Juracy Ventura, ativista, a partir do fórum 3setor
"Essas perguntas são antigas.
Alguém pode respondê-las?
Nem toda a força da Globo para transformar a operação num sucesso dos militares e dos governos de plantão, bem como as entrevistas de militares fardados e com 'caras e bocas' do filme 'Tropa de Elite' conseguiram fazer eu entender:
1) Para que seis mil militares para 'prender para averiguações' 20 pessoas, e 'capturar 2 bandidos'?
2) Onde estava o crime organizado? Na zona sul? Era uma tática de dissimulação?
3) Morreram só bandidos (55)? O critério é 'tomou tiro e morreu é bandido?' Tinham carteira de bandido? Confessaram antes de morrer?
4) A 'fuga' estava combinada? Não há serviço de inteligência nas forças militares? O PAC foi para preparar as rotas de fuga?
5) Os helicópteros (do estado principal e da mídia oficial do governo - concessões de TV) só tem vidro e câmaras para o Complexo do Alemão? Quase um milhar de bandidos brotando das galerias pluviais nos bairros em volta não foram registrados? Por que os poucos que correram a pé antes foram filmados, inclusive um atingido por um disparo? Ou eram atores? Ou foi combinando? Ou era tática dispersivo dos 'bandidos'?
6) Por que a Globo (emissora oficial do governo, haja visto as inúmeras entrevistas exclusivas da equipe do novo governo do Brasil que está em formação) e os militares, e os políticos insistem em tentar traçar o que os bandidos deveriam ter feito? Por exemplo: queriam que os líderes tivessem resistido heroicamente até a morte; ou que os 'soldados do tráfico' tivessem lutado até a morte em trincheiras; ou que fugir pelas galerias (se isto tiver acontecido) é coisa de 'desesperados' e derrotados etc. Só falta o Pedro Bial narrar tudo como no BBB.
7) Afinal, se os bandidos estavam lá desde o começo (será?), a Globo e os militares 'exigiam/esperavam' que eles fossem e se comportassem como burros e não questionassem o roteiro, como acontece nas eleições? Ao que me conste eles são bandidos, não burros ou idiotas.
8) Um capitão da força militar, comandado pela repórter da Globo, dá alguns passos toda hora na TV, como se fosse entrar numa tubulação de esgoto. A cena corta e aparecem drogas, armas, munições etc. Não é tudo muito 'pastiche'? Muito teatral e burlesco?
9) Não vemos mais nada sobre montagem de governo, política econômica, acertos financeiros e de poder, inflação, planos de governo, os financiadores do tráfico (usuários e políticos).
10) Qual política e tática será usada para conter a demanda? Para inflação e crédito deve ter. Para drogas não?
11) Estamos redirecionando as forças armadas para a guerra urbana e, mais grave, para cercar e dominar áreas urbanas? Vamos ter guetos?
12) Se existe tal quantidade de armamentos pesados de guerra nas mãos dos bandidos, ninguém sabe usar? São plantados? Se os bandidos disparam de longe fuzis e pistolas, por que não usam as metralhadoras pesadas, granadas e morteiros? Ninguém adquire tais artefatos para 'investimento' ou jogar dinheiro fora. Tem alguma coisa no ar. Não?
Alguém pode me ajudar?"
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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Guerra do bem contra o mal?
Um violento jogo de poder envolve facções, milícias e agentes públicos, no qual se confundem mocinhos e bandidos
Leandro Uchoas, do Brasil de Fato
Mais de 100 veículos incendiados, granadas e tiros contra delegacias, pelo menos 52 mortos, assaltos em profusão, pequenos arrastões, tiroteios em comunidades pobres. Na penúltima semana de novembro, o Rio de Janeiro esteve entregue à barbárie. Em pânico, parte da população deixou de ir ao trabalho, de frequentar bares, de transitar livremente pelas ruas. E comunidades inteiras, especialmente na Zona Norte, ficaram reféns dos “soldados” do narcotráfico e da insanidade de setores da polícia. Como tem sido comum nesses períodos, a opinião pública assumiu posições conservadoras. Exigia-se punição dura, resultados imediatos. Para os setores sociais de espírito crítico mais desenvolvido, porém, ficou a sensação de que assistia pela TV, ou lia pelos jornais, a uma farsa.
A onda de violência começou no dia 21 de novembro. Carros e ônibus foram queimados pela cidade por jovens ligados ao Comando Vermelho (CV), aliados a setores da Amigo dos Amigos (ADA). Os narcotraficantes teriam se unido contra a instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nos territórios anteriormente controlados por eles, segundo o discurso oficial. Estudiosos de Segurança Pública consideram essa uma explicação incompleta – além de oportuna ao governo estadual, por supor que a ação criminosa seria a resistência a um bom trabalho. Verdade é que a outra facção expressiva, o Terceiro Comando Puro (TCP), tem se aliado informalmente às milícias, em regiões da cidade, contra as outras duas. Até o aluguel de duas favelas aos grupos paramilitares teria ocorrido. De fato, TCP e milícias têm sido menos afetadas pelas UPPs. A pergunta não respondida, e sequer midiatizada, permanece: por que o Estado evita instalar UPPs nessas áreas?
Correu boato pela cidade, em fase de investigação, de que as ações seriam decorrentes da insatisfação com o aumento no valor da propina a policiais. Por enquanto, a explicação mais lúcida para a onda de violência é a perda de espaço do CV na geopolítica do crime. As milícias, ameaça maior, avançam território, e o setor nobre da cidade, altamente militarizado, segue protegido pelas UPPs. “Aqui no Rio há uma reconfiguração geopolítica do crime”, interpreta José Cláudio Alves, vice-reitor da UFRRJ. Ele explica que existe uma redefinição das relações de hegemonia, envolvendo disputa de território. O mapa de instalação das UPPs, somado à expansão das milícias, estaria levando à periferização do CV. A facção tende a se deslocar para as regiões da Leopoldina, da Central do Brasil e da Baixada Fluminense. “Isso leva, inclusive, à introdução veloz do crack no Rio de Janeiro. Ele é baratíssimo. A reconfiguração do crime também leva à reconfiguração do consumo da droga”, explica. Até 2009, o crack praticamente não entrava na cidade.
Tráfico em decadência
Há ainda a interpretação de que o modelo de negócios que se forjou no Brasil, do narcotráfico, estaria em declínio. A milícia, por modernizar o crime, apropriando-se de serviços públicos e disputando a política institucional, teria tornado a economia da droga obsoleta. O ex-secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Eduardo Soares, que se negou a atender jornalistas, divulgou artigo defendendo a tese. “O tráfico tende a se eclipsar, derrotado por sua irracionalidade econômica e sua incompatibilidade com as dinâmicas políticas e sociais predominantes, em nosso horizonte histórico. O modelo do tráfico armado, sustentado em domínio territorial, é atrasado, pesado, antieconômico: custa muito caro manter um exército, recrutar neófitos, armá-los, mantê-los unidos e disciplinados”, diz.
As ações das facções na cidade, em geral, objetivaram sobretudo gerar pânico. Em meio aos veículos queimados, houve poucos feridos. A reação policial foi de potência inédita. Foram mobilizadas todas as polícias, oficiais de outros estados, todo o efetivo em férias e reforços da Marinha, Exército e Aeronáutica. Os blindados, emprestados pela Marinha, eram de forte poderio bélico. Um deles, o M-113, é usado pelos Estados Unidos no Iraque. Cerca de 60% dos oficiais em operação estiveram com a Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti (Minustah). O general Fernando Sardenberg declarou ao O Globo que há similaridade nas ações do Rio e do Haiti. Sandra Quintela, da Rede Jubileu Sul, que acompanha a ocupação do Haiti, considerou o dado grave. “Há muito tempo estamos avisando que isso iria acontecer. Eles treinam lá para praticar aqui”, disse.
As autoridades não explicaram por que o TCP e as milícias não perdem território com as UPPs. Desconfia-se que haja pactos tácitos. “Há o controle eleitoral dessas áreas de milícias por grupos políticos. O Estado não vai jamais debelar isso, porque ele já faz parte, e disso depende sua reprodução em termos políticos, eleitorais. Ele está mergulhado até a medula”, diz José Cláudio. As UPPs têm sido instaladas num corredor nobre do Rio de Janeiro – bairros ricos da zona sul, região do entorno do Maracanã e arredores da Barra da Tijuca. Os narcotraficantes já vinham se refugiando, há tempos, na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão. “Era um tanto quanto previsível que essa barbárie pudesse acontecer”, acusa o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj.
Combate seletivo
O professor Ignácio Cano, do Laboratório de Análise de Violência da Uerj, também desconfia do privilégio da atuação do Estado contra o CV. “Há um tratamento seletivo da polícia, aparentemente. A milícia tende a não entrar em confronto armado com o Estado, e vice-versa”, diz. Embora veja avanços, o sociólogo se diz preocupado com a ação policial, que pode representar um recuo do Estado a posições mais recuadas do passado. O Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, afirmou em entrevista coletiva que a ADA é uma facção mais “pacífica”, mais preocupada com o comércio de drogas. O CV seria mais “ideológico”, estaria mais disposto à guerra.
Para Antônio Pedro Soares, do Projeto Legal, o modelo de Segurança Pública do governo teria ajudado a gerar esse conflito. As áreas “pacificadas” seriam planejadas de acordo com os interesses da especulação imobiliária. “O que está acontecendo tem a ver com a política de Segurança, que precisa ser melhor discutida. Continua a lógica de uma polícia controlando uma população considerada perigosa”, afirma. Em sua maioria, os ativistas de direitos humanos não negam a necessidade de se prender os narcotraficantes. Entretanto, combatem a execução sumária, e acusam o Estado de perseguir apenas os bandidos da base da pirâmide do crime. “É uma guerra em que só morre um lado, uma cor, uma classe social. É simbólico que tenha acontecido na Semana da Consciência Negra, e dos 100 anos da Revolta da Chibata”, afirma Marcelo Edmundo, da Central de Movimentos Populares (CMP). Desconfia-se que o número de mortos seja muito maior do que o divulgado.
(Leia mais na edição 405 do Brasil de Fato, que está nas bancas)
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Leandro Uchoas, do Brasil de Fato
Mais de 100 veículos incendiados, granadas e tiros contra delegacias, pelo menos 52 mortos, assaltos em profusão, pequenos arrastões, tiroteios em comunidades pobres. Na penúltima semana de novembro, o Rio de Janeiro esteve entregue à barbárie. Em pânico, parte da população deixou de ir ao trabalho, de frequentar bares, de transitar livremente pelas ruas. E comunidades inteiras, especialmente na Zona Norte, ficaram reféns dos “soldados” do narcotráfico e da insanidade de setores da polícia. Como tem sido comum nesses períodos, a opinião pública assumiu posições conservadoras. Exigia-se punição dura, resultados imediatos. Para os setores sociais de espírito crítico mais desenvolvido, porém, ficou a sensação de que assistia pela TV, ou lia pelos jornais, a uma farsa.
A onda de violência começou no dia 21 de novembro. Carros e ônibus foram queimados pela cidade por jovens ligados ao Comando Vermelho (CV), aliados a setores da Amigo dos Amigos (ADA). Os narcotraficantes teriam se unido contra a instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nos territórios anteriormente controlados por eles, segundo o discurso oficial. Estudiosos de Segurança Pública consideram essa uma explicação incompleta – além de oportuna ao governo estadual, por supor que a ação criminosa seria a resistência a um bom trabalho. Verdade é que a outra facção expressiva, o Terceiro Comando Puro (TCP), tem se aliado informalmente às milícias, em regiões da cidade, contra as outras duas. Até o aluguel de duas favelas aos grupos paramilitares teria ocorrido. De fato, TCP e milícias têm sido menos afetadas pelas UPPs. A pergunta não respondida, e sequer midiatizada, permanece: por que o Estado evita instalar UPPs nessas áreas?
Correu boato pela cidade, em fase de investigação, de que as ações seriam decorrentes da insatisfação com o aumento no valor da propina a policiais. Por enquanto, a explicação mais lúcida para a onda de violência é a perda de espaço do CV na geopolítica do crime. As milícias, ameaça maior, avançam território, e o setor nobre da cidade, altamente militarizado, segue protegido pelas UPPs. “Aqui no Rio há uma reconfiguração geopolítica do crime”, interpreta José Cláudio Alves, vice-reitor da UFRRJ. Ele explica que existe uma redefinição das relações de hegemonia, envolvendo disputa de território. O mapa de instalação das UPPs, somado à expansão das milícias, estaria levando à periferização do CV. A facção tende a se deslocar para as regiões da Leopoldina, da Central do Brasil e da Baixada Fluminense. “Isso leva, inclusive, à introdução veloz do crack no Rio de Janeiro. Ele é baratíssimo. A reconfiguração do crime também leva à reconfiguração do consumo da droga”, explica. Até 2009, o crack praticamente não entrava na cidade.
Tráfico em decadência
Há ainda a interpretação de que o modelo de negócios que se forjou no Brasil, do narcotráfico, estaria em declínio. A milícia, por modernizar o crime, apropriando-se de serviços públicos e disputando a política institucional, teria tornado a economia da droga obsoleta. O ex-secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Eduardo Soares, que se negou a atender jornalistas, divulgou artigo defendendo a tese. “O tráfico tende a se eclipsar, derrotado por sua irracionalidade econômica e sua incompatibilidade com as dinâmicas políticas e sociais predominantes, em nosso horizonte histórico. O modelo do tráfico armado, sustentado em domínio territorial, é atrasado, pesado, antieconômico: custa muito caro manter um exército, recrutar neófitos, armá-los, mantê-los unidos e disciplinados”, diz.
As ações das facções na cidade, em geral, objetivaram sobretudo gerar pânico. Em meio aos veículos queimados, houve poucos feridos. A reação policial foi de potência inédita. Foram mobilizadas todas as polícias, oficiais de outros estados, todo o efetivo em férias e reforços da Marinha, Exército e Aeronáutica. Os blindados, emprestados pela Marinha, eram de forte poderio bélico. Um deles, o M-113, é usado pelos Estados Unidos no Iraque. Cerca de 60% dos oficiais em operação estiveram com a Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti (Minustah). O general Fernando Sardenberg declarou ao O Globo que há similaridade nas ações do Rio e do Haiti. Sandra Quintela, da Rede Jubileu Sul, que acompanha a ocupação do Haiti, considerou o dado grave. “Há muito tempo estamos avisando que isso iria acontecer. Eles treinam lá para praticar aqui”, disse.
As autoridades não explicaram por que o TCP e as milícias não perdem território com as UPPs. Desconfia-se que haja pactos tácitos. “Há o controle eleitoral dessas áreas de milícias por grupos políticos. O Estado não vai jamais debelar isso, porque ele já faz parte, e disso depende sua reprodução em termos políticos, eleitorais. Ele está mergulhado até a medula”, diz José Cláudio. As UPPs têm sido instaladas num corredor nobre do Rio de Janeiro – bairros ricos da zona sul, região do entorno do Maracanã e arredores da Barra da Tijuca. Os narcotraficantes já vinham se refugiando, há tempos, na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão. “Era um tanto quanto previsível que essa barbárie pudesse acontecer”, acusa o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj.
Combate seletivo
O professor Ignácio Cano, do Laboratório de Análise de Violência da Uerj, também desconfia do privilégio da atuação do Estado contra o CV. “Há um tratamento seletivo da polícia, aparentemente. A milícia tende a não entrar em confronto armado com o Estado, e vice-versa”, diz. Embora veja avanços, o sociólogo se diz preocupado com a ação policial, que pode representar um recuo do Estado a posições mais recuadas do passado. O Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, afirmou em entrevista coletiva que a ADA é uma facção mais “pacífica”, mais preocupada com o comércio de drogas. O CV seria mais “ideológico”, estaria mais disposto à guerra.
Para Antônio Pedro Soares, do Projeto Legal, o modelo de Segurança Pública do governo teria ajudado a gerar esse conflito. As áreas “pacificadas” seriam planejadas de acordo com os interesses da especulação imobiliária. “O que está acontecendo tem a ver com a política de Segurança, que precisa ser melhor discutida. Continua a lógica de uma polícia controlando uma população considerada perigosa”, afirma. Em sua maioria, os ativistas de direitos humanos não negam a necessidade de se prender os narcotraficantes. Entretanto, combatem a execução sumária, e acusam o Estado de perseguir apenas os bandidos da base da pirâmide do crime. “É uma guerra em que só morre um lado, uma cor, uma classe social. É simbólico que tenha acontecido na Semana da Consciência Negra, e dos 100 anos da Revolta da Chibata”, afirma Marcelo Edmundo, da Central de Movimentos Populares (CMP). Desconfia-se que o número de mortos seja muito maior do que o divulgado.
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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
Juízes para a Democracia, sobre os acontecimentos do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro
NOTA PÚBLICA - RJ - NOVEMBRO de 2010
30/11/2010 - 20h48
À MARGEM DA LEI TODOS SÃO MARGINAIS
A ASSOCIAÇÃO JUIZES PARA A DEMOCRACIA - AJD, entidade não governamental e sem fins corporativos, fundada em 1991, que tem por finalidade estatutária o respeito absoluto e incondicional aos valores próprios do Estado Democrático de Direito, em consideração às operações policiais e militares em curso no Rio de Janeiro, vem manifestar preocupação com a escalada da violência, tanto estatal quanto privada, em prejuízo da população que suporta intenso sofrimento.
Para além da constatação do fracasso da política criminal relativamente às drogas ilícitas no país, bem como da violência gerada em razão da opção estatal pelo paradigma bélico no trato de diversas questões sociais que acabam criminalizadas, o Estado ao violar a ordem constitucional, com a defesa pública de execuções sumárias por membros das forças de segurança, a invasão de domicílios e a prisão para averiguação de cidadãos pobres perde a superioridade ética que o distingue do criminoso.
A AJD repudia a naturalização da violência ilegítima como forma de contenção ou extermínio da população indesejada e também com a abordagem dada aos acontecimentos por parcela dos meios de comunicação de massa que, por vezes, desconsidera a complexidade do problema social, como também se mostra distanciada dos valores próprios de uma ordem legal-constitucional.
O monopólio da força do Estado, através de seu aparato policial, não pode se degenerar num Estado Policial que produz repressão sobre parcela da população, estimula a prestação de segurança privada, regular e irregularmente, e dá margem à constituição de grupos variados descomprometidos com a vida, que se denominam esquadrões da morte, mãos brancas, grupos de extermínio, matadores ou milícias.
Por fim, a AJD reafirma que só há atuação legítima do Estado, reserva da razão, quando fiel à Constituição da República.
www.ajd.org.br/noticias_ver.php?idConteudo=752
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NOTA PÚBLICA - RJ - NOVEMBRO de 2010
30/11/2010 - 20h48
À MARGEM DA LEI TODOS SÃO MARGINAIS
A ASSOCIAÇÃO JUIZES PARA A DEMOCRACIA - AJD, entidade não governamental e sem fins corporativos, fundada em 1991, que tem por finalidade estatutária o respeito absoluto e incondicional aos valores próprios do Estado Democrático de Direito, em consideração às operações policiais e militares em curso no Rio de Janeiro, vem manifestar preocupação com a escalada da violência, tanto estatal quanto privada, em prejuízo da população que suporta intenso sofrimento.
Para além da constatação do fracasso da política criminal relativamente às drogas ilícitas no país, bem como da violência gerada em razão da opção estatal pelo paradigma bélico no trato de diversas questões sociais que acabam criminalizadas, o Estado ao violar a ordem constitucional, com a defesa pública de execuções sumárias por membros das forças de segurança, a invasão de domicílios e a prisão para averiguação de cidadãos pobres perde a superioridade ética que o distingue do criminoso.
A AJD repudia a naturalização da violência ilegítima como forma de contenção ou extermínio da população indesejada e também com a abordagem dada aos acontecimentos por parcela dos meios de comunicação de massa que, por vezes, desconsidera a complexidade do problema social, como também se mostra distanciada dos valores próprios de uma ordem legal-constitucional.
O monopólio da força do Estado, através de seu aparato policial, não pode se degenerar num Estado Policial que produz repressão sobre parcela da população, estimula a prestação de segurança privada, regular e irregularmente, e dá margem à constituição de grupos variados descomprometidos com a vida, que se denominam esquadrões da morte, mãos brancas, grupos de extermínio, matadores ou milícias.
Por fim, a AJD reafirma que só há atuação legítima do Estado, reserva da razão, quando fiel à Constituição da República.
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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
A TOMADA DE MONTE CASTELO OU A BATALHA DE ITARARÉ
São cada vez mais fortes os indícios de que as manobras das Forças Armadas no Rio de Janeiro tem conexão com o lobby do PIG e dos setores mais conservadores de dentro e fora do governo para manter Nelson Jobim, o amigo e interlocutor dos interesses dos EUA na Esplanada dos Ministérios, à frente da pasta da Defesa após 1º de janeiro de 2011.
Por José Flávio Abelha*
Toda a mídia brasileira, com as exceções de praxe (pouquíssimas) levou o brasileiro às raias de um surto coletivo com o pânico que esparramou, via satélite, urbe et orbi. Espalhou o pânico no país em tal grau que o Brasil parou neste fim de semana, de sábado para domingo, para assistir à versão nova em cores da "Tomada de Monte Castelo". O pânico se espalhou de tal forma que, nos distritos mais longínquos, as pessoas não saíram de casa, algumas, nem as janelas abriram, com medo de bala perdida.
A invasão do chamado complexo do Alemão era uma espécie de versão com efeitos especiais do episódio italiano de Monte Castelo.
Na manhã de sábado recebi um telefonema da minha mulher que estava em Belo Horizonte, implorando para que eu não saísse da nossa casa aqui em Niterói. Perguntou-me sobre o tempo e eu informei que o céu era de brigadeiro, azul maravilhoso. Sol de rebentar mamona e o pessoal nas praias. Mas eu teria de ficar em casa ante o perigo do conflito iminente.
Disse-lhe não era possível atender ao seu pedido. Eu estava de carro, na Linha Amarela, rumo ao Rio Centro para visitar a Feira da Providência.
O telefone ficou mudo. Acho que minha mulher desmaiou.
À noitinha, fui busca-la do Santos Dummont, ambos tranqüilos, eu e o aeroporto. E tranqüi-los, eu e minha mulher, rumamos para Piratininga enfrentando o trânsito caótico com tanta gente voltando da região oceânica depois de um dia de praia.
Resumo da ópera que a mídia desejava, a anunciada Tomada de Monte Castelo, com a carnificina que os nossos comunicadores anunciavam, frustrou-se.
E o que se viu foi a repetição da famosa Batalha de Itararé. Em 1930 as tropas de Vargas não foram molestadas e, agora, as tropas das gloriosas Forças Armadas repetiram o ocorrido na naquela época.
O arsenal da bandidagem, tão decantado pela mídia, foi esquecido na retirada humilhante, afinal, o recado aos chefões do tráfico fora muito claro pelos comandantes das três armas: da aeronáutica, nossos helicópteros estão armados com foguetes mas não vamos dispara-los, da marinha, nossos tanques que rodam sobre lagartas e passam por cima de qualquer obstáculo servem para uma cobertura às forças policiais estaduais, e do exército surgiu o recado unificador e alertador: nossos homens estão portando armas de guerra mas somente serão disparadas se formos atacados.
E o conjunto de forças, de mãos dadas, sitiaram e depois entraram naquele território que era a casa do diabo: o complexo do Alemão. Enquanto isso o carioca estava curtindo um céu azul maravilhoso, um sol escaldante e um´mar calmo. Praias lotadas contrastando com o resto, a maior parte, do Brasil, apavorado, assustado, em pânico provocado pela nossa eficiente, competente e ética mídia.
Desta ameaça midiática de uma carnificina surgiram pontos que eu já andei indicando em um pequeno texto sobre os parafusos bambos da máquina chamada Brasil.
Seria bom que, passada a Batalha de Itararé, nossos homens públicos refletissem mais antes de se pronunciarem.
Uma alta autoridade judiciária mandou dizer ao Brasil que "ainda existem juízes em Berlim"...e no Rio de Janeiro também e, pela primeira vez, decretou a prisão de intocáveis advogados, os pombos-correios, os parafusos bambos.
A vaidade andou campeando ao ponto de um líder comunitário criticar as UPP's como se elas fossem a salvação da lavoura. Não são não. Elas são a abertura da estrada que vai levar a paz e a presença do Estado aos morros dominados por marginais de alta periculosidade.A finalidade é, tão somente, ganhar terreno. Elas são os pára-quedistas que primeiro saltaram no planalto central para fazer uma clareira onde avionetas, os teco-tecos, pudessem levar as primeiras ferramentas para a construção de uma pista de pouco maior. Nesta, desciam os Douglas transportando pequenos tratores e, quatro anos depois, nascia Brasília, o sonho de Dom Bosco e do Presidente Juscelino. Não fosse o cientista Sérgio Besserman Vianna explicar as verdadeiras funções das UPP's e o vaidoso líder, com uma pontinha de inveja por não ter dado palpites na engenharia dessa salvação da lavoura que o próprio Besserman havia ajudado a desenhar, teria azedado a entrevista global. De qualquer forma, saiu mal na foto.
O secretário Beltrame, com o seu ímpeto gauchesco declarou histórica a colaboração da Marinha e informou que o Exército não se pronunciara.(Nunca ouvi falar que cumprir o dever é um gesto histórico). A resposta veio no ato, dada pelo Comandante, dizendo que não lhe fora pedido nada. De imediato o governador pediu ajuda e o Presidente Lula determinou que o Ministro da Defesa fornecesse o necessário ao governador.
Corre, agora, o Secretário Bletrame o desprazer de ver um afoito vereador propor mais um feriado para marcar o "histórico" dia.
A OAB, diante da descoberta dos pombos-correios, apenas disse serem necessárias mais provas, ao contrário de dizer que está certo quem mandou prender seus associados pois são fora-da-lei, porém, o esprit de corps falou mais alto.
As ONG's caladinhas, nem tugindo nem mugindo.
Dizem, hoje, que associações na Rocinha estão com medo de uma futura invasão das forças do Bem visando colocar ordem naquela grande comunidade, como se a Rocinha fosse o melhor dos mundos e não precisasse de uma UPP
O resto é o resto e foi debitado na conta da excitação dos focas e repórteres que repetiam, à exaustão, as mesmas notícias e as TVs reprisavam as mesmas cenas. O Brasil em pânico e o carioca na praia, aproveitando o domingo de sol.
As favelas sentindo o gostinho da cláusula pétrea da Constituição que dá a todos o direito de ir e vir...sem pagar pedágio.
Muito político vendo seus currais eleitorais virarem fumaça...de pólvora.
E um Oscar para a Edith Head global que desenhou os elegantíssimos coletes a prova de balas com que os globais se apresentaram na frente da Batalha de Itararé!
E isso é só o começo. No Rio existem milhares de favelas pedindo PAZ!!!
*nascido em Minas Gerais, é autor de "A MINEIRICE" e vive na Restinga de Piratininga, em Niterói (RJ), onde é "Inspector of Ecology"
Veja ainda:
Instituto Humanitas Unisinos: Uma guerra pela regeografização do Rio de Janeiro. Entrevista especial com José Cláudio Alves
“O que está por trás desses conflitos urbanos é uma reconfiguração da geopolítica do crime na cidade”. Assim descreve o sociólogo José Cláudio Souza Alves a motivação principal dos conflitos que estão se dando entre traficantes e a polícia do Rio de Janeiro. Na entrevista a seguir, concedida à IHU On-Line por telefone, o professor analisa a composição geográfica do conflito e reflete as estratégias de reorganização das facções e milícias durante esses embates. “A mídia nos faz crer – sobretudo a Rede Globo está empenhada nisso – que há uma luta entre o bem e o mal. O bem é a segurança pública e a polícia do Rio de Janeiro e o mal são os traficantes que estão sendo combatidos. Na verdade, isso é uma falácia. Não existe essa realidade. O que existe é essa reorganização da estrutura do crime”, explica. Clique para ler a entrevista completa
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Por José Flávio Abelha*
Toda a mídia brasileira, com as exceções de praxe (pouquíssimas) levou o brasileiro às raias de um surto coletivo com o pânico que esparramou, via satélite, urbe et orbi. Espalhou o pânico no país em tal grau que o Brasil parou neste fim de semana, de sábado para domingo, para assistir à versão nova em cores da "Tomada de Monte Castelo". O pânico se espalhou de tal forma que, nos distritos mais longínquos, as pessoas não saíram de casa, algumas, nem as janelas abriram, com medo de bala perdida.
A invasão do chamado complexo do Alemão era uma espécie de versão com efeitos especiais do episódio italiano de Monte Castelo.
Na manhã de sábado recebi um telefonema da minha mulher que estava em Belo Horizonte, implorando para que eu não saísse da nossa casa aqui em Niterói. Perguntou-me sobre o tempo e eu informei que o céu era de brigadeiro, azul maravilhoso. Sol de rebentar mamona e o pessoal nas praias. Mas eu teria de ficar em casa ante o perigo do conflito iminente.
Disse-lhe não era possível atender ao seu pedido. Eu estava de carro, na Linha Amarela, rumo ao Rio Centro para visitar a Feira da Providência.
O telefone ficou mudo. Acho que minha mulher desmaiou.
À noitinha, fui busca-la do Santos Dummont, ambos tranqüilos, eu e o aeroporto. E tranqüi-los, eu e minha mulher, rumamos para Piratininga enfrentando o trânsito caótico com tanta gente voltando da região oceânica depois de um dia de praia.
Resumo da ópera que a mídia desejava, a anunciada Tomada de Monte Castelo, com a carnificina que os nossos comunicadores anunciavam, frustrou-se.
E o que se viu foi a repetição da famosa Batalha de Itararé. Em 1930 as tropas de Vargas não foram molestadas e, agora, as tropas das gloriosas Forças Armadas repetiram o ocorrido na naquela época.
O arsenal da bandidagem, tão decantado pela mídia, foi esquecido na retirada humilhante, afinal, o recado aos chefões do tráfico fora muito claro pelos comandantes das três armas: da aeronáutica, nossos helicópteros estão armados com foguetes mas não vamos dispara-los, da marinha, nossos tanques que rodam sobre lagartas e passam por cima de qualquer obstáculo servem para uma cobertura às forças policiais estaduais, e do exército surgiu o recado unificador e alertador: nossos homens estão portando armas de guerra mas somente serão disparadas se formos atacados.
E o conjunto de forças, de mãos dadas, sitiaram e depois entraram naquele território que era a casa do diabo: o complexo do Alemão. Enquanto isso o carioca estava curtindo um céu azul maravilhoso, um sol escaldante e um´mar calmo. Praias lotadas contrastando com o resto, a maior parte, do Brasil, apavorado, assustado, em pânico provocado pela nossa eficiente, competente e ética mídia.
Desta ameaça midiática de uma carnificina surgiram pontos que eu já andei indicando em um pequeno texto sobre os parafusos bambos da máquina chamada Brasil.
Seria bom que, passada a Batalha de Itararé, nossos homens públicos refletissem mais antes de se pronunciarem.
Uma alta autoridade judiciária mandou dizer ao Brasil que "ainda existem juízes em Berlim"...e no Rio de Janeiro também e, pela primeira vez, decretou a prisão de intocáveis advogados, os pombos-correios, os parafusos bambos.
A vaidade andou campeando ao ponto de um líder comunitário criticar as UPP's como se elas fossem a salvação da lavoura. Não são não. Elas são a abertura da estrada que vai levar a paz e a presença do Estado aos morros dominados por marginais de alta periculosidade.A finalidade é, tão somente, ganhar terreno. Elas são os pára-quedistas que primeiro saltaram no planalto central para fazer uma clareira onde avionetas, os teco-tecos, pudessem levar as primeiras ferramentas para a construção de uma pista de pouco maior. Nesta, desciam os Douglas transportando pequenos tratores e, quatro anos depois, nascia Brasília, o sonho de Dom Bosco e do Presidente Juscelino. Não fosse o cientista Sérgio Besserman Vianna explicar as verdadeiras funções das UPP's e o vaidoso líder, com uma pontinha de inveja por não ter dado palpites na engenharia dessa salvação da lavoura que o próprio Besserman havia ajudado a desenhar, teria azedado a entrevista global. De qualquer forma, saiu mal na foto.
O secretário Beltrame, com o seu ímpeto gauchesco declarou histórica a colaboração da Marinha e informou que o Exército não se pronunciara.(Nunca ouvi falar que cumprir o dever é um gesto histórico). A resposta veio no ato, dada pelo Comandante, dizendo que não lhe fora pedido nada. De imediato o governador pediu ajuda e o Presidente Lula determinou que o Ministro da Defesa fornecesse o necessário ao governador.
Corre, agora, o Secretário Bletrame o desprazer de ver um afoito vereador propor mais um feriado para marcar o "histórico" dia.
A OAB, diante da descoberta dos pombos-correios, apenas disse serem necessárias mais provas, ao contrário de dizer que está certo quem mandou prender seus associados pois são fora-da-lei, porém, o esprit de corps falou mais alto.
As ONG's caladinhas, nem tugindo nem mugindo.
Dizem, hoje, que associações na Rocinha estão com medo de uma futura invasão das forças do Bem visando colocar ordem naquela grande comunidade, como se a Rocinha fosse o melhor dos mundos e não precisasse de uma UPP
O resto é o resto e foi debitado na conta da excitação dos focas e repórteres que repetiam, à exaustão, as mesmas notícias e as TVs reprisavam as mesmas cenas. O Brasil em pânico e o carioca na praia, aproveitando o domingo de sol.
As favelas sentindo o gostinho da cláusula pétrea da Constituição que dá a todos o direito de ir e vir...sem pagar pedágio.
Muito político vendo seus currais eleitorais virarem fumaça...de pólvora.
E um Oscar para a Edith Head global que desenhou os elegantíssimos coletes a prova de balas com que os globais se apresentaram na frente da Batalha de Itararé!
E isso é só o começo. No Rio existem milhares de favelas pedindo PAZ!!!
*nascido em Minas Gerais, é autor de "A MINEIRICE" e vive na Restinga de Piratininga, em Niterói (RJ), onde é "Inspector of Ecology"
Veja ainda:
Instituto Humanitas Unisinos: Uma guerra pela regeografização do Rio de Janeiro. Entrevista especial com José Cláudio Alves
“O que está por trás desses conflitos urbanos é uma reconfiguração da geopolítica do crime na cidade”. Assim descreve o sociólogo José Cláudio Souza Alves a motivação principal dos conflitos que estão se dando entre traficantes e a polícia do Rio de Janeiro. Na entrevista a seguir, concedida à IHU On-Line por telefone, o professor analisa a composição geográfica do conflito e reflete as estratégias de reorganização das facções e milícias durante esses embates. “A mídia nos faz crer – sobretudo a Rede Globo está empenhada nisso – que há uma luta entre o bem e o mal. O bem é a segurança pública e a polícia do Rio de Janeiro e o mal são os traficantes que estão sendo combatidos. Na verdade, isso é uma falácia. Não existe essa realidade. O que existe é essa reorganização da estrutura do crime”, explica. Clique para ler a entrevista completa
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segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Dia D? O Alemão está dominado? Dúvidas que nos ocorrem
Por Rodrigo Brandão, da Equipe do EDUCOM
O portal de notícias das Organizações Globo, o G1, resume os acontecimentos de domingo no Complexo de Favelas do Alemão com o título "Alemão dominado", sobre foto em que aparece um policial enrolado numa bandeira do Brasil, como uma capa, "capa de super-herói" talvez... em seguida o leitor é apresentado a uma sucessão de números, relatos, fotos e vídeos que compõem um mosaico de imagens e outros elementos a impactar nossas retinas.
Recheado com as histriônicas declarações do secretário de Segurança Pública fluminense, Mariano Beltrame, do tipo "provamos que invadimos e tomamos qualquer espaço deste estado", "hoje foi o Alemão, amanhã será a Rocinha e o Vidigal" ou "o Alemão era o centro do mal e o Rio virou uma página de sua história" (frase reproduzida em 99% dos portais), todo esse banquete apreciado por setores da sociedade carioca poderia facilmente ser enquadrado no circo que a mídia habitualmente constrói nesses episódios, e que Guy Debord tão bem descreve em seu "A Sociedade do Espetáculo".
Ok, mas e a reflexão e a crítica por trás dos "fatos"? Durante a semana, Estado e mídia fizeram chegar a nós que no primeiro dia de operações na Vila Cruzeiro mais de 60 pessoas haviam morrido. Um dia depois, na noite de quinta, 25, disse a Secretaria de Segurança que o balanço da semana de incursões trazia 32 mortos. As polícias do Rio de Janeiro, o Exército e a PF diziam estar no Alemão porque 600 suspeitos de tráfico ou associação com o tráfico haviam escapado ao cerco da Vila Cruzeiro e se refugiado ali. Até a madrugada de ontem, 28, um suspeito, segundo as autoridades, se entregara. À noite, o G1 trazia este balanço: 20 presos, 3 mortos, 50 motos apreendidas, 150 quilos de cocaína e 40 toneladas de maconha apreendidos, 50 fuzis apreendidos...
Você acredita nesses números? Ou melhor, você confia em quem traz a público esses "números"? Eles fazem algum sentido? Terá a maconha se tornado a droga mais rentável para o crime no Rio de Janeiro?
Visitando fóruns de ativistas da esquerda na Web ou conversando com militantes via redes sociais, vemos um surpreendente e insuspeito regozijo com a "nova política de segurança" trazida pelo governador Sergio Cabral ao Rio de Janeiro. Ao apontarmos contradições no discurso de Cabral e seus assessores e dizermos que nem UPP - pelo menos com a superficialidade e a cosmética que marcam seu atual estágio - nem incursões militares significam a vitória sobre o crime, muito menos a "paz", somos questionados, acusados de não vermos o novo, de sermos sectários...
Que não estejamos tão isolados ou num diálogo de surdos.
Atualizando: taí uma reposta a algumas das perguntas que deixamos... ou uma pulga atrás da orelha de quem ainda não tinha
O Dia: 'Chefões do tráfico conseguem escapar'
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O portal de notícias das Organizações Globo, o G1, resume os acontecimentos de domingo no Complexo de Favelas do Alemão com o título "Alemão dominado", sobre foto em que aparece um policial enrolado numa bandeira do Brasil, como uma capa, "capa de super-herói" talvez... em seguida o leitor é apresentado a uma sucessão de números, relatos, fotos e vídeos que compõem um mosaico de imagens e outros elementos a impactar nossas retinas.
Recheado com as histriônicas declarações do secretário de Segurança Pública fluminense, Mariano Beltrame, do tipo "provamos que invadimos e tomamos qualquer espaço deste estado", "hoje foi o Alemão, amanhã será a Rocinha e o Vidigal" ou "o Alemão era o centro do mal e o Rio virou uma página de sua história" (frase reproduzida em 99% dos portais), todo esse banquete apreciado por setores da sociedade carioca poderia facilmente ser enquadrado no circo que a mídia habitualmente constrói nesses episódios, e que Guy Debord tão bem descreve em seu "A Sociedade do Espetáculo".
Ok, mas e a reflexão e a crítica por trás dos "fatos"? Durante a semana, Estado e mídia fizeram chegar a nós que no primeiro dia de operações na Vila Cruzeiro mais de 60 pessoas haviam morrido. Um dia depois, na noite de quinta, 25, disse a Secretaria de Segurança que o balanço da semana de incursões trazia 32 mortos. As polícias do Rio de Janeiro, o Exército e a PF diziam estar no Alemão porque 600 suspeitos de tráfico ou associação com o tráfico haviam escapado ao cerco da Vila Cruzeiro e se refugiado ali. Até a madrugada de ontem, 28, um suspeito, segundo as autoridades, se entregara. À noite, o G1 trazia este balanço: 20 presos, 3 mortos, 50 motos apreendidas, 150 quilos de cocaína e 40 toneladas de maconha apreendidos, 50 fuzis apreendidos...
Você acredita nesses números? Ou melhor, você confia em quem traz a público esses "números"? Eles fazem algum sentido? Terá a maconha se tornado a droga mais rentável para o crime no Rio de Janeiro?
Visitando fóruns de ativistas da esquerda na Web ou conversando com militantes via redes sociais, vemos um surpreendente e insuspeito regozijo com a "nova política de segurança" trazida pelo governador Sergio Cabral ao Rio de Janeiro. Ao apontarmos contradições no discurso de Cabral e seus assessores e dizermos que nem UPP - pelo menos com a superficialidade e a cosmética que marcam seu atual estágio - nem incursões militares significam a vitória sobre o crime, muito menos a "paz", somos questionados, acusados de não vermos o novo, de sermos sectários...
Que não estejamos tão isolados ou num diálogo de surdos.
Atualizando: taí uma reposta a algumas das perguntas que deixamos... ou uma pulga atrás da orelha de quem ainda não tinha
O Dia: 'Chefões do tráfico conseguem escapar'
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domingo, 28 de novembro de 2010
Domingo sangrento?
É acompanhar as notícias de hoje no Rio de Janeiro para conferir...
Por Henrique Antoun*
RIO - Informações vindas de soldados das tropas do BOPE avisam que no domingo as pessoas devem permanecer em suas casas e evitar de circular. São extra oficiais, dadas através de telefonemas para familiares.
Esse aviso vem coroar um final de dia em que ouvimos à tarde um promotor repetir inúmeras vezes na Rede Globo que os "bandidos" (sic) deviam se entregar pois senão seriam mortos "em legítima defesa" (sic). Nas ruas as pessoas não param de repetir que os helicópteros da Globo "estragaram tudo" (sic) pois o BOPE ia matar os bandidos que batiam em retirada mas não pôde fazê-lo porque a Globo estava filmando. O escritor alter ego do Capitão Nascimento passou o dia dando declarações e explicando a operação na Globo. Expressões como "tropas inimigas", "baixas", "entrada da infantaria" e outras assemelhadas escorregaram sem cessar da boca do "Capitão" que rapidamente as retificava com eufemismos e nomes oficiais. A Globo perguntou todo tempo a ele porque a polícia não tinha atirado e matado todos os bandidos que fugiam do Morro do Cruzeiro pro Morro do Alemão - certamente na esperança de desmentir a versão popular que a culpava pelo fato - e ele respondia que fazia parte da lei de guerra "não massacrar o inimigo em fuga" (sic).
A partir de agora a sorte está lançada: 600 adolescentes e jovens (segundo o BOPE) que trabalham para o tráfico (idem) enfrentarão 2.000 homens fortemente paramentados e armados do BOPE, da Marinha e da Aeronáutica. Vai ser um horror!
*Ph.D e diretor do departamento de Fundamentos da Comunicação da ECO-UFRJ
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Por Henrique Antoun*
RIO - Informações vindas de soldados das tropas do BOPE avisam que no domingo as pessoas devem permanecer em suas casas e evitar de circular. São extra oficiais, dadas através de telefonemas para familiares.
Esse aviso vem coroar um final de dia em que ouvimos à tarde um promotor repetir inúmeras vezes na Rede Globo que os "bandidos" (sic) deviam se entregar pois senão seriam mortos "em legítima defesa" (sic). Nas ruas as pessoas não param de repetir que os helicópteros da Globo "estragaram tudo" (sic) pois o BOPE ia matar os bandidos que batiam em retirada mas não pôde fazê-lo porque a Globo estava filmando. O escritor alter ego do Capitão Nascimento passou o dia dando declarações e explicando a operação na Globo. Expressões como "tropas inimigas", "baixas", "entrada da infantaria" e outras assemelhadas escorregaram sem cessar da boca do "Capitão" que rapidamente as retificava com eufemismos e nomes oficiais. A Globo perguntou todo tempo a ele porque a polícia não tinha atirado e matado todos os bandidos que fugiam do Morro do Cruzeiro pro Morro do Alemão - certamente na esperança de desmentir a versão popular que a culpava pelo fato - e ele respondia que fazia parte da lei de guerra "não massacrar o inimigo em fuga" (sic).
A partir de agora a sorte está lançada: 600 adolescentes e jovens (segundo o BOPE) que trabalham para o tráfico (idem) enfrentarão 2.000 homens fortemente paramentados e armados do BOPE, da Marinha e da Aeronáutica. Vai ser um horror!
*Ph.D e diretor do departamento de Fundamentos da Comunicação da ECO-UFRJ
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sábado, 27 de novembro de 2010
Segurança pra quem?
Por Silvana Sá*
Os acontecimentos dos últimos dias no Rio de Janeiro têm me levado a refletir especialmente sobre o papel da mídia nas ações e políticas de segurança do governo estadual. A todo o momento são veiculadas cenas de guerra. Em alguns pontos da cidade o caos está instalado. A Marinha e a polícia estão nas ruas com seus blindados. O primeiro pensamento gerado por intermédio da mídia é de que a violência está instalada em todo o estado. O que não é verdade. A vida acontece normalmente em diversas partes tanto da região metropolitana, como serrana, Baixada... enfim, são conflitos localizados em pontos da cidade.
O segundo pensamento – e esse destoante do discurso pasteurizado apontado e massificado pela mídia – é que a onda de violência foi produzida pelo próprio Estado, em suas diferentes esferas, por mais de 40 anos de omissão. O único braço que o Estado se dignou a estender às comunidades sempre esteve armado. Sempre foi a polícia de repressão e apenas ela a representar o Estado nas favelas cariocas. Então, é uma questão produzida por anos de omissão.
A onda de violência que já chega ao terceiro dia e prejudica milhares, ajuda especificamente a um: ao governo estadual que agora tem ao seu lado o clamor popular para que continue a fazer o que sempre fez. O que faltava a Sérgio Cabral era ser tratado como heroi, como redentor das populações tanto das favelas quanto do “asfalto”.
Na quarta-feira, na Avenida Brasil, altura da Maré (entre as comunidades da Nova Holanda e Parque União) a polícia interceptou uma tentativa de incendiarem um ônibus. Chegaram a tempo de salvarem o coletivo. Muito bom. Acho importante. Ocorre que a população dessas comunidades ficaram reféns de tiros disparados tanto pela polícia quanto por bandidos da facção que domina aquela região. Então, quem perdeu de fato?
No Facebook, uma jornalista amiga minha e moradora da Maré escreveu na manhã de quinta: “Depois de uma noite não dormida, tiros, bombas e gritos, amanheci em cárcere privado... policiais que tentavam invadir a casa do vizinho, usaram o meu portão de escudo... eu e minha família viramos o inimigo público...”.
Pergunto: alguma coisa justifica essa política de segurança pública? Respondo: a política que aí está é apenas de resposta a mídia (inclusive internacional) para dizer que por aqui as coisas são controladas na base do cacetete e que sim, os jogos mundiais estão garantidos.
É guerra?
Fala-se muito em guerra contra o narcotráfico. Será? E se sim, em que medida? Será mesmo que são os traficantes varejistas quem controlam os bilhões de reais anuais gerados na fabricação e venda de drogas? Esse montante vultuoso de dinheiro está na Rocinha, no Complexo do Alemão, na vila Cruzeiro? Está claro que é preciso, sim, dar um basta a essa situação. Não sou a favor de bandidos. Acho que é preciso que o Estado ocupe as comunidades, mas as comunidades não podem ser tratadas como caso de polícia! Não podem!!! Lá existem milhares de pessoas que trabalham, estudam, se dedicam a diversas atividades e que nada têm a ver com esse caos instalado. São cidadãos que, infelizmente, sempre foram tratados como “os outros”, como os que não têm direitos, como os que não podem ter acesso a bens e serviços, como se não fossem sociedade.
O que precisa é que as pessoas sejam tratadas como pessoas e não como animais que devem ser domesticados, marcados e controlados dentro de um curral. Não somos gado!
*é jornalista e atuou no Núcleo de Comunicação da Maré. Especial para o Blog EDUCOM - Aprenda a ler a mídia
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terça-feira, 24 de novembro de 2009
Ele tem 16 anos e é jornalista comunitário
Aos 16 anos, René Silva é o idealizador e há cinco anos organizador de um jornal produzido exclusivamente por jovens da favela carioca do Adeus, no Complexo do Alemão. Começando cedo, com apenas onze anos, mostrou à familia e aos amigos que não lhe davam crédito, que com dedicação e perseverança algo como um jornalzinho de pequena circulação pode se tornar um processo de transformação social. Entre algumas realizações do "Voz da Comunidade", além da publicação de matérias de interesse da maioria dos moradores do Adeus, notícias e receitas, está a participação em campanhas, como as de arrecadação de alimentos. "Voz da Comunidade" é um jornal independente, que conta com uma equipe de organizadores, realizadores, patrocinadores e anunciantes. Conheça o jovem jornalista René Silva
Nota da Equipe do Blog: se você quiser entrar em contato com René e apoiar essa iniciativa, deixe seu e-mail em nossa caixinha de comentários. Obrigado e saudações educomunicativistas
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Os comunicadores e os Pontos de Cultura
publicado por Thereza Dantas no Ponto por Ponto, Espaço de Comunicação Compartilhada
Não é incomum observar oficinas de comunicação na grade da programação das oficinas de diversas Organizações Não-governamentais (ONG), Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) e instituições de caráter social, públicas e privadas. Ao fazer uma reportagem sobre o trabalho de uma ONG na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, encontrei uma oficina de "Jornalismo" e como jornalista resolvi pesquisar mais sobre essa nova onda.
Afinal o que é Jornalismo e o que é Comunicação?
Essa definição é consensual e pública: Jornalismo é a atividade profissional que consiste em lidar com notícias, fatos e a divulgação dessas informações. Também define-se o Jornalismo como a prática de coletar, redigir, editar e publicar informações sobre eventos atuais. Jornalismo é uma atividade da área da Comunicação, e dentro da Universidade, é o campo de conhecimento que forma publicitários, jornalistas ou relações públicas.
Mas a Comunicação é um conceito mais amplo, uma qualidade intrínseca do ser humano. Para Flávia Ferreira, jornalista que ministra as oficinas na Rede Enraizados, Ponto de Cultura da baixada fluminense que conta hoje com participação da militância do Hip-Hop de 16 organizações no Brasil e de outros países como Colômbia, Espanha, Bélgica, Portugal, Finlândia, França, Angola, Moçambique e Japão, a Comunicação é "tudo que envolve a sociedade, independente de ser mídia, pois tudo que fazemos precisa da comunicação". Flávia completa a sua ideia: "costumamos falar que um ser desprovido da comunicação se torna um animal, pois não conseguindo articular seus pensamentos com outros seres, ele não consegue pensar criticamente sobre si e sobre o mundo que o cerca, mundo este que só existe por que a comunicação o dotou de significados e signos". E a Flávia tem razão porque através da Comunicação nos relacionamos, dividimos e trocamos experiências, idéias, sentimentos, informações, e juntos modificamos a sociedade onde estamos inseridos.
A coordenadora de Comunicação do Ponto de Cultura Viva Favela, Mayra Jucá, explica o que são as oficinas de Comunicação da ONG carioca: "basicamente, nós capacitamos jovens moradores de comunidades de baixa renda para atuarem como 'Correspondentes Comunitários', termo que criamos no projeto Viva Favela para nomear os comunicadores que reportam sobre suas comunidades". Além desse trabalho formador de comunicadores existe uma grande preocupação com a forma, a maneira como essas comunidades serão retratadas “a proposta é a de construir uma imagem sem estigmas e sem o foco em questões sempre negativas como a violência e a pobreza, que é como a mídia em geral aborda esses espaços”, explica Mayra. É realmente difícil imaginar o ser humano que não se relaciona com outro, que não ame um outro, que não compre e que não venda para outro, enfim que não se comunique com outro ser humano. E a partir da afirmativa da Mayra Jucá podemos antever que para cada grupo social existe uma forma de se comunicar.
Quem são os comunicadores?
Na sua grande maioria são jovens, entre 16 a 25 nos, participantes das oficinas e atividades ligadas à comunicação dos eventos e problemas de suas comunidades. Mas para a carioca Gizele Martins, os jovens carecem de mais informações sobre o tema, "principalmente para quem não estuda na área de jornalismo". Gizele é uma virajovem, participa da redação da Revista Viração, projeto que nasceu em 2003 em São Paulo, e que conta hoje com a participação de jovens de escolas públicas e particulares nos conselhos editoriais nos 21 estados brasileiros para a produção da revista. Além da revista Viração ela também escreve no jornal "O Cidadão" produzido há 10 anos pela comunidade da Maré, no Rio de Janeiro. O bacana é que a jovem Viviane Oliveira também faz parte da equipe de colaboradores deste mesmo jornal só que participa via ONG Viva Favela, extensão do trabalho de políticas públicas da ONG Viva Rio. "Lá somos um total de oito pessoas. Duas delas são jornalistas formadas pela PUC-RJ, um é formado em publicidade, e todos os outros estudam Comunicação Social com habilitação em jornalismo", explica Viviane.
Para se ter uma ideia da importância do trabalho dos comunicadores, só o jornal "O Cidadão" cobre 16 bairros no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. São 20 mil exemplares distribuídos gratuitamente a cada três meses "nas escolas, nas associações de moradores, nos comércio, em lugares públicos da favela", explica a vira-midiadora (nome dos comunicadores da Revista Viração) Gizele Martins. E as mídias utilizadas por esses comunicadores são variadas. Podem ser jornais impressos, webrádios, rádios comunitárias, fanzines, blogs, sites, rádio poste, youtube, ou seja, eles podem ser impressos, áudios e vídeos produzidos de forma alternativa, mas não menos eficientes e muito mais próximos das reais necessidades de seus ouvintes, leitores e espectadores. Mas o comunicador tem uma característica curiosa: ele trabalha para várias redes sociais e de comunicação. O exemplo da correspondente comunitária Viviane Oliveira é muito comum: ela colabora com os blogs "O Cotidiano", "Foto&Jornalismo Maré" e "O CIDADÃO". Mais
Não é incomum observar oficinas de comunicação na grade da programação das oficinas de diversas Organizações Não-governamentais (ONG), Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) e instituições de caráter social, públicas e privadas. Ao fazer uma reportagem sobre o trabalho de uma ONG na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, encontrei uma oficina de "Jornalismo" e como jornalista resolvi pesquisar mais sobre essa nova onda.
Afinal o que é Jornalismo e o que é Comunicação?
Essa definição é consensual e pública: Jornalismo é a atividade profissional que consiste em lidar com notícias, fatos e a divulgação dessas informações. Também define-se o Jornalismo como a prática de coletar, redigir, editar e publicar informações sobre eventos atuais. Jornalismo é uma atividade da área da Comunicação, e dentro da Universidade, é o campo de conhecimento que forma publicitários, jornalistas ou relações públicas.
Mas a Comunicação é um conceito mais amplo, uma qualidade intrínseca do ser humano. Para Flávia Ferreira, jornalista que ministra as oficinas na Rede Enraizados, Ponto de Cultura da baixada fluminense que conta hoje com participação da militância do Hip-Hop de 16 organizações no Brasil e de outros países como Colômbia, Espanha, Bélgica, Portugal, Finlândia, França, Angola, Moçambique e Japão, a Comunicação é "tudo que envolve a sociedade, independente de ser mídia, pois tudo que fazemos precisa da comunicação". Flávia completa a sua ideia: "costumamos falar que um ser desprovido da comunicação se torna um animal, pois não conseguindo articular seus pensamentos com outros seres, ele não consegue pensar criticamente sobre si e sobre o mundo que o cerca, mundo este que só existe por que a comunicação o dotou de significados e signos". E a Flávia tem razão porque através da Comunicação nos relacionamos, dividimos e trocamos experiências, idéias, sentimentos, informações, e juntos modificamos a sociedade onde estamos inseridos.
A coordenadora de Comunicação do Ponto de Cultura Viva Favela, Mayra Jucá, explica o que são as oficinas de Comunicação da ONG carioca: "basicamente, nós capacitamos jovens moradores de comunidades de baixa renda para atuarem como 'Correspondentes Comunitários', termo que criamos no projeto Viva Favela para nomear os comunicadores que reportam sobre suas comunidades". Além desse trabalho formador de comunicadores existe uma grande preocupação com a forma, a maneira como essas comunidades serão retratadas “a proposta é a de construir uma imagem sem estigmas e sem o foco em questões sempre negativas como a violência e a pobreza, que é como a mídia em geral aborda esses espaços”, explica Mayra. É realmente difícil imaginar o ser humano que não se relaciona com outro, que não ame um outro, que não compre e que não venda para outro, enfim que não se comunique com outro ser humano. E a partir da afirmativa da Mayra Jucá podemos antever que para cada grupo social existe uma forma de se comunicar.
Quem são os comunicadores?
Na sua grande maioria são jovens, entre 16 a 25 nos, participantes das oficinas e atividades ligadas à comunicação dos eventos e problemas de suas comunidades. Mas para a carioca Gizele Martins, os jovens carecem de mais informações sobre o tema, "principalmente para quem não estuda na área de jornalismo". Gizele é uma virajovem, participa da redação da Revista Viração, projeto que nasceu em 2003 em São Paulo, e que conta hoje com a participação de jovens de escolas públicas e particulares nos conselhos editoriais nos 21 estados brasileiros para a produção da revista. Além da revista Viração ela também escreve no jornal "O Cidadão" produzido há 10 anos pela comunidade da Maré, no Rio de Janeiro. O bacana é que a jovem Viviane Oliveira também faz parte da equipe de colaboradores deste mesmo jornal só que participa via ONG Viva Favela, extensão do trabalho de políticas públicas da ONG Viva Rio. "Lá somos um total de oito pessoas. Duas delas são jornalistas formadas pela PUC-RJ, um é formado em publicidade, e todos os outros estudam Comunicação Social com habilitação em jornalismo", explica Viviane.
Para se ter uma ideia da importância do trabalho dos comunicadores, só o jornal "O Cidadão" cobre 16 bairros no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. São 20 mil exemplares distribuídos gratuitamente a cada três meses "nas escolas, nas associações de moradores, nos comércio, em lugares públicos da favela", explica a vira-midiadora (nome dos comunicadores da Revista Viração) Gizele Martins. E as mídias utilizadas por esses comunicadores são variadas. Podem ser jornais impressos, webrádios, rádios comunitárias, fanzines, blogs, sites, rádio poste, youtube, ou seja, eles podem ser impressos, áudios e vídeos produzidos de forma alternativa, mas não menos eficientes e muito mais próximos das reais necessidades de seus ouvintes, leitores e espectadores. Mas o comunicador tem uma característica curiosa: ele trabalha para várias redes sociais e de comunicação. O exemplo da correspondente comunitária Viviane Oliveira é muito comum: ela colabora com os blogs "O Cotidiano", "Foto&Jornalismo Maré" e "O CIDADÃO". Mais
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