Por Rodrigo Brandão, da Equipe do EDUCOM
O portal de notícias das Organizações Globo, o G1, resume os acontecimentos de domingo no Complexo de Favelas do Alemão com o título "Alemão dominado", sobre foto em que aparece um policial enrolado numa bandeira do Brasil, como uma capa, "capa de super-herói" talvez... em seguida o leitor é apresentado a uma sucessão de números, relatos, fotos e vídeos que compõem um mosaico de imagens e outros elementos a impactar nossas retinas.
Recheado com as histriônicas declarações do secretário de Segurança Pública fluminense, Mariano Beltrame, do tipo "provamos que invadimos e tomamos qualquer espaço deste estado", "hoje foi o Alemão, amanhã será a Rocinha e o Vidigal" ou "o Alemão era o centro do mal e o Rio virou uma página de sua história" (frase reproduzida em 99% dos portais), todo esse banquete apreciado por setores da sociedade carioca poderia facilmente ser enquadrado no circo que a mídia habitualmente constrói nesses episódios, e que Guy Debord tão bem descreve em seu "A Sociedade do Espetáculo".
Ok, mas e a reflexão e a crítica por trás dos "fatos"? Durante a semana, Estado e mídia fizeram chegar a nós que no primeiro dia de operações na Vila Cruzeiro mais de 60 pessoas haviam morrido. Um dia depois, na noite de quinta, 25, disse a Secretaria de Segurança que o balanço da semana de incursões trazia 32 mortos. As polícias do Rio de Janeiro, o Exército e a PF diziam estar no Alemão porque 600 suspeitos de tráfico ou associação com o tráfico haviam escapado ao cerco da Vila Cruzeiro e se refugiado ali. Até a madrugada de ontem, 28, um suspeito, segundo as autoridades, se entregara. À noite, o G1 trazia este balanço: 20 presos, 3 mortos, 50 motos apreendidas, 150 quilos de cocaína e 40 toneladas de maconha apreendidos, 50 fuzis apreendidos...
Você acredita nesses números? Ou melhor, você confia em quem traz a público esses "números"? Eles fazem algum sentido? Terá a maconha se tornado a droga mais rentável para o crime no Rio de Janeiro?
Visitando fóruns de ativistas da esquerda na Web ou conversando com militantes via redes sociais, vemos um surpreendente e insuspeito regozijo com a "nova política de segurança" trazida pelo governador Sergio Cabral ao Rio de Janeiro. Ao apontarmos contradições no discurso de Cabral e seus assessores e dizermos que nem UPP - pelo menos com a superficialidade e a cosmética que marcam seu atual estágio - nem incursões militares significam a vitória sobre o crime, muito menos a "paz", somos questionados, acusados de não vermos o novo, de sermos sectários...
Que não estejamos tão isolados ou num diálogo de surdos.
Atualizando: taí uma reposta a algumas das perguntas que deixamos... ou uma pulga atrás da orelha de quem ainda não tinha
O Dia: 'Chefões do tráfico conseguem escapar'
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