Laerte Braga
Suponha que numa escola a professora pergunte a seus alunos qual o nome do governador do extinto estado do Espírito Santo e um aluno ou aluna levante o dedo e responda – Renato Casagrande.
Errado. Renato Casagrande ocupa o palácio do governo nominalmente, o capataz da propriedade de empresas – falo do extinto estado – como ARACRUZ, SAMARCO, VALE e outras menores é Paulo Hartung. Tem o controle da máquina estatal e daquele que é tido como governador (marionete). O vice então, via de regra é conhecido como clássico “pamonha”.
Há cerca de três semanas a organização terrorista que sustenta esse braço das empresas – o que chamam governo estadual – me refiro à uma pseudo instituição chamada Polícia Militar, desocupou uma área onde moravam centenas de pessoas, através de uma operação de guerra digna de qualquer ação de forças de maior porte como as da OTAN, por exemplo, ao bombardear e matar civis na Líbia.
Num protesto contra o aumento das passagens dos transportes coletivos a mesma organização terrorista espancou, barbarizou e prendeu estudantes e cidadãos sob o olhar complacente do “pamonha” que no papel é o vice-governador do extinto estado estava posto em cadeira de “governador” (pertence ao PT e chama Givaldo sei lá das quantas), já que o laranja que ocupa o cargo – de mentirinha – estava em vilegiatura por outras plagas.
Máfias de um modo geral, as clássicas, onde existe ainda um pingo de dignidade, honra, leis próprias de respeito, etc, escolhem lugares paradisíacos para suas “convenções” (máfias empresariais, financeiras e políticas não têm noção do que seja isso, nunca ouviram falar, as do Espírito Santo estão na Idade da Pedra, é só conversar com um deputado qualquer do PT do extinto estado. Vai precisar de um especialista para entender linguagem de hienas).
Tais convenções, há um filme clássico com Marilyn Monroe – QUANTO MAIS QUENTE MELHOR, do excelente diretor Billy Wilde – que mostra como funciona esse “esquema” de convenções. Uma divisão dos negócios lucrativos no mundo do crime.
No extinto estado do Espírito Santo existe uma ONG – praga de um modo geral – chamada ESPÍRITO SANTO EM AÇÃO. Funciona financiada por grandes empresas e bancos, tem o apoio da gerência que chamam de governo do estado como se isso ainda existisse e a garantia das hordas de bárbaros que chamam de Polícia Militar para enquadrar aqueles que não paguem a “proteção” em dia.
Em curso no Brasil um trem chamado reforma política, ou reforma eleitoral (são coisas distintas, mas interessa às máfias misturar tudo). Gera pavor nas elites políticas de um modo geral, as oligarquias tipo Sarney, as famílias que controlam a política em Minas (Azeredo, Neves, etc), noutras plagas deste imenso Brasil. Em se tratando do extinto Espírito Santo então, pânico nas máfias que operam disfarçadas de bancos, de grandes empresas promotoras do progresso (A ARACRUZ por exemplo desmata sem qualquer controle e depois patrocina um seminário de defesa do ambiente, tal e qual Capone fazia em Chicago. Matava e depois mandava presentes de natal para as famílias das vítimas ou promovia o natal dos pobres) e lógico, na classe política subordinada a essa gente.
Como a deputada Rita Camata iria construir uma casa modesta de um quarteirão inteiro numa Ilha vigiada pela PM a fim de que não sejam molestados esses abnegados defensores do povo (Os Camata, ela e o ex-marido Gérson são sócios de Aécio Neves em pesquisas genéticas), se não fosse essa “preocupação patriótica” com as organizações mafiosas da “fazenda”?
Vai daí que decidiram fazer uma “convenção” em Vitória, capital do antigo estado. TRE – TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL – um resquício dos tempos de coronéis, de ditaduras, justiça eleitoral é um adereço desnecessário à democracia, a ONG ESPÍRITO SANTO EM AÇÃO, tudo financiado por bancos, ARACRUZ, VALE, SAMARCO, etc, sem povo para sujar o piso, melar as mãos em refinados salgados e doces de lanches britânicos, etc, tudo para discutir a tal reforma, mas de um jeito que nada mude. Permaneçam intocados os cartórios dessas quadrihas.
Arranjaram um marqueteiro pilantra que chamou o negócio de FÓRUM NACIONAL DA REFORMA ELEITORAL.
De quebra levam o apoio do jornal A GAZETA (é uma rede, anomalia monopolista que existe no Brasil e retransmite a doença GLOBO para todos os cidadãos que se aventurem a sintonizar o canal ou ler o jornal). O diretor/dono da dita quando instado a denunciar as condições sub-humanas dos presídios no Espírito Santo, o feitor ainda era Paulo Hartung e essas condições foram observadas pela ONU e condenadas internacionalmente, respondeu assim ao dizer que não noticiaria – “boa sorte com a mídia nacional e internacional, aqui mandamos nós” Um criacionista o chamaria de Caim, um evolucionista de Ornitorrinco (um ser incompleto, nem mamífero, nem ovíparo, mas canalha, só isso)
Estudantes da UFES – UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO – e cidadãos indignados com a presença de mafiosos de grande calibre em sua cidade, Michel Temer, José Sarney e outros, resolveram exercer o direito constitucional de protestar contra o processo que vitima o Espírito Santo.
Foram para o local manifestar o descontentamento.
De imediato a Polícia Militar foi orientada a sentar a borduna, baixar o cacete, prender e arrebentar, especialidade dessa organização terrorista, onde vociferar é a língua mater. E bombas com gás de pimenta é tratamento que aplicam sem a menor piedade ou respeito por nada que não seja o prazer doentio da violência
E o fez com esse incrível prazer que a barbárie desperta em sádicos e boçais.
Como é que pode estudantes e cidadãos dignos não compreenderem os elevados desígnios das máfias? Organizações voltadas para o progresso (deles), o bem estar (deles) e que segundo o paladino da ARACRUZ Antônio Ermírio de Moraes, trazem o progresso? Cidades inteiras estão sendo dizimadas por tal progresso predador. Praias e reservas florestais destruídas por esse tipo de gente, criminosos lato senso.
A histórica praia onde o padre José Anchieta escreveu seu poema a Maria já não existe mais. O progresso da ARACRUZ ou outra similar chegou e se instalou.
Os protestos dos estudantes e cidadãos dignos refletem a aspiração popular de reconstruir o estado do Espírito Santo, tirando-o das mãos de criminosos (meio tribunal de justiça foi preso numa operação da Polícia Federal ano passado). Refazer a história do Espírito Santo segundo a vontade popular e com ampla participação popular.
Sem políticos como Casagrande, como Hartung, como o tal Givaldo, sem dirigentes petistas convocando o povo – é de matar de rir – para o debate, sem figuras execráveis como Gerson Camata, ou João Coser o prefeito da capital e novo milionário desde que assumiu o cargo, enfim, livrar o território das máfias canalhas e reerguer as tradições de gente brava e corajosa na defesa da liberdade e dos compromissos com o progresso como sinônimo de bem estar coletivo, respeito ao ambiente, nunca de privilégios como acontece. Tomar a história nas mãos sem intermediários.
Há um detalhe importante em tudo isso. O protesto corajoso e digno dos estudantes e cidadãos, a despeito da boçalidade da organização terrorista PM, uma anomalia num estado democrático, mais cedo do que se imagina, vai eclodir por todo o País.
Os brasileiros estão percebendo que o nosso Brasil está sendo transformado em grande território de máfias internacionais associadas a máfias nacionais, numa cumplicidade vergonhosa e já começam a sentir que o governo Dilma Roussef está mais para Michel Temer e José Sarney que qualquer outra coisa.
São protestos que devem ser apoiados em todo o País, mesmo que a mídia que janta com Hilary Clinton e recebe desses bandidos para definir o cidadão como idiota – “nosso telespectador é como Homer Simpson”, frase do robô William Bonner ao referir-se aos que assistem o JORNAL DA MENTIRA, que chamam de JORNAL NACIONAL – não os noticie, ou então noticie de forma deturpada chamando estudante e trabalhadores de “baderneiros”, como se fazia no tempo da ditadura militar.
Que venham esses “baderneiros”, bem vindos, para que o País possa acordar, levantar e caminhar, para varrer com essas máfias e seus integrantes.
É essa a lição maior dos estudantes do Espírito Santo, dos cidadãos honrados que não se curvam a quadrilhas financeiras, empresariais e políticas.*PS - Os bandidos cancelaram o seminário diante da indignação popular. Na noite de quarta-feira o vice-presidente Michel Temer quando viu o protesto cancelou sua fala e deixou o Espírito Santo na manhã de quinta-feira deixou Vitória. Os mafiosos do Espírito Santo, neste momento, vivem uma guerra de quadrilhas para definir quem é culpado de tanta lambança e canalhice.
Construir a cidadania a partir do exercício do direito de todos a expressão, comunicação e informação
sexta-feira, 17 de junho de 2011
Espírito Santo - o exemplo dos estudantes e cidadãos honrados*
"DÁ-LHE SENADOR OBAMA"
Laerte Braga
Uma das preocupações de autoridades do governo e políticos norte-americanos é a “criatividade” da indústria da pornografia no país. Um dos maiores sucessos de público com vendas que ultrapassam a alguns milhões de cópias é uma produção em que Obama aparece em cenas de sexo explícito com uma secretária que usa uns óculos semelhantes ao de Sarah Palin e noutra seqüência, o senador John McCain se mostra “ardente” com um grupo de mulheres, inclusive negras, sabendo-se que McCain é racista.
Sarah Palin aparece noutras sequências. O mais interessante é que os produtores usam os nomes reais. Não há disfarce ou sugestão. É “senador Obama”, “senador McCain”, “governadora Salin”.
A produção foi rodada durante a campanha eleitoral de 2008 e segundo os jornais que conseguem tratar da matéria, há uma cortina de silêncio em torno de filmes desse gênero envolvendo políticos e figuras do governo. A maior dificuldade foi achar uma atriz com as pernas mais ou menos próximas das de Sarah Palin, ex-governadora do Alaska, vice de McCain e pré-candidata republicana às eleições presidenciais de 2012.
Cheryl B. Bremble, de 40 anos, professora de uma escola na cidade de Norristown, estado da Pensilvânia, pode ser condenada a um mínimo de 18 anos e a um máximo de 36 anos de prisão, por ter mandado mensagem erótica para uma de suas alunas através do celular e ter presenteado a moça com um “objeto de cunho sexual”.
Ela esteve num tribunal na sexta-feira, vai responder à acusação de ter posto em perigo o bem estar de uma criança, corrupção de menor, ato obsceno, contato ilegal com menor e assédio entre outubro de 2010 e maio de 2011, período em que foi professora da estudante.
A idade da vítima não foi divulgada, mas presume-se segundo o noticiário, que tenha mais de 13 anos e a professora está em liberdade após pagar fiança de 25 mil dólares.
Por esse rigor Bento XVI não pode pisar em território norte-americano.
Brad Manning, soldado de uma das empresas que formam as forças armadas dos EUA (a maioria é formada por contratos de terceirização) está preso numa solitária acusado de ter entregue documentos secretos (milhares) ao site WIKILEAKS. Não tem direito a visitas – exceto seu advogado –, não tem direito a banho de sol e três vezes por dia sua cela é submetida a uma revista onde é obrigado a ficar nu e passar por diversos constrangimentos para que os carcereiros possam ter certeza que ninguém entregou nada a Manning. A luz da cela fica acesa as vinte e quatro horas de cada dia.
As condições subumanas em que vive, sem que existam provas, meras suspeitas, já foram objeto de denúncia no Senado dos Estados Unidos, de organizações nacionais e internacionais de direitos humanos, mas a situação permanece inalterada.
No campo de concentração de Guantánamo os “especialistas” em interrogatórios submetem os presos, muitos deles menores, a momentos de absoluto constrangimento e violação constante dos direitos humanos e uma das formas de tortura no sentido de abalar a fé muçulmana da maioria dos presos, é a exibição de filmes pornôs, expediente que usaram logo que ocuparam o Iraque.
O ATO PATRIÓTICO votado pelo Congresso dos EUA e aprovado pelo presidente George Bush, em outubro de 2011, logo após a destruição das torres gêmeas do World Trade Center num ato de guerra, permite a invasão de lares, espionagem de cidadãos, interrogatórios e torturas de possíveis suspeitos de espionagem ou terrorismo, sem direito de defesa ou julgamento. Todas as liberdades civis são suprimidas pelo ato. O USA PATRIOT ACT significa “UNITING ANDA STRENGTHENING AMERICA BY PROVIDING APPROPRIATE TOOLS REQUIRED TO INTERCEPT AND OBSTRUCT TERRORISM ACT”, mais ou menos o seguinte – “ATO DE UNIR E FORTALECER A AMÉRICA PROVIDENCIANDO FERRAMENTAS APROPRIADAS E NECESSÁRIAS PARA INTERCEPTAR E OBSTRUIR O TERRORISMO”.
Centenas de milhares de civis iraquianos, afegãos, palestinos, paquistaneses, colombianos, líbios – países ocupados ou cercados pelos EUA ou por Israel – foram mortos por bombardeios equivocados, ações militares genocidas (caso de Israel em relação aos palestinos), isso nos dias atuais. Ao longo de sua história os EUA carregam a morte de milhões de seres humanos em suas guerras estúpidas pelo controle do mundo.
Há casos relatados pela imprensa que prisioneiros de Guantánamo foram liberados dois anos após terem sido presos por se constatar que eram inocentes. Numa prisão em Bagdá, cenas que nem as redes de tevê que são braço do governo dos EUA, ou do complexo terrorista EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A, conseguiram evitar foram exibidos os métodos de tortura dos norte-americanos. Abuso sexual contra presos. Noutros, documentos de orgias entre soldados dos EUA todos tampados de droga até o dedo mínimo dos pés.
Na guerra do Vietnã, está no livro do filósofo Bertrand Russel sobre o assunto, os soldados dos EUA comprovavam a 10 dólares meninas de 10 anos, 11 anos, virgens, valorizadas no mercado do sexo, enquanto tentavam “libertar” o país. Foram derrotados de forma absoluta pelo povo vietnamita.
O governo colombiano, desde Álvaro Uribe e agora com Juan Manoel Santos é intrinsecamente ligado à produção e ao tráfico de drogas, produto dos grandes cartéis de traficantes, mas vale aqui a frase de Nixon dita ao embaixador norte-americano no Brasil quando do governo Médice, sobre as constantes violações de direitos humanos da ditadura que os norte-americanos mantiveram no Brasil – “é verdade, mas fazer o que, são bons aliados e o general Médice é um bom amigo”.
O mesmo – tráfico de drogas – se aplica ao governo do Afeganistão em cumplicidade com máfias norte-americanas. Isso é irrelevante diante do que chamam objetivo maior, o combate ao que chamam de terrorismo e a captura e roubo das riquezas desses países, especialmente petróleo, água e minerais estratégicos.
Sakineh Mohammadi Ashtiani foi acusada pelas autoridades policiais do Irã de ter sido cúmplice no assassinato de seu marido e de adultério (uma anomalia que ainda permanece nos códigos de alguns países muçulmanos). Foi condenada à morte por apedrejamento e teve a sentença suspensa diante da reação em vários países do mundo contra o ato de barbárie. Sua situação permanece indefinida.
Uma das ações do complexo terrorista EUA/ISRAEL S/A que controlam boa parte do mundo e mantém o resto sob ameaça constante é o controle da mídia privada e de seitas e religiões, como forma de manter a manada em paz, controlada, pastando, evitando correr riscos de um estouro da boiada, como agora nos países árabes, ou na Espanha, na Grécia, na Irlanda e outras colônias/bases que têm espalhadas pelo mundo.
A seita Baha’i, como a de Edir Macedo e a própria cúpula da Igreja Católica, são hoje instrumentos desse terrorismo de estado e dessa forma de transformar o ser humano em objeto.
Uma das mais confusas dentre a imensa quantidade de seitas que existem nos EUA e que são exportadas mundo afora, os Baha’i enfrentam problemas com as autoridades iranianas. São os principais responsáveis pela tentativa de desestabilização do governo daquele país. Asseguram ter tido acesso ao processo de Sakineh onde constataram que as provas contra a iraniana eram forjadas, ou não existiam.
Devem, como os israelenses, ter um contato direto com o Criador, o deles, o que os torna invisíveis e portanto com acesso a qualquer canto de qualquer lugar do mundo. Para fazer uma afirmação mentirosa dessas só sendo assim.
A secretária de Estado dos EUA, Hilary Clinton, chamou a Washington seis ex-presidentes de países sul-americanos, dentre eles o brasileiro Fernando Henrique Cardoso, para discutir o futuro da América Latina. Hilary não quer, por exemplo, que os documentos da ditadura sejam tornados públicos – ditadura brasileira – para evitar problemas tanto para os envolvidos em ações de tortura, estupro e assassinato de presos políticos, como para os EUA, mantenedor das forças armadas brasileiras em sua imensa maioria.
Quer riscar essa parte da história de nosso País. FHC já deu o recado a Dilma e de uma presidente confusa, perdida no tempo e no espaço, já recebeu os mais rasgados elogios, tanto quanto, a mídia noticia que a disposição de abrir os baús da ditadura diminuiu de intensidade. O coronel Brilhante Ulstra, chefe do DOI/CODI em São Paulo, aparelho repressivo que foi chave na Operação Condor – prisão, tortura, estupros e assassinatos seletivos definidos pelos EUA e obedecidos pelo Brasil, Uruguai, Paraguai, Argentina, Chile e Bolívia – em meio a essa tentativa de silenciar os crimes cometidos pelos militares por aqui, vai virar colunista do jornal FOLHA DE SÃO PAULO (emprestava os caminhões para a desova de presos assassinados no esquema de Brilhante Ulstra, a pretexto de terem sido atropelados).
Uma novela do SBT – SISTEMA BRASILEIRO DE TELEVISÃO – um dos últimos vagidos do grupo Sílvio Santos em processo de falência, vai incorporar a falência moral também à sua decadência. Ao ouvir o relato de presos torturados pela ditadura, decidiu, debaixo de pressões, ouvir a versão dos torturadores por último. Nada contra ouvir os bandidos, mas por que não intercalar?
Vão falar de patriotismo – “último refúgio dos canalhas”, Samuel Johnson, pensador e político inglês do início do século XX –, de defesa do Brasil, etc, etc, mesmo que tenham dado o golpe em 1964 sob comando do general norte-americano Vernon Walthers.
Toda essa sequência de fatos aparentemente diversos, ou sem ligação, têm a ver com o processo de governo mundial que os norte-americanos tentam dissimuladamente e ás vezes agressivamente, impor ao mundo.
Países são dissolvidos sem bater, como a Grécia, a Irlanda, a Espanha, impérios como a Grã Bretanha viram Micro-Bretanha (definição de Milton Temer), a França cai em mãos de um trêfego de segunda categoria Nicolás Sarkozi, a Itália nas de um pedófilo, Sílvio Berlusconi, o México vira depósito de lixo e o Canadá, segundo os norte-americanos, “um México melhorado”.
No fim a culpa é do Irã, do governo cubano, do governo da Venezuela (hoje indefinido sobre seus rumos, o presidente Chávez parece ter tido um acesso de direitite aguda) e no caso da América Latina preparam-se, os norte-americanos, como denuncia Ricardo Martínez Martinez, em artigo traduzido por Jorge Vasconcelos, para ações de guerra no sul do México (o pretexto é o narcotráfico, naturalmente querem assumir o controle e os lucros como na Colômbia e no Afeganistão), estendendo a presença militar a Guatemala, Honduras e El Salvador.
Projetar “um conflito bélico para cumprir metas estabelecidas para a segurança e prosperidade dos EUA e para reposicionar a hegemonia que foi perdendo na região latino-americana nos últimos anos, essa é uma prioridade para os americanos. Se não o conseguiram com a ALCA (Área de Livre Comércio das Américas), fá-lo-ão sob o guarda-chuva da segurança e da retórica sobre os potenciais inimigos das democracias”.
O “chefe do Comando Sul (SOUTHCOM), Douglas Fraser, instou, recentemente o governo de Felipe Calderon a abrir a fronteira sul do México para uma frente de guerra contra o narcotráfico e a controlar a partir de políticas regionais o corredor do istmo sob o pretexto de ser a área do maior tráfico de drogas que chega aos Estados Unidos. O estrategista militar afirmou – “o triângulo no norte da Guatemala, El Salvador e Honduras é a zona mais letal do mundo fora das zonas de guerras ativas”.
Vão levar suas guerras à América Central e ao México (colônia dos EUA).
Breve chegam por aqui, têm o aval de traidores como Fernando Henrique Cardoso, depois da reunião secreta com Hilary Clinton.
É por essa razão que o “dá-lhe senador Obama”, dito pela secretária que sugere Sarah Palin, ou a própria Hilary, não causa tanto espanto assim nos EUA, apesar da hipócrita reação dos governantes e políticos.
É prática deles entrar em outros países pela porta dos fundos e contam com répteis como FHC, José Serra, Aécio e fraquezas e frustrações como Dilma Roussef e sua dupla Anthony Pragmático Patriot e Moreira me dá o meu Franco.
Foi por essa razão que o embaixador da Itália, no processo contra Cesare Battisti, entrou no gabinete de Gilmar Mendes (que agora busca atrasar processos contra latifundiários que fazem uso de trabalho escravo), entrou, repito, pela porta dos fundos.
“Dá-lhe senador Obama”.
A ministra Ellen Gracie está louca para ir para a Corte de Haia.
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quinta-feira, 16 de junho de 2011
Blogueiros, organizai-vos!...., mas nem tanto.
Antonio Fernando Araujo*
Fala-se nos dias de hoje e podemos mesmo presumir que nas eleições presidenciais de 2002 alguns
dos atuais blogueiros já eram de certa forma atuantes na blogosfera e, com seus pitacos, certamente
deram uma colaboração ainda que modesta para a primeira eleição de Lula. Entretanto, foi só em
2010, mais precisamente em agosto, que esses precursores, junto com outros que foram surgindo
desde então, puderam reunir-se formalmente. Em janeiro de 2009, a ideia de um encontro chegou a
ser aventado no Fórum Social Mundial, de Belém do Pará. Mais tarde, em dezembro, ela foi
relembrada no Fórum de Mídia Livre e meses depois num Sujinho paulista com cerca de dez ativistas
blogueiros, aparentemente cutucados pelo jornalista Luiz Carlos Azenha foi finalmente aprovada, seria
em São Paulo. Ele teria se inspirado nos blogueiros progressistas norte-americanos que
aglutinaram-se numa cooperativa e conceberam o Netroots. Um encontro similar a esse marco
constituiu-se naquela noite em um objetivo daquele grupo. Em seguida foi a vez do Centro de Estudos
da Mídia Alternativa Barão de Itararé, fundado quase que na mesma ocasião, maio de 2010, à frente os
blogueiros Altamiro Borges e Cristina Lemes, esta do blog Viomundo, mobilizar o universo de
internautas em todo o Brasil. Finalmente, em 22 de agosto, sob o emblema “a liberdade da internet é
ainda maior que a liberdade de imprensa”, que o sr. Ayres Britto, ministro do STF garantira, puderam
então, ao final desse encontro, proclamar aquela que mais tarde seria conhecida como a Primeira
Carta dos Blogueiros Progressistas.
É claro que, só porque essa Carta reconheceu a necessidade de integrar mais os blogues, de
aprimorar a diversidade informativa, defendeu a neutralidade na rede, a regulamentação dos artigos da
Constituição que tratam da comunicação, o combate sem trégua às formas de censura e proposto o
acesso público e universal à banda larga, isso signifique que o projeto desafiante mais amplo de tornar mais democrático o espaço por onde hoje transitam as informações, o saber e a cultura já tenha sido edificado em seus termos estruturais, decorrido já quase um ano, quando cerca de 330 blogueiros e
ativistas, oriundos de 19 estados, a redigiram e aprovaram-na por unanimidade.
Entretanto, ainda que aquela Carta produzida em 2010, tenha se imposto para esse grupo de entusiasmados blogueiros como necessária, ela só ocorreu por ter sido preparada por uma espécie de mutação que se verificou no campo da percepção de que a mídia impressa tradicional já não satisfazia inteiramente as exigências de setores mais conscientes e intelectualizados e portanto mais exigentes que na sociedade buscam informações de conteúdo mais denso e, principalmente mais merecedoras de crédito. A velha mídia, à qual estava sujeito quase todo o time de consagrados jornalistas, há pouco mais de uma década viu seu poder econômico e político começar a definhar em favor de uma nova geração de articulistas, os blogueiros, forjada no bojo do desenvolvimento de novas tecnologias de informação e comunicação verificadas especialmente no campo da informática, via internet. E se imaginarmos que em 1999, segundo o blogueiro Renato Rovai, não havia mais do que 50 blogues e em fins de 2010, segundo estudo da Technorati “State of Blogosphere”, citada por ele, já somavam mais de 130 milhões, não há dúvida de que "o fim da era do monopólio da informação, há muito já foi decretado".
A par dessa realidade - que não é nosso objetivo rever aqui -, trago à tona uma questão que também salta aos olhos. De que forma esses pioneiros da blogosfera começaram a se articular a tal ponto de, num tempo relativamente curto, tenha sido possível perceber que, de fato, essas novas mídias eletrônicas - e agora destaco as redes sociais que germinaram nesse mesmo período - começaram a fazer um contraponto jornalístico às opiniões e fatos divulgados pela imprensa tradicional - jornais, revistas, rádios e TVs - controlada por meia dúzia de famílias no Brasil? Ora, respondo, simplesmente, não se articularam e ainda assim passaram a contribuir para que mudasse radicalmente a face da comunicação ao inaugurarem, de uma forma quase anárquica, um capítulo novo na história da modernidade ao recusarem organizar-se nos velhos moldes dos sistemas jornalísticos em que uma estrutura piramidal estabelece o conteúdo do que será impresso ou exibido, levando em conta quase
sempre e apenas os interesses mercadológicos ou políticos do conjunto patronal que os dirige. Nada
disso, respondem ainda os blogueiros, não há nenhuma "autoridade" acima deste cidadão ou cidadã,
senhor ou senhora de suas opiniões, fontes e autores de suas próprias verdades porque são capazes
de avaliar o mundo e os acontecimentos em volta, desenvolver com os olhos da inteligência, da honestidade, da ética e da boa-fé, uma intensa atividade civilizatória, livres e soberanos no exercício
das suas razões, libertos das ordens emanadas de patrões e refletindo assim a imensa pluralidade de
opiniões e valores existentes no conjunto da sociedade.
Está claro então que no horizonte da luta blogueira se interpõem uma nova "classe" em ascensão de
comunicadores independentes, jornalistas, ativistas das redes, colaboradores e comentadores na
trincheira dos seus blogues e microblogues, e a velha mídia, estruturada como fonte de receita e lucro,
dependente dos esquemas tradicionais de produção, distribuição e consumo. Os primeiros, em espaços de debates múltiplos, não raro sobre um mesmo assunto, trocas e mais trocas de opiniões, o contraditório à flor da pele, o vai-e-vem de comentários, de concordâncias e discordâncias num ambiente dinâmico, ágil e gratuito, totalmente inconcebível quando se pensa nos diagramas engessados, de opiniões e relatos de mão e pensamentos únicos da imprensa tradicional, aquela que, por ter se partidarizado, inspirou o veterano jornalista e blogueiro Paulo Henrique Amorim a cunhar a bem-humorada sigla PiG, do Partido da imprensa Golpista, inspirado naquilo ao qual o deputado
Fernando Ferro (PT-PE) aludia enquanto analisava o papel que essa poderosa imprensa desempenhou em 2005-2006 - até então, ainda a única formadora de opinião -, tendo em mente a ideia de desestabilizar e depor o governo Lula, às voltas com o fantasioso esquema do "mensalão".
Mas engana-se quem imagina que, ao longo desse tempo, os blogueiros tornaram-se uma espécie de
confraria, de uma seita ou de um partido político e daí teria advindo essa força que já incomoda tanto. Nada disso. Nenhum laço orgânico os une a não ser eventuais convergências de ideias, algumas metas comuns em decorrência de uma empreitada a ser levada a cabo, uma determinada atmosfera cultural ou política que os aproxima e os fazem participar de uma espécie de "espírito comum" ainda que tudo isso se manifeste através de múltiplos pontos de vista, em uma imensa variedade de blogues distintos, cada um portando sua "cara", como se fosse a marca própria da sua vitalidade e da aversão aos vícios e maus costumes dos grandes veículos da mídia tradicional que com o passar do tempo cristalizaram-se em torno do descomunal poder de quem eu chamo de "a grande família G.A.F.E. da imprensa", o onipresente quarteto, Globo, Abril, Folha e Estadão.
"O que fazem agora, esses blogueiros históricos de modo audaz, é tomar para si o necessário e autêntico protagonismo de quem escreve, diariamente, essa nova história que constroem com sua militância nacionalista, desinteressada, democrática, 'utópica'. Esses brasileiros audazes, que caminham 'sobre as águas desse momento', estão mudando a cara da comunicação no Brasil. Quem viver verá. O Brasil muda e a gente muda junto com ele", vibrou com acerto Lula Miranda, no sítio Carta Maior.
Assim, é com natural apreensão que vejo surgir na dimensão desses verdadeiros propagandistas e
agitadores de uma nova era no campo da comunicação, alguns esboços de projetos que visam
aglutinar os blogueiros em associações, cooperativas ou movimentos. Mal percebem que esses revolucionários, não necessariamente progressistas (ou pelo menos até que se acure melhor o significado do termo) que há 10 anos partiram para o assalto do poder midiático foram beber na fonte de um rico manancial de ideias que desde a aurora da humanidade teima em se manter viva no espírito de todos os povos e no de cada cidadão, a independência. A luta de cada um no sentido de dissipar qualquer ranço de arcaísmo oriundo da imprensa comercial fica evidente e logo transparece na ânsia de reconstruir com a sociedade um vínculo da lealdade que foi quebrado no instante em que aquela mídia abandonou seus compromissos com a verdade. E como já foi dito, essa reconstrução, para ser autêntica, para que represente de fato uma ligação umbilical com o novo, terá que ser múltipla, não se apresentar como um uno, como uma doutrina sistemática oriunda de um partido ou condomínio homogêneos, provedores de um aparato ideológico mais do que suficiente para que, em pouco tempo, se reproduzam os habituais rachas nessa "unidade na diversidade" e proliferem um sem número de associações, cada uma atada às idéias próprias de seu grupo partidário numa disputa que em nada traduzirá os anseios que a história lhes reservou como o seu momento: a construção de um antídoto a esse "porre que é o pensamento único" (L.C. Azenha), tão bem definido, pensamentos únicos que a partir daí encontrarão abrigo nos diversos agrupamentos, que passarão então a reproduzir entre os seus, os mesmos conflitos e as mesmas feições da mídia arcaica que está em crise e contra a qual tanto lutaram. Como quase sempre se constata entre as esquerdas o adversário original então cede lugar ao grupo ideológico vizinho que tendo desafinado num parágrafo do texto ou numa esquina da luta tornou-se o inimigo maior a ser desmoralizado e abatido.
A par desses temores é importante contudo assinalar que, sem que representem ameaças à autonomia dos autores, se criem mecanismos para prover de recursos financeiros blogueiros, ativistas e colaboradores, entre outras iniciativas, democratizando as verbas publicitárias governamentais. É inadiável que esforços sejam feitos para que uma manta de proteção jurídica se estenda sobre a liberdade de expressão dos que se dedicam ou colaboram com os blogues. É vital que se crie o Conselho Nacional de Comunicação e que políticas públicas ampliem o acesso da população a essa mídia eletrônica para que as mensagens desses visionários e livres pensadores cheguem intactas a uma sociedade que se almeja emancipada, autônoma, livre dos preconceitos do passado, moderna e educada para perceber o papel político que lhes cabe desempenhar a cada virada de página.
Qual organização horizontal ou transversal deverá brotar, fruto dessa necessidade objetiva, é algo que
concretamente surgirá da prática política como tem sido até hoje, ancorada primordialmente na ampla
autonomia exercida em todo o seu potencial por cada blogueiro ou ativista e em encontros locais como já vimos acontecer, como nesse nacional que ora ocorre em Brasília e em outros que ainda veremos ao longo deste 2011 e nos anos vindouros. Propostas de lutas, linhas de atuação e mobilização, os novos fatos suscitando outros debates que a dinâmica da comunicação se incumbirá de ir dando feições originais e, a pleno vapor, a "liberdade da internet", a mesma preconizada pelo ministro Britto, livre das amarras que se utilizam para frear as utopias. Daí reafirmo, blogueiros e ativistas, organizai-vos!..., mas nem tanto.
*Antonio Fernado Araujo é colaborador deste Blog
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terça-feira, 14 de junho de 2011
O Código Florestal e a violência no campo
Em média, por ano, 2.709 famílias são expulsas de suas terras e 63 pessoas são assassinadas no campo brasileiro na luta por um pedaço de terra A violência é parte essencial da história dos pobres da terra: índios, negros, camponeses. Ela, por sua vez, é alimentada pela impunidade – fenômeno sócio-político conscientemente assimilado pela nossa instituição judiciária.
Por Dom Tomás Balduíno*
No mês de maio deste ano, desabaram sobre a sociedade brasileira cenas de uma dupla violência: a aprovação do Código Florestal pela maioria da Câmara dos Deputados, tratando do desmatamento, e os assassinatos de líderes camponeses que se opunham ao desmatamento na Amazônia.
A ninguém escapa o protagonismo da bancada ruralista pressionando a votação deste Código por meio de mobilizações de pessoal contratado em Brasília e através de sessões apaixonadas na Câmara dos deputados. Por outro lado, as investigações dos assassinatos vão detectando poderosos ruralistas por trás destas e de outras mortes de camponeses.
O Código tem, de ponta a ponta, um objetivo maior inegável: ampliar o desmatamento em vista do aumento da produção. Um estudo técnico sobre as mudanças aprovadas em Brasília assinala que elas permitem o desmatamento imediato de 710 mil km², mais que o dobro do território do Estado de Goiás.
É impressionante a fúria com que este instrumento legal avança sobre as áreas de preservação dos mananciais destinadas a criar uma esponja à beira dos rios, defendendo-os das enxurradas e impedindo o seu assoreamento. A legislação anterior, embora tímida, exigia uma faixa de 30 metros de cada lado. A atual legislação a reduz para ridículos 10 metros.
A reserva legal, religiosamente mantida pelas pequenas e médias propriedades, é o que ainda hoje dá uma visível cobertura de vegetação nativa em nossos diversos biomas, em razão do grande número de médios e pequenos estabelecimentos. Isso também desaparece. Aliás, o Código não cuida da agricultura familiar que é responsável por cerca de 70% dos alimentos que chegam à mesa do brasileiro.
O Código se ajusta muito mais às áreas desmatadas a perder de vista e destinadas a gigantescas monoculturas. A grande expectativa com relação a esse Código é que se consolidasse a proposta já transformada em lei, de recuperação das áreas devastadas. Para nossa decepção, deixa-as como estão. Nós, do Centro Oeste, estávamos sonhando com a recuperação das áreas de preservação permanente do rio Araguaia, nosso Pantanal, sobretudo das suas nascentes, desmatadas em 44,5%. O sonho virou pesadelo. Com efeito, a nova Lei deixa tudo como está.
Até hoje, a grande queixa com relação aos desmatamentos no Cerrado e na Amazônia se prendia à falta de fiscalização. Entretanto, é justo reconhecer que muito esforço se fez buscando garantir a lei. Por exemplo, a varredura das áreas via satélite. Infelizmente, tornou-se uma prática nefasta na Amazônia os proprietários aguardarem dias nublados para procederem à queima das árvores. Ao se abrir o céu, o desmatamento já é fato consumado.
Em um dos Fóruns do Cerrado foram ouvidos depoimentos de camponeses denunciando outro tipo de crime: o desmatamento rápido à noite de importantes áreas de Cerrado com o uso de máquinas possantes, sem o risco de fiscalização.
Agora, com a flexibilização do novo Código, não há mais necessidade de fiscalização. Mais ainda, alguns proprietários, sabendo com antecedência das permissividades e anistias a serem introduzidas por este código nas áreas devastadas ilegalmente, partiram logo para a criação de fatos consumados derrubando a cobertura verde. O título do brilhante artigo de Washignton Novais em “O Popular”, de 02 de junho, na página 7, é o seguinte: “Código de florestas ou sem?”. A nova lei foi apelidada também de “Código da desertificação”.
País do latifúndio
O que estaria por trás de tanta devastação e de tanta lenha acumulada? É o seguinte: apesar da apregoada excelência dos avanços técnicos e econômicos do agronegócio brasileiro, os dados da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), referentes ao ano de 2009, em relação à produção por hectare, puseram a nu o fato, por exemplo, de que o Brasil está na sofrível 37ª posição na produção de arroz, atrás de países como El Salvador, Peru, Somália e Ruanda.
No milho, ocupamos a 64ª posição. No trigo, um vexame, na 72ª posição. Na soja, o badalado carro-chefe do agronegócio brasileiro um modesto 9º lugar, atrás do Egito, da Turquia e da Guatemala. Com relação ao boi, motivo de tanta soberba, de ostentação, de riqueza nas festas agro-pecuárias, ocupamos a humilde 48ª posição, atrás do Chile, do Uruguai e do Paraguai. (Confiram mais dados no substancioso artigo de Gerson Teixeira, Brasília, 19.05.11, “As Mudanças no Código Florestal: Alternativa para a ineficiência produtivista do agronegócio”).
A produção agropecuária sofre pelos altos gastos devido ao viciado uso do fertilizante e do agrotóxico. Os dados da FAO atestam que, a partir de 2007, nos transformamos no principal país importador de agrotóxico do mundo. Como essa tecnologia, em geral, tem se revelado ainda ineficaz na sonhada superprodução, pensou-se logo na liberação de áreas cada vez maiores de terras destinadas à produção. Se não vencemos em tecnologia, somos imbatíveis no latifúndio. E, para a tranqüilidade deste avanço predatório sobre o que resta de cobertura verde, buscou-se um instrumento garantido: justamente esse tal Código Florestal.
Apesar da complexidade deste tema, de pesadas conseqüências para o futuro da nossa terra, da nossa biodiversidade, dos recursos hídricos, da vida sustentável do solo, causou muita estranheza o fato destes legisladores não terem convidado em momento algum a nossa SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) a ABC, (Academia Brasileira de Ciências) o FBM (Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas) para os debates. Pois bem, aí está o desastroso resultado: saiu um código elaborado por ruralistas a serviço de seus colegas ruralistas. Restou-nos, como disse Paulo Afonso Lemos, “um código que não é claro, não é preciso, não é seguro”.
Mortes no campo
Em dezembro de 1988 caiu Chico Mendes, tal como uma pujante seringueira cortada pela raiz. No início de 2005, caiu a irmã Dorothy Stang, atirada pelas costas com a sua Bíblia na mão, sua pomba mensageira da Paz. Na manhã do dia 24 de maio deste ano, derrubaram o casal Maria do Espírito Santo da Silva e José Cláudio Ribeiro da Silva, cuja orelha foi cortada pelos pistoleiros como prova do serviço feito. Logo em seguida, foi assassinado Eremilton Pereira, na mesma área. Supõe-se que tenha sido queima de arquivo por estar presente na hora do primeiro crime. Foi morto também Adelino Ramos, em Rondônia, um sobrevivente de Corumbiara.
Há uma lógica perversa por trás destas e de outras mortes, desde a morte de Zumbi dos Palmares e de Antônio Conselheiro de Canudos, até a morte de José Cláudio da Silva, de Nova Ipixuna. Esta lógica consiste na eliminação seletiva de lideranças vistas como obstáculo aos grandes projetos do agronegócio. A senadora Kátia Abreu, arvorando-se em advogada dos criminosos, declarou no mesmo dia 24 que estas mortes se devem à invasão de terras. A senadora ou é desinformada ou foi leviana na sua fala. Ao contrário, eles são legítimos assentados do Incra. Mais ainda, são dois heróicos pioneiros da criação da reserva extrativista do Assentamento Praia Alta Piranheira, em 1997.
Fazendo coro conivente com a parlamentar ruralista, alguns deputados vaiaram o deputado José Sarney Filho quando este leu no plenário da Câmara a chocante notícia das mortes destes camponeses. A nota da Comissão da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) para o serviço da Caridade, da Justiça e da Paz, faz justiça aos assassinados, fornecendo-nos uma preciosidade, a saber, a declaração de José Cláudio, em um plenário de 400 pessoas reunidas para estudarem a qualidade de vida do planeta:
“Vivo da floresta, protejo ela de todo jeito, por isso vivo com a bala na cabeça a qualquer hora porque vou pra cima, eu denuncio. Quando vejo uma árvore em cima do caminhão indo pra serraria me dá uma dor. É como o cortejo fúnebre levando o ente mais querido que você tem, porque isso é vida pra mim que vivo na floresta e pra vocês também que vivem nos centros urbanos”.
Em média, por ano, 2.709 famílias são expulsas de suas terras pelo poder privado e 63 pessoas são assassinadas no campo brasileiro na luta por um pedaço de terra! 13.815 famílias são despejadas pelo Poder Judiciário e pelo Poder Executivo por meio de suas polícias! 422 pessoas são presas por lutar pela terra! 765 conflitos acontecem diretamente relacionados à luta pela terra! 92.290 famílias são envolvidas em conflitos por terra!
Carlos Walter Porto Gonçalves, professor do programa de pós-graduação da Universidade Federal Fluminense (UFF), ao analisar anualmente os Cadernos de Conflitos no Campo da CPT, introduziu a preocupação com a geografia dos conflitos. Comparando e ponderando o número de conflitos com o número de habitantes na zona rural de cada estado, trouxe à tona a importante constatação de que o aumento da violência acontece em função do desenvolvimento do agronegócio.
A violência não acontece, pois, só nas áreas do atraso, acontece, sobretudo, nos centros mais progressistas do país. “A violência”, diz ele, “é mais intensa nos estados onde a dinâmica sociogeográfica está fortemente marcada pela influência da expansão dos modernos latifúndios (autodenominados agronegócio). É no Centro oeste e no Norte que as últimas fronteiras agrícolas são conquistadas às custas do sofrimento e do sangue dos trabalhadores e dos que os apóiam” ( Caderno da CPT, 2005, pág. 185).
Diz ele: “O agronegócio necessita permanentemente incorporar novas terras e para isso lança mão de todos os mecanismos de que dispõe: os de mercado, os políticos e a violência”. A violência é parte essencial da história dos pobres da terra: índios, negros, camponeses. Ela, por sua vez, é alimentada pela impunidade, fenômeno sócio-político conscientemente assimilado pela nossa instituição judiciária.
A CPT tem a famosa tabela dos assassinatos e julgamentos de 1985 a 2011:
Assassinatos: 1580.
Casos julgados: 91
Executores condenados: 73
Executores absolvidos: 51
Mandantes absolvidos: 7
Mandantes condenados: 21
Mandantes hoje presos: 1
Conclusão: de 1580 assassinados, só um mandante condenado se encontra na prisão! Essa é a medida da impunidade!
Encerrando esta análise da dupla violência do agronegócio, consubstanciada na violência contra a terra e na violência contra a pessoa humana, não posso deixar de destacar a contrapartida deste modelo, a saber, a nova busca do “cuidado” como lição que nos é dada pelos povos tradicionais. As comunidades indígenas vivem isto como algo que está profundamente entranhado na alma, leva-as a se entrosarem harmoniosamente com a Mãe Terra, a se entrosarem pessoas com pessoas, com a memória dos antepassados e com o próprio Deus.
A Terra, como se diz, está doente e ameaçada. Hoje, felizmente, vai se desenvolvendo a cultura ecológica que consiste no cuidado não só com o ser humano, mas com o planeta inteiro. O planeta não cuidado, como ensina Leonardo Boff, pode entrar num processo de enfermidade, diminuir a biosfera com conseqüências de que milhares vão desaparecer, não excluída a própria espécie humana.
Uma outra luz nos vem destes povos e de suas culturas. É o “bem viver”. É uma vida voltada para os valores humanos e espirituais e não presa às coisas, às riquezas, ao consumismo.
Na minha juventude, tive a chance de conviver com um grupo indígena, bem primitivo, no coração da Amazônia. Fiquei encantado ao descobrir, entre outras jóias, que, na língua deles, não existe o verbo TER. Um povo que vive feliz e que, no entanto, não acumula. Gente que faz do necessário o suficiente. A melhor prova desta felicidade está na constatação da alegria espontânea das crianças. Elas são o melhor espelho do povo.
*Dom Tomás Balduíno é assessor da Comissão Pastoral da Terra, teólogo e bispo dominicano.
Por Dom Tomás Balduíno*
No mês de maio deste ano, desabaram sobre a sociedade brasileira cenas de uma dupla violência: a aprovação do Código Florestal pela maioria da Câmara dos Deputados, tratando do desmatamento, e os assassinatos de líderes camponeses que se opunham ao desmatamento na Amazônia.
A ninguém escapa o protagonismo da bancada ruralista pressionando a votação deste Código por meio de mobilizações de pessoal contratado em Brasília e através de sessões apaixonadas na Câmara dos deputados. Por outro lado, as investigações dos assassinatos vão detectando poderosos ruralistas por trás destas e de outras mortes de camponeses.
O Código tem, de ponta a ponta, um objetivo maior inegável: ampliar o desmatamento em vista do aumento da produção. Um estudo técnico sobre as mudanças aprovadas em Brasília assinala que elas permitem o desmatamento imediato de 710 mil km², mais que o dobro do território do Estado de Goiás.
É impressionante a fúria com que este instrumento legal avança sobre as áreas de preservação dos mananciais destinadas a criar uma esponja à beira dos rios, defendendo-os das enxurradas e impedindo o seu assoreamento. A legislação anterior, embora tímida, exigia uma faixa de 30 metros de cada lado. A atual legislação a reduz para ridículos 10 metros.
A reserva legal, religiosamente mantida pelas pequenas e médias propriedades, é o que ainda hoje dá uma visível cobertura de vegetação nativa em nossos diversos biomas, em razão do grande número de médios e pequenos estabelecimentos. Isso também desaparece. Aliás, o Código não cuida da agricultura familiar que é responsável por cerca de 70% dos alimentos que chegam à mesa do brasileiro.
O Código se ajusta muito mais às áreas desmatadas a perder de vista e destinadas a gigantescas monoculturas. A grande expectativa com relação a esse Código é que se consolidasse a proposta já transformada em lei, de recuperação das áreas devastadas. Para nossa decepção, deixa-as como estão. Nós, do Centro Oeste, estávamos sonhando com a recuperação das áreas de preservação permanente do rio Araguaia, nosso Pantanal, sobretudo das suas nascentes, desmatadas em 44,5%. O sonho virou pesadelo. Com efeito, a nova Lei deixa tudo como está.
Até hoje, a grande queixa com relação aos desmatamentos no Cerrado e na Amazônia se prendia à falta de fiscalização. Entretanto, é justo reconhecer que muito esforço se fez buscando garantir a lei. Por exemplo, a varredura das áreas via satélite. Infelizmente, tornou-se uma prática nefasta na Amazônia os proprietários aguardarem dias nublados para procederem à queima das árvores. Ao se abrir o céu, o desmatamento já é fato consumado.
Em um dos Fóruns do Cerrado foram ouvidos depoimentos de camponeses denunciando outro tipo de crime: o desmatamento rápido à noite de importantes áreas de Cerrado com o uso de máquinas possantes, sem o risco de fiscalização.
Agora, com a flexibilização do novo Código, não há mais necessidade de fiscalização. Mais ainda, alguns proprietários, sabendo com antecedência das permissividades e anistias a serem introduzidas por este código nas áreas devastadas ilegalmente, partiram logo para a criação de fatos consumados derrubando a cobertura verde. O título do brilhante artigo de Washignton Novais em “O Popular”, de 02 de junho, na página 7, é o seguinte: “Código de florestas ou sem?”. A nova lei foi apelidada também de “Código da desertificação”.
País do latifúndio
O que estaria por trás de tanta devastação e de tanta lenha acumulada? É o seguinte: apesar da apregoada excelência dos avanços técnicos e econômicos do agronegócio brasileiro, os dados da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), referentes ao ano de 2009, em relação à produção por hectare, puseram a nu o fato, por exemplo, de que o Brasil está na sofrível 37ª posição na produção de arroz, atrás de países como El Salvador, Peru, Somália e Ruanda.
No milho, ocupamos a 64ª posição. No trigo, um vexame, na 72ª posição. Na soja, o badalado carro-chefe do agronegócio brasileiro um modesto 9º lugar, atrás do Egito, da Turquia e da Guatemala. Com relação ao boi, motivo de tanta soberba, de ostentação, de riqueza nas festas agro-pecuárias, ocupamos a humilde 48ª posição, atrás do Chile, do Uruguai e do Paraguai. (Confiram mais dados no substancioso artigo de Gerson Teixeira, Brasília, 19.05.11, “As Mudanças no Código Florestal: Alternativa para a ineficiência produtivista do agronegócio”).
A produção agropecuária sofre pelos altos gastos devido ao viciado uso do fertilizante e do agrotóxico. Os dados da FAO atestam que, a partir de 2007, nos transformamos no principal país importador de agrotóxico do mundo. Como essa tecnologia, em geral, tem se revelado ainda ineficaz na sonhada superprodução, pensou-se logo na liberação de áreas cada vez maiores de terras destinadas à produção. Se não vencemos em tecnologia, somos imbatíveis no latifúndio. E, para a tranqüilidade deste avanço predatório sobre o que resta de cobertura verde, buscou-se um instrumento garantido: justamente esse tal Código Florestal.
Apesar da complexidade deste tema, de pesadas conseqüências para o futuro da nossa terra, da nossa biodiversidade, dos recursos hídricos, da vida sustentável do solo, causou muita estranheza o fato destes legisladores não terem convidado em momento algum a nossa SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) a ABC, (Academia Brasileira de Ciências) o FBM (Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas) para os debates. Pois bem, aí está o desastroso resultado: saiu um código elaborado por ruralistas a serviço de seus colegas ruralistas. Restou-nos, como disse Paulo Afonso Lemos, “um código que não é claro, não é preciso, não é seguro”.
Mortes no campo
Em dezembro de 1988 caiu Chico Mendes, tal como uma pujante seringueira cortada pela raiz. No início de 2005, caiu a irmã Dorothy Stang, atirada pelas costas com a sua Bíblia na mão, sua pomba mensageira da Paz. Na manhã do dia 24 de maio deste ano, derrubaram o casal Maria do Espírito Santo da Silva e José Cláudio Ribeiro da Silva, cuja orelha foi cortada pelos pistoleiros como prova do serviço feito. Logo em seguida, foi assassinado Eremilton Pereira, na mesma área. Supõe-se que tenha sido queima de arquivo por estar presente na hora do primeiro crime. Foi morto também Adelino Ramos, em Rondônia, um sobrevivente de Corumbiara.
Há uma lógica perversa por trás destas e de outras mortes, desde a morte de Zumbi dos Palmares e de Antônio Conselheiro de Canudos, até a morte de José Cláudio da Silva, de Nova Ipixuna. Esta lógica consiste na eliminação seletiva de lideranças vistas como obstáculo aos grandes projetos do agronegócio. A senadora Kátia Abreu, arvorando-se em advogada dos criminosos, declarou no mesmo dia 24 que estas mortes se devem à invasão de terras. A senadora ou é desinformada ou foi leviana na sua fala. Ao contrário, eles são legítimos assentados do Incra. Mais ainda, são dois heróicos pioneiros da criação da reserva extrativista do Assentamento Praia Alta Piranheira, em 1997.
Fazendo coro conivente com a parlamentar ruralista, alguns deputados vaiaram o deputado José Sarney Filho quando este leu no plenário da Câmara a chocante notícia das mortes destes camponeses. A nota da Comissão da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) para o serviço da Caridade, da Justiça e da Paz, faz justiça aos assassinados, fornecendo-nos uma preciosidade, a saber, a declaração de José Cláudio, em um plenário de 400 pessoas reunidas para estudarem a qualidade de vida do planeta:
“Vivo da floresta, protejo ela de todo jeito, por isso vivo com a bala na cabeça a qualquer hora porque vou pra cima, eu denuncio. Quando vejo uma árvore em cima do caminhão indo pra serraria me dá uma dor. É como o cortejo fúnebre levando o ente mais querido que você tem, porque isso é vida pra mim que vivo na floresta e pra vocês também que vivem nos centros urbanos”.
Em média, por ano, 2.709 famílias são expulsas de suas terras pelo poder privado e 63 pessoas são assassinadas no campo brasileiro na luta por um pedaço de terra! 13.815 famílias são despejadas pelo Poder Judiciário e pelo Poder Executivo por meio de suas polícias! 422 pessoas são presas por lutar pela terra! 765 conflitos acontecem diretamente relacionados à luta pela terra! 92.290 famílias são envolvidas em conflitos por terra!
Carlos Walter Porto Gonçalves, professor do programa de pós-graduação da Universidade Federal Fluminense (UFF), ao analisar anualmente os Cadernos de Conflitos no Campo da CPT, introduziu a preocupação com a geografia dos conflitos. Comparando e ponderando o número de conflitos com o número de habitantes na zona rural de cada estado, trouxe à tona a importante constatação de que o aumento da violência acontece em função do desenvolvimento do agronegócio.
A violência não acontece, pois, só nas áreas do atraso, acontece, sobretudo, nos centros mais progressistas do país. “A violência”, diz ele, “é mais intensa nos estados onde a dinâmica sociogeográfica está fortemente marcada pela influência da expansão dos modernos latifúndios (autodenominados agronegócio). É no Centro oeste e no Norte que as últimas fronteiras agrícolas são conquistadas às custas do sofrimento e do sangue dos trabalhadores e dos que os apóiam” ( Caderno da CPT, 2005, pág. 185).
Diz ele: “O agronegócio necessita permanentemente incorporar novas terras e para isso lança mão de todos os mecanismos de que dispõe: os de mercado, os políticos e a violência”. A violência é parte essencial da história dos pobres da terra: índios, negros, camponeses. Ela, por sua vez, é alimentada pela impunidade, fenômeno sócio-político conscientemente assimilado pela nossa instituição judiciária.
A CPT tem a famosa tabela dos assassinatos e julgamentos de 1985 a 2011:
Assassinatos: 1580.
Casos julgados: 91
Executores condenados: 73
Executores absolvidos: 51
Mandantes absolvidos: 7
Mandantes condenados: 21
Mandantes hoje presos: 1
Conclusão: de 1580 assassinados, só um mandante condenado se encontra na prisão! Essa é a medida da impunidade!
Encerrando esta análise da dupla violência do agronegócio, consubstanciada na violência contra a terra e na violência contra a pessoa humana, não posso deixar de destacar a contrapartida deste modelo, a saber, a nova busca do “cuidado” como lição que nos é dada pelos povos tradicionais. As comunidades indígenas vivem isto como algo que está profundamente entranhado na alma, leva-as a se entrosarem harmoniosamente com a Mãe Terra, a se entrosarem pessoas com pessoas, com a memória dos antepassados e com o próprio Deus.
A Terra, como se diz, está doente e ameaçada. Hoje, felizmente, vai se desenvolvendo a cultura ecológica que consiste no cuidado não só com o ser humano, mas com o planeta inteiro. O planeta não cuidado, como ensina Leonardo Boff, pode entrar num processo de enfermidade, diminuir a biosfera com conseqüências de que milhares vão desaparecer, não excluída a própria espécie humana.
Uma outra luz nos vem destes povos e de suas culturas. É o “bem viver”. É uma vida voltada para os valores humanos e espirituais e não presa às coisas, às riquezas, ao consumismo.
Na minha juventude, tive a chance de conviver com um grupo indígena, bem primitivo, no coração da Amazônia. Fiquei encantado ao descobrir, entre outras jóias, que, na língua deles, não existe o verbo TER. Um povo que vive feliz e que, no entanto, não acumula. Gente que faz do necessário o suficiente. A melhor prova desta felicidade está na constatação da alegria espontânea das crianças. Elas são o melhor espelho do povo.
*Dom Tomás Balduíno é assessor da Comissão Pastoral da Terra, teólogo e bispo dominicano.
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violência no campo
segunda-feira, 13 de junho de 2011
O negócio europeu das emissões perversas (II)
por Daan Bawens*, da IPS
Bruxelas, Bélgica, 13/6/2011 – Semanas antes da cúpula climática do ano passado, em Cancún, no México, a comissária europeia de Ação pelo Clima, Connie Hedegaard, propôs a proibição, a partir de 1º de janeiro de 2013, de todos os créditos de hidrofluorocarbonos (HFC) no Sistema Europeu de Comércio de Emissões Contaminantes. A base da proposta é que na época terá expirado a segunda fase desse Sistema, após o qual poderão ser aplicadas novas normas. Grupos de pressão da indústria e organizações empresariais resistiram à proibição.
O não governamental Observatório Corporativo Europeu, com sede em Bruxelas, fez uso das Regulações de Liberdade de Expressão e Informação para obter documentos e reconstruir a história completa. O BusinessEurope é o grupo de pressão mais influente em Bruxelas, e representa 40 federações de industriais e empregadores de 34 países europeus. Em outubro de 2010, seu diretor-geral, Philippe de Buck, enviou uma carta a Hedegaard e ao comissário de Indústria e Empreendimento, Antonio Tajani, na qual manifestava sua oposição a limitar o uso de créditos derivados do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).
O MDL, previsto no Protocolo de Kyoto, permite às empresas de nações industrializadas “compensarem” seu excesso de emissões de gases-estufa comprando Certificados de Redução de Emissões (CRE) em países em desenvolvimento. O processo é controlado pelo Conselho Executivo do MDL, que funciona na órbita da Organização das Nações Unidas (ONU).
O BusinessEurope também fez uso de um novo empregado que acabava de encerrar três anos de trabalho na Comissão Europeia de Indústria e Empreendimento. Em um email enviado aos seus ex-colegas dessa Comissão, este funcionário se refere a um recente encontro de despedida com seus companheiros e expressa seu desejo de continuarem a trabalhar juntos com ele em sua nova função de lobby. Em um arquivo anexo à mensagem, envia o documento da BusinessEurope que se opõe à proibição.
O gigante italiano da energia Enel figura como investidor em sete dos 19 projetos de HFC que receberam CRE. Um terço da empresa é propriedade do governo italiano. Em novembro de 2010, o diretor de Relações Institucionais Europeias da Enel, Roberto Zangrandi, enviou uma carta a vários membros do Parlamento Europeu dizendo que “é crucial a confiança no sistema e nos procedimentos da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática e do MDL, a fim de garantir a integridade e a credibilidade deste mecanismo”.
Contudo, apenas duas semanas antes, Zangrandi enviara outra carta a Antonio Preto, membro do gabinete de Tajani, convidando-o para uma conversação amistosa sobre um problema sério: Zangrandi explica ali que, se for proibido o comércio de créditos de HFC em 1º de janeiro de 2013, sua empresa perderá, “pelo menos, 20 milhões de créditos com um valor significativo”.
Em entrevista publicada em novembro no site PointCarbon.com, que se dedica aos mercados de carbono, Simone Ruiz, diretora de Políticas Europeias na Associação Internacional de Comércio de Emissões, disse que a Direção-Geral de Empresa e Indústria tentaria adiar essa data. Segundo o PointCarbon.com, adiá-la por apenas quatro semanas significaria o ingresso de 30 milhões a 100 milhões extras de créditos de HFC no mercado europeu. Deste modo, as empresas poderiam fazer pleno uso dos créditos nos quais tivessem investido.
Para Eva Filzmoser, diretora de programa do não governamental CDM Watch, os lobistas se comportaram de maneira pouco ética. “O correto é insistir em uma investigação detalhada, esperar as conclusões e tomar uma decisão”, afirmou à IPS. “Muitos investidores decidiram pôr dinheiro nestes projetos só depois que a Comissão Europeia (braço executivo da União Europeia) abriu a porta para possíveis restrições em 2008. Foi um risco calculado, e a maioria dos investidores já havia recebido créditos em abundância. Além disso, alguns investidores nos disseram informalmente que sabiam que fábricas indianas e chinesas estavam aumentando a produção de HFC para impulsionar os créditos”, acrescentou.
Em junho de 2010, a CDM Watch, com sede em Bonn, e a Agência de Investigação Ambiental (EIA), com escritórios em Washington e Londres, descobriram que os governos e as corporações europeias haviam feito um flagrante mau uso do MDL. De todos os CRE, 59% se originaram nos mesmos 19 projetos, embora houvesse 2.800 projetos registrados no MDL. Todas estas 19 iniciativas produziam HCFC-22, um gás refrigerante proibido nos Estados Unidos e na Europa no contexto do Protocolo de Montreal Relativo às Substâncias que Esgotam a Camada de Ozônio. Nos países em desenvolvimento, este gás deve ser eliminado até 2030.
Entretanto, a indústria acabou conseguindo o que pedia quando, em 21 de janeiro deste ano, a Comissão Europeia divulgou sua proposta final: a data para entrada em vigor da proibição foi adiada de 1º de janeiro para 30 de abril de 2013. Segundo estimativas, isto fará com que 53 milhões de CRE extras ingressem no mercado europeu, permitindo que as empresas lancem na atmosfera um volume desse gás equivalente ao que é emitido pela Bélgica por ano. Envolverde/IPS
* Esta é a segunda e última reportagem sobre a forma como corporações e governos europeus se beneficiam economicamente de um vazio legal do Protocolo de Kyoto.
(IPS)
Nota: veja a primeira reportagem da série, que republicamos no dia 10 de junho de 2011.
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Petroleiros estão ao lado dos bombeiros, na luta por direitos e justiça social
A campanha O Petróleo Tem que Ser Nosso está solidária com os bombeiros do Rio de Janeiro. Participam da nossa campanha, que propõe o controle do estado brasileiro sobre todo o petróleo nacional (Petrobras 100% estatal e pública), dezenas de sindicatos, centrais sindicais, movimentos sociais, instituições civis, movimentos estudantis, representações partidárias. Nesse momento, em nome conjunto dessas representações, bradamos: Somos todos bombeiros! e conclamamos a população a se vestir de vermelho, pendurar panos vermelhos nas janelas e fachadas, usar braçadeiras e fitas nos carros, até o atendimento das reivindicações desses trabalhadores e a libertação dos presos.
Por que a nossa campanha não pode se omitir, diante do que está acontecendo com bombeiros e guardavidas? Porque a Bacia de Campos é a maior província petrolífera do Brasil, responsável por mais de 80% da produção nacional, além de possuir as maiores reservas provadas já identificadas e classificadas no país. O estado é o que mais investimento recebe do governo federal, além de ter a segunda maior arrecadação de impostos. No entanto, os bombeiros fluminenses são os mais mal pagos do Brasil! Em Brasília, o piso salarial está acima de R$ 4 mil. No Rio de Janeiro, o salário líquido está em torno de R$ 900 por mês, sem vale-transporte!
De que adianta tanto petróleo no mar, se a exploração dessa riqueza não trouxer benefícios para o povo brasileiro? Campos, a terra do petróleo, é recordista em trabalho escravo. No caso dos bombeiros e demais servidores públicos, pagar salários dignos e oferecer boas condições de trabalho é o mínimo que se pode exigir.
Afinal, para onde vão os royalties? A campanha O Petróleo Tem que Ser Nosso propõe que a população tenha controle sobre esses gastos e investimentos. Vamos explorar o petróleo para sanar os graves problemas de educação, saúde, desemprego, moradia, reformas agrária e urbana, a partir de um projeto popular para o Brasil. E não para encher os bolsos dos empresários!
É revoltante e inaceitável agredir, desrespeitar, prender e pagar salários de fome aqueles que salvam vidas. Petroleiros e bombeiros estão juntos em vários momentos. São trabalhadores e trabalhadoras. Não são bandidos. São heróis. Seja nas grandes tragédias nas enchentes ou desastres ambientais muitas vezes provocados pelo próprio petróleo seja na luta cotidiana pela sobrevivência e por melhores condições de vida para o povo trabalhador, bombeiros e guardavidas estão sempre arriscando a própria pele, para ajudar o próximo. Por tudo isso, manifestamos o nosso apoio e solidariedade a essa luta. Até a vitória!
Em 1995, a nação inteira se tornou petroleira, na luta contra o neoliberalismo e a privatização da Petrobrás. Hoje somos todos bombeiros!
"Cabral, mobilização é um direito, não é crime! Não à criminalização dos movimentos sociais!"
Campanha O Petróleo Tem que Ser Nosso: Sindipetro-RJ, MST, FNP, Consulta Popular, Assembleia Popular, CUT, CSP-Conlutas, Intersindical, MTD, MTD pela Base, FIST, Casa da América Latina e dezenas de outras organizações.
sábado, 11 de junho de 2011
A LEITÃO DOS BANQUEIROS
Laerte Braga
A mediocridade na mídia privada é algo que assusta e causa engulhos. Há alguns anos atrás os banqueiros tinham suas políticas justificadas pela inteligência do jornalista Paulo Francis. Inteligência, cinismo e uma devastadora forma de escrever ou falar, tanto quanto de cantar mais de duzentas marchas e sambas dos velhos carnavais no programa MANHATAN COLLECTION (hoje deve ter uns seis ou sete telespectadores mais ou menos, o forte era Francis. Morreu sobrou o resto, literalmente o resto).
E Francis tinha uma característica. Era indomável e não prestava consultoria a ninguém. Sua conversão a Wall Street se deu talvez numa visão quando andava pela Quinta Avenida. Foi um período confuso, onde chegou a afirmar que Pedro Bial e Hélio Costa (à época jornalistas da GLOBO nos EUA, eram inteligentes e faziam jornalismo de boa qualidade). J. P. Morgan deve ter aparecido a Francis e revelado algumas “verdades” sobre juros, extorsão, etc, com matizes de estátua da Liberdade
Desde a morte do jornalista a GLOBO tenta de todas as formas achar alguém que pelo menos se assemelhe a ele. Primeiro inventaram Arnaldo Jabor. Virou conselheiro sentimental, tucano de corpo e alma, sonha ser o Sartre latino-americano e acaba sendo um contorcionista confuso, lastimável, em sua busca de “hei de ser Paulo Francis”. Acaba subproduto de Paulo Coelho. A própria GLOBO já percebeu que nesse sentido é uma furada, daí ter transformado Jabor numa versão masculina de Ana Maria Braga e voltado para outras áreas.
Na impossibilidade de ter um Francis ou “coisa” próxima, juntou um elenco além de Jabor. Lúcia Hipólito, Miriam Leitão, William Waack, Ana Maria Beltrão e outros mais.
Dentre todos os protótipos fracassados de Paulo Francis que a rede tentou construir Miriam Leitão é o mais trágico. Tem consigo a marca de ser furibunda e fortemente influenciada – só pode ser – por aqueles pastores que vivem prevendo o fim do mundo.
Vai acabar amanhã. Aí não acaba. Mas a senhora continua a acreditar que está acabando.
Desde o início do governo Lula que vem prevendo crises e catástrofes que não acontecem e isso é fácil de entender. É só ler o contrário.
A senhora em epígrafe manda recado dos banqueiros. A última preocupação de Miriam Leitão são seus ouvintes ou telespectadores naquilo que é essencial. Para esses é criar a sensação que monstro subiu ao teto e a qualquer momento desce pela chaminé levando devastação. A primeira preocupação é fazer o governo saber o que vai de fato ser real se os banqueiros não forem atendidos em seus pleitos e reivindicações.
Banqueiro é uma espécie complicada, não há certeza que sejam humanos. Nem andróides e tampouco robôs. Uma experiência gerada desde os primórdios da civilização, no primeiro passo humano dado no Planeta e que foi sendo gradativamente aperfeiçoada até chegar aos porões de Wall Street, onde hoje são produzidos por máquinas especiais de tecnologia desconhecida.
O próprio Paulo Francis escreveu que se um banqueiro tiver um olho dito humano e outro de vidro, se algum chorar, vai ser o de vidro.
Aquele modelo de banqueiro inglês, por exemplo, de fraque, cartola, charuto, trancado dentro de um escritório cercado de livros caixa por todos os lados é coisa do passado. Hoje são capazes de andar pelas ruas e se misturarem a qualquer ser humano sem que despertem suspeitas. Há inclusive quem os olhe e imagine-os seres semelhantes a qualquer outro.
Miriam Leitão é a intérprete desse pessoal. Quando fala em crise que se avizinha está recomendando a alta dos juros para que o Banco Central (a jornalista tem acesso ao COPOM – CONSELHO DE POLÍTICA MONETÁRIA) na ilusão – criada propositadamente – venha com a história de inflação de demanda e permita lucros extraordinários aos bancos, naquela jogada de títulos da dívida pública com a rentabilidade que esses juros proporcionam, para enxugar o excesso de moeda.
Em cena o capital de curto prazo, que não produz nada, perambula pelo mundo inteiro no papel de abutre, chega, lucra lucros astronômicos e vai embora lépido, fagueiro e feliz.
Com isso quase a metade do orçamento do governo da União vai para pagamento dos juros, sobe a dívida interna de forma alucinante e o povo lambe com a testa na crença que há um desenvolvimento fantástico e que trezentos milhões de dólares de reserva são uma fortuna que coloca o real no mesmo patamar do dólar. O ufanismo do sujeito que não viu que o gol é do outro time.
Saúde, educação, etc, dançam.
FHC em sua costumeira e voraz forma de mentir foi o grande responsável por esse processo, difícil de desmanchar, mas desmanchável se houve vontade política.
O custo dos chamados serviços públicos (luz, telefone, transportes, etc) é que pressiona a inflação. Não é a chuva ou a geada que liquida a plantação de alface, de tomate, de batata de um pequeno produtor.
Pequeno claro, porque o grande, o latifundiário, no Brasil, é um dos mais importantes cotistas da instituição Estado (vide Código Florestal), com poder de vida e morte, seja na uso de pistoleiros, trabalho escravo, ou no tal agronegócio, os transgênicos.
Toda essa discussão passa pela reforma política, passa pela reforma de um Judiciário cheio de vícios e corrupção (de sã consciência, tem quem ache que Gilmar Mendes seja sério?), mas que não se restringe a discussões fechadas entre os próprios integrantes do clube do qual Miriam Leitão é uma das porta-vozes.
O caminho é a ampla participação popular. A revisão das estruturas monopolísticas que controlam a mídia brasileira – é parte da quadrilha das elites econômicas –, a criação de mecanismos que permitam ao brasileiro entender que essa arenga das elites de carga tributária alta é só arenga. Quem paga imposto no Brasil é a classe média, são os trabalhadores.
No duro mesmo o trabalhador brasileiro é servido à pururuca no cardápio desse esquema perverso.
As privatizações, que dona Miriam Leitão tanto defende, além dos péssimos serviços prestados (telefonia e eletricidade, por exemplo), não investem, cobram as tarifas mais altas do mundo. O lucro dos bancos no Brasil cresceu de tal ordem que espanta, em cima, principalmente, de juros altos e tarifas bancárias cobradas ao cliente.
Já o salário dos bancários...
Essa perversidade decorre do que chamam nova ordem econômica ditada pelo Consenso de Washington, evento que traçou o desenho do mundo pós União Soviética e segundo a verdade do deus mercado.
É única, é absoluta e quando falham os mecanismos políticos ou econômicos, existe guardadinho em vários lugares do mundo (inclusive na extinta Europa Ocidental, massa falida que os norte-americanos assumiram) o tal arsenal de milhares de ogivas nucleares, capazes de dissuadir qualquer tentativa de enfrentar essa canalha.
Tem sede em Wall Street, escritórios principais em Washington e Tel Aviv.
E funcionários pelo mundo inteiro, caso da senhora Miriam Leitão e toda a trupe da GLOBO.
O sonho de William Bonner é apresentar o JORNAL NACIONAL em inglês, com comentários dos “especialistas” da REDE FOX ou CNN. E presença de Sarah Palin no espetáculo de suas pernas vendendo a ideologia da castidade.
Não é bem aquela que se possa imaginar à primeira vista. É outra, do contrário Miriam Leitão não passaria nem pela porta dos fundos.
Semana passada a secretária de Estado Hilary Clinton convocou seis ex-presidentes de países da América do Sul, dentre eles FHC, agentes desse esquema, para um jantar. O objetivo era discutir o que fazer para que a América do Sul caia de joelhos mais depressa a tempo de ajudar na reeleição de Barack Obama, o Bush em versão supostamente negra (é branco engraxado de negro, como se fazia em Hollywood nos velhos tempos do racismo explícito, hoje é implícito).
O desafio de Dilma é romper esse grilhão. Um ou outro passo, mas alguns importantes foram dados por Lula. Mas não será com essa festa de clube de amigos e inimigos cordiais, partidos sem cara e face, só interesses, que se vai chegar ao desejado.
Falta povo nessa história toda.
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Piada de Rafinha Bastos: Delegada se dispõe a mostrar estado de mulher violentada
A presidente do Conselho Estadual da Condição Feminina São Paulo (CECF), delegada Rose Corrêa, disse em entrevista ao portal Comunique-se que se dispõe a esclarecer e orientar o humorista do CQC a respeito do trauma causado pelo estupro a uma mulher, após o humorista ter feito uma 'piada' sobre o crime.
“Se ele nunca viu o estado que uma mulher fica depois de ter sido estuprada, eu me disponho a levá-lo em qualquer Delegacia de Proteção à Mulher para que ele veja de perto o que é isso, como é isso e não faça piadas com um assunto tão delicado.”
Em um de seus shows de comédia stand-up em São Paulo, o comediante proferiu a seguinte ‘piada’ – que foi citada em reportagem da revista Rolling Stone de maio deste ano: "Toda mulher que eu vejo na rua reclamando que foi estuprada é feia pra caralho. Tá reclamando do quê? Deveria dar graças a Deus. Isso pra você não foi um crime, e sim uma oportunidade. Homem que fez isso [estupro] não merece cadeia, merece um abraço", disse o humorista.
Rose Corrêa critica ainda as palavras irreverentes usadas por Rafinha Bastos ao tratar do tema: “Essa forma de falar a respeito de um assunto tão sério mostra uma falta de senso, de cautela. Porque só quem viu o estado que uma mulher que é estuprada fica, sabe como é. E eu sei como é isso porque eu fui a fundadora da Primeira Delegacia da Mulher no Estado de São Paulo e atendia por 12, 13 horas diárias mulheres vítimas de estupro. Sabe, isso abala a estrutura da pessoa, destrói casamentos, marca demais a vida de quem passa por essa situação. Fora o constrangimento que a mulher passa em todo o processo”, reforça a delegada.
Repúdio
A polêmica declaração levou a Secretaria de Políticas para as Mulheres e o Conselho Estadual da Condição Feminina São Paulo a publicarem notas de repúdio contra as declarações do humorista.
Em seu pronunciamento, o CECF afirma que a 'piada' feita por Rafinha Bastos é de conteúdo machista e preconceituoso, além de encorajar os homens a praticarem a violência contra a mulher, que na Constituição Brasileira, é considerada crime hediondo.
Rafinha se defendeEm contato com a nossa reportagem via e-mail nesta manhã, o apresentador afirmou o seguinte: “Se os comediantes tiverem que responder por toda piada que fazem, não vão ter tempo pra mais nada na vida. Nem pra fazer comédia".
Fonte: Portal Comunique-se
Nota: Regulamentar a mídia é fundamental, para que o desrespeito não se propague.(Zilda Ferreira).
“Se ele nunca viu o estado que uma mulher fica depois de ter sido estuprada, eu me disponho a levá-lo em qualquer Delegacia de Proteção à Mulher para que ele veja de perto o que é isso, como é isso e não faça piadas com um assunto tão delicado.”
Em um de seus shows de comédia stand-up em São Paulo, o comediante proferiu a seguinte ‘piada’ – que foi citada em reportagem da revista Rolling Stone de maio deste ano: "Toda mulher que eu vejo na rua reclamando que foi estuprada é feia pra caralho. Tá reclamando do quê? Deveria dar graças a Deus. Isso pra você não foi um crime, e sim uma oportunidade. Homem que fez isso [estupro] não merece cadeia, merece um abraço", disse o humorista.
Rose Corrêa critica ainda as palavras irreverentes usadas por Rafinha Bastos ao tratar do tema: “Essa forma de falar a respeito de um assunto tão sério mostra uma falta de senso, de cautela. Porque só quem viu o estado que uma mulher que é estuprada fica, sabe como é. E eu sei como é isso porque eu fui a fundadora da Primeira Delegacia da Mulher no Estado de São Paulo e atendia por 12, 13 horas diárias mulheres vítimas de estupro. Sabe, isso abala a estrutura da pessoa, destrói casamentos, marca demais a vida de quem passa por essa situação. Fora o constrangimento que a mulher passa em todo o processo”, reforça a delegada.
Repúdio
A polêmica declaração levou a Secretaria de Políticas para as Mulheres e o Conselho Estadual da Condição Feminina São Paulo a publicarem notas de repúdio contra as declarações do humorista.
Em seu pronunciamento, o CECF afirma que a 'piada' feita por Rafinha Bastos é de conteúdo machista e preconceituoso, além de encorajar os homens a praticarem a violência contra a mulher, que na Constituição Brasileira, é considerada crime hediondo.
Rafinha se defendeEm contato com a nossa reportagem via e-mail nesta manhã, o apresentador afirmou o seguinte: “Se os comediantes tiverem que responder por toda piada que fazem, não vão ter tempo pra mais nada na vida. Nem pra fazer comédia".
Fonte: Portal Comunique-se
Nota: Regulamentar a mídia é fundamental, para que o desrespeito não se propague.(Zilda Ferreira).
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sexta-feira, 10 de junho de 2011
O negócio europeu das emissões perversas ( I )
por Daan Bawens, da IPS
Bruxelas, Bélgica, 10/6/2011 – Corporações e governos europeus aproveitam, há anos, um vazio legal do Protocolo de Kyoto sobre mudança climática para obter ganhos exorbitantes. Várias fontes indicam que esse lucrativo esquema causou mais contaminação do que nunca antes. O Protocolo de Kyoto (assinado em 1997 e em vigor desde 2005) permite às empresas europeias “compensarem” seu excesso de emissões de gás-estufa comprando redução de emissões em países pobres.
Esta disposição é o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Os requisitos para incluir nele projetos no exterior e a emissão de créditos de carbono – que neste caso se chamam certificados de redução de emissões (CRE) – são controlados pelo Conselho Executivo do MDL, que funciona na órbita da Organização das Nações Unidas (ONU).
Cada CRE equivale a uma tonelada de dióxido de carbono que não foi lançada na atmosfera. E é entregue ao responsável pelo projeto, após certificar que a redução realmente ocorreu. Estes CRE podem gerar instrumentos comercializáveis, sujeitos às leis da oferta e da demanda.
Em junho de 2010, duas organizações não governamentais ambientalistas – CDM Watch, com sede em Bonn, e a Agência de Pesquisa Ambiental (EIA), com escritórios em Washington e Londres – descobriram que governos e corporações europeias estavam fazendo um flagrante mau uso do MDL.
De todos os CRE, 59% se originaram nos mesmos 19 projetos, embora no MDL estejam registrados 2.800 projetos. Os 19 projetos produziam HCFC-22, um gás refrigerante proibido nos Estados Unidos e na Europa no contexto do Protocolo de Montreal Relativo às Substâncias que Esgotam a Camada de Ozônio. Nos países em desenvolvimento, este gás deverá estar eliminado até 2030.
HCFC é a sigla para os hidroclorofluorocarbonos, e também é um “supergás de efeito estufa”, 1.810 vezes mais potente do que o dióxido de carbono. Além disso, o HFC-23, subproduto da manufatura do HCFC-22, é 11.700 vezes mais prejudicial do que o dióxido de carbono.
Quando os produtores do gás refrigerante decidem queimar esse subproduto HFC-23 em lugar de liberá-lo na atmosfera, estão aptos a receberem numerosos créditos concedidos sob o MDL. A queima de uma tonelada de HFC-23 permite adquirir 11.700 créditos de emissão para a unidade que queima o gás. Este negócio se mostrou muito lucrativo. A queima do equivalente a uma tonelada de dióxido de carbono custa apenas US$ 0,25, enquanto os créditos podem ser vendidos no mercado europeu por não menos de US$ 19,00.
Estes projetos logo atraíram bancos investidores, que quiseram participar dos lucros: JP Morgan Chase, Citigroup, Goldman Sachs, Rabobank e Fortis. Junto a estes bancos, os governos italiano, holandês e britânico aparecem várias vezes nas listas de investidores. Grandes empresas de energia, entre elas E.ON e RWE (Alemanha), Nuon (Holanda), Enel (Itália) e Electrabel (Bélgica) também aparecem como participantes nestes projetos.
Os antecedentes recopilados pela CDM Watch e pela EIA indicam que os ganhos derivados desta compensação de gases acabaram estimulando a produção do nocivo HCFC-22. Segundo a EIA, o preço de uma tonelada desse gás oscila entre US$ 1 mil e US$ 2 mil, enquanto a mesma tonelada vale entre US$ 5 mil e US$ 5,8 mil em CRE quando se vende no mercado europeu. Em economia isto se chama “incentivo perverso”, e ocorre quando um incentivo apresenta um resultado não procurado e indesejável que vai contra o que propõe a política em questão.
No total, empresas e governos europeus financiaram estes projetos por pelo menos US$ 1,5 bilhão, enquanto o verdadeiro custo para reduzir este gás é de US$ 150 milhões. “Este dinheiro foi investido em falsas reduções de emissões”, afirmou Eva Filzmoser, diretora de programa na CDM Watch. “Segundo o MDL, os créditos obtidos representam reduções nas emissões. Mas, em lugar disso, houve mais gases-estufa enquanto as empresas ocidentais seguiam contaminando como antes. O dano ambiental é imenso”, disse à IPS.
Dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), entre 2004 e 2009, indicam que a produção de HCFC-22 passou de 15 milhões para 28 milhões de toneladas. Depois das queixas da CDM Watch e da EIA, a ONU iniciou sua própria investigação, enquanto tentava frear a emissão de novos CRE. Esta pesquisa, que terminou em 16 de novembro de 2010, foi catalogada como “confidencial” pela ONU devido à “informação comercialmente delicada” que contém.
Entretanto, a IPS teve acesso a esse documento, que indica que algumas das unidades de produção investigadas estavam “maximizando os créditos em lugar de atender a demanda do produto”. Ainda assim, o informe propõe que são apenas “sinais” de incentivos perversos e que a evidência não é “concludente”. No dia 26 de novembro, o Conselho Executivo do MDL decidiu emitir mais 20 milhões de créditos para 12 projetos de HFC (hidrofluorocarbonos).
Jos Delbeke é o titular da Direção Geral de Ação pelo Clima na Comissão Europeia (órgão executivo da União Europeia), que foi criada no ano passado. Segundo ele, o órgão tinha conhecimento do problema antes que as organizações não governamentais iniciassem sua campanha. “Na ONU, nos queixávamos desse problema há vários anos. Não deveria se obter CRE com gases que estão proibidos na Europa”, afirmou Delbeke à IPS.
O principal problema, disse, não é o dano ambiental. “Estão sendo gerados ganhos a partir da usura, e isso é repugnante”, afirmou Delbeke. “Assim não podemos conseguir que nossa política climática funcione. Temos de perguntar se não poderíamos ter feito muito mais com a quantidade de dinheiro que se gastou”, acrescentou.
Quando ficou evidente que a ONU não tomaria medidas, a Direção Geral de Ação pelo Clima decidiu propor uma proibição dos créditos por produção de HFC. A comissária europeia de Ação pelo Clima, Connie Hedegaard, propôs 1º de janeiro de 2013 como data para a entrada em vigor dessa proibição. Mas a história não termina aí. IPS/Envolverde
* Esta é a primeira de duas reportagens sobre como corporações e governos europeus se beneficiam economicamente de um vazio legal no Protocolo de Kyoto.
(IPS)
Essa reportagem é muito importante para entender os malefícios dos Créditos de Carbono ao Meio Ambiente e os benefícios ao capitalismo, principalmente europeu, além de afetar a soberania dos países pobres. Em 2007, recebemos a primeira denúncia. No final de 2009, inauguramos este Blog, denunciando jogo perigoso dos Créditos de Carbono.(Zilda Ferreira).
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Debate da UFF: "Escherichia coli: o surto mortal europeu"
COBERTURA ESPECIAL – Debate da UFF: "Escherichia coli: o surto mortal europeu"
Diferentemente de outros tipos bacterianos de E. coli, forma responsável por surto europeu atinge principalmente adultos
Cepa também é responsável por mais casos de síndrome hemolítico-urêmica.
Agência Notisa – Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, divulgados hoje pela manhã,9/06/2011, na Alemanha já foram registrados 2.086 casos de infecção pela bactéria Escherichia coli e 722 casos de síndrome hemolítico-urêmica (SHU). Sessenta e nove por cento das vítimas são mulheres e 88% adultos. De acordo com Aloysio de Mello Figueiredo, professor do Laboratório de Enteropatógenos da Universidade Federal Fluminense (UFF), o que chama a atenção nesse surto europeu é justamente a alta proporção de casos que evoluem para a síndrome hemolítico-urêmica e a predominância em adultos. "Víamos até então que cerca de 10% dos infectados por E. coli apresentavam SHU, porém neste surto 30% estão desenvolvendo a síndrome. Da mesma forma, a infecção que antes era predominante em crianças e idosos, agora atinge principalmente adultos jovens", afirmou o biomédico.
Devido à gravidade da situação, Aloysio e colegas participaram do debate " ‘Escherichia coli’: o surto mortal europeu", realizado na tarde de hoje no Instituto Biomédico da UFF. No evento, os pesquisadores abordaram aspectos microbiológicos, alimentares e clínicos da infecção. O encontro contou com a participação, por meio de transmissão on-line, de Alfredo Torres, professor associado da Universidad de Texas e coordenador da Rede Latino-americana de Investigação em Escherichia coli.
Embora a E. coli seja conhecida há algumas décadas e oito patotipos da bactéria já estejam bem caracterizados, os casos que começaram a se multiplicar na Alemanha em maio deste ano são causados por um novo patotipo. Segundo Aloysio, após sequenciar o genoma bacteriano, pesquisadores observaram que esse microorganismo é uma forma originalmente enteroagregativa, porém que adquiriu a capacidade de liberar toxinas (do tipo Shiga). O novo patotipo combina, portanto, dois perfis que antes eram vistos isolados.
Com isso, essa bactéria, que é comensal do intestino de mamíferos e aves, provoca lesões complexas que levam à perda das microvilosidades intestinais, resultando em diarreia crônica e também, segundo o professor, a toxina liberada é absorvida pela mucosa intestinal e atinge a corrente sanguínea, inibindo a síntese protéica celular e levando, consequentemente, à morte da célula. "No homem, as células edoteliais, que compõem o revestimento interno dos vasos sanguíneos, são as mais suscetíveis a essa ação", lembrou Aloysio. "Todo esse mecanismo leva ao principal sintoma da infecção: colite hemorrágica: uma diarreia muito intensa com sangue", explicou.
Segundo Aloysio, outra característica desse novo patotipo é que por ser produtora de biofilme, a bactéria possui uma alta taxa de colonização. Além disso, libera volumes muito grandes de toxina.
O nefrologista Jorge Reis, do Hospital Antônio Pedro da UFF, lembrou que normalmente os pacientes passam por três estágios: (1) aquisição do microorganismo; (2) infecção caracterizada pela diarreia crônica e (3) SHU. "O paciente geralmente é internado por causa da diarreia sanguinolenta e 1/3 deles desenvolvem a síndrome hemolítico-urêmica no hospital", disse.
A síndrome, que se caracteriza por anemia hemolítica; trombocitopenia e insuficiência renal, segundo Jorge, acomete primeiro a microcirculação e leva a formação de trombos. "Podemos observar então alguns sinais que indicam que o paciente está evoluindo para a SHU, por exemplo, queda do nível de plaquetas; presença de hemácias com formas alteradas; aumento da bilirrubina, além de aumento de uréia e potássio", esclareceu.
Embora estudos com E. coli mostrem que o uso de antibióticos não é eficaz no tratamento da doença e podem, até mesmo, piorar o quadro, de acordo com Jorge, alguns especialistas têm questionado se haveria indicação dessa terapia para a nova cepa. Segundo Aloysio, teoricamente, a morte da bactéria pode levar à liberação aumentada de toxina na corrente sanguínea do paciente e também de fagos – vírus que infectam a bactéria, portanto, antibióticos talvez sejam benéficos em casos de severidade extrema.
Transmissão e prevenção Márcia Soares Pinheiro, do Laboratório de Enteropatógenos e Microbiologia de Alimentos da UFF explicou que as principais fontes de infecção da E. coli são os reservatórios: gado bovino e ruminantes. "A transmissão pode ocorrer através do consumo de carne moída crua ou mal cozida; leite cru; água contaminada por material fecal de animais; contaminação cruzada –superfícies e utensílios que estiveram em contato com carne contaminada que podem contaminar outros alimentos – e contato pessoal (oral-fecal)", afirmou.
Um dos principais problemas relacionados a essa bactéria é que ela pode sobreviver por meses em fezes, no solo e na água. Segundo Márcia, a temperatura de crescimento desse micro-organismo varia de 7 a 50ºC, além disso, pode crescer em meios ácidos (pH 4,4). Por outro lado, ela pode ser destruída através do cozimento adequado (maior ou igual a 70ºC).
A OMS, disse a pesquisadora, recomenda que a prevenção e o controle sejam feitos em todos os estágios da cadeia produtiva de alimentos. Também recomenda o rastreamento de animais antes do abate, boas práticas de fabricação, treinamento e educação de trabalhadores em abatedouros e fazendas de leite, implementação de políticas de rastreamento do micro-organismo em produtos cárneos, tratamento de alimentos com técnicas bactericidas e tratamento da água.
A organização também disponibiliza dados para uma alimentação mais saudável que prega a higiene adequada, fundamental para a prevenção da doença.
Atualmente, ainda não se sabe exatamente qual produto foi a fonte inicial de transmissão da doença na Europa. Há suspeitas quanto a três alimentos, em especial: pepinos, tomates e alface.
Márcia lembrou que a Anvisa, por meio de nota de esclarecimento, informou que, no momento, não seriam adotadas medidas restritivas no Brasil e que não há motivos para maior preocupação entre a população.
O nefrologista Jorge, entretanto, lembrou que a síndrome hemolítica-urêmica é um caso muito grave e que, portanto, é importante que diversos setores da saúde permaneçam trabalhando para melhorar o conhecimento sobre a doença. Segundo os dados da OMS mais atuais, na Alemanha ocorreram 18 mortes causadas pela infecção por E. coli. Porém, o médico alertou que os óbitos não são maiores, pois esse país dispõe de um sistema de saúde com infraestrutura capaz de realizar, por exemplo, muitas hemodiálises.
"Se acontecesse um surto semelhante em um lugar como o Brasil, que não possui essas condições, seria uma verdadeira catástrofe", concluiu.
Diferentemente de outros tipos bacterianos de E. coli, forma responsável por surto europeu atinge principalmente adultos
Cepa também é responsável por mais casos de síndrome hemolítico-urêmica.
Agência Notisa – Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, divulgados hoje pela manhã,9/06/2011, na Alemanha já foram registrados 2.086 casos de infecção pela bactéria Escherichia coli e 722 casos de síndrome hemolítico-urêmica (SHU). Sessenta e nove por cento das vítimas são mulheres e 88% adultos. De acordo com Aloysio de Mello Figueiredo, professor do Laboratório de Enteropatógenos da Universidade Federal Fluminense (UFF), o que chama a atenção nesse surto europeu é justamente a alta proporção de casos que evoluem para a síndrome hemolítico-urêmica e a predominância em adultos. "Víamos até então que cerca de 10% dos infectados por E. coli apresentavam SHU, porém neste surto 30% estão desenvolvendo a síndrome. Da mesma forma, a infecção que antes era predominante em crianças e idosos, agora atinge principalmente adultos jovens", afirmou o biomédico.
Devido à gravidade da situação, Aloysio e colegas participaram do debate " ‘Escherichia coli’: o surto mortal europeu", realizado na tarde de hoje no Instituto Biomédico da UFF. No evento, os pesquisadores abordaram aspectos microbiológicos, alimentares e clínicos da infecção. O encontro contou com a participação, por meio de transmissão on-line, de Alfredo Torres, professor associado da Universidad de Texas e coordenador da Rede Latino-americana de Investigação em Escherichia coli.
Embora a E. coli seja conhecida há algumas décadas e oito patotipos da bactéria já estejam bem caracterizados, os casos que começaram a se multiplicar na Alemanha em maio deste ano são causados por um novo patotipo. Segundo Aloysio, após sequenciar o genoma bacteriano, pesquisadores observaram que esse microorganismo é uma forma originalmente enteroagregativa, porém que adquiriu a capacidade de liberar toxinas (do tipo Shiga). O novo patotipo combina, portanto, dois perfis que antes eram vistos isolados.
Com isso, essa bactéria, que é comensal do intestino de mamíferos e aves, provoca lesões complexas que levam à perda das microvilosidades intestinais, resultando em diarreia crônica e também, segundo o professor, a toxina liberada é absorvida pela mucosa intestinal e atinge a corrente sanguínea, inibindo a síntese protéica celular e levando, consequentemente, à morte da célula. "No homem, as células edoteliais, que compõem o revestimento interno dos vasos sanguíneos, são as mais suscetíveis a essa ação", lembrou Aloysio. "Todo esse mecanismo leva ao principal sintoma da infecção: colite hemorrágica: uma diarreia muito intensa com sangue", explicou.
Segundo Aloysio, outra característica desse novo patotipo é que por ser produtora de biofilme, a bactéria possui uma alta taxa de colonização. Além disso, libera volumes muito grandes de toxina.
O nefrologista Jorge Reis, do Hospital Antônio Pedro da UFF, lembrou que normalmente os pacientes passam por três estágios: (1) aquisição do microorganismo; (2) infecção caracterizada pela diarreia crônica e (3) SHU. "O paciente geralmente é internado por causa da diarreia sanguinolenta e 1/3 deles desenvolvem a síndrome hemolítico-urêmica no hospital", disse.
A síndrome, que se caracteriza por anemia hemolítica; trombocitopenia e insuficiência renal, segundo Jorge, acomete primeiro a microcirculação e leva a formação de trombos. "Podemos observar então alguns sinais que indicam que o paciente está evoluindo para a SHU, por exemplo, queda do nível de plaquetas; presença de hemácias com formas alteradas; aumento da bilirrubina, além de aumento de uréia e potássio", esclareceu.
Embora estudos com E. coli mostrem que o uso de antibióticos não é eficaz no tratamento da doença e podem, até mesmo, piorar o quadro, de acordo com Jorge, alguns especialistas têm questionado se haveria indicação dessa terapia para a nova cepa. Segundo Aloysio, teoricamente, a morte da bactéria pode levar à liberação aumentada de toxina na corrente sanguínea do paciente e também de fagos – vírus que infectam a bactéria, portanto, antibióticos talvez sejam benéficos em casos de severidade extrema.
Transmissão e prevenção Márcia Soares Pinheiro, do Laboratório de Enteropatógenos e Microbiologia de Alimentos da UFF explicou que as principais fontes de infecção da E. coli são os reservatórios: gado bovino e ruminantes. "A transmissão pode ocorrer através do consumo de carne moída crua ou mal cozida; leite cru; água contaminada por material fecal de animais; contaminação cruzada –superfícies e utensílios que estiveram em contato com carne contaminada que podem contaminar outros alimentos – e contato pessoal (oral-fecal)", afirmou.
Um dos principais problemas relacionados a essa bactéria é que ela pode sobreviver por meses em fezes, no solo e na água. Segundo Márcia, a temperatura de crescimento desse micro-organismo varia de 7 a 50ºC, além disso, pode crescer em meios ácidos (pH 4,4). Por outro lado, ela pode ser destruída através do cozimento adequado (maior ou igual a 70ºC).
A OMS, disse a pesquisadora, recomenda que a prevenção e o controle sejam feitos em todos os estágios da cadeia produtiva de alimentos. Também recomenda o rastreamento de animais antes do abate, boas práticas de fabricação, treinamento e educação de trabalhadores em abatedouros e fazendas de leite, implementação de políticas de rastreamento do micro-organismo em produtos cárneos, tratamento de alimentos com técnicas bactericidas e tratamento da água.
A organização também disponibiliza dados para uma alimentação mais saudável que prega a higiene adequada, fundamental para a prevenção da doença.
Atualmente, ainda não se sabe exatamente qual produto foi a fonte inicial de transmissão da doença na Europa. Há suspeitas quanto a três alimentos, em especial: pepinos, tomates e alface.
Márcia lembrou que a Anvisa, por meio de nota de esclarecimento, informou que, no momento, não seriam adotadas medidas restritivas no Brasil e que não há motivos para maior preocupação entre a população.
O nefrologista Jorge, entretanto, lembrou que a síndrome hemolítica-urêmica é um caso muito grave e que, portanto, é importante que diversos setores da saúde permaneçam trabalhando para melhorar o conhecimento sobre a doença. Segundo os dados da OMS mais atuais, na Alemanha ocorreram 18 mortes causadas pela infecção por E. coli. Porém, o médico alertou que os óbitos não são maiores, pois esse país dispõe de um sistema de saúde com infraestrutura capaz de realizar, por exemplo, muitas hemodiálises.
"Se acontecesse um surto semelhante em um lugar como o Brasil, que não possui essas condições, seria uma verdadeira catástrofe", concluiu.
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