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quarta-feira, 18 de julho de 2012

O CRIME ORGANIZADO PELOS BANQUEIROS

13/07/2012 - Mauro Santayana em seu blog

A invenção da moeda, contemporânea à do Estado, foi um dos maiores lampejos da inteligência humana.

A primeira raiz indoeuropéia de moeda é “men”, associada aos movimentos da alma na mente, que chegou às línguas modernas pelo verbo sânscrito mányate (ele pensa).

Sem essa invenção, que permite a troca de bens de natureza e valores diferentes, não teria havido a civilização que conhecemos.

A construção das sociedades e sua organização em estados se fizeram sobre essa convenção, que se funda estritamente na boa fé de todos que dela se servem. Os estados, sempre foram os principais emissores de moeda. A moeda, em si mesma, é neutra, mas, desde que surgiu, passou a ser também servidora dos maiores vícios humanos. Com a moeda, vale repetir o lugar comum, cresceram a cobiça, a luxúria, a avareza – e os banqueiros.

A moeda, ou os valores monetários, mal ou bem, estavam sob o controle dos Estados emitentes, que se responsabilizavam pelo seu valor de face, mediante metais nobres ou estoques de grãos. Nos tempos modernos, no entanto, a sua garantia é apenas virtual. Os convênios internacionais se amarram a um pacto já
desfeito, o Acordo de Bretton Woods, de 1944. A ruptura do contrato foi ato unilateral dos Estados Unidos, sob a presidência Nixon, ao negar a conversibilidade em ouro do dólar, moeda de referência internacional pelo Acordo.

Essa decisão marca o surgimento de uma nova era, em que o valor da moeda não se relaciona com nada de sólido. Os bancos, ao administrá-la, deveriam conduzir-se de forma a merecer a confiança absoluta dos depositantes e dos acionistas, e assegurar essa mesma confiabilidade às suas operações de crédito. O papel social dos bancos é o de afastar os usurários e agiotas do mercado do dinheiro. Mas não é desta forma que têm agido, sobretudo nestes nossos tempos de desmantelamento dos estados.Hoje, não há diferença entre um Shylock shakespereano e qualquer dirigente dos grandes bancos.

Na Inglaterra, o escândalo do Barclays, que se confessou o primeiro banco responsável pela manipulação da taxa Libor, provocou o espanto da opinião pública, mas não dos meios financeiros que não só conheciam o deslize, como dele se beneficiavam.

Segundo noticiou ontem [12/07] El Pais, os dois grandes executivos da Novagalícia, surgida da incorporação de duas instituições oficiais da província galega – a NovaCaixa e a Caixa Galícia – e colocada sob o controle de Madri em setembro do ano passado, pediram desculpas aos seus clientes, por ter a instituição agido mal. Entre outros de seus malfeitos, esteve o de enganar pequenos investidores mal informados, entre eles alguns analfabetos, com aplicações de alto risco, ou seja, ancoradas em débitos podres, as famosas subprimes, adquiridas dos bancos maiores que operam no mercado imobiliário do mundo inteiro.

Além disso, os antigos responsáveis por esses desvios, deixaram seus cargos percebendo indenizações altíssimas. E os novos administradores tiveram sua remuneração reduzida, por serem as antigas absolutamente irracionais. Com todas essas desculpas, a Novagalícia quer uma injeção de seis bilhões de euros, a fim de regularizar a sua situação.

Este jornal reproduziu, ontem, artigo de The Economist, a propósito da manipulação da taxa Libor, por parte do Barclays, e disse, com a autoridade de uma revista que sempre esteve associada à City, que não há mais confiança nos maiores bancos, do mundo, como o Citigroup, o J.P.Morgan, a União de Bancos Suíços, o Deutschebank e o HSBC. Executivos desses bancos, de Wall Street a Tóquio, estão envolvidos na grande manipulação sobre uma movimentação financeira total de 800 trilhões de dólares.

Para entender a extensão da falcatrua, o PIB mundial do ano passado foi calculado em cerca de 70 trilhões de dólares, menos de dez por cento do dinheiro que circulou escorado na taxa manipulada pelos grandes bancos. A Libor, sendo a taxa usada nas operações interbancárias, serve de referência para todas as operações do mercado financeiro.


O mundo se tornou propriedade dos banqueiros. Os trabalhadores produzem para os banqueiros, que controlam os governos. E quando, no desvario de sua carência de ética, e falta de inteligência, os bancos investem na ganância dos derivativos e outras operações de saqueio, são os que trabalham, como empregados ou empreendedores honrados, que pagam. É assim que estão pagando os povos da Grécia, da Espanha, de Portugal, da Grã Bretanha, e do mundo inteiro, mediante o arrocho e o corte das despesas sociais, pelos governos vassalos, alem do desemprego, dos despejos inesperados, das doenças e do desespero, a fim de que os bancos e os banqueiros se safem.

Se os governantes do mundo inteiro fossem realmente honrados, seria a hora de decidirem, sumariamente, pela estatização dos bancos e o indiciamento dos principais executivos da banca mundial.

Eles são os grandes terroristas de nosso tempo. É de se esperar que venham a conhecer a cadeia, como a está conhecendo Bernard Madoff.

Entre o criador do índice Nasdaq e os dirigentes do Goldman Sachs e seus pares, não há qualquer diferença moral.

Os terroristas comuns matam dezenas ou centenas de cada vez. Os banqueiros são responsáveis pela morte de milhões de seres humanos, todos os anos, sem correr qualquer risco pessoal.

E ainda recebem bônus milionários.


Fonte:
http://www.maurosantayana.com/2012/07/o-crime-organizado-pelos-banqueiros.html


Além do blog Educom, este texto foi publicado também nos seguintes sites:
http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2012/07/13/o-crime-organizado-pelos-banqueiros/
http://www.conversaafiada.com.br/economia/2012/07/13/santayana-o-barclays-e-as-licoes-da-europa/
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=188480&id_secao=2
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2012/07/o-crime-organizado-pelos-banqueiros.html
http://www.jornalofarol.com.br/ver-noticia.asp?codigo=16353
http://conexaose.blogspot.com.br/
http://blogdeumsem-mdia.blogspot.com.br/
http://ericksilveira.blogspot.com.br/2012/07/o-crime-organizado-pelos-banqueiros.html
http://jaderresende.blogspot.com.br/
http://contextolivre.blogspot.com.br/2012/07/o-crime-organizado-pelos-banqueiros.html
http://blogoosfero.cc/contextolivre/contextolivre/o-crime-organizado-pelos-banqueiros
http://esquerdopata.blogspot.com.br/2012/07/o-crime-organizado-pelos-banqueiros.html
http://cleberluizsabino.blogspot.com.br/
http://ecoepol.blogspot.com.br/2012/07/o-crime-organizado-pelos-banqueiros.html
http://jopbj.blogspot.com.br/2012/07/o-crime-organizado-pelos-banqueiros.html
http://blogln.ning.com/profiles/blogs/os-grandes-terroristas-de-nosso-tempo
http://carcari.blogspot.com.br/2012/07/o-crime-organizado-pelos-banqueiros.html
http://opensanti.blogspot.com.br/2012/07/o-crime-organizado-pelos-banqueiros.html
http://www.dignow.org/post/o-crime-organizado-pelos-banqueiros-4327584-76375.html
http://dralbertorossi.blogspot.com.br/2012/07/mauro-santayana-o-crime-organizado.html
http://www.tribunadaimprensa.com.br/?p=42874
http://www.folhadodelegado.jex.com.br/artigos+de+outros+autores/o+crime+organizado+pelos+banqueiros
http://contrapontopig.blogspot.com.br/2012/07/contraponto-8714-o-crime-organizado.html
http://aguinaldo-contramare.blogspot.com.br/2012/07/o-crime-organizado-pelos-banqueiros.html
http://racismoambiental.net.br/2012/07/os-grandes-terroristas-de-nosso-tempo/
http://carcari.blogspot.com.br/2012/07/o-crime-organizado-pelos-banqueiros.html
http://militanciaviva.blogspot.com.br/2012/07/o-crime-organizado-pelos-banqueiros.html
http://calangootango.blogspot.com.br/2012/07/mauro-santayana-o-crime-organizado.html
http://minutonoticias.com.br/o-crime-organizado-pelos-banqueiros
http://lutadeclasses.blogspot.com.br/2012/07/o-crime-organizado-pelos-banqueiros.html
http://fichacorrida.wordpress.com/2012/07/13/santayana-o-barclays-e-as-lies-da-europa/
http://blogdeumsem-mdia.blogspot.com.br/2012/07/bancos-o-crime-organizado-pelos.html
http://brasilsoberanoelivre.blogspot.com.br/2012/07/o-crime-organizado-pelos-banqueiros.html
http://correiodobrasil.com.br/o-crime-organizado-pelos-banqueiros/485998/
http://www.planetaosasco.com/oeste/index.php?/2012071339681/Nosso-pais/santayana-o-barclays-e-as-licoes-da-europa.html
http://cleberluizsabino.blogspot.com.br/2012/07/o-barclays-e-as-licoes-da-europa.html
http://www.ladislauleal.com.br/2012/07/o-crime-organizado-pelos-banqueiros-por.html
http://ajusticeiradeesquerda.blogspot.com.br/2012/07/o-crime-organizado-pelos-banqueiros.html
http://www.omorrodesaopaulo.com.br/2012/07/o-crime-organizado-pelos-banqueiros/
http://gilsonsampaio.blogspot.com.br/2012/07/mauro-santayana-o-crime-organizado.html
http://opiniaodivergente.com/?p=708
http://vicentecidade21.blogspot.com.br/2012/07/o-esquerdopata-o-crime-organizado-pelos.html
http://conversadefeira.blogspot.com.br/2012/07/o-crime-organizado-pelos-banqueiros.html
http://nilsonsa.blogspot.com.br/2012/07/o-crime-organizado-pelos-banqueiros.html
http://chebolas.blogspot.com.br/2012/07/o-crime-organizado-pelos-banqueiros.html
http://17rs.blogspot.com.br/2012/07/mauro-santayana-o-crime-organizado.html
http://www.toup.com.br/mercado-de-financeiro/52617-mauro-santayana-o-crime-organizado-pelos-banqueiros.html
http://www.citador.pt/noticias/news/o-crime-organizado-pelos-banqueiros
http://blogln.ning.com/main/sharing/share?id=2189391%253ABlogPost%253A1009761
http://www.africas.com.br/os-grandes-terroristas-de-nosso-tempo/
http://carcara-ivab.blogspot.com.br/2012/07/os-grandes-terroristas-de-nosso-tempo.html
http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?idprog=fa246d0262c3925617b0c72bb20eeb1d&cod=9999
http://lorotaspoliticaseverdades.blogspot.com.br/2012/07/o-crime-organizado-pelos-banqueiros.html
http://www.pcdob.org.br/noticia.php?id_noticia=188480&id_secao=2
http://franklinalves.blogspot.com.br/2012/07/o-crime-organizado-pelos-banqueiros.html
http://novobloglimpinhoecheiroso.wordpress.com/2012/07/16/mauro-santayana-o-crime-organizado-pelos-banqueiros/
http://www.correioprogressista.com.br/cache/124302
http://guerrilheirodoentardecer.blogspot.com.br/2012/07/mauro-santayana-o-crime-organizado.html
http://www.planetaosasco.com/barueri/index.php?/blogs/o-crime-organizado-pelos-banqueiros.html

domingo, 12 de setembro de 2010

Blogosfera: A Imprensa Alternativa do Século 21


No dia 21 de setembro, das 18h30 às 20h30, com transmissão online pelo
bate-papo do UOL, o Centro Cultural Banco do Brasil realiza o
debateBlogosfera: A Imprensa Alternativa do Século 21? com os jornalistas
Luiz Carlos Azenha, do blog Vi o Mundo, e Mauro Santayana. A mediação do
encontro será feita pelos também jornalistas Mauro Ventura e Oona Castro,
que encaminhará as perguntas dos internautas aos debatedores.

O objetivo do ciclo é o de pensar a Internet como suporte para a informação
e as artes: música, literatura, teatro, artes plásticas, fotografia, num
total de seis encontros. O primeiro debate do ciclo foi dedicado à discussão
da Web Arte e contou com a participação de Ivana Bentes e Giselle
Beiguelman. No segundo, foi discutido o teatro que se faz na rede, com o
diretor Jefferson Miranda e a atriz Renata Jesion.

Até novembro devem participar das discussões os fotógrafos Arthur Omar e
Claudia Jaguaribe; os escritores Daniel Galera e João Paulo Cuenca; o
tecladista do Skank, Henrique Portugal, e o jornalista Irineu Franco
Perpétuo, autor do livro O Futuro da Música Depois da Morte do CD.

Repórter especial da TV Record e editor-chefe do blog Viomundo, Luiz Carlos
Azenha começou a carreira em um jornal do interior de São Paulo, nos anos
70. Em 1980 tornou-se repórter de TV. Foi correspondente da Rede Manchete e
da TV Globo em Nova York, cidade em que viveu durante mais de 15 anos.
Acompanhou eventos internacionais importantes como a queda do muro de
Berlim, o processo de dissolução da União Soviética e a crise que levou à
invasão do Iraque. É colaborador de revista CartaCapital e mais recentemente
dirigiu a série Nova África, da TV Brasil.

Mauro Santayana é jornalista, colunista político do JB Online. Trabalhou em
todos os grandes jornais brasileiros (Diário de Minas, Última Hora, O Globo,
Folha de S. Paulo, Gazeta Mercantil, Diário Popular e Jornal da Tarde), além
das revistas Manchete, Mundo Ilustrado, Alterosa e Revista do Globo. Na
imprensa alternativa e de resistência, trabalhou no Binômio, de Belo
Horizonte, e Pasquim. Foi correspondente do JB (em Praga e em Bonn, de 1968
a 1973) e da Folha de São Paulo (na Península Ibérica e no Norte da África,
de 1979 a 1982). Como correspondente do JB na Alemanha, ganhou o Prêmio Esso
de Reportagem de 1971, com a matéria Assim Começou uma Guerra, sobre as
relações entre o Brasil e Alemanha que levaram à Declaração de Guerra de
1942. Foi ainda consultor político de Tancredo Neves, secretário-executivo e
membro da Comissão de Estudos Constitucionais da Presidência da República,
que redigiu o ante-projeto da Constituição de 1988, e Adido Cultural do
Brasil em Roma (entre 1987 e 1990). Entre os livros que escreveu estão A
Tragédia Argentina, Poder e Violência, de Rosas a Perón; Dossiê da Guerra do
Saara; Tancredo, o Verbo Republicano e A Política como Razão.

O debate Blogosfera: A Imprensa Alternativa do Século 21? acontece no Teatro
II e as senhas para o evento podem ser retiradas com uma hora de
antecedência, na bilheteria. O CCBB fica na Rua Primeiro de Março 66,
Centro, tel.: (21) 3808-2020. Outras informações podem ser obtidas no site
WWW.bb.com.br/cultura

PARA ROTEIRO
Programa: Arte e Vanguarda na Internet
Patrocínio : Banco do Brasil
Realização: Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro
Curadora: Beatriz Carolina Gonçalves

21 SETEMBRO (com transmissão online pela TV UOL)
BLOGOSFERA: A IMPRENSA ALTERNATIVA DO SÉCULO 21?
Debatedores: Luiz Carlos Azenha e Mauro Santayana
Mediação: Mauro Ventura e Oona Castro
Horário: Das 18h30 às 20h30
Local: Teatro I
Capacidade: 100 lugares
Duração: 120 min.
Recomendação: 12 anos
Entrada gratuita: Retirar senhas na bilheteria uma hora antes do evento
PROGRAMAÇÃO DO CICLO

19 OUTUBRO (com transmissão online pela TV UOL)
MUITO ALÉM DA FOTOGRAFIA
Debatedores: Cláudia Jaguaribe e Arthur Omar
Mediação: Mauro Ventura e Oona Castro

09 NOVEMBRO
LITERATURA NA INTERNET
Debatedores: Daniel Galera e João Paulo Cuenca
Mediação: Mauro Ventura

23 NOVEMBRO MÚSICA E INTERATIVIDADE
Debatedores: Henrique Portugal e Irineu Franco Perpétuo
Mediação: Mauro Ventura
Centro Cultural Banco do Brasil RJ
Rua Primeiro de Março, 66 - Centro.
Informações: (21) 3808-2020
bb.com.br/cultura

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Os minérios e o interesse nacional

12/08/2012 - Mauro Santayana - Carta Maior

As empresas mineradoras, quase todas estrangeiras ou com forte participação de capital externo, ameaçam ir à Justiça contra o governo brasileiro.

Alegam “direitos minerários”. Razão alegada: o governo não têm emitido novas licenças para pesquisas de lavras, nem outorgas de concessão do direito de minerar.
(Mauro Santayana)

As empresas mineradoras, quase todas estrangeiras ou com forte participação de capital externo, ameaçam ir à Justiça contra o governo brasileiro. Alegam “direitos minerários”. Razão alegada: o Ministério de Minas e Energia e o Departamento Nacional de Produção Mineral, a ele subordinado, não têm emitido novas licenças para pesquisas de lavras, nem outorgas de concessão do direito de minerar. Segundo informações oficiosas, e não oficiais, a ordem é do Planalto.

A matéria sobre o assunto, publicada sexta-feira pelo jornal Valor, não esclarece de que “direitos minerários” se trata. Pelo que sabemos, e conforme a legislação a respeito, o subsolo continua pertencendo à União, como guardiã dos bens comuns nacionais. A União pode, ou não, conceder, a empresas brasileiras, o direito de pesquisa no território brasileiro e o de explorar esses recursos naturais, dentro da lei. Nada obriga o Estado a atender aos pedidos dos interessados.

A Constituição de 1988, e sob proposta da Comissão Arinos, apresentada pelo inexcedível patriota que foi Barbosa Lima Sobrinho, havia determinado que tais concessões só se fizessem a empresas realmente nacionais: aquelas que, com o controle acionário de brasileiros, fossem constituídas no Brasil, nele tivessem sua sede e seus centros de decisão.

O então presidente Fernando Henrique Cardoso, com seus métodos peculiares de convencimento, conseguiu uma reforma constitucional que tornou nacionais quaisquer empresas que assim se identificassem, ao revogar o artigo 171 da Constituição, em 15 de agosto de 1995, com a Emenda nº 6.
Ao mesmo tempo, impôs a privatização de uma das maiores e mais bem sucedidas mineradoras do mundo, a nossa Vale do Rio Doce.

É bom pensar pelo menos uns dois minutos sobre a América Latina, seus recursos minerais e a impiedosa tirania ibérica sobre os nossos povos. A prata de Potosi – e de outras regiões mineiras do Altiplano da Bolívia – fez a grandeza da Espanha no século 17. O ouro e os diamantes de Minas, confiscados de nosso povo pela Coroa Portuguesa, financiou a vida da nobreza parasita da Metrópole, que preferiu usar o dinheiro para importar produtos estrangeiros a criar manufaturas no país. As astutas cláusulas do Tratado de Methuen, firmado entre Portugal e a Inglaterra, em 1703, pelo embaixador John Methuen e o Conde de Alegrete, foram o instrumento dessa estultice. Assim, o ouro de Minas financiou a expansão imperialista britânica nos dois séculos que se seguiram.

A luta em busca do pleno senhorio de nosso subsolo pelos brasileiros é antiga, mas se tornou mais aguda no século 20, com a intensa utilização do ferro e do aço na indústria moderna.

Essa luta se revela no confronto entre os interesses estrangeiros (anglo-americanos, bem se entenda) pelas imensas jazidas do Quadrilátero Ferrífero de Minas, tendo, de um lado, o aventureiro Percival Farquhar e, do outro, os nacionalistas, principalmente mineiros, como os governadores Júlio Bueno Brandão e Artur Bernardes.

Bernardes manteve a sua postura quando presidente da República, ao cunhar a frase célebre: minério não dá duas safras. Essa frase foi repetida quarta-feira passada, pelo governador Antonio Anastasia, ao reivindicar, junto ao presidente do Senado, José Sarney, a aprovação imediata do novo marco regulatório, que aumenta a participação dos estados produtores nos lucros das empresas mineradoras, com a elevação dos royalties devidos e que, em tese, indenizam os danos causados ao ambiente.

Temos que agir imediatamente, a fim de derrogar toda a legislação entreguista do governo chefiado por Fernando Henrique, devolver a Vale do Rio Doce ao pleno controle do Estado Nacional e não conceder novos direitos de exploração às empresas estrangeiras, dissimuladas ou não. E isso só será obtido com a mobilização da cidadania.


Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.

Fonte:
http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5725

sexta-feira, 8 de julho de 2011

A internet e a rebelião dos homens


por Mauro Santayana*

Imagine o leitor que em fevereiro de 1848 já houvesse a rede mundial de computadores. Vamos supor que, em lugar de imprimir os primeiros e poucos exemplares do Manifesto Comunista, Marx e Engels tivessem usado a internet, de forma a que todos os trabalhadores europeus e norte-americanos pudessem ler o texto. Qual teria sido o desenvolvimento do processo? Como sabemos, o ano de 1848 foi de rebeliões operárias na Europa, reprimidas com toda a violência.



O capitalismo selvagem de então, um dos filhos bastardos da Revolução Francesa, sentiu-se animado pela derrota dos trabalhadores. Na França a burguesia tomou conta do poder e, derrotada a monarquia, assumiu-o sem disfarces e sem intermediários, em um período que os historiadores denominam de “A República dos homens de negócios”. Os trabalhadores e intelectuais tentaram, mais tarde, em 1871, logo depois de a França ser derrotada pelos alemães, criar um governo autônomo e igualitário em Paris. Com a ajuda dos invasores, o Exército de Thiers executou 20.000 parisienses nas ruas.

As manifestações populares dos países árabes, que os governos e a imprensa dos Estados Unidos e da Europa saudaram como o fim dos tiranos e o início da democratização do mundo islâmico, entram em nova etapa, ao atingir os países ricos. Os analistas apressados são conduzidos a rever suas conclusões. O mal-estar que levou os povos às ruas não se limita ao norte da África: é fenômeno mundial.

Uma das contradições do capitalismo, principalmente nessa nova etapa, a do imperialismo desembuçado, no qual os governos nacionais não passam de meros servidores dos donos do dinheiro, é a de sua incapacidade em estabelecer limites. Hoje, nos Estados Unidos – que foram, em um tempo, o espaço para a realização de milhões de pessoas mediante o trabalho – a diferença entre os ricos e os pobres é maior do que durante toda a sua História, incluído o tempo da escravidão. Um por cento da população norte-americana detém 40% de toda a riqueza nacional. A mesma situação se repete em quase todos os paises nórdicos.

Quando redigíamos este texto, milhares de pessoas se encontravam acampadas no centro de Madri, em continuidade ao movimento Democracia Real, Já, que se iniciou em 15 de maio, com protestos em todas as grandes cidades espanholas. A Espanha hoje está dominada pelos grandes banqueiros e companhias multinacionais, que não só exploram o trabalho nacional, como vivem de explorar os paises latino-americanos. Bancos como o Santander – cujos resultados mais expressivos ele os obtém no Brasil – dividem com os dois partidos que se revezam no poder (os socialistas e os conservadores) o resultado do assalto à economia do país. É contra esse sistema odioso que os espanhóis foram às ruas, e nas ruas continuam.

Não são apenas os jovens desempregados que se indignam. São principalmente as mulheres e homens maduros, os que estimulam o movimento. Eles sentem que seus filhos e netos estarão condenados a um futuro a cada dia mais tenebroso e mais violento, se os cidadãos não reagirem imediatamente. Os espanhóis estão promovendo a articulação internacional de movimentos semelhantes, que ocorrem em outros países, como a Islândia, a França, a Inglaterra e mesmo os Estados Unidos. Se o sistema financeiro se articulou, com o Consenso de Washington e os encontros periódicos entre os homens mais ricos do planeta, a fim de dominar e explorar globalmente os povos, é preciso que os cidadãos do mundo inteiro reajam.

Marx queria a união de todos os proletários do mundo. O movimento de hoje é mais amplo e seu lema poderia ser: Seres humanos do mundo inteiro, uni-vos. 
 
 
 
Fonte: publicado originalmente no Blog do Mauro Santayana e retirado do Blog do Miro.
 
Nota: republicamos porque além do belo texto de Santayana, é uma verdadeira aula de história 

domingo, 29 de janeiro de 2012

Baltasar Garzón, a justiça e a corrupção

20/01/2012 - Mauro Santayana* - Carta Maior

"O julgamento, pelo Tribunal Supremo da Espanha, do juiz Baltasar Garzón, é um exemplo de nossos tempos, nos quais a subversão da lógica e da ética é a mais pavorosa forma de terrorismo. Como no século passado, estamos assistindo aos recados do fascismo, que se reergue, dos subterrâneos da História."
(Mauro Santayana)



Se alguém, ao ler estas notas, lembrar-se de Montesquieu com suas Cartas Persas, e de Tomás Antonio Gonzaga, que nelas se inspirou, para redigir as Cartas Chilenas, estará fazendo a ilação correta. O assunto nos interessa de perto, assim como o texto do barão de La Brède interessava aos mineiros de Vila Rica daquele tempo. O julgamento, pelo Tribunal Supremo da Espanha, do juiz Baltasar Garzón, é um exemplo de nossos tempos, nos quais a subversão da lógica e da ética é a mais pavorosa forma de terrorismo. Como no século passado, estamos assistindo aos recados do fascismo, que se reergue, dos subterrâneos da História, para retomar a mesma sintaxe de sempre, que faz do crime, virtude; e, da dignidade, delito desprezível.

No passado, era comum a frase esperançosa de que ainda havia juízes em Berlim. Embora ela viesse de uma obra de ficção, é provável que tenha sido autêntica, porque se referia a Frederico II, cuja preocupação para com a equidade da justiça era conhecida, conforme recomendações a seus ministros. Segundo a obra de François Andrieux (Le meûnier de Sans-Souci) e de Michel Dieulafoy (Le Moulin de Sans-Souci), ambos contemporâneos do grande monarca, essa foi a resposta de um moleiro, vizinho ao castelo famoso, quando o soberano, diante de sua recusa de vender-lhe sua propriedade, ameaçou confiscá-la. O humilde moleiro – talvez confiado na própria conduta habitual de Frederico II, disse-lhe que isso não seria possível, porque ainda havia juízes em Berlim. Havia juízes em Berlim e ainda os há, aqui e ali, mas quando homens como Garzón são submetidos a julgamento – e pelas razões alegadas pelos seus contendores – é de se perguntar se, em alguns lugares, ainda os há. Em alguns lugares, como em Washington, em que a Suprema Corte de vez em quando espanta os cidadãos, com suas decisões. E em outros lugares.

Baltasar Garzón surpreendeu a sociedade espanhola, com sua obstinação na luta contra os que lesam os direitos humanos, o crime organizado, a corrupção no Estado, os delitos dos serviços secretos em suas relações com grupos terroristas. Sua grande vitória, ao obter a prisão, em Londres, do ex-ditador Pinochet e seu posterior julgamento, pela justiça chilena, fizeram dele uma personalidade mundial. É certo que essa obstinação o transformou em magistrado incômodo. Alguns o vêem com a síndrome do justiceiro enlouquecido, espécie de Torquemada de hoje. Mas o pretexto que arranjaram para conduzi-lo ao mais alto tribunal da Espanha é, no mínimo, pífio. Garzón, a pedido das autoridades policiais, autorizou a escuta telefônica de algumas pessoas, detidas e em liberdade, com o propósito de impedir a destruição de provas e a continuação de remessas ilegais de dinheiro obtido do erário, ao exterior, e sua “lavagem”, mediante os métodos já denunciados no Brasil.

Trata-se do famoso caso Gurtel, um entre muitos outros, na Espanha de hoje, em que a presença do franquismo e da Opus dei continua firme. Um grupo de empresários da comunicação e eventos, chefiados por Francisco Correa, intermediava contratos de toda natureza com os governos autônomos e municípios, chefiados pelos homens do Partido Popular, quando este estava à frente do governo nacional, e que agora retornou ao poder. O grupo corrompia as autoridades, com presentes, viagens e, sendo necessário, dinheiro vivo ou depositado na velha Suíça, em nome de políticos e seus laranjas. O dinheiro vinha das empresas candidatas aos bons negócios com o Estado, que “superfaturavam” os contratos.

Os advogados dos bandidos – nessa inversão moral de nossos tempos – conseguiram processar o juiz Garzon, sob a alegação de que as escutas haviam sido ilegais. Ocorre que um juiz, que substituiu Garzón na causa, manteve as escutas e o próprio tribunal de Madri, de segunda instância, confirmou a autorização das interceptações telefônicas. O fato é que o julgamento de Garzón é de natureza política, seja ele um magistrado incorruptível, como é visto pela opinião pública, ou um deslumbrado pela notoriedade, como dele falam os inimigos. E é a inversão da lógica: ele está sendo processado por ladrões.

Na segunda metade dos setecentos ainda havia juizes em Berlim, de acordo com o modesto moleiro de Potsdam. Resta saber se ainda os há em Madri. E em outros lugares.


*Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Os limites da pátria

20/02/2013 - Mauro Santayana - em seu blog

(JB) - É difícil saber se a Sra. Marina Silva é uma pessoa ingênua e de boas intenções, ou se optou, conscientemente, por defender os interesses das grandes potências que, sob o comando de Washington, exercem o solerte condomínio econômico do mundo e pretendem o absoluto império político.

Há uma terceira hipótese que, com delicadeza, devemos descartar: desmesurada ambição de poder, sem as condições concretas para obtê-lo e exercê-lo.

Os admiradores lembram sempre sua  origem modesta, o que não quer dizer tudo, mas não podem, com a mesma convicção, dizer que ela tenha mantido, ao longo da carreira, o que os marxistas chamam “consciência de classe”. Suas alianças são estranhas a esse sentimento.

Ela se tornou uma figura homenageada pelos grandes do mundo, mas, sobretudo, do eixo Washington-Londres. Se ela mantivesse a consciência de classe, desconfiaria desses mimos. Para dizer a verdade, nem mesmo seria necessária a consciência de classe: bastaria a consciência de pátria.

A Sra. Silva, como alguns outros brasileiros que se pretendem na esquerda, é uma internacionalista. O meio ambiente, que querem preservar tais verdes e assimilados, não é o do Brasil para os brasileiros, mas é o do Brasil para o mundo.

Quando a Família Real Inglesa e os círculos oficiais e financeiros norte-americanos cercam a menina pobre dos seringais de homenagens, usam de uma astúcia velha dos colonialistas, e fazem lembrar os franceses na aliança com a Confederação dos Tamoios, e os holandeses em suas relações com Calabar.

Os tempos mudam, os interesses de conquista e domínio permanecem, com sua própria dinâmica e solércia.

Os limites intransponíveis da razão política são os da pátria.

Todos os devaneios são admissíveis, menos os que comprometam a soberania nacional.

Não são apenas os estrangeiros que adoçam os sonhos da defensora da natureza. São também brasileiros ricos e conservadores que, é claro, procuram dividir a cidadania, para que fiéis servidores políticos mantenham sua posição no Parlamento e nos outros poderes.

Há informações de que grande acionista de banco poderoso se encarregou das despesas do espetáculo de lançamento do partido de dona Marina, que não quer ser chamado de partido.

E não se esqueça de que quem sempre a financiou é um industrial enriquecido com a biodiversidade amazônica.

Não há coincidências em política.

Os mentores da Sra. Silva querem que seu movimento, como ela anunciou, não seja de direita, nem de esquerda, e muito menos de centro - que é o equilíbrio pragmático entre as duas pontas do espectro.

É interessante a ilogicidade da proposta. Como é possível dissociar a ideologia da política e, ainda mais, a ideologia do viver cotidiano?

Esquerda e Direita existem na vida dos homens desde as primeiras tribos  nômades, e são facilmente identificáveis na postura solidária de alguns e no egoísmo de outros.

Sempre que pensamos em igualdade, somos, menos ou mais, de esquerda; sempre que pensamos na superioridade, de qualquer natureza, de uns sobre os outros, estamos na direita.

Mais ainda: ideia é a imagem que construímos previamente na consciência, seja a de um objeto, seja a de uma conduta social e política.
         
Não é possível viver sem um lado.

A doutrina da mal chamada Rede (apropriação apressada e ingênua do mundo da internet, que é um meio neutro) oferece essa aporia: é um partido sem partido, uma realidade sem geometria, uma ideia sem ideia. 

Este texto foi publicado também nos seguintes sites:
http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2013/02/19/os-limites-da-patria/
http://www.conversaafiada.com.br/politica/2013/02/19/santayana-e-a-blablarina-bastaria-a-consciencia-da-patria/
http://sensoreconomicobrasil.blogspot.com.br/
http://nogueirajr.blogspot.com.br/2013/02/os-limites-da-patria.html
http://saraiva13.blogspot.com.br/2013/02/os-limites-da-patria.html
http://contextolivre.blogspot.com.br/2013/02/os-limites-da-patria.html
http://brasil.dihitt.com.br/n/politica/2013/02/19/os-limites-da-patria
http://bloganacletoboaventura.blogspot.com.br/2013/02/quais-os-interesses-verdadeiros.html
http://joserosafilho.wordpress.com/
http://aliastpadua.com.br/index.php?secao=secoes.php&sc=96&id=4849&url=&sub=MA==
http://dilmanarede.com.br/ondavermelha/blogs-amigos/os-limites-da-patria
http://aindaespantado.blogspot.com.br/2013/02/os-limites-da-patria.html
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2013/02/marina-silva-e-os-limites-da-patria.html
http://bakalarczyk.blogspot.com.br/2013/02/os-limites-da-patria.html
http://teacherramossblog.blogspot.com.br/2013/02/mario-santayana-marina-silva-e-os.html
http://anistiapolitica.org.br/abap/index.php?option=com_content&view=article&id=2362:os-limites-da-patria
http://blogger-news.net/a/2603829

Fonte:
http://www.maurosantayana.com/2013/02/os-limites-da-patria.html

Não deixe de ler:
- A 'politização' de Marina Silva - originalmente publicado no Vermelho
- Já temos a resposta, senadora Marina 
- Marina... você se pintou? - Maurício Abdalla
- A palavra está com você, leitor - Equipe Educom

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade e, excetuando uma ou outra, inexistem no texto original.

quinta-feira, 28 de março de 2013

A República e as multinacionais


25/03/2013

por Mauro Santayana

(Carta Maior) - O governo brasileiro tem tratado com deferência o Sr. Emilio Botin, dono do Grupo Santander, já investigado pela justiça espanhola, entre outras coisas, por remessas ilegais de dinheiro para o exterior e duvidosas contas na Suiça, pertencentes à sua família desde os tempos do franquismo. Ele comanda um grupo que teve que pegar, direta e indiretamente, no ano passado - em dinheiro e títulos colocados no mercado - mais de 50 bilhões de euros emprestados; demitiu dois mil empregados no Brasil no mesmo período, e teve uma queda de 49% em seu lucro global nos últimos 12 meses, devido, entre outras razões, a provisões para atender a ativos imobiliários “podres” no mercado espanhol.

A mera leitura dos comentários dos internautas espanhóis sobre o Sr. Botin daria, a quem estivesse interessado, idéia aproximada de como ele é visto em seu próprio país, e de como há quem preveja, com base em argumentos financeiros, que a bicicleta do Santander pode parar de rodar nos próximos meses, com a quebra do grupo ou, pelo menos, de seu braço controlador, ainda em 2013.

Nos últimos dez anos, as remessas de lucro para as matrizes de multinacionais – muitas delas estatais controladas direta ou indiretamente por governos estrangeiros – chegaram, no Brasil, a 410 bilhões de dólares, ou pouco mais que nossas reservas internacionais, duramente conquistadas no mesmo período.

Ora, se as multinacionais trazem dinheiro, e contribuem para aumentar o clima de competição em nossa economia, é natural que elas mandem seus lucros para o exterior. O problema, é que, na indústria, na área de infra-estrutura ou de telecomunicações, quem está colocando o dinheiro somos nós mesmos.

O BNDES tem colocado a maior parcela de recursos, e assumido a maior parte do risco, em empresas que mandam, apesar disso, ou por causa disso mesmo, bilhões de dólares para seus acionistas no exterior, todos os anos. Mais de 70% da nova fábrica da Fiat em Pernambuco foi financiada com dinheiro público. A Telefónica da Espanha recebeu do BNDES mais de 4 bilhões de reais em financiamento para expansão de “infraestrutura” nos últimos anos. E mandou mais de um bilhão e seiscentos milhões de dólares para seus acionistas espanhóis, que controlam 75% da Vivo, nos sete primeiros meses do ano passado.

A OI, que também recebeu dinheiro do BNDES, emprestado, e era a última esperança de termos um “player” de capital majoritariamente nacional em território brasileiro, corre o risco de se tornar agora uma empresa portuguesa, com a entrega de seu controle à Portugal Telecom, na qual o governo português – que já dificultou inúmeras vezes a compra de empresas lusitanas por grupos brasileiros, no passado - conserva mecanismos estratégicos de controle.

Empresas estatais estrangeiras, como a francesa ADP (Aeroportos de Paris) ou a DNCS, que montará aqui os submarinos comprados pelo Brasil à França, pertencem a consórcios financiados com dinheiro público brasileiro. Essa é a mesma fonte dos recursos que serão emprestados às multinacionais que vierem a participar das concessões de aeroportos, de rodovias (com cinco anos de carência para começar a pagar) e de ferrovias, incluindo o trem-bala Rio-São Paulo.

A Caixa Econômica Federal, adquiriu, por sete mil reais, em julho, pequena empresa de informática e depois nela se associou minoritariamente à IBM . No mês seguinte, depois de constituída a nova sociedade, agora controlada pelos norte-americanos, com ela celebrou, sem licitação, contrato de mais de um bilhão e meio de reais - operação que se encontra em investigação pelo TCU.

Qual é o lucro que o Estado brasileiro leva, financiando, direta e indiretamente, a entrada de empresas estrangeiras de capital privado e estatal em nosso território para, em troca, em lugar de reinvestirem os seus lucros por aqui, continuarem mandando tudo o que podem para fora ?

Com a queda dos juros no exterior por causa da crise e da recessão que assolam a Europa e o Japão, existe liquidez bastante para que essas empresas busquem dinheiro lá fora para bancar, pelo menos, a parte majoritária de seus investimentos no Brasil.

Os chineses, por exemplo, têm dinheiro suficiente para financiar tudo o que fizerem no Brasil, sem tomar um centavo com o BNDES. Usar o banco para aumentar o conteúdo nacional nos projetos é inteligente. Mas, se estamos financiando empresas estatais estrangeiras, por que não podemos financiar nossas próprias estatais, não apenas para diminuir a sangria bilionária, em dólares, para o exterior, mas também para regular o mercado e os serviços prestados à população, como já ocorre com os bancos públicos no mercado financeiro?

Não se trata de expulsar ou discriminar o capital estrangeiro. Mas o bom sócio tem que trazer, ao menos, know-how e dinheiro próprio. A China sempre tratou - até por uma questão cultural - com superioridade quem quer investir lá dentro, e cresceu quase dez por cento ao ano, nos últimos 20 anos, porque sempre entendeu ser o mercado interno seu maior diferencial estratégico.

Aqui, continuamos financiando a entrada de empresas estrangeiras com dinheiro público, dando-lhes terrenos de graça, isentando-as de impostos, como se não fôssemos a sétima economia do mundo.

O desenvolvimento nacional tem que estar baseado no tripé capital estatal, capital privado nacional, e capital estrangeiro. Nosso dinheiro, parco com relação aos desafios que enfrentamos no contexto do crescimento da economia, deve ser prioritariamente reservado para empresas de controle nacional, que, caso sejam privadas, se comprometam a não se vender para a primeira multinacional que aparecer na esquina. Quem vier de fora, que traga seu próprio dinheiro, e o invista, preferivelmente, em novos negócios, que possam expandir o número de empregos, a estrutura produtiva e aumentar a parcela de recursos disponíveis para o investimento.

Este texto foi publicado também nos seguintes sites:


http://gsmbrasil.net.br/?p=54127
Fonte: Blog do Mauro  Santayana