sábado, 11 de fevereiro de 2012

Estatais loteadas e mal geridas são o prato feito para a privataria

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012 - Episódio da Casa da Moeda mostra que o loteamento de cargos reflete um sistema de governo degenerado
Pedro Porfírio em seu blog

Luiz Felipe Denucci Martins, demitido da Casa da Moeda por pressão dos próprios patronos.

 Eu aceitei a indicação. Eu não conhecia esta pessoa, nunca tinha visto antes.” (Ministro Guido Mantega sobre o presidente da Casa da Moeda, demitido por pressão dos próprios padrinhos.)

É duro ter que admitir que no regime militar havia mais escrúpulo na escolha de gestores públicos do que nesta democracia em que o recato é carta fora do baralho. É duro, deprimente e desanimador.

Essa comparação me atormentou o cérebro nesse episódio da demissão do presidente da Casa da Moeda, Luiz Felipe Denucci Martins, um espertinho que fez seu pé de meia em paraísos fiscais só com as propinas dos fornecedores, segundo reportagens documentadas do conhecimento público.

E que só teria caído em desgraça porque seus padrinhos do PTB estavam inconformados com seu estilo de meter a mão e não servir-lhes o quinhão correspondente. Se ele tivesse sido menos ganancioso e reconhecesse que toda indicação política tem sua contrapartida (muitas vezes pecuniária), provavelmente permaneceria lépido e fagueiro, literalmente com a mão na massa – a fabricação de nossa moeda, na casa onde, felizmente, existe um pessoal técnico altamente crítico e consciencioso.
Dizem que, de fato, esse senhor saiu do bolso do colete do próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega. E ele havia sugerido ao líder do PTB, deputado Jovair Arantes, que o chancelasse, condição sem a qual seria difícil consumar o ato de nomeação.

O deputado, que não é diferente dos apadrinhadores nos governos loteados, não iria pôr seu jamegão no papelucho a troco de um caloroso muito obrigado. O muito obrigado que acontece nessas tratativas tem o endosso da moeda sonante, mormente em se tratando logo do manuseio a vivo e a cores do próprio papel moeda.

Foi um ex-deputado de esquerda, militar cassado, quem fez a comparação. Naqueles tempos em que nos habituamos a só lembrar as mazelas, as estatais eram menos susceptíveis ao assalto de prepostos de terceiros, embora, provavelmente, sofressem outro tipo de pressão e servissem de forma mais discreta para acomodar interesses de alguns bolsões influentes.

Nos regimes ditos democráticos, esperaríamos mais transparência e mais critérios no trato da máquina pública.

Os governos coligados são composições que presumem a divisão de responsabilidade entre os partidos aliados. Mas uma coisa é dividir responsabilidade, outra coisa, bem oposta, é consolidar irresponsabilidades, através da entrega de nichos do poder a quem não tem nada a ver com o peixe.

A sustentabilidade de um governo que depende de composições no Legislativo não podia chegar ao fundo do poço em maus hábitos descaradamente eivados de má fé. Maus hábitos que se cristalizaram na filosofia “é dando que se recebe” popularizada por um deputado de direita, Roberto Cardoso Alves, que, embora tenha se notabilizado na tropa de choque do regime militar, acabou indo ser ministro da Indústria no últimos dois anos do governo Sarney, aquele que sempre esteve por cima da carne seca - seja como presidente da ARENA pró-ditadura, seja como conselheiros dos governos pós-ditadura, nos quais manteve a capitania hereditária do Maranhão, indo ganhar o mandato de senador pelo Amapá, estado que nunca vira mais gordo antes de fraudar seu domicílio eleitoral.

É claro que nem só os políticos praticam o esporte das indicações de cartas marcadas. É público e notório que o Ministério das Comunicações sempre foi feudo do todo poderoso Roberto Marinho e seus herdeiros. Tanto que ao nomear Miro Teixeira para lá, em seu primeiro governo, o Sr. Luiz Inácio surpreendeu o próprio Brizola, chefe do partido que entraria no governo por essa janela.

As alianças partidárias, como já disse, presumem parcerias no governo, mas em função de um programa comum de gestão e metas. E não um loteamento de “porteiras fechadas”.

Essa parceeria só seria correta se limitada aos cargos eminentemente políticos, nunca a diretoria de estatais ou a fundações e órgãos em áreas típicas de especialistas e funcionários de carreira, como nas estatais, na educação, saúde e segurança pública.

Mais uma vez vejo-me na obrigação de reconhecer melhores hábitos entre os militares, inclusive nos dias de hoje. Se o Ministério da Defesa é entregue a um civil por opção política, suponho que os cargos nas Forças Armadas, inclusive em seus comandos respeitem critérios de mérito – no mínimo considere carreiras e hierarquias.

A partidarização sem limites da administração pública está na raiz da desmoralização do Estado e na disseminação dos discursos privatizantes. Falo com conhecimento de causa, pois já ocupei cargos no primeiro escalão da Prefeitura do Rio de Janeiro.

E lembro que tive de demitir um “líder comunitário” logo no início da minha segunda passagem pela Secretaria de Desenvolvimento Social porque ele se achava acima do bem e do mal, em função de sua relação pessoal com o prefeito. E olha que, a bem da verdade, tive toda a liberdade de formar a equipe, aproveitando pessoas capazes de filiações diferentes e sem filiação nenhuma.

Além desse caso da Casa da Moeda, que é por si um péssimo indício de escolhas destituídas de compromissos institucionais com o Estado, há uma corrida de apadrinhados para alguns cargos na Petrobrás, a maior empresa brasileira, com um orçamento igual ao do Estado de São Paulo, o mais rico da federação, que está trocando de presidente. Até uma diretoria nova foi criada para acomodar um antigo dirigente do PT que, por sinal, já foi presidente da estatal.

Ao ver essa corrida, lembro-me do pleito do deputado Severino Cavalcanti, aquele que perdeu a presidência da Câmara por ter recebido propina do dono do restaurante terceirizado. À época, com o comando dos deputados como trunfo, indicou o apadrinhado Djalma Rodrigues para a “diretoria que fura poços”.

Essa é a mais gorda fatia da estatal: sozinha, soma dois terços do seu orçamento, tem 16 mil empregos diretos, outros 130 mil indiretos e investim 
entos previstos de US$ 5 bilhões ao ano no período de 2005 a 2015. Por sinal, está ganhando novo diretor, com a aposentadoria de Guilherme Estrella.
As experiências desgastantes no seu primeiro ano de governo, em que a mídia deitou e rolou, conseguindo derrubar quem tinha e quem não tinha culpa no cartório, devem ter servido de lição. É hora da presidenta de livrar-se de más companhias.

Assim como propus que repensássemos as cidades com honestidade, carinho e afeto, aproveito o ensejo para fazer a mesma exortação em relação à administração pública. O pior que pode acontecer, como efeito colateral, é sair repetindo a receita desmascarada das privatizações, como no caso dos aeroportos, objeto dos mais cálidos desejos de grupos econômicos interessados em negócios sem concorrência, sobre os quais recorram a todos os expedientes para engordar suas carteiras. Mas essa é outra história sobre a qual falarei ainda.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Meu nome é medo

08.02.12 - Frei Betto* - Adital

Meu propósito é dominar corações e mentes. Incutir em cada um o medo do outro. Medo de estender a mão, tocar em cumprimento a pele impregnada de bactérias nocivas.

Medo de abrir a porta e receber um intruso ansioso por solidariedade e apoio. Com certeza ele quer arrancar-lhe algum dinheiro ou bem. Pior: quer o seu afeto. Melhor não ceder ao apelo sedutor. Evite o sofrimento, tenha medo de amar.

Quero todos com medo da comunidade, do vizinho, do colega de trabalho. Medo do trânsito caótico, das rodovias assassinas, dos guardas que intimidam e achacam. Medo da rua e do mundo.

Convém trancar-se em casa, fazer-se prisioneiro da fragilidade e da desconfiança. Reforce a segurança das portas com chaves e ferrolhos; cubra as janelas de grades; espalhe alarmes e eletrônicos por todos os cantos.

Faça de seu prédio ou condomínio uma penitenciária de luxo, repleta de controles e vigilantes, e no qual o clima de hostilidade reinante desperte, em cada visitante, uma ojeriza ao prazer da amizade.

Tema o Estado e seus tentáculos burocráticos, os pesados impostos que lhe cobra, as forças policiais e os serviços de informação e espionagem. Quem garante que seu telefone não está grampeado? Suas mensagens eletrônicas não são captadas por terceiros?

O mais prudente é evitar ser transparente, sincero, bem humorado. Sua atitude pode ser interpretada como irreverência ou mesmo ameaça ao sistema.

Fuja de quem não se compara a você em classe, renda, cultura e cor da pele; dos olhos invejosos, da cobiça, do abraço de quem pretende enfiar-lhe a faca pelas costas.

Tenha medo da velhice. Ela é prenúncio da morte. Abomine o crescimento aritmético de sua idade. Jamais empregue o termo "velho"; quando muito, admita "idoso".

Tema a gordura que lhe estufa as carnes, a ruga a despontar no rosto, a celulite na perna, o fio branco no cabelo. É horrível perder a juventude, a esbeltez, o corpo desejado!

Tenha medo da mais terrível inimiga: a morte. Ela se insinua quando você fica doente. Saiba que ninguém está interessado em sua saúde. Em seu bolso, sim. Basta adoecer para verificar como haverão de humilhá-lo os serviços médicos e os planos de saúde.

Não se mova! Por que viajar, abandonar o conforto doméstico e se arriscar num acidente de ônibus, navio ou avião? Nunca se sabe quando, onde e como os terroristas atacarão. Quem diria que numa bucólica ilha da pacífica Noruega o terror provocaria um genocídio?

Meu nome é medo. Acolha-me em sua vida! Sei que perderá a liberdade, a alegria de viver, o prazer de ser feliz. Mas darei a você o que mais anseia: segurança!

Em meus braços, você estará tão seguro quanto um defunto em seu caixão, a quem ninguém jamais poderá infligir nenhum mal, nem mesmo amedrontá-lo.


 *Frei Betto é assessor de movimentos sociais, escritor, autor de "Calendário do poder" (Rocco), entre outros livros.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

BRICS e o veto ao projeto de resolução para a Síria

Pepe Escobar - A Síria e os “disgusting” [1] BRICS - 7/2/2012, Pepe Escobar, Asia Times Online - Syria and those “disgusting” BRICS
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Um coro grego de “incomodados”, “repugnados” e “ultrajados” saudou, como bem se poderia prever, o duplo veto dos BRICS China e Rússia ao projeto de resolução do Conselho de Segurança da ONU para impor mudança de regime na Síria. O projeto vetado era apoiado pela Liga Árabe, aquele paraíso de democracia, organização controlada pelas seis monarquias/emirados do Conselho de Cooperação do Golfo, antigamente chamada Liga Árabe.

A secretária de Estado dos EUA Hillary Clinton chamou de “travesti” o duplo veto. Na sequência, Clinton incitou “os amigos da Síria democrática” a continuar trabalhando para mudar o regime, mudança que era o objeto da resolução vetada. O proprietário do copyright dessa ideia é o libertador da Líbia, o neonapoleônico Nicolas Sarkozy, presidente da França, que disse que Paris já estava trabalhando para criar um “Grupo de Amigos do Povo Sírio” da CCGOTAN, encarregado de implementar o plano de mudança de regime da Liga Árabe.

Logo em seguida, em fila, Burhan Ghalyun, fantoche de Paris, chefe do Conselho Nacional Sírio (CNS) – grupo da oposição guarda-chuva – convocou os países “amigos do povo sírio”. Todos sabem quem são: EUA, Grã-Bretanha, França, Israel e dois membros do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG): o Qatar e a Arábia Saudita. Com amigos como esses, o “povo sírio” não precisa de inimigos.

Os “disgusting” BRICS
A embaixadora dos EUA na ONU, Susan Rice – chefe da torcida organizada pró “Responsabilidade de Proteger” (R2P), também conhecida como bombardeio humanitário – declarou “disgusting” o duplo veto.

Até as vetustas pedras da mesquita Umayyad em Damasco sabem que só Washington tem o direto de exercer poder de veto na ONU – e sempre para proteger o direito que só Israel tem, de matar palestinos, homens, mulheres e crianças, com tanques e bombardeio cerrado, sem tomar conhecimento de resoluções da ONU. Uma relação parcial das vezes que os EUA vetaram projetos de resolução da ONU pode ser lida em: "US on UN Veto: “Disgusting”, “Shameful”, “Deplorable”, “a Travesty” . . . Really?"

A Rússia, em alto e bom som – e a China, discretamente – já haviam informado sobre o veto, há semanas: esqueçam resoluções da ONU para mudar regime na Síria ou, ainda pior, para abrir as portas da Síria para invasão ao estilo do bombardeio humanitário que a OTAN promoveu na Líbia.

A Rússia tem suas próprias razões geopolíticas para definir a Síria como limite infranqueável: a única base naval russa no Mediterrâneo está em território sírio, no porto de Tartus; e a Síria compra armas da Rússia. Mas, de fato, todos os cinco BRICS – mais a ampla maioria do mundo em desenvolvimento – estão em sincronia: esqueçam resoluções da ONU para viabilizar mudança de regime promovida pelos suspeitos de sempre, o trio ocidental EUA-França-Grã Bratanha e – o ápice da hipocrisia – planejada pelos hiper “democráticos” Qatar e Casa de Saud.

Na próxima 3ª-feira, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, estará em Damasco, para reunião com o presidente Bashar al-Assad, na qual discutirão plano sério para tentar pôr fim à violência. Lavrov explicou calma e ponderadamente as razões do veto russo.

Disse que enviou diretamente à secretária Clinton as emendas que a Rússia propunha ao texto da resolução: “Quem desse atenção àquelas emendas facilmente perceberia a racionalidade e a objetividade de nossa posição”, disse ele. Mas de nada adiantou. O projeto de resolução não foi emendado e permaneceu “unilateral” – nada pedindo à oposição armada. Lavrov disse claramente: “Nenhum presidente que não esteja absolutamente derrotado e que se respeite aceitaria algum dia essa exigência, por mais ameaçado que esteja. E nada, em nenhum caso, justifica render-se e entregar o país, sem resistência, a extremistas armados”.[2] Imaginem se Homs fosse cidade do Texas e alguma liderança local decidisse mudar o regime de Washington! Mesmo assim, o Conselho Nacional Sírio declarou que Moscou e Pequim são “responsáveis pela escalada nos atos de matança e genocídio” e facilitadoras de uma “licença para matar”. Lavrov não se deixou abalar: “Já dissemos várias vezes que não estamos protegendo Assad. Estamos protegendo a lei internacional. O Conselho de Segurança da ONU não tem competência para intervir em questões internas dos estados”.

Homs: Quem está matando quem?
O embaixador da Síria à ONU, Bashar Ja’afari, negou firmemente as acusações da oposição de que o exército sírio estaria bombardeando o bairro de Khadiliya em Homs, usando tanques e artilharia e que teria matado mais de 200 pessoas. Disse que “nenhum ser racional lançaria ataque desse tipo na véspera de o Conselho de Segurança da ONU votar a resolução sobre a Síria”. Sem qualquer investigação, a França declarou que teria havido “um massacre” em Homs, “crime contra a humanidade”. Alguma coisa semelhante, talvez, ao que a França fez várias vezes na guerra da Argélia?

Para começar a entender o que está em jogo, é preciso ter em mente quem está desertando do exército sírio. Os militares de mais alto escalão do exército sírio – e membros do Partido Ba’ath – são praticamente todos alawitas, seita xiita (10% da população total). Esses não estão desertando.

Os desertores são soldados sunitas (70% da população total). Esses desertam e formam milícias armadas, ao estilo do que se viu na Líbia, e milícias que acolhem muitos mercenários pesadamente armados pelo Conselho de Cooperação do Golfo e que matam soldados do exército regular. A resposta do governo sírio foi atacar os bairros onde vivem as famílias desses desertores. O centro de Homs está hoje sob controle dos rebeldes. O que, então, está acontecendo em campo, em Homs? Reproduzo aqui trechos de um e-mail crucialmente importante, que recebi de fonte cristã e síria, altamente confiável:

"Muitos sírios estão entusiasmadíssimos com o duplo veto, mas a situação em Homs é muito preocupante. A oposição espalhou notícias sobre um massacre pouco antes da votação, falando de centenas [de mortos]. É inacreditável, mas a mesma notícia foi repetida em todos os canais de televisão (todos sempre citando “ativistas”), sem qualquer verificação. No máximo, o número de mortos foi reduzido para cerca de 33. Nenhum canal de notícias mostrou bombardeios ou cadáveres ou gente ferida (...) só homens despidos ou vestindo só cuecas, e lavados para serem enterrados, com mãos e pés atados, e com sinal de tiro de execução na cabeça. Que arma incrível será essa, do arsenal do governo sírio, uma bomba tão inteligente que consegue despir e amarrar os inimigos e, em seguida, executa-os com um tiro na testa?!

O que se sabe com certeza absoluta é que não há presença militar em Homs. Meus pais deixaram a cidade e retornaram para lá no sábado pela manhã – dia do alegado massacre – e nada viram. Como fazem sempre, telefonaram para um número (115) que fornece informações sobre segurança nas estradas. O operador disse que podiam viajar tranquilamente para Homs, que não havia qualquer sinal de agitação ou combates, nem na cidade nem nos arredores. Mas quase toda a cidade, principalmente a parte antiga, está sob controle de milícias armadas. O bairro onde moram meus pais e onde eu cresci (o bairro cristão de Bustan al-Diwan) está completamente tomado pelas milícias.

Há vídeos em YouTube que mostram que o Exército Síria Livre atacou e removeu os postos de vigilância que o exército mantinha em outro bairro próximo (Bab al-Dreib) e, em seguida, atacou e removeu o posto que protegia o nosso bairro. Pessoas que moram perto de nossa casa não viram qualquer sinal de agitação e não falam de qualquer tipo de agitação, embora todos saibam que alguns ‘revolucionários’ invadiram algumas casas cujos moradores partiram naqueles dias ou antes; e que também invadiram uma escola, a redação do jornal Homs Newspaper (operado pela igreja ortodoxa há mais de um século) e alguns restaurantes. Essas são as únicas reclamações que se ouvem por aqui. Quero dizer: se se considera o que esse Exército Síria Livre tem feito contra os alawitas, a comunidade cristã está sendo muito bem tratada, até aqui.

O que se diz por aqui é que os corpos mostrados amarrados e que teriam sido mortos em Khalidiya, e que seriam cadáveres de “homens, mulheres e crianças” mortos em bombardeio pelo exército sírio regular, são, de fato, soldados do exército sírio que foram sequestrados. Há também alawitas sequestrados, que não foram libertados (em trocas de prisioneiros). Quando o Exército Sírio Livre começou a sequestrar pessoas, os alawitas também passaram a sequestrar, para ter o que negociar e conseguir libertar soldados presos pelas milícias. Nem sempre dá certo, e muitos que não foram “trocados” apareceram mortos em Khalidiya.

O que se pode garantir é que, até agora, não há qualquer tipo de ataque pelo exército sírio regular na cidade. Os rebeldes continuam a atacar outros postos de segurança do exército. Ninguém por aqui tem qualquer ideia sobre o que o governo pensa fazer em relação à situação em Homs. É terrível para mim ver o nosso bairro transformado em campo de batalha e tantos amigos meus, que partem da cidade."

A informação da minha fonte coincide perfeitamente com o que escreveu o jornalista Nir Rosen, autor do indispensável Aftermath: Following the Bloodshed of America's Wars in the Muslim World: em Homs estão acontecendo ataques das milícias armadas contra postos de controle do exército sírio na estrada; e o exército sírio ataca alguns dos bairros onde vivem as milícias armadas. Segundo Rosen: "Não há luta em Homs. O governo bombardeia algumas áreas onde suspeita que haja rebeldes (o que sugere que o regime não tenha meios para atacar Khalidiya) (...). Até agora não houve qualquer baixa entre os rebeldes. Em Khaldiyeh houve 130 mortos e 800 feridos (mas não eram combatentes). É muita gente, sim, mas se você assiste aos noticiários... Segundo os noticiários, Homs teria sido destruída pelo governo da Síria. Essa notícia é falsa. De fato, o ataque das milícias em Homs sugere que, ali, o regime está enfraquecido, sem meios para atacar as milícias. [3]"
Confirma-se assim o que minha fonte escreveu: “Ninguém por aqui tem qualquer ideia sobre o que o governo pensa fazer em relação à situação em Homs”.

Todo o planeta viu como o milionário prefeito de New York respondeu ao movimento Occupy Wall Street – movimento pacífico. Imaginem, então, qual seria a resposta das autoridades a uma insurreição armada, para mudança de regime, que eclodisse numa cidade de porte médio nos EUA. 

Os “disgusting” BRICSs já deixaram bem claro que não haverá bombardeio humanitário à moda CCGOTAN na Síria. Mas o CCGOTAN pode estar conseguindo sucesso no seu plano B: lançar a Síria numa guerra civil.

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Notas dos tradutores
[1] Orig. disgusting. É palavra de difícil tradução ao português, no contexto da fala das autoridades dos EUA; cobre um campo semântico que vai de “incômodo” ou “desagradável”, até “repugnante” e “nojento”.
[2] 5/2/2012, “Ministro russo explica veto à Resolução sobre Síria”.
[3] 4/1/2012, The Angry Arab News Service, “What happened in Homs”

China explica veto ao projeto de resolução para a Síria

5 de fevereiro de 2012, Yu Zhixiao, Agência Xinhua, Pequim - “Veto of UN draft aims at political solution to Syrian crisis” - redecastorphoto
Traduzido e enviado pelo pessoal da Vila Vudu

O veto de Rússia e China a um projeto de resolução proposto por árabes e europeus sobre a Síria visou a forçar que se trabalhe em busca de solução pacífica para a crise já crônica que sacode a Síria; visou também impedir que se adotem vias drásticas, temerárias e arriscadas.

É a segunda vez, desde outubro de 2011, que Rússia e China usam o poder de veto para bloquear projeto de resolução apresentado ao Conselho de Segurança da ONU sobre a Síria, avaliado, dessa vez, como solução não recomendável para promover a paz naquele país do Oriente Médio.

O projeto de resolução agora rejeitado implicaria afirmar que o Conselho de Segurança da ONU “apóia completamente” o plano apresentado pela Liga Árabe em 22/1, e que exigia que o presidente sírio Bashar al-Assad renunciasse – cláusula que emperrou as discussões desde o primeiro momento nas consultas pré-votação.

O veto, na avaliação de Rússia e China, garante mais tempo e obriga ao exercício da negociação paciente, para que se encontre solução política para a crise síria e solução que efetivamente proteja o povo sírio de mais turbulência, violência e mortes.

Horas antes da votação no Conselho de Segurança, a Rússia distribuiu uma versão emendada do projeto de resolução, na qual se lia que “[essa resolução] visa a equacionar dois problemas básicos”. Primeiro, é preciso criar condições para diálogo político na Síria; segundo, é preciso adotar medidas para influenciar o curso das ações, não só do governo sírio, mas também dos grupos armados da oposição.

O projeto de resolução que vetamos não reflete satisfatoriamente a realidade em campo na Síria e enviaria sinais conflitantes às forças políticas na Síria”, disse o embaixador russo na ONU, Vitaly Churkin, depois da votação.

Li Baodong, representante permanente da China nas Nações Unidas, lamentou que as emendas propostas pelos russos tenham sido ignoradas.

A China apóia a revisão da proposta nos termos das emendas que a Rússia apresentou”, disse Li ao Conselho de Segurança, acrescentando que “a sugestão de que se prossiga no processo de consultas para emendar o projeto, encaminhada por vários membros do Conselho, é razoável.

Insistir em votar, quando ainda há profundas e graves diferenças de opinião entre os votantes, em nada ajudará a manter a autoridade e a unidade do Conselho de Segurança, nem ajudará a resolver a questão”, disse Li.

A ONU continua a atribuir ao governo sírio os cerca de 5.000 mortos durante os vários meses de conflito, apesar de o governo sírio repetir insistentemente que foram assassinados mais de 2.000 soldados e agentes da segurança nacional.

Para deter a violência, é indispensável construir e fazer operar imediatamente um processo político inclusivo na Síria. Cabe ao povo sírio, não a forças externas, decidir sobre o próprio destino.

A greve de fome que a TV não mostra

CASO PINHEIRINHO - Por Ronald Sanson Stresser Junior* em 07/02/2012 na edição 680 Observatório da Imprensa

Se o cineasta Pedro Rios Leão – hoje ativista –, em greve de fome defronte à maior central de jornalismo da maior emissora de TV do Brasil, fosse cubano, chinês ou monge tibetano estaria na capa dos jornais de maior circulação do país. Quem sabe se não fosse um brasileiro, em greve de fome por injustiça social e violação de direitos humanos, ele seria chamado de mártir pela “grande mídia”. Seria matéria de destaque nos principais telejornais e provocaria lágrimas de solidariedade nos leitores de teleprompter. Talvez seu ato virasse até poesia na boca de apresentador de reality show e tema de documentários jornalísticos.

Mas não: em se tratando da transparência na mídia brasileira, é muito circo. Falam em futebol direto, no jornal local, depois no noticiário esportivo e ainda mais na edição nacional. Entre uma partida e outra é samba, carnaval, festa e denúncias vazias, para cativo ver. O cidadão incauto e que não busca informação por conta própria fica lá, cativo, no sofá, olhando sombras na parede e achando que aquilo é o mundo real.

Para contrabalançar a amostragem de polêmicas em outros países – eles adoram mostrar como a grama do vizinho é mais verde e ficar fuxicando sobre a vida dele – nos empurram notícias internacionais que pouco ou nada nos interessam. Por exemplo, você se interessa por Mitt Romney? Enquanto isso, o abuso de poder, de autoridade e a corrupção crescem a galope em nosso país, tanto dentro das esferas do poder público – formado por funcionários pagos com o dinheiro do povo – quanto nas grandes corporações – que dependem da economia popular para prosperar.

O ópio midiático
A inversão de valores está fora de controle. Ou nós, do povo, fazemos alguma coisa e nos fazemos ser ouvidos, ou não haverá um futuro para o futuro da raça humana. A gente pode até não viver mais que 80 anos, vai embora, morre, mas nossos filhos, netos, bisnetos vão precisar de um planeta habitável para viver.

Pedro Rios está em greve de fome por ficar indignado com o que foi feito em Pinheirinho que, realmente, para ele e muitos mais brasileiros e brasileiras indignados, foi a gota d’água. É como disse o próprio, a uma mulher que o inquiriu sobre o efeito que ele esperava, dizendo que o sacrifício que ele está fazendo é inócuo no macro-social: “Você sabe uma represa, uma barragem ou um dique? Começa a pingar uma gota, vira um fio d’água, aparecem as rachaduras e sem ninguém esperar se rompe e ninguém segura a inundação.

O ativista escolheu este local para sua manifestação não declarando guerra a uma emissora específica, e sim, em nome da transparência em toda produção jornalística de todas elas. Pedro escolheu a central de jornalismo da maior emissora do país porque foi uma afiliada desta mesma emissora que deixou de mostrar fatos, através reportagens pífias, seja por interesse obscuro – como pensa Pedro – ou mesmo, quem sabe, por falta de interesse ou incompetência.

Pedro Rios escolheu fazer seu protesto, pacífico, de fronte à emissora que representa a mídia de massa brasileira. O que esta gigante faz geralmente cai na graça dos telespectadores e acaba sempre sendo imitado, copiado pelas outras. A audiência é mantida cativa porque acredita que aquelas sombras, projetadas na parede de sua caverna, é espelhamento do mundo real. Parte dos cativos chega ao ponto, absurdo, de confundir personagens de ficção com a realidade. Dopados pelo ópio midiático, perseguem personagens de novela nas ruas confundindo-os com os seres fictícios da teledramaturgia.

Confusão de interesses
Outro fator que faz notícias vindas do estrangeiro serem mais isentas, com matérias mais bem contextualizadas e esclarecedoras, creio ser o fato de que a equipe do jornalismo internacional, das principais emissoras de TV aberta do país, é muito superior à nacional. O problema começa nas regiões mais longínquas, nas cidades pequenas, nas afiliadas que retransmitem o sinal das grandes. Estas retransmissoras também são geradoras de conteúdo que, em sua quase totalidade, se trata de conteúdo jornalístico e já começam errando quando faturam bem e pagam péssimos salários aos seus profissionais. Ou você acha que um jornalista de São José dos Campos ganha o mesmo que um do Rio de Janeiro ou de São Paulo? Não bastasse a questão logística e de recursos humanos, as afiliadas das grandes produtoras de conteúdo e geradoras de sinal estão muitas vezes sob o comando de grupos com interesses políticos, quando não nas mãos dos próprios políticos.

Enquanto isso, os responsáveis pelo jornalismo internacional têm profissionais do mais alto gabarito, bem preparados e remunerados, sob um comando muito mais isento e autônomo, apresentando assim, ao grande público, um conteúdo jornalístico de qualidade infinitamente superior. Em termos comerciais, o jornalismo bem feito se vende por si só, não há a necessidade do constante e replicante apelo emocional que acaba infantilizando o telespectador em busca de maior produtividade e retorno financeiro. O jornalismo local parece subestimar o perfil do telespectador mais antenado, conectado.

Enquanto os telejornais locais competem entre si, o jornalismo internacional não encontra concorrência. Todas as emissoras mantém uma mesma linha de atuação no exterior, pois estando em solo estrangeiro encontram a competitividade de gigantes como CNN, BBC, AFP, Telesur, Al Jazeera... Há um desequilíbrio. Percebe-se, sem muito esforço, que o telejornalismo nacional, produzido e divulgado em nosso país, ainda faz muita confusão de interesses. Mostra o que eles (editores) acham que é de interesse do público, pensando demasiadamente na parte comercial e de relações com o poder público, pecando e deixando em segundo plano o que é de interesse público.

Interesse do público e interesse público
O conteúdo produzido com base no que se pensa ser de interesse do público é aquele conteúdo empurrado aos telespectadores, usando como referência o que os editores acham que o público gostaria de ver, como, por exemplo, esportes violentos, crimes banais, sexo, crenças tolas e modismos. Este tipo de jornalismo, se é que se pode chamar isso de jornalismo, parece ter como escopo apenas audiência e lucro, naquela velha, perversa e insustentável crença de que existe acumulação eterna. Já o conteúdo produzido com foco no interesse público é aquele que mostra a verdade nua e crua, doa a quem doer. O conteúdo de interesse público, por vezes, pode até abranger fatos que – ao contrário do que ainda teimam em ensinar nos cursos superiores de comunicação, baseados em modelos de gestão ultrapassados – o público supostamente não teria interesse em saber e que poderiam prejudicar a veiculação comercial que faz a TV aberta ser um negócio rentável.

Não sou daqueles radicais que acha que por ser a TV aberta uma concessão pública, eles não têm direito a lucrar com o negócio. Sim, eles têm o direito de lucrar, mas para tudo há limite. Não vejo vantagem alguma em se deixar a audiência na obscuridade do ignorantismo. Parece-me crueldade a exploração comercial dos sentimentos do telespectador. Se venda é emoção e se usam a emoção para vender, isto deveria ser considerado crime de estelionato sentimental.

Vão dizer: “E o cara que está lá em greve de fome, não está apelando para os sentimentos da população?” Sim, realmente está, mas ele não está vendendo nada, não espera retorno financeiro com seu ato, e sim, espera que seja feita justiça. E se disserem: “Ah, mas o cara é louco de fazer isso!” Pode até ser, mas aí um louco está lá fazendo o que os que se dizem sãos não fazem, e por todos nós. Aí é minha vez de perguntar: por que uma pessoa que está em greve de fome há três dias, protestando e fazendo graves denúncias à violação de direitos humanos na desocupação de Pinheirinho, é solenemente ignorada pela “grande mídia”?

Será que o jornalismo brasileiro está virando uma boutique, será que morreu? Alguém viu ou ouviu falar? Cadê aquele jornalismo do tempo anterior à ditadura militar, cadê aquele jornalismo do tempo anterior à ditadura Vargas? Não seria hora de remodelar este jornalismo nascido na queda da Bastilha e adaptá-lo à Era da Informação e do Conhecimento? Jornalismo é notícia pura, é a vida em movimento, é tudo que faltou na cobertura de Pinheirinho e falta na cobertura da greve de fome de Pedro Rios Leão, mas não falta nas coberturas internacionais. Em minha ótica, não há jornalismo de verdade que sobreviva quando se perde a noção de equilíbrio, entre o que é interesse do público e o que é de interesse público.

Não tenho equipamento ou ilha de edição profissional – como as grandes emissoras –, mas, usando uma simples câmera fotográfica digital e um programa de edição de vídeo amador, registrei a noite em que Pedro Rios iniciou sua greve de fome. Entrevista em duas partes:




*Ronald Sanson Stresser Junior é formado em Rádio e TV e pós-graduado em Mídias Digitais, pela Universidade Estácio de Sá (Rio de Janeiro)
 
(As fotografias são de Guilherme Kanno)

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Ministro russo explica veto à Resolução sobre Síria

5/2/2012, Grigory Sysoyev, em Ria Novosti - FM Lavrov Explains Russia’s Veto on Syria Resolution in UN - Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu - rede castorphoto


O Ministro das Relações Exteriores da Russia, Sergei Lavrov, enviou na sexta-feira (3/2/12) alterações ao projeto de resolução apresentado pelo Marrocos à Secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton e ao Embaixador da Rússia na ONU, Vitaly Churkin e conhecimento de todos os membros do CS ONU.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia Sergei Lavrov explicou, ontem, por que a Rússia vetou uma resolução sobre a Síria no Conselho de Segurança da ONU: nos termos em que estava redigida, a resolução seria unilateral e prejudicaria a Síria, se adotada.

O veto dos embaixadores de Rússia e China impediu que fosse aprovado o projeto de resolução encaminhado pelo Marrocos que exigia a imediata renúncia do presidente Bashar al-Assad. 13 dos 15 membros do Conselho de Segurança aprovaram o projeto apoiado pela Liga Árabe e pelo ocidente. (...)

As autoridades sírias têm atribuído a violência no país à ação de gangues armadas ligadas a al-Qaeda e informam que mais de 2.000 soldados e policiais já foram mortos.

Manifestação de apoio a Assad

Lavrov disse que, na 6ª-feira enviou à secretária de Estado dos EUA Hillary Clinton e ao embaixador russo na ONU, Vitaly Churkin, as emendas propostas pela Rússia ao texto do projeto a ser votado.

Quem desse atenção àquelas emendas facilmente perceberia a racionalidade e a objetividade de nossa posição” – disse Lavrov.

Vários países ocidentais dedicaram-se a tentar persuadir Moscou a apoiar uma resolução que, de fato, autorizaria uma ação militar na Síria, mas a Rússia respondeu repetidas vezes que o furor com que o ocidente está tentando legitimar aquela ação militar na Síria obriga a temer que esteja em preparação a repetição de um “cenário líbio”.

Na Líbia, forças rebeldes derrubaram e assassinaram Muammar Gaddafi em outubro de 2011, depois de meses de combates, para cujo desfecho as forças da OTAN tiveram influência decisiva.

Embora os termos do projeto que estava sendo votado tenham sido suavizados, aparentemente para superar a oposição dos russos, o ministro das Relações Exteriores da Rússia disse que, apesar das modificações, o projeto patrocinado pelo ocidente e pela Liga Árabe continuava a ser decisão “unilateral”.

Para o ministro russo, os grupos que estão provocando a violência na Síria teriam de ser conhecidos e examinados adequadamente – o que o Conselho de Segurança não fez em momento algum. Disse que o projeto agora vetado não impõe qualquer restrição à ação de grupos armados da oposição, e que a Rússia teme que, aprovada nos termos atuais, a resolução tornará impossível qualquer diálogo político nacional na Síria.

Além do mais, disse Lavrov, o projeto vetado incluía a exigência de que as forças regulares do estado sírio se retirassem imediatamente de cidades e vilas.

Essa exigência, se não estiver acompanhada da exigência de que os grupos armados extremistas entreguem as armas, é absolutamente provocativa. Nenhum presidente que não esteja absolutamente derrotado e que se respeite jamais aceitará essa exigência, por mais ameaçado que esteja. E nada, em nenhum caso, justifica render-se e entregar o país a extremistas armados”, disse Lavrov.

A embaixadora dos EUA na ONU Susan Rice disse no sábado que “há meses esse Conselho está refém de dois membros. Esses membros escondem-se atrás de argumentos ocos e de interesses particulares, ao mesmo tempo em que rejeitam qualquer redação que pressione Assad a deixar o governo”.


[A embaixadora dos EUA aparentemente esquece as mais de 50 vezes em que o mesmo Conselho esteve refém de um único membro, exatamente os EUA, que vetaram, contra a maioria dos demais membros,todos os projetos de resolução que visavam a garantir direitos para os palestinos, contra os interesses de Israel (NTs)]


(...) A Rússia e a China já haviam vetado outro projeto de resolução, em outubro de 2011, que continha ameaças de sanções contra a Síria. Lavrov disse também que outro problema do projeto agora vetado é a cláusula que exige que Assad deixe o governo.

A Rússia, dos principais apoiadores de Assad durante o levante contra seu regime, já dissera, no início da semana, que vetaria qualquer projeto de resolução que exigisse a renúncia de Assad e ameaçasse com “outras medidas” caso ele não concordasse. Moscou apresentou um texto alternativo de resolução, que os EUA criticaram por lhes parecer muito suave.

Já dissemos várias vezes que não estamos protegendo Assad. Estamos protegendo a lei internacional. O Conselho de Segurança da ONU não tem competência para intervir em questões internas dos estados”, disse Lavrov.

Lavrov disse também que sábado (4/2), ele e o chefe dos Serviço de Inteligência Exterior da Rússia, Mikhail Fradkov, estarão na Síria, para encontro com o presidente al-Assad agendado para a 3ª-feira, cumprindo instruções do presidente Dmitry Medvedev.

Churkin, embaixador russo na ONU, disse, depois da votação no Conselho de Segurança: “O projeto de resolução que vetamos não reflete satisfatoriamente a realidade em campo na Síria, e enviaria sinais conflitantes às forças políticas na Síria.”

Perguntado por que a Rússia concordou inicialmente e, adiante, mudou seu voto, Churkin disse que a situação mudou ao longo do último mês, depois que a Liga Árabe expôs seus planos para a Síria [1]. Os chefes das delegações russa e chinesa disseram que os países esperam que a comunidade internacional continue a trabalhar para pôr fim à violência na Síria. O governo da Síria nega qualquer envolvimento nos confrontos violentos em Homs nos últimos dias.

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Nota dos tradutores
[1] Sobre os planos da Liga Árabe para a Síria, ver 3/2/2012, Pepe Escobar, “Vazou! A agenda da Liga Árabe para a Síria”.

EUA formam internautas na Síria e Líbia

domingo, 5 de fevereiro de 2012 - Por Iroel Sánchez, no blog cubano La Pupila Insomne - blog do Miro - Tradução de Sandra Luiz Alves


Em 29 de novembro de 2011, o blog postou uma matéria intitulada “O que Alec Ross fazia a caminho de Damasco? Escrevemos:

"Há exatamente um ano, Alec Ross, principal assessor de Hillary Clinton para a internet, disse, sem querer, que havia estado na Síria treinando diversas pessoas para as redes sociais. Ele também ministrou conferência para autoridades estadunidenses em Santiago, Chile. O motivo de tal experiência evangelizadora era, segundo contou Ross, ensinar os sírios a denunciar o suposto castigo corporal nas escolas.

Perguntamos por que Ross não se preocupa com as vítimas de torturas em Guantánamo, que há muito tempo precisam de ajuda. Mas os acontecimentos precipitados na Síria, onde os alvos da administração Obama estão sendo cumpridos, como indica o “novo método” de intervenção na Líbia, revelam o verdadeiro motivo da presença do experiente jovem em Damasco.

O pesquisador canadense Mahdi Darius Nazenroaya afirma que tanto na Síria como na Líbia “foram utilizados o facebook, twitter, celulares e youtube para divulgar notícias dos dois governos. CNN, BB, Al Jazeera, Fox News, Sky News, France 24, TF1, entre outras, recorreram a estas fontes sem, ao menos, checar as informações”.

Segundo Nazenroaya, “desde o início dos acontecimentos na Síria e na Líbia estes meios de comunicação foram mobilizados e manipulados a partir do exterior. Preenchiam páginas do facebook e twitter sobre o que estava ocorrendo com milhares de inscritos desconhecidos. Os autores destas páginas são, portanto, discutíveis: todos escritos em inglês e outros idiomas e muito bem argumentados. Não tem aparência de espontaneidade e as contas não eram no idioma sírio ou líbio, isto é, em árabe”.

Um exemplo foi a escandalosa fraude em torno do blog ‘A gay girl in Damascus’ (uma lésbica em Damasco), cujas informações eram replicadas por diversos órgãos de imprensa e que se provou que o blog era de um estadunidense que estudava na Escócia. Assim como o ‘gay girls’, vários sítios foram criados sobre a Síria a partir de fevereiro de 2011 – eles previam os protestos, divulgando informações falsas.

Mahdi Darius Nazenroaya cita o caso de ‘The Syrian Revolution 2011’, que incentivava um ‘dia de ira’, em 4 de fevereiro de 2011, sexta-feira. O pesquisador salientava que ‘o nome desta página no facebook estava em inglês e o número de inscritos não foi traduzido igualmente na mobilização física.'

Por outro lado, “as contas registradas pertenciam a pequenas áreas onde há um número reduzido de pessoas com acesso à internet”. O autor acrescenta que, “além disso, o treinamento de pessoas da oposição é realizado pelo Departamento de Estado com o pretexto de promover a democracia. Esta situação fica mais evidente quando conhecemos como o Pentágono e a Otan têm procurado enfatizar a estratégia militar para o ciberespaço”.

'As mídias sociais estão sob controle do SMSC (Social Media in Strategic Comunication) do Pentágono, cujo objetivo é utilizar os meios de comunicação como um instrumento militar'. O acadêmico menciona também a utilização destas mídias contra o Irã, assim como na Bolívia, Cuba, Venezuela, Bielorússia, Rússia, Sérvia, Equador, Armênia, Ucrânia, Líbano e China.

Sem dúvida, Ross preparava o terreno para que sua chefe voltasse a dizer, entre risadas, no melhor estilo do império romano ‘We came, we saw, we died’ (original em latim Veni, vidi, vici - Eu vim, eu vi, eu conquistei), após a tortura e linchamento de Muamar Kadafi, por seus aliados do Conselho Nacional de Transição. Porque se Bush dizia que "falava com Deus, não há dúvidas de que Hillary e Obama falam com os césares mais sanguinários."

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Na conferência em Santiago, em que o Sr Ross explicou como treinou pessoas na Síria para difundir imagens na internet, estava Ernesto Hernández Busto, que é um dos principais “ativistas” da estratégia dos Estados Unidos contra Cuba na rede. Coincidentemente, Hernández Busto – que foi o responsável em conceder o prêmio Ortega e Gasset, do diário El País, a Yoani Sánchez – solicitou por escrito a intervenção militar dos EUA na Ilha.

Em Havana, Yoani Sánchez e um fotógrafo que têm os mesmos desejos de Hernández Busto anunciavam os premiados de um concurso de fotografia digital para “captar a futura imagem de nosso presente nacional”. E já sabemos a “futura imagem” que os aliados dos Estados Unidos captaram na Líbia e os dados fornecidos pela Otan, mas Cuba não é a Líbia, muito menos Afeganistão, por mais que os candidatos esperem fotografar os marines urinando em cadáveres e estátuas em Havana.