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sexta-feira, 21 de junho de 2013

Cuidado com movimentos apartidários


Os fascistas querem tomar as ruas


Por Altamiro Borges - no seu Blog

Cenas deploráveis foram presenciadas nas manifestações desta quinta-feira (20). Pegando carona nos atos para festejar a redução das tarifas do transporte público em várias cidades, milícias fascistas e grupos de provocadores saíram às ruas para rasgar bandeiras de partidos e agredir militantes de esquerda.

Aproveitando-se de um sentimento difuso contra a política, estimulado diariamente pela mídia oligopolizada e golpista, estas hordas espalharam o pânico. As forças democráticas da sociedade precisam rapidamente rechaçar estes atentados, que colocam em risco a democracia brasileira. É preciso alertar os mais inocentes para eles não se tornem massa de manobra dos grupos fascistas.

Na Avenida Paulista, centro de São Paulo, uma minoria de vândalos atacou militantes do PT, PCdoB e MST. Aos berros, pessoas mascaradas gritavam “ditadura, já” e dirigiam ataques raivosos contra a presidenta Dilma Rousseff, eleita pela maioria do povo brasileiro. No Rio de Janeiro, sindicalistas da CUT foram cercados e agredidos e tiveram suas bandeiras arrancadas. Militantes do PSTU e do PSOL também têm sido alvo de provocações. O grito de guerra entoado por estes setores intolerantes é “sem partido” – numa negação à luta política e democrática, que traz à memória as péssimas lembranças da ascensão do nazifascismo na Europa e dos golpes militares na América Latina.

Até setores que apostaram na radicalização, sonhando com “a revolução na próxima esquina”, estão assustados. Como escreveu Valério Arcary, respeitado dirigente do PSTU, os ataques são “covardes” e partem de pessoas “mascaradas, alimentando a ilusão de que a intimidação física é o bastante para vencer na luta política... O antipartidarismo, mais grave quando se dirige contra a esquerda socialista, é uma ideologia reacionária e tem nome: chama-se anticomunismo. Foi ela que envenenou o Brasil para justificar o golpe de 1964 e vinte anos de ditadura. Não deixem baixar as bandeiras vermelhas. Foram os melhores filhos do povo que derramaram seu sangue pela defesa delas”.

A presença destas hordas fascistas já tinha se manifestado antes desta quinta-feira. Como registrou José Francisco Neto, do jornal Brasil de Fato, “na segunda e na terça-feira, a reportagem constatou sensível diferença nos atos comparando-os com a semana anterior. Os gritos não eram os mesmos puxados pelos movimentos sociais. As bandeiras de partidos não foram mais estiadas. Muitas, inclusive, foram impedidas de serem levantadas por um grupo de pessoas que pediam ‘Sem partido’... Na segunda-feira, militantes da Juventude do PT quase foram agredidos por tentarem erguer a bandeira do partido. Já pessoas ligadas ao PSTU não conseguiram recuar e foram agredidas”.

Fonte: Blog  do Miro

http://altamiroborges.blogspot.com.br/2013/06/os-fascistas-sairam-as-ruas.html

Não tenham medo dos jovens. Apenas os escutem



Maria Inês Nassif

Jornal GGN - Era um oceano de jovens. No meio, os não jovens sumiram – estavam lá como lembrança de ontem, com suas convicções democráticas intocáveis, indignados com a violência policial da semana anterior, com o conservadorismo político e com a pesada herança do passado autoritário que estava por trás de cada bomba de efeito moral e cada bala de borracha atirada pela polícia contra um jovem. Mas aquele não era o lugar para pessoas maduras. As ruas de São Paulo foram o endereço dos jovens na última segunda-feira – e naquele palco, o recado que deram em cada pedaço de papel empunhado como cartaz, cada um como parte de um mosaico caótico de miríades de reivindicações e protestos, é que o sistema político está velho. Estava velho antes. Envelheceu ainda mais, com maior velocidade, nas últimas semanas em que os jovens ocuparam as ruas.

As ruas tornaram-se espaço para cada um manifestar desconfortos particulares, grandes incômodos: contra o aumento das passagens, a educação ruim, a corrupção, a polícia de Geraldo Alckmin, a política – “nenhum partido me representa”, diziam vários desses cartazes-recados, tolerados pela multidão que impediu os partidos de empunharem suas bandeiras nas manifestações. Daí, no entanto, a atribuir ao movimento a negação da política, vai uma grande distância. O Movimento pelo Passe Livre foi o estopim de uma coisa maior: quando catalisou insatisfações, expôs uma enorme fragilidade da atual democracia.

A reclamação implícita em cada palavra de ordem é que a democracia não incorporou os jovens no jogo político porque está ultrapassada. Os políticos fizeram partidos na abertura política, forjaram novas lideranças e elas se consolidaram nas estruturas de poder sem que abrissem espaço para ingresso dos que chegavam à vida adulta. As estruturas partidárias não renovaram ideias, bandeiras, ideologias. O sistema, que obriga a formação de grandes coalizões e a grandes concessões em bandeiras que envolvem temas “morais” (como aborto, união de homossexuais etc), não é inteligível por essa faixa da população. Cada avanço social que ocorreu nos últimos dez anos teve como correspondência – na melhor das opções – uma estagnação na agenda de diretos de minorias, rechaçada por aliados conservadores ou bancadas religiosas. Cada vez que um programa social como o Bolsa Família produz a autonomia da família miserável em relação ao chefe político local, o poder do coronel é reforçado pela aliança que une, na esfera federal, o PT e os partidos de esquerda ao PDS, PMDB, PP, PR ou qualquer que seja.

O Partido dos Trabalhadores sofreu grandes transformações desde a sua fundação, em 1979. Passou pelo pragmatismo necessário para chegar ao poder pelo voto. Uma vez no poder, teve que usar de pragmatismo para formar maiorias. Os últimos dez anos consolidaram grandes conquistas sociais e econômicas que não teriam acontecido sem o apoio militante do partido aos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Todavia, quatro anos de enquadramento definitivo das bases partidárias à realidade eleitoral – de 1994 a 1998 – e dez anos no governo consolidaram o domínio de uma aliança interna que se tornou amplamente majoritária, tem o controle das decisões partidárias e é o elo de ligação da máquina petista com o governo. As velhas lideranças também firmaram suas posições dentro do partido e no governo por meio de mandatos eletivos - e hoje, conseguem esses mandatos, salvo honrosas exceções, com a mais prosaica política eleitoral. O sistema político tradicional engoliu a única estrutura partidária que, em sua origem, foi criada como partido de massas. Não existe possibilidade de ingresso e ascensão dentro da máquina para os novos.

Os pequenos partidos que se formaram como dissidências do PT à esquerda, como o PSTU e o PSOL, mantém-se com pouquíssimo apelo a uma massa jovem que está à procura de portas de entrada para a militância política. As organizações são feitas ainda à imagem e semelhança de velhos partidos de esquerda. A linguagem deles não corresponde a de uma geração que quer fazer política, mas não leu Marx, nem Lênin, nem entende a razão de precisar de um manual de política para ser contra o aumento do ônibus e a favor da descriminalização do aborto; contra os projetos homofóbicos da bancada evangélica e a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo; contra os políticos, mas a favor da democracia.  O maior partido de oposição, o PSDB, trilhou um caminho do elitismo quase sem volta, quando entendeu como único caminho para a disputa pelo poder nas urnas a via da direita. Sempre esteve longe de ser um partido de massas - e cada vez mais se distancia léguas dessa possibilidade.

Nenhum dos partidos em funcionamento se antecipou à onda de participação dessa geração das redes sociais, de jovens que se comunicam muito fácil entre si, mas têm dificuldades de ser escutados pelos outros.

Os partidos, nem do governo, nem da oposição, devem ter medo desses jovens. Devem apenas escutar o que eles dizem.

Fonte:http://www.jornalggn.com.br/blog/nao-tenham-medo-dos-jovens-apenas-os-escutem

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Uma virada na cobertura


Por Luciano Martins Costa em 14/06/2013 na edição 750

Comentário para o programa radiofônico do Observatório, 14/6/2013

   
De repente, não mais que de repente, o noticiário sobre as manifestações que paralisam grandes cidades brasileiras há uma semana sofre uma reviravolta: agora os jornais começam a enxergar os excessos da polícia e mostrar que no meio da tropa há agentes provocadores e grupos predispostos à violência.

Um dos relatos mais esclarecedores sobre o momento em que a passeata realizada na capital paulista na quinta-feira (13/06) deixou de ser pacífica é feito pelo colunista Elio Gaspari, na Folha de S.Paulo e no Globo (ver "A PM começou a batalha na Maria Antônia"). Ele descreve como uma equipe da tropa de choque se posicionou e agiu deliberadamente para provocar o tumulto.

Há também, na rede social digital, um vídeo mostrando um PM, aparentemente por orientação de um oficial, quebrando o vidro da viatura. A imagem, cuja autenticidade só pode ser confirmada pela própria Polícia Militar, está diponível no Youtube.

No Facebook, registro para a legenda colocada sob cenas dos conflitos, no noticiário da GloboNews durantea noite: “Polícia fecha a Avenida Paulista para evitar que manifestantes fechem a Avenida Paulista”. Nessa linha de raciocínio, pode-se imaginar também a seguinte manchete: “Polícia usa violência para evitar violência de manifestantes”.

Truculência e irresponsabilidade

Foi preciso mais do que evidências para a imprensa cair na real: os repórteres testemunharam dezenas de ações abusivas de policiais, como a retirada e o espancamento de um casal que tomava cerveja num bar, alheio à passeata, ou o lançamento de granadas de gás em meio aos carros travados nos congestionamentos.

Claramente, não se trata de bolsões descontrolados, mas de uma ação organizada dentro da corporação policial, o que mostra o esgarçamento da disciplina e do controle na Polícia Militar. A única possibilidade de desmentir tal observação é a ação imediata do comando, identificando e afastando das ruas os oficiais responsáveis por esses grupos.

A violência gratuita e excessiva ficou registrada nas páginas dos jornais, entre outras razões, porque desta vez houve mais jornalistas entre as vítimas de agressões. Sete deles são repórteres da Folha de S. Paulo. Isso talvez explique a mudança de tom nas reportagens, mas o relato da violência não esgota o assunto, apenas instala algum equilíbrio na visão dos fatos por parte da imprensa.

Para ampliar sua compreensão do que realmente se passa nas ruas da cidade por estes dias, o leitor tem que se valer de outras fontes além dos jornais e do noticiário da TV. Por exemplo, o vereador Ricardo Young, que acompanhou o indiciamento de alguns manifestantes detidos, registrou no Facebook um fato preocupante: policiais fizeram a revista de mochilas e bolsas longe de testemunhas, trocando conteúdos e inserindo em algumas delas materiais estranhos, como pedras e pacotes com maconha. Assessores do vereador denunciam que houve tentativa de “plantar” provas contra alguns dos manifestantes detidos.

É notória a má vontade da polícia, como instituição, contra jovens em geral, talvez ainda um resquício da ideologia de segurança pública que se consolidou durante a ditadura militar e que ainda orienta a formação nas academias. Os indicadores de agressões cometidas por agentes públicos contra homens jovens são um dos aspectos mais evidentes nos estudos sobre a violência nas grandes cidades brasileiras. O encontro dessa mentalidade com a irresponsabilidade de grupos de manifestantes que se julgam autores de uma revolução política pode resultar em tragédia.

Ações ilegais

Se algum fato mais grave vier a ocorrer em futuras manifestações, pode-se contar como grande a probabilidade de haver alguns desses policiais envolvidos. Portanto, a responsabilidade pelo que virá a partir de segunda-feira (17/6), quando nova manifestação está marcada para o Largo da Batata, na zona oeste de São Paulo, tem um peso maior na Secretaria de Segurança Pública.

Isso não quer dizer que a prefeitura e os líderes do Movimento Passe Livre, bem como os dirigentes dos partidos cujas bandeiras são agitadas por alguns ativistas, estejam isentos de arcar com sua parte na tarefa de prevenir o desastre.

A imprensa, que finalmente despertou para o fato de que há vândalos em ambos os lados do conflito, pode ajudar a identificar os comandantes dessas ações ilegais, assim como tem sabido apontar os autores de depredações durante os protestos.

Foi preciso que alguns jornalistas sofressem a violência no próprio corpo para que os jornais se dessem conta de que nem tudo é o que parece.

domingo, 9 de junho de 2013

Megaprojetos na Amazônia ameaçam os povos indígenas isolados


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Fonte da notícia: Cimi - Conselho Indigenista Missinário

A equipe do Conselho Indigenista Missionário – Cimi, de apoio aos povos indígenas isolados, reunida em Manaus nos dias 4 a 7 de junho/2013 fez uma análise dos impactos dos megaprojetos de infraestrutura projetados e em construção na Amazônia sobre esses povos.

Foi constatado que está em curso uma campanha contra os direitos dos povos indígenas veiculada diariamente pelos grandes meios de comunicação para respaldar os interesses dos empresários do agronegócio, latifundiários, mineradoras e a política desenvolvimentista do Governo Federal, caracterizada pelo autoritarismo, pelo uso da violência pelas forças repressivas (dois indígenas assassinados pela PF, um Munduruku/PA em novembro/2012 e outro Terena/MS em maio/2013), pelo desrespeito a Constituição, as convenções internacionais e a legislação ambiental.

Este cenário, que se materializa na Amazônia pelas obras de infraestrutura do Programa de Aceleração do Crescimento - PAC, pelo avanço do desmatamento, do gado, da exploração madeireira, mineral e petrolífera, espalha os conflitos na região e é particularmente trágico para a vida e o futuro dos povos indígenas isolados.

No Maranhão os Awá Guajá tem o seu território sistematicamente invadido por madeireiros que agem impunemente há anos, inclusive em terras indígenas já regularizadas aonde vivem estes indígenas isolados. Este fato foi recentemente denunciado a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA.

Os isolados Avá Canoeiro na Ilha do bananal Tocantins estão ameaçados pelos projetos de monocultura, que retiram água do rio Javaé e Formoso, assoreando e contaminando os rios, pelas invasões de pescadores, e pela projeção de duas estradas que cortarão a ilha ao meio.

As barragens de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira atingem cinco grupos indígenas isolados. A existência desses grupos só foi reconhecida após terem sido concedidas as licenças de instalação das obras. Estes grupos, em busca de um habitat mais seguro, estão se aproximando de fazendas e de aldeias de outros povos indígenas podendo gerar conflitos.

Na bacia do Rio Xingu, 06 grupos indígenas isolados sofrem a influência da barragem de Belo Monte. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos, CIDH, em 29 de julho de 2011, determinou ao Estado brasileiro que adotasse medidas para a proteção da vida, a saúde e a integridade pessoal dos membros das comunidades indígenas em situação de isolamento. Após três anos, praticamente inexistem ações do governo para cumprir a solicitação.

A vida de outros 5 grupos de isolados será ameaçada caso sejam construídas as barragens, atualmente na fase de estudos, da bacia do rio Tapajós.

As empresas petrolíferas ameaçam os povos indígenas isolados no Departamento de Ucayali no lado peruano e no lado brasileiro, na terra indígena Vale do Javari no Amazonas e no Acre.  Na mesma região está em estudo a construção da ferrovia Cruzeiro do Sul-AC/Brasil – Pucalpa/Peru, cujo traçado incide diretamente sobre o território do povo indígena isolado do igarapé Tapada.

Denunciamos à sociedade brasileira que o risco a vida dos povos isolados vem aumentando nos últimos anos e tem-se agravado com a atual política do governo Dilma de imposição de um modelo macro econômico altamente agressivo e depredador.

Manaus, AM, 07 de junho de 2013.

Equipe do Cimi de apoio aos povos indígenas isolados

 http://cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&conteudo_id=6961&action=read&page=34

quinta-feira, 6 de junho de 2013

A nova "guerra justa" aos índios


Conflito

Quando os donos do poder mobilizam as forças armadas para atacar os mais vulneráveis, uma situação de terrorismo de Estado está em curso. É o que acontece hoje no Brasil


por Felipe Milanez , no seu blog - Carta Capital
 

A crise da questão indígena nas últimas semanas ganhou ares dramáticos. Conflitos antigos estão pipocando por todas as partes do Brasil, do Sul à Amazônia. Seja onde se constrói Belo Monte, seja na futura usina São Luiz do Tapajós, seja em fazendas no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul, no Paraná, no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, no Pará, na Bahia, ou madeireiros em Rondônia e no sul do Amazonas.

De repente todo o campo ganhou ares de fronteira, de velho oeste.

Protestos de indígenas são seguidos por pistolagem, e a polícia agindo para "dispersar" convulsões sociais - agora os ruralistas também estão pedindo o exército.

E as tristes mortes de Oziel Terena e Adenilson Kirixi Munduruku, com pífia resposta das autoridades que produziram essas mortes, a Polícia Federal, são apenas a parte mais exposta e visível desse grave problema que o governo tem mostrado não apenas incapacidade de resolver, mas uma capacidade de insuflar ainda mais, como tem sido as declarações dos ministros Gleisi Hoffman (Casa Civil) e José Eduardo Cardozo (Justiça), atacando a Funai e defendendo a PF, e o silêncio público da presidenta Dilma Rousseff.

Uma das razões pelas quais os conflitos se agravaram não é porque eles não existiam, mas porque agora os indígenas, e os aliados dos povos indígenas, decidiram responder e se manifestar. Contra eles, capitaneados pela bancada ruralista no Congresso e no governo federal, a violência explodiu. Tanto no campo, com mortes e repressão física, quanto na imprensa, com ataques racistas pela mídia e a inversão da lógica de quem é vítima.

As vítimas se tornam os agressores. "Índios invadem fazendas", aparece no noticiário. Mas não são as fazendas que invadiram estes mesmos territórios indígenas em conflitos?

No caso da Terra Indígena Buriti, onde ocorreu o conflito entre fazendeiros e Polícia Federal contra os indígenas, a resposta é clara, e está judicializada em dois tipos de ação.

Em uma das ações na Justiça, os fazendeiros, entre eles do ex-deputado estadual do PSDB Ricardo Bacha (que se considera "ambulante" na sua ficha), discute a portaria declaratória. Nela, o desembargador Luiz Stefanini, que votou contra os índios, teve suspeição alegada pela Funai, e negada pelo próprio tribunal.

A razão é que sua mulher é credora da Funai em outro conflito com indígenas Terena no estado, e seu sogro era uma liderança da associação de classe dos fazendeiros, a Famasul.

A suspeição foi negada com a alegação de que "ainda que o falecido sogro do excepto tenha sido filiado à aludida federação, nem por isso seria caso de acolher-se a exceção, simplesmente porque da premissa estabelecida pela excipiente não resulta a conclusão exposta" (sic), e que a Funai é que deve a esposa do desembargador, logo: "Ora, qual seria o interesse do juiz em julgar a causa em detrimento de sua devedora? Absolutamente nenhum!", decidiu o desembargador Nelton dos Santos.

Agressão desmedida da PF

A outra ação decorrente desse mesmo conflito é a reintegração de posse que visa a tirar os indígenas das áreas reocupadas dentro do limite declarado com base no argumento de que a decisão do Tribunal Federal diz que não é terra indígena e que por isso os indígenas não podem ficar lá. Acontece que, no momento que a decisão liminar que determinou a expulsão dos índios foi expedida, ocasionando a morte de Oziel, o que prevalecia era a área declarada pelo Ministro da Justiça em 2009 como TI Buriti, com 17200 hectares. A agressão desmedida da Polícia Federal apenas reforça o argumento de que as vítimas desse processo de expropriação, os índios, se tornaram vítimas da justiça e do governo. E os agressores viram falsas vítimas, passando a controlar o acesso as instituições em seu benefício.

No caso das demarcações, governo tem agido em movimentos coordenados pela elite rural anti-indígena, como foi a ida da ministra Gleisi Hoffmann ao Congresso. Nos últimos dias, os piores momentos da ditadura estão sendo lembrados, tanto por declarações do governo, capitaneadas pela ministra da Casa Civil - que vê a Embrapa, especializada em pesquisa agropecuária, como o órgão mais apto a pesquisas antropológicas – quanto por cartas de intelectuais e movimentos sociais denunciando essa violência.

Exemplo dessas manifestações é uma carta, assinada entre outros pelo jurista Dalmo Dallari, endereçada à presidenta Dilma Rousseff sobre a “desqualificação da Funai”:

"A decisão da Casa Civil da Presidência da República apresentada aos representantes do agronegócio e parlamentares do Mato Grosso do Sul, em reunião na semana passada em Brasília, de que a Embrapa, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ministério do Desenvolvimento Agrário, “avaliarão e darão contribuições” aos estudos antropológicos realizados pela FUNAI, repete a ação do último governo militar ao instituir o famigerado “grupão” do MIRAD, capitaneado pelo general Venturini, para “disciplinar” a FUNAI e “avaliar” as demandas indígenas.

Quando os donos do poder mobilizam as forças armadas para atacar os mais vulneráveis, uma situação de terrorismo de Estado está em curso. É o que acontece hoje no Brasil com relação aos índios.

Utilizar as forças de repressão para atacar indígenas foi medida utilizada no passado, durante a ditadura, contra os ava-canoeiro, em Goiás, os waimiri-atroari, no Amazonas, os panara, no Mato Grosso, ou mesmo os kaingang, em São Paulo, logo antes do surgimento do Serviço de Proteção aos Índios, em 1910. Alguns desses crimes apareceram no relatório Figueiredo, que ficou desaparecido por 45 anos. Mas o relatório é anterior aos piores tempos da ditadura. E precisaria ser escrito um novo relatório sobre o que está acontecendo, hoje, em diferentes os cantos do país.

Se os ruralistas dão entrevistas, escrevem artigos, e aparecem por todos os lados sempre disponíveis, os índios ainda não têm chance de se expressar. A eles têm restado as redes sociais, pelas quais podem manifestar suas indignações. Expor, por exemplo, a crueldade de uma jornalista da TV Globo que invadiu um funeral para entregar uma intimação judicial a índios terenas durante o enterro de Oziel Terena. O que mais tem circulado nas redes sociais são manifestos que não encontram eco na mesma mídia que ataca os índios - mas que encontra meios de se fazer circular e provocar o debate.

As críticas se dirigem aos ruralistas, e junto deles, Gleisi e Dilma: "Como essa senhora consegue dormir sabendo que a parte mais desprotegida do povo brasileiro, os povos indígenas, está sendo assassinada a bala pela Polícia Federal em suas aldeias, as crianças indígenas são assassinadas por jagunços do agronegócio em suas terras invadidas por supostos fazendeiros?" perguntou no facebook o indigenista da Funai, Cláudio Romero, que trabalha há quase quatro décadas na fundação.

Kátia Abreu e Dilma

Durante o julgamento do caso da Raposa Serra do Sol, havia sido exposto que o juiz Carlos Alberto Menezes Direito poderia ter servido ao lobby de fazendeiros do sul do país para decidir contrariamente aos indígenas em Roraima. Para garantir a demarcação no Norte, Direito tentou legislar para impedir que os direitos de outros fossem garantidos. Tentou escolher na cara de quem a porta da Justiça iria se fechar.

Passou a soar uníssono entre ruralistas, governo e imprensa que as "regras não são claras" na Funai, como se todos fossem comentaristas de futebol tentando encontrar uma "a regra é clara".

Alegavam que a Funai não conseguia fazer uma "intermediação" com fazendeiros, e mais uma série de argumentos retóricos reproduzindo uma falsa vitimização da casa grande, cada vez mais poderosa com o avanço tecnológico na agricultura e a sede por commodities da China, e criminalizando quem está no pelourinho.

A desconstrução dos direitos indígenas segue a destruição dos direitos do meio ambiente, com o fim do Código Florestal e a sua substituição por um "novo" codex, a regular menos as florestas e mais as lavouras produtoras de commodities em grande escala.

O governo, em alguns momentos, tenta se colocar como "refém" dos poderosos ruralistas. Esse segmento, que construiu uma aliança com a bancada evangélica, saiu da "oposição" e veio para a "base aliada", sobretudo durante a campanha de Dilma.

E para ter uma chamada "governabilidade", o governo se aliou a esses setores. Até "ideologicamente", como tem repetido a senadora Kátia Abreu ao dizer que suas idéias são as mesmas de Dilma.

Essa aliança, além de tragédia no campo, tem também acirrado disputas internas no governo, entre esta ala reacionária e os setores mais progressistas, como os que defendem os indígenas e quilombolas, na Funai e INCRA, e o meio ambiente no Ibama.

Quando Dilma convocou uma reunião para decidir o futuro dos índios em meio à atual crise, não convidou representantes dos povos indígenas, e nem mesmo a Funai.

Dilma teria declarado querer que o índio tenha "autonomia econômica", algo que ressoa declarações da época da ditadura, como quando os militares tentaram impor aos xavantes o cultivo de arroz, que se revelou um desastre, econômico e social, ou impôs aos kayapo a extração predatória de madeira. Nas declarações que sucederam a reunião, não se falou de algo mais fundamental: a garantia dos direitos dos povos indígenas. Nem sequer apareceu termos como "etnodesenvolvimento" nas falas.

Esse movimento anti-indígena cada vez mais ganha áreas de uma "guerra justa".

Os índios são selvagenizados, desculturalizados, desterritorializados, desumanizados. Devem abrir caminho para a soja, a cana, o boi, e a energia hidrelétrica, sem opor resistência.

Caso contrário, toda violência contra eles é justificada e respaldada pelo Estado. Contra o índio, é tolerado partir para cima. Como nas "guerras justas" nos tempos a colonização utilizadas como justificativa para a escravização dos índios – escravização que ainda é o provável destino dos índios nas lavouras de cana no Mato Grosso do Sul, como acontecia no Brasil colônia.

Fonte: http://www.cartacapital.com.br/blogs/blog-do-milanez/a-nova-guerra-justa-aos-indios-8151.html

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Delegado da PF responderá a inquérito por apreender equipamentos de jornalista



Durante ação de desocupação de indígenas Terena, delegado Alcídio de Souza Araújo apreende computador e gravador de jornalista. Entidades de classe repudiam ação

Por Daniel Santini e Verena Glass | Repórter Brasil
 
O delegado Alcídio de Souza Araújo, da Superintendência da Polícia Federal de Mato Grosso do Sul, responderá a inquérito interno pela apreensão irregular de equipamentos do jornalista Ruy Sposati no sábado, dia 18, durante ação de desocupação de indígenas Terena em uma fazenda em Sidrolândia, no Mato Grosso do Sul. Sem apresentar ordem judicial ou dar explicações, o policial determinou a apreensão de um computador, um gravador e lentes para câmara fotográfica, todos retirados da mochila do profissional. O jornalista fazia a cobertura para a página do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), organização que acompanha questões indígenas.

A Repórter Brasil tentou ouvir o delegado, mas ele informou que não poderia dar entrevistas sem autorização do superintendente Edgar Paulo Marcon.  O superintendente, por sua vez, por meio da assessoria de imprensa, informou que ele responde a inquérito sobre o caso e não está autorizado a se pronunciar enquanto não apresentar relatório justificando o procedimento.

A apreensão foi registrada em vídeo: veja no link,  final do texto


Além de responder a inquérito na Polícia Federal, o delegado pode ter problemas em outras esferas. De acordo com o advogado do Cimi, Adelar Cupsinski, a entidade está entrando com representações contra Araújo no Ministério da Justiça, no Ministério Publico Federal (MPF) e na Ouvidoria da Polícia Federal. “As representações são por abuso de autoridade, uma vez que o delegado não tinha ordem de busca e apreensão e feriu explicitamente o direito constitucional do exercício de profissão do jornalista Ruy. Mas também estamos pedindo a abertura de investigações criminais, uma vez que a retenção ilegal do equipamento do repórter pode configurar vários outros crimes previstos no código penal. Num segundo momento, entraremos também com um processo por danos morais e materiais”, afirma Cupsinski. Clique aqui para ler a representação do Cimi.

No MPF, quem acompanha a questão envolvendo os Terena é o procurador Emerson Kalif Siqueira. A reportagem tentou contato nesta segunda-feira, 20, sem sucesso.

Direito à informação
A apreensão de equipamentos do jornalista também provocou reações entre organizações que defendem o trabalho da imprensa. A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Mato Grosso do Sul acompanham a questão. O presidente da Fenaj, Celso Schröder, vê com preocupação ações contra jornalistas não só no Estado, mas em todo o país.

“Pessoas incomodadas com atividade jornalística movem-se no sentido de inibi-la, impedi-la. Essas ações têm elementos cerceadores e acontecem em vários níveis no Estado Brasileiro. No Judiciário, jornalistas enfrentam ações para tirar blogs do ar sem praticamente nenhuma possibilidade de defesa. No Executivo, há ações de agentes de estado como polícias federais e policiais militares. Em alguns casos existe uma incompreensão, uma confusão; em outros há má fé. É uma vertente com viés autoritário”, afirma.

“A ideia de impedir que a informação circule a partir de uma ação de autoridade é perigosa e precisamos reagir a isso. No Brasil está aumentando o número de morte e violência contra jornalistas. E, enquanto em outros países a violência está relacionada à cobertura de guerra ou policial, no Brasil ela aparece na área política. Quando o trabalho do jornalista é considerado impertinente, a autoridade o inibe. Isso é uma ameaça ao Estado de Direito. Se olharmos países como México, Colômbia e Honduras, estados paralelos se estabeleceram a partir da impressão que a imprensa precisava ser calada, que aquilo que se produzia não era do interesse de determinados setores”, completa, para finalizar:

“Não combatemos mau jornalismo com não jornalismo. Bom jornalismo é aquele livre. Tem que ser regrado, submetido a princípios republicanos, legais, porque ninguém está acima da lei, mas em que os jornalistas tenham liberdade para trabalhar”.

Entenda o caso

A operação em que o jornalista teve equipamentos apreendidos aconteceu na Fazenda Buriti, em Sidrolândia (MS), a cerca de 70 km de Campo Grande (MS). Conforme determinação judicial,  600 famílias Terena devem ser retiradas do local. Além da Polícia Federal, também foram destacadas para ação a Tropa de Choque da Companhia Independente de Gerenciamento de Crises (Cigcoe) e a Polícia Rodoviária Militar

Os indígenas alegam que a área faz parte da Terra Indígena Buriti, declarada em 2010 como de ocupação tradicional pelo Ministério da Justiça. Em nota sobre a reintegração em si, a assessoria de imprensa da Polícia Federal reitera a necessidade de cumprir a determinação judicial, e alega que o Cimi prejudicou as negociações. “As diversas reuniões ocorridas com lideranças indígenas em busca da solução pacífica da crise não chegaram ao resultado esperado, especialmente em razão da presença de indivíduos estranhos  à comunidade indígena, que se apresentaram como sendo representantes do CIMI e da COPAI/OAB/MS [Comissão Permanente de Assuntos Indígenas da Ordem dos Advogados do Brasil / Mato Grosso do Sul], apontados pelos próprios indígenas como os motivadores do agravamento da ocupação e os estimuladores da desobediência à ordem judicial vigente”, diz o texto. Leia na íntegra.

Não é a primeira vez que o delegado Alcídio comanda uma operação contra indígenas Terena. Em 2010, em Miranda (MS), ele esteve à frente da negociação frustrada de desocupação, que resultou em uma ação violenta com uso de bombas de efeito moral e disparo de balas de borracha. O episódio também foi registrado em vídeo, confira:

Fonte: Repórter Brasil. Veja os vídeos no link.

http://reporterbrasil.org.br/2013/05/delegado-da-pf-respondera-a-inquerito-por-apreender-equipamentos-de-jornalista/

Leia também: http://www.brasileducom.blogspot.com.br/2013/05/governo-contra-os-indios.html:

terça-feira, 21 de maio de 2013

Governo contra os índios

Dalmo de Abreu Dallari*

Uma vez mais – e agora com a colaboração ativa de setores do governo federal – está em curso uma tentativa de negar cumprimento às determinações constitucionais de reconhecimento e proteção dos direitos das comunidades indígenas sobre as terras que tradicionalmente ocupam, para entregar essas terras aos investidores do agronegócio. O dado novo é que a iniciativa ostensiva da nova investida contra os direitos indígenas vem da cúpula do governo federal, que é justamente o principal responsável pela defesa desses direitos, por expressa e muito clara determinação constitucional. É oportuno lembrar que a última tentativa de retirada da proteção desses direitos foi feita por meio de uma proposta de emenda constitucional, a PEC 215, de autoria de um deputado do estado de Roraima, que, absurdamente, pretendia transferir para o Legislativo a tarefa, essencialmente administrativa, de demarcação das áreas indígenas. Essa tentativa não prosperou, por sua evidente inconstitucionalidade e pelo reconhecimento da absoluta impossibilidade prática de incumbir o Legislativo de realizar tarefas para cuja execução ele não tem qualquer preparo nem as mínimas condições práticas.  A denúncia desse absurdo criou um obstáculo para o avanço daquela proposta.

Agora a investida dos interesses do agronegócio sobre as terras indígenas vem, surpreendentemente, da cúpula do Poder Executivo federal. Quem aparece como propositora de um novo tratamento da questão da identificação e demarcação das terras indígenas pelo governo federal é a ministra-chefe da Casa Civil, Gleise Hoffmann, que não tem a mínima familiaridade com o assunto, jamais tendo participado de qualquer atividade com ele relacionado. É também oportuno e necessário lembrar que já existe, na estrutura do governo federal um órgão especializado nas questões indígenas, que é a Funai (Fundação Nacional do Índio), criada pela Lei federal nº 5.371, de 5 de dezembro de 1967, em substituição ao antigo Serviço de Proteção ao Índio (SPI), que existia desde 1910. Por seu objetivo específico a Funai vem acumulando conhecimentos e experiências no trato das questões indígenas. O que tem sido denunciado há vários anos, sem qualquer efeito prático, é que, certamente por influência de poderosos interesses econômicos e, em decorrência, de poderes políticos, a Funai não tem recebido o apoio necessário para o melhor desempenho de suas tarefas, entre as quais se inclui a demarcação das áreas indígenas, intensamente cobiçadas por investidores do setor agrícola.

É pública e notória a interferência do agronegócio nessa área, já tendo sido objeto de informações pormenorizadas e de muitos comentários a atuação da senadora Kátia Abreu, cuja família é ocupante de grandes áreas rurais no estado de Tocantins e que acumula, ilegalmente, o desempenho do mandato de senadora com o exercício da presidência da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, dando indisfarçável preferência aos interesses dessa área quando eles se opõem aos interesses de todo o povo brasileiro, como ficou evidente na discussão da alteração do Código Florestal, ou a interesses de setores sociais especialmente protegidos pela Constituição, como é o caso das comunidades indígenas. Inúmeras vezes tem sido alegada a insuficiência dos meios de que dispõe a Funai para o cumprimento, pelo governo federal, da obrigação constitucional de demarcação das terras indígenas, estabelecida no artigo 231 da Constituição de 1988. O que se tem deixado muito evidente é que há anos não são dados à Funai os recursos de que ela necessita, ficando muito claro o propósito de utilizar a inoperância da Funai como pretexto para transferir a outros setores do governo (ou de fora do governo, como se viu pela PEC 215) a tarefa de reconhecimento e demarcação das áreas indígenas, com o indisfarçável objetivo de redução substancial da extensão dessas áreas.

Pela proposta agora encampada pela ministra-chefe da Casa Civil, no processo de identificação e demarcação das terras indígenas deverão ser considerados, com especial atenção, dados do Ministério da Agricultura e do Ministério das Cidades, parecendo haver a intenção de colocar em plano secundário a Funai, que se limitaria a fornecer laudos antropológicos. Um ponto que causou estranheza foi o deslocamento do assunto da área do Ministério da Justiça, ao qual a Funai está vinculada, para a Casa Civil. Nada impede que outros órgãos do governo federal sejam consultados e forneçam informações à Funai, mas esta, por sua natureza, por sua organização e pela experiência acumulada, é que deve ter a principal responsabilidade no cumprimento do encargo de dar efetividade a essa obrigação constitucional do governo da República. Espera-se que o ministro da Justiça tome conhecimento das intenções da Casa Civil e que use sua influência para que a Funai receba mais recursos e, com a colaboração de outros setores do governo, acelere o processo de demarcação das áreas indígenas.

*Dalmo de Abreu Dallari é jurista. - dallari@noos.fr
Fonte: Jornal do Brasil online
http://www.jb.com.br/sociedade-aberta/noticias/2013/05/10/governo-contra-os-indios/

Leia também :
http://www.unmultimedia.org/radio/portuguese/2013/05/comeca-o-forum-permanente-da-onu-sobre-questoes-indigenas/

Veja o vídeo da violência do Estado... 

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Justiça absolve mandante do crime


por Marcelo Brandão, da Agência Brasil

Brasília – Terminou na noite desta quinta-feira (4) o julgamento dos três acusados de assassinar o casal de trabalhadores rurais José Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo. Lindonjonson Silva Rocha e Alberto Lopes do Nascimento foram considerados culpados pelos jurados. Lindonjonson foi condenado a 42 anos e oito meses de prisão. Já Alberto a 45 anos de prisão. Sua pena foi maior devido ao entendimento dos jurados de que ele foi o responsável por cortar a orelha de José Cláudio. José Rodrigues Moreira, acusado de planejar, financiar e organizar os assassinatos, foi inocentado.

Ana Maria Magalhães de Carvalho, promotora no caso, afirmou que já recorreu da decisão favorável a José Rodrigues. Segundo ela, as provas contra ele são suficientes para uma condenação. “Várias testemunhas mostraram que ele perdeu 100 mil reais porque queria expulsar posseiros da terra, de uma área grilada, que ele comprou de uma forma ilegal.”

Segundo Ana Maria, José Rodrigues tinha comprado a terra de uns grileiros e, no entanto, lá havia trabalhadores rurais, colocados justamente pelo casal de extrativistas. Os dois eram líderes na região. Rodrigues, conforme disse a promotora, tentou a todo custo expulsar os posseiros que estavam na área e, como não conseguiu, decidiu matar os dois. De acordo com Ana Maria, a defesa também recorreu da decisão, em virtude da condenação dos outros dois réus.

Os jurados se reuniram por volta das 16h para decidir pela culpa ou inocência dos réus. No total, foram ouvidas 16 testemunhas, entre defesa e acusação, além dos próprios acusados. Algumas testemunhas foram dispensadas.

O segundo dia de julgamento teve início às 8h30. Ainda pela manhã, defesa e acusação tiveram duas horas e 30 minutos para expor suas argumentações. De acordo com a assessoria do Tribunal de Justiça do Pará (TJPA), o motivo do crime foi uma disputa por terra, de propriedade de José Rodrigues. Ainda conforme o TJPA, o processo informa que José Cláudio e Maria foram mortos a tiros quando atravessavam uma ponte de moto.

José Cláudio e Maria foram assassinados a tiros em maio de 2011 em um assentamento em Nova Ipixuna, no sudeste do Pará. Os dois denunciavam a extração ilegal de madeira na região em que viviam e afirmavam receber constantes ameaças de morte.

O julgamento durou dois dias e foi acompanhado de perto por cerca de 500 militantes de organizações sociais como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT), que montaram um acampamento em frente ao fórum.

A ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, já havia pedido “punição firme e efetiva” aos acusados.

 Fonte: site Envolverde

 Publicado originalmente no site Agência Brasil.

domingo, 22 de julho de 2012

“O CAVALEIRO DAS TREVAS”

Por Laerte Braga*



James Holmes, um jovem, invadiu quatro salas de projeções num cinema numa cidade do estado do Colorado e munido de uma espingarda, um fuzil e uma pistola “Glock”, disparou a esmo matando pelo menos 12 pessoas e ferindo perto de 60, algumas das quais em estado grave. 

O presidente Barack Obama, pela enésima vez diante de tragédias assim reuniu a mídia e disse que lamentava pelos mortos e feridos, apresentou seus pêsames à família, pediu a proteção divina e disse que “nós nunca vamos entender isso”.

Milt Romney, candidato republicano às eleições de novembro, tanto quanto Obama, disse mais ou menos a mesma coisa e ambos fizeram caras de compungidos diante da dor de familiares das vítimas. Os candidatos suspenderam os anúncios de suas campanhas no estado.

As quatro salas exibiam o filme BATMAN, O CAVALEIRO DAS TREVAS.

O fato aconteceu em Aurora e o chefe de Polícia da cidade disse que na casa do atirador foram encontradas armadilhas, dispositivos químicos e inflamáveis. O acusado vestia uma armadura de aço, dos pés à cabeça e proteção contra bombas de gás lacrimogêneo.    

No início desta semana um pai foi visitar o filho, irritou-se com o fato dele estar cantando músicas countries num karaokê, foi até o seu carro, muniu-se de uma pistola e atirou no filho. William Henry Oller Sr, de 70 anos é o nome do pai, o fato aconteceu em Shasta na Califórnia.

É claro que Obama entende os motivos que geram tragédias como essa aos borbotões nos EUA. Milt Romney, por outro lado, nem está aí para esse tipo de acontecimento. Quer saber se tem alguém ao alcance para demitir e que possa gerar mais recursos em suas contas bancárias nas Ilhas Cayman.

Jung em seu “CHEGANDO AO INCONSCIENTE” (O HOMEM E SEUS SÍMBOLOS, Ed. Nova Fronteira, 2002) ao falar dos sonhos diz o seguinte – “quanto mais a consciência for influenciada por preconceitos, erros, fantasias e anseios infantis, mais se dilata a fenda já existente, até chegar-se a uma dissociação neurótica e a uma vida mais ou menos artificial, em tudo distanciada dos instintos normais, da natureza e da verdade”.

O conceito de nação pressupõe povo, língua comum, tradições e território, embora hoje sejam reconhecidas como nações povos que tem língua, costumes e tradições comuns, caso dos ciganos, dos próprios judeus antes de Israel e agora dos palestinos, depois de Israel. O território não se torna fator imprescindível.

Em boa parte dos casos se torna anseio.

Num dos mais importantes livros sobre a sociedade contemporânea o francês Guy Débord, afirma o seguinte – “a classe ideológica totalitária no poder, é o poder de um mundo invertido: quanto mais forte ela é, mais afirma que não existe, e sua força serve-lhe em primeiro lugar para afirmar sua existência. É modesta apenas nesse ponto, pois sua inexistência oficial também deve coincidir com o nex plus ultra do desenvolvimento histórico, que ao mesmo tempo seria devido a seu infalível comando. Espalhada por toda parte, a burocracia deve ser a parte invisível à consciência de modo que toda a vida social se torna demente. A organização social da mentira absoluta decorre dessa contradição fundamental” (DÉDORD, Guy, a SOCIEDADE DO ESPETÁCULO, Ed. Contraponto, 1997, 2ª impressão).

É possível comprar uma Glock em qualquer casa de armas em qualquer cidade dos Estados Unidos. Basta uma entidade e uma certidão negativa de crimes e pronto. Sem falar no comércio clandestino. Cada militar que participa de missões de guerra tem o direito de levar sua arma pessoal quando passa à reserva, ou dá baixa.

É fabricada por uma empresa austríaca, tem três travas de segurança, é leve em relação a outras e privativa de forças militares e policiais. A maior parte das polícias do mundo usa a Glock.

Quando num dos filmes do Superman o ator abre mão de seus poderes e liga-se a Lois Lane, a ameaça de uma catástrofe o traz de volta à sua mansão num dos pólos da Terra onde ludibria seus algozes. Salva a humanidade, é obrigado a fazer com Lois Lane esqueça o que aconteceu e se veja novamente de posse de sua eterna virgindade.

Os roteiristas do filme sabiam que o público reagiria a um Superman vivendo nos subúrbios de New York ou qualquer cidade dos EUA, aparando grama, ajudando Lois em suas matérias jornalísticas, enquanto o mundo capitalista estivesse enfrentando riscos permanentes.

O criador do super herói, na última edição da revista, renegou toda a ação do Superman e se declarou indignado com seu país.

No Brasil o máximo que conseguimos foi Jerônimo o Herói do Sertão e hoje o Saci foi substituído pela cabeça de abóbora do Haloween. Numa concessão de Walt Disney, tudo para levar o País a entrar na 2ª Grande Guerra, foi criado o personagem Zé Carioca, um papagaio esperto e safo, que se bem todas, mas não vai a lugar nenhum.

Essa cultura da barbárie é exportada por essa corporação invisível, mas material e presente em cada canto do mundo. Quem disse que os EUA são ainda uma nação?

Desde os tempos de Ronald Reagan todo um delicado processo de transformação vem sendo construído e George Bush - o filho – exatamente por ser um “moita”, deu foros definitivos à corporação. Os controladores são grupos sionistas e essa sociedade “demente” é produto disso”.

ISRAEL/EUA TERRORISMO HUMANITÁRIO S/A.

As mesmas empresas que receberam contratos de terceirização do governo dos EUA para recrutar, treinar e armar mercenários na guerra contra a Líbia, apoiados por bombardeios criminosos da OTAN – ORGANIZAÇÃO DO TRATADO ATLÂNTICO NORTE – atuam na Síria, recebem contratos de reconstrução dos países destruídos e começam a ocupar o Paraguai. São donas da Colômbia.

No filme, normal, típico filme de ação, CONSPIRAÇÃO, o ator Val Kilmer interpreta um ex-fuzileiro que vai a busca de um amigo mexicano numa cidade distante e lá percebe que o companheiro de tropa fora assassinado pelo grande empresário que fornece armas e equipamentos para a destruição de outros países e depois assume os contratos de reconstrução.

O “chefão”, cercado do aparato policial, fala com freqüência em patriotismo, em sociedade americana recuperando seus valores, sem “mestiços”. Mas explora a mão obra barata dos mexicanos, humilha-os e quando necessário mata. Para dar mais explosão ao filme, o personagem de Val Kilmer não tem uma parte da perna, perdeu-a em combate. No filme, o “mocinho” derrota a todos e ainda termina com a mocinha.

Já noutro filme, esse magistral, de Orson Welles, O PROCESSO, a obra de Franz Kafka, o personagem em busca de justiça abre uma porta e entra numa sala da justiça onde perto de duas mil máquinas de escrever batucam sem parar processos que nunca vão chegar a um fim.

James Holmes é produto desse meio demente que se espalha por todo o mundo. Como os traficantes que assumiram o poder no Paraguai com a contribuição da brasileira – conselheira de imigrantes - Marilene Sguarizi e o apoio disfarçado, invisível do governo brasileiro na omissão e cumplicidade, no cinismo de falar o contrário. Prática dos dois últimos governos, ligar a seta para um lado e virar para outro.

Trecho da carta de Marilene escrita aos brasileiros que moram no Paraguai:

A presidente Dilma se dirige a comunidade Brasileira no Paraguay através de minha pessoa a fim de transmitir "os bons ofícios do governo brasileiro para dar tranqüilidade no sentido de que não haverá travas comercias e econômicas entre o Brasil e Paraguay. O governo brasileiro fará todos os esforços para que os ´´Brasiguaios`` tenham a tranqüilidade te continuar trabalhando e de que não terão prejuízos de nenhuma índole na situação política atual do Paraguai. A mensagem dirigida aos senhores/as segue dizendo que a confiança entre os dois povos não foi alterada, da mesma forma que o novo governo do Paraguai é reconhecido pela sua legitimidade"

É a tal força invisível. É o que Débord chama de SOCIEDADE DO ESPETÁCULO, é a barbárie numa Glock, na mídia de mercado a serviço das elites, e na compensação idílica do personagem do filme a A CONSPIRAÇÃO, sobre patriotismo.

Segundo o inglês Samuel Johnson, “o último refúgio dos canalhas”. Ou seja, Obama sabe e não quer saber e Milt Romney não quer ter a menor idéia, enquanto os negros em Israel são deportados como eram os judeus nos campos de concentração de Hitler.

O filme é o mesmo, mudaram os figurantes, o tempo e se acrescentou à violência algo em torno de cinco mil ogivas nucleares capazes de destruir o planeta cem vezes se necessário for.

Sai a suástica, entra a águia e a estrela de David. Já o HSBC lava o dinheiro dessa gente. E o dístico in God we trust

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Direitos humanos com agenda ampliada



por Marcela Valente, da IPS
64 Direitos humanos com agenda ampliadaBuenos Aires, Argentina, 6/12/2011 – Apesar de o imaginário social se vincular com a resistência às ditaduras das décadas de 1970 e 1980, as organizações de direitos humanos latino-americanas há muito tempo expandiram suas preocupações, para atender assuntos como os ambientais e a violência contra mulheres, aborígines e imigrantes. Os conflitos socioambientais pelo acesso à terra e aos recursos naturais, que são gerados em torno de indústrias extrativistas contaminantes ou de projetos de expansão agrícola à custa das florestas, agora estão entre as prioridades dos ativistas.
Também se destacam na agenda dos líderes humanitários as violações dos direitos dos povos originarios, a violência e os abusos contra mulheres, os direitos trabalhistas, dos imigrantes e das minorias sexuais. “Os temas principais da nova agenda derivam da tensão entre o desenvolvimento econômico que avança sobre o meio ambiente e os direitos humanos”, disse à IPS o diretor-executivo do Centro de Estudos Legais e Sociais (Cels), Gastón Chillier.
A direção deste organismo não governamental especializado inaugurou ontem o “Encontro de Defensoras e Defensores dos Direitos Humanos na América Latina”, com participação de mais de 70 representantes de organizações humanitárias de 14 países da região convocados pelo Cels. O objetivo do encontro é analisar os novos temas, identificar outros atores que violam os direitos humanos, citar os desafios que enfrentam muitos de seus líderes ameaçados (inclusive alguns foram assassinados por causa de suas denúncias) e avaliar diferentes mecanismos de proteção em nível local, nacional ou regional.
“Hoje, não só o Estado viola os direitos humanos, como também empresas, agências paraestatais e membros do crime organizado”, disse Chillier, lembrando diversos casos de ativistas assassinados ultimamente na Argentina e no restante da América Latina. Tradicionalmente, o Cels e outras organizações similares na América Latina surgiram no calor dos regimes autoritários dos anos 1970 e 1980, que deixaram o saldo de milhares de desaparecidos, mortos, torturados e perseguidos em cada país.
As entidades, algumas formadas por familiares de vítimas das ditaduras, outras por dirigentes políticos e advogados, denunciavam as violações e exigiam justiça. E na medida em que os países se democratizaram ampliaram os temas para violência policial e torturas nas prisões. Nos últimos anos, os assuntos ultrapassaram a temática político-institucional para avançar em conflitos econômicos e sociais crescentes, nos quais o Estado não é necessariamente o ator principal nas violações dos direitos humanos.
Na Argentina, cada vez há mais conflitos envolvendo povos originários e camponeses sem terra na defesa de parcelas de uso comunitário e contra o avanço da fronteira agropecuária, como se chamam os desmontes para plantar produtos de exportações como a soja. O mesmo ocorre em outros países da região frente a diversas indústrias.
Em conversa com a IPS a brasileira Andrea Caldas, da organização Justiça Global, contou como a entidade que integra foi incluindo os novos temas. No começo abordava assuntos de violência institucional, prisões e acesso à justiça. Com sede no Rio de Janeiro, a organização também documenta casos de violações de direitos econômicos, sociais e culturais causadas por multinacionais vinculadas à mineração ou à construção de grandes represas, que afetam as comunidades mais pobres e vulneráveis.
“O Brasil avança em um projeto de desenvolvimento baseado em megaobras de infraestrutura e na promoção de grandes corporações, como, por exemplo, a siderúrgica Vale, a maior do setor”, disse Andrea. Também assegurou que a Justiça Global comprovou violações dos direitos ao território, ao meio ambiente e à saúde de duas comunidades do Maranhão, rodeadas por siderúrgicas da Vale que, assegura, contaminam os cursos d’água.
Diante dessas denúncias, os defensores correm riscos crescentes. No painel de debate, o brasileiro Edmundo Rodrigues Costa, da Comissão Pastoral da Terra, denunciou que 1.855 defensores de direitos humanos foram ameaçados na última década por conflitos pela posse da terra, e 42 deles foram assassinados. “Não há segurança para os defensores. A impunidade prevalece, por isso as grandes empresas mineradoras e agrícolas exportadoras agem como querem nos territórios, diretamente matando pessoas por meio da contratação de pistoleiros e guardas particulares”, denunciou Costa.
Ele também recordou o caso da freira norte-americana Dorothy Stang, morta em 2005 no Pará, após denunciar o avanço do desmatamento por fazendeiros sobre comunidades de camponeses sem terra. Costa citou, ainda, o caso mais recente do casal de defensores assassinado em maio deste ano por suas denúncias contra a extração ilegal de madeira no norte do país. José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo foram mortos a tiros.
Consultado pela IPS, o peruano Francisco Soberón, da Associação Pró-Direitos Humanos, também se referiu aos conflitos socioambientais pela mineração a céu aberto, que afetam o solo e os cursos de água. “Há múltiplos conflitos por petróleo, mineração, gás, madeira. O extrativismo e os conflitos sociais que geram é um tema fundamental da nova agenda dos direitos humanos”, destacou. Soberón disse que no parlamento peruano há um projeto de legisladores direitistas para dar às forças armadas o controle da ordem interna, uma iniciativa que, esperam, não prospere.
Presentes ao encontro também estavam ativistas que defendem os direitos humanos das mulheres. Carmen Herrera, da Advogados e Advogadas pela Justiça e pelos Direitos Humanos no México, contou à IPS seus novos desafios. “O novo desafio é tornar visível a dupla discriminação que sofrem as indígenas. Estamos denunciando que os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (fixados pelos governos em 2000 na Organização das Nações Unidas) jamais são cumpridos entre os indígenas e isto parece normal”, afirmou.
Por sua vez, Andrea Medina, da Rede Mesa de Mulheres de Ciudad Juárez, afirmou à IPS que as dez organizações que formam a rede não só denunciam a brutal violência contra as mulheres nessa cidade do norte mexicano, como as defensoras também as sofrem. “Há um ano, assassinaram Marisel Escobedo, mãe de uma desaparecida, e há alguns dias Norma Andrade, mãe de outra jovem assassinada, sofreu um atentado a tiros e está em condições críticas no hospital”, denunciou.
Esses casos revelam que não só persiste a impunidade sobre estes crimes como existe “uma cultura de discriminação que mantém a violência contra as mulheres”, disse Norma. “Hoje as pessoas mais ameaçadas no México são aquelas que denunciam as violações dos direitos humanos cometidas contra mulheres”, assegurou.

 Fonte: Envolverde/IPS

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Nota pública dos presos políticos da USP

Reafirmamos nossa luta contra a polícia, dentro e fora da universidade, que reprime a população pobre e trabalhadora todos os dias 
08/11/2011
Ocupa USP   

Nós, estudantes da USP, que lutamos contra a polícia na universidade e pela retirada dos processos administrativos contra estudantes e trabalhadores, viemos por meio desta nota pública, denunciar a ação da tropa de choque e da polícia militar na madrugada do dia 8/11.
Numa enorme demonstração de intransigência em meio ao período de negociação e na calada da noite, a reitoria foi responsável pela ação da tropa de choque da PM que militarizou a universidade numa repressão sem precedentes. Num operativo com 400 homens, cavalaria, helicópteros, carros especializados e fechamento do Portão 1 instalou-se um clima de terror, que lembrou os tempos mais sombrios da ditadura militar em nosso país.
Resistimos e nos obrigaram a entrar em salas escuras, agrediram estudantes, filmaram e fotografaram nossos rostos (homens sem farda nem identificação). Levaram todas as mulheres (24) para uma sala fechada, obrigando-as a sentarem no chão e ficarem rodeadas por policiais homens com cacetetes nas mãos. Levaram uma das estudantes para a sala ao lado, que gritou durante trinta minutos, levando-nos ao desespero ao ouvir gritos como o das torturas que ainda seguem impunes em nosso país. Tudo isso demonstra o verdadeiro caráter e o papel do convênio entre a USP e a polícia militar.
A ditadura vive na USP. Tropa de choque, polícia militar, perseguições a estudantes e trabalhadores, demissão de dirigentes sindicais, espionagem contra ativistas e estudantes, repressão através de consultas psiquiátricas aos moradores do CRUSP (moradia estudantil).
Nós, que estamos desde as 5h sob cárcere e controle dos policias, chamamos todos a se manifestarem contra a prisão de 73 estudantes e trabalhadores por lutarem com métodos legítimos por seus direitos.
Responsabilizamos o reitor João Grandino Rodas, e toda a sua burocracia acadêmica e o governador do estado de SP Geraldo Alckmin, junto ao seu secretário de segurança pública, por toda a repressão dessa madrugada. Reafirmamos nossa luta contra a polícia, dentro e fora da universidade, que reprime a população pobre e trabalhadora todos os dias.
Fora PM! Revogação do convênio! Retirada dos processos! Liberdade aos presos políticos!
"Pode me prender, pode me bater, pode até deixar-me sem comer, que eu não mudo de opinião! Porque da luta eu não saio não!"

Fonte: Jornal Brasil de Fato

domingo, 6 de novembro de 2011

Está é Laísa. Ela está marcada para morrer


por Leonardo Sakamoto*
62 Esta é Laísa. E ela está marcada para morrer
Laísa Santos
As ameaças de morte que Laísa Santos Sampaio têm sofrido seguem um roteiro conhecido: recadinhos, invasões da própria casa, ter o cachorro alvejado por balas… E o final de uma história semelhante foi visto recentemente, quando assassinaram sua irmã, Maria do Espírito Santo da Silva, juntamente com o marido dela, José Claudio Ribeiro da Silva, ambos lideranças do Projeto de Assentamento Agroextrativista Praia Alta Piranheira, localizado a cerca de 50 quilômetros da sede do município de Nova Ipixuna, Sudeste do Pará. O caso ganhou repercussão internacional em maio deste ano.
A professora de 45 anos é o próximo alvo dos pistoleiros porque manteve a luta da irmã.
Maria e Zé Cláudio foram emboscados em uma estrada e executados com tiros na cabeça no dia 24 de maio de 2011. Por denunciarem a ação de madeireiros ilegais, sofriam constantes ameaças e intimidações. Zé Cláudio ainda teve uma orelha decepada e levada pelos seus assassinos, provavelmente para mostrar aos mandantes que o serviço foi realizado com sucesso.
Naquela mesma tarde, a notícia do assassinato foi lida no plenário da Câmara dos Deputados, que estava se preparando para transformar o atual Código Florestal em embrulho de peixe. Ouviu-se, então, uma vaia vinda das galerias e da garganta de deputados da bancada ruralista ali presentes. Um desrespeito que, se não fosse no Congresso Nacional, seria difícil de acreditar.
O projeto em Nova Ipixuna garante o sustento de mais de 500 famílias com a produção de óleos vegetais, açaí e cupuaçu. Porém, ao invés de procurar formas de replicar esses modelos de sucesso, o Congresso Nacional está discutindo maneiras de passar por cima de suas riquezas naturais e da qualidade de vida das populações que os mantém, rifando as leis que os protegem. Agora, o Senado analisa o Código. Apenas um milagre nos separa de uma lei esvaziada, que vai reduzir a proteção ambiental e anistiar, na prática, quem desmatou além da conta, rifando a qualidade de vida das futuras gerações.

*publicado originalmente no Blog do Sakamoto 
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Fonte: Extraído do Site Envolverde

terça-feira, 25 de outubro de 2011

ONU considera Jornalismo uma das profissões mais perigosa do mundo



Da Redação do site Comunique-se

Em alguns países, ser jornalista pode significar correr risco diariamente. A Organização das Nações Unidas (ONU) considera a profissão como uma das mais perigosas do planeta.

Segundo estudos do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), no ano passado, 44 jornalistas foram mortos em todo o mundo. Em 2009, 73 morreram em decorrência da profissão, sendo 29 deles em um incidente nas Filipinas.

Atualmente um dos lugares mais violentos do mundo é o México. Só em 2010, nove profissionais foram assassinados. Desde 2005, 13 repórteres desapareceram e 18 veículos de comunicação foram atacados.

ImpunidadeDe acordo com o Índice de Impunidade calculado pelo CPJ, cerca de 30% dos processos não solucionados envolvendo jornalistas de todo o mundo - que sofreram algum tipo de agressão ou até mesmo morreram – se referem àqueles que estavam cobrindo temas políticos locais. Outros 28% perderam a vida enquanto cobriam conflitos armados.

Esses dados são calculados com base no número de assassinatos não resolvidos. Foram computadas as mortes de repórteres cujos julgamentos continuam sem solução do período entre 1º de janeiro de 2001 e 31 de dezembro de 2010.

A alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, disse durante encontro organizado pela Unesco, que os jornalistas são fundamentais tanto em tempos de paz quanto de conflito. “Eles reportam as violações dos direitos humanos e má governança, dão voz às vítimas e aos oprimidos, e contribuem para a sensibilização em questões sobre os direitos humanos.”

Ranking dos países mais violentos para o exercício do Jornalismo. (Foto: Reprodução)
  Nota do Blog: faltam dados da Líbia.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Jovens de 15 a 29 anos são as principais vítimas de homicídios

Estudo também mostra que no interior o índice de homicídios cresce, enquanto nas capitais, diminui.
 
Agência Notisa – A violência é uma das principais causas de morte entre a população de 15 a 44 anos de idade em todo o mundo. A cada ano, aproximadamente 1,6 milhão de pessoas perdem a vida violentamente. De acordo com Andréa Maria Barbosa, da Secretaria Municipal de Saúde de Recife (PE), o perfil de mortalidade por violência no Brasil segue a tendência mundial: maior concentração nas regiões metropolitanas, maior incidência entre o gênero masculino e no grupo de adolescentes e adultos jovens – chegando a ser a primeira causa de mortalidade na faixa etária de 15 a 34 anos, em algumas metrópoles.
 
Em um estudo realizado em parceria com pesquisadores da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco, Andréa verificou a tendência da mortalidade por homicídios na cidade de Recife. O trabalho mostra que, entre as regiões metropolitanas do país, a região que engloba o Recife, no ano de 2006, aparece em terceiro lugar, com coeficiente de mortalidade de 68,4/100 mil habitantes, atrás das regiões metropolitanas de Maceió, capital de Alagoas, e Vitória, capital do Espírito Santo.
 
Publicada em junho na revista Epidemiologia e Serviços de Saúde, a pesquisa “Análise da mortalidade por homicídios no Recife-PE: tendências no período entre 1997 e 2006” comprova uma taxa maior de homicídios entre o gênero masculino. Foram registrados 9.850 óbitos por homicídio, sendo que 9.220 eram homens, representando um percentual de 93,6%.
 
O estudo revela também uma predominância dos homicídios no grupo de 15 a 29 anos de idade. “Essas mortes nos obrigam a uma importante reflexão quanto a seus determinantes e – principalmente – quanto aos chamados ‘comportamentos geradores de risco’ assumidos por nossos jovens. Segundo a ONU, a taxa de criminalidade urbana tem apresentando tendência de estabilização, à exceção dos crimes entre jovens (12 a 25 anos), particularmente menores de idade ( 12 a 18 anos), observando-se, inclusive, que a idade de ingresso nos delitos vem diminuindo, de 15 para 12 anos”, dizem os autores no artigo.
 
Os pesquisadores acreditam que essa alta taxa de mortes é consequência das condições sociais em que os jovens vivem. “Recife, assim como outras capitais brasileiras, convive com a pobreza e as desigualdades urbanas. Essa situação compromete a qualidade de vida, principalmente da população jovem, que, compelida ao trabalho nas ruas como estratégia de sobrevivência, com outros grupos, volta-se para a ociosidade e o consumo de drogas”, dizem.
 
Segundo eles, essa realidade se reflete na formação dos cinturões de miséria e marginalidade, na periferia das grandes cidades, com baixa qualidade de vida, desenvolvimento de doenças e produção de mortes quase sempre relacionadas à violência.
 
Para os grupos de 30 a 59 anos e 60 anos ou mais, o estudo mostrou diminuição nas taxas de homicídios, com redução estatisticamente significante entre os homens e na população geral, o que mostra, de acordo com os autores, que o envelhecimento é um fator de proteção para os homicídios. Eles explicam que a estabilização dos homicídios nessa parcela da população é uma tendência no país todo.
 
O estudo ainda revela o que outros estudos já mostraram: o crescimento dos homicídios no interior é significativamente maior do que o experimentado pelas capitais e regiões metropolitanas brasileiras. Esse fenômeno é chamado pelos autores de “interiorização da violência”.
 
“Por volta de 1998, os municípios com mais de 100 mil habitantes já apresentavam tendência descendente e aqueles com menos de 100 mil habitantes, mostravam tendência ascendente. Para a região Nordeste, as taxas de homicídios decresceram nas cidades com mais de 20 mil habitantes, enquanto naquelas com menos de 20 mil, as taxas apresentaram discreto aumento nos últimos anos da série”, afirmam os autores.
 
Para ver o artigo na íntegra, acesse a revista Epidemiologia e Serviços de Saúde em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/rev_epi_vol20_n2.pdf.

Agência Notisa (science journalism – jornalismo científico)

domingo, 16 de outubro de 2011

O VÍRUS DO PRECONCEITO




Laerte Braga


Quem imagina que as polícias nos EUA são diferentes das polícias de países como o Brasil, se engana redondamente. A violência e a corrupção andam de mãos dadas e polícia nos EUA, qualquer que seja, é instrumento da classe dominante contra trabalhadores, latinos, negros, asiáticos, na defesa da “propriedade privada”.

Numa época conturbada, de muita tensão, a guerra fria entre as duas superpotências (EUA/URSS) o papa João XXIII lançou a encíclica MATER ET MAGISTRA. Entre outras afirmações, considerou a luta armada válida quando esgotados todos os recursos para se alcançar a liberdade, o bem estar.

A polícia de Los Angeles (curiosamente Os Anjos), Califórnia, baixou a borduna nos manifestantes que tentavam protestar contra a ganância de banqueiros, grandes corporações, o modelo político e econômico dos EUA. Chega a 15% o número de norte-americanos que vivem abaixo da linha da pobreza.

Acampamentos em praças públicas para protestos em solidariedade ao movimento OCUPA WALL STREET foram proibidos e as tendas, semelhantes às usadas no Egito para derrubar Mubarak (com apoio de Obama), foram arrancadas com violência, a mesma violência dos esbirros do ditador deposto.

“Faça o que eu falo, não o que eu digo”. Ou “pimenta nos olhos dos outros é refresco”.

A principal porta voz do conglomerado de bancos, grandes empresas e no Brasil de latifundiários, a REDE GLOBO, noticiou os fatos reportando-os como “protestos contra a crise econômica”. Em nenhum momento, no afã da mentira, da desinformação, dos serviços prestados aos donos, a GLOBO falou em protestos contra a ganância de banqueiros e grandes corporações, ou deu a conhecer as dimensões do movimento.

Nos países da Comunidade Européia 5% da população vivem abaixo da linha da pobreza e nos países do Leste Europeu a situação é mais grave ainda. O controle dos antigos países comunistas está em mãos de máfias. Banqueiros, corporações, traficantes de drogas, de mulheres, etc.

Esses sintomas de desagregação, de preconceitos, de barbárie começam a chegar ao Brasil em pequenas manifestações de setores de nosso País. Uma ofensiva do terrorismo sionista pretende tornar o estudo do Holocausto – como se o sofrimento fosse privilegio deles – obrigatório em todo o Brasil e já o conseguiram em uma cidade, Porto Alegre e num estado, o Rio de Janeiro.

São braços dos controladores de ISRAEL/EUA TERRORISMO S/A.

Uma cidadã brasileira muçulmana foi impedida de fazer uma prova para renovação de sua carteira de motorista na cidade de São Bernardo do Campo, ABC paulista, por ter se negado a retirar o véu que usava. Ahlam Abdul El Saifi, de 29 anos, foi advertida que para continuar a prova teria que retirar o véu.

O fato ocorreu no CFC – CENTRO DE FORMAÇÃO DE CONDUTORES – daquela cidade. O xeque Jihad Hassan Hammadeh, da União Nacional das Entidades Islâmicas no Brasil denunciou o acontecimento como sendo “discriminação religiosa”.

A auto-escola onde era realizada a prova através de seu proprietário Neoclair Santo Silvestrini afirmou que considerou a proibição um absurdo. “Mas ninguém fez por maldade nem por discriminação. Foi por medo de ser punido pelo DETRAN”.

O sindicato das auto-escolas tentou escorregar, atribuir tudo a um mal-entendido. O DETRAN, por sua vez, divulgou nota afirmando que “repudia veemente qualquer preconceito e condena a situação ocorrida pela manhã em São Bernardo do Campo”. Segundo o DETRAN nada justifica a conduta da direção do Centro de Formação de Condutores. Anuncia  um inquérito para “apurar os fatos e tomar as medidas cabíveis, que incluem, inclusive, a possibilidade de descredenciamento da auto-escola”.

Ou seja, ninguém fez nada, só Ahlam que não conseguiu fazer sua prova.

São Paulo é governado por um representante da organização terrorista OPUS DEI e o DETRAN vive sob investigações por corrupção.

De um modo geral infecções generalizadas começam com pequenos pontos no corpo e vão tomando conta de todo o resto. Tenha sido o fiscal do DETRAN, ou o dono da auto-escola, refletiram o que a mídia vende diariamente tentando transformar muçulmanos em terroristas, cidadãos de segunda categoria, como o fazem com trabalhadores de um modo geral.

Os rebeldes líbios armados pela organização terrorista OTAN destruíram a casa do presidente Muammar Gadaffi. Para isso usaram um trator. Empreiteiras norte-americanas, inglesas e governo corrupto que se forma devem participar do processo de reconstrução do país.

É a boçalidade do capitalismo que segundo a GLOBO se resume a protestos contra a crise econômica.

Que crise? A ganância de banqueiros? Das grandes corporações? Dos latifundiários brasileiros?

O que os acampados em New York e que começam a se espalhar por todo o território da extinta nação norte-americana (é hoje braço do conglomerado terrorista controlado por Israel), por todos os países da Comunidade Européia querem é fim do modelo, do capitalismo por sua natureza excludente, perversa e bárbara.

Com a África dizimada em guerras montadas por Washington, mercenários de bancos e grandes corporações, o Oriente Médio convulsionado e desejoso de libertar-se da barbárie capitalista irradiada a partir de Israel, os norte-americanos derrotados no Afeganistão (ao lado dos britânicos, principal colônia do conglomerado terrorista na Europa), centenas de milhares morrendo de fome em todos os cantos – exceto Cuba – os grandes estão à beira da falência e governos fantoches aceitam as regras à revelia de seus povos no arremedo de democracia que caracteriza o modelo.

O espetáculo vendido diariamente pela mídia, entre nós GLOBO e menores, todos nos bolsos dos donos.

Quem quer que tenha impedido Ahlam de fazer sua prova – mesmo porque sua carteira apresentava uma foto com véu – traz à tona o preconceito que se encontra a cada instante que o anúncio com a modelo Gisele Bunchen transforma a mulher em melancia, melão, miss laje, etc.

É um vírus que começa a ser difundido no Brasil. A passividade dos governos federal, estaduais e municipais acaba tornando-se cúmplice. O Brasil é grande demais para despertar apetites dessas quadrilhas, mas é grande também para que possamos reagir e ir às ruas impedir que a barbárie nos atinja mais que já atinge.

Não há de ser uma prova para renovação de carteira de motorista que vai fazer ruir o Estado, ou transformar-se numa tempestade em copo de água. Não é não. É um pequeno retrocesso que se espalha por todo o tecido social e tenta nos conduzir à condição de entreposto do capital estrangeiro. Do capitalismo bárbaro e selvagem condenado no movimento OCUPA WALL STREET.

O dono da auto-escola ou o fiscal do DETRAN nem têm consciência de nada. São apenas peças nessa engrenagem capitalista que suga cada trabalhador, cada excluído e que a GLOBO vende como paraíso. Basta ver os caras que dormiram três dias em filas mundo afora para comprar um brinquedinho eletrônico.

Sai o touro de Wall Street, entra Steve Jobs e milhões de robotizados.

            

sábado, 10 de setembro de 2011

A paz fora de controle



por Rodrigo Martins*, da Carta Capital
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Exército acusa o tráfico de insuflar moradores do Complexo do Alemão contra os militares. Mas abusos de soldados não podem ser ignorados. Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Um dia após o intenso tiroteio entre soldados da 9ª Brigada de Infantaria do Exército e traficantes no Complexo do Alemão, ocorrido na noite da terça-feira 6, o general Adriano Pereira Júnior, do Comando Militar do Leste, acusou os criminosos de insuflar moradores da comunidade contra os militares (veja o vídeo da troca de tiros aqui).
Os tumultos começaram após o anúncio da permanência do Exército no complexo de 13 favelas, na zona norte do Rio, até junho de 2012. “Houve ordem para que soldados do tráfico tentassem se comportar de forma a causar tumulto e desconforto à tropa”, disse o general, em entrevista coletiva na manhã desta quarta-feira.
Era de se esperar que o crime organizado, com as finanças abaladas pela ocupação militar, tentaria retomar o controle territorial do Complexo do Alemão, como escreveu o jurista Wálter Fanganiello Maierovitch, colunista de CartaCapital, em artigo publicado no site Terra Magazine (clique aqui para ler). Mas as manifestações de moradores engrossaram em face dos abusos cometidos pelos policiais e militares envolvidos na ocupação, a impor revistas vexatórias aos transeuntes, fazer abordagens agressivas a suspeitos e regulamentar até que tipo de música pode-se ouvir ou o horário limite das festas.
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O fuzil continua presente nas favelas, só mudou de mãos, criticaram moradores durante visita da reportagem ao local. Foto: Wilton Junior/AE
“A maneira de abordagem está horrível. Nós somos moradores da comunidade e eles precisam nos abordar com respeito, com bom dia, boa tarde e boa noite. Não é chegar e ‘esculachar’ [destratar]”, disse Ivo Rosa, que trabalha com transportes e mora na região à Agência Brasil. O comerciante Nivaldo Bento, conhecido como Baiano, há 25 anos dono de um bar na Favela da Grota também reclamou da atitude dos militares. “Será que eles não gravam a nossa fisionomia. Ficam abordando a toda hora. Aí os moradores ficam revoltados com isso, pois todo mundo vira suspeito”.
Mesmo em favelas ocupadas por UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) há anos, são numerosas as queixas de moradores contra a rotina militarizada e os abusos cometidos pelos agentes públicos. “Vivemos numa ditadura branca. Tudo é proibido e depende do aval da polícia”, avalia o rapper Mc Fiell, do morro Dona Marta, a primeira favela “pacificada”, em 2008.
Apesar de as pesquisas demonstrarem ampla aprovação das UPPs, tanto nas favelas já ocupadas como nas demais, os conflitos têm se multiplicado na mesma proporção que o descontentamento dos moradores, sobretudo entre os mais jovens, alvos preferenciais das abordagens policiais. No fim de julho, CartaCapital publicou uma extensa reportagem sobre o tema, intitulada “Paz ou medo” (edição 655). A íntegra do texto pode ser lida aqui.
Com informações da Agência Brasil.
* Rodrigo Martins é repórter da revista CartaCapital há cinco anos. Trabalhou como editor assistente do portal UOL e já escreveu para as revistas Foco Economia e Negócios, Sustenta!, Ensino Superior e Revista da Cultura, entre outras publicações. Em 2008 foi um dos vencedores do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. Acompanhe também pelo www.twitter.com/rodrigomartins0.
** Publicado originalmente no site da revista Carta Capital 
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Leia também:" Segurança para quem"", matéria especial de Silvana Sá, que publicamos no Blog