 parisienses nas ruas.

As manifestações populares dos países árabes, que os governos e a imprensa dos Estados Unidos e da Europa saudaram como o fim dos tiranos e o início da democratização do mundo islâmico, entram em nova etapa, ao atingir os países ricos. Os analistas apressados são conduzidos a rever suas conclusões. O mal-estar que levou os povos às ruas não se limita ao norte da África: é fenômeno mundial.

Uma das contradições do capitalismo, principalmente nessa nova etapa, a do imperialismo desembuçado, no qual os governos nacionais não passam de meros servidores dos donos do dinheiro, é a de sua incapacidade em estabelecer limites. Hoje, nos Estados Unidos – que foram, em um tempo, o espaço para a realização de milhões de pessoas mediante o trabalho – a diferença entre os ricos e os pobres é maior do que durante toda a sua História, incluído o tempo da escravidão. Um por cento da população norte-americana detém 40% de toda a riqueza nacional. A mesma situação se repete em quase todos os paises nórdicos.

Quando redigíamos este texto, milhares de pessoas se encontravam acampadas no centro de Madri, em continuidade ao movimento Democracia Real, Já, que se iniciou em 15 de maio, com protestos em todas as grandes cidades espanholas. A Espanha hoje está dominada pelos grandes banqueiros e companhias multinacionais, que não só exploram o trabalho nacional, como vivem de explorar os paises latino-americanos. Bancos como o Santander – cujos resultados mais expressivos ele os obtém no Brasil – dividem com os dois partidos que se revezam no poder (os socialistas e os conservadores) o resultado do assalto à economia do país. É contra esse sistema odioso que os espanhóis foram às ruas, e nas ruas continuam.

Não são apenas os jovens desempregados que se indignam. São principalmente as mulheres e homens maduros, os que estimulam o movimento. Eles sentem que seus filhos e netos estarão condenados a um futuro a cada dia mais tenebroso e mais violento, se os cidadãos não reagirem imediatamente. Os espanhóis estão promovendo a articulação internacional de movimentos semelhantes, que ocorrem em outros países, como a Islândia, a França, a Inglaterra e mesmo os Estados Unidos. Se o sistema financeiro se articulou, com o Consenso de Washington e os encontros periódicos entre os homens mais ricos do planeta, a fim de dominar e explorar globalmente os povos, é preciso que os cidadãos do mundo inteiro reajam.

Marx queria a união de todos os proletários do mundo. O movimento de hoje é mais amplo e seu lema poderia ser: Seres humanos do mundo inteiro, uni-vos. 
 
 
 
Fonte: publicado originalmente no Blog do Mauro Santayana e retirado do Blog do Miro.
 
Nota: republicamos porque além do belo texto de Santayana, é uma verdadeira aula de história 

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Pesquisadores e deputados defendem regulamentação da mídia


Gustavo Lima
Andrew Puddephatt (consultor Internacional da Unesco)
Andrew Puddephatt, da Unesco, defendeu a regulação da mídia.
 
Pesquisadores, consultores e deputados defenderam nesta quarta-feira que sejam instituídos no Brasil instrumentos de regulação da mídia. Em seminário promovido pela Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e o Direito à Comunicação com Participação Popular, os participantes foram unânimes em atestar a insuficiência dos instrumentos de autorregulação para garantir a liberdade de expressão e o direito à comunicação.
O consultor internacional da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) Andrew Puddephatt ressaltou que a liberdade de expressão deve ser garantida e deve ser protegida a independência dos órgãos de mídia, devendo os conteúdos jornalísticos serem autorregulados. “Porém, como todo outro mercado, são necessárias regras para o funcionamento do mercado de mídia”, disse.
Segundo ele, a liberdade de expressão precisa de algumas restrições – por exemplo, em relação a discursos discriminatórios. “Essas restrições devem ser feitas por leis, em acordo com normas internacionais de direitos humanos. A punição pela desobediência a essas restrições deve ser aplicadas por tribunais”, explicou.
A Unesco recomenda a instituição de regras, por exemplo, para proteger a pluralidade e a diversidade da mídia e para garantir a proteção de grupos minoritários, como crianças. Uma alternativa seria, por exemplo, o estabelecimento de horários especiais para programas com violência explícita e pornografia.
Puddephatt também ressaltou a necessidade de regras para garantir uma proporção de conteúdo local nas mídias e para se promover mercados para os produtores independentes de conteúdo (aqueles que não são distribuidores de conteúdo também).
Novo órgão
O representante da Unesco Brasil Guilherme Canela destacou que outra recomendação é de que o Brasil constitua um órgão regulador único para os setores de telecomunicações e de radiodifusão. Hoje a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) regula apenas o setor de telecomunicações.
Esse novo órgão, conforme Puddephatt, seria responsável por garantir o uso eficiente do espectro radioelétrico, para atender ao interesse público; por conceder licenças; e por assegurar a competição. Além disso, atuaria como um ouvidor dos consumidores. “O consumidor deve poder reclamar sobre o conteúdo das mídias para o órgão regulador”, disse o consultor.

Frente parlamentar
Criada em abril de 2011, a frente é integrada por 206 parlamentares e conta com a participação de 104 entidades da sociedade civil. O objetivo da frente, segundo a sua coordenadora-geral, deputada Luiza Erundina (PSB-SP), é formular propostas para uma nova lei para o setor das comunicações, em discussão no Ministério das Comunicações.
Pedro França
Venício Lima (prof. da UnB), dep. Emiliano José (PT-BA), dep. Luiza Erundina (PSB-SP), Guilherme Canela (coord. de informação da UNESCO no Brasil) e Andrew Puddephatt (consultor internacional da UNESCO)
No debate, parlamentares cobraram novas leis para as comunicações.
“Queremos que esse marco regulatório venha o mais rapidamente para o Congresso para poder dar início às discussões”, disse o deputado Emiliano José (PT-BA), também um dos coordenadores da frente. “Não acreditamos que a autorregulação seja suficiente para enfrentar os problemas do setor de comunicações no Brasil”, completou.
Representantes de algumas entidades que compõem a frente, como o Coletivo Intervozes e a Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço), também ressaltaram a ineficácia da autorregulação e manifestaram apoio a instituição de mecanismos de regulação para o setor de comunicações.
Reportagem – Lara Haje
Edição – Ralph Machado

Após mortes no Campo, 131 ameaçados foram incluídos em programas federais de proteção

Carolina Pimentel - Repórter da Agência Brasil

         Brasília – Depois das mortes de ativistas ambientais e trabalhadores rurais no Norte do país este ano, 131 pessoas ameaçadas passaram a receber proteção policial por meio de programas do governo federal na região. A informação foi dada hoje (5) pela ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário.
         O grupo foi identificado a partir do cruzamento de dados fornecidos pela Comissão Pastoral da Terra (CPT, ligada à Igreja Católica) e por movimentos de trabalhadores rurais com registros das ouvidorias Agrária Nacional e a da própria secretaria.
         Um levantamento feito pela CPT contabiliza 641 casos de violência no campo, com 918 mortes, em estados da Amazônia Legal, de 1985 a abril deste ano. Do total, somente 27 casos foram a julgamento, menos de 5%. Nesse período, 18 mandantes de crimes e 22 executores foram condenados e 17 executores absolvidos. O Pará têm o maior número de vítimas dos conflitos, com 621 pessoas assassinadas. Em todo o país, ocorreram 1.580 mortes no campo nos últimos 26 anos, de acordo com a entidade.
         No fim de maio, quatro ambientalistas foram assassinados no Norte, três no Pará e um em Rondônia. A morte do casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo na zona rural de Nova Ipixuna (PA) ganhou repercussão nacional. Na época, a presidenta Dilma Rousseff determinou o envio de equipe da Força Nacional para conter a violência no campo. E a CPT apresentou ao governo uma lista de 165 pessoas que foram ameaçadas mais de uma vez. Destas, 30 tinham sofrido tentativa de assassinato
         Maria do Rosário disse que, junto com outros ministérios, tem buscado formas de colaborar com autoridades responsáveis para que inquéritos policiais e processos judiciais sobre mortes no campo tenha andamento. “O mais importante é garantir que aqueles que ameaçam sejam identificados, responsabilizados e punidos. Entre os que ameaçam hoje, estão também alguns que já mataram em outros momentos e ficaram impunes”, reforçou a ministra, que preside reunião do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH).
         Na reunião, foi aprovado o envio de uma comissão para pedir ao governo de São Paulo a reabertura das investigações sobre as mortes de quase 500 pessoas no estado em maio de 2006, conhecidas como "crimes de maio", em decorrência de conflitos entre a polícia e a organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).

terça-feira, 5 de julho de 2011

Trabalho infantil: liberdade e barbárie no Brasil



por Leonardo Sakamoto*


Teresina – Preciso elevar meu conceito de barbárie porque ele está desatualizado.

Esta semana, em um post sobre a morte de um operário de 16 anos durante o desabamento de uma obra em São Paulo, reclamei do absurdo daquilo reunindo à história dele sete outras envolvendo crianças em condições insalubres. Cheguei a pensar se não havia pegado pesado demais. Nesta sexta, aqui no Piauí, cheguei à conclusão que não.
155 Trabalho infantil: liberdade e barbárie no BrasilUm auditor fiscal do trabalho me relatou um caso bizarro. Em uma operação, libertou uma jovem de 14 anos que, durante o dia, cuidava do barracão onde estavam alojados outros dez trabalhadores – todos em condição de escravidão, inclusive ela. Arrumava as coisas dos peões, responsabilizava-se pela alimentação, era a empregada do local. À noite, assumia jornada dupla e tornava-se a diversão sexual de todos – isso mesmo, todos – os trabalhadores. Entregava-se “pão e circo” a um grupo de espoliados, no intuito de que esquecessem suas tragédias e reclamassem menos. Não é assim conosco em escala nacional com alguns esportes e festas?
Anteontem, durante uma palestra no Congresso de Jornalismo Investigativo da Abraji, perguntaram-me qual a pior situação que encontrei pelas andanças que tive. Cobri guerras, me meti nos piores buracos, acho que já vi muita coisa. Mas o que sistematicamente me tira do sério é me deparar com crianças completamente alijadas de sua dignidade, que, para sobreviver, emulam uma maturidade que não têm a fim de segurar a barra em um mundo de desgraça. Um amadurecimento incompleto, em que, de noite, se prostituem em boleias de caminhão por alguns reais e, de dia, penteiam bonecas de pano.
(Aí eu ligo a TV e uma socialite diz com a boca cheia de dentes que apoia o “social”. Que dá dinheiro para uma instituição de crianças, pois acha importante ter a caridade no coração. Mais um pouquinho, se ela dissesse que tratava as filhas das suas criadas como suas, me enforcava no quarto do hotel com o lençol.)
Boa parte dessas barbáries são decorrência de nosso modelo de desenvolvimento perverso, que forçam crianças a trabalhar desde cedo e nas piores formas de serviço. E que, para justificar o injustificável, cria todo um discurso de que trabalhar é bom, pois forja o caráter. Barbáries que não vão se resolver com medidas paliativas, como caridade, mas com ações estruturais. O problema é que lutar pela implementação de políticas públicas efetivas ou pela aprovação de leis pode não servir para deixar a consciência mais leve na cama à noite no curto prazo.
A jovem de 14 anos do caso acima trabalhava em uma área destinada à produção de leite. Mas como não nos importamos em saber de onde vêm os produtos que consumimos e o caminho de impactos negativos que alguns deles vão gerando pelo caminho para suprir nossa demanda, ela simplesmente não existe. Ou melhor, existe, mas é um dano colateral necessário.
Trago o poeta inglês John Donne, citado em “Por Quem os Sinos Dobram”, de Ernest Hemingway:
“Nenhum homem é uma ilha, inteiramente isolado / Todo homem é um pedaço de um continente, uma parte da terra / Se um torrão de terra for levado pelas águas até o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa de teus amigos ou a tua própria / A morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. / E por isso não perguntes por quem os sinos dobram: eles dobram por ti.”
Em outras palavras, o sofrimento de qualquer pessoa me diminui, pois sou parte da humanidade: nunca procure saber por quem os sinos dobram, pois eles dobram por você também.
Se o problema é do filho ou filha do outro, do desconhecido distante, então que se dane. A verdade é que defendemos liberdades coletivas quando estas nos dizem respeito individualmente. Será que vamos, um dia, conseguir defender o outro simplesmente porque ele é (ou deveria ser) semelhante a mim em direito e dignidade?
* Publicado originalmente no Blog do Sakamoto.
(Blog do Sakamoto)

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O Brasil e a sua guerra particular



por Leonardo Sakamoto*


O Ibama apreendeu quatro toneladas de agrotóxicos, entre eles desfolhante 2.4D, que estava sendo utilizado na substituição de três mil hectares de floresta por pastagem no Sul do Amazonas. Cerca de 250 hectares já haviam ido para o beleléu.
115 300x224 O Brasil e a sua guerra particularAngeli
O 2.4D, que é usado na agricultura, é um dos componentes do agente laranja, despejado no Vietnã para revelar inimigos do Tio Sam que se escondiam na mata. Comentei com um colega antropólogo que, seguindo essa toada, em breve, o pessoal ia começar a usar napalm para limpar fazendas de indígenas indesejáveis.
No que ele me lembrou que isso já aconteceu. Durante a construção da BR-174, que cortou o território Waimiri Atroari, entre Roraima e o Amazonas, o exército brasileiro controlado pela Gloriosa quase levou à extinção o povo kinja na década de 1970. Há relatos de bombas lançadas por aeronaves na população.
Outros relatos apontam o massacre de indígenas no Mato Grosso na década de 1960, quando fazendeiros, com o apoio de representantes do Estado, teriam lançado objetos contaminados com doenças como sarampo nas aldeias indígenas.
Reestabelecida a democracia, casos assim continuaram. Há denúncias de que pecuaristas, temendo que suas terras viessem a ser devolvidas aos indígenas isolados que nelas viviam no Sul de Rondônia, mandaram dar açúcar de presente à tribo. O que não avisou a eles é que o açúcar tinha sido temperado com veneno de rato.
E olha que não falamos de trabalhadores rurais, como nas bombas jogadas durante a repressão violenta à greve dos cortadores de cana em Guariba, Estado de São Paulo, na década de 1980, ou nas chacinas e massacres, como Eldorados dos Carajás, Estado do Pará.
Em suma, quando dizemos que uma guerra tem sido travada no campo no Brasil, tem gente que duvida. O pior é que ela não foi ou é apenas convencional, mas é também química e biológica.
Não dava para ter aplicado a Convenção de Genebra por aqui, não?
* Publicado originalmente no Blog do Sakamoto.
(Blog do Skamoto)

GRÉCIA? ONDE? AINDA EXISTE? SUMIU NAS LETRINHAS MIÚDAS




Laerte Braga


Que eu saiba a Grécia existiu há milhares de anos atrás, nos legou uma história fantástica sob todos os aspectos e sumiu desde então. Uma espécie de Atlântida, o continente perdido? Não. O mais provável é que tenha sido uma experiência que o ser humano é viável. Ou, hipótese não descartável, algo como extraterrestres que por aqui aportaram e tentaram criar as bases de um processo de civilização no mínimo calcado na inteligência.

As tentativas de manter aquela Grécia terminaram quando Melina Mercouri morreu e levou consigo alguns excelentes diretores de cinema, outros tantos atores, deixando o arremedo de país, hoje dissolvido na melange chamada Comunidade Européia (base dos EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A que controla a Europa Ocidental).

O que teimam em chamar de Grécia, a despeito dos protestos populares, sumiu nas letrinhas miúdas dos contratos assinados para salvar os bancos de judeus alemães (sionistas) e outros acionistas minoritários.

Liquidação a perder de vista, prazos imensos para pagar o impagável, fim de direitos dos trabalhadores (as novas formas de escravidão do século XXI) e, lá nos adendos, no pé do contrato, o fascismo.

O governo da extinta Grécia, cumprindo as exigências do complexo terrorista que controla o mundo impediu a FLOTILHA DA PAZ de deixar os portos gregos.

Navios com militantes pela paz pretendiam chegar a Gaza submetida a um bloqueio desumano (é da natureza dos judeus/sionistas, não sabem o que é ser humano), levando alimentos, remédios e solidariedade. Entre os que estavam a bordo uma cidadã judia que perdeu os pais em campo de concentração nazista.

Os campos de concentração hoje são construídos por norte-americanos e israelenses.

Os métodos bárbaros e cruéis de execução se voltam contra palestinos e são postos em prática por norte-americanos e israelenses.

Matar palestino pode. Prender, torturar, estuprar mulheres palestinas, assassinar, isso pode. Saquear e roubar terras palestinas também pode, é prática corriqueira de judeus sionistas e conta com a cumplicidade dos países cristãos e democráticos em sua maioria, além da maioria da própria população de Israel, o que transforma não só os sionistas em criminosos contra a humanidade, mas também a imensa maioria dos judeus, principais acionistas dos Estados Unidos.

Controlam Wall Street e têm o poder final sobre as decisões da Casa Branca em Washington. A propósito, nos treze anos da filha do fantoche Obama, lógico, enviaram presentes. Devem ter escolhido algo significativo entre o que saqueiam do povo palestino.

Israel é uma invenção das grandes potências logo após o término da 2ª Grande Guerra com o intuito de monitorar o Canal de Suez (controlam as forças armadas que dizem ser egípcias, mas são venais como muitas em muitos países do mundo, as brasileiros por exemplo em 1964) e assegurar o petróleo para as empresas judeus/sionistas com parceria de norte-americanos, inclusive a família Bush.

Negócios, só negócios.

Eu, se fosse grego, neste momento iria começar a angariar assinaturas para mudança do nome do país em respeito à Grécia. Casa da Mãe Joana seria o mais adequado. Ou bordel preferido de banqueiros judeus/sionistas com apoio das forças da OTAN – ORGANIZAÇÃO DO TRATADO ATLÂNTICO NORTE – aquela que mata inocentes líbios em nome do petróleo nosso de cada dia e sob o pretexto da democracia.

Toda essa ação bárbara e terrorista encontra eco na mídia internacional e no Brasil tem o apoio de organizações venais como GLOBO, ou VEJA (condenada na Justiça por inventar histórias que agridem o povo muçulmano).

Os sofrimentos impostos ao povo palestino desde que suas terras foram roubadas por judeus/sionistas com a cumplicidade de judeus omissos, muitos cúmplices ativos, outros passivos, não tem paralelo na história contemporânea exceto na barbárie dos campos de concentração de Hitler.

Que por sinal não executava só judeus não. Mas comunistas, adversários do regime, homossexuais, ciganos, negros, povos considerados inferiores. O que chamam de Holocausto não é privilégio dos judeus.

Em Guantánamo mais de 70% dos presos – a revelação foi feita por jornais norte-americanos – acabaram sendo soltos. Eram inocentes. Foram presos, levados de suas casas e países e torturados segundo os ditames do ATO PATRIÓTICO de herr Bush, seguido à risca pelo garçom Obama.

Aspásia, mulher de Sócrates, adorou os bolinhos de Tia Nastácia, segundo Monteiro Lobato num dos seus livros infantis, me parece que O MINOTAURO (não vale dizer que é racismo colocar Tia Nastácia fritando bolinhos para Aspásia).

Nem Sócrates, nem Aspásia, nem Tia Nastácia, os povos africanos, a exemplo dos gregos, dos paquistaneses, dos iraquianos, dos líbios, os palestinos evidente, dos afegãos, dos colombianos, dos somalis (são chamados de piratas por seqüestrar navios que despejam lixo hospitalar e nuclear em seu litoral, em suas águas territoriais), existem mais como os concebíamos, ou como tenta fazer concebê-los a mídia a serviço do complexo terrorista EUA/ISRAEL S/A.

Aquela conversa que comunistas comiam criancinhas e matavam idosos, teve que ser trocada com o fim da União Soviética.

A realidade é diferente.

Esse, a seguir, é um dos rotineiros e diários casos que ocorrem no país dos insanos, os EUA. Christian Choate, de 13 anos, foi encontrado morto o mês passado. As cartas que deixou mostravam que vivia preso numa jaula de cachorro, era espancado e violentado por seu padrasto com o consentimento primeiro da mãe e depois da madrasta, além de ser o encarregado da limpeza da casa – momento em que era tirado da jaula.

Obama expressou sua “indignação” pelo fato. Não faz outra coisa o dia inteiro. Esses fatos repulsivos fazem parte da realidade do dia a dia do país.

A barbárie foi divulgada pelo Juizado de Menores do estado de Indiana. Christian morreu há três anos e só agora seu corpo foi descoberto. Várias denúncias foram feitas à época por pessoas que conheciam a realidade do menino. Nenhuma delas foi apurada pela Polícia.

Essa preocupação com criminosos nos EUA é só em filmes e séries para a tevê. Na prática não existe. No mundo dos negócios isso vira lucro e as empresas que produzem filmes e séries são controladas por judeus/sionistas.

Em si e por si os criminosos são os norte-americanos que controlam os “negócios”.

Imagino que arqueólogos do terceiro milênio, ao escavarem as ruínas desse nosso segundo milênio irão encontrar monumentos fantásticos. As sedes de bancos e os complexos militares espalhados pelo mundo na missão democrática de paz e liberdade.

Nada que possa ser comparado ao trabalho de Fídias.

E valas comuns onde a “manada” é despejada (até rima). Ficarão intrigados com o noticiário dos jornais de nossos tempos, os vídeos que sobrarem das tevês e gravações de rádios, relatando as maravilhas das bonecas chinesas capazes de várias posições e próximas do corpo real da mulher por compostos desenvolvidos com alta tecnologia que tornam o envoltório próximo do que é a pele humana.

Todos com celulares nos bolsos e as maravilhas da comunicação instantânea.

Nessa altura não haverá senão lenda sobre a Grécia, a antiga. A atual sumiu nas letrinhas miúdas dos contratos impostos por banqueiros judeus/sionistas através do governo alemão de Ângela Merkel (podia ser qualquer outro), versão da Alemanha colônia do complexo terrorista EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A.

E Charlton Heston esmurrando as ruínas do metrô de New York diante da boçalidade do capitalismo/ terrorista, como previsto no original de O PLANETA DOS MACACOS.

Diga-se de passagem que os macacos não têm nada a ver com isso. Nem de longe.

Com certeza haverá algum Cecil B de Mille para filmar O TEMPO DOS BOÇAIS.

Ah! Um detalhe, quem estiver interessado em PEQUENOS NEGÓCIOS & GRANDES EMPRESAS, o PCC – Primeiro Comando da Capital – concorrente de tucanos, etc, abriu o sistema de franquia no Estado de São Paulo e em todo o Brasil para a venda de drogas. Basta o ponto, o pagamento correto da licença, que além da droga, a “empresa” fornece assistência jurídica em caso de necessidade e proteção à família do franqueado que eventualmente venha a ser preso.

Breve deve disputar a presidência do esquema FIESP/DASLU.

Na alça de mira das letrinhas miúdas, depois da Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha. Vão assim até chegar aqui, é só questão de tempo.   

E não sei como FHC vai fazer agora com o fim definitivo de qualquer resquício do Olimpo. Deve ascender aos céus no quadragésimo dia. E Dilma deve decretar feriado, já que agora, vai incumbir o ex-presidente de missões no exterior.

Por fora bela viola, por dentro pão bolorento! O ser transgênico da MONSANTO em imensos desertos. Kátia Abreu vai liderar o exército de predadores. Nada de colunas de Fídias, ou templos, mas imensas plantações de eucalipto e gado pastando a floresta Amazônica, repleta de toras de madeira de lei à espera do embarque com as garantias governamentais devidas.

A consultoria é de Palocci, nossa versão de primeiro-ministro grego, ou da cúpula do PT.

domingo, 3 de julho de 2011

ITAMAR FRANCO




Laerte Braga


A primeira eleição disputada pelo ex-presidente Itamar Franco foi em 1958. Candidato a vereador pelo extinto PTB de João Goulart. Vinha de lutas estudantis no Diretório Acadêmico da Faculdade de Engenharia, antes mesmo de JK criar a Universidade Federal de Juiz de Fora, em 1960.

Perdeu a eleição.

O diretório municipal do PTB de Juiz de Fora começava a despontar como um dos mais importantes do País. Nascia ali a liderança de Clodesmith Riani, líder sindical e presidente do primeiro embrião de uma central de trabalhadores. Presidente da CNTI – CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES NA INDÚSTRIA –, a mais poderosa organização sindical do Brasil, criou com outros lideres o CGT – COMANDO GERAL DOS TRABALHADORES –, logo desdobrado em comandos estaduais e comandos municipais.

Clodesmith Riani, vivo e ativo até hoje, atraiu para o PTB boa parte das lideranças estudantis da época (as que não estavam no PCB) e muitos intelectuais. Peralva de Miranda Delgado, anos depois de cassado pela ditadura militar alcançou expressivas funções na Universidade Gama Filho, no Rio. Nilo Álvaro Soares, juiz do trabalho, jornalista, Sebastião Marsicano Ribeiro, mais tarde reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora e nessa tentativa de construir um partido à esquerda juntando movimento sindical – do qual era líder inconteste em sua cidade e no País – acabou levando Itamar para o PTB.

Em 1962, dois anos antes do golpe militar de 1964, Itamar disputou a vice-prefeitura. As eleições de prefeito e vice prefeito eram distintas. Tornou a ser derrotado, mas começou a construir ali e a partir dali o conceito de administrador sério e competente.

Ademar Resende Andrade, um engenheiro eleito pela segunda vez para a Prefeitura de Juiz de Fora levou Itamar para um setor que cuidava da água da cidade e o ex-presidente criou o DEPARTAMENTO DE AGUA E ESGOSTO, hoje CESAMA – COMPANHIA DE SANEAMENTO E MEIO AMBIENTE – proporcionando um processo de modernização e planejamento para o futuro.

E foi como prefeito, eleito em 1966, que construiu a segunda adutora e dali para a frente outras quatro cinco por outros prefeitos, a um ponto tal que a totalidade de Juiz de Fora tem água potável (apesar das tentativas de privatização do setor pelo bandido que atualmente ocupa a Prefeitura, um tucano).

A morte do ex-presidente pode facilitar o caminho. Pois o que havia de honestidade pessoal em Itamar não existe em algumas figuras do seu grupo, inclusive o prefeito atual e o ex-presidente da COPASA (companhia estadual de águas) e ex-presidente Itaipu, pai do possível candidato do grupo a prefeito, o deputado estadual Bruno Siqueira.

A eleição de Itamar para a Prefeitura de Juiz de Fora foi uma espécie de marco. Sepultou-se um ciclo em que se revezavam no governo o engenheiro Ademar Andrade e o empresário Olavo Costa.

E a candidatura de Itamar só foi possível, em 1966, numa sublegenda – artifício criado pela ditadura – por conta do apoio de Tancredo Neves junto ao diretório estadual então sob a presidência do senador Camilo Nogueira da Gama, oriundo do antigo PTB.

Foi Tancredo quem viabilizou a sublegenda. A esquerda do MDB não aceitava a outra candidatura e enxergou em Itamar a perspectiva de vitória. Lideranças sindicais como Laís Veloso, Onofre Corrêa Lima, figuras do porte de Murílio Avelar Hingel, acabaram por sensibilizar Tancredo e mostrar-lhe a necessidade de uma sublegenda para assegurar a vitória nas eleições municipais.

O governo de Itamar significou o início da história do planejamento na administração municipal em Juiz de Fora. E de tal ordem alcançou êxito, que Mário Andreazza (então ministro dos Transportes do governo militar) fez de tudo para levá-lo para a ARENA.

À época a lei que extinguiu o antigo IMPOSTO SOBRE VENDAS E CONSIGNAÇÕES e criou o IMPOSTO SOBRE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS – ICM, o s veio depois) acabou beneficiando prefeituras em todo o País, os recursos eram mais abundantes e isso possibilitou a Itamar a realização de obras de infra estrutura e avanços na educação até então desconhecidos de grande parte da população juizforana.

O êxito foi tanto que acabou elegendo o seu sucessor com mais votos que todos os demais candidatos juntos, tanto da ARENA, como do MDB. O engenheiro Agostinho Pestana, já falecido e pai do atual deputado tucano Marcus Pestana.

O mandato era de dois anos, a ditadura queria acabar com a coincidência entre eleições municipais e eleições estaduais e federais e arbitrariamente mudou a lei. José Sarney, a lamentável figura que preside o Senado e é proprietário do Maranhão, quer coincidir tudo para ter vereadores como cabos eleitorais gratuitos, na reforma de brincadeira que estão chamando de reforma política..

Dois anos depois tarde Itamar Franco volta à Prefeitura de Juiz de Fora numa das mais dramáticas eleições da história da cidade. O favoritismo absoluto vai caindo com o curso da campanha e vence a eleição por pouco mais de 300 votos num universo total de mais de cem mil eleitores (à época, hoje 340 mil) e derrota um então desconhecido Mello Reis, vereador da ARENA.

Em 1974 Tancredo Neves, decisivo também na vitória de 1972 – onde surge a liderança do então deputado estadual Tarcísio Delgado que carrega a campanha nas costas junto com Murílio Hingel, mais tarde ministro da Educação, seduz Itamar com a candidatura ao Senado contra José Augusto da ARENA e que havia assumido a vaga na morte de Milton Campos.

Itamar vacila até o último minuto sobre se aceita ou não e ficou célebre o episódio do relógio atrasado (o presidente da Câmara Municipal, vereador Valdecir de Oliveira manda atrasar o relógio por dez minutos antes da meia noite, para dar mais tempo a Itamar para decidir se renunciava ou não para disputar o Senado).

Itamar renuncia e começa sua escalada nacional. É eleito em meio à enxurrada de vitórias do MDB em todo o País (dezessete ao todo).

Começa a afastar-se de Tancredo de olho numa eventual eleição direta para o governo do Estado em 1978. A ditadura afasta essa hipótese, transfere as diretas para 1982 e com o fim do bipartidarismo Itamar permanece no PMDB, vira candidato a governador enquanto Tancredo funda o PPP – PARTIDO POPULAR PROGRESSISTA – e com apoio de seu arqui adversário Magalhães Pinto torna-se candidato ao governo. Elizeu Resende era o candidato da ARENA, então transformada em PDS.

Ao perceber que divisão do antigo MDB favorecia a ditadura Ulisses e Tancredo vão ao STF – SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – e fundem os dois partidos, MDB e PPP. A decisão fora tomada depois do governo federal vincular o voto de cabo a rabo, manobra do ministro Leitão de Abreu.

Itamar a duras penas é convencido a tentar a reeleição para o Senado. Faz exigências que são aceitas e gera um episódio que entra para o folclore da política mineira e brasileira. Não queria outro candidato em sublegenda, acabou aceitando e impôs ser o mais votado na convenção do PMDB. Simão da Cunha, um ex-deputado da UDN é o mais votado e Renato Azeredo (íntegro, o contrário do pústula Eduardo Azeredo, seu filho), pergunta a Tancredo “como vamos fazer?” Tancredo responde – “coloque os votos do Simão para o Itamar na ata e os do Itamar para o Simão que eu converso e resolvo tudo” –. Dito e feito.

Ao perceber que suas chances para o governo estadual eram mínimas em 1990, havia sido derrotado por Newton Cardoso (quadrilheiro que fez plantão na política mineira), que a reeleição para o Senado seria duvidosa, num gesto surpreendente aceita ser vice de Collor de Mello nas eleições presidenciais de 1989.

Pela primeira vez é derrotado em Juiz de Fora. Lula vence as eleições no segundo turno na cidade de Itamar.

Vira vice-presidente e em meio à crise deflagrada com as acusações ao louco que ocupava a presidência, Collor de Mello, acaba também uma grande incógnita que José Sarney, seu ex-inimigo resolve. Pega Itamar pelo braço, leva-o à casa de Roberto Marinho (criador de Collor e proprietário do tresloucado) no Cosme Velho no Rio, oferece garantias que nada será mudado nas comunicações e no dia seguinte a GLOBO joga Collor no lixo, em poucos dias Itamar vira presidente.

Sendo um homem honesto, nunca meteu a mão no bolso de ninguém e nem em dinheiro público, não tinha base política sólida, mas um grupo complicado de figuras leais e íntegras e outras nem tanto assim, pelo contrário, na verdade um grupo de amigos, muitos deles de infância e juventude, acaba seduzido pelo maior cínico da política brasileira Fernando Henrique Cardoso, uma espécie de câncer que continua corroendo o País e hoje é objeto de adoração do simulacro de presidente, Dilma Roussef.

Itamar foi íntegro, mas não conseguiu mais que ser um projeto pessoal. Orientava-se a partir de sua própria bússola, seus instintos políticos apurados e foi responsável também por um episódio que deixou ACM com as calças às mãos.

Antônio Carlos Magalhães (outro pústula da política brasileira) governava a Bahia e fez denúncias de corrupção no governo Itamar. O então presidente o desafiou a apresentar as provas num encontro do Planalto. ACM foi e quando chegou às portas do gabinete presidencial estavam abertas, os ministros lá estavam jornalistas e possesso ACM não conseguiu mais que apresentar recortes de jornais, acabou desmontada uma das muitas farsas que protagonizou na política.

FHC foi um episódio dramático para Itamar. O ex-presidente tinha consciência do caráter de transição de seu governo e tentou reunir figuras consideradas de grande porte na política nacional em seu Ministério, além de outras de seu grupo pessoal. Chamou FHC para o Itamaraty, levou-o ao Ministério da Fazenda e o tucano, que sequer seria candidato à reeleição ao Senado (míngua de votos), mas deputado federal, no seu veneno insidioso, seu caráter deformado, sua absoluta falta de dignidade, apropriou-se do Plano Real, virou candidato a presidente num acordo que previa a candidatura de Itamar em 1998 e meteu-lhe a faca pelas costas, coisa que faz rotineiramente com quem se oponha a seus poderes divinos.

No final de sua carreira, a volta ao Senado, fica uma sensação inexplicável do apoio a José Serra no segundo turno e a virulência das críticas a Lula e ao governo de Dilma nesses seis primeiros meses (embora o governo seja uma lástima). Ligado a Aécio, foi eleito arrastado pelo ex-governador de Minas, havia feito criticas duras a FHC e Serra, capitulando no segundo turno.

Acredita-se que um dos bandidos que integraram o esquema de seu governo na Câmara, Roberto Freire, ex-pernambucano e agora paulista, tenha sido o responsável por isso. Freire foi seu líder de governo.

Em 1998, por pouco não complica o golpe de FHC, a reeleição comprada a peso de ouro, ao tentar ser o candidato do PMDB. FHC pagou um preço absurdo – dinheiro mesmo, cargos, etc – a bandidos notórios como Iris Resende, Michel Temer, etc.

E em janeiro de 1999, eleito governador de Minas decreta a moratória das dívidas do Estado e coloca em risco, mais uma vez, todo o processo neoliberal de FHC.

Como disse um jornalista o ex-presidente leva mágoas em sua morte, mas paga o preço do caráter solitário, do temperamento difícil. O exemplo que deixa é o da honestidade pessoal.

A frase “este rapaz é um bom moço, mas tem o hábito de guardar o ódio no congelador”, foi pronunciada por Tancredo Neves, logo após ser eleito governador em 1982 e ao receber as indicações para alguns cargos no governo do então senador reeleito Itamar Franco. Tancredo olha os nomes, vê apenas amigos de Itamar, o restrito círculo de Juiz de Fora, pede-lhe nomes de expressão e Itamar furioso diz aos jornalistas que Tancredo faltara com a verdade nos acordos firmados antes das eleições.

Não foi bem assim.

Em 1984 Itamar mostra sua mágoa com Tancredo e anuncia que não pretende votar no mineiro para presidente, mantém-se fiel à decisão de não aceitar eleições indiretas. A disputa entre Tancredo e Maluf estava ainda indecisa e a certa altura, quando Tancredo arremata a eleição, mostra que vai vencer, Itamar pede a Hélio Garcia que marque um encontro onde possa declarar seu voto a Tancredo.

O encontro foi marcado no aeroporto da Pampulha em Belo Horizonte e Tancredo chega cinco minutos antes do seu vôo. Cumprimenta Itamar, agradece o apoio e diz que tem que sair correndo para embarcar. Dá o troco à sua maneira.

Numa certa medida Itamar foi um solitário na política brasileira. E benfazeja lhe foi a sorte, mas muito também seus instintos.

Os escândalos de cumprimentar uma atriz sem calcinha num desfile carnavalesco no Rio, namoros, etc, foram superdimensionados pela mídia sempre à cata de besteiras para distrair a manada do principal. O governo de FHC foi tranquilamente uma espécie de Sodoma e Gomorra e a imprensa se calou, devidamente comprada.

Itamar era isso, nada além disso.