Mostrando postagens com marcador Hugo Chávez. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Hugo Chávez. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 7 de março de 2013

A Morte e as mortes de Hugo Chávez

06/03/2013 - Arnóbio Rocha em seu blog Política, Economia e Cultura

Desde ontem pensando em escrever sobre Hugo Chávez, mas sem cair nas obviedades, pois, para mim, a sua morte não o torna maior ou melhor, muito menos menor ou pior, ele foi o que foi, é o que é, de acordo com a apreciação que possa fazer de sua figura a história.

Aliás, ele já era uma figura histórica, em vida, não precisou para sê-lo.

Mais ainda, erros tolos como “morre o homem, nasce o mito” é típico de quem nem conhece o homem, menos ainda sobre, mito, mitologema ou formação de heróis.

A morte é apenas uma parte do rito do homem ou do herói, seus atos são em vida, seu reconhecimento se dará em vida, não em morte.

Sobre esta questão, tão ampla e complexa temos vários escritos, para um entendimento melhor sobre o que são os heróis o texto "A questão do Herói – Grécia sopra sobre nós", responde melhor.

Apenas para localizar, a questão particular da morte, no contexto do herói, é seu último ato, não que ele saia da vida para se tornar mito, ele já é mito, aliás, suas exéquias, são doloridas, como o descrevi no referido artigo:

Se o herói tem um nascimento difícil e complicado; se toda a sua existência terrena é um desfile de viagens, de arrojo, de lutas, de sofrimentos, de desajustes, de incontinência e de descomedimentos, o último ato de seu drama, a morte, se constitui no ápice de seu páthos, de sua “prova” final: a morte do herói ou é traumática e violenta ou o surpreende em absoluta solidão.

A imensa maioria dos heróis morre de forma trágica, como a completar um ciclo, que desde o nascimento até seu fechamento seu feitos são dolorosos e marcantes.

Uns se matam, como Ájax Telamônio, Hêmon, Antígona, Jocasta, Fedra, Egeu.

A guerra, as justas e as vinganças são as grandes ceifadoras.

Basta abrir a Ilíada e o final da Odisséia, que se passa a nadar num mar de sangue.

Da morte de Reso, Pátroclo e Heitor até o massacre dos pretendentes, no XXII canto da Odisséia, a cruenta seara do deus Ares produziu frutos em abundância”!

Hugo Chávez é um herói de seu povo, um homem que ousou enfrentar as adversidades de seu tempo.

Do meu ponto de vista, ele foi um líder nacionalista e patriota, preocupado com seu povo, em particular os mais simples e pobres.

Desconfio que não tivesse clareza ideológica ou formação maior marxista, tinha um sentido prático e concreto do que precisava ser feito e fez, na medida de suas forças e de seus enfrentamentos.

Chávez não refugou ou contemporizou no propósito de aproximar a riqueza imensa do seu país aos mais necessitados, transformando a dura realidade de séculos.

Interessante ler as críticas que lhe fazem, de que usou o preço do petróleo e a estatal PDVSA para ser “populista”, de usar o dinheiro para reduzir a miséria e o analfabetismo, ora, nada se diz, de quando esta mesma estatal favorecia uma rica casta de burocratas da empresa e do estado, sem jamais usar a riqueza para melhorar a situação do país.

Os milionários venezuelanos, os burocratas da PDVSA e do aparelho estatal viviam parcialmente no país, eram encontrados mais comumente em Miami ou nas ilhas paradisíacas do Caribe.

Esta inversão de prioridades é o maior e mais ousado legado de Chávez.

Os índices sociais da Venezuela mudaram radicalmente durante o seu mandato, se o dinheiro saiu da PDVSA e do petróleo, muito que bem, o terceiro país mais rico em petróleo no mundo não poderia viver uma situação tão contraditório, com imensas favelas em Caracas e condomínios exclusivos às custas desta mesma riqueza.

É fato também que durante todos estes anos, por diversas vezes os EUA e seus aliados internos tentaram tirar à força, Chávez do poder, sem justificativa, afinal havia eleições em todo o país, foram 14 pleitos e referendos desde 1998.

Reconhecido os seus feitos, ainda sob minha ótica, penso que Chávez ou qualquer líder tem que se preocupar com a transição, de incentivar outros líderes, os homens passam, precisam entender o seu papel, não cair na tentação de ficar no governo, mesmo que sejam eleitos e reeleitos, continuo a não concordar com governo em cima de um homem e de um nome.

Neste momento, de sua morte, fica-se na dúvida da continuidade do seu legado, muitos acreditam que era obra pessoal, o que é desastroso, com risco de retrocesso.

Minha visão sobre Chávez é de respeito ao que se propôs, mas ao mesmo tempo de crítica de não ter preparado sua saída, da busca incessante em se manter, o que, naturalmente dá argumentos aos raivosos, de que não há democracia no país.

Neste aspecto, Lula, aqui no Brasil, é referência, soube o seu limite, poderia intentar mudar a Constituição e se reeleger mais vezes, preferiu abrir a agenda para os novos nomes, para o amadurecimento de um processo coletivo, não individual.

As mortes de Chávez, foram tantas, as desejadas e torcidas organizadas na mídia brasileira e mundial, o mataram tantas vezes e tantas vezes renasceu, neste particular, a cobertura odiosa da Veja, tem um mérito, foram boçais, mas coerentes com seus ódios.

Passo os olhos nos diversos jornais, uma falsa ideia de equilíbrio, quando lhe devotaram o mesmo ódio daquela “revistinha” canalha, mas a morte parece ter o dom de suavizar, ou um certo remorso de falar o que se pensa.

Assim como do outro lado, um oco endeusamento, que não contribui para um balanço justo e franco com aquele que partiu.

Foi embora um grande personagem, com acertos e defeitos, mas um homem do seu tempo, viveu longamente sua breve história, pois morre ao 58 anos, o que hoje é pouco, mas agora é cuidar para que seu legado e luta não tenham sido em vão.

Para frente Venezuela, para frente com sua rebeldia e força.

Simón Bolívar e Chávez, presentes.

Fonte:
http://arnobiorocha.com.br/2013/03/06/a-morte-e-as-mortes-de-hugo-chavez/

Não deixe de ler:
- A árvore das três raízes - Rafael Betencourt
- Uma grande perda para a América Latina - Mário Augusto Jakobskind
- Hugo Chávez - Laerte Braga
- Nasce Hugo Chávez, o mito - Eduardo Guimarães

Nota:
A inserção de algumas imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.

quarta-feira, 6 de março de 2013

A árvore das três raízes

10/12/2012 - Por Rafael Betencourt (*) - do site Revista de História

"No momento em que Hugo Chávez anuncia o vice-presidente da Venezuela como possível sucessor, pesquisador analisa seu discurso de poder.
Bolívar, Rodriguez e Zamora são a base da retórica do líder socialista" (Rafael Betencourt)

Poucas figuras políticas chamaram tanta atenção na ultima década quanto o presidente venezuelano Hugo Chávez, que, na semana passada, anunciou seu vice como sucessor, já que voltou a fazer tratamento contra um câncer.

Chamado de santo por uns, autoritário, populista e ditador por outros, Chávez criou um discurso político que merece ser analisado para além dos tradicionais estereótipos maniqueístas.

A imensa popularidade que move seu governo desde a primeira eleição, em 1998, procura enfatizar uma identidade nacional e latino-americana, a partir do resgate da memória de figuras históricas notáveis como Simón Bolívar, Simón Rodriguez e o general Ezequiel Zamora.

A lembrança destes três personagens é chamada de árvore de três raízes.

A criação do socialismo chavista apresenta uma redefinição teórica do socialismo real vivenciado no século XX, que tinha no pensamento marxista sua principal base conceitual.

Neste novo projeto venezuelano, a história latino-americana e seus processos de luta anticoloniais que varreram o século XIX tornaram-se a principal referência.

A eficiência desse discurso político se deve à forma como Chávez articula a então “Árvore das três raízes” com suas propostas atuais modelando um radicalismo democrático nas práticas institucionais de seu governo.

Bolívar
Chavez cria, a partir do uso desses personagens históricos, o imaginário de uma segunda independência.

Simón Bolívar certamente é o mais conhecido das três referências.

Nascido em 1783 em Caracas, foi o principal líder das lutas de independência contra o domínio espanhol no século XIX.

Durante mais de dez anos lutou pela libertação do território que hoje corresponde à Venezuela, Colômbia e Equador.

Seu ideário político foi construído através de suas cartas e discursos, sempre insuflando a ideia da união da América na luta contra os espanhóis.

Sob orientação do professor Simón Rodriguez, entrou em contato com o pensamento de Voltaire e Rousseau, e com as ideias emancipatórias do Iluminismo.

A idealização de uma América Latina integrada, como o discurso do presidente Chávez tanto enfatiza, reverbera a ideia de Bolívar de uma Grande Colômbia, uma única nação latino-americana na região, uma união necessária contra a dominação estrangeira.

Simón Rodriguez
A referência a Bolívar na construção de um discurso nacionalista não era novidade na esquerda venezuelana e remonta aos grupos engajados na guerrilha dos anos 60, como o FALN (Fuerzas Armadas de Liberación Nacional).

Porém, sem dúvida, Chávez foi mais bem sucedido ao relacionar Bolívar com um discurso de afirmação de identidades e de resistência à influência norte-americana.

A segunda raiz da árvore bolivariana, Simón Rodriguez, professor e amigo de Bolívar, nasceu em Caracas no ano de 1769, trabalhou e viveu na Venezuela, Colômbia, Equador, Bolívia, Chile e Peru.

Seu trabalho estava centrado na integração dos indígenas latino-americanos e dos escravos negros nas sociedades dos futuros Estados independentes.

Na Bolívia, também lutou pela educação pública dos filhos dos indígenas e seu engajamento político sempre foi por meio do papel da educação.

Rodriguez foi responsável pela escola primária em Caracas, mas desde sempre a sua briga pela inclusão de negros e pardos lhe causou alguns problemas com as elites locais.

Após ser dispensado pela prefeitura da cidade pôde se dedicar à causa da independência.

Foi em Paris, nos tempos de Napoleão, que se encontrou com Bolívar.

Nessa época, o mito latino-americano faz um juramento pela independência venezuelana que, transcrito por Rodriguez, chega às mãos de Chávez.

Dos seus dias na Europa, Rodriguez percebeu que cabia à América Latina construir seu próprio caminho, independente das influências europeias, arraigada nas peculiaridade de sua terra.

Sua emblemática frase, “Ou inventamos, ou erramos”, se transformou em um ponto importante do atual programa bolivariano de governo.

Zamora
O terceiro elemento da árvore é Ezequiel Zamora (abaixo), líder das forças federais na guerra civil (também conhecida como La Guerra Larga) de 1840 a 1850.

Sua luta foi contra a oligarquia de terras, em busca de uma reforma agrária para o país.

No entanto, a principal convergência da luta de Zamora ao programa de Chávez é o simbolismo da junção de militares e civis.

Zamora foi aclamado pela esquerda como um socialista antes da época, e se intitulava “General da soberania popular” com profundas influências dos movimentos liberais de 1848 na Europa.

O general tem um significado especial na vida de Chávez: o avô do presidente marchou junto ao exército da soberania popular de Zamora e, desde sua infância, o atual presidente venezuelano ouve suas histórias.

A última batalha de Zamora aconteceu em 1859 e foi travada em Barinas, na cidade natal de Chávez.

A história oral foi a grande responsável pela sobrevivência dos seus feitos, sua constante solidariedade ao campesinato pobre e o clamor pela insurgência contra as elites locais convergem com a ideologia chavista em três slogans do governo atual:


Tierra y hombres libres; Elección popular; Horror a la oligarquia.

A referência ideológica aos três personagens refunda a teoria socialista do século XXI criada pelos bolivarianos de Chávez e apresenta um novo projeto ideológico de radicalismo democrático para a América Latina.

A ideologia bolivariana então se constrói fundamentada em alicerces da experiência anticolonial venezuelana e latino-americana congregando assim diferentes linguagens políticas sob o mesmo projeto revolucionário.

Apesar dos estereótipos vinculados à sua imagem caricata, é preciso reconhecer que o projeto político de Hugo Chávez é muito mais complexo e atrelado à história venezuelana do que o senso comum sugere.

O socialismo chavista revisita três ícones do processo de emancipação do continente frente ao domínio espanhol para se estabelecer na idealização nacionalista de seu excepcionalismo histórico.

O enorme apelo popular do discurso chavista, e sua manutenção na presidência apesar de sua postura controversa, sugerem que mais importante do que taxá-lo de herói ou charlatão é compreender as razões para enorme projeção do seu discurso.


(*) Rafael Betencourt é mestre pelo ISCTE- Instituto Universitário de Lisboa e autor da dissertação O Discurso Contra-Hegemônico dos Direitos Humanos na Revolução Bolivariana (ISCTE, 2012).

Fonte:
http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/a-arvore-das-tres-raizes

Não deixe de ler:
- Uma grande perda para a América Latina - Mário Augusto Jakobskind

Nota:
A inserção de algumas imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.

Uma grande perda para a América Latina


Por Mário Augusto Jakobskind, da Rede Democrática

A Venezuela e toda a América Latina perderam a sua principal liderança surgida nos últimos anos: o Presidente Hugo Chávez Frias. Morreu vítima de câncer.

Desde sempre a direita venezuelana e latino-americana já tinha matado Chávez e em tempos mais recentes tentou de todas as formas agir para desestabilizar o país.

É neste contexto que deve ser entendida a viagem do Henrique Capriles Radowski aos Estados Unidos se entender com funcionários do Departamento de Estado.

A direita vai procurar de todas as formas possíveis a legitimidade de Capriles e querer tirar de foco suas ligações com os conspiradores com ramificações nos Estados Unidos.

Pela Constituição assume durante um mês Diosdado Cabello, até serem realizadas eleições presidenciais. Chávez já tinha passado o bastão a Nicolás Maduro, indicando-o como seu sucessor se algo lha acontecesse.

Os elitistas de sempre, como já tinha acontecido no Brasil depois da eleição do torneiro mecânico Luis Inácio Lula da Silva, nunca engoliram o fato de o sucessor de Chávez ter sido motorista de ônibus, sem título universitário. Uma típica bobagem elitista, como se um curso universitário fosse condição sine qua non para alguém ser Presidente da República. Os exemplos de presidentes letrados não são dos mais abonadores, Talvez só mesmo para as elites.

A direita, seja em Miami, na América Latina ou na Venezuela se desespera com o fato de o chavismo continuar sem o seu líder.

O provável candidato da oposição, atual governador do Estado de Miranda, Henrique Capriles vai ter que explicar o que foi fazer em Miami, mais precisamente nos corredores do Departamento de Estado. Boa coisa de certo não foi.

Dois funcionários da embaixada norte-americana foram expulsos depois de terem sido descobertos, segundo o governo venezuelano, tentando obter informações junto aos militares. Foram pegos em flagrante delito e não restou outra coisa a Nicolás Maduro se não anunciar a expulsão.

Poucas horas depois do anúncio oficial da morte de Chávez, a TV Globo acionou um de seus colunistas de sempre, exatamente para analisar de forma a comprometer o legado da revolução bolivariana.

Demétrio Magnoli ganhou muito espaço nos canais das Organizações Globo, destilando veneno com o objetivo de mostrar aos telespectadores perspectivas de mau agouro para a Venezuela. Magnoli está no seu papel de sempre. É um direito que o assiste, mas cabe aos observadores mostrarem a que veio.

Uma grande perda, sem dúvida, mas agora cabe aos defensores da revolução bolivariana continuar a levar adiante o que Chávez deixou.

Apesar das críticas contundentes da direita venezuelana e de todo o continente latino-americano, na Venezuela com a ascensão de Chávez o número de pobres diminuiu, o analfabetismo foi erradicado e o desemprego caiu a cifras compatíveis.

Apesar dos analistas de sempre, a informação na Venezuela fluiu mais naturalmente com o crescimentos de mídias públicas e estatais. Mesmo assim, o maior percentual na mídia está nas mãos privadas com cerca de 80%. Mas os grandes proprietários midiáticos não aceitam o fato de terem aumentado outros tipos de canais que não os privados. Na Sociedade Interamericana de Imprensa, que reúne o patronato midiático das Américas, a grita é do mesmo teor.

P.S: fiquei sabendo através de um espião benigno que a TV Globo às duas da tarde já sabia que Chávez tinha morrido. De onde ela obteve a informação? A resposta não é dificíl de saber, certamente a Rede Globo obteve a informação diretamente da CIA.

Fonte:
http://www.rededemocratica.org/index.php?option=com_k2&view=item&id=3997:uma-grande-perda-para-a-am%C3%A9rica-latina

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Venezuela condena publicação de falsa foto de Chávez pelo 'El País'

Jornalismo e política internacional foram sacudidos ontem por uma das maiores 'barrigas' (no jargão das redações, grave erro na informação) de que se tem notícia, pelo menos neste século. A edição do diário madrilenho 'El País', líder de vendas na Espanha, saiu com uma foto falsa do presidente venezuelano Hugo Chávez ilustrando a principal manchete - 'O segredo da doença de Chávez'. Na verdade, se tratava de imagem congelada de um vídeo postado na internet cinco anos atrás, em que é realizada entubação num paciente fisicamente semelhante a Chávez. 

Identificado com os social-democratas do PSOE e respeitado nos meios acadêmicos latino-americanos, El País tem pautado a cobertura da Revolução Bolivariana por ácidas críticas a seus líderes, praticamente desde que Hugo Chávez assumiu a presidência da Venezuela, em 1999. A direção do jornal pediu desculpas aos leitores e mandou recolher nas bancas toda a edição. Mas a pergunta que fica é: de que adianta suspender a distribuição e recolher exemplares, se milhares, talvez milhões de cópias já haviam sido adquiridas nas primeiras horas do dia, sem falar na entrega aos assinantes, feita antes de o sol raiar? Em tempo: o jornal parisiense 'Le Monde' - outro periódico europeu lido no Brasil por muitos intelectuais, estudantes universitários e alguns outros segmentos da esquerda - tem entre seus principais acionistas o Grupo Prisa, gigante da mídia espanhola que edita El País.


El País publica falsa foto de Chávez 'na UTI' 

Do Opera Mundi
"Falsa e grotesca". Foi dessa forma que o ministro da Comunicação venezuelano, Ernesto Villegas, qualificou uma foto publicada nesta quinta-feira (24/01) pelo jornal espanhol El País.

A imagem, de um homem entubado em uma cama de hospital, foi vendida aos leitores do diário como sendo o presidente Hugo Chávez.

Por meio de sua conta no Twitter, Villegas desmentiu El País: "Tão grotesca como falsa a foto de 'Chávez entubado' que hoje publica na primeira página o venerado diário El País da Espanha", escreveu.

Inicialmente, o jornal informou que a imagem havia sido registrada "há poucos dias" pela agência de notícias Gtres Online e que "não pôde verificar de forma independente as circunstâncias em que foi tirada, tampouco o momento preciso e o lugar". O jornalista espanhol Moises Naim chegou a anunciar por meio de sua conta no Twitter: "preparem-se para uma extraordinária foto exclusiva na web de El País em breve". Horas depois, o periódico publicou nota se retratando.

"El País retirou de sua página na internet a foto que mostrava um homem entubado em uma cama de hospital e que uma agência de notícias havia fornecido ao jornal, afirmando que se tratava de Hugo Chávez, presidente da Venezuela. El País pede desculpas a seus leitores pelo dano causado", informa o comunicado. Não houve, porém, qualquer pedido de desculpas ao presidente ou à família dele.

Villegas informou que a imagem foi capturada de um vídeo hospedado no YouTube, datado de 2008, denominado 'Intubação de acromegalia AMVAD'. "Deste vídeo vem a falsa 'foto de Chávez entubado' que publicou El País da Espanha na primeira página: youtu.be/DB4bIH0GsYU", continuou o ministro.

Em artigo escrito para Opera Mundi, o articulista francês Salim Lamrani lembrou que, desde a chegada de Chávez ao poder, El País adotou "uma linha editorial muito crítica em relação à Venezuela". 

Recuperação
De acordo com informações de membros do governo venezuelano e de chefes de Estado próximos a Chávez, o presidente está se recuperando da quarta cirurgia a que foi submetido em 11 de dezembro do ano passado. Informes divulgados recentemente pelo vice-presidente Nicolás Maduro e pelo ministro da Comunicação - únicos funcionários autorizados a informarem sobre a saúde do presidente - dão conta da melhora do líder venezuelano.

Segundo o presidente da Bolívia, Evo Morales, Chávez já estaria fazendo fisioterapia. A informação não foi negada ou confirmada pelas autoridades venezuelanas. Evo esteve presente em cerimônia dia 10 de janeiro em Caracas, data prevista na Constituição venezuelana para a posse do presidente. Um dia antes, o Tribunal Superior de Justiça (TSJ) aprovou que o ato fosse postergado e também a continuidade do Executivo liderado pelo vice-presidente.

Leia também:
La embajada venezolana en España denuncia una campaña del diario 'El País'
Maduro anuncia volta a Cuba e alerta sobre conspiração opositora 

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

'Não voltarão': milhares tomam centro de Caracas para apoiar Chávez

Apoiadores do presidente atenderam em massa convocatória do governo para defender decisão do Supremo venezuelano



Do Opera Mundi*

Caracas - Desde a internação do líder venezuelano em Havana para uma quarta cirurgia contra um câncer, em 11 de dezembro de 2012, oposição e governo apresentaram visões diferentes sobre o 10 de janeiro, data em que Chávez deveria tomar posse frente à Assembleia Nacional. O preceito está previsto no artigo 231 da Constituição, porém, para os chavistas, o trecho menciona que, se por “motivo superveniente” o presidente não puder estar na posse, a mesma será feita frente ao Supremo Tribunal de Justiça.

A leitura do governo foi acatada tanto pela maioria dos deputados do parlamento como pelo TSJ venezuelano. No entanto, partidos opositores defenderam que o presidente da assembleia, Diosdado Cabello, deveria assumir as rédeas do país, devido à ausência do presidente. Com os protestos da oposição, que chegou a mencionar que o chavismo estaria dando um “golpe de Estado”, o governo convocou a população às ruas para defender Chávez e a revolução. "É um dia histórico, porque começa o mandato do presidente Chávez 2013-2019", afirmou o vice-presidente Nicolás Maduro.

Vice-presidente Maduro discursa, ao lado dos presidentes da Bolívia, Uruguai e Nicarágua

“Eu não tenho medo deles [oposição]. Aqui há um povo fiel ao presidente e que irá defendê-lo até a morte. Eu votei por Chávez e quero que ele cumpra esse novo mandato”, continuou Haydée. Assim como ela, o técnico agrícola Jarion Centena, de 30 anos, chegou cedo à concentração em Caracas. “Minha vida mudou completamente desde a eleição de Chávez. Hoje somos mais politizados, não hesitamos em discutir os problemas do país. A oposição pensa que somos os mesmos ignorantes de antes, mas estão enganados”, disse Centena, habitante do Estado de Miranda.


Leia ainda:
Chavistas demonstram força e se reúnem no centro de Caracas
Chavismo marca 'dia da posse' com megaconcentração em apoio a Chávez
Mujica afirma que posse de Chávez deve ser resolvida pela vontade popular
Decisão do Supremo é estabilizadora, afirma Nicolás Maduro

Sobre a ausência do presidente, que ainda não mandou uma mensagem direta ao povo venezuelano ou apareceu em fotos e vídeos, o técnico agrícola afirmou confiar no vice-presidente e no resto do gabinete ministerial. “Com ou sem Chávez iremos seguir. Ele já plantou a semente”, ressaltou. Haydée concorda: “de coração, espero que ele se recupere, mas caso Deus não queria que o presidente esteja conosco, o honraremos aprofundando ainda mais essa revolução. Hoje é a posse do povo!”.


A última informação oficial sobre a saúde do presidente, divulgada nesta semana, dizia que ele está “assimilando bem” o tratamento de uma insuficiência respiratória, provocada por uma infecção pulmonar. O boletim médico informava, ainda, que a situação dele, embora delicada, estava "estacionária".

Oposição
Em reação à decisão do Supremo, a oposição convocou um ato para 23 de janeiro. "Respeitamos e acatamos a decisão do tribunal, mas isso não significa que vamos nos silenciar e que não vamos seguir nos mobilizando para tentar restabelecer a ordem constitucional perdida", disse o deputado Alfonso Marquina.

O parlamentar afirmou que o dia 23 de janeiro, data do 55º aniversário do final da última ditadura militar no país, foi escolhido para demonstrar que os venezuelanos podem viver em democracia. "Hoje, quando em nosso julgamento está seriamente afetada e seriamente ameaçada a democracia venezuelana com estes mecanismos que estão se implementando, nós convocamos os venezuelanos para defender esse legado de liberdade, de democracia", disse um Marquina rodeado por deputados da aliança opositora MUD (Mesa da Unidade Democrática).


"É nossa proposta para a MUD, para todos os venezuelanos de bem que querem que se saiba a verdade, que querem que se restabeleça a ordem e que querem que se respeite a vontade popular", acrescentou, sublinhando que se trata de um "ato cívico, pacífico e democrático". Marquina anunciou que vai levar suas denúncias e exigências "aos países irmãos da América Latina e do mundo" e "às instâncias internacionais".
*imagens: Agência Venezuela de Notícias e Ag. EFE

Não deixe de ler:
A Globo contra os venezuelanos

E não deixe de assistir:

Ser chavista implica uma relação de amor com um líder político que não nos traiu

01/01/2013 - Elías Jaua Milano - VTV (Venezolana de Televisión)
Extraído de Midiacrucis Blog
Tradução Christina Iuppen

O ex-vice-presidente executivo, Elias Jaua Milano, escreveu que o chavismo se converteu em uma das maiores forças políticas e sociais de esquerda no mundo.

Dirigente do Partido Socialista Unido de Venezuela, Elías Jaua Milano, com o
Presidente da República Bolivariana de Venezuela, Hugo Chávez(Foto Archivo)


A corrente militar-popular bolivariana, que começou a se constituir como força política sob a liderança do Comandante Hugo Chávez, teve sua origem mais imediata nas rebeliões populares de 1989 e 1992, respectivamente.

Contudo, a arquitetura do Movimento Bolivariano 200 (MBR 200) nas ruas começou a ser executada a partir de 1994, quando Hugo Chávez sai da prisão e inicia uma peregrinação social e política por todo o país.

Entre 1994 e 1998, o Comandante Chávez consegue unir estudantes, profissionais liberais, pequenos e médios empresários, camponeses, agricultores, pescadores, mineiros, indígenas, operários, mulheres, jovens, militares, dirigentes locais e a quase totalidade das direções da esquerda venezuelana, sob as bandeiras do resgate do pensamento bolivariano e das convocatória de uma Assembleia Constituinte para refundar o Estado, recuperar a soberania popular e nacional, assim como transformar a estrutura de exclusão social das grandes maiorias.

De modo oportunista, inclusive, setores da burguesia apoiam a insurgente força política bolivariana.

É assim que, em 6 de dezembro de 1998, o Comandante Chávez é eleito Presidente, ativando-se o processo constituinte que viria a permitir a eleição da Assembleia Nacional Constituinte e a posterior aprovação popular da Constituição da República Bolivariana da Venezuela, fato inédito em nossa História.

No bojo do processo constituinte, o Presidente da República, Hugo Chávez, começa a dar passos audaciosos tais como o emprego massivo das Forças Armadas em tarefas de proteção social e desenvolvimento nacional; vai às ruas para entrar em contato com os setores  mais humildes e excluídos; interpela os donos dos grandes meios de comunicação privados e dá uma utilização revolucionária aos meios de comunicação públicos; desenvolve uma corajosa política internacional ao estabelecer pontes com Cuba, China, Iraque, Irã, e impulsiona um processo de recuperação do peso político da OPEP, entre outros desafios aos poderes políticos estabelecidos.

Todas essas medidas vão configurando uma nova prática política sustentada, no exercício pleno da soberania nacional e da independência do Governo da República de qualquer fator de poder interno ou externo; a reivindicação do protagonismo político do povo; a inclusão social como direito humano, assim como a desmistificação dos poderes fáticos.

Em 2000, depois do processo de refundação dos poderes públicos ordenados pela nova Constituição, aprovada em 1999, o Presidente Chávez solicita à nova Assembleia Nacional que o habilite, mecanismo constitucional, para legislar em matéria social e econômica.

Este processo de elaboração e aprovação de leis por parte do Executivo, que buscava cumprir o mandato constitucional de transformar a institucionalidade, o regime econômico e o papel do Estado na economia, somado a uma crescente tensão internacional com os Estados Unidos, Colômbia e Espanha, na defesa da nossa soberania e da paz mundial, levariam a uma confrontação com as elites dominantes que desembocaria nos acontecimentos de 2002.

Este breve relato histórico pretende apenas contextualizar o momento em que aparece o termo ‘chavista’, para identificar a corrente popular bolivariana que se havia insurgido em fins dos anos 80 e princípios dos 90 do século XX.

Até o ano 2000, as forças políticas lideradas pelo Presidente Chávez nos identificávamos como ‘os bolivarianos e as bolivarianas’; poucos compatriotas se definiam como ‘chavistas’.

No momento em que as elites dominantes decidiram pôr fim ao ensaio revolucionário, usaram toda a artilharia de ódio contra o povo pobre que seguia o Comandante Chávez. É assim que, à ampla e histórica lista de adjetivos para criminalizar o povo (chusma, hordas, bandoleiros, ‘niches’, ‘tierruos’, malandros etc.), somaram-se novos epítetos: ‘chavista’ no individual e, coletivamente, ‘hordas chavistas’ ou ‘círculos do terror’.

Era na realidade uma tentativa de despojar-nos de nossa identidade como bolivarianos, um último esforço para preservar o termo ‘bolivariano’ nos arquivos mofados das academias de História. Mas não apenas não nos puderam arrebatar o nome sentido de ‘filhos de Bolívar’, como assumimos o de ‘chavistas’ e o ressignificamos com dignidade.

Lembro de uma marcha onde vi, pela primeira vez, a expressão ‘sou chavista, e daí?’ em um pedaço de cartolina levantada por uma mulher do povo. Foi então que nos fizemos chavistas, que a princípio significava somente ser seguidores e defensores de Hugo Chávez. E como bolivarianos e chavistas conquistamos as vitórias contra o golpe, as paralisações fascistas de 2002, as guarimbas (*) de 2003 e ratificamos nosso Presidente em 2004.

Após consolidar as vitórias populares de 2002, 2003 e 2004, reivindicamos nossa identidade chavista. Lembro de que, nessa época, o Comandante começou a questionar o termo, porque considerava que dava margem a uma corrente personalista contrária aos princípios revolucionários; mais adiante, porém, deu-se conta de que ser chavista transcendia a seu sobrenome.



Ser chavista implica uma conexão de amor com um líder político que não nos traiu; significa a reivindicação como povo herdeiro de um passado heroico que nos pertence e se tem feito presente e futuro; é assumir que ninguém é mais do que ninguém, que todos temos direitos a todos os direitos; é sentir na alma um amor profundo por nossa Pátria e nos sentirmos profundamente orgulhosos de ser venezuelanos, venezuelanas, latino-americanos e latino-americanas.







Ser chavista é saber que o poder nos pertence como povo, e não aos ricaços; é nos sentirmos respeitados em nossa diversidade cultural e social. 


Ser chavista é ser consciente de que a renda nacional é para todos e todas; é ter a solidariedade humana como valor supremo.
Ser chavista é nos sentirmos parte de uma força ética para a vida, para a emancipação dos povos, para a união sul-americana, para o que é grande e para o belo, como nos ensinou nosso Pai Simón Bolívar.
Ser chavista é ser irreverente ante o poder da dominação. Ser chavista é pensar e fazer a partir da esquerda.

É assim que do bolivarianismo nasce o chavismo, que é profundamente cristão e logo se fez socialista, porque não há outra maneira de professar, genuinamente, os mais altos valores humanos.

Hoje, o chavismo é uma das forças políticas e sociais de esquerda maiores e de mais impacto no mundo e se converteu numa referência para ‘os pobres desta terra’.

Hoje, o chavismo é Hugo Chávez e Hugo Chávez é o chavismo.

Tão grande é o impacto desta nova cultura política que a direita venezuelana e de outros países tem tentado apropriar-se, sem êxito, dos códigos e valores do chavismo. Eles não compreendem que não há chavismo sem o pensamento e a paixão de Chávez pelo povo, que não há chavismo sem povo livre, que não há chavismo sem opção preferencial pelos pobres, que não há chavismo sem socialismo de verdade.

Por isto e por muito mais, somos orgulhosamente chavistas, socialistas e bolivarianos.

SOMOS O CHAVISMO, UMA FORÇA ALEGRE E REVOLUCIONÁRIA PARA A LIBERTAÇÃO.

Feliz Ano Novo de 2013, ano de grandes desafios para a Venezuela, ano do bicentenário da proclamação como Libertador da Venezuela de nosso Pai Simón Bolívar!

Viveremos e venceremos!!!

(*) Guarimbas foi como se chamaram os protestos de estudantes oposicionistas, que denunciavam supostas fraudes, após as eleições. (N. da T.)

Fonte:
VTV (Venezolana de Televisión)
http://www.vtv.gob.ve/articulos/2012/12/30/elias-jaua-milano-ser-chavista-implica-una-conexion-amorosa-con-un-lider-politico-que-no-nos-ha-traicionado-351.html

Nota:
A inserção de algumas imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.

Leia também: Por que Chávez é tão odiado, artigo de Owen Jones
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/?p=20437

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

O novo idioma da direita na América Latina

01/10/2012 - Saul Leblon
- Portal Carta Maior

Henrique Capriles lotou ruas de Caracas neste domingo [30/09], num gigantesco comício de encerramento da campanha de oposição a Chávez.

Como diz Lula, as elites não brincam em serviço.

Na média, os prognósticos dão a Chávez a dianteira no pleito do dia 7, mas um fato é inegável: a reação não fala mais apenas aos trogloditas.

Capriles construiu um discurso para atrair descontentamentos explícitos e difusos; ademais dos endinheirados, ecoa aspirações de setores populares catapultados pelo próprio chavismo. A direita agora adotou o idioma dos que querem mais.

Não é exagero enxergar no 'burguesito', como o denomina Chavez, um drone político sobrevoando os céus da América Latina. Se bem sucedido - e para isso não necessariamente precisa atingir em cheio o alvo do próximo domingo - servirá de referência a outros da mesma cepa que cruzarão os ares; inclusive os do Brasil, em 2014, onde o fenômeno Russomano, em São Paulo, confirmou a receptividade a artefatos do gênero.

Drones, como se sabe, são aqueles aviões teleguiados que permitem cometer atentados e fulminar adversários sem precisar desembarcar tropas ostensivas. 

O golpismo cool concentra recursos em ações pontuais de sabotagens e outras façanhas seletivas, ancorando-se em intensa guerra psicológica & midiática e, claro, fluxos de caixa a lideranças com potencial 'caprílico'.

É o salto no processo de seleção. Não se pode enfrentar um Chávez, Lula, Cristina, Evo etc. com a mão pesada aplicada contra Kadafi ou Assad. 

Além de consagrados pelo voto, os líderes latino-americanos promoveram mudanças efetivas em curvas de distribuição de renda secularmente congeladas como o eletrocardiograma de um morto. 

Chávez tirou uns 3 milhões de miséria e permitiu a outros tantos ascenderem na escala da renda. Num país com 29 milhões de habitantes, fez da Venezuela a sociedade menos desigual da América Latina. Quem diz é a ONU.

No Brasil, sob Lula, a renda dos mais pobres cresceu 90%; a dos mais ricos, 17% (Ipea). O Brasil é hoje o país menos desigual de toda a sua história. Néstor e Cristina Kirchner fizeram o mesmo na Argentina onde o triturador neoliberal havia empurrado mais de 40% da população para a pobreza.

Sem ter como negar tais feitos, o gigantesco aparato intelectual e logístico que guia os drones ensaia uma vacina para enfraquecer essas conquistas.

"É insustentável', dizem os conservadores sobre a ênfase nas ações de transferência de rendas, adotada pelos governos progressistas.

O perigo desse raciocínio é que ele envolve pedaços de verdade apontados por uma parte da própria esquerda. Desses pedaços os Capriles extraem sua credibilidade para desidratar a dos adversários.


A simples transferência de renda não gera dinâmicas autônomas que possibilitem aos excluídos ocupar um espaço de inserção emancipadora para superar padrões estreitos de consumo e bem-estar.


O pulo do gato dos drones está em omitir que as reformas requeridas para esse salto são, ao mesmo tempo, fuziladas no berço pelos seus atiradores de elite.

É o caso, por exemplo, da taxação adicional sobre a riqueza, seja ela de natureza financeira ou patrimonial, assentada em latifúndios rurais e urbanos.

Os Capriles desviam o foco quando se trata de discutir essas rupturas históricos.E iluminam vitrines de acesso rápido ao repertório consumista.

Garantem: basta trocar o governante (como se troca o cartão de crédito) e limpar a corrupção da 'financiadora'.

Pronto: isso feito, no idioma dos drones, a engrenagem modernizante começa a funcionar ampliando o circuito das gôndolas no acesso ao supermercado global.


A contrapartida dos cidadãos envolve frequentemente outra ardilosa meia verdade: a emancipação social à frio, através da educação.

A ideia é que é possível anistiar o estoque de iniquidade patrimonial e superpor a ele um outro relevo histórico; e que isso se faz sentado nos bancos escolares.

Escola é crucial em qualquer etapa da vida de uma sociedade, mas o truque oculta uma contradição em termos.

Um Estado privado de recursos tributários adicionais seria incapaz de atender às obrigações correntes e, ademais, promover um efetivo salto educacional de qualidade nas periferias conflagradas.

Isso, sem falar do caixa necessário para implantar políticas de desenvolvimento que assegurem a absorção dessa nova mão-de-obra tecnificada.

Nem Chávez e tampouco Lula afetaram o estoque ou o fluxo da riqueza dos 20% mais ricos de seus respectivos países. Mesmo assim são caçados implacavelmente. 

Chávez que venceu meia dúzia de eleições e plebiscitos é repugnado como um ditador grotesco; Lula é tratado como um meliante por Serra que o acusa de 'poderoso chefão' - da quadrilha do dito 'mensalão'.

Jesse Chacon, ex-ministro das Comunicações venezuelano, um quadro qualificado do país, em recente entrevista ao jornal Valor, admite que o modelo ancorado sobretudo em políticas de transferência de renda flerta com o esgotamento. 

O diagnóstico se assemelha ao dos conservadores, mas as conclusões se bifurcam. Chacon evoca o passo seguinte da história. Chama a atenção, por exemplo, para os efeitos políticos de programas de acesso ao consumo que não alteram a lógica do consumismo capitalista.

Dá a entender que drones como Capriles levitam nessa corrente de ar que sopra permanente insatisfação material e psicológica.

Chávez desfruta de uma válvula de escape não reproduzível: a Venezuela tem as maiores reservas de petróleo pesado do mundo (230 bi de barris); o caixa da PDVSA dilata seu horizonte político apesar da ira da elite, que antes ficava com todo o resultado da empresa. Mesmo assim, há limites no bombeamento da estatal, cuja infraestrutura se ressente de investimentos pesados.

Nos demais países o poço é bem mais raso. A inércia da desigualdade não será vencida sem políticas de renda que alterem a posse do estoque da riqueza já existente. Alterar a carga fiscal é o primeiro passo; na América Latina ela não excede a média de 18% do PIB. No Brasil é quase o dobro; mas cai substancialmente se contabilizados incentivos e renúncias fiscais. Pior que isso: aqui, como na maior parte da AL, a receita disponível provém de uma base que acentua desigualdades em vez de corrigi-las. Na média regional, mais de 50% da receita do Estado é baseada em impostos indiretos, pagos de forma linear por toda população com efeito socialmente nulo ou regressivo.


O ciclo progressista da AL pode estar batendo no teto de suas ferramentas, mas está longe - muito longe - de ter esgotado a sua pertinência histórica.

Para ir além, todavia, talvez necessite renovar o instrumental com uma nova família de políticas e contrapesos.

Os drones estão chegando: independente dos resultados do dia 7, Capriles antecipa o esquadrão que aprendeu a jogar no campo do adversário.

Fonte:
http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=6&post_id=1104