quarta-feira, 22 de agosto de 2012

QUANDO OS SOLDADOS PREFEREM MORRER

21/08/2012 - Mauro Santayana em seu blog

Em julho passado, revelam fontes oficiais, 38 militares norte-americanos se mataram. Um aumento de mais de 100% sobre os casos de suicídio do mês anterior.

Vinte e dois deles se encontravam em serviço. Os demais haviam voltado para casa, mas já não se sentiam em seus lares.

Eram outros homens, desfeitos e refeitos pelo horror.

Provavelmente não se sentissem combatentes por sua pátria ou suas idéias, e, sim, meros mercenários, enviados para assassinar em nome de interesses que nada têm a ver com os de seu povo.

Salvo nas duas guerras mundiais, quando justa era a luta contra os alemães e o nazismo, os soldados ianques lutam por Wall Street.

O genocídio inútil de Hiroxima e Nagasáki, ao manchar com a desonra o combate pelos valores humanos, confirmou os exércitos dos EUA como bandos de pistoleiros do imperialismo.

Os Estados Unidos nunca tiveram que lutar em seu solo, a não ser na Guerra da Independência. Sempre invadiram o solo alheio, a partir da guerra contra o México, em 1846, quando anexaram mais de 40% do território do país vencido. A Guerra da Independência, bem antes, se travara contra homens iguais, da mesma etnia, da mesma fé, e poderíamos dizer, quase das mesmas idéias. O mesmo veio a ocorrer no conflito interno, o da Guerra da Secessão, apesar da crueldade dos combates e a bandeira ética do Norte contra a escravocracia do Sul.

Esse enorme privilégio – o de não conhecer as botas dos ocupantes estrangeiros – transformou-se em maldição.

Os militares ianques já não encontram na alma, desde a derrota no Vietnã, quaisquer razões para a luta.

Assim, são corroídos pela depressão, ou se transformam em animais, como os que se deixaram fotografar em Abu Ghraib, com seus cães.

A depressão os leva a desertar das fileiras, de forma absoluta, ao estourar a cabeça ou o coração com suas próprias armas.

O filósofo espanhol Ortega y Gasset tem uma tese interessante sobre os militares e as guerras. Ele considera o cerco de Granada, pelos Reis Católicos, em 1492 – o mesmo ano da descoberta da América por Colombo – como o fim do soldado que combatia com honra, e o início do soldado “técnico”, que atua como simples extensão de sua arma.

No cerco de Granada, e na vitória que se seguiu, os castelhanos usaram o planejamento tático e estratégico, superando, e em muito, os gregos e os romanos no projeto de suas operações.

Segundo Ortega, ali morreu a bravura, e nasceu o combatente moderno, mera máquina de matar, sem honra e sem sentimentos, a não ser os do ódio induzido.

Os soldados americanos que se matam, torturados pelo remorso, talvez sigam o lema que os japoneses inscrevem nos sabres destinados ao harakiri: saiba morrer com honra quem com honra não soube viver.

Fonte:
http://www.maurosantayana.com/2012/08/quando-os-soldados-preferem-morrer.html

terça-feira, 21 de agosto de 2012

A imprensa seletiva

02/08/2012 - Por Washington Araujo (*), no Observatório da Imprensa

A imprensa brasileira pode ser acusada de tudo, menos de não ser seletiva.

O cardápio de notícias apresentado diariamente à sociedade brasileira também pode ser recriminado por tudo, menos pela repetição do prato principal.

Refiro-me à Ação Penal 470, no linguajar jurídico, e ao mensalão, no linguajar dos jornalões.

A depender da grande imprensa, o dia 2 de agosto de 2012 passa a ter mais importância que o 7 de setembro de 1822 e, por isso, merece ser eternizado em nosso calendário cívico como a verdadeira data da independência do Brasil.

É aqui que começa a seletividade monocórdia, a opção desabrida pelo que merece ser visto como o início de uma nova era para os brasileiros: a imprensa julgou o assunto antes do Supremo Tribunal Federal e espera deste nada menos que a sua validação.

Exarada a sentença nos noticiários das emissoras de rádio do Sistema Globo de Comunicação, proferida repetidas vezes do alto da audiência de que desfruta em todo o país o Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão, impressa em alto relevo em capas, páginas coloridas e colunas de fofocas que pretendem tratar de política da revista Veja, o carro-chefe – um tanto avariado, é verdade – da Editora Abril, em tudo o foco é um só: a Ação Penal 470 só desembocará em julgamento justo se dispensar o arcabouço jurídico a ser brandido pelas diversas teses de defesa, e se desconsiderar os aspectos técnicos mais comezinhos e indispensáveis a uma ação jurídica dessa envergadura.

Dois golpes
Desde os últimos dias de julho parecemos estar vivendo aquela última semana de dezembro de todos os anos: retrospectivas para um só gosto. Explico: a título de informar as pessoas sobre o julgamento do mensalão, são pinçadas não mais que as cenas que demonizem os réus, marquem suas frontes com ferro em brasa a insculpir a palavra “culpado”, imputem-lhes todas as iniquidades não republicanas e expiem o Himalaia de atos condenáveis que tão somente nossa legislação eleitoral poderia conter.

As retrospectivas do Jornal Nacional e da rádio CBN, ambos veículos de grande audiência, pertencem à família Marinho. A mais chamativa retrospectiva dos veículos impressos tem a chancela da Folha de S.Paulo, pertencente à família Frias. E os mais variados “renascimentos” do mensalão têm como sala de obstetrícia as redações da Editora Abril, de propriedade dos Civita. É impressionante como o monopólio dos meios de comunicação do Brasil é capaz de competir na batalha por corações e mentes em condições de paridade com o Poder Judiciário e sua mais elevada instância, o Supremo Tribunal Federal.

Chama a atenção como a parcialidade no noticiário pode ser nociva à própria ideia de democracia. E como o pensamento único pode ser danoso, além de cruel, à realização do ideal de justiça. E a AP-470 deve merecer, em futuro não muito distante, alentadas teses acadêmicas sobre a natureza e amplitude da influência que os meios de comunicação podem ter em um país que se diz moderno e, no entanto, se comporta de maneira partidarizada e sempre contundente graças ao elevado estado de concentração e aos efeitos pernósticos de um monopólio cada vez mais insustentável.

Enquanto isso, agentes do Direito, em especial do Ministério Público, sentem-se insuflados pelos meios de comunicação a subverter o real significado de eventos históricos de nossa tumultuada vida política. Para ilustrar à perfeição, encontramos ampla repercussão na imprensa dessa injuriosa frase à história do Brasil, proferida pelo procurador-geral da República Roberto Gurgel: “O mensalão é o maior escândalo da história do Brasil”. Será mesmo? Ou por trás de tão absurda declaração não existe a vaidade escancarada de se sentir partícipe de evento de tão grande magnitude?

Ainda bem que o ilustre procurador não é autor de livros didáticos de história usados por estudantes do ensino fundamental; do contrário, milhões de crianças e jovens aprenderiam que o processo em vias de julgamento no STF eclipsou em importância nada menos que o escândalo de 1954, urdido por Carlos Lacerda (provavelmente o melhor aprendiz de Nicolau Maquiavel da política brasileira recente) para derrubar Getúlio Vargas e que, ao final, custou-lhe a vida, a eternização da expressão “mar de lama” e a beleza poética da carta-testamento do presidente suicida, certamente um dos mais importantes documentos políticos da história do Brasil.

Considerar o mensalão “o maior escândalo da história” é transformar os dois golpes de Estado ocorridos em 1955, ainda na esteira do suicídio de Vargas, em não mais que tempestades em copo d’água.

Dever divino
Poderia aproveitar o gancho e discorrer por alguns outros episódios que facilmente seriam impostos pelos fatos para ganhar a medalha de ouro, o lugar máximo do pódio de nossas crises e escândalos políticos: a chamada Intentona Comunista dos idos de 1935; o golpe militar que apeou do poder o presidente João Goulart e instaurou uma ditadura cruel (nada de “ditabranda”, como preferem alguns) que ceifou 20 anos da vida brasileira, exilou intelectuais, podou a criação artística, instaurou julgamentos sumaríssimos nos famigerados DOI-CODIs; e as imagens ainda vívidas da esteira de escândalos que envolveram personagens carimbados de nossa história recentíssima, como Fernando Collor de Mello, Pedro Collor, PC Farias, os Jardins da Babilônia recriados na Casa da Dinda, o Fiat Elba amarelo, a Operação Uruguay – todos episódios que culminaram com o primeiro impeachment de um presidente do Brasil, legitimamente eleito e legitimamente destituído do cargo.

Quer dizer, então, que nenhum desses eventos nefastos e seus terríveis desdobramentos não passaram de meros exercícios mentais, meros esboços de escândalos e crises políticas ante a AP-470? Sim, mas na abalizada visão jurídica do procurador-geral da República Roberto Gurgel tudo isso foi, vamos dizer, fichinha. A tese do senhor procurador-geral é por demais impertinente e falseia a história como um todo – porque o que falseia a parte, falseia o todo.

Nada contra o procurador-geral se equivocar. Nada mais natural, nada mais humano. Mas não deixa de ser curioso observar que esse seu equívoco de julgamento é realmente fichinha se comparado aos longos três anos que Sua Excelência consumiu para se posicionar ante os robustos resultados apresentados pelas operações da Polícia Federal de nomes Vegas e Monte Carlo, e que culminaram na prisão do meliante-mor Carlinhos Cachoeira, na cassação do mandato do senador Demóstenes Torres, e que deve levar ao fio da navalha o mandato do governador goiano Marconi Perillo, além de manchar reputações de personagens de menor projeção política.

O problema é a forma entusiástica com que a grande imprensa encampou a declaração do procurador-geral: repercutiu em primeiras páginas, foi à escalada dos telejornais noturnos, recebeu o destaque que as frases grandiloquentes costumam ganhar por parte dos ditos colunistas de política.

Mas não ficou por aí.

Com essa frase sobre “o maior escândalo da história” se turbinou na mídia uma nova fase do game “Detonando o mensalão”: retrospectivas, operações Lázaro (aquela que ressuscita mortos-vivos políticos) e se colocou, do cabo à lâmina, a faca nos pescoços de nossos supremos julgadores, os integrantes do STF.

O poeta e filósofo romano Quinto Horácio Flaco (65 a.C.-8 d.C.) foi contundente quando afirmou: “Ousa saber! Começa!” (Sapere aude!)

E ousar saber e começar nada mais é que o irrecusável convite a que saiamos da estagnação mental e partamos para o conhecimento das leis, deixando ao largo todas as pressões – desde aquelas que gritam mais que mil comícios do III Reich nazista até as que, ao amparo da liberdade de imprensa, exercem seu divino dever de usar a liberdade de pressão para fazer valer suas teses, ideologias e mesmo anseios tardios por vingança, aquele velho prato que na literatura anglo-saxã sempre deveria ser servido frio.

(*) Jornalista e escritor; mantém o blog http://www.cidadaodomundo.org

Fonte:
http://tudosobreomensalao.com.br/?p=503

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Discurso de Assange na embaixada do Equador em Londres (em Português)

19/08/2012 - publicado pela Redação da RedeDemocratica

Falo daqui, porque não posso estar mais perto de vocês. Obrigado por estarem aí.


Assista aqui em inglês/espanhol
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=QEgoWFrBLU4

Obrigado pela coragem de vocês e pela generosidade de espírito.

Na noite de 4ª-feira, depois de essa embaixada ter recebido uma ameaça, e de a polícia ter cercado o prédio, vocês vieram para cá, no meio da noite, e trouxeram, com vocês, os olhos do mundo.

Dentro da embaixada, durante a noite, eu ouvia os policiais andando pelas entradas de incêndio do prédio. Mas sabia que, pelo menos, havia testemunhas. Isso, graças a vocês.

Se o Reino Unido não pisoteou as convenções de Viena e outras, foi porque o mundo estava atento e vigilante. E o mundo estava vigilante, porque vocês estavam aqui.

Por isso, da próxima vez que alguém lhes disser que não vale a pena defender esses direitos tão importantes para nós, lembrem a eles dessa noite de vigília, tarde da noite, na escuridão, à frente da Embaixada do Equador. Façam-nos lembrar como, pela manhã, o sol raiou sobre um mundo diferente, quando uma valente nação latino-americana levantou-se em defesa da justiça.

Agradeço ao bravo povo do Equador e ao presidente Correa, pela coragem que manifestaram, ao considerar o meu pedido e ao conceder-me asilo político.

Agradeço também ao governo e ao ministro do Exterior do Equador Ricardo Patiño, que fizeram valer a Constituição do Equador e sua noção de cidadania universal, na consideração que deram ao meu caso.

E ao povo do Equador, por apoiar e defender sua Constituição. Tenho uma dívida de gratidão também com o pessoal dessa embaixada, cujas famílias vivem em Londres e que me manifestaram gentileza e hospitalidade, apesar das ameaças que todos eles receberam.

Na próxima 6ª-feira, haverá reunião de emergência dos ministros de Relações Exteriores da América Latina em Washington, DC, para discutir essa nossa situação. Sou extremamente grato ao povo e aos governos de Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, El Salvador, Honduras, México, Nicarágua, Peru, Venezuela e a todos os demais países da América Latina que defenderam o direito de asilo.

Ao povo dos EUA, Reino Unido, Suécia e Austrália, que me deram apoio e força, mesmo quando seus governos me negavam qualquer direito. E às cabeças mais arejadas de todos os governos, que ainda lutam por justiça: o dia de vocês raiará.

À equipe, apoiadores e fontes de Wikileaks, cuja coragem, compromisso e lealdade foram sem iguais.

Minha família e meus filhos, que vivem sem pai, perdoem-me. Logo estaremos novamente reunidos.
Enquanto Wikileaks estiver sob ameaça, ameaçadas estarão também a liberdade de expressão e a saúde de nossas sociedade. Temos de usar esse momento para articular a decisão diante da qual está hoje o governo dos EUA.

Voltará o governo dos EUA a reafirmar os valores sobre os quais aquela nação foi fundada? Ou o governo dos EUA despencará do precipício, arrastando com ele todos nós, para um mundo perigoso e repressivo, no qual os jornalistas serão para sempre silenciados, pelo medo das perseguições, e os cidadãos serão condenados a sussurrar na escuridão?

Digo que isso não pode continuar.

Peço ao presidente Obama que faça a coisa certa.

Os EUA têm de desistir dessa caça às bruxas contra Wikileaks.

Os EUA têm de cancelar a investigação pelo FBI, contra Wilileaks.

Os EUA têm de se comprometer a não perseguir nem processar nosso pessoal, nossa equipe e nossos apoiadores.

Os EUA têm de prometer, ante o mundo, que nunca mais perseguirão jornalistas exclusivamente porque jornalistas lancem luz sobre crimes cometidos pelos poderosos.

Têm de ter fim todos os discursos insanos sobre processar empresas de jornalismo, seja Wikileaks ou o New York Times.

A guerra do governo dos EUA contra os que apitam e lançam sinais de alarme justificado e legítimo tem de acabar.

Thomas Drake e William Binney e John Kiriakou e tantos outros heroicos guardas avançados, que alertaram para os piores perigos que eles, antes de outros, viram chegar, têm de ser – eles têm de ser! – perdoados e indenizados pelos riscos a que se expuseram e pelos sofrimentos que padeceram, para bem cumprir seu dever, como bons servidores do interesse público.

E o soldado que permanece em prisão militar em Fort Levenworth, Kansas, que a ONU constatou que viveu sob as mais monstruosas condições de prisão em Quantico, Virginia, e que ainda não foi julgado, mesmo depois de dois anos de prisão, tem de ser posto em liberdade.

Bradley Manning tem de ser libertado.

Se Bradley Manning realmente fez o que é acusado de ter feito, então é herói e exemplo para todos nós, e um dos mais importantes prisioneiros políticos do mundo, hoje.

Bradley Manning tem de ser libertado.

Na 4ª-feira, Bradley Manning completou 815 dias de prisão sem julgamento. A lei estipula o prazo máximo de 120 dias.

Na 3ª-feira, meu amigo Nabeel Rajab, presidente do Centro de Direitos Humanos do Bharain foi condenado a três anos de prisão, por um tweet.

Na 6ª-feira, uma banda russa foi condenada a dois anos de cadeia, por uma performance de conteúdo político.

Há unidade na opressão. Tem de haver absoluta unidade e absoluta determinação na resposta. Obrigado.

Cf:
http://actualidad.rt.com/actualidad/view/51827-vivo-discurso-julian-assange-e...
http://www.youtube.com/watch?v=QEgoWFrBLU4&feature=player_embedded#!

Fonte:
http://www.rededemocratica.org/index.php?option=com_k2&view=item&id=2562:discurso-completo-de-assange-en-la-embajada-de-ecuador-en-londres

domingo, 19 de agosto de 2012

Declaração da Liberdade da Internet - Manifesto da Diplomacia para o ativismo Digital

18/08/2012 - por João Carlos Caribé - blog Mega Não

Esta mensagem foi enviada na ultima quinta feira (16/08/12) para os principais ativistas e organizações envolvidas com liberdade na Internet e direitos humanos tais como: CTS-FGV (Brasil), EFF (Estados Unidos), Artigo 19 (Brasil e Inglaterra), Access (Estados Unidos e Mundo), Le Quadrature du Net (França e Europa), Witness (Mundo), CCK (Kenya), EIPR (Egito), ISOC (Estados Unidos), CDT (Estados Unidos), Cybercrime Institute (Alemanha), EFF FI (Finlândia), Human Rights Watch (Estados Unidos), Freedom House (Estados Unidos) Instituto Bem Estar Brasil e CGI.BR.


Manifesto da Diplomacia para o Ativismo Digital


Caros ativistas,
Sabemos que para o caráter transnacional da internet, boas práticas diplomáticas são extremamente importantes para a nossa causa, caso contrário, se os interesses das nações sobrepujarem as práticas da diplomacia, estaremos entrando no pior dos cenários.

A recente tensão entre o Reino Unido e a Embaixada do Equador, que ofereceu asilo político ao ativista Julian Assange, nos deixou muito preocupados, e esperamos que o desfecho seja dado respeitando as convenções diplomáticas.

Sem entrar na questão da culpa ou não de Assange, que é uma abordagem que vai ter múltiplas interpretações, dependendo de qual nação fará esta análise, ele é antes de tudo, como nós somos, um ativista digital, um ativista dos direitos humanos!

Certamente todas as regras que poderão ser quebradas e as práticas que são tomadas contra Assange, poderão servir de modelo para outros casos que podem se virar contra nós no futuro.

Então eu convido todos os ativistas ao redor do mundo para se juntar neste caso emblemático, a fim de que ele possa ser resolvido respeitando os princípios diplomáticos, independentemente do juízo de culpa do ativista Julian Assange.

Atenciosamente e com esperança,

João Carlos Caribé - Movimento Mega Não

http://meganao.wordpress.com

Brasil

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(Mensagem original)

Manifesto of Diplomacy for Digital Actvism


Dears activists,
We know that for transnational character of the Internet, good diplomatic practices are extremely important to our cause, otherwise, if the interests of nations overwhelm the practices of diplomacy, we will be entering the worst of scenarios.

The recent tension between the UK and the Embassy of Ecuador, who offered political asylum to the activist Julian Assange, has left us very concerned, and we hope that the outcome be given respecting the diplomatic conventions.

Without getting into the question of guilt or not of Assange , which is an approach that will have multiple interpretations depending on which nation made that analysis, he is first and foremost as we are a digital activist, a human rights activist!

Certainly all the rules that could be broken, and practices that are taken against Assange, could serve as a model for other cases that may turn against us in the future.

So I invite all activists around the world to join for this emblematic case, in order they could be resolved respecting the diplomatic principles, independent of judgment of guilt of the activist Julian Assange.

Sincerely and with hope,

João Carlos Caribé - Movimento Mega Não

http://meganao.wordpress.com

Brazil


Fonte:
http://meganao.wordpress.com/2012/08/18/manifesto-da-diplomacia-para-o-ativismo-digital/

sábado, 18 de agosto de 2012

Segregação e gerenciamento do capital na África do Sul

18/08/2012 - da Redação do site Rede Democrática

Policiais sul-africanos cercam corpos de mineiros que assassinaram em Marikana: tanto lá como aqui a "justiça" foi feita para os pobres e pretos.

O vídeo mostra cenas que eram muito comuns nos anos em que a África do Sul era dominada pelo regime segregacionista do Apartheid que misturava repressão, racismo e gerenciamento do capital.

De armas na mão, policiais observam os corpos de manifestantes no chão, ensanguentados, após o protesto ser violentamente e covardemente reprimido pelas autoridades. No vídeo se pode ver claramente a enorme superioridade numérica dos policiais armados. Uma repressão e asssassinto totalmente desnecessário e covarde. Nos anos 1990, os policiais eram brancos e, os mortos, todos negros lutando por igualdade. Hoje, os corpos continuam sendo de negros, mas muitos policiais também são. Se bem que se pode observar no video que a chefia é de branco. O conflito além de racial, também é trabalhista. É a África do Sul de 2012, livre do atroz regime da supremacia branca, agora com a supremacia do capital, neste caso a defesa da empresa inglesa Lonmin, que obtém 96% da platina que exporta para todo o mundo.

A chacina de quinta-feira 16 ocorreu nas minas de Marikana (a 40 quilômetros de Johannesburgo), da empresa britânica Lonmin. As cenas fizeram os sul-africanos reviverem fatos de uma década trás. Em trajes de choque e fortemente armados, os policiais montavam barricadas com arame farpado quando foram flanqueados por grupos de trabalhadores, muitos deles armados com machetes, lanças e outras armas improvisadas. A polícia, então, não vacilou: ao invés de recuar ou disparar para o alto advertindo, abriu fogo direto, com a intenção de matar os manifestantes. Lá, não usaram balas de borracha, jatos de água para dispersar que estava presente ou spray de pimenta.

Esta sofisticação de repressão dita 'democrática' não foi feita. Após a rajada de tiros, pelo menos sete corpos ficaram no chão enquanto dezenas de policiais, aparentemente amedrontados, apontavam as armas para os mortos e caidos com se fossem se levantar. Até 18 pessoas podem ter sido assassinadas.

Na sexta-feira 17, as notícias mostraram que o massacre foi ainda maior. Pelo menos 34 pessoas morreram e outras 78 ficaram feridas e foram levadas aos hospitais de Rustemburgo e Johannesburgo, duas das maiores cidades da região. Imediatamente após o massacre, a polícia sul-africana não se manifestou. E as declarações não servem para explicar o banho de sangue.


Riah Phiyega
A polícia teve que usar a força para se proteger do grupo que estava atacando”, disse Riah Phiyega, uma ex-executivo de bancos que é o comandante da polícia sul-africana desde junho. Ou seja, o massacre desta vez foi feito sob o comando de uma pessoa que, além de mulher é negra. Muito conveniente para a empresa britânica Lonmin que explora as minas de platina.

Presidente Jacob Zuma
 Horas depois das mortes, o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, emitiu um comunicado lamentando o episódio e prometendo levar os culpados à Justiça. Segundo Zuma, há na África do Sul “espaço suficiente na ordem democrática para que qualquer disputa seja resolvida por meio do diálogo sem rompimentos da lei ou violência”.

A fala de Zuma não encontra ecos na sociedade sul-africana. O jornal Sowetan, que fala em 34 mortos, questionou em editorial nesta sexta-feira o que havia mudado no país desde 1994, quando o Apartheid - a segregação - chegou ao fim. Para a publicação, os negros pobres continuam sendo tratados como objetos pelo governo. Instituições ligadas aos direitos humanos condenaram o massacre, também assemelhando o ato policial ao tipo de comportamento que as autoridades tinham durante o auge do regime racista. Pelo visto, o que os novos governantes aprenderam do regime anterior foi reprimir. A democracia ainda não se aprendeu. 
Marikana

O massacre em Marikana é o ponto culminante de seis dias de violência. Desde 10 de agosto, quando a paralisação teve início, trabalhadores que tentaram furar a greve foram atacados e pelo menos dez pessoas morreram, entre elas dois policiais. A violência é resultado da rivalidade de oito meses provocada por uma disputa de poder entre dois sindicatos de mineiros, um existente há mais de 20 anos e outro recém-aberto. Um líder grevista afirmou ao jornal sul-africano The Star que os 3 mil mineiros estavam ali em nome próprio, após décadas de “negociações infrutíferas” dos sindicatos. Os trabalhadores tinham, segundo este líder, duas reivindicações. Serem recebidos por diretores da Lonmin e um aumento salarial dos atuais 5000 rands (equivalente a 1200 reais) para 12500 (cerca de 2900 reais).

Barnard Mokwena, vice-presidente-executivo da mineradora, afirmou que a empresa estava interessada em negociar por meio de “estruturas reconhecidas” (leia-se os sindicatos) e que não pretendia dar aumento salarial. Uma ironia: se não pretende dar aumento salarial, em verdade não quer negociar. E para isto conta com a repressão policial.

A grande preocupação da Lonmim é com a queda de mais de 6% de suas ações na Bolsa de Londres e com o fato de ter deixado de produzir cerca de 15 mil onças (425 quilos) de platina nos últimos seis dias. A diretoria da Lonmim se recusou a comentar o massacre em suas minas. A empresa se limitou a dizer que se tratava de uma “operação policial”.

O vídeo acima, da rede de tevê Al-Jazeera, do Catar, mostra imagens do massacre em defesa da empresa inglesa que controla essas minas: a Lonmin, que obtém 96% da platina que exporta para todo o mundo. Agora, a repressão e morte que antes era em nome do racismo, não se disfarça mais e age claramente em nome do capital. Um governo e um partido que não avança claramente para construção de uma sociedade mais justo e correta, descamba para o gerenciamento ostensivo do capital. A herança do passado repressor e racista se faz presente hoje, mostrando que o apartheid - a segregação - não foi superada, foi apenas 'modernizada': se trata agora de segregar o pobre, usando o próprio negro. Quem viveu sempre reprimido, ainda não aprendeu a democracia, usa apenas o que viu e o que sentiu na pele por gerações.

Cf:
http://www.sowetanlive.co.za/news/2012/08/17/police-boss-says-34-miners-killed-in-self-defence

P.A.

Fonte:

Em defesa do setor elétrico nacional


Carta ao Senhor Benjamin Steinbruch
Ernesto Germano Parés*

         Em artigo publicado no jornal “Folha de São Paulo” do dia 14 de agosto, sob o título “Leiloar ou prorrogar”, o senhor Benjamin Steinbruch se esforça para defender a posição da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) na questão da renovação das concessões de energia elétrica no país.
         Ao longo de todo o seu artigo, ele transforma a questão da redução das tarifas de energia como central do debate e procura escamotear todo o resto que cerca um tema tão importante quanto a política energética de um país.
         Logo no início do seu artigo, o senhor Steinbruch diz que fazer novas licitações representaria um “importante ganho de competitividade à economia”. Ao ler o texto, imediatamente, me vieram à memória os discursos idênticos feitos à época das privatizações da siderurgia brasileira. Os empresários diziam que o Estado emperrava a competitividade e, por isto, a siderurgia deveria ser privatizada. Ainda mais, gritavam contra o que chamavam de “monopólio estatal” da siderurgia e diziam que as privatizações iriam abrir o mercado e acabar com o “monopólio”.
         Vinte anos depois, o que vemos é que a siderurgia se transformou em um “negócio entre amigos”, com os preços do aço sendo ditados pelos poucos grandes, e com o Brasil perdendo o mercado internacional.
         A situação é tão crítica que a Companhia Siderúrgica Nacional, CSN, abiscoitada pelo senhor Steinbruch em um processo de privatização cheio de dubiedades, apresentou números negativos neste início de ano.
         O senhor Steinbruch, presidente da CSN e que falava contra o monopólio estatal do aço, passou longo tempo lutando para assumir também o controle da Usiminas. O resultado de sua prática é que a CSN apresentou, no segundo semestre deste ano, um prejuízo de 1 bilhão de reais!
         Que façanha esta do senhor Steinbruch! Durante toda a sua história como empresa estatal a CSN jamais deu prejuízo operacional!
         Mas, vamos seguir em nossa resposta. Vamos falar no setor elétrico que está sendo agora cobiçado pelo senhor Steinbruch e seus pares.
         Lembram da privatização da Light, no Rio de Janeiro?
         O senhor Steinbruch também participou daquela privatização cheia de falcatruas e onde a Constituição brasileira foi vergonhosamente rasgada. A privatização da Light, em 1996, só aconteceu porque o próprio governo foi forçado a comprar uma parte das ações e, assim, legalizar a venda!
         Pois bem. A Light foi privatizada e, dois anos depois o Rio de Janeiro estava mergulhado em apagões que transformaram o verão carioca em um inferno! Os serviços de distribuição de energia não melhoraram, a tal competitividade tão anunciada não aconteceu e os consumidores do Rio se viram entregues à sanha de lucro. Em 10 anos de privatização as tarifas de energia no estado subiram quase cinco vezes mais do que a inflação acumulada no período!
         Isto para não lembrarmos as explosões de bueiros que atemorizam os cariocas até hoje!
         Mas o senhor Steinbruch defende novas licitações dizendo que seria para aumentar a competitividade e reduzir as tarifas. Foi isto que aconteceu com a telefonia?
         Vejam a atual situação da telefonia móvel no país. As operadoras abusam de tarifas e serviços, mas a qualidade está pior a cada dia. Os usuários dos serviços, agora, ficam felizes quando conseguem uma linha ou quando sua chamada não cai durante a ligação.
         Fico imaginando, diante de todo esse quadro, o que aconteceria com o setor de energia brasileiro se, como deseja o senhor Steinbruch, houver novas licitações e tudo for parar nas mãos do setor privado.
         A Eletrobras acaba de apresentar lucro líquido consolidado de 1,35 trilhão de reais, com crescimento de 312%. O que isto representaria nas mãos dos empresários?
         questão da energia é bem simples de ser entendida. Devido aos altíssimos investimentos necessários para projetar, construir, instalar e operar esses serviços (geração, transmissão e distribuição), não houve grande interesse inicial do setor privado, deixando ao Estado a tarefa de criar empresas estatais e investir para que a energia produzida pudesse mover o restante da economia nacional. Segundo cálculos, os 15 ou 20 primeiros anos da concessão servem apenas para amortizar o valor total de investimentos e a energia só passa a dar lucro muito tempo depois.
         E é exatamente este momento que estamos vivendo. O problema da renovação das concessões envolve 20% das usinas de energia existentes (cerca de 20,2GW), 84% das linhas de transmissão já instaladas e 35% da energia comercializada no país (37 empresas distribuidoras). Grande parte desses negócios está em mãos do grupo estatal Eletrobras e os investimentos já foram amortizados.
         A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) prevê redução em torno de 25% para as tarifas de hidrelétricas, cujas concessões estão terminando em 2015. Além disso, os reajustes anuais pelo IPCA podem ser substituídos por revisões tarifárias a cada quatro ou cinco anos, em um esforço para desindexar a economia brasileira.
         Por que seria possível essa redução de tarifas?
         É preciso considerar que todos os investimentos feitos pelas empresas geradoras de energia, as usinas hidrelétricas, já foram completamente pagos na concessão anterior. Ou seja, os gastos já foram amortizados e agora a produção de energia é um setor lucrativo. Estando nas mãos do Estado tem um papel social, passando para as mãos dos empresários privados passará a ser uma fonte de lucro e, consequentemente, significará mais tarifas sobre o consumidor final.
         O Brasil precisa desta energia, precisa crescer, mas não será com a entrega do setor aos empresários privados que isto irá acontecer.
         Já imaginaram se o setor elétrico nacional começar a apresentar os mesmos problemas da telefonia? Com a Light tivemos bueiros explodindo. Se privatizar a geração o que poderá acontecer com nossas usinas?

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*Ernesto Germano Parés- Jornalista, escritor, consultor sindical e assessor político