quarta-feira, 4 de abril de 2012

O caso Demóstenes Torres e as raposas no galinheiro [e os pitacos da leitora]

"Quisera eu ter a facilidade para escrever, como a jornalista Maria Inês Nassif o faz com maestria no texto a seguir. Ainda assim pus meus pitacos que estão entre colchetes", anotou a leitora Sonia Montenegro. A Equipe do blog Educom decidiu publicar seus pitacos entremeados com os parágrafos da Maria Inês Nassif, pois tendo muito a ver, ganha o leitor. Confiamos que Maria Inês não irá torcer o nariz por essa intromissão.

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03/04/2012 -  - Maria Inês Nassif*- Carta Maior


O rumoroso caso Demóstenes Torres é uma chance única de reavaliar o que foi a política brasileira na última década, e de como ela – venal, hipócrita e manipuladora – foi viabilizada por um estilo de cobertura política irresponsável, manipuladora e, em alguns casos, venal. E hipócrita também. (Maria Inês Nassif)


[ou seja, como sempre a imprensa atuou, desde a eleição do Lula, um político que nunca foi bem-visto pela "grande" imprensa brasileira. (SM)]

Teoricamente, todos os jornais e jornalistas sabiam quem foram os arautos da moralidade por eles eleitos nos últimos anos: ...

[Demóstenes era um deles, mas também Arthur Virgílio, Tasso Jereissati, Heráclito Fortes, Mão Santa, entre outros, que perderam as eleições em seus estados em 2010, sem falar no neto de ACM, cujo DNA dispensa apresentações e o "darling" da vez, Agripino Maia, que a imprensa está poupando, mas que está sendo investigado num escândalo milionário pela operação "Sinal Fechado" da PF (SM)]


... representantes da política tradicional, que fizeram suas carreiras políticas à base de dominação da política local, que ocuparam cargos de governos passados sem nenhuma honra, que construíram seus impérios políticos e suas riquezas pessoais com favores de Estado, que estabeleceram relações profícuas e férteis com setores do empresariado com interesses diretos em assuntos de governo.
  



Foram políticos com
 esse perfil os escolhidos pelos meios de comunicação para vigiar a lisura de governos. Botaram raposas no galinheiro.


Nesse período, algumas denúncias eram verdadeiras, outras, não. Mas os mecanismos de produção de sensos comuns foram acionados independentemente da realidade dos fatos. Demóstenes Torres, o amigo íntimo do bicheiro, tornou-se autoridade máxima em assuntos éticos. Produziu os escândalos que quis, divulgou-os com estardalhaço. Sem ir muito longe, basta lembrar a “denúncia” de grampo supostamente feita pelo Poder Executivo no gabinete do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, então presidente da mais alta Corte do país. Era inverossímil: jamais alguém ouviu a escuta supostamente feita de uma conversa telefônica entre Demóstenes, o amigo do bicheiro, e Mendes, o amigo de Demóstenes.

[Para quem não lembra, esse episódio aconteceu logo depois do escândalo dos dois habeas-corpus concedidos pelo Gilmar Mendes, então presidente do STF, ao empresário condenado Daniel Dantas, em tempo recorde, com direito a horas-extras nas madrugadas. O factóide serviu para tirar a atenção das pessoas desse absurdo, e as colocar contra o governo do Presidente Lula e o chefe da ABIN, Paulo Lacerda, um delegado íntegro, que o Lula, para poupá-lo, mandou para Portugal. É importante verificar que, não importa denegrir a imagem de um homem de bem, desde que sirva para os interesses escusos de quem os promove (SM)]

Os meios de comunicação receberam a suposta transcrição de um grampo, onde Demóstenes elogia o amigo Mendes, e Mendes elogia o amigo Demóstenes, e ambos se auto-elegem os guardiões da moralidade contra um governo ditatorial e corrupto.

Contando a história depois de tanto tempo, e depois de tantos escândalos Demóstenes correndo por baixo da ponte, comunicação engoliram a estória sem precisar de água. O show midiático produzido em torno do episódio transformou uma ridícula encenação em verdade.
parece piada. Mas os meios de

A estratégia do show midiático é conhecida desde os primórdios da imprensa. Joga-se uma notícia de forma sensacionalista (já dizia isso Antonio Gramsci, no início do século passado, atribuindo essa prática a uma “imprensa marrom”), que é alimentada durante o período seguinte com novos pequenos fatos que não dizem nada, mas tornam-se um show à parte; são escolhidos personagens e lhes é conferida a credibilidade de oráculos, e cada frase de um deles é apresentada como prova da venalidade alheia. No final de uma explosão de pânico como essa, o consumo de uma tapioca torna-se crime contra o Estado, e é colocado no mesmo nível do que uma licitação fraudulenta. A mentira torna-se verdade pela repetição. E a verdade é o segredo que Demóstenes – aquele que decide, com seus amigos, quem vai ser o alvo da vez – não revela.

Convenha-se que, nos últimos anos, no mínimo ficou confusa a medida de gravidade dos fatos; no outro limite, tornou-se duvidosa a veracidade das denúncias. A participação da mídia na construção e destruição de reputações foi imensa. Demóstenes não seria Demóstenes se não tivesse tanto espaço para divulgação de suas armações. Os jornais, tevês e revistas não teriam construído um Demóstenes se não tivessem caído em todas as armadilhas construídas por ele para destruir inimigos, favorecer amigos ou chantagear governos. Os interesses econômicos e ideológicos da mídia construíram relações de cumplicidade onde a última coisa que contou foi a verdade.

Ao final dos fatos, constata-se, ao longo de um mandato de oito anos, mais um ano do segundo mandato, uma sólida relação entre Demóstenes e a mídia que, com ou sem consciência dos profissionais de imprensa, conseguiu curvar um país inteiro aos interesses de uma quadrilha sediada em Goiás.

[Quem acreditou no que viu, leu e ouviu, passou involuntariamente a corroborar com um jogo sujo que não visava o bem do país, mas de uma quadrilha de criminosos (SM)].

Interesses da máfia dos jogos transitaram por esse esquema de poder. E os interesses abarcavam os mais variados negócios que se possa fazer com governos, parlamentos e Justiça: aprovação de leis, regras de licitação, empregos públicos, acompanhamento de ações no Judiciário. Por conta de um interesse político da grande mídia, o Brasil tornou-se refém de Demóstenes, do bicheiro e dos amigos de ambos no poder.

[Somente hoje, a Globonews começou a divulgar, embora discretamente, o envolvimento do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB) com o esquema, mas eu já estou sabendo desde o dia 19 de março, através de divulgações na internet. Para dar uma ideia, dentre as revistas desta semana, cujas capas envio em anexo, a única que traz a informação a respeito do envolvimento do governador Perillo é a Carta Capital, que, coincidentemente, foi recolhida e não circulou no estado de Goiás. Mas o envolvimento é tão relevante que, assessores próximos a Perillo e Secretários de Estado foram indicados por Cachoeira. Diga-se de passagem, a Carta Capital da semana anterior mostrava que o Demóstenes era sócio do Cachoeira, com uma participação de 30% dos negócios, com ganhos de R$ 170 milhões em 6 anos (SM)]

Não foi a mídia que desmascarou Demóstenes: a investigação sobre ele acontece há um bom tempo no âmbito da Polícia Federal e do Ministério Público Federal. Nesse meio tempo, os meios de comunicação foram reféns de um desconhecido personagem de Goiás, que se tornou em pouco tempo o porta-voz da moralidade. A criatura depõe contra seus criadores.


* Colunista política, editora da Carta Maior em São Paulo.


[continuam os pitacos de Sonia Montenegro]
 
[A criatura depõe contra seus criadores. Gostaria ainda de fazer algumas indagações que julgo pertinentes:
- Quem censura de fato a imprensa, e a livre liberdade de expressão, diante desta atitude do tucano Perillo, que é apenas um dos milhares de exemplos de interferência de políticos da atual oposição (DEM, PSDB, PPS, principalmente)?
- Se o escândalo fosse com um governador do PT, qual seria o comportamento da imprensa?
- Qual seria a capa da Veja? (SM)]

(e prosseguem)

[Existe uma explicação para isso, dentre as denúncias divulgadas pela internet, o atual diretor da sucursal da Veja em Brasília, Policarpo Jr., também foi pego nas gravações, com mais de 200 telefonemas entre ele e o Carlinhos Cachoeira. Se a intenção da nossa 'grande e imparcial' imprensa é combater a corrupção, por que protege políticos corruptos? Por que o 1º 'escândalo' do governo Lula foi uma gravação do Waldomiro Diniz pedindo propina exatamente ao Carlinhos Cachoeira, feita no mandato do Garotinho, em cargo de confiança do Estado aqui do RJ, e 2 anos antes da posse do Lula? Ainda que o citado Waldomiro fosse na ocasião acessor do José Dirceu, o crime não se deu no governo Lula, como a imprensa quis fazer crer.]

[- Quem foi o autor do "furo" do 2º escândalo do governo Lula, aquele que a imprensa diz que foi o pior da história da República? A revista Veja.
- Quem foi o autor da matéria? Policarpo Jr. Claro que depois a Globo repercutiu de forma espetaculosa, bem diferente do escândalo atual.
- Quem gravou a conversa onde o Maurício Marinho pedia propina "em nome do Roberto Jefferson"? O araponga Jairo Martins, a serviço do Carlinhos Cachoeira, preso também pela Operação Monte Carlo.
- Quem foi o autor das denúncias contra o governo Lula? O Roberto Jefferson, que criou o termo "mensalão", e foi cassado porque não conseguiu provar suas acusações.
- Por que o STF aceitou a denúncia contra o José Dirceu e demais envolvidos no caso? Um dos membros do STF disse que foi um julgamento com a "faca no pescoço", porque acompanhado de perto pela imprensa, o membro do juri que não acatasse a denúncia estaria com seu nome na lama.
- Como se defender quando toda a imprensa está, a toda hora, lhe difamando?
- Quem já foi vítima dessa mesma imprensa sabe o quão impossível é!]

[Finalmente, o que me faz acreditar nessas informações que não são divulgadas pela "grande" imprensa? Porque até hoje, tudo que não divulgaram acabou se comprovando, como se pode ver no caso presente. (SM)]