sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Em ato contra criminalização, MST anuncia soltura de 20 sem terra

por Cristiano Navarro, do Brasil de Fato
O que seria um ato de protesto contra criminalização foi um pouco mais além na quarta, dia 10, em São Paulo. Com dezenas de pessoas sentadas no chão e outras dezenas de pé do lado de fora da sala, o auditório dos Estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, no centro de São Paulo, com capacidade para 300 pessoas, esteve lotado para o “Ato Pela Libertação dos Presos Políticos do MST e Contra a Criminalização dos Movimentos Sociais”.

Quando o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Gilmar Mauro, anunciou a soltura dos 20 sem terra que estavam sob prisão preventiva desde o último dia 26 de janeiro, na região de Iaras, universitários, sindicalistas, parlamentares e militantes de movimentos sociais vibraram respondendo em coro, “Liberdade para os presos políticos do MST! Liberdade para os presos políticos do MST!”.

A ordem de soltura foi emitida pelo desembargador Luiz Pantaleão, da 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo. Pantaleão acolheu o pedido de habeas corpus feito pela defesa dos sem terra.

Apesar de soltos, os sem terra continuam como réus no processo que investiga uma ocupação realizada na área grilada pela empresa Cutrale no ano passado. Dos 20 militantes com ordem de prisão preventiva, nove se encontravam presos. O processo está na fase de inquérito e outras 55 pessoas ainda podem ser indiciadas.

Apoio à luta
O advogado do MST Roberto Santana, membro da Rede Nacional de Advogados Populares (Renap), agradeceu ao apoio dos movimentos e militantes manifestados em atos semelhantes. “Nos tivemos uma vitória que foi resultado da atuação de cada um dos que aqui estão presentes”, afirmou o advogado.

Os parlamentares e entidades que em seguida se manifestaram celebraram a ordem de soltura, manifestando apoio premanente às luta pela reforma agrária.

O ato realizado na noite desta quarta-feira (10) foi Organizado pelo Comitê Contra A Criminalização dos Movimentos Sociais, criado para monitorar casos de violências contra as organizações sociais.

O contexto em que lutar é crime
Em sua fala, Gilmar Mauro situou o caso de Iaras em uma conjuntura política maior. “Essa criminalização não se refere apenas ao MST. Trata-se da criminalização dos pobres, feita através de práticas neofascistas”.

Para o presidente da Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra), Plínio de Arruda Sampaio, a violência no campo está ligada ao seu modelo de produção, que expulsa os agricultores de suas terras e concentra grandes extensões sob propriedade de empresas transnacionais. "A terra está sendo entregue às multinacionais, o que exige escala de produção e concentração de terra maiores, na mão de cinco ou seis”.

Plínio usa o caso das terras griladas pela Cutrale como exemplo de favorecimento das grandes empresas dentro deste modelo. “Aquela terra (Fazenda Santo Henrique) foi roubada do Estado, ela é nossa, é do povo brasileiro. Em 1941, Ademar de Barros (interventor do estado) fez usucapião da área com a cumplicidade da justiça. De lá para cá, continua tudo invertido”. (BF)

Movimentos sociais se articulam contra ataques da grande mídia, Judiciário e parlamentares ruralistas à luta pela Reforma Agrária

Na primeira reunião no Rio da rede de solidariedade “Somos Todos Sem Terra” em 2010, dia 9, na sede da organização Justiça Global, representantes de movimentos sociais, além de líderes do MST começaram a definir estratégias e um calendário de lutas. Lançado com atos em capitais há dois meses, como o realizado na ABI (veja post abaixo), o movimento tem por objetivo reagir à campanha sistemática da grande mídia, em aliança com a bancada parlamentar do agronegócio e sua CPMI do MST, que tentam criminalizar a luta pela Reforma Agrária e os movimentos populares em geral.

Foi ponto de partida para o surgimento do “Somos Todos Sem Terra” a manipulação, comandada pela Rede Globo de Televisão, dos fatos ligados à ocupação por sem terra de uma fazenda da fábrica de sucos Cutrale no interior de São Paulo, seguida da criação da CPMI. Esta semana, o MST comemora a libertação de 20 sem terra que eram mantidos presos em São Paulo. Mas no Rio Grande do Sul a situação permanece crítica. Atualmente, sete militantes e dirigentes do MST estão presos naquele estado, tendo sido denunciados pela Procuradoria com base na Lei de Segurança Nacional. Foram criadas pelo Ministério Público estadual quatro zonas de emergência na zona rural gaúcha, onde o MST sequer pode circular, mesmo tendo o Movimento arrendado terras – um dos fazendeiros que arrendou terras aos lavradores responde a processo.

Os ativistas elegeram o Fórum Urbano Mundial, entre os dias 22 e 26 de março, na zona portuária do Rio, como data e local das primeiras manifestações de rua da campanha. Para acontecer paralelo e em espaço físico próximo ao Fórum Urbano, reunindo chefes de Estado, o FSM e outros setores das esquerdas estão organizando o Fórum Social Mundial Urbano. Esse Fórum deverá contar com militantes do “Somos Todos Sem Terra” em mesas de debate.

A campanha deve produzir material de propaganda, como camisetas com mensagens em solidariedade aos sem terra, e buscar apoios ao MST nos meios intelectual, jurídico, artístico, entre ativistas das mais variadas causas populares, jornalistas e na comunidade internacional. O objetivo é conquistar reconhecimento à luta pela Reforma Agrária na sociedade brasileira e somar forças para a disputa ideológica contra o agronegócio e a mídia. (R.B, equipe do Blog EDUCOM)

9 de dezembro de atos pró-MST deve ser ponto de partida para rede de solidariedade

Escola Florestan Fernandes faz 5 anos e luta para continuar transformando o Brasil pela educação

Por Rodrigo Brandão, da equipe do Blog EDUCOM, de Guararema (SP)
Ao receber sábado, dia 6, centenas de sem terra, militantes de diversos movimentos sociais do Brasil e da América Latina, intelectuais, professores universitários, políticos de esquerda, juízes de direito, advogados, juristas, jornalistas e personalidades da sociedade brasileira para celebrar cinco anos de existência, a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) lançou um apelo, durante ato público (foto) na plenária de seu campus, em Guararema (SP): está lutando para continuar aberta e para isso precisa da ajuda de todos nós. Continuar funcionando, para a ENFF e para quem acredita em uma revolução socialista no Brasil, significa manter vivo o sonho da transformação, da verdadeira democracia e da emancipação do povo brasileiro.

Em dezembro, foi criada a Associação dos Amigos da ENFF, uma organização formada por dirigentes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ativistas de outros movimentos sociais, intelectuais e professores que hoje lecionam voluntariamente na Escola, mantida com sacrifício pelo MST e seus parceiros desde 2005. A Associação vai lutar durante todo o ano de 2010 para angariar apoio político e financeiro, na tentativa de permitir a continuidade do projeto. Sediada numa área de Mata Atlântica nativa de 12 hectares, a 65 quilômetros da cidade de São Paulo, a ENFF tem 2.400 metros quadrados de sua planta ocupados por edifícios pedagógicos, salas de aula para mais de 200 pessoas e biblioteca com 40.000 títulos. Mais de 1.000 sem terra e militantes de organizações do Brasil e do mundo já passaram por seus mais de 14 cursos superiores (como Agroecologia, Agronomia, Geografia, História, Letras e Administração), 8 de pós-graduação (entre os quais Filosofia, Educação de Jovens e Adultos e Mestrado em Sociologia Rural), além de 6 cursos técnicos e 8 cursos livres.

“Estamos interrompendo a tradição de continuidade da opressão, que se manifesta na mídia, na educação tradicional, de corte capitalista”, pontuou na cerimônia de aniversário Ademar Bogo, integrante da Direção Nacional do MST e diretor da Florestan Fernandes. Segundo Bogo, a educação do MST “não separa o dirigente, o militante e o formador de quadros. É a militância, a prática da luta de classes que apresenta as contradições e a necessidade da formação. Organizamos os trabalhadores para lutar pela superação dos problemas da sua vida cotidiana e despertamos em cada um a necessidade de estudar, de refletir, de se aprimorar. Porque a exigência diária do nosso direito à terra e à dignidade é que nos leva à necessidade de se formar. A ENFF permite que os militantes que aprendem na praxis e apenas ouviram falar de Marx, Lênin, Che Guevara e outros grandes revolucionários e pensadores comunistas possam se encontrar em nosso campus e aprender mais sobre eles”, disse Bogo.

Dois intelectuais que lecionam na ENFF completaram a mesa de debates do seminário “O papel da formação política e ideológica no atual momento histórico: desafios e possibilidades”. Eles representaram simbolicamente os mais de 500 professores-voluntários dos cursos de graduação, pós-graduação e técnicos ministrados na Florestan. A filósofa e educadora cubana Isabel Monal fez um balanço atual e um histórico das lutas dos movimentos populares na América Latina. O educador e historiador Luiz Carlos de Freitas, da Unicamp, destacou a importância de a ENFF trazer um novo modelo de educação, que rompe com os espaços-salas de aula da escola capitalista. Freitas notabilizou-se por publicar estudos sobre a política pública de educação dos primeiros anos da Revolução Russa de 1917.

Participe da Associação de Amigos da ENFF
Após o seminário, o intelectual Paulo Arantes transmitiu o cargo de presidente da Associação dos Amigos da ENFF ao jornalista José Arbex Jr. Arbex fez um balanço dos primeiros movimentos da Associação e apresentou as metas do projeto, destacando que a ENFF buscará apoios em duas frentes: política e financeira. Cada um dos presentes recebeu dos representantes da Associação de Amigos este comunicado, com recomendação de que fosse distribuído e propagado ao máximo. Leia:

Participe da Associação de Amigos da Escola Florestan Fernandes

Prezado(a) companheiro(a),

Vivemos hoje um momento de festa e de luta.

Festa porque a Escola Nacional Florestan Fernandes completa o seu quinto ano de existência com um histórico pleno de realizações importantes que nos enchem de orgulho e alimentam nossa disposição de prosseguir na empreitada.

Luta porque os setores mais reacionários e conservadores do Brasil estão ampliando sua escalada de ataques aos movimentos sociais e às organizações dos trabalhadores, especialmente o MST. As críticas dos meios de comunicação de massa são constantes e cada vez mais violentas e virulentas. Refletem o ódio, o preconceito e a deliberada intenção das classes dominantes de impedir que os trabalhadores sejam autores soberanos do seu próprio caminho.

Precisamente neste momento de festa e de luta, resolvemos criar a Associação dos Amigos da Escola Nacional Florestan Fernandes. Nossa ambição é conquistar o máximo de apoio junto aos setores da sociedade que se disponham a contribuir para o fortalecimento, ampliação e desenvolvimento das atividades de formação da nossa Escola. Este apoio é um ato político da mais alta relevância porque expressa o nosso repúdio à campanha de criminalização dos movimentos sociais orquestrada pela mídia em aliança com o grande capital, como também expressa a nossa mais profunda solidariedade às atividades da Escola, neste momento em que ela mais precisa de nós.

É com este espírito que nos dirigimos a você! Venha fazer parte da nossa associação! Você pode contribuir com uma taxa de R$ 20,00 (vinte reais) mensais e, se quiser assumir um encargo maior, pode aderir às contribuições solidárias. Aproveitamos para convidar todos os associados, especialmente os que já fazem parte do quadro de professores e de colaboradores da Escola, para que se integrem ativamente às atividades da nossa Associação; precisamos da sua ajuda para a elaboração de propostas, para a organização de eventos, de atividades de solidariedade, sugestões, críticas etc.

Nosso primeiro objetivo é conquistar 500 adesões até o final de fevereiro e acreditamos que vamos conseguir superar esse número, que é o mínimo necessário, embora longe de ser suficiente, para assegurar o desenvolvimento do nosso plano de trabalho ao longo de 2010.

Caso você concorde e queira se associar, por favor, procure a secretaria executiva através dos telefones: (11) 3105-0918, 9572-0185 e 6517-4780 ou do correio eletrônico: associacaoamigos@enff.org.br.

Contamos com você na Associação dos Amigos da Escola Nacional Florestan Fernandes!
Venha nos ajudar a ampliar nossas forças e a aprofundar nossa frente de lutas e de festas.

Conselho de Coordenação
José Arbex Júnior
Maria Orlanda Pinassi
Carlos Duarte

Conselho Fiscal
Caio Boucinhas
Delmar Mattes
Carlos de Figueiredo

Secretaria Executiva
Magali Godoi

Rua da Abolição n° 167 - Bela Vista - São Paulo – SP – Brasil - CEP 01319-030 - Telefone: (55-11) 3105-0918 - Correio eletrônico: associacaoamigos@enff.org.br

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Lula defende participação da sociedade na discussão de políticas de comunicação

do website do Muticom
Depois da polêmica em torno do Plano Nacional de Direitos Humanos, que contém propostas sobre a democratização da comunicação, o presidente Luiz Inácio Lula criticou ontem (26) o empresariado do setor, que se retirou das discussões da Conferência Nacional de Comunicação, realizada em Brasília no ano passado. Ele defendeu a reunião, afirmando que as políticas para o setor devem ser discutidas também pela sociedade

“Vocês sabem que metade dos empresários da comunicação não participou. Todos participaram, praticamente todos os movimentos sociais. É engraçado que ninguém mordeu o dedo de ninguém, as pessoas não iam lá para xingar, para ofender, as pessoas iam lá para dizer: você têm um olhar diferente de mim. Vamos juntar esses dois olhares e ver qual é o olhar que podemos dar para a política de comunicação, que não pode ficar apenas sendo discutida por alguns empresários, mas pela sociedade”.

As declarações foram dadas pelo presidente em discurso para mais de 7 mil pessoas no Ginásio Gigantinho, em Porto Alegre, em evento do Fórum Social Mundial (FSM).

A Conferência Nacional de Comunicação aprovou 665 propostas em defesa de um marco regulatório para o setor, de maior participação da sociedade na difusão dos direitos humanos pelas veículos de comunicação, de um conselho de classe para os jornalistas e da regulamentação de artigos constitucionais que tratam da produção de conteúdos regionais, educativos e culturais, por exemplo.

No discurso, Lula citou a contribuição dessas conferências para as políticas sociais brasileiras. Lembrou que mais de 60 reuniões sobre diversos temas foram realizadas nos últimos sete anos e disse que pretende legalizar o modelo desses encontros, juntamente com as políticas sociais, para que outros governo também tenham um espaço democrático de diálogo com a sociedade.

Ao fazer um balanço dos 10 anos do Fórum Social Mundial, o presidente citou a contribuição da sociedade e avaliou que o espaço está “calejado, mais maduro e mais sabido”. Segundo Lula, após a crise financeira internacional, que levantou incertezas sobre o modelo neoliberal, o FSM tem um espaço para crescer como contraponto às políticas capitalistas.

“O fórum precisa continuar produzindo a ideia da utopia”, disse.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Marina Silva: a palavra ainda está com você, leitor...

                                                                                                                                                            

 
Ah... que saudades da Graúna do Henfil!

Será que a Marina Silva, nossa senadora, vai ser uma Graúna no PV?

Há quem diga que não.

Será que ela vai ser um gás novo no PV para legitimar e modernizar os discursos dos neoliberais e dos neoverdes do partido?

Comente.

Antes (ou depois), conheça Henfil e Marina

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

FSM 10 Anos: em Porto Alegre e Salvador, movimentos sociais definem pauta para 2010

No RS, plenária do dia 29 estabeleceu calendário de lutas e temas prioritários para este ano

por Igor Ojeda, do Brasil de Fato
Os diversos movimentos sociais do Brasil e do mundo realizaram, na manhã desta sexta-feira (29), a sua já tradicional assembleia unificada no marco do Fórum Social Mundial (FSM). Segundo a organização, o evento reuniu cerca de mil pessoas no auditório da Usina do Gasômetro, em Porto Alegre.

Durante o encontro, estabeleceu-se que as inúmeras pautas para 2010 que constarão do documento final dos movimentos reunidos no FSM – que será divulgado ainda hoje – estarão inseridas em quatro eixos fundamentais de lutas: contra os efeitos da crise do capitalismo sobre os trabalhadores, contra as políticas que causam danos ao meio ambiente, contra a militarização e pela soberania alimentar.

A ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Lúcia Stumpf, fez a leitura do documento preliminar elaborado pelos movimentos, que recebeu sugestões de itens a adicionar por parte da plenária. Segundo o texto, ficou definido que no dia 31 de maio ocorrerá, em São Paulo, uma assembleia nacional dos movimentos sociais, com o objetivo de estabelecer um calendário comum de lutas.

O documento afirma, ainda, que os 10 anos de FSM foram fundamentais para a construção de uma nova cultura política, baseada no multilateralismo, e que a atual crise econômica coloca os movimentos sociais em situação favorável para se travar a luta por um outro mundo.

Antes da leitura do texto preliminar, pelo menos dois importantes eventos foram anunciados. O primeiro, por Marcos Ibáñez, da Frente Social e Popular do Paraguai: o Fórum Social das Américas, que será realizado entre os dias 11 e 15 de agosto na capital paraguaia, Assunção.

O outro evento foi apresentado por Pablo Solón, embaixador da Bolívia perante à ONU. Segundo ele, ocorrerá em Cochabamba, na região central boliviana, entre 19 e 22 de abril, uma conferência dos povos sobre as mudanças climáticas. “Vinte e um países querem nos impor o acordo de Copenhague, que os libera das responsabilidades que têm por terem contaminado nosso planeta. Contra esses 21 países, estamos convocando uma conferência de todos os movimentos sociais e povos do mundo para
definirmos o que fazer para enfrentar essa agenda de cambio climático que nos afeta a todos”, disse Solón, antecipando que um dos objetivos é a elaboração de uma Declaração Universal dos Direitos da Mãe-Terra.

Cerca de 35 mil pessoas participaram da edição que comemorou os dez anos do Fórum Social Mundial na Grande Porto Alegre. Os dados foram divulgados sexta, 29, durante uma mesa de avaliação na Assembleia Legislativa gaúcha.

Fórum Social Temático da Bahia: movimentos apresentarão projeto de país em debate eleitoral

por Bia Barbosa, da Agência Carta Maior
Com o intuito de consolidar uma plataforma de bandeiras unitárias e um calendário de lutas para o ano de 2010, cerca de 300 militante, de 15 organizações nacionais, participaram da Assembleia dos Movimentos Sociais, no encerramento das atividades do Fórum Social Temático da Bahia, neste domingo (31), em Salvador. No centro do debate, a construção de um projeto de país, que será discutido e apresentado no bojo do debate eleitoral como forma de orientar a atuação dos movimentos na disputa política mais ampla.

Reconhecendo o FSM como um espaço importante para contagiar corações e mentes para a idéia de que é possível construir outro mundo, com justiça social e democracia, sem destruir o planeta e valorizando as culturas nacionais, a integração e a solidariedade entre os povos, os movimentos sociais apontaram, no documento resultante do encontro, os principais desafios para o próximo período.

"Essa crise abriu a possibilidade de se rediscutir o ordenamento mundial, os rumos da sociedade, o papel do Estado e um novo modelo de desenvolvimento. (...) Nosso continente, a América Latina, atrai os olhos de todo o planeta diante de sua onda transformadora. Por outro lado, a hegemonia mundial ainda é capitalista e as elites não entregarão o continente que sempre foi tido como o quintal do imperialismo de mão beijada", analisam.

Eles lembram que o povo estadunidense elegeu Barack Obama em um grande movimento de massas, mas mesmo com Obama o imperialismo continua sendo imperialismo. No Brasil, reconhecem os avanços do governo Lula, mas afirmam que as Reformas estruturais capazes de enraizar as conquistas democráticas não foram realizadas e a grave desigualdade social está longe de ser resolvida. "Por isso, devemos lutar pelo aprofundamento das conquistas nesse período de embate político que se aproxima", aponta a Assembleia.

Entre as bandeiras unitárias da plataforma estão a luta contra os monocultivos predatórios, os desmatamentos e o latifúndio e em defesa da biodiversidade e dos recursos naturais como forma de preservação do meio ambiente; o combate ao machismo, ao racismo e à homofobia; a defesa do Pré-sal 100% para o povo brasileiro; a luta contra o golpe de Estado em Honduras; a criminalização dos movimentos sociais e a solidariedade aos presos políticos do MST.

"A direita vai se aproveitar das eleições para justificar toda a repressão que faz contra os movimentos sociais. Precisamos estar unidos para este enfrentamento", avalia João Paulo Rodrigues, da Coordenação Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

A solidariedade ao povo haitiano, diante do recente desastre ocorrido em virtude de uma seqüência de terremotos, também está entre as prioridades dos movimentos para o primeiro semestre. Além da ajuda solicitada ao governo federal pela Via Campesina, o objetivo é angariar apoio a ser entregue diretamente aos movimentos populares do país. "O Haiti foi a única revolução de ex-escravos que saiu vitoriosa. Por isso o imperialismo não a aceita. Já construímos a Frente dos Movimentos em Solidariedade ao Haiti e seguiremos reivindicando a retirada das tropas brasileiras do país, transformação a ação do Brasil em ajuda humanitária", explica Milton Barbosa, do Movimento Negro Unificado (MNU).

Um projeto soberano para o Brasil
A Assembleia dos Movimentos Sociais em Salvador aprovou ainda a construção de um projeto de desenvolvimento soberano, democrático e com distribuição de renda para o Brasil a ser apresentado pelos movimentos no bojo do processo de debate eleitoral deste ano. A idéia é fazer um grande mutirão de debates, envolvendo estados, municípios e segmentos sociais

"Não será um programa de governo, e sim uma plataforma dos movimentos sociais para uma disputa mais ampla, para que os movimentos influenciem nos rumos do nosso país", explica Rosane Silva, da Central Única dos Trabalhadores. "A Assembleia dos Movimentos Sociais foi importante para marcar a unidade dos movimentos neste ano eleitoral e enfrentar o debate para disputar hegemonia na sociedade", diz.

Já há consenso em relação a alguns pontos deste projeto, como a questão da reforma agrária, da redução da jornada de trabalho, e da legalização do aborto. Outros aspectos seguem divergentes, como o debate sobre o modelo energético do país e a reestatização de empresas como a Vale. O debate começa oficialmente no dia 31 de maio, em São Paulo, quando acontece uma Assembleia Nacional dos Movimentos Sociais.

Antes disso, as organizações já sairão às ruas na Jornada de comemoração dos 100 anos do Dia Internacional da Mulher, no dia 8 de março, num calendário que seguirá em abril com a Jornada de mobilizações em defesa da Reforma agrária e contra a criminalização dos movimentos sociais; em maio com a celebração do Dia do Trabalhador; e em 1 de junho com a Conferência Nacional da Classe Trabalhadora. Continue lendo e confira a íntegra do documento aprovado no FSM baiano

Justiça de Santa Catarina manda soltar três integrantes do MST

do Brasil de Fato
O Tribunal de Justiça de Santa Catarina mandou libertar no sábado, 30, três integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Acusados de serem suspeitos de planejar ocupações, Altair Lavratti, Rui Fernando da Silva e Marlene Borges foram presos na última semana em Imbituba (SC). Os três já estão em liberdade.

Segundo a PM catarinense, as prisões foram preventivas, para evitar supostas ações ilegais. Mas de acordo com o MST, a passagem dos três pela prisão foi injusta, já que eles não tinham cometido crimes.

Desde dezembro, reuniões do movimento eram investigadas, classificadas como suspeitas pela PM. O MST justificou dizendo que há mais de dez anos promove encontros com a comunidade local para discutir com as famílias sobre seus direitos.

Na sexta, mais de 50 entidades participaram de um ato de apoio ao MST de Santa Catarina. A atividade condenou a prisão dos três sem terra.

Durante o ato, os representantes das entidades assinaram uma moção de repúdio à ação da Polícia Militar e do Judiciário, que efetuaram as prisões dos integrantes do MST.

A presunção de inocência

por Dalmo de Abreu Dallari*
De acordo com o que dispõe a Constituição brasileira no artigo 5°, inciso LVII, "ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória". Esse dispositivo é o reflexo, na legislação, do princípio denominado "presunção de inocência", consagrado na doutrina jurídica democrática e atenta à proteção dos valores e direitos fundamentais da pessoa humana. Um fato trágico ocorrido recentemente na França e divulgado com certa ênfase pela imprensa, tanto pelos jornais quanto pela televisão, dá ensejo a que se verifique, pelo tratamento dado à matéria e pela linguagem utilizada, o estrito respeito da imprensa francesa pelo princípio da presunção da inocência, em contraste com o que frequentamente se verifica na imprensa brasileira.

É interessante observar, antes de tudo, que no caso da França o respeito à presunção de inocência tem um significado histórico. A Constituição francesa atual, que é de 1958, não contém um dispositivo expresso sobre esse princípio, mas deixa claro o seu acolhimento quando estabelece, no Preâmbulo, que o povo francês proclama solenemente sua vinculação aos Direitos Humanos definidos pela Declaração de 1789. E no artigo 9° dessa Declaração está expresso que toda pessoa será presumida inocente até que seja declarada culpada em julgamento regular. Assim, pois, é muito significativo que a imprensa de hoje demonstre estrito acatamento a um princípio enunciado em 1789.

O fato que dá ensejo a estas considerações ocorreu no dia 8 de janeiro de 2010, em local público e à luz do dia, não havendo dúvidas quanto aos seus contornos gerais. Dentro das dependências do Liceu Darius-Milhaud, escola de nível médio localizada na região parisiense, um aluno de 18 anos de idade esfaqueou um colega da mesma idade, que acabou falecendo num hospital poucas horas depois. Segundo depoimentos de outros colegas, o que originou a tragédia foi o fato de que a vítima namorava ou tentava namorar uma irmã do agressor, também aluna da mesma escola.

O cuidado da polícia
E aqui cabe a primeira observação quanto ao tratamento dado à matéria pela imprensa francesa. Em nenhum lugar foram usadas as palavras "crime" ou "assassinato" para noticiar a ocorrência. O fato tem sido referido como agressão ou drama e sem qualificativos. Em relação ao estudante que deu as facadas no colega, a imprensa sempre se refere ao "suposto" ou então "presumido" autor. Enquanto não houver uma decisão judicial afirmando sua culpa, ele será sempre referido como autor suposto ou presumido, jamais como criminoso ou culpado. E em nenhum lugar, em momento algum, apareceu o seu nome. A par disso, ele já foi ouvido pela polícia e isso foi noticiado, mas não foi mostrado pela televisão nem fotografado pelos jornais.

A televisão foi ao Liceu e entrevistou alguns alunos da escola, que se encontravam no local quando da ocorrência, e essas testemunhas informaram que foi usada uma faca de cozinha e manifestaram discretamente sua opinião sobre o motivo provável, sem usar qualquer qualificativo quanto aos fatos e seus participantes, limitando-se a informar que o agressor sempre foi pacífico e bem relacionado com os colegas. Em nenhum caso foi revelado o nome da testemunha. A polícia, numa nota sucinta e discreta distribuída à imprensa, informou que "o suposto agressor foi ouvido para verificação da ocorrência de homicídio voluntário". Uma pessoa morreu vítima de facadas. Houve, portanto, homicídio, mas só depois de concluído o processo judicial é que se poderá ter certeza quanto à intenção de matar e se saberá se o agressor estava em condições mentais que lhe permitissem controlar os seus atos e avaliar o seu significado. Daí, o cuidado da própria polícia, refletido no tratamento do caso dado pela imprensa, quanto à qualificação jurídica da ocorrência e do agressor.

Evitar antecipação de julgamentos
O fato não deixou de ser noticiado, com toda a ênfase justificada por seu significado humano e social. Dois ministros de Estado, o da Educação e o do Interior, foram ao Liceu conversar com os responsáveis pelo estabelecimento para ter informações precisas e avaliar os aspectos relacionados com a segurança nas escolas. Mas o drama humano e familiar, decorrente da morte trágica de um jovem e do envolvimento de um colega na ocorrência, perceptível nas entrelinhas, não teve tratamento escandaloso e sensacionalista, como, infelizmente, é muito comum na imprensa brasileira e, certamente, seria a linha adotada numa eventual ocorrência como essa.

Como fica evidente pelo tratamento dado ao caso pela imprensa francesa, o respeito ao princípio constitucional da presunção de inocência tem extraordinária importância pelos reflexos, de várias naturezas, no tratamento de uma ocorrência grave. O respeito a esse princípio não acarreta o cerceamento da liberdade de imprensa, não impede que a opinião pública seja informada e mesmo alertada quanto a possíveis riscos e, num sentido positivo, evita a antecipação de julgamentos e colocação injusta de estigmas em pessoas e famílias que, além de vitimadas por uma tragédia, passam a ser vítimas da curiosidade ou da execração pública.

*é jurista, professor emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e autor de, entre outras obras, "Elementos de Teoria Geral do Estado"

Os dois pedaços de um mesmo pão

por Mauro Santayana, publicado no Jornal do Brasil em 26/1/10
Entre outras vozes que se levantaram, no Brasil, contra a nossa solidariedade para com o povo do Haiti, destacou-se a do senador Epitácio Cafeteira, do Maranhão. Sua excelência pertence às oligarquias daquele estado e, desde 1962, tem sido eleito pelo seu povo, um dos mais pobres do país. Homem rico, conforme a relação de seus bens divulgada pelo Senado – muitos deles imóveis valiosíssimos – Cafeteira dispõe de dois aviões e automóveis importados. No Senado, ao negar ao governo autorização para o envio de mais tropas brasileiras a Porto Príncipe, declarou comovente solidariedade com o povo brasileiro. Para ele, é necessário cuidar dos brasileiros, e não dos estrangeiros. E foi além: atribuiu à imprensa brasileira o destaque que se dá aos mortos do Haiti, em detrimento das vítimas nacionais das enchentes.

Nós poderíamos cobrar do senador solidariedade para com o seu povo mais próximo, o do Maranhão – como governador que foi do estado, e como parlamentar que o vem representando há quase cinco décadas. As mulheres quebradeiras de coco, os pescadores, os sertanejos e os caboclos maranhenses, castigados secularmente pela miséria, massacrados pelo latifúndio e, eventualmente, pelas cheias, estão esperando pela compaixão do senador. Cafeteira é um dos donos do Maranhão. Se houvesse nascido no Haiti, naturalmente pertenceria à elite mulata daquele pequeno país, e, morando na parte mais bem edificada de Porto Príncipe, não estaria necessitando da solidariedade dos outros. Estaria preocupado com seus aviões e seus automóveis e, provavelmente, com suas lanchas.

As seções de cartas dos jornais e alguns blogs da internet mostram que parcelas alienadas da classe média tornaram-se, repentinamente, também sensibilizadas com as enchentes e desabamentos em nosso país, e acusam o governo de se dedicar ao Haiti. Trata-se de um desvio singular da ação política. Animados pela hipocrisia, esses humanistas de última hora se esquecem de que, tanto como no Haiti, é a miséria que faz as nossas tragédias. É a falta de trabalho, de escolas, de saúde, de planejamento urbano, de reforma agrária, enfim, da dignidade que vem sendo negada aos pobres, desde que aqui chegaram os fidalgos ibéricos. Aqui – e na Ilha La Española, onde se encontra o Haiti. O subdesenvolvimento, causa de toda a miséria, não é maldição mas resultado de deliberado projeto de desigualdade. Quanto maior a miséria em torno, mais ricos se fazem alguns. Por isso impedem a reforma agrária e impedem a educação dos pobres. Sua filosofia é a de que só têm direito aos benefícios da civilização os que puderem pagar por eles.

Eles não sabem que uma das poucas alegrias das pessoas pobres é a do exercício da solidariedade. Não conhecem a felicidade dos trabalhadores que se organizam em mutirão a fim de reconstruir o barraco que desabou, ou de construir a moradia de dois cômodos para uma viúva e seus filhos. Os haitianos que perderam suas casas e seus familiares são seres humanos, exatamente iguais aos nossos pobres, que se veem nos olhos solidários dos soldados e dos voluntários civis brasileiros no Haiti.

O presidente Lula pode desagradar a muitas pessoas, por ter saltado etapas em sua realização pessoal. Ele deixou o chão da fábrica para liderar seus companheiros de classe e se tornou dirigente político e presidente da República. É um pecado imperdoável: não enfrentou o vestibular, não teve que cavar empregos seguros ou casamentos de conveniência para se tornar vitorioso: enfim, não serve de modelo para a formação de uma juventude alienada e consumista, instrumento para a segurança de parcelas das elites. É provável que, no caso do Haiti, o presidente reaja como o menino que enfrentou as cheias na periferia de São Paulo e conhece de perto a solidariedade dos pobres.

O Brasil, como um todo, não sendo ainda um país rico, age como seus pobres. Não há nenhum mérito em dar o que nos sobra. O mérito está em repartir o que temos e do que necessitamos. Poeta mais conhecido em Minas, Djalma Andrade resumiu este sentimento ao pedir a Deus que nunca o deixasse comer sozinho o pão que pudesse partir em dois pedaços.

Zé do Galo, analista político

por Frei Betto*. Publicado originalmente na Adital
O Brasil está coalhado de analistas que fazem fantásticos prognósticos em anos de eleições. Cada um que se fie naquele de sua preferência. Eu, cá comigo, mineiro que sou, fico com meu compadre Zé do Galo, carroceiro do colo da Mantiqueira. Nunca entro em período eleitoral sem consultá-lo.

Semana passada dividimos um feijão tropeiro no rancho em que ele vive pros lados de Aiuruoca. "E aí, compadre, como vai ser este ano eleitoral?", indaguei.

Zé do Galo coçou a barbicha rala que escorrega por seu rosto magro, largou a colher (ele nunca usa garfo, diz que espeta a língua), e soltou voz amansada:

"Tá difícil imaginar, compadre. A coisa tá mais enrolada que linguiça de venda." "Então desenrola, Zé". "Como diria Jack, o Estripador, (Zé adora quadrinhos de terror) vamos por partes: dona Dilma vai ter quem de vice? Michel Temer, apoiado por Sarney; Henrique Meirelles, que pulou do PSDB para o PMDB de olho no futuro; Hélio Costa, que trocaria a disputa ao governo de Minas por chapa puro-sangue, mineira com mineiro?"

"E o Serra?", perguntei. "Ainda num sei se será candidato a presidente ou à reeleição em São Paulo? Se a presidente, Aécio aceita ser vice na chapa café com leite? Ou, para enfrentar dona Dilma, tentará convencer dona Marina a apear do cavalo da candidatura presidencial para repetir, Brasil afora, a proposta carioca de Gabeira, do PV, apoiado no Rio pelo PSDB, pra disputar a governança?"

"Tá tudo muito confundido", suspirou meu compadre. "Dona Marina vai ter empresário de vice pra angariar votos de quem guarda dinheiro em banco ou vai de liderança popular?"

"E Ciro Gomes, Zé?" "É o que me pergunto. Vai de vice da dona Dilma, deixando o PMDB como palito em boca de desdentado, aceita ser candidato ao governo paulista com apoio do PT, ou se apresenta mais uma vez como presidenciável pra se cacifar no próximo governo?"

"Zé, como vê a situação de São Paulo?" "Ali, que é berço do PT, a coisa tá mais feia que indigestão de torresmo. Quem do partido de Lula será candidato a governador? Todos os caciques se queimaram na fogueira de mensalão e mensalinhos: Zé Dirceu, Genoíno, Palocci. Sobrou o Suplicy, mas este a direção do PT não aprova, é mais independente que dente de siso em boca de banguela."

Zé do Galo passou os dedos no cabelo ralo e enrugou a testa: "Será que dona Marta disputa de novo com o doutor Alkmin, após ter perdido nas últimas eleições municipais? Mercadante abre mão de concorrer ao Senado pra tentar o governo do estado? Ou o PT virá com o desconhecido prefeito de Osasco?"

"E aqui em Minas, compadre, o que vai dar?" "Em Minas a coisa tá mais fedorenta que arroto de urubu. Lula tem três candidatos: Hélio Costa, Patrus Ananias e Fernando Pimentel. Pressinto que o Planalto gostaria, pra favorecer a aliança nacional, que houvesse só a chapa PMDB-PT ou vice-versa. Difícil. Só o PT tem dois candidatos: Patrus e Pimentel. Vai ser briga feia na prévia de escolha. Até porque os dois sabem que as duas vagas mineiras ao Senado estão praticamente eleitas: José Alencar e Aécio Neves (se não aceitar ser vice do Serra)." Mais

*Frei Betto é escritor e assessor de movimentos sociais, autor de "A mosca azul - reflexão sobre o poder" (Rocco), entre outros livros. Caso se interesse em reproduzir este artigo em meio de comunicação eletrônico ou impresso, favor pedir autorização a MHPAL - Agência Literária (mhpal@terra.com.br). Saudações educomunicativistas

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

O papel da imprensa livre

por Eugênio Bucci*. Publicado originalmente no Observatório da Imprensa
Os práticos que nos perdoem, mas, de vez em quando, alguns achados do mundo acadêmico nos ajudam a entender o que encontramos por aí no mundo real. Isto posto, peço licença para trazer, aqui para o nosso Observatório, um pouco dos ares universitários. Faço-o com humildade e com alguma boa intenção.

As palavras do chapéu e do título acima lembram – propositadamente – um livro de Jesús Martin-Barbero, professor colombiano, um dos principais teóricos da comunicação no nosso continente: Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia (Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1997). Barbero exerce uma forte influência acadêmica entre estudiosos de renome na Universidade de São Paulo e de várias outras universidades do mundo. Ele nos ajudou a escapar de esquematismos que vinham de interpretações mais estreitas, demasiadamente ortodoxas, do legado da Escola de Frankfurt: aquele quase determinismo que ainda hoje vê nos meios de comunicação um sistema de tentáculos a serviço da dominação de classe.

A partir dos estudos culturais e dos estudos da recepção, Barbero identificou, em pesquisas empíricas e em elaborações teóricas de boa qualidade, os núcleos da formação dos sentidos que fundam a autonomia da opinião e da vontade de cada sujeito. Isso jamais significou, do ponto de vista de Barbero e de vários outros que pensaram a partir dele, como Omar Rincón, o abandono de uma perspectiva crítica. Em nenhum momento, a afirmação da autonomia do espectador, do consumidor de informação ou, de forma mais geral, dos cidadãos, implica ressuscitar as teses de um liberalismo ora ingênuo, ora deslumbrado.

Algumas das melhores contribuições para a compreensão da televisão pública, por exemplo, vêm dessas correntes. E mesmo alguns dos melhores estudos sobre a real influência da televisão em públicos como o brasileiro. Lembro aqui um trabalho desbravador no Brasil, Muito além do Jardim Botânico (São Paulo: Summus Editorial, 1985), de Carlos Eduardo Lins da Silva. Carlos Eduardo demonstrou, de modo praticamente incontestável, que o Jornal Nacional, por mais central que fosse a sua presença no espaço público, não "fazia a cabeça" do telespectador. A audiência, entrevistada pelo pesquisador, dava todos os sinais de que sabia ver criticamente o telejornal e que sabia formar sua visão de mundo com independência. Hoje, esse livro de Carlos Eduardo é visto como um clássico nas escolas de comunicação. Com toda a justiça.

Barbero volta seu olhar para os núcleos em que os significados são tecidos. Esses núcleos se relacionam, sem dúvida, com as pautas e os pontos de vista presentes nos meios de massa, mas de modo algum se subordinam a eles. A mediação tem raízes na vida cotidiana das diversas comunidades, nas vivências materiais das pessoas, nas conversas, nas construções autônomas. Os meios, estes sim, é que vão beber aí para se redefinir, para melhor dialogar com seus públicos. A relação, enfim, não é unilateral, não é de determinação, mas é tensa, dialógica, muito mais complexa do que sonha a vã filosofia dos adeptos das variadas teorias conspiratórias.

A internet e a comunicação 'direta'
O advento da internet tornou esses processos mais visíveis. Com as tecnologias digitais, franqueou-se a circulação das opiniões independentes e, por meio delas, é muito mais fácil constatar o que teria sido sempre óbvio: as pessoas pensam com as próprias cabeças. Pensam mal, muitas vezes, mas pensam com suas próprias cabeças. Junto com a maior visibilidade da autonomia dos sujeitos, veio a euforia incontida dos que começaram a ver – nos blogs, nos sites ditos "alternativos" e nas chamadas redes sociais – a realização das utopias da tal "democracia direta", que teria vindo para atropelar e sepultar de vez a suposta "hegemonia classista" dos "formadores de opinião". Não é bem assim. Aliás, nunca é bem assim.

Um dos bordões da nossa era de internetolatria é a afirmação reiterada de que os formadores de opinião não formam mais a opinião de ninguém. Para esses, a grande prova dessa verdade teria sido dada pelas eleições de 2006, que deixaram claro que os meios de comunicação não conseguiram determinar a inclinação dos eleitores.

Mas – é o caso de nos perguntarmos – quando é que eles determinaram essas inclinações? Em 1974, quando Orestes Quércia se elegeu senador por São Paulo, a bordo do velho MDB, contra todas as opiniões ditas "dominantes". Quércia teve 4,6 milhões de votos, contra apenas 1,6 milhão de Carvalho Pinto. Quando a campanha por eleições diretas tomou as ruas do país, em 1984, deu-se o mesmo fenômeno. A televisão praticamente boicotou os comícios e, não obstante, eles só fizeram crescer – e dobraram a postura das emissoras de TV. Outra vez foi isso que vimos no movimento dos cara-pintadas que gritavam "Fora Collor".

Os formadores de opinião do establishment influenciam, assim como são também influenciados, mas não mandam na cabeça do público. Desde muito tempo. Isso é um dado da democracia de massas, se quisermos voltar a Alexis de Tocqueville (1805-1859), e continua valendo, mesmo que esse termo, "massas", seja bastante anacrônico para designar a democracia. Os meios não conduzem o povo. Dizendo a mesma coisa com outras palavras: o poder econômico não dá a palavra final. Ainda bem. Mas, atenção, isso não constitui nenhuma novidade.

Usei aqui o termo visibilidade, mas poderia ter usado outro: transparência. A internet deu transparência aos entendimentos e às negociações de sentido que têm lugar no mundo da vida e daí ingressam no espaço público, mas ela não inaugura esses entendimentos ou essas negociações de sentido para além dos poderes formais ou dos poderes constituídos. Eles já estavam lá, desde que a democracia é democracia. Os meios não ditam os sentidos – que precisam passar, sempre, pelas mediações.

Provavelmente em função dessa utopia que enxergou na internet uma vaga libertária sem precedentes – coisa que ela não é, uma vez que ela também deu novo fôlego e novo vigor a mecanismos de mercado e de acumulação de capital –, vários setores começaram a acalentar outro devaneio: o de que, agora, a comunicação é "direta" e não depende mais da mediação de nenhum órgão de imprensa independente. O raciocínio é um tanto simplório: como jornais e revistas não são mais necessários para que uma notícia vá a público, as redações independentes se tornaram tecnológica e politicamente desnecessárias. Mesmo porque, segundo o mesmo raciocínio, essas redações nunca foram independentes de fato, mas eram apenas correias de transmissão dos interesses das "elites" ou das inefáveis "classes dominantes". (Pense bem: quem são as tais "classes dominantes"? A burguesia e qual mais?) Portanto, ninguém precisa mais de imprensa, ou, pelo menos, já não se precisa mais dessa imprensa burguesa. A internet – o nirvana da "democracia direta" – daria conta de todos os recados.

Democracia e instituições
Fixemo-nos um pouco nessa expressão que usei aqui entre aspas (neste texto que, admito, vem abusando um pouco das aspas): "democracia direta". Plebiscitos, consultas populares, conferências nacionais, tudo isso é bom, por certo. São ferramentas que permitem oxigenar a máquina do Estado, trazem mais fiscalização e mais participação do cidadão na gestão da coisa pública. Nada de errado com isso. O delírio começa quando se imagina que esses recursos possam substituir o próprio Estado e as instituições.

Todas as possibilidades abertas dentro desse imenso guarda-chuva a que se vem dando o nome de "democracia direta" (as aspas, outra vez, são indispensáveis) consagram a vontade das maiorias, não raro cooptadas pelo poder governamental, mas elas não têm como zelar pelos direitos das minorias e pelas garantias individuais. Só a máquina do Estado dispõe de mecanismos para manter equilibrados os diversos contrapesos aí implicados.

Mas não vamos nos perder em categorias da Ciência Política. O ponto é que, no âmbito nacional e mesmo global, não há como escapar das fórmulas próprias da democracia representativa e das delegações, cujo funcionamento depende da legitimação das instituições e de suas regras próprias. Em suma, não há democracia direta que dispense o Estado. Ou, mais propriamente: não há democracia direta que prescinda da mediação que só as instituições (entre elas o Estado) podem oferecer ao curso das deliberações coletivas.

O resto é mito – e aqui digo mito no sentido de falsificação.

Do mesmo modo, essa histeria em torno da "comunicação direta" precisa ser lida a partir de mediações mínimas. A rigor, não existe uma "comunicação direta". Qualquer comunicação é sempre mediada pela língua, que, também ela, é uma instituição, como bem apontou Ferdinand Saussure (1857-1913). Como instituição, a língua nos fornece parâmetros comuns básicos, sobre os quais o que está em discussão vai se assentar. É a língua que nos dá as amarras mínimas para que entendamos que uma palavra está no feminino, que democracia quer dizer democracia, que direito é um valor ao qual todos nos vinculamos. Da língua vêm as categorias em nome das quais postulamos nossas proposições. E além da língua há outras instituições sem as quais não teríamos comunicação alguma.

Imprensa livre ou totalitarismo
Os que imaginam que podemos viver sem imprensa livre não sabem o que imaginam. Os que pregam a abolição da imprensa em nome de causas libertárias pregam o fim da liberdade – e das suas próprias causas, sem o saber.

A imprensa também é uma instituição. Nesse caso, uma instituição que ultrapassa de longe as fronteiras do Estado e que tem suas bases na sociedade, diretamente. Ela é anterior e posterior ao Estado. Redações independentes constituem territórios livres do poder do Estado – aqui, como em poucos outros lugares, podemos visualizar com clareza o modo como a liberdade adquire materialidade quando impõe limites ao poder do Estado. Podemos entender a liberdade como um campo em que o poder do Estado não consegue agir. Por isso as redações independentes são indispensáveis. Sem elas, perdemos a prerrogativa de olhar o poder pelo lado de fora, por meio de núcleos (as redações) que dispõem de uma gramática própria, de hierarquias próprias, de um método próprio de ler o mundo.

Que as redações – no Brasil e no mundo – andam descuidando da sua independência é um fato. É triste, é desalentador, mas é um fato. São muitas as redações que sucumbem às seduções do mercado (do poder econômico) e são muitas as que procuram se abrigar sob o manto do Estado, fazendo o jogo, por vias indiretas e dissimuladas, do poder. Mas vamos com calma. Pretender, a partir dessa constatação, que as redações independentes são apenas uma farsa e devem ser aposentadas, isso é apenas suicídio.

A imprensa precisa melhorar, com urgência. Precisa estar à altura dos desafios históricos que se apresentam, mas isso só será possível com mais – e não menos – independência. Isso só será possível com mais liberdade.

Aqui chegamos, finalmente, à função de mediação que só a imprensa livre pode exercer. Apenas as redações independentes podem promover a mediação do debate público que é essencial à democracia. Redações independentes podem ter inclinações de esquerda ou de direita: o fundamental é que elas sejam independentes da lógica do Estado e da lógica do mercado. Só elas podem reunir mediadores (os jornalistas, no sentido pleno da expressão) cuja sustentação material decorre diretamente de seu ofício, que é o de informar o público. Jornalistas independentes são sustentados não pelo Estado ou pela publicidade privada, mas pela confiança do público e pelos recursos financeiros que daí provêm. Um blog vinculado a um movimento social qualquer pode ser uma boa fonte de dados e de pensamentos originais – mas não é uma redação independente. Ela presta contas ao movimento social a que se vincula, e não ao público. Até mesmo os movimentos sociais, e principalmente eles, uma sociedade só compreende se sobre eles for capaz de deitar um olhar independente, um olhar que só pode se originar das redações independentes.

As redações independentes promovem o fórum comum dos debates públicos, comum porque acessível de modo equilibrado a todos os interesses em disputa na sociedade. Não há outro caminho. Sem os fóruns comuns, o que teríamos seria apenas a dispersão centrífuga que nos conduziria à desagregação organizativa e também de sentidos. Não há vida democrática sem o estabelecimento estável dos fóruns comuns. Por isso, não há democracia sem imprensa livre.

Melhoremos a nossa imprensa – sem matá-la. Não podemos ceder à armadilha fácil de supor que agora iremos prescindir da imprensa. Sem ela, não teremos mais a mediação mínima, a partir da qual poderemos avançar. Inclusive avançar no sentido de criticar, de aprimorar e de transformar a imprensa que temos.
*Eugênio Bucci é jornalista

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O caos no Haiti é petróleo

por Laerte Braga, jornalista e analista político
Bráulio Martinez Zerpa, coronel da Aeronáutica boliviana escreveu uma lúcida análise e denúncia em www.aporrea.org, sobre a existência de petróleo em grandes quantidades em solo haitiano. Explica os dez mil soldados norte-americanos para a “ajuda humanitária”. Petróleo, gás natural, urânio e outros minerais considerados estratégicos.

Um artigo publicado no dia 22 de janeiro deste ano no jornal PAGINA WAR IN IRAQ, Marguerite Laurent oferece dados e valores sobre essas reservas de petróleo, gás, ouro e urânio. Cita um outro artigo, de 2000, de Bob Perdue, proprietário da fazenda Dauphine onde estão localizadas grandes jazidas de petróleo. Dá conta que em setembro de 1973, portanto, há 27 anos, a funcionária da embaixada dos EUA no Haiti, Martha Carbone enviou correspondência ao Escritório de Energia e Combustível do Departamento de Estado norte-americano, afirmando que o governo haitiano havia recebido propostas de outros grupos para construir um porto em águas profundas, capazes de receber instalações e petroleiros para o transporte desse petróleo para os EUA.

Em 2004 o presidente dos EUA, George Bush, numa operação relâmpago, ao tomar conhecimento que o presidente do Haiti, Jean Bertrand Aristides estava tomando outra direção que não os interesses de Washington, seqüestrou e depôs o presidente, mantendo-o no exílio na África do Sul, enquanto vendia a idéia de “reconstrução da democracia no Haiti” e nela embarcou o governo brasileiro.

O prédio da embaixada dos EUA em território haitiano é o quinto em tamanho dentre todos os prédios de embaixadas norte-americanas em todo o mundo, depois da China, Iraque, Irã e Alemanha. As reservas foram mantidas intocadas, pois á época os EUA recebiam fornecimento de petróleo de vários países, dentre os quais a Venezuela. As reservas sauditas têm um limite e a Venezuela passou a tomar conta do seu petróleo em função de seu povo.

O petróleo no Haiti ganha importância capital para os EUA. A idéia que o terremoto possa ter sido fabricado por Washington não é tão despropositada assim, nem mergulha no rótulo de “teoria da conspiração”, como gostam de dizer. O Projeto Haarp (High Frequency Active Auroral Research Program) é uma investigação financiada pela Força Aérea dos EUA, a Marinha e a Universidade do Alaska e visa controlar “processos ionosféricos capazes de mudar o funcionamento das comunicações e sistemas de vigilância”.

Teve início em 1993 e especula-se que é uma arma capaz de controlar o clima provocando inundações e outras catástrofes. O presidente Chávez da Venezuela fez essa denúncia logo após o terremoto que devastou o Haiti.

O Haarp está instalado nas imediações do Monte Sanford, no Alaska.

A crise econômica que afeta os EUA está longe de ser superada. A despeito de todo o esforço que se faz para vender a idéia de recuperação da economia norte-americana, não conseguem esconder dados vitais como o aumento do desemprego, queda no consumo, quebra de pequenas e médias empresas e um número maior de cidadãos daquele país em situação de pobreza.

O que acontece nos EUA é simples de explicar. Mais ou menos como alguém que gasta além da conta no cartão de crédito, no cheque especial, em empréstimos e para contornar o problema toma novos empréstimos, abre novas contas para novos cheques especiais e novos cartões. Bola de neve.

Com a diferença que, ao contrário do cidadão comum que tem que se submeter aos bancos, o governo dos EUA cobra impostos, o Banco Central do país é privado, e detém o porrete capaz de alcançar qualquer parte do mundo.

E vive, os EUA, da exploração e saque de países como o Haiti. Toda aquela arrogância e prepotência típica do povo norte-americano viraria pó se o resto do mundo, principalmente nações não desenvolvidas, deixassem de sustentar o país.

Isso tem um preço que, num determinado momento, fica impagável. A guerra do Afeganistão tem um custo altíssimo e resultados pífios. O Talibã está fortalecido, vencendo batalhas decisivas e o povo afegão cansado da presença militar dos EUA. No Iraque a situação é instável mesmo com a saída de boa parte das tropas.

Um livro “COWBOYS DEL INFIERNO”, escrito pelo sargento Jimmy Massey, dos fuzileiros navais dos EUA, conta em detalhes o que foi a invasão e a ocupação do Iraque. O absoluto desprezo dos militares pelo povo iraquiano.

Jimmy concedeu uma entrevista à jornalista Rosa Miriam Ezalde, cubana, e lá se pode ler o seguinte:

“Tenho 32 anos e sou um assassino psicopata treinado. As únicas coisas que sei fazer é vender aos jovens a idéia de se juntarem aos marines e matar. Sou incapaz de conservar um trabalho. Para mim os civis são depreciáveis, atrasados mentais, uns débeis, uma manada de ovelhas. Eu sou seu cão pastor. Sou um predador. Nas Forcas Armadas me chamam ‘Jimmy o Terrível’”.

Este é o segundo parágrafo do livro escrito há três anos por Jimmy Massey, com a ajuda da jornalista Natasha Saulnier, que foi apresentado na Feira do Livro de Caracas. Cowboys do Inferno é o relato mais violento já escrito sobre a experiência de um ex-membro do Corpo de Marines, um dos primeiros a chegar ao Iraque durante a invasão de 2003 e que decidiu contar todas as vezes que seja necessário o que significa ter sido por 12 anos um desapiedado marine e como a guerra o transformou.

Ou,

“No Iraque, onde cheguei em março de 2003. Meu pelotão foi enviado aos lugares que haviam sido do Exército iraquiano e vimos milhares e milhares de munições em caixas que tinham a etiqueta norteamericana e estavam ali desde que os Estados Unidos ajudaram o governo de Saddan na guerra contra o Iran. Vi caixas com a bandeira norteamericana e tanques dos EUA. Meus marines – eu era sargento de categoria E6, uma categoria superior a sargento, e dirigia 45 marines – me perguntaram porque haviam munições de nosso país no Iraque. Não entendiam. Os informes da CIA afirmavam que Salmon Pac era um campo de terroristas e que íamos encontrar armas químicas e biológicas. Não encontramos nada. Nesse momento comecei a pensar que nossa missão realmente era o petróleo”.

E,

R. M. E.: Você também relata como seu pelotão metralhou uma manifestação pacífica. Foi isso?


J. M.: Sim. Nos arredores do Complexo Militar de Rashees, ao sul de Bagdá, perto do rio Tigre. Haviam manifestantes ao final da rua. Eram jovens e tinham armas. Quando avançamos havia um tanque que estava estacionado de um lado da rua. O motorista do tanque nos disse que eram manifestantes pacíficos. Se os iraquianos quisessem fazer algo podiam ter feito apontando o tanque. Mas não fizeram. Só estavam se manifestando. Isso nós sentimos bem porque pensamos: “Se fossem disparar, teriam feito naquele momento”. Eles estavam a cerca de 200 metros de nossa tropa.


R. M. E.: Quem deu a ordem de metralhar os manifestantes?


J. M.: O Alto Comando nos disse que não perdêssemos de vista os civis porque muitos combatentes da Guarda Republicana haviam tirado os uniformes, vestiam-se com roupas civis e estavam desencadeando ataques terroristas contra os soldados americanos. Os informes da inteligência que nos davam eram conhecidos basicamente por cada membro da cadeia de comando. Todos os marines tinham muito claro a estrutura da cadeia de comando que se organizou no Iraque. Creio que a ordem de disparar nos manifestantes veio de altos funcionários da Administração, isso incluía tanto os centros de inteligência militar como governamental.


R. M. E.: Você, o que fez?


J. M.: Regressei ao meu veículo, um jipe altamente equipado, e escutei um tiro por cima de minha cabeça. Meus marines começaram a atirar e eu também. Não nos devolveram nenhum disparo, mesmo eu tendo disparado 12 vezes.


Quis assegurar-me de que havíamos matado segundo as normas de combate, da Convenção de Genebra e dos procedimentos operacionais regulamentares. Tentei evitar seus rostos e procurei pelas armas, mas não havia nenhuma.


R. M. E.: E seus superiores, como reagiram?


J. M.: Me disseram que “a merda acontece”.

O livro de Massey foi lançado numa Feira de Livros em Caracas, onde concedeu a entrevista e torna desnecessário dizer que terroristas são os norte-americanos.

Os EUA são exportadores dessa doença para todo o mundo.

A propósito, o presidente eleito do Chile, o tal Sebastián Piñera ganhou uma fábula com a alta das ações da Lan Chile, empresa de sua propriedade. No curso da campanha eleitoral o antigo assessor de Pinochet disse que não tinha mais a posse da empresa e iria vender suas ações. Tem a posse da empresa e não vendeu suas ações. Mas já disse que Chávez está errado.

Sugiro uma conferência nacional sobre o Big Brother Brasil para que se possa analisar as palavras sábias e fundamentais de Anamara, uma das integrantes da casa. Podem ser vistas em

bbb.globo.com/BBB10/Noticias/0,,MUL1461758-17402,00-ANAMARA+EU+FICARIA+COM+QUALQUER+UM+DA+CASA.html

Quem sabe não resolve o problema do Haiti?

E dizem que Obama é negro. Que seja. Tem a pele negra. A ideologia branca, pior, sionista/ariana, o que é a mesma coisa.

Marcha pela solidariedade e contra o extermínio de jovens

da Adital
Os jovens latino-americanos e caribenhos que estarão participando do Encontro Continental da Juventude no Mutirão de Comunicação América Latina e Caribe (Muticom), realizarão no dia do encerramento do evento, 7 de fevereiro, às 14h, uma caminhada na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), local do evento.

O objetivo da marcha é mobilizar simbolicamente os jovens que estiveram discutindo o contexto da juventude do continente na perspectiva da Cultura Solidária, entre os dias 2 e 6 de fevereiro, a colocar-se a caminho no desafio da continuidade de ações propostas durante o encontro, construindo e articulando redes e potencialidades geradoras de vida.

Pretende-se com esse gesto mobilizar os jovens para ações de solidariedade ao povo haitiano. Prevê também o apoio à Campanha da Marcha Nacional contra a violência e o extermínio de jovens nas Américas, a qual deseja articular as diversas organizações para levar a toda sociedade o debate sobre as mais diferentes formas de violência de milhares de jovens, avançando na conscientização e na proposição de ações que possibilitem a mudança desse cenário.

Fonte: CNBB

domingo, 24 de janeiro de 2010

Mídia à beira de um ataque de nervos

por Alberto Dines, do Observatório da Imprensa
A mídia brasileira está sendo vítima de um surto da síndrome do pânico: está com horror ao espelho. Berra e esperneia quando alguém menciona a organização de conferências ou debates públicos sobre meios de comunicação, imprensa, jornalismo. Apavora-se ao menor sinal de controvérsias a seu respeito, por mais úteis ou inócuas que sejam. Parece ter esquecido que o direito de ser informado é um dos direitos inalienáveis do cidadão contemporâneo. O Estado Democrático de Direito garante a liberdade de expressão e o acesso universal à informação.

A instituição criada para impedir unanimidades, o poder instituído para promover o pluralismo, o bastião do Estado Democrático de Direito, agora se sobressalta e entra em transe quando pressente outros holofotes tentando focalizá-lo.

Diagnóstico 1: modéstia. Diagnóstico 2: narcisismo. Diagnóstico 3: onipotência. Diagnóstico 4: hipocrisia.

Nada impositivo
O primeiro episódio ocorreu no início de dezembro, antes da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom): o grosso das corporações empresariais de mídia desistiu de participar dos debates, compareceram apenas duas. As únicas que ficaram bem na fita. A Confecom chegou ao fim, produziu um calhamaço de propostas, a maioria inócuas, e os ausentes nem puderam cantar vitória porque se escafederam antes das luzes se apagarem (ver, neste OI, "Lições de manipulação" e "O misterioso e suspeito desaparecimento do Conselho de Comunicação Social").

Menos de um mês depois, final de dezembro, novo faniquito: o 3º Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH). A mídia inicialmente parecia sensível aos apelos das vítimas, parentes ou entidades em defesa dos direitos humanos para reabrir as investigações sobre a repressão política durante o regime militar. Então aparece a Associação Nacional de Jornais (ANJ) e começa a urrar como aquelas senhoras que pressentem uma barata no quarto escuro.

A mídia individualmente e a ANJ como corporação tiveram meses para estudar o 3º PNDH, esta é a sua função em nome da sociedade. Só se lembraram de examinar o documento quando o debate sobre tortura já estava aceso e alguém sugeriu abrandar o confronto e mudar o enfoque: que tal discutir a mídia? Então a mídia deu marcha a ré e entrou numa briga que não era sua porque no programa figurava a sugestão para a criação de um ranking das empresas de mídia (sobretudo mídia eletrônica) que respeitam os direitos do seu público e não lhes impinge baixarias. Convém lembrar que o PNDH é um programa, coleção de propostas, nada tem de mandatório ou impositivo.

O ombudsman da Folha de S.Paulo, Carlos Eduardo Lins da Silva, revoltou-se, caiu de pau no seu jornal (ver "Ombudsman critica omissão do jornal"). Acontece que a Folha, por rodízio, tornou-se a mais estridente defensora das posições da ANJ porque a sua presidente é uma das superintendentes do jornal.

Símbolos religiosos
É antiga a idéia de incluir a cruzada contra a baixaria televisiva nas iniciativas em defesa dos direitos humanos. Já em 1999, no primeiro mandato de FHC, o então Secretário Nacional de Direitos Humanos, José Gregori, tentou enquadrar os canais de TV que recusavam a classificação da programação por faixa etária (ver, neste Observatório, "Os fanáticos ensandecidos"). Então, por que tanto chilique?

O Estado de S.Paulo chegou a publicar uma entrevista com o professor Paulo Sérgio Pinheiro, consultor das Nações Unidas para questões de direitos humanos, na qual ele afirmava categoricamente que o 3º PNDH era herdeiro dos dois anteriores (produzidos nos mandatos de FHC) e que sua abrangência enquadrava-se nas recomendações e paradigmas internacionais.

A CNBB, campeã da luta contra a tortura ainda nos anos de chumbo, esqueceu o seu glorioso passado e pôs-se a berrar contra outras sugestões do 3º PNDH: liberar as restrições contra o aborto, permitir a união civil de pessoas do mesmo sexo e proibir a utilização de símbolos religiosos em instalações públicas. Mesmo sabendo que nada disso poderia ser implementado sem os devidos trâmites legislativos, a CNBB e a ANJ insistiram na histeria.

E ficaram todos muito felizes quando o salomônico presidente Lula mandou copidescar o texto do PNDH por ele assinado. Não se fala mais em direitos humanos nos próximos doze meses. Engano: a luta pelos direitos humanos não tem dono, está definitivamente incluída na pauta dos debates nacionais. Tortura não é coisa do passado, é do presente.

É melhor liberar o aborto do que encontrar diariamente nos lixões recém-nascidos abandonados por mães solteiras. A exibição de símbolos religiosos em repartições do Estado afronta aqueles que acreditam que o Estado é garantidor da isonomia cidadã, da democracia e da tolerância.

Causas e terapias
A síndrome do pânico voltou a manifestar-se intensamente no último fim de semana – e não por causa da catástrofe do Haiti –, quando o Estadão descobriu que em março começará uma nova conferência nacional, desta vez para discutir cultura. Deus nos acuda, horror. Cultura? Chamem o Goering! Na pauta menciona-se a necessidade de promover a regionalização da produção televisiva e aparece a expressão maldita "monopólio de comunicação".

Tremendo de medo, lívida, cheirando seus sais, Madame Mídia convocou o seu zorro preferido: o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ, ex-ministro das Comunicações do atual governo, o mesmo que pediu a impugnação integral da Lei de Imprensa, esquecido de que algumas de suas cláusulas eram indispensáveis para evitar o vácuo legal). O herdeiro de Chagas Freitas, ex-colunista especializado em pedir votos aos funcionários públicos, desinteressado como sempre, investiu imediatamente em defesa da aterrorizada mídia negando a existência de qualquer monopólio nos meios de comunicação.

Qualé, seu Miro – já esteve em Santos? Sabe o que se passa na maioria das capitais do Norte-Nordeste? Já examinou a situação das nossas cidades médias onde a principal emissora de TV é também a principal acionista do maior diário? Conhece os regulamentos da Federal Communications Commission (FCC) americana que impedem a propriedade cruzada de veículos na mesma região?

A síndrome do medo tem várias causas e várias terapias. Fármacos resolvem. O divã, porém, é mais eficaz.

A volta dos mortos vivos

por Laerte Braga, jornalista e analista político
O presidente eleito do Chile, Sebastián Piñera, criticou a decisão do presidente Hugo Chávez, da Venezuela, de estatizar uma rede de supermercados francesa. Chávez tomou a atitude diante da política de remarcação sistemática e abusiva de preços.

É uma pequena amostra do que vai ser o governo do novo Uribe, o chileno. Pinochet saindo da tumba e assombrando o país. Piñera tem um papel a cumprir no jogo político da América Latina. É a reação das forças de direita e com amplo apoio do governo dos Estados Unidos. O cerco a governos populares como o da Venezuela, do Equador, da Bolívia, do Paraguai e do Uruguai na América do Sul e de Daniel Ortega e Raul Castro, Nicarágua e Cuba, na América Central.

Cerco político e militar. São treze as bases militares dos EUA ao redor da Venezuela.

Há um raciocínio em Washington que é implícito aos norte-americanos desde George Washington. O da escolha do aliado naquele que se submete, pouco importa que seja ligado ao tráfico de drogas, caso de Álvaro Uribe na Colômbia, ou um empresário trapaceiro, caso de Sebastián Piñera no Chile.

Quando o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, no governo do ditador Garrastazu Médici disse a Nixon que as violações de direitos humanos eram sistemáticas nos cárceres da ditadura, Nixon respondeu que era uma pena, mas “Médici é um bom aliado”.

A tortura como prática rotineira da ditadura, toda a sorte de barbárie perpetrada pelos militares e seus acólitos, isso pouco importava aos EUA. E continua não importando, acontece desde julho em Honduras. Importa que os interesses norte-americanos sejam preservados e os governos sejam submissos.

Caso contrário são inimigos, rotulados de “terroristas” e daí para pior.

A jóia da coroa é o Brasil. Lula não é um inimigo dos EUA, mas é um obstáculo em muitas situações e por essa razão Barack Obama, ou qualquer outro que lá estivesse, vai investir fundo na eleição de 2010, como sempre fizeram. O preferido de onze entre dez norte-americanos é o governador de São Paulo, José Collor Serra.

Não vai hesitar em acabar de privatizar o que resta para ser privatizado, PETROBRAS inclusive, como vai passar a escritura e um nova reforma ortográfica, essa para mudar a grafia da palavra Brasil. Vai virar BRAZIL.

O sonho dos governos norte-americanos são bases militares em território brasileiro. Uma próxima a Amazônia, ou na própria Amazônia, para facilitar o processo de ocupação e outra no sul, abrindo caminho para o controle total do País.

Qualquer especialista em meio-ambiente pode explicar os efeitos imediatos e as conseqüências dos testes nucleares feitos pela França no atol de Mururoa. Foram quarenta e seis testes atmosféricos e cento e cinqüenta subterrâneos. Entre 1966 e 1974.

Em 1995 a França tentou retomar os testes. Os protestos em todo o mundo acabaram por levar o governo francês a recuar em sua intenção.

Cada uma das guerras que os norte-americanos travam em função de seus interesses implica em testes com armamentos novos. Armas químicas (agente laranja no Vietnã, por exemplo), biológicas, armas de efeito e padrão ainda desconhecidos e lógico, tecnologia de armas nucleares bem mais avançada o que permite que esses artefatos imensos no passado, caibam hoje dentro de uma mala de porte médio.

Não há preocupação nem com seus próprios soldados. Usam balas de urânio empobrecido (Iraque, Afeganistão). A GLOBO não noticia, está preocupada com a declaração da sister Cláudia – “não queria dormir com o Eliéser” –, mas é assustador o número de veteranos de guerra dos EUA padecendo de doenças provocadas pelos armamentos e balas de urânio empobrecido. Distúrbios de toda a ordem, inclusive psíquicos.

A idéia que o terremoto que abalou e destruiu o Haiti possa ter sido conseqüência de testes com armas nucleares na região não é nem despropositada ou descabida. É possível. Ou armas que chamam de última geração, as tais que o sangue do inimigo aparece verde na telinha.

Uma dessas partículas dos testes franceses, qualquer que seja, no Atol de Mururoa, trazida pelo vento, leva, pelo menos 200 anos para se decompor. O efeito é letal.

O alerta partiu do governo chinês, foi feito publicamente pelo presidente da Venezuela Hugo Chávez e Washington sequer cogitou de desmentir, resolveu não levar em consideração, a velha tática de desqualificar o adversário, rotular e assim evitar a discussão do assunto.

Na guerra Irã versus Iraque, quando os EUA financiaram o governo do então “aliado” Saddam Hussein para tentar acabar com a revolução islâmica e popular iraniana, o uso de armas químicas e biológicas fornecidas a Saddam foi denunciado em todos os cantos do mundo.

Como na guerra do Brasil com o Paraguai, apresentada como página de heroísmo de nossa história. Conflito montado, dirigido e produzido por Londres, à época, com a recomendação que aquele país fosse varrido do mapa. Genocídio puro e simples. O Paraguai era o principal competidor do chamado Reino Unido, onde o sol não se punha (colônias em todos os cantos do mundo), na exportação de mate e tecidos.

É corriqueira essa história.

Sebastián Piñera foi colaborador do regime do ditador Pinochet. É empresário desses em que a iniciativa privada é financiada e paga pelo dinheiro público. Tipo Ermírio de Moraes que quando quebra vende as ações, não o controle acionário, mas parte das ações do “negócio” para o governo via BNDES e depois se arrosta gerador de “progresso”, “empregos”, etc.

São mortos vivos saindo das catacumbas. No Brasil reagem ao Plano Nacional de Direitos Humanos e hoje o jurista (putz, é o fim da picada, o cara é mestre em ensinar a sonegar) Ives Gandra Martins, no jornal (venal) FOLHA DE SÃO PAULO, o tal que chamou a ditadura de ditabranda e emprestava seus caminhões para que corpos de presos políticos mortos na tortura fossem desovados e dados como atropelados, mas hoje o jurista desancou “guerrilheiros pretéritos”.

Múmia. Guerrilha transcende à compreensão de gente como o “jurista” Ives Gandra. A reação dos franceses à ocupação de seu país pela Alemanha se deu pela guerrilha, por operações típicas de guerrilha. O comandante da resistência era o general Charles De Gaulle. Na visão do “jurista”, “guerrilheiro pretérito”.

O fenômeno não se atém apenas à América Latina. Sílvio Berlusconi é um caso europeu. Fascismo explícito, diferente do de Sebastián Piñera, o chileno. Com suas declarações criticando Chávez começa a mostrar a que veio, antes mesmo da posse.

É fechar a janela, colocar tranca nas portas, arrumar dentes de alho e uma cruz para espantar esse tipo de gente.

E depois dizem que Drácula é imaginação. E nem é bem Drácula. É Frankenstein, gerado em laboratório. Produzido em série com a inscrição “made in USA”.

São mortos vivos voltando a assombrar a América Latina especificamente.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Uma ideia para ajudar os haitianos

Pesquisadores da Unicamp que viveram o terremoto querem vagas para jovens haitianos em universidades brasileiras

do Grupo de Pesquisadores da Unicamp no Haiti
Chegamos ao Brasil. Alguns de nós já se encontram com suas famílias e outros estão em Campinas.

Queremos agradecer imensamente àqueles que demonstraram preocupação e interesse na situação do grupo e mais ainda a nosso colegas e amigos haitianos e brasileiros que estiveram conosco nos dias após o desastre.

Apesar de termos chegado há pouco tempo, já estamos trabalhando em direção à consolidação de um novo site. A ideia é que proporcionemos, mais ainda, uma fonte de informação alternativa, acompanhando os acontecimentos no Haiti e em contato direto com intelectuais, amigos, acadêmicos e publicistas haitianos.

Outra iniciativa que pretendemos desenvolver já neste momento é de pensar, junto às universidades do Estado de São Paulo, medidas que facilitem a vinda de estudantes haitianos para estudar no Brasil, já que a principal universidade do Haiti veio a baixo e o esforço destes jovens haitianos é fundamental para a reconstrução do país.

Infelizmente, tivemos agora a notícia de um novo terremoto, de escala 6.0. Tivemos contato com alguns de nossos amigos, principalmente os que estão hospedados na casa do Viva Rio. A casa ainda está de pé e eles estão bem. No entanto, há muitas pessoas que ainda não conseguimos contatar.

O Haiti está vivo.

Haiti é montanha-russa emocional para a imprensa

por Catherine Bremer, da Agência Reuters
PORTO PRÍNCIPE - Barracas, receptores de satélites, laptops e cabos atravancam o jardim de um hotel parcialmente destruído no Haiti, onde os jornalistas digitam freneticamente, gritam em telefones por satélite, amaldiçoam as falhas dos geradores e correm para a beira da piscina a cada tremor secundário.

Centenas de repórteres, fotógrafos e equipes de TV chegaram ao Haiti desde o terremoto de 12 de janeiro, que matou até 200 mil pessoas no país mais pobre das Américas. Muitos usam as mesmas roupas imundas dia após dia, lavam as roupas íntimas nos três minutos de banho diário em um banheiro coletivo e dormem bem distantes das paredes, por causa do perigo representado pelos recorrentes tremores derivados do terremoto principal. Usar os banheiros rachados no subsolo do hotel pode ser uma experiência enervante.

No centro de Porto Príncipe, no outro hotel semidestruído onde a imprensa estrangeira se abriga não há água corrente, o que faz com que os jornalistas se lavem na piscina, usando apenas roupas íntimas.

Outros ainda acampam na pista do aeroporto, onde a conexão com a Internet, usando grandes antenas parabólicas, é melhor. Todos sobrevivem à base de bolachas, pasta de amendoim ou rações militares, usam latrinas fétidas e dormem pouco, incomodados pelo ruído dos aviões militares e dos caminhões que movimentam as caixas com a ajuda humanitária que chega do mundo inteiro.

"A piscina tem sido uma dádiva para nós, todos estamos nos lavando nela. Toda manhã ficamos ao redor e fazemos nossas abluções - eles simplesmente jogam um pouco de cloro todo dia para limpá-la", disse o correspondente da Sky News Robert Nisbet, no hotel Oloffson.

Os desafios logísticos de cobrir uma notícia em um país com a infraestrutura em ruínas se soma ao abalo emocional decorrente de conviver com corpos em decomposição, crianças órfãs, sobreviventes com feridas abjetas e um mar de refugiados famintos.

Muitos jornalistas admitem ter chorado. A maioria distribuiu ataduras, creme antisséptico, água, comida ou dinheiro para as vítimas, e vários agiram para salvar vidas.

Um jornalista chamou uma unidade militar e se recusou a deixar um local com vítimas até que as equipes conseguissem retirar um menino com a perna gangrenada. Outro carregou morro abaixo uma menina com uma grave lesão numa perna, até entregá-la a um cirurgião.

"O pai dela chorava e chorava. Ele perdeu sua esposa no terremoto, então a menina era tudo o que lhe sobrou", disse o jornalista. "Eu simplesmente não pude deixá-la lá sabendo que ela iria morrer".

Tendas improvisadas e biscoitos de chocolate
Grande parte da mídia estrangeira que chegou ao Haiti depois do terremoto de magnitude 7 terminou alocada no hotel Villa Creole.

Os veículos de comunicação alugam quartos para manter seus equipamentos - os correspondentes dormem na grama, nos telhados ou em vans, mas raramente dentro do prédio semidestruído. O arsenal da mídia inclui os chamativos sistemas de Internet Bgan, rádios sem fio, colchões infláveis e grandes tendas.

Poucos repórteres conseguiram dormir nas primeiras noites, deitados no jardim assombrados por uivos e gritos dos feridos do outro lado do muro.

Os haitianos assediam jornalistas pedindo água, comida e máscaras cirúrgicas, ou oferecem seus serviços como motoristas ou "faz-tudo". Os repórteres pagam preços inflacionados, sabendo como o dinheiro é necessário para essas pessoas.

Mas há também momentos hilários. Na manhã de quarta-feira, um tremor de magnitude 6 tirou todos das suas tendas ao amanhecer e fez dois jornalistas saírem correndo do banheiro, pelados, na direção da beira da piscina, onde o café da manhã era servido.

Os jornalistas se empenham em redigir reportagens que atraiam ajuda e equipes médicas, e tentam confortar as vítimas. Itens rotineiros se tornam os seus bens mais preciosos: blocos de anotação, botas, máscara e lanterna. Uma profissional se gaba de um tubo de pomada de damasco, que esfrega no rosto todas as noites para disfarçar o mau cheiro e a sujeira acumulada após horas sobre uma moto, visitando locais com cenas infernais.

Num momento impulsivo, um cobiçado pacote de biscoitos de chocolate é entregue a uma dupla de órfãos famintos. Vale a pena ouvi-los rir - a primeira risada ouvida nos últimos dias.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Conheça a Flaskô, fábrica do interior de São Paulo ocupada por seus trabalhadores

O que você faria se os patrões da fábrica onde você trabalha fechassem a empresa e demitissem os trabalhadores sem pagar direitos e salários?

Veja o exemplo da Flaskô, fabrica ocupada e sob controle operário, no programa Conexões Urbanas, do canal Multishow.

Assista e divulgue a luta destes bravos trabalhadores!





Contribuição do companheiro Miranda, dirigente sindical paulista

Haiti: terremoto é desastre natural, mas a pobreza extrema, não

Mídia relaciona efeitos graves do terremoto com a pobreza extrema, mas não diz por que o país caribenho é tão subdesenvolvido
por Eduardo Sales de Lima e Igor Ojeda, do Brasil de Fato

As imagens das TVs de todo o mundo mostram um verdadeiro inferno. Destruição total, corpos estirados, homens e mulheres aos prantos. Os relatos dos repórteres nos jornais que foram a campo não são diferentes. Saques a supermercados, violência, desespero.

Quase em uníssono, os meios decretaram: os efeitos do terremoto de 7 graus na escala Richter ocorrido no dia 12 no Haiti são ainda mais graves devido à extrema pobreza em que vive a população do país, o de menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do hemisfério ocidental. A análise um tanto óbvia não é incorreta, mas a imprensa em geral “esqueceu-se” de explicar o porquê de tanta miséria, praticamente naturalizando o subdesenvolvimento acentuado do Haiti.

“É preciso que se diga que se, de fato, as causas da tragédia são naturais, nem todos os efeitos o são”, opina Aderson Bussinger Carvalho, advogado e ex-conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que visitou o país em julho de 2007. “É preciso saber que indústrias exploram a mão-de-obra barata haitiana, cujos produtos são exportados para o mercado dos EUA, assegurando imensos lucros que não se revertem em favor do povo. As casas construídas somente com areia, a ausência de hospitais, a falta de luz e água... tudo isso vem de antes do terremoto”, afirma.

Pobreza extrema
Atualmente, 80% dos haitianos vivem abaixo da linha de pobreza, sendo que 54% se encontram na extrema pobreza. A mortalidade infantil é de cerca de 60 mortes para cada mil nascimentos (no Brasil, a proporção está em torno de 22 para mil), a expectativa de vida é de 60 anos e o analfabetismo atinge 47,1% da população.

Além disso, o país sofre com a falta de infra-estrutura e indústria nacional. As estradas são bastante precárias, assim como as áreas de energia, telecomunicações e transporte. Dois terços dos haitianos dependem da agropecuária para sobreviver, enquanto apenas 9% trabalham em fábricas, em sua maioria nas chamadas maquiladoras, unidades especializadas em produção de manufaturados para exportação que se utilizam de mão-de-obra barata. “Durante o ano de 2009, percorremos todo o Haiti. Nossa brigada percorreu dez departamentos e conhecemos a situação de pobreza em que vive a imensa maioria da sociedade haitiana”, relata José Luis Patrola, militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e integrante da Brigada Internacionalista Dessalines da Via Campesina, que atua com as organizações camponesas do país.

Triste e estranha realidade para uma nação que foi a segunda das Américas a se tornar independente (da França) e a primeira a abolir a escravidão, em 1804. Ou seja, que tinha tudo para oferecer uma vida digna para seus habitantes.

Construção histórica
“A pobreza extrema do Haiti é uma construção histórica bi-centenária, produto da incessante intervenção colonialista e imperialista, em boa parte devido precisamente a ter sido o Haiti a primeira e única nação negreira onde os trabalhadores escravizados insurrecionados obtiveram a liberdade. Isso após derrotar expedições militares francesa, inglesa e espanhola”, explica Mário Maestri, historiador e professor do Programa de Pós Graduação em História da Universidade de Passo Fundo (UPF), no Rio Grande do Sul.

Segundo ele, a partir de então, o Haiti passou a ser temido pelos EUA, pois poderia servir como exemplo aos escravos estadunidenses. Assim, o país passou a “ser objeto de bloqueio quase total, desde seus primeiros anos, pelas nações metropolitanas e americanas independentes. Já em 1825, foi obrigado a pagar, sob pena de agressão militar, pesadíssima indenização à França. Conheceu nas décadas seguintes intervenções militares dos EUA, que, mesmo após a desocupação, em 1934, transformaram o país em semi-colônia, sobretudo através das sinistras ditaduras dos Duvaliers, Papa Doc e seu filho (entre 1957 e 1986)”.

De acordo com Osvaldo Coggiola, professor de História Contemporânea da Universidade de São Paulo (USP), o Haiti não é uma exceção na região em que se encontra, mas um caso extremo da dominação imposta pelos países centrais do capitalismo. Assim, para ele, “atribuir seus males à incapacidade da sua população, descendente de escravos forçados a trabalhar na ilha pelos colonialistas franceses, é um conceito abertamente racista. A classe dominante, ela sim, é corrupta até a medula. Se chegar ajuda para o governo local, vão roubar, para vender e chantagear a população”. Mais

Oficina da ABRAÇO no FSM-Grande P. Alegre: Como montar uma rádio comunitária


26 de janeiro, 14h
Plenarinho da Assembléia Legislativa-RS 3°Andar
Porto Alegre
Fórum Social Mundial 10 Anos

A oficina abordará a montagem e gerenciamento de uma rádio comunitária com objetivo de qualificar Pontos de Cultura, Pontos de Midia Livre, Tuxáuas, agentes comunitários e demais interessados.

Palestrantes:
Josué Franco Lopes - Coordenador de Comunicação da Abraço Nacional e Membro do GTE do Fórum de Midia Livre
José Sóter - Coordenador Executivo da Abraço Nacional e Secretário Geral do FNDC

Conteúdo:
1) O Que é Rádio Comunitária?
A Constituição Federal e a Complementariedade dos Sistemas de Comunicação, conceitos gerais de Radicom, lei 9.612 e suas limitações, Rádios Picaretárias (lucro, proselitismo religioso, promoção pessoal e politicagem), a visão da Abraço e seu Código de Ética.

2) Como montar:
Processos legais (construção da Entidade Mantenedora, encaminhamento da manifestação de interesse, Aviso de Habilitação, morosidade), processos de envolvimento da Comunidade na construção da rádio, Desobediência Civil e Repressão, equipamentos necessários.

3) Gestão Comunitária:
Papel e funcionamento da Entidade Mantenedora, papel do Conselho Comunitário, fonte de recursos para a manutenção (Apoio Cultural, mensalidade associados individuais, eventos).

4) Programação:
Programas jornalísticos, programas culturais, música, diversidades racial, religiosa, de opção sexual e gênero.


5) Confecom:
Apresentação das propostas aprovadas pela Abraço na I Conferência Nacional de Comunicação.

Fonte: Coordenação de Comunicação Abraço (Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária) Nacional

A Escola dos Meus Sonhos

Quando comecei a ler este texto, lembrei-me de uma entrevista que fiz com Ivan Illich (1926-2002)* em 1975, quando ele veio ao Brasil. Perguntei a Illich por que ele defendia uma "Sociedade Sem Escolas", nome de seu famoso livro, muito discutido na década de 70. Ele me respondeu:
- Ah.... se fosse reescrevê-lo, atualmente, mudaria muito.

Depois de um breve silêncio, começou a elogiar a educação proposta por Paulo Freire, na época exilado. Em seguida, voltou a condenar a escola vigente, e começou a pregar por que era necessário uma outra escola que fosse criativa, motivadora, participativa e respeitasse as diferentes habilidades. E concluiu exaltando a educaçao freiriana.

Veja o artigo de Frei Betto, co-autor com Paulo Freire (Zilda Ferreira, da equipe do Blog EDUCOM).


A ESCOLA DOS MEUS SONHOS
por Frei Betto e Paulo Freire (1921-1997)*. Publicado originalmente no "Estado de S. Paulo" em 14/5/97.

Na escola de meus sonhos, os alunos aprendem a cozinhar, costu­rar, consertar eletrodomésticos, fazer pequenos reparos de eletricidade e de instalações hidráulicas, conhecer mecânica de automóvel e de ge­ladeira, e algo de construção civil. Trabalham em horta, marcenaria e oficinas de escultura, desenho, pintura e música. Cantam no coro e tocam na orquestra.

Uma semana ao ano integram-se, na cidade, ao trabalho de lixei­ros, enfermeiras, carteiros, guardas de trânsito, policiais, repórteres, feirantes e cozinheiros profissionais. Assim, aprendem como a cidade se articula por baixo, mergulhando em suas conexões subterrâneas que, à superfície, nos asseguram limpeza urbana, socorro de saúde, segurança, informação e alimentação.

Não há temas tabus. Todas as situações-limite da vida são tratadas com abertura e profundidade: dor, perda, falência, parto, morte, en­fermidade, sexualidade e espiritualidade. Ali, os alunos aprendem o texto dentro do contexto: a matemática busca exemplos na corrupção dos políticos e nos leilões das privatizações; o português, na fala dos apre­sentadores de TV e nos textos de jornais; a geografia, nos suplementos de turismo e nos conflitos internacionais; a física, nas corridas da Fór­mula 1 e pesquisas do supertelescópio Hubble; a química, na qualida­de dos cosméticos e na culinária; a história, na violência de policiais a cidadãos, para mostrar os antecedentes na relação colonizadores—índios, senhores—escravos, Exército—Canudos etc.

Na escola dos meus sonhos, a interdisciplinaridade permite que os professores de biologia e de educação física se complementem; a multidisciplinaridade faz com que a história do livro seja estudada a partir da análise de textos bíblicos; a transdisciplinaridade introduz aulas de meditação e de dança e associa a história da arte à história das ideo­logias e das expressões litúrgicas.

Se a escola for laica, o ensino religioso é plural: o rabino fala do judaísmo; o pai-de-santo, do candomblé; o padre, do catolicismo; o médium, do espiritismo; o pastor do protestantismo; o guru, do budismo etc. Se for católica, há periódicos retiros espirituais e adequação do currículo ao calendário litúrgico da Igreja.

Na escola dos meus sonhos, os professores são obrigados a fazer periódicos treinamentos e cursos de capacitação, e só são admitidos se, além da competência, comungam com os princípios fundamentais da proposta pedagógica e didática. Porque é uma escola com ideologia, visão de mundo e perfil definido do que seja democracia e cidadania. Essa escola não forma consumidores, mas cidadãos.

Ela briga com a TV mas leva-a para a sala de aula: são exibidos vídeos de anúncios e programas e, em seguida, analisados criticamente. A publicidade do iogurte é debatida; o produto, adqui­rido; sua química, analisada e comparada com a fórmula declarada pelo fabricante; as incompatibilidades denunciadas, bem como os fa­tores porventura nocivos à saúde. O programa de auditório de do­mingo é destrinchado: a proposta de vida subjacente; a visão de feli­cidade; a relação animador-platéia; os tabus e preconceitos reforçados etc. Em suma, não se fecha os olhos à realidade; muda-se a ótica de encará-la.

Há uma integração entre escola, família e sociedade. A Política, com P maiúsculo, é disciplina obrigatória. As eleições para o grêmio ou diretório estudantil são levadas a sério e um mês por ano setores não vitais da instituição são administrados pelos próprios alunos. Os polí­ticos e candidatos são convidados para debates e seus discursos anali­sados e comparados às suas práticas.

Não há provas baseadas no prodígio da memória nem na sorte da múltipla escolha. Como fazia meu velho mestre Geraldo França de Lima, professor de História (hoje romancista e membro da Academia Brasileira de Letras), no dia da prova sobre a Independência dó Brasil os alunos traziam à classe toda a bibliografia pertinente e, dadas as ques­tões, consultavam os textos, aprendendo a pesquisar.

Não há coincidência entre o calendário gregoriano e o curricular. João pode cursar a 5ª série em seis meses ou em seis anos, dependendo de sua disponibilidade, aptidão e recursos.

É mais importante educar que instruir; formar pessoas que profis­sionais; ensinar a mudar o mundo que a ascender à elite. Dentro de uma concepção holística, ali a ecologia vai do meio ambiente aos cuidados com a nossa unidade corpo-espírito, e o enfoque curricular estabelece conexões com o noticiário da mídia.

Na escola dos meus sonhos, os professores são bem pagos e não precisam pular de colégio em colégio para poderem se manter. Pois essa é a escola de uma sociedade onde a educação não é privilégio, mas direito universal, e o acesso a ela, dever obrigatório.
*Saiba quem é ou foram:
Frei Betto
Paulo Freire
Ivan Illich