quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Todos os dias o povo come veneno. Quem são os responsáveis?

Por João Pedro Stédile*
O Brasil se transformou desde 2007, no maior consumidor mundial de
venenos agrícolas. E na última safra as empresas produtoras
venderam nada menos do que um bilhão de litros de venenos agrícolas.
Isso representa uma media anual de 6 litros por pessoa ou 150 litros
por hectare cultivado. Uma vergonha. Um indicador incomparável com
a situação de nenhum outro país ou agricultura.

Há um oligopólio de produção por parte de algumas empresas
transnacionais que controlam toda a produção e estimulam seu uso, como
a Bayer, a Basf, Syngenta, Monsanto, Du Pont, Shell química etc.

O Brasil possui a terceira maior frota mundial de aviões de
pulverização agrícola. Somente esse ano foram treinados 716 novos
pilotos. E a pulverização aérea é a mais contaminadora e
comprometedora para toda a população.

Há diversos produtos sendo usados no Brasil que já estão proibidos nos
paises de suas matrizes. A ANVISA conseguiu proibir o uso de um
determinado veneno agrícola. Mas as empresas ganharam uma liminar no
“neutral poder judiciário” brasileiro, que autorizou a retirada
durante o prazo de três anos... e quem será o responsável pelas
conseqüências do uso durante esses três anos? Na minha opinião é esse
Juiz irresponsável que autorizou na verdade as empresas desovarem seus
estoques.

Os fazendeiros do agronegócio usam e abusam dos venenos, como única
forma que tem de manter sua matriz na base do monocultivo e sem usar
mão-de-obra. Um dos venenos mais usados é o secante, que é aplicado
no final da safra para matar as próprias plantas e assim eles podem
colher com as maquinas num mesmo período. Pois bem esse veneno
secante vai para atmosfera e depois retorna com a chuva,
democraticamente atingindo toda população inclusive das cidades
vizinhas.

O DR.Vanderley Pignati, da Universidade Federal do Mato Grosso tem
várias pesquisas comprovando o aumento de aborto, e outras
conseqüências na população que vive no ambiente dominado pelos venenos
da soja.

Diversos pesquisadores do Instituto Nacional do Câncer e da
Universidade federal do Ceara já comprovaram o aumento do câncer, na
população brasileira, conseqüência do aumento do uso de agrotóxicos.

A ANVISA – responsável pela vigilância sanitária de nosso país,
detectou e destruiu mais de 500 mil litros de venenos
adulterados,somente esse ano, produzido por grandes empresas
transnacionais. Ou seja, além de aumentar o uso do veneno, eles
falsificavam a formula autorizada, para deixar o veneno mais potente,
e assim o agricultor se iludir ainda mais.

O Dr. Nascimento Sakano, consultor de saúde, da insuspeita revista
CARAS escreveu em sua coluna, de que ocorrem anualmente ao redor de
20 mil casos de câncer de estomago no Brasil, a maioria conseqüente
dos alimentos contaminados, e destes 12 mil vão a óbito.

Tudo isso vem acontecendo todos os dias. E ninguém diz nada. Talvez
pelo conluio que existe das grandes empresas com o monopólio dos meios
de comunicação. Ao contrário, a propaganda sistemática das empresas
fabricantes que tem lucros astronômicos é de que, é impossível
produzir sem venenos. Uma grande mentira. A humanidade se reproduziu
ao longo de 10 milhões de anos, sem usar venenos. Estamos usando
veneno, apenas depois da segunda guerra mundial, para cá, como uma
adequação das fabricas de bombas químicas agora, para matar os
vegetais e animais. Assim, o poder da Monsanto começou fabricando o
Napalm e o agente laranja, usado largamente no Vietname. E agora suas
fabricas produzem o glifosato. Que mata ervas, pequenos animais,
contamina as águas e vai parar no seu estomago.

Esperamos que na próxima legislatura, com parlamentares mais
progressistas e com novo governo, nos estados e a nível federal,
consigamos pressão social suficiente, para proibir certos venenos,
proibir o uso de aviação agrícola, proibir qualquer propaganda de
veneno e responsabilizar as empresas por todas as conseqüências no
meio ambiente e na saúde da população.
*membro da Via Campesina Brasil. Artigo publicado na edição de novembro da revista "Caros Amigos"