quinta-feira, 24 de março de 2011

O tsunami da fome nas aldeias do Mato Grosso do Sul*

"Os cerrados brasileiros poderão alimentar um terço da humanidade", dizia a tcheca naturalizada brasileira (1924-2000) Johanna Dobereiner, em 1975, quando foi indicada ao Nobel de Química por suas descobertas sobre fixação biológica de nitrogênio, fator que alavancaria a agricultura na região. Por ironia é nesse eldorado, na Região Centro-Oeste, que mais morrem crianças indígenas de fome, em virtude do agronegócio. (Zilda Ferreira)


Por Egon Heck**
O grito da fome como ondas gigantes vai se propagando pela região.

“Este ano a Funai ainda não entregou cesta básica. São quase três meses de fome e espera”. O clamor chega das diversas aldeias e acampamentos indígenas do Mato Grosso do Sul, e em especial dos Kaiowá Guarani, da região de Dourados. O grito da fome como ondas gigantes vai se propagando pela região. Em carta encaminhada ao Ministério Público de Dourados e Funai, o Conselho da Aty Guasu manifesta sua enorme preocupação e alerta: "Nosso povo está passando muita fome, não por culpa nossa, mas porque tiraram nossas terras, acabaram com nossa possibilidade de produzir nosso alimento, e agora estamos nos braços da fome e da dependência. E o  mais grave, como não recebemos ainda nenhuma cesta básica este ano, nossas crianças estão perdendo peso, correndo o risco de uma nova mortandade por desnutrição.” Concluem a carta dizendo: “Se não vier com urgência, nós do Conselho da Aty Guasu vamos fazer um documento e espalhar no mundo inteiro dizendo que querem que a gente morra de fome.”

Às centenas de telefonemas direcionados para a Funai, a resposta que as lideranças das aldeias e acampamentos indígenas recebem é sempre a mesma – os alimentos estão comprados, porém não tem transporte para trazê-los até aqui”. O que os indígenas não entendem é como tem centenas e centenas de caminhões carregados de soja passando por suas aldeias e não existe transporte para trazer os alimentos da cesta básica.

Assassinato do cacique Veron: o julgamento continua


Aos poucos os lideres religiosos – nhanderu, juntamente com outras lideranças de aldeias Kaiowá Guarani vão chegando à Terra Indígena Takuara. Para ali chegar tem que atravessar um imenso canavial, que simboliza a travessia de mais de quinhentos anos de opressão e extermínio. Mas eles chegam esperançosos e revoltados. Com fome e sede de justiça e de pão. Com a alma Guarani em busca de sua terra sem males.

Depois da celebração e alegria pela vinda de lideranças de várias aldeia para o grande encontro de socialização do julgamento em São Paulo, dias 21 a 25 de fevereiro, quando foi reconhecido a crueldade, tortura e a formação de quadrilha que praticou violência, ferimentos e morte do cacique Marcos Veron, foi o momento de fazer o “purahei” – ritual de homenagem e justiça, na sepultura do Cacique na aldeia de Takuara. Ao som dos mbarakás, das takuaras e os cânticos espirituais aos lideranças seguiram para o barracão construído para a realização da “Aty Guasu”,  pela justiça e memória dos que derramaram seu sangue na luta pela terra.

Na carta para as autoridades e amigos do mundo inteiro os participantes assim expressaram suas exigências.

Exigimos:
O julgamento imediato do mandante do crime, Jacinto Honório da Silva Filho e do principal responsável pelo assassinado, Nivaldo Alves de Oliveira, que se encontra foragido. São ao todo 24 réus a serem julgados pela violência e morte do cacique Marcos Veron.

Que a polícia federal agilize a conclusão dos inquéritos de lideranças Kaiowá Guarani assassinados na luta pela terra, para que os responsáveis sejam julgados e punidos o quanto antes.

Que sejam concluídos e publicados com urgência os relatórios de identificação de todas as terras Kaiowá Guarani, que é indispensável para começar a reverter a situação de violência. Assim, as comunidades voltarão a viver em paz dentro de seus tekohá.

Continuaremos nos reunindo, fazendo as nossas rezas e discussões em nossas Jeroky Guasu e Aty Guasu. Esperamos continuar contando com a compreensão e apoio sempre maior de amigos e novos aliados no Brasil e no mundo.”  (Aldeia Takuara, 13 de março de 2011, Juti – MS.  – Carta dos nhanderu e lideranças Kaiowá Guarani)

Apesar de tudo a vida Guarani segue sua trajetória secular, de resistência e afirmação de sua cultura. Nos próximos dias acontecerá o segundo encontro dos Guarani da América do Sul, promovido pelos Ministérios da Cultura dos quatro países – Brasil, Paraguai, Argentina e Bolívia. São esperados em torno de mil Guarani na aldeia Jaguaty, no departamento de Amambay, no Paraguai.
*publicado originalmente no Brasil de Fato
**coordenador do Cimi-MS.

Leia também: 
'O sonho de um mundo sem fome' [Z.F., JB, 1/10/1975; pág. 34]
A disputa pela terra em Copenhague

Educação Escolar Indígena: a quem interessa o caos



Por Egon Dionísio Heck*


Escola paralisada. Mais de 300 alunos Kaiowá-Guarani da Terra Indígena Nhanderu Marangatu, município de Antonio João ficam sem aula por dois dias. A professora Leia Aquino, que já foi diretora da escola, desabafa: "Não podemos aceitar o que estão fazendo. Estão querendo acabar com nossas conquistas, nossa luta para ter uma escola nossa, do nosso jeito Kaiowá-Guarani, com autonomia e comprometida com a luta do nosso povo pela terra e por nossos direitos”.

Diante da interferência nociva da prefeitura, substituindo toda a direção da escola que era formada por professores indígenas, por professores não indígenas, restou como forma de protesto, a paralisação das aulas por dois dias, na Escola Mbo’erro Tupã’i Arandu Reñoi.

É importante lembrar que esta escola teve um papel relevante na resistência ao despejo desta comunidade em15 de dezembro de 2005. Em vários momentos foram os professores que tomaram iniciativas de mobilização pela terra e contra as inúmeras violências de que foram vítimas membros da comunidade.

Essa situação não é isolada. A maioria das escolas Kaiowá-Guarani estão à beira do caos, com a interferência direta de muitos dos 26 municípios onde existem comunidades indígenas. Além disso, constata-se uma interferência política do governo do Estado, procurando acabar com quase 20 anos de luta e conquista do movimento indígena no Mato Grosso do Sul. Um dos principais alvos é o curso de formação de professores Ará Verá. Em recente documento os professores indígenas advertem: "É extremamente urgente a necessidade de resolver problemas locais das escolas indígenas, pois está havendo um retrocesso político e pedagógico em várias aldeias, por conta de gestores públicos que ainda não entendem este processo, que continuam desrespeitando a lei e que não aceitam nossos direitos” (documento – Esclarecimentos, reivindicações e apelo aos órgãos públicos, sobre a questão de Educação Escolar Indígena no Cone Sul do Mato Grosso do Sul – março 2011).

Com relação ao importante processo de formação dos professores Kaiowá-Guarani através do Curso Ará Verá, reconhecido nacionalmente como uma das experiências mais exitosas nessa área, ameaçado de extinção, ou mutilação pelo governo do estado, "Exigimos a abertura de uma nova turma para o curso Ara Verá ainda em 2011, e outras com entrada anual, tendo em vista a real demanda para formação de professores Guarani-Kaiowá, cuja responsabilidade é do Estado, quando na verdade, o MS está muito aquém de cumprir esta determinação legal. Essas vagas são absolutamente necessárias também para suprir exigências estabelecidas aos municípios de ter profissionais habilitados e concursados, o que só é possível, com um quadro formado, cuja demanda está aumentando cada vez mais, e considerando também que a formação dos indígenas é muito recente. Caso essa necessidade e exigências não sejam atendidas, as leis que garantem os cargos de magistério aos indígenas serão inúteis e as comunidades serão novamente invadidas por profissionais não indígenas sob o argumento de que não há profissionais indígenas habilitados. A demanda para formação de professores indígenas já foi levantada várias vezes (para o etnoterritório foram mais de 100, em 2009; e para a seleção convocada em 2010 foram 240 inscritos), mas a Gestão da SED ignora essa urgência, alegando que é "só isso” (40 vagas) que podem oferecer. Essa afirmação parece uma cruel ironia, diante da propaganda que o governo faz sobre o sucesso da educação no estado. Perguntamos: "sucesso” para quem? Por outro lado, essa afirmação é enganosa, pois se o curso é de uma Escola estadual, deve ser garantido o seu funcionamento regular, ainda que parcelado e específico, com os recursos e a estrutura necessária, como para qualquer outra escola da rede. Por que a discriminação? "

Não bastassem essas interferências nocivas vemos várias escolas indígenas sob forte e destrutivo impacto dos mais diversos interesses, desde igrejas até disputas internas apoiadas por forças externas. Diante desse quadro grave o movimento de professores exige das autoridades do poder executivo estadual e municipal "Retomar o diálogo com o movimento/organizações indígenas como parceiro da construção das políticas públicas, uma vez que estamos num estado democrático e a lei estabelece a obrigação do estado de consultar as comunidades e os povos indígenas”.

O movimento dos professores, no documento já referido, além de denunciar a grave e caótica situação em que está envolvida a educação escolar indígena, dizendo-se decepcionados pela falta de providências aos inúmeros documentos enviados às autoridades, procuram explicitar sua maneira de pensar e agir:

"Em primeiro lugar é necessário entender o modo de ser dos Guarani e dos Kaiowá. Nosso povo se encolhe quando é atacado, ameaçado, manipulado, desrespeitado, humilhado. E é isso que tem acontecido, com muito mais frequência do que a sociedade sabe e que os encarregados de nos defender escondem. As instituições fazem de conta que nos consultam, que agem de acordo com a lei. Mas isso não é bem verdade, é só fachada. Para conseguirem o que querem, manipulam, escondem, acusam, ameaçam, não só a nós, mas também aos que nos apóiam. E isso nos assusta, nos intimida. Nossa história nos levou a sermos desse jeito: temos medo daquilo que não conhecemos; medo daqueles que conhecemos e que sabemos que podem nos prejudicar; medo de perder o pouco que conquistamos; medo de errar; medo da autoridade autoritária. Se a autoridade fosse democrática e sensível às nossas necessidades, não teríamos medo, pois haveria diálogo e o diálogo não assusta ninguém. Pelo contrário, o diálogo é o único caminho para a paz. Sem diálogo, conversa, transparência, é que surgem os conflitos, a repressão e o medo.

Nossa forma de ser é pela não violência, pela paciência, pela palavra escutada e falada através do conselho, da negociação e não da imposição. Nós só falamos quando nos dão a palavra, não tomamos a palavra de ninguém, por isso parece que não temos reação, que não temos opinião...

Nossa palavra é também escrita e já mandamos muitos documentos falando qual é a nossa posição, mas parece que as autoridades não sabem ler, pois não entendem o que colocamos ou simplesmente ignoram nossa palavra escrita. Não sabemos mais o que fazer. Mas nossa paciência também tem limites... A tomada de decisão é sempre demorada e muito pensada. E isso pode parecer que não sabemos tomar decisões. Mas nós sabemos que não é isso. Somos cautelosos, mas não somos crianças. Temos paciência; mas, não somos bobos; queremos ser consultados, ouvidos e respeitados; e tem muita coisa que precisa ser mudada nas instituições públicas e no comportamento dos gestores públicos” (idem, doc. movimento professores).

A pergunta que se impõem nesse momento importante de luta dos povos Kaiowá-Guarani pelos seus direitos e seus territórios, no qual os professores e escolas indígenas têm papel relevante, é a quem interessa essa situação caótica em que se encontram inúmeras escolas desse povo, num claro retrocesso pedagógico e político. O movimento dos professores exige respeito ao seu protagonismo e autonomia, com uma educação diferenciada e de qualidade, formadora de lutadores pelos direitos de seu povo.

Povo Guarani Grande Povo

Brasília, 22 de março de 2011

*Egon Dionísio Heck é assessor do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) Mato Grosso do Sul
.

fonte: Envolverde/Adital

quarta-feira, 23 de março de 2011

Os riscos de defender a vida


Por Marcelo Barros*


No norte da África, a juventude e a sociedade civil se levantam contra ditadores e exigem mudanças sociais e políticas. Eles se unem a muita gente que, no mundo inteiro, nos dão testemunho de profunda coragem e doação da vida. Certamente muitos filhos escutam de seus pais argumentos para não irem às ruas protestar. É perigoso! Um artigo na internet ressalta a importância da participação das mulheres nas rebeliões cívicas no Egito e na Líbia. É uma verdadeira profecia de fé e confiança no futuro.

Ainda há quem continua dizendo que este mundo não muda nunca. Sempre foi injusto e sempre o será. Entretanto, cada vez é maior o número de pessoas que, em todos os continentes, se mobilizam para transformar a sociedade e tornar a vida mais feliz para todos.

Foi das aldeias indígenas e das culturas mais oprimidas e sofridas da América Latina que surgiu o conceito de viver em plenitude, ou simplesmente bom viver. Nos Andes, os índios quétchua chamam isso de sumak Kwasay; os Aymara falam em Sumak Kamana. Outros povos têm  nomes diferentes para indicar o mesmo valor: o objetivo social e político de garantir uma vida feliz para todos. O Equador e a Bolívia integraram a meta indígena do “Bom Viver” em suas Constituições nacionais, elaboradas pela sociedade civil e votadas recentemente por todo o povo.

 A sociedade capitalista vê sempre a vida como luta, o trabalho como batalha para ganhar o pão e a relação humana como concorrência. Para uma cultura assim, procurar uma vida feliz parece ser utopia irreal. Entretanto, a maioria das tradições espirituais sempre insistiu que o ser humano tem por vocação a felicidade e a plenitude da vida. Jesus Cristo lutou e deu a vida por isso. Conforme o evangelho, ele teria dito: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10, 10).

Na América Latina, muitos irmãos e irmãs deram a vida por este ideal da vida digna e justa para todos. Nesta quinta feira, 24, celebramos o aniversário do martírio de Dom Oscar Romero, arcebispo de El Salvador, assassinado em meio à missa que celebrava em uma capela de hospital (1980). Conheci e convivi com o padre Inácio Ellacuría, um dos jesuítas assassinados em 1989, na mesma cidade. Dois dias depois do assassinato do arcebispo, durante uma celebração em sua memória, o padre Ellacuria afirmou: “Com Dom Romero, a presença de Deus em El Salvador se tornou mais visível”.

Na época em que o arcebispo Oscar Romero e os jesuítas da Universidade de El Salvador foram assassinados, o país estava em uma guerra civil na qual mais de 50 mil pessoas perderam a vida. Desde os anos 80, a imensa maioria dos assassinatos, cometida por militares, nunca foi investigada nem punida.  Nos últimos anos, o país começou a mudar. Os esquadrões da morte foram desbaratados, o principal suspeito do assassinato do arcebispo foi julgado e ninguém mais precisa viver exilado para não morrer. O país elegeu como presidente Maurício Funes, jornalista, ex-guerrilheiro e casado com uma brasileira. A partir do respeito à Constituição e de forma democrática, o país tem integrado o grupo de países latino-americanos que caminham para uma autonomia maior e uma libertação da influência norte-americana. Mesmo sem usar o nome de “bolivarianismo”, os salvadorenhos querem formar com todos os povos do continente uma pátria grande.

Eles tornaram Dom Óscar Romero um herói nacional, homenageado como mártir e como exemplo de humanidade. Uma palavra do arcebispo ressoa ainda hoje como apelo à humanidade: “O grande inspirador da libertação de toda humanidade e de cada pessoa humana é Jesus Cristo. Por sua vida doada e sua ressurreição, ele diz a todos os poderosos da terra: “Vocês não libertam ninguém. Só quem consegue superar o egoísmo e destruir as cadeias que aprisionam o coração humano consegue libertar a si mesmo e aos outros. Se não partir do mais profundo do interior humano, a libertação não é duradoura, nem verdadeira”.

*Publicado originalmente no site do Brasil de Fato - http://www.brasildefato.com.br/node/5919

(Envolverde/Brasil de Fato)

terça-feira, 22 de março de 2011

A quem serve a transposicão das águas do São Francisco?


Por Aziz Ab´Sáber*

É compreensível que em um país de dimensões tão grandiosas, no contexto da tropicalidade, surjam muitas ideias e propostas incompletas para atenuar ou procurar resolver problemas de regiões críticas. Entretanto, é impossível tolerar propostas demagógicas de pseudotécnicos não preparados para prever os múltiplos impactos sociais, econômicos e ecológicos de projetos teimosamente enfatizados.

Nesse sentido, bons projetos são todos aqueles que possam atender às expectativas de todas as classes sociais regionais, de modo equilibrado e justo, longe de favorecer apenas alguns especuladores contumazes. Nas discussões que ora se travam sobre a questão da transposição de águas do São Francisco para o setor norte do Nordeste Seco, existem alguns argumentos tão fantasiosos e mentirosos que merecem ser corrigidos em primeiro lugar. Referimo-nos ao fato de que a transposição das águas resolveria os grandes problemas sociais existentes na região semi-árida do Brasil.

Trata-se de um argumento completamente infeliz lançado por alguém que sabe de antemão que os brasileiros extra-nordestinos desconhecem a realidade dos espaços físicos, sociais, ecológicos e políticos do grande Nordeste do País, onde se encontra a região semi-árida mais povoada do mundo.

O Nordeste Seco, delimitado pelo espaço até onde se estendem as caatingas e os rios intermitentes, sazonários e exoreicos (que chegam ao mar), abrange um espaço fisiográfico socioambiental da ordem de 750.000 quilômetros quadrados, enquanto a área que pretensamente receberá grandes benefícios abrange dois projetos lineares que somam apenas alguns milhares de quilômetros nas bacias do rio Jaguaribe (Ceará) e Piranhas/Açu, no Rio Grande do Norte. Portanto, dizer que o projeto de transposição de águas do São Francisco para além Araripe vai resolver problemas do espaço total do semi-árido brasileiro não passa de uma distorção falaciosa.

Um problema essencial na discussão das questões envolvidas no projeto de transposição de águas do São Francisco para os rios do Ceará e Rio Grande do Norte diz respeito ao equilíbrio que deveria ser mantido entre as águas que seriam obrigatórias para as importantíssimas hidrelétricas já implantadas no médio/baixo vale do rio - Paulo Afonso, Itaparica e Xingó.

Devendo ser registrado que as barragens ali implantadas são fatos pontuais, mas a energia ali produzida, e transmitida para todo o Nordeste, constitui um tipo de planejamento da mais alta relevância para o espaço total da região.

Segue-se na ordem dos tratamentos exigidos pela idéia de transpor águas do São Francisco para além Araripe a questão essencial a ser feita para políticos, técnicos acoplados e demagogos: a quem vai servir a transposição das águas?

Os "vazanteiros" que fazem horticultura no leito dos rios que "cortam" - que perdem fluxo durante o ano-serão os primeiros a ser totalmente prejudicados. Mas os técnicos insensíveis dirão com enfado: "A cultura de vazante já era". Sem ao menos dar qualquer prioridade para a realocação dos heróis que abastecem as feiras dos sertões. A eles se deve conceder a prioridade maior em relação aos espaços irrigáveis que viessem a ser identificados e implantados. De imediato, porém, serão os fazendeiros pecuaristas da beira alta e colinas sertanejas que terão água disponível para o gado, nos cinco ou seis meses que os rios da região não correm.

Um projeto inteligente e viável sobre transposição de águas, captação e utilização de águas da estação chuvosa e multiplicação de poços ou cisternas tem que envolver obrigatoriamente conhecimento sobre a dinâmica climática regional do Nordeste. No caso de projetos de transposição de águas, há de ter consciência que o período de maior necessidade será aquele que os rios sertanejos intermitentes perdem correnteza por cinco a sete meses.

Trata-se, porém, do mesmo período que o rio São Francisco torna-se menos volumoso e mais esquálido. Entretanto, é nesta época do ano que haverá maior necessidade de reservas do mesmo para hidrelétricas regionais. A afoiteza com que se está pressionando o governo para se conceder grandes verbas para início das obras de transposição das águas do São Francisco terá conseqüências imediatas para os especuladores de todos os naipes.

O risco final é que, atravessando acidentes geográficos consideráveis, como a elevação da escarpa sul da Chapada do Araripe - com grande gasto de energia!-, a transposição acabe por significar apenas um canal tímido de água, de duvidosa validade econômica e interesse social, de grande custo, e que acabaria, sobretudo, por movimentar o mercado especulativo, da terra e da política.

No fim, tudo apareceria como o movimento geral de transformar todo o espaço em mercadoria.

*Aziz Ab´Sáber é geógrafo, professor e escritor. Professor-Doutor em Geografia Física (USP), ganhador do prêmio Ciência e Meio Ambiente da Unesco, também foi presidente da SBPC e do Condephaat e diretor do Instituto de Geografia da USP.
IMAGEM
Crédito
: Angel Boligan

(Envolverde/O autor)

União freia compra de terra por estrangeiro





O governo está determinado a conter e reverter o avanço de investidores estrangeiros em terras brasileiras. A Advocacia-Geral da União (AGU) enviou ontem um ofício ao Ministério da Fazenda orientando a instituição a criar regras, por meio de instruções da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), para impedir a aquisição de ações de companhias brasileiras detentoras de terras, e listadas na Bolsa de Valores, por empresas de capital estrangeiro.

O documento foi enviado, de forma reservada, ao ministro Guido Mantega em caráter de urgência. Por recomendação da AGU, a medida deve abranger todas as companhias de capital aberto detentoras de terras do país, segundo apurou o Valor.

Hoje, a empresa mais cobiçada nesses negócios é a SLC Agrícola, cujos ativos contêm uma ampla extensão de terras em vários Estados. Ela é um exemplo da situação que o governo procura evitar.

Mesmo sem ter capital aberto, a Radar, criada pelo grupo Cosan para administrar terras, também seria atingida pela medida do governo. A AGU enviou um ofício ao Ministério do Desenvolvimento recomendando o bloqueio de aquisições e fusões a partir da informação das Juntas Comerciais.

As compras de terras por estrangeiro vinham sendo fechadas com base em parecer da Advocacia-Geral da União (AGU) que dispensou autorização para a aquisição de imóveis rurais no país. Até 1995, o Artigo nº 171 da Constituição, depois revogado, permitia a distinção entre dois conceitos: empresa nacional de capital estrangeiro e companhia controlada por acionistas não residentes no país ou com sede no exterior. Nos debates internos, a AGU avalia ser uma questão de soberania garantir as terras exclusivamente para brasileiros. Os especialistas argumentam que a terra "é o que o país tem de melhor" e que não pode "sair vendendo" a qualquer preço.

De 2002 a 2008 houve uma avalanche de investimentos estrangeiros em terras no país. Dados do Banco Central apontam para aporte de US$ 2,43 bilhões no período. Se consideradas todas as atividades do agronegócio, como agroindústrias e serviços, a conta chega a US$ 46,91 bilhões em sete anos.

A decisão da AGU também abre a possibilidade de questionamentos jurídicos nos casos de aquisições e fusões anteriores à sua interpretação da Lei nº 5.709, de 1971. O texto limitava as compras a um quarto da área de cada município e previa que cidadãos de mesma nacionalidade não podiam ser donos de mais de 40% desse limite.

O governo avalia que precisa "fechar a porta" para novos avanços de estrangeiros, sobretudo chineses e árabes, que buscam no Brasil uma forma de garantir abastecimento alimentar. A AGU entende que a terra tem papel estratégico, além das questões comerciais.

Dados inéditos do cadastro rural do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) mostra que, até 2008, haviam 4,04 milhões de hectares registrados por estrangeiros. São 34.218 imóveis concentrados em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Bahia e Minas Gerais.

A AGU entende que o país tem muita terra, muita produção, mas precisa ter planejamento e instrumentos para garantir comida a mais de 200 milhões de habitantes no futuro. O governo avalia que a interpretação da lei é "viva" e pode mudar a cada período de tempo. O que antes demorava 30 anos para "caducar", hoje leva cinco anos.

O panorama produtivo mudou desde 1998, quando a própria AGU deu um parecer equiparando empresas de capital estrangeiro a companhias brasileiras. A exigência por zoneamentos econômicos-ecológicos (ZEE) poderia ficar manietada em caso de propriedade estrangeira da terra. Se o governo precisar induzir a produção de determinado produto em uma região específica, como ficaria a situação? Essa questão também ajudou a nortear a decisão da AGU.

fonte: Valor online
Leia também: A disputa pela terra em Copenhague

domingo, 20 de março de 2011

O VEXAME - MINISTROS REVISTADOS

Discordo dos adjetivos que Laerte atribui à presidenta Dilma
Mas, concordo com suas críticas à política externa brasileira.
A visita de Obama foi um desastre. O aparato de segurança
chegou a desrespeitar a soberania do país. Houve muitos
protestos no Rio de Janeiro, hoje dia 20 de março, que a
TV não divulgou e a imprensa não registrou.(ZF)



Laerte Braga


Em menos de três meses de governo a presidente Dilma Roussef quadruplicou o feito do governo Fernando Henrique Cardoso e com um agravante. O ex-ministro de FHC Celso Láfer foi revistado no aeroporto de New York. Os quatro ministros brasileiros, Guido Mantega, Edison Lobão, Aloisio Mercadante e Fernando Pimentel foram revistados em território brasileiro, por agentes norte-americanos, pouco antes do discurso do terrorista Barack Obama, no encontro da Cúpula Empresarial Brasil-Estados Unidos.


A notícia foi divulgada pelo jornal ESTADO DE SÃO PAULO. A despeito de terem abandonado o encontro os ministros não reagiram à revista e só deixaram o local ao perceberem que a língua a ser usada no encontro seria a inglesa.


A mais absoluta falta de dignidade dos quatro.

A visita de Barack Obama ao Brasil é um escárnio, um insulto à soberania nacional, não tem nada ver com encontro de chefes de governo e estados, mas de show, de espetáculo para definir direitinho que manda.


Não se sabe se Mantega, Lobão, Mercadante e Pimentel saíram do local de quatro ou se conseguiram ficar de pé e se mostrarem bípedes.


Qualquer governo decente, com um mínimo de respeito por si próprio, pelo País e pelos brasileiros, naquele momento, ou no momento seguinte, o do conhecimento do fato, teria exigido a imediata saída do líder terrorista norte-americano do País.


O que é o Brasil afinal?

Retirar-se do encontro em sinal de protesto depois de aceitarem ser revistados não muda coisa alguma. São quatro figuras que empesteiam o governo de fraqueza, covardia, falta de dignidade e respeito por tantos quantos acreditam que sejamos uma nação independente e soberana.


O governo Dilma acaba antes de começar.  

Obama e sua gangue pisaram, sapatearam e continuam a fazê-lo no Brasil e nos brasileiros.


Treze brasileiros estão detidos – são presos políticos como na ditadura – por protestar contra a visita do genocida que agora mata civis na Líbia a pretexto de garantir direitos humanos e democracia.


Um jornal brasileiro – mídia privada colonizada e corrupta – noticiou ontem, sábado, que “Obama comanda a guerra direto do Brasil”. E o fez em tom de ufanismo, como se a barbárie de EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A fosse motivo de orgulho para os brasileiros.


Barack Obama é um terrorista dissimulado, ao contrário de George Bush, mas nem por isso deixa de ser responsável por crimes contra a humanidade.


Chega a ser inacreditável que esse criminoso tenha pisado em solo nacional e tratado como majestade suprema do planeta.


O episódio envolvendo os quatro ministros, a prisão de manifestantes, todo o aparato de segurança da paranóia terrorista de norte-americanos – são doentes, uma nação doentia – é uma ofensa sem tamanho à nossa independência e à nossa soberania.


Espera-se que, com um mínimo de vergonha na cara e um resto de dignidade – se é que têm – que os quatro peçam demissão, sumam de Brasília e purguem esse ultraje longe dos olhos dos brasileiros.


A barreira que Dilma diz ter rompido não existe. O fato de ser a primeira mulher presidente não a absolve de três meses de absoluta e total incapacidade, traição, mesmo porque, a mulher brasileira não é assim.


O País foi humilhado, está sendo humilhado e toda a política externa construída ao longo dos oito anos do chanceler Celso Amorim está sendo jogada por terra por figuras sinistras e que não têm nada a ver com o Brasil, a começar pela presidente, passando por ministros execráveis, sem falar em Jobim, Moreira Franco e Patriota.


A simples menção de revista a ministros brasileiros é um desafio. Deveriam ter voltado, saído, naquele momento. Faltou-lhes coragem, porque falta-lhes compromisso com o Brasil, falta-lhes dignidade.


O governo Dilma é uma piada. Sem que se consiga rir ao fim.

Não é, por essas e outras, impensável ter certeza que o Brasil acaba de dançar no pré-sal. A vocação entreguista do governo, a visão estreita da presidente, o deslumbramento com o cargo, a presença de agentes estrangeiros em funções chaves, o controle que o terrorismo norte-americano exerce sobre a mídia e a cumplicidade do empresariado nacional – empresários são apátridas – todo esse estado de submissão nos leva a uma simples conclusão.


O poste que Lula elegeu é uma cobra traiçoeira e de veneno fatal.

No duro mesmo, diante da opção José Serra e Dilma Roussef se percebe agora que os brasileiros – e o próprio Lula – foram ludibriados pela cópia cuspida e escarrada do tucano paulista. As elites perceberam que a cópia – Dilma – acaba sendo melhor (para eles) que o original.


Na Líbia, a pretexto de criar uma zona aérea de exclusão para defender os rebeldes da tirania do ditador Muammar Gaddafi, os norte-americanos e suas colônias européias matam civis indefesos com bombardeios inconseqüentes como fazem diariamente no Afeganistão, fizeram no Iraque, no golpe em Honduras, em todas as partes do mundo onde seus interesses nos “negócios” são contrariados.


São terroristas, são bárbaros, primitivos, os Estados Unidos da América do Norte são a mais cruel e sanguinária ameaça a humanidade e Obama é parte disso.


O Brasil neste fim de semana inclui em sua história páginas de covardia e submissão.

E o governo Dilma, do ponto de vista dos interesses nacionais, acaba sem começar.

O que se assiste nesta “visita” do terrorista Barack Obama é uma invasão do território nacional. Uma série de abusos inaceitáveis por um governo, qualquer que seja, que se respeite e respeite ao seu povo.


É preciso pensar se os brasileiros serão capazes de suportar quatro anos com uma presidente sem rumo – ou com rumo diferente do que anunciou em campanha – e com ministros que não hesitam em submeterem-se ao vexame de uma revista em pleno território nacional e por agentes estrangeiros.


É um vexame que indigna.  A suposta reação dos quatro abandonando o local foi tardia. Não deveriam sequer ter entrado.

sábado, 19 de março de 2011

Libia:hipocrisia, dupla moral, dois pesos e duas medidas

Hoje, de Brasília, Obama autorizou a intervenção militar na Libia.
 E amanhã, haverá com certeza repressão aos protestos'.
 Eles serão inevitáveis. Essa data é marcante, porque lembra
 a invasão dos EUA ao Iraque. Na véspera desse dia histórico, 
a dose se repete, agora, à Libia - estando aqui - em visita oficial
ao nosso país, para falar de paz..Não. Aqui não Obama.
(Zilda Ferreira, editora do Blog)

 


Max Altman*

O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou a resolução que autoriza a imposição de uma zona de exclusão aérea em território líbio, salvo os vôos de natureza humanitária e inclui todas as medidas que sejam necessáriaspara a proteção da população civil, excluindo, porém, a ocupação militar de qualquer porção da Líbia. Além disso, endurece o embargo de armas à Líbia e reforça as sanções impostas no mês passado a Kadafi e seu círculo mais próximo de colaboradores.

Paris e Londres encabeçaram a arremetida contra a Líbia numa corrida contra o relógio a fim de que a ONU se pronunciasse antes que o último reduto rebelde, Bengazi, fosse recuperado pelas forças leais a Kadafi.

O documento recebeu a aprovação de 10 países -  Grã Bretanha, França, Estados Unidos, Líbano, Colômbia, Nigéria, Portugal, Bósnia e Herzegovina, África do Sul e Gabão - nenhum voto contra e cinco abstenções - Brasil, Rússia, China, Índia e Alemanha.

A Rússia exigiu a inclusão de um cessar-fogo imediato, medida atendida por Trípoli, e a China insistiu numa solução pacífica da crise, ao reiterar suas sérias reservas quanto à zona de exclusão aérea, ao mesmo tempo em que rechaçava o uso da força nas relações internacionais. Estranhamente, Moscou e Pequim, que detêm poder de veto, não o utilizaram para barrar aspectos da resolução com os quais não concordavam.

Diferentemente da Tunísia e do Egito, quando massas de centenas de milhares, desarmadas, saíram às ruas erguendo as bandeiras de pão, emprego, justiça social, progresso, liberdade e democracia, derrubando por força de seus protestos e pressão os ditadores apoiados pelas potências ocidentais, Ben Ali e Mubarak, na Líbia facções armadas com armamento blindado, artilharia antiaérea, armas individuais modernas e até alguma força aérea ocuparam o leste do país e algumas cidades do oeste determinadas a tomar Trípoli e acabar com o ditador Muamar Kadafi. Estabeleceu-se com isto uma franca guerra civil.

Quando, no curso dos combates, as tropas fieis a Kadafi avançaram sobre os bastiões rebeldes, o chamado Conselho Nacional Líbio de Transição passou a reclamar com insistência o apoio do Ocidente em armas e logística e a exclusão aérea. Ou bem os oposicionistas contavam desde o início com o respaldo dos países hegemônicos e estes estavam roendo a corda ou calcularam mal a capacidade de resistência de Kadafi e o apoio de grande parte da população líbia com que conta. A verdade é que a insurgência armada no leste da Libia é apoiada diretamente por potências estrangeiras. A insurreição em Bengazi ergueu imediatamente a bandeira vermelha,  negra e verde com a meia lua e a estrela, a bandeira da monarquía do rei Idris, que simbolizava o domínio dos antigos poderes coloniais.

A imensa campanha de distorções, omissões e mentiras desencadeada pelos meios maciços de comunicação abriu espaço para uma enorme confusão no seio da opinião pública mundial. Levará tempo antes que se possa estabelecer a verdade do que ocorreu na Líbia e distinguir os fatos reais das falsidades publicadas.

Alguns fatos concretos, porém, merecem atenção. A Líbia ocupa o primeiro lugar no Índice de Desenvolvimento Humano da África e tem a mais alta esperança de vida do continente. A educação e a saúde recebem especial atenção do Estado. O PIB per capita é de 13,8 mil dólares, o crescimento em 2010 foi de 10,6%, a inflação de 4,5%, a pobreza de 7,4% e a colocação no IDH é 53º (Brasil é 73º) todos esses índices melhores que o do nosso país. Seus problemas são de outra natureza. De alimentos e serviços sociais básicos o país não carecia. Nação de pequena população - 6,5 milhões de habitantes - necessitava de força de trabalho estrangeira em boa proporção para levar a termo ambiciosos planos de produção e desenvolvimento social. Milhares de trabalhadores chineses, egípcios tunisianos, sudaneses e de outras nacionalidades labutam em solo líbio.

Dispunha de vultosos ingressos, provenientes da venda de petróleo de alta qualidade, e de grandes reservas em divisas depositadas em bancos das potências européias e Estados Unidos, e com isso podiam adquirir bens de consumo e até armamento sofisticado, fornecido exatamente pelos mesmos países que hoje planejam invadi-lo em nome dos direitos humanos.

O tirano, que durante quase três décadas foi considerado o cachorro louco, o inimigo número um do Ocidente para logo converter-se no vistoso aliado de seus inimigos de agora, voltou ao seu estatuto original.

Ao se aproximar das potências ocidentais, Kadafi cumpriu rigorosamente suas promessas de desarmamento e ambições nucleares. Com isso, a partir de outubro de 2002, iniciou-se uma maratona de visitas a Trípoli: Berlusconi, em outubro de 2002; Aznar, em setembro de 2003; Berlusconi de novo em fevereiro, agosto e outubro de 2004; Blair, em março de 2004; Schröeder, em outubro de 2004; Chirac, em novembro de 2004. Todos exultantes, garantindo o recebimento de petróleo e a exportação de bens e serviços. Kadafi, de seu lado, percorreu triunfante a Europa. Recebido em Bruxelas em abril de 2004 por Prodi, presidente d União Europeia; em agosto de 2004 convidou Bush a visitar seu país; Exxon Mobil, Chevron Texaco e Conoco Philips realizavam os últimos acertos para exploração do óleo por meio de joint ventures. Em maio de 2006, os Estados Unidos anunciaram a retirada da Líbia dos países terroristas e o estabelecimento de relações diplomáticas.

Em 2006 e 2007, a França e os Estados Unidos subscreveram acordos de cooperação nuclear para fins pacíficos; em maio de 2007, Blair voltou a visitar Kadafi. A British Petroleum assinou um contrato “extremamente importante” para a exploração de jazidas de gás.

Em dezembro de 2007, Kadafi empreendeu duas visitas a França e firmou contratos de equipamentos militares de 10 bilhões de euros. Contratos milionários foram subscritos com importantes países membros da OTAN.

Dentre as companhias petrolíferas estrangeiras que operavam antes da insurreição na Líbia incluem-se a Total da França, a  ENI da Itália, a China National Petroleum Corp (CNPC), British Petroleum, o consórcio espanhol  REPSOL,  ExxonMobil, Chevron, Occidental Petroleum, Hess, Conoco Phillips.

O que se passa para que o cachorro louco, que se transformara em grande amigo, volte a ser o cachorro louco. De um lado, a evidência de que as potências hegemônicas tudo farão para não perder o controle dessa vital fonte de energia. De outro, fatores geoestratégicos. Diante da revolta por mudanças democráticas dos países árabes do Norte da África e do Oriente Médio, é fundamental, no caso da Líbia, ter um governo absolutamente confiável, pressionando o vizinho oriental Egito para manter o tratado com Israel e não partir para políticas que desarrumem todo o contexto regional.

Antes de partir para o Brasil, o presidente Obama declarou que o cessar-fogo tem que ser implementado imediatamente e isto significa que todos os ataques contra civis têm que parar. (...) Esses termos não são negociáveis. (...) Se Kadafi não cooperar haverá consequências”. Entrementes, as agências de notícias informam que no Bahrein, ocupado por tropas Arábia Saudita, com prévio conhecimento e anuência de Washington, e debaixo de lei marcial, milhares de pessoas desarmadas são reprimidas violentamente por forças militares que destruíram o monumento da praça Pérola, ponto de encontro de manifestantes. Sabe-se que a V Frota norte-americana está estacionada neste país, distante25 quilômetros da Arábia Saudita, e funciona como posto de vigilância dos vastos poços de petróleo do Golfo Pérsico.

Gravíssima é a situação no Iêmen, aliado incondicional da Arábia Saudita e dos Estados Unidos. Dezenas de civis, desarmados, foram assassinados nas últimas horas. Nem a França nem a Grã Bretanha, tampouco Washington ou a Liga Árabe propuseram todas as medidas necessárias para proteger a população civil. Obama, Sarkozy e Cameron não falaram grosso com o Bahrein e Iêmen. A ONU não autorizou uma zona de exclusão aérea contra o Iêmen e Bahrein, nem acha que os direitos humanos de bareinitas e iemenitas mereçam ser respeitados. Nesse caso, só falatório, hipocrisia e dupla moral.

Toda e qualquer intervenção na Líbia terá repercussões graves. Cabe ao povo líbio, e apenas a ele, resolver o problema líbio. A comunidade internacional deve manifestar solidariedade e agir unida para conter a guerra civil e facilitar uma via de transição pacífica para o conflito líbio. Os governos ocidentais, no afã de manter o seu domínio, usam diferentes padrões de avaliação, caso a caso, conforme o país e ao não reconhecer os levantes populares são atropelados pelo curso da História. Os regimes árabes despóticos, fundamentalistas e absolutistas têm de saber que não podem resistir às mudanças. É simples questão de tempo, e todos os que resistirem serão varridos do mapa político.

Setores de esquerda vêm dando interpretações disparatadas sobre os acontecimentos. A mais esdrúxula reside em que desqualificar a revolta das massas populares líbias porque o regime é inimigo aparente de nosso inimigo não é um critério muito saudável. Analistas de esquerda não podem fechar os olhos à realidade do mundo de hoje, desconhecer as forças em confronto e seus objetivos estratégicos, deixar-se levar pelas informações da mídia que tem um claro viés em favor dos interesses neocoloniais e imperialistas.

Uma intervenção militar aberta implica que os Estados Unidos, Inglaterra, França e demais países optaram por um dos lados da guerra civil líbia, como aumentará brutalmente os riscos sobre a população civil que, cinicamente, anunciam que pretendem proteger.

Max Altman

Cancelado discurso de Obama na Cinelândia

A passeata contra a visita  de Obama foi sucesso dos movimentos
sociais, petroleiros e partidos  de esqueda.. Ela começou na
Candelária com ameaça de forte  repressão, mas  não aconteceu,
durante todo o trajeto até chegar no Consulado Americano, quando
alguem jogou um coquetel molotov. Nesse momento, desencadeou a repressão,
com gás lacrimogêneo e prisões. Mas, nem por isso, a passeata,
nesta sexta feira, deixou de ter êxito.(Nota da editora do Blog)



Sérgio Vieira, do R7, no Rio*

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, cancelou seu discurso público que seria realizado no próximo domingo (20) na Cinelândia, praça do centro da cidade do Rio de Janeiro, depois de alertas recebidos pelos serviços de inteligência dos EUA após monitoramento de redes sociais, segundo informações obtidas com fontes no consulado norte-americano.

O serviço secreto cogitou a possibilidade de protestos e críticas ao Chefe de Estado dos EUA após a ONU (Organização das Nações Unidas) ter autorizado sanções militares à Líbia. Fontes do consulado afirmaram que agentes do serviço secreto encontraram indícios de que críticas ao ato público estavam sendo feitas em uma rede social, o que deixou a equipe de segurança do governo norte-americano receosa.

Militares do Exército, da Polícia Militar, Civil e Federal estão ocupando pontos estratégicos da Cinelândia desde a manhã desta sexta-feira (18), inclusive com a presença de um blindado do Exército diante da Biblioteca Nacional e três viaturas da polícia militar.

Para a segurança do Theatro Municipal, onde o presidente dos EUA realizará discurso para convidados do Consulado, Embaixada e do governo brasileiro, cerca de 500 homens das Forças Armadas estarão posicionados no entorno do local. O controle e a varredura interna ficarão sob responsabilidade exclusiva da Polícia Federal brasileira.

Além da Cinelândia, soldados da Brigada de Infantaria Paraquedista estão localizados em outros pontos da região central, entre eles, as avenidas Presidente Vargas e Rio Branco.
FBI fará inspeção no dia do discurso

sexta-feira, 18 de março de 2011

Imprudência diplomática

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Mauro Santayana *

         É preciso romper o silêncio da amabilidade para estranhar o pronunciamento público que o presidente Obama fará, da sacada do Teatro Municipal, diante da histórica Cinelândia. Afinal, é de se indagar por que a um chefe de Estado estrangeiro se permite realizar um comício – porque de comício se trata – em nosso país. Apesar das especulações, não se sabe o que ele pretende dizer exatamente aos brasileiros que, a convite da Embaixada dos Estados Unidos – é bom que se frise – irão se reunir em um local tão estreitamente vinculado ao sentimento nacionalista do nosso povo.
         É da boa praxe das relações internacionais que os chefes de estado estrangeiros sejam recebidos no Parlamento e, por intermédio dos representantes da nação, se dirijam ao povo que eles visitam. Seria aceitável que Mr. Obama, a exemplo do que fez no Cairo, pronunciasse conferência em alguma universidade brasileira, como a USP ou a UNB, por exemplo. Ele poderia dizer o que pensa das relações entre os Estados Unidos e a América Latina, e seria de sua conveniência atualizar a Doutrina Monroe, dando-lhe  significado diferente daquele que lhe deu o presidente Ted Roosevelt, em 1904. Na mensagem que então enviou ao Congresso dos Estados Unidos, o  presidente declarou o direito de os Estados Unidos policiarem o mundo, ao mesmo tempo em que instruiu seus emissários à América Latina a se valerem do provérbio africano que recomenda falar macio, mas carregar um porrete grande.
         Se a idéia desse ato público foi de Washington, deveríamos ter ponderado, com toda a elegância diplomática, a sua inconveniência. Se a sugestão partiu do Itamaraty ou do Planalto, devemos lamentar a imprudência. Com todos os seus méritos, a presidência Obama ainda não conseguiu amenizar o sentimento de animosidade de grande parte do povo brasileiro com relação aos Estados Unidos. Afinal, nossa memória guarda fatos como os golpes de 64, no Brasil, de 1973, no Chile, e ação ianque em El Salvador, em 1981, e as cenas de Guantánamo e Abu Ghraid.
         O Rio de Janeiro é uma cidade singular, que, desde a noite das garrafadas, em 13 de março de 1831, costuma desatar seu inconformismo em protestos fortes. A Cinelândia, como outros já apontaram, é o local em que as tropas revolucionárias de 1930, chefiadas por Getúlio Vargas, amarraram seus cavalos no obelisco então ali existente. Depois do fim do Estado Novo, foi o lugar preferido das forças políticas nacionalistas e de esquerda, para os grandes comícios. A Cinelândia assistiu, da mesma forma, aos protestos históricos do povo carioca, quando do assassinato do estudante Edson Luis, ocorrido também em março (1968). Da Cinelândia partiu a passeata dos cem mil, no grande ato contra a ditadura militar, em 26 de junho do mesmo ano.
         Não é, convenhamos,  lugar politicamente adequado para o pronunciamento público do presidente dos Estados Unidos. É ingenuidade não esperar manifestações de descontentamento contra a visita de Obama. Além disso – e é o mais grave – será difícil impedir que agentes provocadores, destacados pela extrema-direita dos Estados Unidos, atuem, a fim de criar perigosos incidentes durante o ato. Outra questão importante: a segurança mais próxima do presidente Obama será exercida por agentes norte-americanos, como é natural nessas visitas. Se houver qualquer incidente entre um guarda-costas de Obama e um cidadão brasileiro, as conseqüências serão inimagináveis.
         Argumenta-se que não só Obama, como Kennedy, discursaram em público em Berlim. A situação é diferente. A Alemanha tem a sua soberania limitada pela derrota de 1945, e ainda hoje se encontra sob ocupação militar americana.            
         Finalmente, podemos perguntar se a presidente Dilma, ao visitar os Estados Unidos, poderá falar  diretamente aos novaiorquinos, em palanque armado  no Times Square.

 Fonte site JB*

quinta-feira, 17 de março de 2011

"Ele explica muito. Fala até pro porteiro do prédio"




Laerte Braga


A frase é de Dilma Roussef explicando a sindicalistas o porquê do novo salário mínimo. Referia-se ao ministro da Fazenda, Guido Mantecca, ao qual fez pesadas críticas na reunião com líderes sindicais e de quebra o chiste. Vai juntar-se a Boris Casoy na galeria dos que trazem consigo arrogância e o preconceito. Casoy e os garis e Dilma e os porteiros de prédio.

Tânia Gabrielle Cooper Patriota é norte-americana de nascimento e naturalizada brasileira. Mora na Colômbia e na Venezuela dirige o FUNDO DE POPULAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Representa o órgão também na Colômbia.

É considerada um quadro burocrático sem brilho, mas hostil ao governo do presidente Hugo Chávez. Segundo o jornal THE GLOBE na versão brasileira, edição de quinta-feira, dia 17, O GLOBO, foi escolhida para ciceronear a primeira dama Michele Obama quando da visita do novo capitão do mato à fazenda Brazil.

Um detalhe. Segundo o mesmo jornal, “mantém um casamento à distância com o chanceler brasileiro Anthony Patriot. Patriot, brasileiro de nascimento, é o agente designado pelo conglomerado EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A para ocupar o cargo no Brazil.

A primeira insinuação de um comício do terrorista Barack Obama no Brasil foi feita diretamente à presidente Dilma Roussef. A idéia, a princípio considerada perigosa, veio então em forma de determinação. A partir daí todas as providências começaram a ser tomadas para facilitar o show, segundo o jornal argentino LA NACIÓN, “um prolongamento do carnaval carioca para receber Obama”.

O show, entende LA NACION guarda semelhança com as recepções a artistas pop, cantores e grupos de rock. O LA NACION cita também as visitas papais. Devem ter esquecido do PAPA MÓVEL, um carro alegórico para Obama desfilar na Marquês de Sapucaí.

Todo o esquema para o show de Obama estava montado antes mesmo de Lula deixar a presidência da República. Faz parte de um projeto político das elites para tentar impedir que o ex-presidente volte ao governo em 2014 e está a cargo das organizações GLOBO armar o espetáculo.

É hora de William Bonner colocar em campo o que ele chama de “Homer Simpson”. O telespectador padrão do JORNAL NACIONAL comparado ao personagem sério, trabalhador, mas idiota e facilmente enganável da série norte-americana.

O show começou a ser montado quando se definiu a visita de Obama por jornalistas/agentes norte-americanos que atuam na GLOBO, tanto em New York, Washington e Rio de Janeiro. A rede, bem estilo filme de terror mesmo.

Daí o envolvimento de FAUSTO SILVA (audiência caindo pelas tabelas, um jeito de tentar salvar o programa), da equipe do FANTÁSTICO e do DOMINGO ESPETACULAR da Record (Edir Macedo recebeu a ordem em Miami onde mora e recebe sua polpuda parte no dízimo e o salário do governo dos EUA).

Convencer Sérgio Cabral e Eduardo Paes foi barbada. O governador mantém a GLOBO no Rio com fartas verbas publicitárias e em troca ganha apoio da rede. O prefeito, idem, ibidem.

A histeria de Cabral chegou ao ponto de dizer a jornalistas que “Obama vai dormir no Rio duas noites, que bacana”. Isso vai valer elogios públicos da GLOBO, mas pedido de moderação nos comentários públicos para não ficar tão intimista assim. Atrapalha o Big Brother.

Esse tipo de situação é a pornografia implícita, mas nem tanto, do programa. A pornografia explícita acontece no domingo quando Obama descer no heliporto da PETROBRAS – foi estratégica a escolha, quer mostrar que é senhor do pré-sal – e a partir daí cumprir o programa turístico/carnavalesco/colonizador, que tem o ponto alto no discurso que fará aos brasileiros, novos súditos, na Cinelândia.

Todo esse aparato para o senhor do Brazil tem também o objetivo, além de começar a desconstruir Lula por formas indiretas – na cooptação de Dilma Roussef, a máscara caiu mais cedo que se imaginava – o de reforçar o prestígio do terrorista em seu território. É que ano que vem tem eleições, Obama está mal nas pesquisas, ainda não conseguiu emplacar a cantada que vem dando em Angeline Jolie – colunas sociais dos EUA vivem falando nisso – e sabe que pode perder a presidência de EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A.

Neste momento o presidente corre o risco de ter que enfrentar acusações de receber dinheiro ilegal em sua campanha eleitoral de 2008, doação do ditador líbio Muammar Gaddafi, como aconteceu com Nicolas Sarkozy. Enfrenta protestos públicos de centenas de milhares de norte-americanos que perceberam que o negro é só graxa, no duro é branco em várias cidades e não quer nem ouvir falar do risco de acidente nuclear – real – no Japão.

Precisa de uma overdose de adrenalina para sacudir o combalido líder terrorista. Lógico, presidir o conglomerado, entre outras coisas, confere o direito de tomar conta do Brazil, o maior país latino americano é uma das oito maiores economias do mundo, agora montado no petróleo. Alvo maior do terrorista.

Dilma Roussef está irritada, dizem os jornais inclusive O GLOBO, com a reação de alguns petistas sobreviventes que teimam em protestar contra a visita de Obama e o comício ao Rio. Quer que a direção nacional enquadre a turma. Falo da direção do PT-USA – Partido dos Trabalhadores dos Estados Unidos da América –.

A conversão aconteceu em Wall Street depois que Guido Mantecca pôs-se a explicar ao porteiro do prédio como funciona o mecanismo de cálculo e reajuste do salário mínimo no Brasil.

A bolsa já havia encerrado suas atividades, mas, misteriosamente, o sino que abre o pregão começou a badalar sozinho e se pode identificar a velha expressão “subdesenvolvido”, da canção que diz que “o brasileiro pensa como americano, mas não vive como americano”.

Voltamos a vender borracha e comprar pneus. E chicletes.

O pedido de desculpas de Dilma a Mantecca aconteceu numa reunião que durou seis horas e teve direito a rasgados elogios, tapete vermelho e segundo O GLOBO, muitos afagos.

É o novo Brazil. O dos garis e porteiros de prédios. Casoy e Dilma, quem diria!

Voltamos ao estágio MACAQUITOS. Agora com direito a mensagem direta para Obama via twitter. Dá para mandar do celular também. Você paga os custos e mais os impostos e acha que Obama lê.

Faz uma idéia de quanto as organizações GLOBO estão faturando nesse trem todo?

Vendendo o Brazil?


quarta-feira, 16 de março de 2011

Brasil assassino

Por Frei Betto*

Defender direitos humanos no Brasil ainda é considerado um acinte.

Madrugada de sábado, 19 de fevereiro de 2011. Aglomerado da Serra, região habitada por famílias de baixa renda em Belo Horizonte. Três soldados da ROTAM (Rondas Táticas Metropolitana), comandados pelo cabo PM Fábio de Oliveira, 45, cercam dois pacatos moradores - o enfermeiro Renilson Veridiano da Silva, 39, e seu sobrinho, o auxiliar de padeiro Jeferson Coelho da Silva, 17.

Acusados de serem traficantes de drogas, tio e sobrinho negam. Os policiais militares gritam que traficantes têm que pagar propina. Eles não têm dinheiro. Obrigados a deitar no chão, os dois são fuzilados.

Vizinhos e amigos das vítimas se revoltam. Na manhã seguinte, queimam três ônibus. O governador Antônio Anastasia exige apuração. Os policiais são presos na quarta, 23. O cabo Oliveira, que comandava a patrulha, fica numa cela do 1º Batalhão da PM.

Na quinta, 24, o cabo recebe a visita de sua ex-mulher e do advogado Ricardo Gil de Oliveira Guimarães. O preso aparenta tranquilidade.

Na sexta, 25, ao amanhecer, o cabo Oliveira é encontrado morto na cela, enforcado pelo cadarço do calção que usava, amarrado ao registro da água do chuveiro.

Suicídio ou suicidado? Desespero ou queima de arquivo? Autoridades policiais que investigam o caso suspeitam que calaram definitivamente o cabo para evitar que denunciasse outros assassinatos cometidos pela PM mineira.

Dois inocentes trabalhadores mortos à queima roupa. O governador Anastasia está diante de sua primeira oportunidade de comprovar que a PM de Minas não pode ser confundida com reduto de assassinos.

* * *

Na segunda, 28 de fevereiro, o corpo de Sebastião Bezerra da Silva, 40, da Comissão de Direitos Humanos de Tocantins, foi encontrado numa fazenda do município de Dueré (TO). Os dedos das mãos estavam quebrados e, sob as unhas, sinais de agulhadas; os dedos dos pés tinham sido arrancados; e se apurou que fora asfixiado por estrangulamento.

Representante regional do Movimento Nacional de Direitos Humanos, Silva havia denunciado PMs por prática de torturas e assassinatos. Nos últimos meses, apurava a responsabilidade pelo linchamento de um preso numa delegacia do interior.

Cabe ao governador Siqueira Campos, de Tocantins, apurar este crime hediondo e demonstrar que seu estado nada tem a ver com o velho faroeste onde imperava a lei do mais forte.

* * *

O presídio Urso Branco, de Porto Velho (RO), comporta 456 presos. A 31 de dezembro de 2001 abrigava 1,2 mil detentos. Muitos circulavam livremente pelos pavilhões. O poder judiciário determinou que todos fossem recolhidos às celas.

No dia 1º de janeiro de 2002, o diretor do presídio, Weber Jordano Silva; o gerente do sistema penitenciário, Rogélio Pinheiro Lucena; e o diretor de segurança, Edilson Pereira da Costa, decidiram misturar, no pátio, os presos jurados de morte com os demais.

Arrastados, os condenados pela lei do cão gritavam pelos corredores, pediam clemência aos agentes penitenciários, pois tinham certeza do destino que os aguardava. Em vão. Foram assassinados 27 presos.

No sábado, 26 de fevereiro de 2011 – nove anos após o massacre – a Justiça de Rondônia condenou 17 detentos, acusados de participarem da chacina, a sentenças de 378 anos a 486 anos. Os diretores e agentes penitenciários foram todos absolvidos.

A Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Porto Velho criticou a promotoria por inocentar o ex-diretor de segurança: “Era quem mais sabia que, se colocasse os presos no pátio, eles seriam mortos.”, declarou Cíntia Rodrigues, advogada da comissão.

* * *

Os três episódios acima descritos representam, lamentavelmente, o reino da impunidade e da imunidade que assola o Brasil. Defender direitos humanos no Brasil ainda é considerado um acinte. A Justiça é cega quando se trata de penalizar autoridades e policiais, pois não enxerga que a lei não admite que se aja acima dela. Nossos policiais recebem formação inadequada, muitos atuam com prepotência por vestirem uma farda e portar uma arma, humilham cidadãos pobres e praticam extorsões.

A ministra Maria do Rosário, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, deve se antecipar na exigência de apuração de tão graves crimes, antes que o Brasil passe a vergonha de se ver, mais uma vez, condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA.

*Frei Betto é escritor, autor de “Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira” (Rocco), entre outros livros. http://www.freibetto.org/ - twitter:@freibetto


(Envolverde/Brasil de Fato)

segunda-feira, 14 de março de 2011

Notícias internacionais têm pauta única


As agências de notícias tradicionais foram criadas como empreendimentos para a divulgação de informações financeiras em meados do século 19. Apoiadas pelos governos dos países onde tinham sede, essas agências nunca deixaram de ver o mundo segundo a ótica peculiar desses mesmos países.

Quando a revolta árabe chegou à Líbia, fornecedora de grande parte do petróleo consumido na Europa, a batalha da informação tornou-se mais acirrada.

Notícias falsas começaram a circular pelas agências internacionais de notícias e por algumas redes de televisão. No Brasil foram reproduzidas sem crítica.

Duas delas:

1) O presidente Muhamar Kadaffi recebe asilo político da Venezuela e segue para Caracas.

2) Kadaffi negocia com rebeldes sua saída do pais. Quer levar a família e grande quantia em dinheiro.

Mentiras logo esquecidas. Quando o repórter da Telesur relatou, ao chegar a Trípoli, que a situação era de calma na cidade foi ridicularizado pela Folha de S.Paulo e por uma de suas articulistas, até com chamada de capa.

Aquela altura toda a corrente majoritária da mídia internacional, acompanhada pela brasileira, dava como certa uma rápida vitória dos rebeldes.

A Telesur mostrava que na Líbia a situação era diferente do que havia ocorrido na Tunísia ou no Egito. As manifestações de massa não tinham chegado ao centro do poder e poderia haver um equilíbrio maior entre os lados em conflito, o que acabou se confirmando.

A atuação da Telesur, ao lado da Al-Jazira e outras emissoras árabes, mostra a importância de uma diversidade maior no fluxo internacional de informações.

As agências de notícias tradicionais foram criadas como empreendimentos para a divulgação de informações financeiras em meados do século 19.

A Reuters, de 1851, esteve durante muito tempo a serviço da família Rothschild, interessada em informações rápidas e precisas sobre os mercados financeiro e mercantil da Europa.

Apoiadas pelos governos dos países onde tinham sede, essas agências nunca deixaram de ver o mundo segundo a ótica peculiar desses mesmos países.

Tanto é que a UNESCO, nos anos 1970/80, impulsionou o debate por uma Nova Ordem da Informação e da Comunicação interrompido com ascensão dos governos Reagan, nos EUA, e Thatcher, no Reino Unido.

Perceberam esses governantes que uma “nova ordem” informativa implicaria num enfraquecimento do projeto neoliberal, em fase inicial de implantação no mundo.

A sonhada circulação de notícias sul-sul, capaz de quebrar o fluxo informativo norte-sul, foi adiada. EUA e Reino Unido chegaram a cortar suas contribuições financeiras para a UNESCO como forma de pressioná-la a deixar de lado o debate sobre a comunicação.

E foi o que aconteceu. Os anos 1990 assistiram a um perfeito entrosamento entre a ordem econômica e a ordem informativa, alinhadas no projeto neoliberal.

Mantinha-se praticamente intacto o fluxo informativo internacional implantado no século 19 pelas três grandes agencias internacionais européias (Reuters, Wolff e Havas) e, associado no século 20, às estadunidenses AP e UPI.

A centralidade de poder era tão grande que notícias da Bolívia só chegavam ao Brasil depois de passar por Nova York, Paris ou Londres.

Se a UNESCO não conseguiu romper essa lógica, o surgimento de novas tecnologias da informação e a visão estratégica de alguns governos, como os da Venezuela e do Qatar, puseram em cheque a ordem estabelecida.

No Egito, relata Paulo Cabral, ex-correspondente da BBC Brasil no Cairo, as antenas parabólicas estão em quase todos os domicílios captando essencialmente emissoras árabes como a Al-Jazira.

Suas informações – ao longo de muito tempo – serviram de caldo de cultura para desencadear a revolta, ampliada a seguir pela redes na internet.

A Telesur, por sua vez, vem demonstrando a importância da existência de pautas alternativas às das grandes agências.

Como exemplos pode-se citar as cobertura do golpe de Estado contra o presidente Zelaya, em Honduras; as libertações de reféns pelas Farc na Colombia e mesmo as reuniões de chefes de Estado sulamericanos, tão maltratadas pela mídia tradicional.

Infelizmente, no entanto, imagens da Telesur e da Al-Jazira quase não chegam até nós. No caso da emissora latina é necessária a compra de um decodificador, ligado a uma antena direcionada para o satélite por onde trafegam os seus sinais televisivos.

Mas existem dois caminhos bem mais simples: sua inclusão no menu das operadoras de TV por assinatura e a utilização dos seus serviços pelas emissoras brasileiras nos telejornais, como o que é feito com CNN, Reuters e outras.

Isso só não ocorre porque as operadoras de canais fechados e as TVs abertas negam-se a veicular visões de mundo desalinhadas do pensamento único.

E mesmo emissoras públicas, com poucas exceções, preferem seguir a pauta diária estabelecida pelas grandes agências internacionais, curvando-se ao modelo em vigor no mundo desde 1835, quando Charles Havas fundou a primeira agência internacional de notícias na França.

Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial). Twitter: @lalolealfilho.

Obama toma posse dia 19 e fala aos nativos dia 20



Laerte Braga


Barack Hussein Obama o mais perigoso líder terrorista em todo o mundo, presidente do conglomerado EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A chega no dia 19 ao Brasil. Vai ser recebido pela “presidente” Dilma Serra Roussef e toma posse da nova colônia norte-americana em seguida.

No dia 20, no Rio de Janeiro, Barack Hussein Obama fará um discurso aos nativos, na Cinelândia. O evento está sendo considerado histórico e pode ser comparado à chegada da família portuguesa ao País, fugindo de Napoleão.

Obama foge dos próprios norte-americanos cada vez mais conscientes que foram vítimas – como os brasileiros – de estelionato eleitoral. No território continental do conglomerado terrorista crescem os protestos contra a barbárie dos acionistas do grupo. Madison foi o ponto de partida.

Na segunda-feira à tarde, militares e agentes norte-americanos vistoriaram o território – Cinelândia – onde Obama vai fazer seu discurso aos nativos. A convocação está sendo feita pelas principais rede de tevê do Brazil. Estão sendo usados desde agentes de primeiro escalão como os ministros Nelson Jobim, Moreira Franco e Anthony Patriot, até funcionários subalternos como o apresentador Fausto Silva, além, lógico, dos dois responsáveis pelos principais noticiários do conglomerado por aqui. Willian Bonner e Willian Haack.

A sede do governo do Brazil está promovendo um concurso via twitter para aqueles que desejarem dar boas vindas ao líder terrorista e ouvir seu discurso na Cinelândia. Os que melhor se saírem no quesito submissão podem ganhar prêmios variados.

Dilma Serra Roussef mentiu aos brasileiros, por exemplo, quando anunciou que a compra de caças para reequipar a “Força Aérea Brasileira” – BRASILEIRA,  será? – estava suspensa por seis meses e que nova licitação seria feita, ou seja, todo o processo reiniciado.

O presidente do conglomerado EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A disse hoje, através de porta-vozes, que será transferida tecnologia dos caças do grupo BOEING a empresa norte-americana (com algum capital do antigo Brasil) EMBRAER, privatizada no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

A escolha da Cinelândia não é acidental. Os responsáveis pelo conglomerado querem deixar claro que a ocupação do Brasil é definitiva, não pensam em tirar as patas daqui tão cedo. O local – Cinelândia – é emblemático na história das lutas populares. Todo e qualquer vestígio de história, dessa história, vai ser varrido por Barack Hussein Obama.

A favela Cidade de Deus será visitada num gesto caridoso pelo terrorista Barack Hussein Obama. Seus assessores, a comitiva tem perto de mil pessoas, certamente distribuirão balas, pirulitos, e bandeirinhas norte-americanas para serem agitadas assim que o assassino de crianças afegãs pisar ali (semana passada um general norte-americano no Afeganistão pediu desculpas às famílias das crianças por conta de um bombardeio equivocado, foram quarenta ao todo).

O governo da nova colônia já foi instruído a reprimir toda e qualquer manifestação contra Barack Hussein Obama e as tevês proibidas de veicular imagens de eventuais protestos de brasileiros inconformados com a transformação do país em colônia.

Obama leva o pré-sal disfarçado em acordos – tipo aqueles das letrinhas miúdas – assina uma série de documentos orientando a “presidente” a como proceder no futuro.

Nas reuniões preparatórias para a “festa” na Cinelândia houve quem lembrasse o velho Abelardo Barbosa – Chacrinha – e sugerisse farta distribuição de bacalhau, já que o próximo feriado prolongado é o da semana santa. A idéia não foi aceita, a maior parte acha preferível gastar esse dinheiro suplementando bancos dos EUA que deram o golpe em milhões de cidadãos do conglomerado, tomando suas casas e agora se acham em sérias dificuldades (de mentirinha, o conglomerado já os socorreu).

A hipótese de apresentação de vários artistas não está afastada e a GLOBO pronta para uma exibição ao vivo – em telões – do BBB-11. Debaixo do edredon um casal mostrará a Obama os segredos do bordel em família.

Um cartaz está sendo afixado em diversos pontos da cidade do Rio de Janeiro convidando os nativos a comparecerem ao local e a ouvirem o discurso do novo dono.

No site VI O MUNDO, em http://www.viomundo.com.br/politica/paul-krugman-outro-inside-job.html é possível encontrar o trabalho de Paul Krugman sobre os métodos do conglomerado em relação a mortais comuns, isso nos EUA. Foi publicado originalmente no NEW YORK TIMES, que ainda que insistam em desmentir ou tentar ocultar, é um jornal editado na cidade de New York.

Um dos itens mantidos em segredo nas ordens que serão transmitidas à “presidente” Dilma Serra Roussef está a privatização da previdência social. Empresas do conglomerado querem tomar conta do negócio e com o dinheiro daqui tampar o rombo de lá. Dilma vai jogar o verde da redução da jornada de trabalho para colher o maduro da privatização da previdência.

Esse era um dos acordos feitos entre FHC e os investidores norte-americanos em Foz do Iguaçu à época da campanha eleitoral.

Como sempre as versões oficiais, as notas conjuntas virão recheadas de linguagem diplomática falando em colaboração, amizade histórica, coisas do gênero.

O discurso de Obama na Cinelândia será uma das peças de sua campanha eleitoral em 2012, quando tentará se manter à frente do conglomerado terrorista.

Obama vai exibir a CONQUISTA DO BRAZIL como seu grande trunfo e mostrar todo o potencial que a nova colônia representa para a matriz.

O]o processo de convencimento dos nativos que assim será melhor ficará a cargo da GLOBO e mídia privada. Iremos virar mexicanos e breve um grande muro para impedir o ingresso de brasileiros nos EUA (exceto Jobim, Moreira Franco, Anthony Patriot, etc) estará erguido em nossas fronteiras, mesmo que não tenhamos, como não temos, fronteiras com a sede. Mas, acaba sendo um grande negócio para empreiteiros.

No programa MANHATAN COLLECTION (que ninguém assiste desde que Paulo Francis morreu) na edição do próximo domingo deverão ser espocadas champagnes comemorativas da conquista do Brazil.

Por enquanto só está faltando Pelé e a bateria de uma escola de samba.

Seria a dupla ideal, dois brancos engraxados com graxa preta no vasto mundo do conglomerado terrorista EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A.