segunda-feira, 18 de julho de 2011

O CORONEL ASSASSINO - O JORNALISTA ASSASSINADO A TORTURA


Laerte Braga


É difícil você ter respeito pelas forças armadas quando nos quartéis resistem e impedem a divulgação de documentos que mostram o que foi o golpe militar de 1964 e todo o aparato repressivo montado para sustentar a monstruosidade que se abateu sobre o Brasil.

“De um modo geral os homens prisioneiros se despiam fácil, mas as mulheres se negavam e resistiam. Primeiro argumentavam. Com paciência e com ira perguntavam se o torturador faria isso com a mulher, a mãe, a irmã, ou a filha. Depois empurravam o sargento que lhes ia arrancando a blusa ou a saia. Outras vezes mentiam e se diziam menstruadas, sem saber que provocavam, assim, um sadismo abominável e abjeto: dois ou três se atiravam sobre a prisioneira e, subjugada, era apalpada e cheira nos órgãos genitais, enquanto lhe arrancavam a roupa. E logo bolinada por aquelas mãos habituadas ao sangue, que tocavam a pele e o sexo, não como carícia nem para amar, mas para destruir ou marcar a ferro como numa rês. E como ela já estava no chão deitada e inerme, abriam-lhe as pernas e – para começar e não como requinte final, como era norma – metiam-lhe o cabo elétrico diretamente na vagina. Nesses casos o major M.F. costumava gritar para o sargento: “calma, calma. Não coma a sobremesa antes do feijão. E aquele pequeno e poderoso estado-maior da tortura, ali reunido em torno da presa, ria e ria muito, numa gargalhada galhofeira, festando o triunfo” (MEMÓRIAS DO ESQUECIMENTO, Flavio Tavares, Editora Globo, 1999).

O coronel Brilhante Ulstra, hoje colunista do jornal FOLHA DE SÃO PAULO (cedia os caminhões de entrega para a desova de corpos de presos assassinados no DOI/CODI paulista, na simulação de atropelamento), já condenado em primeira instância e declarado torturador pela Justiça, jorra patriotismo em defesa do que chama democracia e valores como liberdade, pátria, etc. É um dos exemplos a justificar a frase de Samuel Johnson – “o patriotismo é o último refúgio dos canalhas”.

No segundo processo – conseguiu paralisar o primeiro – movido pela família do jornalista Luís Eduardo Merlino, agora, dia 27 de julho, às 14h e 30m, no Fórum João Mendes, no centro da capital de São Paulo, vai ser confrontado pelas testemunhas arroladas pela família de Merlino. Ulstra assassinou o jornalista na forma cruel e covarde que foi marca registrada dele e outros militares, do regime imposto pelo golpe de 1964. Como a outros presos que caiam em suas garras de fascista sem qualquer escrúpulo ou respeito pelo ser humano.

Merlino morreu nas dependências do DOI/CODI, o coronel era o comandante, em julho de 1971. 

Serão ouvidas testemunhas que presenciaram as torturas sob o comando de Brilhante Ulstra.  Entre as testemunhas de defesa arroladas pelo torturador está o ex-presidente da República José Sarney, atual presidente do Senado, um dos principais interlocutores de Dilma Roussef. Sarney tem comprometimento direto com a tortura, valeu-se dela para afastar adversários no Maranhão, serviu de maneira rasteira à ditadura e hoje tenta a todo custo impedir que os documentos da época sejam tornados públicos. Teme que sua face monstro (além de corrupto) também apareça.

Outra delas é Jarbas Passarinho, coronel é ministro dos governos Costa e Silva e Médice que na reunião que deliberou sobre a assinatura do Ato Institucional nº 5, o símbolo da boçalidade do regime militar, afirmou alto e bom som diante de algumas dúvidas do presidente Costa e Silva – “as favas com os escrúpulos senhor presidente, vamos assumir que somos uma ditadura mesmo”.

A ação movida pela família de Merlino – sua irmã Regina Merlino Dias de Almeida e sua ex-companheira Ângela Mendes de Almeida, é subscrita pelos advogados Fábio Konder Comparato, Claudineu de Melo e Aníbal Castro de Sousa. É por danos morais, o suficiente para comprovar o caráter perverso, animalesco do coronel e “patriota” Brilhante Ulstra. O reconhecimento da morte por crime de tortura. Crime contra a humanidade, imprescritível.

No mesmo livro citado acima, do jornalista Flávio Tavares (ex-preso político e trocado no seqüestro do embaixador Charles Burke Elbrick) há uma revelação que mostra o caráter repugnante dos torturadores. Muitas vezes, afirma o jornalista, familiares, dentro da lógica da Escola das Américas – mantida pelos EUA para todos os fins golpistas e brutais que caracterizam aquele país – eram detidos para forçar a apresentação dos que resistiam à ditadura.

O jornalista refere-se a Iracema Ferreira Silva e sua cunhada Marlene. Foram presas por conta do irmão de Marlene e torturadas a exaustão.

“...Veio tenente Magalhães, jovem e ágil de pernas, e me enxotou dali a pontapés nos testículos. E, nuas, elas foram torturadas noite adentro penduradas no pau de arara, o choque elétrico deve ter percorrido nelas toda a intimidade do corpo e da alma, pois elas gritavam e gritavam fundo, em cadência. Era o cadenciado balé orquestrado pelo major  que, maquininha não mão, costumava dar três passos para um lado e acionar a manivela de 220 volts, e logo repetir a operação com três passos para o outro lado, numa dança interminável. Nenhum preso dormiu  aquela madrugada: os gritos das duas soavam ritmados, como chibatadas no ar, e só terminaram quando o dia raiava. Por cansaço dos carrascos”.   

Nas escolas e colégios militares ainda ensinam a “história” do golpe segundo a visão de boçais como esses. Majores, sargentos, coronéis, tenentes, etc.

Não se respeita uma força armada por gente assim e pela covardia de se esconder atrás de uma anistia que apenas beneficiou a eles. Torturadores, estupradores, assassinos frios e impiedosos comandados por potência estrangeira. Continuam a ser até prova em contrário.   

Merlino era jornalista, foi assassinado aos 23 anos de idade, militava no Partido Operário Comunista.
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No dia 30 de julho o COLETIVO MERLINO, no ciclo dos SÁBADOS RESISTENTES, realizados pelo MEMORIAL DA RESISTÊNCIA e pelo NÚCLEO DE PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA POLÍTICA, em São Paulo, organizará uma homenagem ao jovem jornalista vítima da bestialidade da ditadura militar e especificamente de um dos seus mais monstruosos torturadores, o coronel Brilhante Ulstra, escondido impune atrás da anistia.

Estarão presentes, além da companheira de Merlino, a historiadora Ângela Mendes de Almeida, João Machado, economista e militante da IV Internacional, filiado ao PSOL. Valério Arcary, historiador e militante do PSTU. Joel Rufino dos Santos, historiador e escritor e Tonico Ferreira Jornalista.

No evento será projetado um vídeo com as inspirações políticas de Merlino e uma fala do cientista político Michael Lowy sobre a convivência que tiveram. Convidados, familiares, militantes e amigos dirão breves palavras sobre Merlino.

Isso no Largo General Osório, 66, bairro da Luz. No auditório VITAE, no 5º andar.

Um resgate da vida e da luta pelo direito à memória e a verdade.

Conhecer o que de fato aconteceu no Brasil com o golpe militar de 1964, revelar toda a sanha assassina de torturadores como Brilhante Ulstra, até para que a história não se repita. Dele –Brilhante Ultra -, o caráter do golpe e todos os torturadores acovardados e agachados diante da lei da anistia.

Não é possível fugir da História e nem se deve temer a luta.

É o resgate do ser humano em seu sentido pleno. Brilhante Ulstra não está nesse plano. Luís Eduardo Merlino, ao contrário, é essência e presença na coragem e na busca de ideais de um mundo alternativo e diverso desse mundo gerado nas entranhas do capitalismo e seus tentáculos mortais.       

    

A LINGUAGEM DO PODER


Laerte Braga


As características de uma Federação de mentira, um ornitorrinco, transformam governadores dos estados brasileiros e prefeitos de nossas cidades em meros mendigos do Governo Federal. Seja porque transformam governos estaduais em feudos (caso da família Sarney no Maranhão e se apropriam dos recursos públicos e da máquina estatal em proveito próprio), seja porque não existe outro objetivo que não esse o de saquear o dinheiro público.

A maioria esmagadora dos governadores e a maioria esmagadora dos prefeitos. A isso alia-se a soma de um poderoso marketing via mídia privada (comprada sempre com dinheiro público qualquer que seja a sua dimensão, nacional, estadual ou regional), capaz de fazer com que boa parte da população carioca acredite que Eduardo Paes seja um prefeito honesto, preocupado com o bem estar do cidadão, com o presente e o futuro da cidade, quando é apenas parceiro de Sérgio Cabral, o governador, no processo de destruição do Rio. Essa “parceria” ocorre em vários outros estados (Minas, com a aberração política Antônio Anastasia e Márcio Lacerda, o prefeito de BH, etc).

Um pouco antes de deixar o governo de São Paulo José Serra determinou à Polícia Militar (são resquícios de um tempo que não existe mais, organizações terroristas a serviço das elites) que fosse dura e enérgica na repressão à greve de professores estaduais.

Não deu outra. A PM paulista, literalmente, baixou a borduna, desceu a borracha.

Esse procedimento ocorre em quase todo o País, em quase todos os estados brasileiros. O tratamento dispensado à Educação e a Saúde, direitos básicos do cidadão e dever do Estado, é a repressão pura e simples.

Professores são espancados no Rio Grande do Norte, no Rio, em Minas, em Santa Catarina, em São Paulo, Espírito Santo e vai por aí afora.

A “ordem” desse tipo de governador – ocorre nos municípios também – é mantida.

Num estado como Minas, feudo de algumas poucas famílias, governado por um desastre inventado por Aécio Neves, outra descalabro, a situação do magistério estadual é aviltante. Não é uma prática que resulte da falta de recursos (sobram recursos para bancos, empreiteiras, terceirizações, jornal ESTADO DE MINAS e todo seu entorno de mídia vendida).

É ação deliberada e qualquer emergência os terroristas fardados da PM resolvem.

No episódio envolvendo o Corpo de Bombeiros do Rio o desgovernador Sérgio Cabral, corrupto de carteirinha, num primeiro momento chamou os soldados de “vândalos”. Não contava com a reação pública e entre um contrato e um vôo com Eike Batista, grossas propinas, voltou atrás e acertou-se via mídia (o esquema GLOBO sempre, apesar de ser o mais caro, mas também o mais eficiente na mentira, na corrupção).

Professores são tratados como se animais fossem, escravos, trabalham em condições precárias, recebem salários míseros e se reivindicam o mínimo de dignidade para a função, para o trabalho, se mostram a importância que têm (valem mais que qualquer vereador por exemplo, que muitos deputados, senadores, governadores), os “homens da lei”, terroristas que falam a linguagem de um poder, baixam o sarrafo.

A repressão a trabalhadores da educação e a médicos do setor público de saúde exibe apenas a pilantragem de governadores e prefeitos no processo de privatização dos dois setores fundamentais, cassam o direito do cidadão e se eximem do dever do Estado, enchem suas burras de dinheiro e das empresas que assumem esses serviços e pagam o “sustento” desses governantes.

O prefeito da cidade de Juiz de Fora, MG, o tucano Custódio Matos, privatiza até a sombra do prédio da Prefeitura. O pobre menino com casa de milhões, prefere negócios com a Queiroz Galvão, rende mais, permite sonhos londrinos, obsessão do alcaide. No jogo político do clubinho tem um inquérito até hoje sobre compra de votos que não sai do lugar, ou se saiu, vai morrer nos escaninhos da Justiça.

O Brasil, aparentemente, está distante dos efeitos da crise que devasta a Europa Ocidental e vai dissolvendo países inteiros transformando-os em meras bases militares de um poder terrorista do complexo EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A.

Os governos estaduais e municipais não têm hoje o manejo político do ex-presidente Lula, mas o rigor tecnocrático e tucano da presidente Dilma Roussef. Sobram cortes orçamentários, falta sensibilidade e percepção do tsunami que se aproxima por conta da falência do modelo chamado de nova ordem econômica, o neoliberalismo.

Isso faz com que governadores e prefeitos assumam posturas agressivas e os índices de quero o meu aumentem de forma desmesurada, uma espécie de garantia contra trombadas faturas. É só olhar o exemplo do ex-governador de Brasília, José Roberto Arruda, o que seria vice de José Serra (parte do esquema irmãos Metralhas).

Não significa que no governo Lula as condições de trabalhadores da educação e da saúde tenham melhorado. Não. Nos estados e municípios não. O disfarce, os tapumes que escondiam a realidade funcionavam melhor.

O que fica visível em todo esse processo que, neste momento, acontece em vários estados da Federação de mentirinha, é que trabalhadores da educação e da saúde são tratados como marginais dentro de um modelo político e econômico falido, corrupto e que esse tipo de situação não será mudada com diálogo junto ao clube de amigos e inimigos cordiais que compõem o chamado mundo institucional, mas nas ruas, na luta popular.

Fora disso é chover no molhado. Os terroristas fabricados em série no estilo BOPE nas PMs dos estados continuarão a descer a borracha em nome da “lei”, a deles.

E gente como Sérgio Cabral, Eduardo Paes, Antônio Anastasia continuará a governar para os interesses de gente como Eike Batista, Daniel Dantas e outros.

Na hora que acordar o cidadão comum, se acordar, vai se ver como que num deserto, no meio do deserto sem água. E um monte de castelos dessa turma, mas a GLOBO vai dizer que é miragem é que país, o mundo ocidental e cristão está em ordem. Se falhar tem PM, tem OTAN, todo um aparato “democrático”.

Água só na casa de Luciano Huck, a casa ilegal legalizada pelo governo corrupto de Cabral.

Já professores, médicos, trabalhadores...

O tratamento é borduna.

É a linguagem do poder para os que não se deixam seduzir pela linguagem alienante da GLOBO e assemelhados.   


Leia também: Reportagem do Jornal Nacional presta um deserviço à populaçao, "Megaeventos, doutrina do choque e a submissão do Rio.

Reportagem do Jornal Nacional de 13 de maio presta um desserviço à população


Carla Silva Machado*



No último 13 de maio, o Jornal Nacional da Rede Globo de televisão entrou no ar anunciando mais um dos problemas da educação brasileira, o editor e apresentador Willian Bonner  dá o boa noite e anuncia: “ livro didático de língua portuguesa recomendado pelo MEC defende o erro de concordância.”
Após algum suspense mostrando outra matéria, é a vez de Fátima Bernardes anunciar a matéria e novamente citar que o livro didático em questão é de língua portuguesa, é autorizado pelo MEC e defende o erro de concordância.
A matéria vai ao ar apresentada pelo jornalista Alan Severiano, ele apresenta uma página do livro em que os autores apresentam um exemplo com erros de concordância e fazem comentário de que não se pode considerar aquilo como erro, mas como desvio de linguagem, os autores  do livro aproveitam para discutir níveis de linguagem, variação linguística e preconceito linguístico. Após, uma das autoras do livro dá um depoimento concordando com as ideias defendidas em seu livro.
A matéria termina, e ao retornar ao estúdio, o apresentador-editor critica a posição da autora e o livro em questão, além de questionar o MEC por recomendar um livro assim, na concepção dele, com problemas, em seguida, o apresentador corrige dados apresentados no Jornal Nacional do dia anterior sobre o número de cursos de formação de professores, para, logo após, passar para a matéria seguinte.
O que o Jornal Nacional, ao apresentar uma matéria totalmente parcial, não leva em conta é que existe um campo de estudo chamado sociolinguística que defende que desvios padrões são permitidos em função de determinadas situações comunicativas, a página solta de um livro talvez não seja tão abrangente para fazer toda essa discussão, mas aponta para isso, quando menciona a questão do preconceito linguístico e da variação linguíistica, a escola precisa deixar claro para os alunos que existe uma norma culta, padrão, mas que existem inúmeras formas de comunicação, ou algum jovem fica preocupado com a norma culta ao bater papo no MSN?
O que Willian Bonner talvez não saiba é que os cursos de formação de professores, especificamente os de Letras e Pedagogia já trabalham com conceitos da sociolingüística há pelo menos 20 anos visando preparar o professor para atender a todas as camadas sociais que chegam à escola, que os PCNs de Língua Portuguesa, que são os parâmetros curriculares que servem para orientar as escolas de todo o Brasil na preparação de seus projetos pedagógicos já apresentam essa noção de desvio lingüístico no lugar de erro. Que esses PCNS foram lançados em 1996, ou seja, há pelo menos 15 anos o MEC discute a questão levantada no Jornal Nacional como uma denúncia educacional.
Sugiro ao editor e apresentador do Jornal Nacional ficar mais bem informado sobre questões educacionais e de linguagem, se não para informar corretamente à população, pelo menos para acompanhar seus filhos na escola, pois os mesmos devem entender melhor a sociolinguística  e a sutil diferença entre erro e desvio que o pai.
Carla Silva Machado*
Professora de Língua Portuguesa do curso de Comunicação Social
da  Faculdade Governador Ozanam Coelho (FAGOC/Ubá-MG)
Licenciada em Letras (UFV)/ Mestre em Educação (UFJF

"MEGAEVENTOS, DOUTRINA DO CHOQUE E A SUBMISÃO DO RIO"

Em 30 de outubro de 2007, a FIFA ratificou o Brasil como país-sede da Copa do Mundo de 2014. Em maio de 2009, a cidade do Rio de Janeiro foi confirmada para receber a partida final do evento, que acontecerá no estádio do Maracanã. Em 2 de outubro do mesmo ano, o Rio também foi selecionado, desta vez pelo COI, como sede dos Jogos Olímpicos de 2016. O entusiasmo e o ufanismo tomaram conta do noticiário, reforçando o discurso dominante que o Brasil vive o melhor momento de sua história. A Cidade Maravilhosa, "cidade global" segundo os urbanistas, tornou-se o balão de ensaio desse novo Brasil-potência, síntese mitificada da nova brasilidade, assumindo lugar semelhante à da Brasília dos anos 1960.

Em 1º de janeiro de 2009, Eduardo Paes, do PMDB, tomou posse como prefeito da cidade do Rio de Janeiro. A aliança ao redor dele reúne o governo do estado chefiado por Sérgio Cabral, do mesmo partido, e a administração federal encabeçada pelo PT, num portentoso consenso tri-governamental. No primeiro ano de seu mandato, Paes iniciou um conjunto de ações denominado "Choque de Ordem". Em coordenação de órgãos e governos, o "choque de ordem" reprime o trabalho informal, remove moradores de ruas, ajuda a despejar ocupações de sem tetos e ocupa permanentemente posições estratégicas, contra a "indisciplina urbana".

Desde 2010, invocando os megaeventos, o "choque de ordem" está focado na implantação de grandes complexos viários por toda a cidade, mediante iniciativas como a TransOeste, TransCarioca e TransOlímpica.

Não custa lembrar que a "doutrina do choque" começou como tortura psiquiátrica, passou à esfera militar, foi usada como arma política contra inimigos ideológicos e, agora, chegou ao Rio de Janeiro no melhor espírito olímpico.

Se a urbanização das favelas e a regularização fundiária tomaram 30 anos de lutas pelo direito à moradia e à cidade, tais conquistas estão sendo desprezadas e destruídas em questão de meses. Pobres têm sido removidos sem compensação minimamente equivalente, de modo truculento, amiúde na calada da noite, para áreas distantes das comunidades onde viviam há décadas. Projetos de revitalização fabricam ainda mais sem tetos. Camelódromos históricos são desmontados, as mercadorias ilegalmente confiscadas, os ambulantes expulsos na ponta do cassetete. Empreendimentos culturais "criativos" mascaram a privatização da cultura metropolitana, em favor de grandes conglomerados da mídia e entretenimento. Na base da canetada, os projetos de engenharia e urbanismo aceitam tudo, a título de modernização, disciplinamento e pacificação.

Está em curso a submissão da cidade aos imperativos da especulação imobiliária. Pretendem convertê-la em "cidade global", enquadrada às demandas e fluxos do capitalismo globalizado, sem espaço para os negros, os quilombolas, os jovens sem trabalho, os camelôs, os sem tetos, os precários. Se a exclusão sistemática e a violência contra os pobres vêm da história escravocrata da cidade, só agora galgou o status de "consenso". Essa política de fascismo à carioca não respeita sequer servidores do próprio estado, como os bombeiros tachados de “vândalos” pelo governador Sérgio Cabral.

Neste contexto, surpreende, da parte de setores que se identificam como esquerda, um discurso de interesse público e até mesmo socialista (!), manobrado para “limpar” as ruas e comunidades, e empurrar os pobres cada vez mais para fora da metrópole que construíram. Em meio a bandeiras vermelhas misturadas nesse consenso, Marx ressente-se, pois segue a desvalorização do homem na sua submissão à expansão de riqueza como capital. O redesenvolvimento urbano do Rio, desigual e expropriatório, somente tem sido criticado por setores minoritários da esquerda, virtualmente isolados em meio ao monolítico bloco de governos e aliados empresariais, com seus gigantescos recursos políticos e econômicos.

Nesse contexto, é lamentável a desmontagem do Núcleo de Terras e Habitação (NUTH) da Defensoria Pública do Rio de Janeiro. Muito próximo dos movimentos sociais, vinha defendendo direitos coletivos e difusos das populações afetadas pelo trator “progressista”. Sob a gestão do novo defensor público geral, Nilson Bruno, se tornou inviável a continuidade do trabalho de defensores combativos, dissolvendo a parceria direta entre o órgão e os movimentos sociais. Como consequência, levantaram-se ainda mais barreiras para a efetiva prestação da tutela jurídica aos prejudicados pelo desenvolvimento.

Não adianta prolongar em demasiado discussões teóricas, quando o presente range de conflito e urge por ações concretas. Bertold Brecht certa vez disse que chega uma hora nas lutas que se deve aceitar uma formulação rude, mesmo grosseira. Diante da anemia crítica na imprensa e dentro do bloco de poder, é preciso continuar insurgindo-se com os resistentes, continuar produzindo redes e mídias contra o consenso dominante. E contestar alianças ditas "estratégicas", sob a desculpa universal da "correlação de forças", que negam e desacreditam toda a cultura de esquerda por alguns professada.

NÚCLEO BIOLUTAS DO PARTIDO DOS TRABALHADORES DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO."

quinta-feira, 14 de julho de 2011

OS FORNOS CREMATÓRIOS DE TEL AVIV



Laerte Braga


A julgar por uma nota apócrifa – sem nomes, só sigla – a CONIB (CONFEDERAÇÃO ISRAELITA DO BRASIL), não resta dúvidas que se trata de mais uma entidade laranja para atuação livre e descarada da MOSSAD – Serviço Secreto de Israel – em território brasileiro.

E do conjunto de empresas do estado terrorista de Israel que começa a controlar setores estratégicos da economia brasileira, como o de armas, por exemplo.

Israel foi uma invenção das grandes potências ao final da 2ª Grande Guerra para eximir-se de culpa pelo massacre de judeus (mas de ciganos, comunistas, negros, povos de países ocupados, homossexuais também, o holocausto não é “privilégio” dos judeus) em campos de concentração nazistas e uma forma de assegurar o controle do petróleo no Oriente Médio.

Hoje é um império nazi/sionista, aterroriza a região inteira com seu poder militar, saqueia a Palestina, comete crime de genocídio contra o povo palestino e na opinião do professor e intelectual norte-americano James Petras pôs fim à soberania dos Estados Unidos.

O USA como gostam de urrar os mariners espalhados pelo mundo em ações terroristas contra povos que lutam pela liberdade, não é mais um país soberano. É a opinião de Petras.

O que existe na prática é um complexo terrorista. EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A formado a partir de bancos, grandes corporações e valendo-se de setores de países outros dóceis aos interesses desse império. No Brasil, por exemplo, os latifundiários. Também não falam, urram, grunhem. Saqueiam, matam.

E nesse complexo Israel detém o maior número de ações. Tanto da sociedade em si, como de atos terroristas.

O jornalista argentino Manuel Freytas divulgou em um site em seu país – IAR NOTÍCIAS – comentários reproduzidos mundialmente sobre as práticas terroristas do nazi/sionismo.

Os fornos crematórios de Hitler estão agora em Tel Aviv na forma de muro, de um arsenal nuclear que transforma o “país inventado” em quarta potência militar do mundo e de todo um arcabouço de bancos, empresas sob controle desses grupos.

Avançaram e dominaram os EUA. Avançam e dominam o resto do mundo. Os principais credores da Grécia na forma neoliberal de pirataria econômica são banqueiros nazi/sionistas que controlam bancos alemães e franceses (no mundo inteiro a bem da verdade).

Segundo a CONIB, em representação feita ao Ministério Público Eleitoral contra o Partido Comunista Brasileiro – PCB – a divulgação do texto do jornalista argentino configura propaganda anti semita e pede sanções, inclusive cassação do registro do Partido, por conta desse disparate calculado e pensado, parte das ações da MOSSAD no Brasil. Interferência de potência estrangeira.

Entendem os nazi/sionistas que Manuel Freytas é um “obscuro intelectual argentino” a deitar comentários anti semitas.

Já a revista VEJA transformar muçulmanos em terroristas recheada de páginas de propaganda de empresas controladas por judeus/sionistas, isso pode.

O Brasil é hoje um dos alvos prioritários do estado terrorista de Israel. Tem ação livre – MOSSAD e empresas – dentro do País, conta com a cumplicidade – por omissão – do governo federal e a simpatia dos setores de extrema direita das forças armadas – a maioria, aliás. Sem falar lógico, nos banqueiros, nas grandes corporações empresariais e entre os latifundiários.

Um ataque frontal como esse ao PCB, o mais antigo partido político do Brasil, que abrigou figuras do porte de Luís Carlos Prestes, do escritor Oswald de Andrade, de Jorge Amado, Monteiro Lobato, Carlos Drumond de Andrade, o pintor Cândido Portinari, como outros e abriga o arquiteto Oscar Niemeyer, tem o viés do nazi/sionismo demonstrado com rara felicidade pelo cineasta Stanley Kulbrick no filme DOUTOR FANTÁSTICO.

O cientista “importado” pelos EUA ao fim da 2ª Grande Guerra Mundial para “ajudar” no desenvolvimento de armas atômicas. Numa cadeira de rodas o dito cujo em meio a uma crise com a União Soviética – um dos grandes filmes da história do cinema – mantém a mão direita presa ao braço da cadeira, sem conseguir evitar, no entanto, que em determinados momentos escape e faça a saudação nazista enquanto grita HEIL HITLER.

Ben Gurion, considerado um dos “fundadores” de Israel colaborou e negociou com Hitler – documentos do WIKILEAKS mostram isso, são oficiais – durante o conflito mundial. Ele e outras figuras do sionismo mundial. Foi onde adquiriram o now know necessário aos fornos crematórios de Israel, a despeito da forma diferente e sutil dos crimes que praticam mundo afora.

Existem inúmeras resoluções das Nações Unidas condenando Israel por violações de direitos humanos, por ocupação de terras palestinas, por crimes contra a humanidade e nenhuma delas é implementada pelo simples fato que os terroristas são sócios majoritários do maior arsenal nuclear do mundo, os Estados Unidos.

Uma das imposições feitas pelo governo alemão – refém de banqueiros, como qualquer governo – para a ajuda á Grécia foi exatamente exigir do governo grego que impedisse a saída da FLOTILHA DA LIBERDADE. Iria levar alimentos, remédios e roupas aos habitantes da Faixa de Gaza submetidos a um cerco desumano e covarde, típico de nazi/sionistas.

São senhores aparentemente invisíveis do mundo, mas são. Visíveis no terrorismo como forma de implantar e expandir um império moldado no sonho de Hitler.

A representação é descabida. Não tem sentido. Um eventual processo a partir de um fato assim permitirá provar a presença de agentes da MOSSAD agindo livremente no Brasil, de toda a história da barbárie nazi/sionista contra palestinos e povos árabes. Da cumplicidade com militares (traidores) em países como o Egito, Jordânia, Arábia Saudita e outros.

Os campos de concentração nos dias atuais tomam a forma de muros (contra palestinos e mexicanos). Restam presentes em Guantánamo, território ocupado de Cuba. Em cada pedaço de terra palestina roubada por nazi/sionistas. Nos assassinatos chamados de seletivos de lideranças que se opõem ao fuhrer do dia. Em cada criança, cada mulher, cada idoso, cada homem palestino sacrificado no terror dos que vivem escondidos no manto sangrento do holocausto, como se fossem os únicos a terem enfrentado a ira nazista da Alemanha de Hitler.

Não são sub-produto do III Reich. São o IV Reich.  



O GOVERNADOR E O ASSASSINATO DO JUIZ



Laerte Braga


Tentar escolher um estado da Federação (de mentirinha) brasileira para servir de referência em termos de índices quase absolutos de corrupção, barbárie, essas coisas corriqueiras do dia a dia do mundo institucional é difícil.

Seja porque a mídia privada é parte do processo de corrupção e degradação da vida pública, atrelada que é a interesses dos principais acionistas do Estado brasileiro e dos vinte e seis estados da Federação, além, lógico, do Distrito Federal. Seja porque o céu que se pinta azul, o cenário que se mostra deslumbrante refletem apenas o marketing de especialistas em transformar catástrofes em algo paradisíaco. Ou demônios em anjos.

Os maranhenses, por exemplo. Não têm culpa da família Sarney. Nem os baianos da família ACM. Ou os mineiros das famílias que repartem o poder no estado. Há toda uma estrutura a serviço dessa gente e a máquina estatal transformada em propriedade privada, logo, garantindo a existência dessas oligarquias.

Sérgio Cabral é um descalabro. Caiu a máscara do bom moço. O governador sorridente, que pacifica, ouve o povo, está no bolso e nos aviões de grandes empreiteiros, num dolce far niente, do faz de conta que governo o Rio de Janeiro. Saqueia, é diferente.

O extinto estado do Espírito Santo serve de exemplo para definir um lugar onde tudo o que acontece em Minas, São Paulo, Maranhão, etc, acontece por ali em termos quase absolutos.

O ex-governador Paulo Hartung é a soma de toda a podridão que se possa imaginar possível. Passou oito anos servindo aos donos do estado (ARACRUZ, SAMARCO, CST e outros menores). Qualquer ato de corrupção ou de barbárie imaginável ou inimaginável o ex-governador praticou.

Esse movimento maluco que aparece por aí convocando brasileiros a manifestarem-se em agosto contra algumas coisas, entre elas o auxílio reclusão – remanescentes da ditadura acuados na covardia dos documentos secretos da tortura – podia, tranquilamente, criar um sistema para aproveitamento desse tipo de político, Paulo Hartung em penitenciárias.

O risco é Beira-mar virar fichinha perto do ex-governador e qualquer grande traficante, pistoleiro, latifundiários (vamos supor, para efeito de raciocínio que tenha algum preso).

Professor de crime. Organizador de quadrilhas à prova de justiça e da Justiça. Não haveria estranheza na hipótese de acontecer algo assim, de Beira-mar ficar com a tarefa de lustrar os tacões assassinos de Hartung.

O juiz federal Alexandre Martins investigava no extinto Espírito Santo o crime organizado. Começa no Palácio do governo, o que já é complicado, passa pelo Tribunal de Justiça e tem ramificações profundas na Assembléia Legislativa e bancada federal.

Um estado que foi governado por Gérson Camata, não sei quantas vezes senador, sócio em negócios familiares de Aécio Neves, não pode imaginar nada positivo. A não ser que seja para ele e seus “negócios”.

Como no estado do Rio o último governador decente foi Leonel Brizola, de lá para cá só bandido. No Espírito Santo a exceção de Max Mauro e Vítor Buaiz, o resto – resto mesmo – dá nó em pingo d’água e desentorta banana em matéria de banditismo.

O juiz Alexandre Martins foi assassinado. Na manhã de 24 de março de 2003 foi executado numa rua da cidade de Vila Velha, Grande Vitória. Alexandre Martins de Castro Filho. Estava levantando fatos e dados incômodos a Paulo Hartung e seus cúmplices – os donos do estado –. Decidiram executar o juiz, contrataram o ou os assassinos e pronto. Pagamento feito, tarefa cumprida, missa de sétimo dia marcada. ( materia Integra Congresso Em Foco; Seculo Diario - 2007, link final postagem)

De lá para cá um tal de segura a barra, inventa história, arranja culpado falso, suspeitos que não têm nada a ver com o caso, um jeito de fazer o tempo passar rápido e cair no esquecimento – para isso tiveram e têm a cumplicidade da maior empresa de mídia privada do estado, a REDE GAZETA, ligada a GLOBO o que não é novidade, novidade seria o contrário –, enfim, tentativas de evitar qualquer investigação que levasse aos verdadeiros responsáveis e acima de tudo, por envolver, como mandante, um governador, terminasse na federalização do crime, ou seja, passasse à esfera da Justiça Federal.

Uma história de horror contada por veículos independentes de mídia como o jornal on line SÉCULO DIÁRIO, mas mantida dentro de um cofre de atrocidades guardado a sete chaves por Paulo Hartung e sua quadrilha. Nisso daí, inclusive, o silêncio covarde do pai do juiz. Diga-se de passagem também magistrado, digamos assim. É muita esculhambação com a palavra, mas vá lá.

Um dos advogados contratados pelo pai do juiz para prestar serviços de auxílio ao Ministério Público devolveu os honorários que havia recebido ao perceber que sua ação ficaria limitada à verdade oficial, vale dizer, a mentira. Devolveu e denunciou publicamente o fato.


Qualquer paralelepípedo, como diria Nélson Rodrigues, sabe da história e do envolvimento de Paulo Hartung. O problema é fazer com que a máquina estatal, corrompida, funcione e chegue ao ponto desejado, a verdade.

O atual governador – Renato Casagrande – é um fraco. Não vai mexer nessa história nem debaixo de pancada, sabe que governa o ingovernável, que por baixo das aparências oficiais está o verdadeiro capataz dos donos do extinto Espírito Santo, Paulo Hartung. O vice então é o que chamamos panaca. Ou panacão para ser mais preciso.  

A Justiça essa então! Metade do Tribunal de Justiça do extinto estado foi presa numa operação da Polícia Federal. A turma da venda de sentenças e outras fraudes, como sentar em cima de processos, etc, etc. A Assembléia? Olhe, onde existe um Carlos Verezza, ou um Genivaldo Lievori não vai a lugar nenhum que não show. O tal negócio do “eu faço” e depois some, não faz nada.

O caso é tão escabroso que o ex-governador montou um esquema de grampo dentro da REDE GAZETA, com cumplicidade dos donos, para saber que jornalistas estavam tentando “prejudicá-lo”. Um escândalo que ficou para lá também. Isso à época dos fatos, o esforço concentrado da turma para abafar e esconder a verdade.

Rodney Miranda, deputado estadual, é presidente da Comissão Parlamentar de Segurança. O cara esteve envolvido em tortura, tem seu nome na lista de torturadores das Nações Unidas. Outro envolvido na história, no crime.

Uma história de horror. Lembra as barbáries que latifundiários cometem contra camponeses e pequenos proprietários no Pará. Ou abusos de empresas contra trabalhadores. Corrupção de governos estaduais diante do poder de grandes empresários, banqueiros. Podridão da grande mídia. Enredo completo, não falta nada. Filme que se convencionou chamar de B, aquele que você passa perto de um beco e Jack o Estripador sai de lá e esquadrinha/navalha cada parte de seu corpo.

Boa parte dessa gente é oriunda da ditadura militar. Outros não, claro, apenas mudaram de lado, escolheram o “sou, mas quem não é”. Ou o “fazer o que?”

No bom português a maioria na conversa de ou dá ou desce preferiu não descer. Ficou.

E Paulo Hartung continua a governar de fato o extinto estado do Espírito Santo, Casagrande faz de conta que tem uma bússola, se é que sabe o que é isso e assim, vida que segue, um dos estados brasileiros com verdadeiros paraísos ecológicos vai se transformando, na sanha de criminosos, em síntese do que conhecemos como crime organizado.

Destruído no tal progresso que só beneficia a turma de cima.

Se Capone vivesse hoje duvido que iria optar por Chicago. Pelas bandas do extinto Espírito Santo os “negócios” são mais lucrativos e os riscos de ser pego praticamente inexistem. 

Abaixo os links onde a história pode ser lida em totum.          


"O impacto do Wikileaks será percebido em alguns anos"



por Clarinha Gloc, da IPS

031 225x300 “O impacto do Wikileaks será percebido em alguns anos”Clarinha Glock/IPS
Kristinn Hrafnsson junto a Natalia Viana, da agência de jornalismo investigativo Pública.

São Paulo, Brasil, 14/7/2011 – Mesmo antes de ser contratado como porta-voz do Wikileaks, em julho de 2010, o jornalista Kristinn Hrafnsson, de 49 anos, percebeu que a nova rede que surgia tinha o poder de provocar transformações com o simples ato de informar a sociedade, começando por seu próprio país, a Islândia. Foi em 2009, enquanto Hrafnsson e outros jornalistas islandeses sentiam o bloqueio à sua tentativa de obter e divulgar notícias sobre os “banksters” (gângsteres bancários) e o colapso econômico provocado no setor, quando recebeu a primeira comunicação do Wikileaks, transnacional e sem fins lucrativos, cujo propósito é tornar públicos documentos confidenciais de empresas e governos. O Wikileaks e sua principal figura e criador, o australiano Julian Assange, divulgaram, então, uma lista de todos os envolvidos no escândalo dos bancos islandeses, “um tremendo esquema de fraude”, recorda Hrafnsson. “Houve um despertar dos jornalistas da Islândia, e ninguém duvidou da importância do que o Wikileaks estava fazendo”, disse. Esta certeza o mantém até hoje à frente da tarefa de divulgar o “fenômeno Wikileaks” em diferentes países nos quais a organização vai forjando alianças, enquanto Assange permanece em prisão domiciliar na Grã-Bretanha, à espera do resultado de um processo de extradição solicitada pela Suécia para julgá-lo por agressão sexual e violação.
Para Hrafnsson, além do impacto inicial de algumas revelações, os efeitos reais do Wikileaks somente poderão ser avaliados dentro de alguns anos. Foi o que disse à IPS durante sua viagem ao Brasil, onde participou do VI Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, realizado de 30 de junho a 2 de julho em São Paulo, pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. Na oportunidade anunciou a divulgação de quase três mil documentos da diplomacia norte-americana referentes ao Brasil. Entre eles, 63 despachos do Departamento de Estado dirigidos aos seus diplomatas no Brasil, e 2.919 telegramas enviados a Washington entre 2002 e 2010 pela embaixada em Brasília e pelos consulados de São Paulo, Rio de Janeiro e Recife.
Publicados no dia 11 no site do Wikileaks, e desde junho no portal de sua associada no Brasil, a agência de jornalismo investigativo Pública, estes documentos fazem parte do pacote de 251.287 telegramas norte-americanos que vazaram para o Wikileaks, que começou a divulgá-los no dia 28 de novembro do ano passado. O Wikileaks “desafiou os meios tradicionais e tornou os jornalistas mais audazes, e eles voltaram a fazer perguntas difíceis”, disse Hrafnsson em sua exposição.
Pela primeira vez em muitos anos, diferentes meios de comunicação trabalharam em colaboração, recebendo e retransmitindo as notícias. Já há mais de 70 meios de comunicação analisando estes documentos, afirmou. Terminada a apresentação, Hrafnsson concedeu uma entrevista à IPS.
IPS: Como medir o impacto da divulgação de documentos confidenciais em diferentes países?
KRISTINN HRAFNSSON: Sempre soube que o material que tinha nas mãos causaria um grande efeito. Era difícil dizer de que tipo, como se concretizaria, mas foi extremamente importante ver que a informação que lançamos teve uma repercussão dramática sobre o que ocorria no Oriente Médio com a Primavera Árabe. Quando o material se fez sentir na Tunísia, no começo de dezembro, o presidente Zine El Abidine Ben Ali comandava, desde 1987, um regime muito corrupto. Isso não era surpresa para ninguém na Tunísia, onde já estavam indignados com a falta de liberdade e os problemas econômicos, enquanto o regime corrupto vivia no luxo. Porém, o alcance dessa corrupção e do nepotismo expostos nos telegramas alimentou ainda mais o público e lhe deu coragem para ir às ruas. E também causou impacto, na minha opinião, porque os cidadãos o conheceram na perspectiva alheia, em um informe detalhado enviado pelo Departamento de Estado. “Então eles sabem que tipo de ditador temos. E ainda assim o financiam”, pensaram.
O mesmo se aplica a Hosni Mubarak no Egito, acusado de ordenar torturas nas prisões de seu país. O Wikileaks não provocou a revolução na Tunísia, longe disso. O que a provocou foi o ato de um universitário que colocou fogo em seu corpo como protesto e morreu no dia 4 de janeiro. Dez dias depois, o governo caiu. Contudo, há outro fato: quando estas pessoas se uniram, deixaram de ter medo. Se organizaram em redes sociais, foi a primeira revolução pela internet. E isso se propagou para Egito, Iêmen e Síria. Portanto, vemos resultados em todos os lugares. É comum serem subestimados, apesar de serem tão importantes quanto a queda do Muro de Berlim. Estamos presenciando uma mudança fundamental no mundo árabe. E não são os fundamentalistas islâmicos que a promovem, nem os comunistas. Não tem nada a ver com as ideologias que todos temiam. Tem a ver com os direitos fundamentais básicos de liberdade, é por isso que as pessoas estão lutando. Querem bem-estar econômico, uma parte da riqueza do país e liberdade de expressão, de reunião. Querem democracia.
IPS: De algum modo o Wikileaks proporcionou apoio para perseverarem em suas revoluções?
KH: Absolutamente. Também vimos isso no Egito quando os Estados Unidos quiseram intervir em seus assuntos internos. O então presidente Hosni Mubarak estava em situação muito delicada e Washington pressionou para a escolha de um substituto. Nós divulgamos um comunicado afirmando que se tratava da mesma engrenagem de controle do país.
IPS: Como é a participação do Wikileaks neste processo de mudanças?
KH: Principalmente mediante o conceito geral de dar às pessoas informação a que têm direito, os registros históricos, o que é essencial. Estamos desmitificando os procedimentos diplomáticos. E estamos dando detalhes de uma guerra realizada secretamente. Até agora, só o que conseguíamos arrancar destas guerras era um jornalismo apático. Agora é diferente. Estamos incentivando um novo ideal. Espero que beneficiar as pessoas dessa região, como de outras, possa gerar mudanças. Não posso dar exemplos individuais, é difícil estabelecer uma relação de causa e efeito. Não vou tão longe. Entretanto, de um modo geral, os efeitos estão aí: mudam os sentimentos, a maneira de ver os fatos. E, de muitos modos, só vamos ter uma ideia deste impacto dentro de alguns anos, quando nos dermos conta do que o Wikileaks nos proporcionou. É mais fácil senti-lo do que colocá-lo com exatidão no preto e branco. Envolverde/IPS

Fonte: Envolverde/IPS

Câmara retorna polêmico "AI-5 digital": direitos ou punições primeiro?



Câmara retoma polêmico ‘AI-5 digital’: direitos ou punições primeiro?Numa tensa audiência pública, três comissões da Câmara dos Deputados debatem projeto que tenta transformar em crime atos praticados na internet. Batizada de ‘AI-5 digital’ ao ser aprovado no Senado, em 2008, proposta é polêmica e tem poucas chances de consenso. Para defensores de que internet é espaço livre, Congresso deveria aprovar antes um ‘marco civil’ que garanta os direitos dos usuários. Governo concorda, mas enfrenta impaciência do relator, Eduardo Azeredo (PSDB-MG).
André Barrocal

BRASÍLIA – A proposta de tornar crimes previstos em lei, com punições bem definidas, certos atos praticados na internet voltou a esquentar o Congresso. Três anos depois de o Senado ter aprovado a tipificação de crimes cibernéticos, batizada de AI-5 digital, alguns deputados lutam para votá-la pela última vez em agosto, na volta do recesso parlamentar.
O projeto foi debatido nesta quarta-feira (13/07) por três comissões da Câmara, numa audiência pública tensa. Ficou claro que a chance de consenso é nula. De um lado, com apoio do governo, há os defensores de que primeiro uma lei estabeleça os direitos do usuário de internet. De outro, os que querem punições já.
Para o primeiro grupo, criminalizar atos e práticas na internet seria um atentado contra a liberdade de expressão e um espaço que é anárquico por natureza e que retira daí sua criatividade. “A liberdade na internet é que permitiu uma produção de conteúdo e de diversidade cultural jamais vistos”, disse Sérgio Amadeu, ex-presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI).
A criminalização também prejudicaria os usuários enquanto consumidores, na avaliação do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC). Segundo Guilherme Varela, representante do IDEC no debate, a internet é uma ferramenta que faz intermediação de relações de consumo e que garante “protagonismo” e “privacidade” ao consumidor, sempre a parte mais fraca. “O consumidor não precisa de uma lei de crimes cibernéticos, precisa antes de uma lei de direitos e de proteção de dados”, afirmou.
A “lei de direitos” a que se referiu Varela é conhecida como “marco civil” e está sendo preparada pelo governo. O marco civil, na visão de seus defensores e do governo, é necessário para assegurar tudo o que os internautas podem fazer e como eles se protegeriam de provedores e servidores, por exemplo. “Deveríamos começar com a delimitação de direitos e deveres. Só depois, identificar violações e, se houver, tipificar como crime”, disse na audiência Demi Getschko, do Comitê Gestor da Internet (CGI).
Para ele, a tecnologia poderia ajudar a resolver problemas que ela mesmo cria e que estão na mira de punições. É o caso de invasão de sites por hackers.
O diretor-presidente do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), Marcos Vinícius Mazoni, concorda que a habilidade tecnológica é suficiente para evitar crimes. “Não temos nenhum site operado pelo Serpro invadido. As invasões citadas pela mídia não foram verdadeiras”, disse Manzoni, em referência a recentes ataques sofridos por sites oficiais que são administrados pelo Serpro.
Os ataques foram citados na audiência pública como fatos que exigiriam uma lei a tipificá-los como crimes.
Integrante da primeira Promotoria Pública do Brasil dedicada a cibercrimes, criada em 2008 em Minas Gerais, a promotora Vanessa Fusco disse que metade dos casos que lhe chegam têm de ser arquivados por falta de uma lei que sustente uma acusação perante a Justiça. A invasão das contas correntes das pessoas que usam banco pela internet cairia nesta situação, por exemplo. “Há uma dificuldade imensa dos promotores de Justiça hoje”, afirmou.
Advogada especializada em casos cibernéticos, Patricia Peck Pinheiro expressou a mesma opinião no debate. “Hoje estamos protegendo criminosos no Brasil”, declarou.
Relator do projeto na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, uma das promotoras da audiência pública e cujos membros fizeram um acordo para votar o projeto em agosto, Eduardo Azeredo (PSDB-MG) é mais sensível aos argumentos dos defensores da criminalização. Até por ter sido, três anos atrás, relator do projeto no Senado – foi senador até 2010. “Não dá mais para o país ficar omisso. E há omissão do governo federal, com a demora no envio do marco civil”, disse.
Segundo Carta Maior apurou, a proposta de marco civil já foi encaminhada pelo ministério da Justiça e está no Palácio do Planalto para ser submetida à presidenta Dilma Rousseff. Mas não há prazo para que isso aconteça.


Fonte: site da Carta Maior

quarta-feira, 13 de julho de 2011

O desalento da presidente




Mauro Santayana

Ao falar, ontem, a emissoras do Paraná, a Presidente Dilma Roussef foi sincera e humana: há muitas coisas no governo que a entristecem. Pode estar certa a chefe de Estado que os brasileiros em sua  imensa maioria comungam do mesmo desalento. Os cidadãos entendem que o ato de governar é difícil, e que reclama habilidade e paciência, mas não  aceitam -  salvo  os interessados na instabilidade política – as pressões que se fazem à presidente. Depois de ouvir um correligionário irado, que se queixava  do tratamento privilegiado a um aliado do governo, Juscelino gastou meia hora tranqüilizando-o. Quando o reclamante saiu, desabafou-se com seu chefe da Casa Civil, Vítor Nunes Leal:


- Aqui, na Presidência, suporto insolência que não agüentaria, se fosse simples prefeito de Diamantina.


Ele não foi prefeito de Diamantina, mas, os que o conheceram prefeito de Belo Horizonte e governador de Minas,  se lembram de que ele era rigoroso  com seus subordinados, e sabia cobrar as tarefas com energia.


Podemos entender as dificuldades da presidente e não podemos negar-lhe solidariedade e apoio. Não lhe serve de consolo, mas de estímulo, saber que os governantes dos principais países do mundo não se sentem tampouco em plena felicidade nestes últimos meses e anos. Estamos em um daqueles momentos históricos em que a ruptura se anuncia, mas pede líderes sensatos, capazes de criar instrumentos políticos hábeis para vencer a conjuntura perigosa.


Não é seguro que a História se repita, embora os seus movimentos de impaciência sempre se pareçam. O grande fermento das mudanças é a informação, que amplia o entendimento dos homens e suscita idéias novas, nas artes, na filosofia e na política. Isso explica que o Renascimento tenha sido contemporâneo da imprensa, e o Iluminismo, sua continuidade, haja trazido  ebulição intelectual que não só deflagraria a Revolução Francesa, mas também estabeleceria os fundamentos científicos da tecnologia contemporânea.


A química de Lavoisier abriu a imensa perspectiva da produção de sucedâneos das matérias naturais e sem ela seria impensável a nanotecnologia, entre outras conquistas da ciência de hoje. Mas o excepcional cientista deixou-se seduzir pela corrupção, ao participar de uma empresa concessionária da cobrança de impostos, que lesou as finanças revolucionárias, e foi guilhotinado. Não são raros os casos de corrupção de homens geniais.


O que está ocorrendo em algumas áreas do governo felizmente não chega a anunciar horas tão trágicas como as vividas na França de há 220 anos – mas incomoda principalmente os  que têm muito a elogiar na política econômica e social dos últimos oito anos e seis meses. Não se pode perder uma experiência que reduziu drasticamente a desigualdade e promoveu o desenvolvimento do país, de forma tão marcante, em conseqüência dessa promiscuidade entre setores do governo e do parlamento com empreendedores privados.


Um dos mais audaciosos criminosos dos anos 70, o assaltante Lúcio Flávio, ficou famoso por uma sentença óbvia, ao explicar por que não se envolvia com policiais: polícia é polícia, bandido é bandido. A máxima – reduzida a crueza de sua origem e circunstância – pode ser ampliada: governo é governo, empresas privadas são empresas privadas. A realidade – aqui e em todos os países ocidentais, registre-se – mostra que já não há fronteiras nítidas entre a administração pública e os grandes negócios. Os pequenos empresários se candidatam ao poder municipal, e começam a crescer fazendo negócios com a prefeitura. Em seguida se elegem para os parlamentos estaduais e para o Congresso – onde ampliam sua participação nos recursos públicos:   mediante suas próprias empresas, ou se associando a grupos nacionais e internacionais. Em alguns casos, preferem ser apenas intermediários. São lobistas privilegiados, com acesso a todos os níveis de poder.


Estamos chegando aos limites da paciência dos povos. Nos Estados Unidos, Obama não consegue taxar os ricos em favor dos pobres, porque a maioria dos congressistas representa ali os grandes interesses financeiros e industriais, entre eles os dos fabricantes de armas. Na Europa, para salvar o dinheiro dos grandes bancos, os estados nacionais estão indo à falência. A razão é simples: são os ricos que financiam as eleições e a eles os governos prestam obediência.


É interessante relembrar que, na França de 1789, o povo foi às ruas e derrubou a Bastilha em favor de um banqueiro que, na administração das finanças nacionais, corroídas pela ladroagem dos nobres, defendia reformas moralizadoras. Necker teve a lucidez que falta aos banqueiros de hoje – e, por isso mesmo, não perdeu a cabeça naquelas jornadas sangrentas.


A presidente está diante de  arriscada oportunidade: a de iniciar o processo de saneamento da administração do Estado. Os observadores sensatos contam com sua paciência diante da protérvia e sua firmeza estratégica. É certo que enfrentará inimigos poderosos, internos e externos, mas, se assim agir, a maioria do povo brasileiro estará ao seu lado, como esteve nas eleições do ano passado

 

Fonte: publicado originalmente no JB online. Texto retirado do site Conversa Afiada

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A escola Murdoch de jornalismo patife

Poder em pane


No último domingo, um dos jornais de maior tiragem no Reino Unido deixou de circular. Criado há 168 anos, o tabloide "News of the World" fechou as portas depois de descoberta a maneira peculiar com que conseguia seus furos de reportagem.


Especializado em escândalos políticos ou de alcova, destruição de reputações, furos sensacionalistas, o jornal contratava, desde há muito, um detetive particular para grampear e ter acesso a telefones de políticos, celebridades e mesmo gente comum.


Por trás do jornal estão as marcas de seu dono, Rupert Murdoch . Proprietário do maior conglomerado de mídia do mundo, a News Corporation, Murdoch representa o jornalismo em seu processo de degradação.


Seus canais de comunicação, como a rede de TV Fox News, conseguiram impor o modelo de um jornalismo a serviço das opiniões mais conservadoras, repetidas com a sutileza de quem está em guerra contra qualquer sombra de divergência.


Sua figura representa, ao mesmo tempo, a oligopolização do mercado de mídia e a imposição de uma agenda caricata de debate. Basta lembrarmos do nível dos argumentos dos ditos "âncoras" da Fox News. Basta lembrarmos também de como um dos editores do "News of the World" acabou parando na campanha do atual primeiro-ministro britânico David Cameron.


Que um de seus jornais seja pego aplicando táticas fora de qualquer padrão mínimo de respeito à privacidade, eis algo que não deve nos estranhar. Murdoch tornou a produção de notícias setor de uma luta política onde reina a seletividade do escândalo.


Todos, em algum momento, fizeram algo que não gostariam de mostrar na esfera pública. Mas cabe ao jornal decidir quem vai ser exposto e quem será conservado, quem vai para a primeira página e quem vai para a nota do canto.


A lei "dois pesos, duas medidas" transforma-se em uma regra, adequando-se às exigências de uma sociedade do espetáculo.


Nesse sentido, o fechamento do "News of the World" deveria servir para uma autorreflexão da imprensa mundial. Muito já se disse a respeito da imprensa como quarto poder, mas o que acontece quando esse poder entra em pane?


Pode-se dizer que quem empenha sua credibilidade a serviço da luta política acaba por pagar um preço alto, como nesse caso. Mas quanto tempo é necessário esperar para que a conta seja paga?


Durante anos, o jornal de Murdoch usou da invasão criminosa da privacidade para influenciar a pauta dos escândalos. Mesmo descoberto, o estrago já foi feito.


A população tem o direito de perguntar se não existiria outros veículos que agem como o tabloide de Murdoch.


Artigo de Vladimir Pinheiro Safatle, professor livre docente do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP), especialista em epistemologia (teoria do conhecimento) e filosofia da música. Publicado na Folha, edição de l2/07/2011


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Aqui no RS, a escola Murdoch de jornalismo patife tem seguidores. Vocês não lembram que no governo Yeda (2007-2010) havia profissionais de imprensa que tinham acesso privilegiado ao sistema Guardião administrado pela Secretaria da Segurança para escutas autorizadas pela Justiça? O caso foi abafado, por motivos óbvios, mas o método by Rupert Murdoch de "jornalismo investigativo" também está plenamente consagrado na pequena pátria de bombachas. 

-Fonte: texto retirado do Blog Diário Gauche-

terça-feira, 12 de julho de 2011

Campanha contra os Agrotóxicos lança filme de Silvio Tendler


com informações da página do MST

A Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e Pela Vida lançará no próximo dia 25 de julho o filme “O veneno está na mesa”, mais nova produção do diretor Silvio Tendler. O evento acontecerá no teatro Oi Casa Grande, e contará com um debate com participação do diretor e de Letícia Rodrigues da Silva, da ANVISA.
Além disso, a Campanha acaba de lançar o primeiro caderno de formação. O caderno apresenta um material de subsídio sobre os efeitos dos agrotóxicos na agricultura, na saúde humana e no meio ambiente. O prefácio da caderno foi escrito por Jean Pierre Leroy, assessor da Fase e membro da Rede Brasileira de Justiça Ambiental.
“Este livro quer nos colocar em movimento, nos armar para o bom combate, nos colocar em campanha não só contra este modelo agrário, mas a favor de outro desenvolvimento, minando por dentro o capitalismo que desumaniza o mundo e desnatura o planeta”, avalia Leroy

Faça o download do Caderno de Formação
Abaixo, leia o prefácio da cartilha.
Prefácio
Em 1962, a norte-americana Rachel Carson publicou um livro de grande repercussão, A primavera silenciosa, em inglês Silent Spring. Ela mostrava que o DDT, pesticida inicialmente produzido para lutar contra a malária, matava não somente as pragas, mas todo tipo de insetos e de pássaros e penetrava na cadeia alimentar e no corpo dos animais e seres humanos. As consequências eram dramáticas para o meio ambiente e a saúde humana, tanto que o DDT foi progressivamente banido. Se o livro de Rachel Carson e suas repercussões forçaram as indústrias produtoras de pesticidas a se  defender e demonstrar a ausência de nocividade dos seus produtos, elas não se deram por vencidas.
O Desastre de Bhopal, ocorrido em 3 de dezembro de 1984, na região de Bhopal, Índia, quando uma fábrica da empresa Union Carbide deixou vazar 27 toneladas do gás mortal isocianato de metila, é paradigmático. Meio milhão de pessoas foi exposta ao gás; delas até o momento 25 mil já morreram e 100 mil pessoas são doentes crônicos pelos efeitos desse desastre. A Union Carbide e sua proprietária, a Dow Chemical, continuam negando a responsabilidade pela intoxicação e se negam a limpar a fábrica.
Os pesticidas causam ou podem causar a contaminação da água, do solo e do ar, de plantas e animais, e das pessoas. Às vezes, os seus efeitos sobre as pessoas são imediatos. Lembro a fumigação aérea que atingiu a cidade de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso. Situada numa área de cultivo de soja, foi pulverizada por agrotóxicos em 2006, porque um pequeno avião de aspersão jogou químicos demais e de forma imprudente. Não demorou para que pessoas começassem a aparecer  com sintomas de contaminação, às vezes graves. Mas geralmente as consequências demoram em se fazer sentir, o que torna difícil apontar o culpado.
O fato é que estamos vivendo num mundo impregnado e saturado de produtos químicos, em particular de agrotóxicos, e que isso raramente aparece como uma preocupação da sociedade. Quando um trabalhador rural é atingido, se diz que não usou os  equipamentos de proteção, que não seguiu as normas de uso, ou que fez mau uso do produto, colocando doses exageradas ou aplicando fora do momento previsto.
Isso acontece, é verdade, mas acusá-los é inverter a responsabilidade: empresas produtoras e vendedoras e poder público devem fornecer o acesso à informação qualificada, não somente colar bulas nos frascos e nos galões. O problema é que as indústrias não têm nenhum interesse em informar, não só o trabalhador, mas também o vizinho da fábrica e o consumidor dos alimentos sobre os reais perigos dos seus produtos. E mais, elas não querem saber desses perigos potenciais, que poderiam
colocar em risco seus lucros. Não promovem pesquisas independentes e chegam mesmo a atacar e desmoralizar pesquisas que questionam seus produtos.
O que levou a essa situação? Aponto aqui três fatores interligados: o modelo de agricultura, a confiança desmedida no progresso tecnológico e o domínio das grandes empresas. O modelo de agricultura dominante é oriundo do que se convencionou chamar de “Revolução Verde”, implementada a partir da segunda metade do século XX para incrementar a agricultura nos países ditos então subdesenvolvidos. A Revolução Verde está calcada no uso combinado de variedades (sementes e matrizes) de alto rendimento, de adubos e produtos fitossanitários (os agrotóxicos) e na irrigação
intensiva. Ela facilitou o crescimento da grande propriedade e, com ela, o uso de maquinário pesado. Com ela, efetivamente, aumentou enormemente a produção de alimentos, embora a fome continue, já que a alimentação se tornou uma mercadoria inacessível para muitos.
Nota-se que os agrotóxicos fazem parte de um pacote. Se quisermos questioná-los, é preciso questionar o pacote inteiro. A Revolução Verde suscitou o entusiasmo dos pesquisadores que se empenharam para que a produção alimentar subisse, apoiada em muitas inovações tecnológicas. Ela não nasceu de um dia para o outro; tem a sua origem no processo de industrialização do mundo ocidental que se desenvolveu desde o início do século XIX. As ciências conheceram um enorme progresso e as aplicações das suas descobertas se multiplicaram. As duas guerras mundiais tiveram seu papel nisso, com o uso de gases mortíferos desenvolvidos pelas indústrias químicas e do DDT, para evitar que os soldados fossem vítimas da malária.
Os cientistas que criaram o DDT achavam que estavam dando uma grande contribuição à humanidade. A sua confiança na ciência e na tecnologia era total. Hoje também há cientistas e técnicos que acreditam sem restrição que as sementes transgênicas são a melhor solução. Eles ignoram o princípio de precaução, que reza que certas ações humanas podem ter consequências graves para o futuro e em lugares distantes do local onde estão sendo efetivadas. Agrotóxicos podem prejudicar a saúde de um ser humano que ainda não nasceu, porque sua mãe foi contaminada.
Zonas costeiras veem diminuir a vida marinha, porque um rio que deságua no mar carregou restos de agrotóxicos que vieram de centenas de quilômetros de distância.
Essa busca permanente da ciência por novas descobertas e novas aplicações para elas (o que foi nomeado tecnociência) encontrou um terreno propício ao seu desenvolvimento na agroindústria. Para esta, inovação significa novos produtos e mais lucros.
A ETC Group, a ONG mais atuante na temática das novas tecnologias, em comunicado de 2008 sobre as grandes corporações, menciona as palavras do presidente de Crop Science de Syngenta, John Atkin: “A resistência [das pragas aos agrotóxicos] é um fenômeno globalmente sadio, porque nos obriga a inovar”.
Segundo a ETC Group, “trinta anos atrás, havia dezenas de fabricantes de pesticidas enquanto hoje dez fabricantes realizam cerca de 90% das vendas de produtos químicos no mundo”. A conclusão que ela tira daí é muito instrutiva: Assim como a biotecnologia, as novas tecnologias não necessitam provar a sua utilidade social ou sua superioridade técnica para ser lucrativas. Só têm que expulsar a concorrência e forçar o Estado a
abrir mão do controle. Uma vez o mercado monopolizado, os verdadeiros resultados da tecnologia não têm mais a menor importância. E poderíamos acrescentar: “os verdadeiros efeitos dos agrotóxicos não têm importância”.
As pressões exercidas com sucesso sobre a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para aumentar o valor de resíduo de agrotóxicos na soja Roundup Ready; o sucesso em manter o uso de pesticidas extremamente perigosos, como o endosulfan, proibido há mais de 20 anos na União Européia e em vários países e somente agora
proibido no Brasil; e, num outro registro, a maneira como a CNTBio toma as suas decisões sobre a liberação de sementes transgênicas; e a desqualificação e a criminalização de pesquisadores independentes são exemplos do poder do que poderíamos chamar de “discurso único”, uma das maneiras pelas quais se manifesta a hegemonia do capital.
Isso não seria possível sem uma combinação de interesses que junta as grandes corporações, os principais meios de comunicação e a grande maioria dos executivos e legisladores. Ao seu serviço, os economistas, que mostram que o agronegócio exportador, e a tecnociência já mencionada, é a salvação do país. Esse conjunto faz o
que eles identificam como sendo a “opinião pública” acreditar que a modernidade, o desenvolvimento do país e a erradicação da miséria passam por esse modelo de agricultura. Em retorno, empresas, partidos e políticos e meios de comunicação se apóiam nessa opinião pública que formaram para impor seus interesses como se fossem os interesses de todos. O círculo vicioso se fecha. As outras falas são silenciadas e passam a não exisitir.
É esse o bloco de poder que deve ser minado. “Minado”, não derrubado, pois na atual correlação de forças, há um longo caminho de transição a percorrer. O complexo do agronegócio é baseado tecnicamente no modelo da Revolução Verde. Do ponto de vista
econômico e político, é peça importante do capitalismo globalizado; cultural e ideologicamente, é orientado pela crença cega no poder quase absoluto das ciências e tecnologias de inventar o futuro. Não há lugar para a busca da igualdade e para o cuidado real da natureza, para a saúde e para a qualidade de vida no complexo agroindustrial. Frente a ele, quais são as tarefas?
O estudo dos agrotóxicos, a informação, a denúncia e o combate direto, sem dúvida. Mas isso não é suficiente. A agricultura ecológica, a economia solidária, estratégias locais/regionais de produção e de consumo, por atacarem o mode9 lo capitalista em um dos seus pilares de sustentação (o agronegócio), tornam-se tarefa política essencial.
Este livro quer nos colocar em movimento, nos armar para o bom combate, nos colocar em campanha não só contra este modelo agrário, mas a favor de outro desenvolvimento, minando por dentro o capitalismo que desumaniza o mundo e desnatura o planeta. É a Via Campesina assumindo o seu papel de protagonismo na construção do futuro.

Fonte: MST  Rio site do Boletim   

Licitações só terão empresas sem dívida trabalhista a partir de 2012

 

Dilma Rousseff sanciona lei que restringe entrada em licitações públicas a empresas sem dívidas trabalhistas. Exigência vale inclusive para obras da Copa do Mundo e da Olimpíada, que seguirão regras específicas. Regularidade será comprovada por meio de um novo documento, a Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas (CNDT), cuja criação foi incluída na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Exigência começa em 180 dias. Entidade patronal fez lobby contra sanção da lei, nascida de projeto apresentado há nove anos no Congresso.


André Barrocal

BRASÍLIA – A partir de janeiro do ano que vem, as empresas interessas em participar de licitações públicas terão de provar que estão em dia com pagamentos trabalhistas. Em caso de dívidas, serão impedidas de habilitar-se para fornecer de bens ou serviços ao Estado. A exigiência também valerá para obras da Copa do Mundo e da Olimpíada, que serão contruídas segundo uma lei de licitações específica.

A obrigação de pagamentos trabalhistas regularizados como critério para entrar numa licitação consta de lei publicada no Diário Oficial da União da última sexta-feira (08/07). O texto faz mudanças em duas legislações anteriores. Na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), de 1943, e na Lei de Licitações, de 1993.

A CLT foi modificada para inclusão de um capítulo que cria a Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas (CNDT). Esta certidão só será obtida por pessoas jurídicas ou físicas sem dívidas perante a Justiça do Trabalho. O documento terá validade de seis meses.

Já a Lei de Licitações foi alterada para inserção da exigência de que participantes de licitações estejam em dia com a Justiça do Trabalho. A prova será a certidão negativa. Até agora, a legislação cobrava apenas que as empresas não tivessem débitos com o setor público (recolhimento de impostos, por exemplo).

A mudança na lei 8.666 atinge os artidos 27 e 29. Ambos serão aplicados no Regime Difederenciado de Contratação (RDC), a lei de licitações especial para obras da Copa e da Olimpíada aprovada recentemente pelo Congresso.

Dias antes de a presidenta Dilma Rousseff decidir o que faria com o projeto aprovado pelo Congresso, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) pressionou para que ela o vetasse.

A entidade recorreu às micros e pequenas empresas para justificar o ponto de vista. Disse que a nova exigência afetaria sobretudo aquele segmento, em que é mais comum haver disputas trabalhistas. Sem elas numa licitação, o preço pago pelo setor público aumentaria.

Histórico no Congresso
A lei nasceu de projeto apresentado em 2002 por um senador do então PFL, Moreira Mendes (RO), sob o argumento de que, como crédito de natureza trabalhista tem privilêgio em disputas judiciais – costuma-se dar preferência ao pagamento dele em casos de falência, por exemplo -, seria justo que o setor público também levasse em conta este quesito em suas compras. Hoje, Moreira Mendes é deputado federal pelo PPS e comanda a Frente Parlamentar da Agropecuária, conhecida como bancada ruralista.

O projeto foi aprovado no Senado em apenas dois meses, mas ficou quase oito anos na Câmara dos Deputados.

Levantamentos feitos a cada quatro anos pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) mostram sempre que a bancada patronal tem mais força e representantes no Congresso do que a sindical.

Na atual legislatura, por exemplo, o Diap diz que 46% dos congressistas pertencem à bancada empresarial e apenas 12%, à sindical.

Diante desta desproporção, aprovação da Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas talvez possa ser entendida a partir do fato de que a lei não foi votada nem no plenário na Câmara, nem no plenário do Senado. Mas apenas em comissões, o que é possível, em alguns casos, segundo as regras internas do Congresso.

Fonte: publicada originalmente no  site da Carta Maior