Mostrando postagens com marcador Síria. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Síria. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Bashar al-Assad, da Síria, entrevistado pelo Rússia 24

15/09/2013 - Entrevista com o Presidente Bashar al-Assad da Síria em 13/9/2013, ao canal Rossiya-24 TV (vídeo em russo)
Entrevista traduzida da transcrição em inglês pelo pessoal da Vila Vudu

Vídeo em russo: canal TV Rússia 24:

Rossiya-24: Senhor presidente, obrigado por receber o canal Rossiya-24. Para começarmos com a pergunta mais importante: por que a Síria concordou com a iniciativa da Rússia de pôr armas químicas sob controle internacional, e por que se chegou tão rapidamente a esse acordo?

Presidente Bashar al-Assad: A Síria já apresentara essa proposta à ONU há mais de dez anos – para livrar a região do Oriente Médio de armas de destruição em massa, especificamente, porque essa é região caracterizada por instabilidades e guerras que, algumas, duraram anos. Tudo isso começou há séculos. 

Remover daqui todas as armas de destruição em massa teria impacto importante para estabilizar a região. Só os EUA opuseram-se à nossa proposta. 

Não gostamos de saber que há armas de destruição em massa no Oriente Médio. Sempre nos interessou mais a estabilidade e a paz na região. 

Esse é um lado. O outro lado da questão tem a ver com a situação atual. Não há como não ver que o estado sírio tem empreendido todos os esforços para impedir que nosso país e outros países da região sejamos arrastados para outra guerra insana, que alguns dos que pregam guerra nos EUA querem desencadear no Oriente Médio.

Até hoje, os sírios pagamos o preço por guerras que os EUA fizeram, por exemplo no Afeganistão – mesmo sendo país distante da Síria – ou no Iraque, que está aí, num país aqui bem próximo.

Minha opinião é que qualquer guerra contra a Síria afetará muito negativamente toda a região, com o Oriente Médio inteiro empurrado para décadas de instabilidade e de problemas. Haverá guerra até para as nossas futuras gerações. 

A terceira razão pela qual nos interessa a proposta que volta, agora, com os russos, e a mais importante, é a própria proposta. Não tivesse havido agora essa iniciativa, seria muito difícil para a Síria, só ela, obter o mesmo resultado e caminhar nessa direção.

Nossas relações com a Rússia são construídas a partir de mútua confiança, e essa confiança só cresceu durante a crise síria, nos últimos dois anos e meio. A Rússia confirmou que merece a confiança dos sírios, por suas ações. Mostrou que tem compreensão clara sobre o que está acontecendo em nossa região. A Rússia fez prova de que é confiável, provou que é governo sério, no qual se pode confiar. 

Por todas essas razões, a Síria aceitou assinar a Convenção para Proibição de Armas Químicas. 

Rossiya-24: O presidente dos EUA, Sr. Obama, e o secretário de Estado dos EUA, Kerry, creem que a Síria decidiu entregar suas armas químicas ao controle internacional exclusivamente porque foi ameaçada militarmente. O que lhe parece?

Presidente Bashar al-Assad: Se se pensa sobre os eventos e as ameaças dos EUA, que duraram semanas, vê-se que as ameaças nada tinham a ver com garantir que as armas químicas fossem bem guardadas. As ameaças não passaram de provocação. E a provocação começou quando foram usadas armas químicas num subúrbio de Damasco, Al-Ghouta. 

Aquela provocação foi organizada pelo governo dos EUA. Em outras palavras, ninguém ameaçou a Síria pensando em conseguir que nós entregássemos 
armas químicas. Nada disso é verdade. Só depois do encontro do G-20 na Rússia, os norte-americanos começaram a falar sobre a entrega das armas 
químicas à guarda internacional. Nós só começamos a considerar a possibilidade depois da iniciativa dos russos e das negociações relacionadas a isso que mantivemos com os russos. 

Quero sublinhar bem, mais uma vez, que, se não fosse por essa iniciativa dos russos, sequer discutiríamos a questão com o outro lado. Os norte-
americanos tentam agora uma espécie de golpe de propaganda. Kerry e o governo, inclusive Obama, sempre querem aparecer como vencedores, como se tivessem obtido alguma coisa com suas ameaças. Mas nada disso nos interessa, nem nos diz respeito. 

Rossiya-24: Ontem, surgiu a notícia de que a Rússia apresentou ao senhor um plano para a transferência das armas químicas para supervisão
internacional. Que mecanismos estão sendo considerados para esse processo?

Presidente Bashar al-Assad: A Síria entrará em contato com a ONU e a Organização para a Proibição de Armas Químicas nos próximos dias. Nesse processo há documentos técnicos, necessários para a assinatura do acordo. Depois começará o trabalho para a assinatura da Convenção das Armas Químicas. 

Essa Convenção inclui vários pontos. Um deles dispõe sobre a proibição de produzir armas químicas, armazenamento e uso. Depois, a Convenção passa 
a ter vigência. Pelo que sei até agora, a Convenção passará a ter vigência um mês depois de assinada. E a Síria começará a transmitir informações 
sobre suas armas químicas para aquela organização internacional. São processos padronizados. E nos pautaremos por eles. 

Mas é preciso que todos entendam bem o seguinte ponto: esses mecanismos não funcionam só para um lado. Nada disso implica que a Síria assina, 
preenche as condições estipuladas e está feito. Esse é um processo de duas mãos, que visa, em primeiro lugar, a que os EUA suspendam essa 
política de ameaçar a Síria. Depende também de até que ponto se implemente a proposta dos russos. 

Tão logo os sírios estejamos convencidos de que os EUA estão realmente interessados na estabilidade de nossa região, e suspendam as ameaças e as 
tentativas de atacar a Síria, quando cortarem o suprimento de armas para os terroristas, então, sim, entenderemos que podemos dar andamento aos 
processos até o fim, que o processo todo é efetivo e aceitável para a Síria. 

Todos esses mecanismos, como já disse, não são mecanismos a serem usados de um lado só. A Rússia tem papel muito importante a desempenhar nesse processo, porque não temos nem confiança nem conexões com os EUA. A Rússia é o único país que pode assumir esse papel. 

Rossiya-24: Consideremos a questão de implementar a iniciativa russa: que organização internacional interagirá com a estrutura da República Árabe Síria para assumir o controle das armas químicas? Essa não é uma situação padrão, que se vê todos os dias. 

Presidente Bashar al-Assad: Entendemos que a estrutura lógica apropriada para esse papel é a Organização para a Proibição de Armas Químicas, porque só ela reúne os especialistas nessa área e também monitora o cumprimento da Convenção para Armas Químicas em todos os países do mundo. 

Todos sabemos que Israel assinou a Convenção para Armas Químicas, mas ainda não a ratificou. A Síria exigirá e insistirá para que Israel afinal 
implemente a assinatura da Convenção. 

Quando a Síria, antes, apresentou um projeto para abolir as armas de destruição em massa no Oriente Médio, os EUA impediram a aprovação. Uma das razões pelas quais fizeram isso foi para permitir que Israel continuasse autorizado a possuir essas armas de destruição em massa. Se queremos 
realmente estabilizar o Oriente Médio, todos os países têm de aderir à Convenção. 

E o primeiro país que tem de aderir é Israel, porque Israel tem armas químicas, biológicas e nucleares, em termos gerais, Israel tem todos os 
tipos catalogados de armas de destruição em massa. É importante assegurar que nenhum país tenha essas armas. Só assim todos ficaremos protegidos 
contra guerras futuras, devastadoras e muito custosas – não só no Oriente Médio, mas em todo o mundo. 

Rossiya-24: A Síria põe suas armas químicas sob controle internacional. Mas já se sabe, com certeza absoluta, porque a inteligência russa já comprovou, que grupos terroristas rebeldes usaram armas químicas num subúrbio de Aleppo. Na sua opinião, o que terá de ser feito para proteger o povo sírio e de países vizinhos contra esses terroristas que já usaram armas químicas, pelo menos, com certeza, uma vez?

Presidente Bashar al-Assad: O incidente a que você se refere aconteceu em março passado, quando os moradores da região de Khan al-Assal, perto de Aleppo foram atacados por terroristas, com foguetes carregados com toxinas químicas. Houve dúzias de vítimas. Recorremos à ONU. Pedimos que a ONU enviasse especialistas para esclarecer esse incidente e determinar que grupo fora responsável por aquele ataque. Para nós, a situação é bem clara: foi trabalho de terroristas. 

Mas naquele momento, os EUA opuseram-se ao envio de especialistas da ONU à Síria. Consequentemente, trabalhamos com especialistas russos, que 
receberam todas as provas que havíamos reunido. Ficou fartamente provado que os terroristas que ainda operam no norte da Síria cometeram aquele 
ataque químico. 

Necessário agora é que a delegação de especialistas que estiveram na Síria até a semana passada, retornem e retomem as investigações. Terão de 
voltar à Síria, porque ficou acordado que voltariam, há esse acordo entre o governo sírio e aqueles especialistas. Esse acordo diz respeito a 
investigações ainda a fazer em várias províncias, principalmente em Khan al-Assal. 

É preciso examinar cuidadosamente tudo isso, para determinar, por exemplo, a composição química dos venenos usados e, a partir daí, as condições 
do solo onde as armas químicas foram usadas. Também é importante determinar de onde vieram aquelas substâncias químicas, como chegaram aos grupos terroristas. Os responsáveis têm de ser julgados. 

Rossiya-24: Senhor presidente, permita que lhe faça uma pergunta indispensável: é realista supor que se consiga realmente tomar todas as armas químicas que ainda estejam em mãos de grupos terroristas? 

Presidente Bashar al-Assad: Tudo depende de se saber que países, dos que mantêm relações com os terroristas, estão envolvidos na venda ou no contrabando das armas químicas. Todos os países dizem que não apoiam terroristas, mas sabemos, com certeza, que o ocidente lhes dá apoio 
logístico – embora digam que seriam coisas “não letais” ou, até, “ajuda humanitária”. 

De fato, já não há dúvidas de que o ocidente e alguns países da região – Turquia, Arábia Saudita, antes também o Qatar – mantêm contato direto 
com grupos terroristas, aos quais apoiam com todos os tipos de armas. Trabalhamos com a ideia de que um desses países forneceu armas químicas aos terroristas. Evidentemente, quem dava pode parar de dar.

Mas há também grupos terroristas que não ouvem nenhum dos lados. Esses grupos, quando têm acesso a armas e, portanto, à capacidade de destruir, não se acham obrigados a respeitar acordos, nem a obedecer a nada e ninguém, nem aos que lhes tenham dado dinheiro e aquelas armas. 

Rossiya-24: Alguns veículos nos EUA noticiaram que oficiais do Exército Sírio Árabe teriam pedido sua aprovação para usar armas químicas contra gangues da oposição armada. Dizem que o senhor negou a autorização, mas que apesar disso aqueles oficiais teriam usado armas químicas contra 
sírios, especialmente em Ghouta Leste. É verdade? Essas operações são possíveis na Síria?

Presidente Bashar al-Assad: Não passa de propaganda americana. Esse tipo de propaganda serve-se de todos os tipos de mentiras para justificar suas guerras. É conversa parecida com a de Colin Powell, no governo de George Bush Jr., para justificar a guerra contra o Iraque, há pouco menos de dez anos. Naquela ocasião, apresentaram o que diziam que seriam provas de que Saddam Hussein produzia armas de destruição em massa. Mais 
adiante se soube que era mentira. Hoje as mentiras mudaram um pouco, como essa que você acaba de mencionar.

A verdade é que conversa desse tipo jamais aconteceu, nem comigo nem com ninguém na Síria. Essas armas são administradas de modo centralizado em 
vários países e exércitos do mundo, sempre pelas forças armadas. Nenhum soldado raso, ou comandante de escalão inferior manuseia essas armas, nem 
forças terrestres, nem as unidades blindadas ou quaisquer outras. São um tipo especial de arma de uso restrito de Forças Especiais. Essa notícia é mentirosa e nem faz sequer sentido. Ninguém acreditaria numa história dessas. 

Rossiya-24: Recentemente apareceram no Congresso dos EUA o que para alguns seriam “provas convincentes” e “indubitáveis” – vídeos, que 
comprovariam que se usaram armas químicas no subúrbio de Damasco, em Ghouta, e que foram usadas pelo Exército Sírio. O que o senhor tem a dizer 
sobre essa versão americana? 

Presidente Bashar al-Assad: Não têm prova alguma, nem o Congresso, nem a imprensa, nem o povo, ninguém jamais viu ou mostrou prova alguma de coisa alguma. Nem nenhum outro país conseguiu exibir prova alguma, nem a Rússia, que participou do processo de negociação. Nada disso jamais aconteceu. São só palavras, sempre e só, mais propaganda norte-americana.

A mais elementar lógica, por outro lado, diz que ninguém usaria armas de destruição em massa a poucas centenas de metros de onde esteja o seu 
próprio exército. Ninguém usaria armas de destruição em massa em áreas densamente habitadas, sem causar centenas de milhares de vítimas.

Ninguém jamais usaria armas de destruição em massa no mesmo local e momento em que seus próprios soldados estão avançando em terra. Nada disso faz sentido. Agora, as lideranças políticas nos EUA meteram-se numa posição difícil. Mentiram de modo ainda menos convincente, até, do que as 
mentiras contadas pelo governo George Bush.

O governo anterior, nos EUA, mentiu muito, mas mentiu mentiras que, pelo menos num primeiro momento, tinham alguma chance de convencer pelo menos uma parte da opinião pública mundial. O atual governo dos EUA, com suas mentiras, não conseguiu convencer nem os seus próprios aliados. Nada do que disseram faz qualquer sentido. Não é lógico. É implausível.

Rossiya-24: Tenho de lhe fazer mais uma pergunta, porque diz respeito à segurança de toda a região. A imprensa russa noticiou recentemente que as gangues armadas de oposição ao seu governo planejam provavelmente outra provocação, que poderia envolver uso de armas químicas contra Israel, que seria desencadeada a partir de um território controlado pelo Exército Sírio. O que o senhor sabe sobre isso, como comandante-em-chefe? 

Presidente Bashar al-Assad: Já há confirmação de que grupos terroristas têm armas químicas, dado que até já as usaram na Síria, contra nossos soldados e civis. É claro que têm. Além disso, também sabemos que aquelas gangues terroristas e os que os controlam, sim, querem provocar um ataque aéreo dos norte-americanos. Já em ocasiões anteriores tentaram envolver Israel na crise síria. Não se pode excluir a possibilidade de que 
essa informação seja correta e que vise, outra vez, aos mesmos objetivos. 

Se há guerra numa região, o caos se expande. Mas, para que o caos se expanda, é essencial que os territórios sejam permeáveis às gangues 
terroristas, para que possam causar o máximo de dano e destruição. Esses são riscos reais, não são ameaças inventadas, porque, sim, os 
terroristas têm armas químicas, que recebem de outros países.

Rossiya-24: Obrigado por nos receber e responder nossas perguntas.

Fonte:
http://redecastorphoto.blogspot.co.at/2013/09/entrevista-com-o-presidente-bashar-al.html

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Sírios acusam a Arábia Saudita pelo fornecimento de armas químicas

03/09/2013 - por Dale Gavlak and Yahya Ababneh
- publicado por Thoth3126
- Submetido por Tyler Durden em 30/08/2013
Tradução, edição e imagens: Thoth3126@gmail.com
http://www.zerohedge.com 

Sírios sobreviventes em Ghouta acusam a Arábia Saudita pelo fornecimento de armas químicas para ataque dos rebeldes.

Como nós mostramos poucos dias atrás, parece que a verdade sobre quem é o verdadeiro mestre dos fantoches no Oriente Médio está se tornando mais e mais claro de ser observado.

Enquanto o presidente Obama esta ”certo” de que os ataques químicos ocorreram por ordem de al-Assad, a MPN reporta e publica algo bem diferente.

A discussão incrivelmente franca entre  e chefe da espionagem na Arábia Saudita, o príncipe Bandar e Vladimir Putin presidente da Rússia, denunciou um complô muito mais profundo que está em andamento na Síria e com os seguintes detalhes das pessoas reais no terreno na região (Ghouta) quimicamente atacada da Síria que sugerem que o (des)governo de Barack Obama está caindo direto no plano dos sauditas.

Enquanto o presidente Obama está “certo” de que os ataques químicos ocorreram por ordem de al-Assad, a MPN reporta e publica algo bem diferente, com inúmeras entrevistas com médicos residentes em Ghouta, com combatentes rebeldes e suas famílias, um quadro completamente diferente começa a emergir da situação.

O príncipe da Arabia Saudita Bandar bin Sultan, chefe do serviço de inteligência da Arábia Saudita.

Muitos acreditam que "certos rebeldes receberam armas químicas através do chefe da inteligência saudita, o príncipe Bandar bin Sultan, e que os rebeldes foram responsáveis por realizarem o ataque com gás venenoso que matou cerca de um mil e quinhentas pessoas.“

A narrativa dos fatos para consumo público trombeteada pela mídia controlada é bem conhecido e bastante claro – tudo foi culpa de Bashar al-Assad.

Mas a realidade pode ser outra …

Via MPNa partir de inúmeras entrevistas com médicos, de pessoas residentes em Ghouta, de combatentes rebeldes e suas famílias, um quadro diferente emerge. Muitos acreditam que certos rebeldes receberam armas químicas, através do chefe de inteligência saudita, o príncipe Bandar bin Sultan, e que eles foram responsáveis por realizar o ataque com gás venenoso.

Meu filho (um rebelde) veio conversar comigo há duas semanas, perguntando o que eu pensava sobre as armas que ele havia sido convidado a utilizar”, disse Abu Abdel-Moneim, o pai de um combatente rebelde lutando para derrubar Assad, que mora em Ghouta.

Abdel-Moneim disse que o seu filho e outros 12 rebeldes foram mortos dentro de um túnel usado para armazenar armas fornecidas por um militante saudita, conhecido como Abu Ayesha, que estava liderando um batalhão de luta dos rebeldes.

O pai descreveu as armas como tendo uma “estrutura do tipo tubular”, enquanto outras armas eram como uma “enorme garrafa de gás”.

Os  habitantes da cidade de Ghouta disseram que os rebeldes estavam usando mesquitas e casas particulares para dormir enquanto o armazenamento de suas armas era feito em túneis.

Cerca de um mil e quinhentas pessoas morreram na região de Ghouta vitimadas pelo uso de armas químicas.

Abdel-Moneim disse que seu filho e os outros “rebeldes” morreram durante o ataque com armas químicas. Nesse mesmo dia, o grupo militante Jabhat al-Nusra, que está ligado à al-Qaeda, anunciou que seria semelhante atacar civis no reduto do regime de Assad em Latakia na costa oeste da Síria, em uma suposta retaliação.

Eles não nos disseram o que essas armas eram ou como usá-las“, queixou-se uma lutadora rebelde chamada ‘K.’ ”Nós não sabíamos que elas eram armas químicas. Nós nunca imaginaríamos que fossem armas químicas.

Quando o príncipe saudita Bandar dá tais armas para as pessoas, ele deveria dar para aqueles que soubessem como lidar e usá-las”, ela advertiu.

Ela, assim como outros rebeldes sírios combatentes, não quer usar seu nome completo por medo de represálias.

Um líder rebelde conhecido em Ghouta chamado como ‘J’ concordou. “Militantes da al-Nusra Jabhat não cooperam com outros rebeldes, exceto com os combates em terra. Eles não compartilham informações secretas. Eles simplesmente usaram alguns (n.t. imbecis) rebeldes comuns para transportar e operar este material “, disse ele.

Nós estávamos muito curiosos sobre essas armas. E, infelizmente, alguns dos nossos combatentes manusearam indevidamente essas armas e detonaram-nas, declarou o combatente rebelde ’J’.

Médicos que atenderam as vítimas das explosões das armas químicas advertiram aos entrevistadores que deveriam ter cuidado com perguntas a 
respeito de quem, exatamente, foi o responsável pelo mortal ataque.

O grupo humanitário Médicos Sem Fronteiras acrescentou que os trabalhadores de saúde que auxiliaram e socorreram os mais de 3.600 pacientes também relataram ter sintomas semelhantes, incluindo espumar pela boca, dificuldade respiratória, convulsões e visão embaçada.

O grupo de Médicos sem Fronteiras não foi capaz de verificar as informações de  forma independente.

Mais de uma dúzia de combatentes “rebeldes” (ou melhor seria dizer mercenários?) entrevistados relataram que seus salários SÃO PAGOS pelo
governo SAUDITA.

Sobre os autores deste relatório:

Dale Gavlak é correspondente no Oriente Médio para a Mint Press News e Associated Press. Gavlak esta estacionado em Amã, capital da vizinha Jordânia para a Associated Press por mais de duas décadas. Um especialista em assuntos do Oriente Médio, Gavlak cobre atualmente a região do Levante do Oriente Médio para a AP, National Public Radio e Mint Press News, escrevendo sobre temas como política, questões sociais e as tendências econômicas. Dale tem um mestrado em Estudos do Oriente Médio da Universidade de Chicago. Contate Dale em dgavlak@mintpressnews.com 

Yahya Ababneh é um jornalista freelancer jordâniano e está atualmente trabalhando em um mestrado em jornalismo, ele cobriu eventos na Jordânia,
Líbano, Arábia Saudita, Rússia e Líbia. Suas histórias têm aparecido em Amã Net, Saraya News, Gerasa News e em outros lugares.

Para aqueles que podem ter esquecido, aqui estão os detalhes que foram expostos alguns dias atrás … 

Quais foram algumas das revelações impressionantes feitas pelos sauditas? 
Primeiro esta: 

O príncipe saudita Bandar disse a Vladimir Putin, presidente da Rússia,

“Temos muitos valores em comum. E objetivos que nos unem, principalmente a luta contra o terrorismo e o extremismo em todo o mundo. A Rússia, os EUA, a União Europeia e os sauditas concordam com a promoção e consolidação da paz e da segurança internacional."

"A ameaça terrorista está crescendo em função dos fenômenos gerados pela Primavera Árabe. Perdemos (n.t. O CONTROLE de) alguns regimes. E o que temos em troca foram experiências terroristas, como evidenciado pela experiência da Irmandade Muçulmana no Egito e os grupos extremistas na Líbia”. …

“Como um exemplo, eu posso te dar uma garantia para proteger os Jogos Olímpicos de Inverno na cidade de Sochi, no Mar Negro no próximo ano.

Os grupos tchechenos que ameaçam a segurança dos jogos são controlados por nós, e eles não vão se mover em direção ao território da Síria sem uma coordenação conosco.

Esses grupos não nos assustam. Nós os usamos para enfrentar o regime sírio, mas eles não terão nenhum papel ou influência no futuro político da Síria“

É bom saber que os sauditas admitiram que eles controlam uma organização terrorista criminosa que “ameaça a segurança” dos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi 2014, e que a casa de SAUD os usa “contra o regime sírio“. Talvez a próxima vez que houver um atentado em Boston por alguns terroristas chechenos relacionados, alguém pode perguntar a Arábia Saudita que, se por acaso, eles saberiam algo a respeito.

Mas a peça de resistência é o que aconteceu no final do diálogo entre os dois homens, o presidente da Rússia e o príncipe saudita, o chefe do serviço de inteligência da Arábia Saudita.

Foi, em poucas palavras, uma ameaça feita pela Arábia Saudita que apontou diretamente para a Rússia.

Assim que Putin terminou seu discurso, o príncipe Bandar advertiu que, à luz do curso das negociações, as coisas estavam propensas a intensificar-se, especialmente na arena da Síria, embora tenha apreciado a compreensão dos russos sobre a posição da Arábia Saudita, o Egito e a sua prontidão para apoiar o exército egípcio, apesar de seus medos com o futuro do Egito.

O príncipe e chefe dos serviços de inteligência saudita disse que a disputa sobre a abordagem da questão síria leva à conclusão de que:

Não há como escapar da opção militar (o que a Rússia NÃO aceita), porque é a única opção disponível no momento, uma vez que o acordo político terminou em um impasse. Acreditamos que a Conferência de Genebra II vai ser muito difícil, tendo em conta esta situação violenta“.

No final da reunião, os dois lados, a Rússia e a Arábia Saudita concordaram em continuar as negociações, desde que a reunião atual permanecesse em segredo.

Isso foi antes de um dos dois lados vazar a notícia através da imprensa russa.

Desde que agora nós sabemos tudo sobre o assunto, significa que não há mais negociações, um aviso implícito de que os chechenos operando na 
proximidade de Sochi podem apenas tornar-se um canhão perdido (com a bênçãos da Arábia Saudita, óbvio), e que cerca de um mês atrás foi dito:

Na SÍRIA não há como escapar de uma opção militar, porque é a única opção disponível no momento, uma vez que o acordo político terminou em impasse

Enquanto isso a humanidade…
E tudo isso PREDETERMINADO por um príncipe saudita, e tudo em nome de perpetuar a hegemonia dos petrodólares.

Mais uma vez lembramos:

A Rússia e a Arábia Saudita SÃO RESPONSÁVEIS PELA PRODUÇÃO DE 25% da produção mundial de petróleo, mas muito mais
importante estão ausentes do acordo Qatar NatGas (e um gasoduto potencial cruzando a região sob o GOVERNO DE UM NOVO regime sírio receptivo - ou seja, sem Assad - e indo para a Turquia), a Europa permanece em dívida com todos os caprichos dos movimentos de Putin e a Gazpromia.

O pequeno Estado do Qatar, muito rico em gás repassou até US$ 3 bilhões em ARMAS ao longo dos últimos dois anos para apoiar a rebelião (conduzida por 
mercenários) na Síria contra Assad, ultrapassando qualquer outro governo nesse período, mas agora está sendo posto de lado pela Arábia Saudita como a principal fonte fornecedora de armas para os “rebeldes da Síria“.

Permitida a reprodução, desde que mantido no formato original e mencione as fontes.

www.thoth3126.com.br

Fonte:
http://thoth3126.com.br/sirios-acusam-a-arabia-saudita-pelo-fornecimento-de-armas-quimicas/

Leia também:  http://contextolivre.blogspot.com.br/2013/09/o-cairo-damasco-e-hipocrisia-norte.html

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

O mundo aprende a andar sem os EUA

28/08/2013 - Spengler [*] em 19/08/2013, no Asia Times Online
- Excerto traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

O barulhão assustador que se está ouvindo, como eu já disse dia 15/8 na CNBC, é a implosão da influência norte-americana no Oriente Médio.

oferecimento que Vladimir Putin [foto] fez, dia 17/8, de ajuda militar ao exército egípcio, depois que o presidente Obama cancelara exercícios militares conjuntos com egípcios, mostra o ponto mais baixo da curva da importância dos EUA em todo o pós-Guerra Fria.

Rússia, Arábia Saudita e China trabalham juntas para tentar minimizar o dano provocado pelos erros dos norte-americanos. É precisamente o que fazem, em silêncio, há mais de um ano.

O alarme soou para a democracia egípcia, quando a Fraternidade Muçulmana ergueu-se de seu passado tenebroso, mas nem assim a Washington oficial acordou.

O Egito estava à beira de morrer de fome, quando os militares depuseram Mohamed Mursi.

A maior parte dos pobres no Egito já estava há meses vivendo do pão subsidiado pelo estado, e até o fornecimento desse pão estava ameaçado. Os militares trouxeram US$12 bilhões de ajuda recebida dos estados do Golfo, o suficiente para evitar uma catástrofe humanitária.

A realidade é essa. É a única coisa sobre a qual Rússia, Arábia Saudita e Israel concordam.

A atitude errática, vacilante, dos EUA sobre o Egito, não é só erro estúpido, tolo, mas uma completa catástrofe institucional.

O presidente Obama cercou-se de uma camarilha, com Susan Rice como Conselheira de Segurança Nacional, ladeada por Valerie Jarrett, milionária da indústria da construção de moradias públicas nascida no Irã.

Comparada à equipe de Obama, o pessoal de Zbigniew Brzezinski [foto] eram colossos intelectuais no Conselho de Segurança Nacional de Jimmy Carter.

Essa gente agora são amadores e ninguém jamais consegue prever o que inventarão, de hoje para amanhã. (...) 

E tampouco interessa o que digam os especialistas do Partido Republicano. Poucos Republicanos eleitos discutirão com McCain [foto abaixo], porque os eleitores já não suportam ouvir falar de Egito e já não confiam nos Republicanos, depois dos fracassos no Iraque e no Afeganistão.

Nenhum dos dois partidos tem capacidade institucional para deliberar inteligentemente sobre os interesses dos EUA.

Dentre os veteranos dos 
governos Reagan e Bush há vários que compreendem com clareza o que se disputa no mundo, mas o Partido Republicano é incapaz de atuar sob orientação deles. Por isso o fracasso institucional nos EUA é tão profundo.

Os deputados e senadores Republicanos vivem em pânico ante a possibilidade de serem derrotados por isolacionistas como o senador Rand Paul (R-KY) – e seguirão o quixotesco senador McCain.

E outras potências regionais e mundiais farão tudo que possam para conter o desmando e a confusão que reina nos EUA. (...) 

A rede Russia Today noticiou, dia 7/8, que: 

(...) a Arábia Saudita ofereceu-se para comprar $15 bilhões em armas da Rússia, e ofereceu uma lista de vantagens e facilitações econômicas e políticas ao Kremlim – no esforço para reduzir o apoio que Moscou continua a dar ao presidente sírio Bashar Assad. 

A posição dos russos não mudará. Quanto a isso, já não há dúvidas. (...) 

O que se vê bem claramente, é que Riad está confiando, não mais em Washington, mas em Pequim, para garantir sua capacidade de transportar e disparar armas atômicas.

A China tem interesse profundo na segurança saudita: é o maior importador de petróleo saudita. É altamente provável que os EUA já se tornem independentes de petróleo importado em algum momento da próxima década, mas a China precisará do petróleo do Golfo Persa por tempo futuro não determinado. (...)

Os russos temem que o radicalismo islâmico escape totalmente de qualquer controle no Cáucaso e talvez em outros pontos, com a Rússia evoluindo 
para ser país de maioria muçulmana. 

Os chineses temem os uigures, povo muçulmano de origem turca, que já é metade da população da província Xinjiang, no oeste da China.

Mas o governo Obama (e Republicanos do establishment como John McCain) insistem que os EUA devem apoiar governos islamitas democraticamente eleitos. É erro gravíssimo. A Fraternidade Muçulmana é tão democrática quanto o Partido Nazista (...).

Países tribais, com altos índices de analfabetismo não têm parâmetro para a tomada democrática de decisões.

Enquanto os EUA continuarem a declarar apoio a “oposições democráticas” muçulmanas no Egito e na Síria, o resto do mundo continuará a tratar os 
norte-americanos como doidos varridos, lunáticos sem conserto, e todos tratarão de garantir seus próprios interesses sem os EUA.

Os turcos, é certo, reclamarão contra o destino de seus amigos na Fraternidade Muçulmana, mas pouco podem fazer. Os sauditas financiam grande parte do enorme déficit nas contas turcas; e quase toda a energia que chega à Turquia vem-lhe dos russos.

Além de errarem na avaliação dos eventos egípcios, os analistas norte-americanos erraram praticamente toda a leitura que tentam fazer do quadro 
mundial.

Na direita norte-americana, o consenso dominante há anos é que a Rússia acabaria por implodir economicamente e demograficamente.

Mas a taxa de fertilidade total na Rússia, ao contrário, subiu, de um ponto calamitosamente baixo de menos de 1,2 nascidos vivos por mulher em 1990, para cerca de 1,7 em 2012, no ponto intermediário, superior ao 1,5 da Europa e pouco abaixo do 1,9 dos EUA.

Faltam dados para avaliar a tendência, mas já está bem claramente indicado que é erro descartar a Rússia, seja por qual critério for, pelo menos por hora. (...)

Taxa de fertilidade no mundo em 2011 (nascidos por mulher)
(clique na imagem para aumentar) 

Gostem ou não gostem, a Rússia não sumirá do mapa.

Analistas norte-americanos veem os problemas russos com os muçulmanos no Cáucaso, com o superficialismo de quem se diverte com a desgraça alheia. 

Durante os anos 1980s o governo Reagan apoiou jihadistas no Afeganistão, contra os russos, porque a União Soviética era, então, a encarnação perfeita do mal.

Hoje, a Rússia não chega a ser exatamente amiga-irmã dos EUA, é claro, mas o terrorismo islamista é que é o pior dos males, e os EUA bem fariam se seguissem o exemplo dos sauditas e se unissem aos russos, contra o terrorismo islamista.

No caso da China, o consenso era que a economia chinesa desabaria rapidamente esse ano, o que geraria problemas políticos.

Os dados do comércio chinês de junho mostram exatamente o contrário disso: um aumento nas importações (incluindo crescimento de 26% ano a ano nas importações de minério de ferro e de 20% no petróleo) indica que a China continua a crescer confortavelmente mais de 7% por ano.

A transição da China, de modelo exportador movido a trabalho barato, para modelo de manufatura com alto valor agregado e economia de serviços ainda é desafio gigantesco, talvez o maior de toda a história da economia; mas absolutamente não há qualquer sinal de que a China esteja fracassando ante o desafio que se propôs.

Gostem ou não, a China continuará a marcar o ritmo do crescimento da economia mundial.

Crescimento do PIB da China e dos EUA até 2028
(Clique na imagem para visualizar melhor) 

Os EUA, se escolhessem exercitar o próprio poder e cultivar seus talentos culturais, ainda seriam capazes de derrotar os “opositores”. Mas escolheram nada fazer, e a rédea afinal escapou das mãos de Washington.

Os norte-americanos só ouvirão falar de desenvolvimento importante, se e 
quando outros países decidirem divulgar seus próprios sucessos. É justo prevenir os leitores de que aqueles, dentre nós, norte-americanos, que 
ainda mantemos condições e meios razoavelmente satisfatórios de vida e progresso, não conseguiremos mantê-los igualmente satisfatórios no futuro. 

Meu registro de sucessos nas previsões que faço não é de todo mau. Em 2003, avisei que a tentativa do governo de George W Bush de construir 
nações no Iraque e no Afeganistão terminaria em tragédia.

E no início de 2006, escrevi: “Gostem ou não, os EUA só produzirão caos, e nada podem fazer para escapar dele.” (...)

Ninguém mais precisa de analistas de política externa.

Em 2013, os cães da guerra estão soltos e escolherão, eles, os próprios caminhos.

Nos EUA, basta abrir a janela de casa, que já se ouvem os latidos.
__________________________

[*] Spengler, apelido de David P. Goldman, escreve a coluna Spengler para o Asia Times Online e contribui frequentemente para as publicações The Tablet, First Things (2009-2011) e outras. Foi Chefe Global de Pesquisa de Dívida do Bank of America (2002-2005), Diretor Global de Estratégia de Crédito do Credit Suisse (1998-2002). Ocupou cargos importantes nas organizações financeiras Bear Stearns e Cantor Fitzgerald. Foi colunista da revista Forbes (1994-2001). Seu livro How Civilizations Die (and why Islam is Dying, Too) foi lançado em setembro de 2011.

Fonte:
http://redecastorphoto.blogspot.co.at/2013/08/o-mundo-aprende-andar-sem-os-eua.html

terça-feira, 9 de julho de 2013

Egito: reviravolta bem próxima de golpe militar

08/07/2013 - Dmitry Minin, Strategic Culture
- Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Que má sorte está perseguindo os inimigos do presidente Bashar Assad [foto] da Síria! Perderam Al-Qusayr.

O Qatar e a Turquia às voltas com ondas de instabilidade interna.

Homs, cidade estrategicamente importante, está para cair a qualquer momento, atacada por tropas do governo.

No Egito, o presidente Mursi foi deposto.

Pergunto-me o que acontecerá depois de Aleppo ser libertada.

O rei da Arábia Saudita abdicará?

Ou algum dos países ocidentais que apoiam inimigos de Assad serão desmoralizados, de uma vez por todas?

A desgraça parece rondar os arrogantes e criminosos que tanto insistem em fazer sofrer a ancestral terra síria, cujas raízes chegam aos tempos bíblicos...

Nenhum desses eventos foi causado por questões internas. Mas haverá algum elo entre a crescente onda de contrarreforma no Oriente Médio e os eventos na Síria? Sem dúvida, há.

É o enorme vácuo que se percebe, entre as proclamadas ideias da Primavera Árabe e a política que cada um dos países acima mencionados pratica em relação à Síria.

Sob os slogans de liberdade, esses países têm apoiado a barbárie e a selvageria, aliados aos EUA e a Israel, países que absolutamente não se contam entre os admiradores do Islã.

É difícil enganar o povo. O povo entende muito bem o que se passa e não sente nenhum desejo de apoiar estados bandidos.

É uma ocasião rara, na história do mundo, quando há diferença tão grande entre a opinião pública, contrária à intervenção na Síria, e a política intervencionista das potências dominantes. A diferença é irreconciliável e clara; e vale tanto para o oriente quanto para o ocidente.

O ministro da Defesa e comandante-em-chefe das forças armadas do Egito, general Abdel-Fattah El-Sisi [foto] agiu de forma muito semelhante ao que fez o general Pinochet no Chile, quando o presidente Allende foi derrubado (o mesmo plano e as mesmas táticas, tudo concebido pela CIA)

El-Sisi foi indicado por Mursi, que confiava nele, como Allende confiara em Pinochet. Sisi fez tudo que podia para construir uma reputação de que seria íntimo da Fraternidade Muçulmana.

Muitos, no campo de Mursi descuidaram-se da vigilância, porque o presidente teria controle sobre os militares, depois de ter deposto todos os principais comandantes adversários.

Mas os interesses corporativos dos militares prevaleceram sobre a lealdade declarada.

Especialistas do GIGA Institute of Middle East Studies, com sede em Hamburg, entendem que a razão de as lideranças militares estarem descontentes com Mursi é o fato de que ele imiscuiu-se nos interesses comerciais dos próprios militares, que alcançam ¼ da economia do Egito.

Os militares egípcios têm interesses comerciais no campo do turismo, da construção civil, da construção de estradas e outros projetos de infraestrutura. E os militares recebem ajuda dos EUA, que alcança 1,3 bilhão de dólares.

Manifestações anti-EUA durante os protestos no Cairo
Os eventos no Egito trazem à lembrança o que aconteceu na Argélia, em 1991.

Houve eleições parlamentares dia 26/12/1991, as primeiras eleições com vários partidos, desde a independência. O resultado das urnas foi cancelado por golpe militar logo depois do primeiro turno, o que levou à guerra civil, depois de os militares terem concluído que havia risco de a Frente de Salvação Islâmica, que quase com certeza conquistaria mais de 2/3 dos assentos à Assembleia necessários para modificar a Constituição, vir a constituir, por via democrática, um estado islâmico.

O presidente Chadli Bendjedid foi forçado a sair. A Frente foi banida. 100 mil morreram na guerra civil que se seguiu ao golpe militar de 1991 na Argélia. Até hoje ainda há repercussões.

Mursi
O Egito repetirá o quadro argelino? Essa possibilidade ainda não está totalmente descartada.

Mas há a possibilidade, embora pequena, de que os militares egípcios decidam assumir plenamente o controle dos destinos do país.

Mas, diferente de seus companheiros de farda na Argélia, no Egito os militares não têm, nem petróleo, nem gás. O ocidente pode não se interessar por apoiar diretamente uma ditadura militar absoluta.

Embora aliado dos Irmãos Muçulmanos, o Qatar, principal apoiador árabe do país, pode não querer ajudar o novo regime. Surpreendentemente, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos aliaram-se à conspiração – motivo pelo qual os militares egípcios obtiveram o apoio dos salafistas.

Mas não se comparam a Doha, em termos da quantidade de ajuda que podem oferecer.

Ações terroristas e baionetas absolutamente não combinam com turismo, a principal fonte de recursos da economia do Egito.

A única fonte de renda relativamente estável, embora não suficiente, do Egito, é o Canal de Suez.

É difícil impedir que o país caia na anarquia. É possível que os militares não consigam controlar tudo, ainda que o desejassem. Por isso, Adly Mansour [foto abaixo], juiz civil, foi posto na presidência do país, com o compromisso de organizar eleições e adotar nova Constituição (ainda sem data marcada).

Mas a oposição “sob ditadura” nunca é oposição a priori fraca.

A ditadura é desafiada pelos que ousam enfrentar abertamente o poder e podem “agitar” o regime, mantê-lo instável.

Tudo leva a crer que o Egito enfrentará longo período de instabilidade e de desafios ao poder.

Os ventos inaugurados pelo discurso do presidente Obama no Cairo não morrerão, nem facilmente, nem rapidamente.

Stratfor, dos EUA, crê que a coalizão “Tamarod” de grupos políticos foi constituída com o objetivo de derrubar Mursi.

Mas, colcha de retalhos – que aproxima liberais e fundamentalistas – o grupo inevitavelmente rachará. Os problemas do Egito praticamente não se alteram, não importa quem esteja no poder.

Nessas circunstâncias, não é fácil escolher novo líder.

O presidente da corte constitucional e presidente interino, Adly Mansour, nada sabe do ofício de governar. Não por acaso, o ex-presidente da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) El-Baradei [foto abaixo] apoiou plenamente a mudança, mas recusou-se a presidir o governo de transição, sabendo que não conseguiria mudar rapidamente a situação no país.

O outro nome cogitado e candidato, Farouk El Okdah, ex-presidente do Banco Central do Egito, não passa de coadjuvante político e não tem a suficiente autoridade.

Entre os Irmãos, a principal preocupação é que todos os seus líderes estão presos. Os membros da organização não estão ameaçando qualquer tipo de resistência armada e prometem moderação.

Como se não quisessem provocar os militares nem levá-los a excluí-los da lista de candidatáveis, para que nem possam concorrer a eleições que muito provavelmente vencerão outra vez (embora ninguém saiba o que fazer para retomar a vida econômica e todos saibam que, sem medidas nesse campo, as ruas logo voltarão a encher-se).

Por hora, limitam sua atividade aos protestos de massa e ataques aos novos poderes, com o quê mantêm-se psicologicamente ativos e presentes na opinião pública. Por exemplo, a Fraternidade Muçulmana já espalha informação segundo a qual o presidente interino Adly Mansour seria membro de uma seita judaica chamada Adventistas do Sétimo Dia. O boato foi insistentemente repetido por blogueiros árabes, até suas páginas serem deletadas pela empresa Facebook.

Criaram a União Nacional de Partidos pelo Poder Legítimo [orig. National Union of Parties for Legitimate Power] – novo movimento que une todas as organizações islamistas do Egito.

A nova União já está convocando manifestações de rua em todo o país, embora recomende que não se façam manifestações violentas e evitem-se confrontos com o exército.

Para o jornal britânico The Guardian, a junta egípcia é apoiada por fundamentalistas como a frente Jamaat al-Islamiyya e o Partido al-Nour, dos salafistas. Mursi errou gravemente ao excluí-los do poder.

Resultado disso, tornaram-se agora os mais vociferantes dos manifestantes nas ruas do país.

Além disso, os jihadistas acusaram os adversários políticos de terem traído a fé e de se renderem ao ocidente. Equivale a dizer que a aliança da Fraternidade Muçulmana com os EUA não trouxe qualquer benefício aos Irmãos. E Washington também nada tem a comemorar.

De fato, os EUA abandonaram os Irmãos à própria sorte, como, antes, também abandonaram Mubarak. E a bandeira islamista acabou nas mãos dos salafistas – os islamistas mais radicais e mais figadais inimigos do ocidente.


Manifestação do Movimento "Tamarod" em 29/6/2013

O principal traço do “Verão Egípcio” e sua mudança de regime é o fato de que os militares apenas depuseram o governo eleito, sem assumirem eles mesmos o poder.

Em certo sentido, tem ares de “golpe incompleto”. EUA e União Europeia já declararam que não veem os eventos como golpe militar – posição que os livra de ter de impor sanções ao Egito.

Anders Fog Rasmussen, secretário-geral da OTAN, disse que não faz diferença se foi golpe ou não.

Para ele, só interessa fortalecer a democracia no país. Em termos simples, é lógica de Jesuíta.

Por seu lado, Barack Obama [foto] limitou-se a declaração confusa, em que disse que os EUA abstêm-se de apoiar políticos ou partidos e creem na supremacia do processo democrático e da lei. Conclamou os militares egípcios a devolver o país a governo civil o mais depressa possível.

Disse, de fato, que os rituais democráticos não interessam e que Washington aprova a mudança de regime no Egito, mesmo que ignore todas as normas democráticas.

Mas os aliados dos EUA não estão gostando.

A agência estatal turca, Anadolu, disse que nada justifica o que houve no Egito. O primeiro-ministro Erdogan convocou uma reunião de emergência do gabinete. O ministro das Relações Exteriores, Ahmet Davutoglu, disse que a destituição do poder só pode acontecer mediante processo eleitoral, respeitada a vontade popular. É inaceitável derrubar por meios ilegais um governo democraticamente eleito, sobretudo se derrubado por golpe militar.

É claro que a Turquia tem muito com o que se preocupar. A mudança de poder no Egito é exemplo eloquente da facilidade com que os EUA desertam e traem os aliados de ontem.

Israel ainda não se manifestou. Evidentemente apoia o golpe, percebendo-o como uma espécie de retorno dos apoiadores de Mubarak com os quais Telavive sempre se entendeu muito bem. A principal preocupação é com a possibilidade de os EUA suspenderem a ajuda militar, caso em que os acordos de Camp David podem ser ameaçados.

De todos os chefes de Estado, Bashar Assad foi quem ofereceu o comentário mais detalhado, ao jornal sírio Al-thawra.

Segundo ele, o que está acontecendo no Egito é prova de que são fúteis todas as tentativas para politizar o Islã.

Pensava, aí, no sistema que a Fraternidade Muçulmana tentou impor.

O presidente disse que é erro usar o Islã para obter vantagens políticas, porque religião e políticas devem ser capôs separados: “Quem quer que use a religião para alcançar objetivos político partidários perderá sempre, onde quer que o faça – no Egito ou em qualquer outro país do mundo”.

O colapso do Islã usado como sistema político de governo explica-se pelo fato de que o “Islã político” é uma ideologia: o projeto político da Fraternidade Muçulmana levou a uma cisão no mundo árabe. Os Irmãos provaram isso aos egípcios. O povo entendeu que fora enganado desde os primeiros dias da revolução egípcia.

Quando perguntado por correspondentes se confirmava a informação que a Agência Reuters recebera de fontes militares egípcias, de que uma das motivações para o golpe seria a decisão de Mursi de romper relações com a Síria, o presidente Assad respondeu que não podia falar em nome do povo egípcio, mas confirmou que houve contatos entre o governo sírio e fontes no Egito, que diziam que a decisão fora um erro.

A grande lição a extrair, que beneficiará políticos em todo o mundo, é simples: deixem em paz a Síria!

A Síria tem potência, até, para encerrar carreiras de presidentes eleitos!

Fonte:
http://redecastorphoto.blogspot.co.at/2013/07/egito-reviravolta-bem-proxima-de-golpe.html?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed:+redecastorphoto+(redecastorphoto)