sábado, 20 de agosto de 2011

O COMBATE À CORRUPÇÃO E O "BASTA" QUE É "FARSA"



Laerte Braga


Que o governo Dilma Roussef é um fiasco diante das expectativas criadas, não tenho dúvidas. Mas, que a presidente é uma pessoa íntegra e busca limpar o terreiro presidencial de quadrilhas alojadas em ministérios e organismos do Estado é outra certeza. Quadrilhas inclusive de seu partido.

Em todo esse movimento contra a corrupção o fator predominante é a hipocrisia. Não há trabalhador brasileiro que não seja contrário à corrupção, como não há banqueiro, ou grande empresário, ou latifundiário que não seja corrupto.

Isso significa que, para existir a corrupção é necessário que haja o corruptor. Quem corrompe? O motorista de táxi? O dono da padaria? Ou o banqueiro que leva 45% da receita orçamentária do País em juros escorchantes, num Banco Central em que o COPOM – CONSELHO DE POLÍTICA MONETÁRIA – é controlado por eles? Ou o grande empresário, padrão Eike Batista, Daniel Dantas, Ermírio de Moraes que cometem crimes de toda a sorte e permanecem impunes porque tanto podem comprar governadores, como deputados, senadores, prefeitos e até ministros de cortes judiciárias supremas, caso de Gilmar Mendes, especialista em habeas corpus a bandidos de grande coturno?

E o latifundiário? Que se vale de toda a sorte de trapaças possíveis para manter privilégios de terras muitas vezes roubadas à própria União? Que lesa instituições financeiras públicas buscando dinheiro para um fim e aplicando em outro? Que se vale de trabalho escravo? Que aceita as regras impostas pelas companhias que produzem agrotóxicos, ou o tal do agronegócio, o transgênico, muito bem definido por Sílvio Tendler em seu documentário “O VENENO NA NOSSA MESA”?

Para denunciar a corrupção é necessário denunciar também a empresa QUEIROZ GALVÃO e suas laranjas. Compra governadores, prefeitos, funcionários públicos (Em Minas compraram a maioria das ações do setor ambiental, inclusive e principalmente o procurador JoaQUINZINHO, bandido sem nenhum respeito pela coisa pública).

As empreiteiras que servem ao governo de São Paulo e financiam campanhas de Alckimin, Serra, etc.

Ou as que devastam o estado do Espírito Santo sem respeito pelo ambiente, pelas pessoas, tudo em nome de um progresso que é privilégio, por comum a poucas pessoas.

Sair às ruas para denunciar a corrupção e exigir a punição dos corruptos implica em denunciar os corruptores e colocá-los, também, na cadeia.

Há um processo arquivado por Geraldo Brindeiro, Procurador Geral da República ao tempo de FHC – mentor da quadrilha tucana – que prova fartamente a compra de votos para aprovação da emenda que permitiu a reeleição do bandido. Está lá.

E as privatizações? A indicação do bandido Nelson Jobim para o STF – SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – para “acabar” com a resistência de juízes decentes contra a entrega do patrimônio público pelo governo FHC?

A corrupção é implícita ao modelo político e econômico. Está agarrada nele, faz parte do modelo. É o modelo que está falido em todos os sentidos, o mundo institucional que é braço dos corruptores.

Todas as vezes que se fala em financiamento público de campanha a mídia venal, caso da GLOBO, VEJA, etc, despejam os William Waack da vida – agente norte-americano – para comandar as críticas e por uma razão simples. Querem que deputados, senadores, governadores, em sua maioria, prefeitos, etc, possam ser comprados, literalmente, por “doações” de bancos, empresas e latifundiários. Se acabar a boca como é que os bandidos vão arranjar dinheiro para comprar votos?

E as empresas, os bancos, os latifundiários, como vão controlar a maioria do Congresso, exemplo agora do Código Florestal, onde compraram o deputado Aldo Rebelo e já estão arranjando um emprego vitalício para ele no Tribunal de Contas da União (outra farsa)?

O Tribunal de Contas de Minas, onde existe um conselheiro que esteve envolvido com drogas, Antônio Andrada, dá mostras que vai liberar Alberto Bejani, ex-prefeito de Juiz de Fora, exibido até no JORNAL NACIONAL recebendo propina e contando o dinheiro para disputar, novamente, a Prefeitura da cidade? Quanto esse cara e outros não levaram?

O modelo está podre. Não há saída dentro do chamado mundo institucional e todo o esforço da presidente, sem favor algum uma pessoa íntegra, vai se perder na incapacidade de transformar essa integridade em ações efetivas de governo, pois lhe falta o principal, estatura para o cargo e coragem para enfrentar o dragão.

Quem é a oposição? O DEM? O PSDB? O PR? Ora, ir às ruas para fazer coro a esse bandidos deixando de lado os que corrompem é fazer exatamente o jogo da corrupção.

O que eles querem é a chave do cofre para que o poder de embolsar verbas públicas seja deles. E do lado de lá não existe ninguém, repito, ninguém, íntegro. São todos eleitos/comprados por bancos, empresas e latifundiários, meros funcionários dos donos.

Só isso. Veja lá, os líderes do tal movimento. Incorpora inclusive golpistas de 1964.

Não é BASTA é FARSA.

A luta é outra, é nas ruas pela reinvenção da democracia e pela participação popular.

Vamos prender banqueiros, grandes empresários, latifundiários, os corruptores, aí sim.

A INSANIA NAZI/SIONISTA



Laerte Braga


Os bombardeios da LUFTWAFFE nazi/sionista contra civis na Faixa de Gaza ultrapassam a costumeira insânia terrorista do estado de Israel. Uma aberração inventada ao término da Segunda Grande Guerra para permitir às grandes potências o controle do petróleo na região.

Crianças e mulheres foram mortos pela ação terrorista. Casas destruídas e oficiais do exército banana do Egito (controlado por Washington) assassinados na fronteira entre os dois países. Um protesto formal foi feito pelo governo militar do Cairo e vai ficar nisso, é só para constar. A saída de Mubarak não mudou nada, ou melhor, mudou de general. Generais desse tipo de exército têm o patriotismo na concepção de Samuel Johnson – “o último refúgio dos canalhas” –, são excelentes em tortura, prisões, assassinatos de adversários políticos e grossa corrupção. Sabemos bem dessa história no Brasil. O golpe de 1964 deixou esse legado.

Nesse momento a criatura – Israel – se torna maior que os criadores e se transforma num monstro que mistura a estrela de David com a suástica de Hitler e impõe um silêncio absoluto das potências mundiais sobre os crimes cometidos contra palestinos. É que detém o controle acionário de ISRAEL/EUA TERRORISMO S/A. Fazem o que bem entendem.

Toda e qualquer ajuda humanitária aos moradores de Gaza é confiscada pelas forças de Israel e como é típico de sionista, ato de pirataria, vira benefício, proveito próprio.

O Hamas, ao contrário do que se afirma, foi eleito pelo voto popular por conta de um acordo firmado entre Clinton, Arafat e Rabin e que não foi à frente. É que um fundamentalista judeu assassinou Rabin abrindo caminho para os nazi/sionistas.

Os protestos contra o governo de Israel são diários no país. Os gastos excessivos com armas, com guerras, a corrupção generalizada no aparelho estatal, o Estado transformado, literalmente, em organização terrorista sob controle de bancos e grandes corporações empresariais que, hoje, detém o mando nos EUA e na Europa.

O que está acontecendo em Gaza é um genocídio de proporções aterrorizantes. A região está sendo transformada em campo de concentração pelos nazi/sionistas de Israel. Roubaram a água, as riquezas, as terras dos palestinos e impunes aos olhos do mundo continuam sua escalada de povo “preferido de Deus”. Eufemismo para esconder o bezerro de ouro dos banqueiros e imperadores da mídia – Rupper Murdoch –.

No Brasil, com a complacência dos militares – fecham os olhos ou fingem – e dos governos desde Sarney, transformaram-se – os nazi/sionistas – em grande proprietários da indústria bélica. Agentes da agência de assassinos que chamam MOSSAD agem impunemente em nosso País.

Não existe a menor perspectiva que a mídia em qualquer parte do mundo relate o horror que vai se alastrando entre os palestinos em Gaza, massacrados pelas tropas de Hitler travestidas de nazi/sionistas, na brutal reedição do Reich, o IV.

Palestinos são “terroristas”, norueguês de olhos azuis e cabelos louros é “atirador”. Ingleses que protestam contra o desemprego, a fome, são “vândalos”.

É a lógica simples do capitalismo e do institucional falido, mas montado num arsenal de cinco mil ogivas nucleares.

No fim de tudo a culpa é do Irã.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Discursos de comunidades do Orkut refoçam a ideia da escola ser a chave para um futuro digno



Segundo estudo, comunidades reproduzem divisões típicas do ambiente escolar.

Agência Notisa – O artigo “Escola, Orkut e juventude conectados: falar, exibir, espionar e disciplinar”, publicado ano passado na revista Pro-Posições, se propôs a analisar comunidades do famoso site de relacionamentos Orkut que tivessem a escola como tema. O trabalho é assinado por Shirlei Rezend Sales e Marlucy Alves Paraíso, ambas da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais.
A pesquisa partiu da percepção de que, ainda que pareçam mundos distantes, a vida virtual e a cotidiana dos jovens se entrelaçam, de maneira que, mesmo sendo o Orkut proibido em grande parte das escolas, a experiência escolar é debatida e comentada ativamente nas comunidades do site.
 
Assim como a escola “consiste em uma instituição que recebe em seu interior cotidianamente uma multiplicidade de jovens de diferentes etnias, classes sociais, idades, gênero e culturas”, as comunidades do Orkut também se apresentam como um ambiente heterogêneo, no qual convivem as mais diferentes posições a respeito das aulas, didáticas e currículos escolares. Isto é evidenciado pela existência de comunidades diametralmente opostas, como as intituladas “Eu amo estudar” (12.753 membros, na época de publicação do trabalho) e “Eu odeio estudar” (206.263 membros), citam as autoras no artigo.
 
O que chamou a atenção das pesquisadoras foi o fato de boa parte das comunidades reforçar a ideia da escola, a despeito de eventuais críticas, como caminho para garantia de um futuro promissor. Isto fica claro nas divisões que aparecem nos perfis dos jovens que participam das comunidades: há os “vagabundos”, os “nerds” e os “CDFs”. Os primeiros declaram odiar estudar, consideram o currículo inútil, vão à escola para “zuar”. Por outro lado, há a ideia geral de que estes “vagabundos” serão “uma/ um fracassada/o no futuro”, qualifica o artigo. Por sua vez, o jovem “nerd” é aquele “que só pensa em estudar, que ‘puxa saco’ das/os professoras/es e que não ajuda as/os colegas, mas que tem a garantia de um futuro digno”. Já o “CDF” “se dá bem com colegas e professoras/es, é bem-sucedido na escola e, como o ‘nerd’, certamente terá um futuro brilhante”, relatam as autoras no artigo.
Dessa maneira, a validade da escola se coloca em relação direta com as portas que uma boa formação pode abrir, por exemplo, “quando, nas comunidades das/os que odeiam estudar, os ‘nerds’ e os ‘CDFs’ defendem a escola e também as/os participantes das comunidades destinadas àquelas/es que amam estudar, a escola é sempre descrita como única forma de fazer com que a/o jovem seja ‘alguém na vida’, como garantia de um ‘futuro melhor’, um ‘bom emprego’, uma vida ‘profissional de sucesso’, visando o ‘desenvolvimento do País’”. Tais ideias, diz o artigo, se multiplicam em “diversas enunciações que circulam em várias comunidades do Orkut que tratam da escola”, e reforçam a máxima de “a educação ser tudo”, que pode ser encontrada “nas políticas educacionais, nos currículos oficiais, na televisão, no rádio, no jornal, nas revistas e coloca-se como verdade irrefutável”, consideram as autoras.
 
Agência Notisa (science journalism – jornalismo científico

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

"QUE DEUS ABENÇOE A AMÉRICA E OS AMERICANOS"




Laerte Braga


A frase é de Barack “Banana”, reles imitação de Al Jolson, cantor branco engraxado de negro para o filme O CANTOR DE JAZZ. Foi dita ao terminar o comunicado feito aos norte-americanos que Osama bin Laden estava morto. THE JAZZ SINGER foi o primeiro filme de longa metragem falado e com canto sincronizado com um disco de acetato.

O problema é que Barack “Banana” desafina.

Os EUA estão diante de um dilema terrível. Se reelegem “Banana” a viagem ao centro da Terra continua. Precipício sem fim. Se elegem um republicano chegam mais depressa ao caos absoluto.

Susanne Eman tem 32 anos de idade e dois filhos. Gabriel de 16 e Brendin de 12. Susanne pesa, atualmente, 317 quilos e está se submetendo a um regime radical para atingir os 700 quilos e entrar no Guinnes como o ser humano mais gordo da história. 

Maureen Chao é uma diplomata dos Estados Unidos. Presta serviços na Índia. É vice cônsul. Foi a uma cidade do estado de Tamil Nadu fazer uma palestra para crianças numa escola. O típico marketing de norte-americanos no desespero de vender sanduíche da rede McDonald’s.

Lá pelas tantas disse que passou 72 horas dentro de um trem quando deveria ter passado apenas 24 horas e não pode tomar banho.  Arrematou – “no entanto, após 72 horas, o trem ainda não havia chegado ao seu destino e minha pele ficou suja e escura como a de vocês”. A afirmação foi feita às gargalhadas, no melhor estilo de oradores norte-americanos, de encerrar seus discursos com uma piada.

Nos últimos meses da campanha eleitoral de 2008 o senador John McCain, caquético adversário de “Banana”, fazia piada com as pernas de Sarah Palin, a vice de sua chapa e considerada de extrema-direita. Numa dessas observações, no desespero registrado pelo que as pesquisas mostravam, McCain chegou a dizer que “os EUA precisam das pernas de Sarah para caminhar o seu grande destino”.

E Sarah mostrava as pernas em fotos com vestidos curtíssimos nos comícios e aparições na tevê.

É pré-candidata para as eleições de 2012.

ZARA é uma grife espanhola de alcance quase mundial. Usa trabalho escravo em São Paulo. Os principais acionistas são defensores intransigentes dos valores democráticos, cristãos e ocidentais. A Espanha é um dos países da grande base militar de ISRAEL/EUA TERRORISMO S/A, na quase extinta Europa Ocidental. Uma complexa mistura de pulo no escuro e abismo sem fim, ao som das caçadas do rei Juan Carlo. O herdeiro de Francisco Franco.

O produto espanhol de maior sucesso, atualmente, é Lionel Messi. Nasceu na Argentina e joga no time do Barcelona que é catalão.

A legislação norte-americana não permite que americanos naturalizados sejam presidentes. Isso afastou as chances de Henry Kissinger (alemão), do ator Arnold Alois Schwarzenegger (austríaco), ex-governador da Califórnia e agora de David Cameron, primeiro-ministro da Grã Bretanha (atual Micro-Bretanha). Cameron tem o perfil ideal para o “Deus abençoe a América e os americanos” e deve terminar sendo nomeado conde ou marquês por sua majestade. Seria a glória suprema.Os EUA governados por um marquês branco e nazista.

Está cogitando da idéia de toque de recolher em algumas áreas de seu país. Teme que a turba não se aquiete e incomode o sono de sua majestade a rainha Elizabeth II.

Como na política as coisas não funcionam como no futebol, não dá para comprar o passe de Cameron e colocá-lo em Washington.

Mas... O mas sempre. Existe ainda Jeb Bush, filho do ex-presidente George Bush, irmão do ex-presidente George Walker Bush e mentor da fraude que deu a vitória ao mano em Miami, onde exercia o ofício de governador.

No entender de George pai, a carreira de George filho era improvável – “é um estúpido” – e as apostas foram todas feitas em Jeb. Deu zebra, mas agora...

Barack “Banana” vai ter que rebolar para convencer os seus concidadãos que sua permanência na cervejaria Casa Branca (os EUA hoje são protetorado de Israel) garante melhor qualidade, na temperatura ideal.

E que “Deus abençoe a América e os americanos”. É o jeito de achar que são donos de tudo. Em Honduras a média de execução diária da ditadura de Pepe Lobo é de dez hondurenhos. A base militar dos EUA no país é em Tegucigalpa, capital do país, é chamada “escola de golpes”.

Os soldados lá, por sorte, conseguem tomar banho todos os dias. Não precisam ficar iguais aos indianos.

Quando alguém desembarca no aeroporto de New York, qualquer aeroporto norte-americano, o primeiro cheiro que sente é o odor fétido de um povo que tangencia a insânia por conta de governantes e uma elite política e econômica podre. A sede agora é em Tel Aviv.

Breve, no museu de cera de Londres, as pernas de Sarah Palin.

Quem sabe não é hora de “ajuda humanitária” para a Inglaterra? Ou Israel, onde os protestos são diários contra o governo nazi/sionista? Vai ver a culpa é do Mourinho, técnico do Real Madrid que não consegue segurar Lionel Messi.

Escassez da água gera crise sanitária



por Charles Mpaka, da IPS
a4 Escassez da água gera crise sanitáriaCharles Mpaka/IPS
Mulheres carregando água em Blantyre.
Blantyre, Malawi, 18/8/2011 – Os banheiros do posto de saúde do Distrito de Bangwe, nesta cidade de Malawi, muitas vezes não funcionam por falta de água. Se os pacientes necessitarem, devem ir a uma escola vizinha, onde há latrinas de buraco seco. “Não é novidade por aqui”, disse à IPS uma enfermeira que pediu para não ser identificada. “Tem sido assim nas duas últimas semanas. Em geral, ficamos sem água, especialmente durante as secas. Temos dois banheiros, e às vezes temos de fechá-los”, acrescentou.Contudo, o posto de saúde, que atende uma média de cem pacientes por dia, precisa de água para outras atividades, e as enfermeiras devem ir, diariamente, buscar água em dois baldes no poço de uma mesquita próxima. “Acabamos de trazer dois baldes de lá para que os pacientes pudessem ter água para beber ou usar em sua medicação. Esta seca nos prejudica. Meu trabalho não é ir buscar água, mas examinar e receitar medicamentos aos pacientes”, disse a enfermeira.
A temporada de chuvas acabou em março e neste momento há seca, mas este ano é muito mais severa do que em outras ocasiões. Isto fez a Junta de Água de Blantyre decidir pelo racionamento. Mas a Junta também admite que a atual demanda da cidade supera sua capacidade de fornecimento. Afetada por constantes cortes de energia em sua central principal, a mais de 50 quilômetros de Blantyre, e por um sistema que caducou e não é reparado há mais de 40 anos, a Junta luta para fornecer água aos habitantes.
A população desta que é a principal cidade comercial deste país da África austral, passou de 113 mil, em 1966, para 670 mil, em 2008, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas. Entretanto, existe um projeto em marcha no valor de US$ 5 milhões para renovar a infraestrutura até 2013. A Junta informou que o projeto vai melhorar o fornecimento, que passará de 78 mil metros cúbicos diários para 96 mil. Isto permitiria enfrentar os períodos de escassez e atender mais de um milhão de pessoas.
É comum ver as longas filas de pessoas nos poucos pontos distribuidores dos distritos da cidade. Algumas apelam para os riachos para lavar roupa ou tomar banho. O Hospital Adventista de Blantyre, um dos hospitais privados mais importantes do país, ficou sem água por uma semana. Seu diretor-executivo, Kirby Kasinja, disse à imprensa local que a escassez de água é um problema persistente. Houve breves lapsos de fornecimento nos últimos meses, mas a água deixou de fluir completamente na semana passada, paralisando as atividades desse centro de saúde.
“Temos roupas brancas na sala de cirurgia que estão sujas, com sangue, e devem ser lavadas. Mas como podemos fazer isso sem água? Além disso, os pacientes devem estar limpos por uma questão de higiene, mas não há água para banhá-los”, afirmou Kasinja. Para manter o funcionamento das salas de cirurgia, da maternidade e outros departamentos fundamentais, o hospital destina cerca de US$ 400 diários à compra de tanques com água para atender algumas de suas necessidades. Porém, Kasinja explicou que esse custo é muito alto para o hospital.
O porta-voz da Junta, Innocent Mbvundula, negou que os hospitais sejam obrigados a economizar. São instalações prioritárias, disse, e o fornecimento não foi nem será interrompido. Também atribuiu as dificuldades às falhas técnicas dos próprios estabelecimentos, e garantiu à IPS que a Junta investiga os problemas de fornecimento logo que é informada. Por sua vez, o diretor do não governamental Programa de Educação na Saúde e Direitos, Maziko Matemba, disse que a falta de água na cidade terá consequências de longo prazo para os habitantes.
“Para prevenir as doenças, é preciso água o tempo todo, pois o ambiente anti-higiênico é um campo de cultura para muitas infecções. Estes cortes de água criarão uma crise sanitária”, alertou a ativista, exortando a Junta a priorizar o fornecimento nos hospitais e a lançar programas de informação sobre o uso adequado da água em sanatórios, residências e locais públicos para aliviar a carga da rede de distribuição. Até lá, os moradores terão de buscar fontes alternativas.
No Posto de Saúde do Distrito de Bangwe não há muito que o pessoal possa fazer. Quando o poço da mesquita se esgotar, o posto ficará sem água. “De certo modo, é um pouco tolerável para nós apenas por estarmos em um posto de saúde para pacientes externos. Mas o problema é persistente. Nunca se sabe se chegará o dia em que teremos de dizer aos pacientes para trazerem garrafas com água para beberem enquanto esperam por atendimento”, disse a enfermeira.

Fonte: Envolverde/IPS

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Às suas ordens, Dotô Mercado!


O mercado “pensa”, o mercado “avalia”, o mercado “propõe”, o mercado “desconfia”, o mercado “sugere”, o mercado “reage”. E aí sim, de vez em quando, o tom de voz sobe e o mercado “exige”!! E, aos poucos, o que era antes um sujeito, o indivíduo “mercado” também vai ganhando ares de divindade
Paulo Kliass*

         Uma das inúmeras lições que a atual crise econômica tem a nos oferecer é a possibilidade de compreender um pouco melhor os mecanismos de funcionamento da economia capitalista em sua fase de tão ampla e profunda internacionalização financeira. Depois de baixada a poeira e dado o devido distanciamento temporal, imagino a quantidade de teses que serão desenvolvidas para tentar entender e explicar aquilo que estamos vivendo a quente pelos quatro cantos do planeta.
         As alternativas de enfoque são muitas. A relação conflituosa entre os interesses do capital produtivo e os do capital financeiro stricto sensu. A autonomia – na verdade, uma quase independência – do circuito monetário em relação ao chamado lado “real” da economia. A contradição entre o discurso liberal ortodoxo patrocinado pelos dirigentes dos países mais ricos até anteontem e a prática atual de medidas protecionistas de seus próprios interesses nacionais. A postura inequívoca e amplamente expandida de defesa das vontades das grandes instituições financeiras em primeiro lugar, sempre às custas de cortes nos gastos orçamentários na área social voltados à maioria da população de seus países. A dita solidez das estruturas do mercado financeiro, agora tão confiável quanto a de um castelo de cartas. A perda completa de credibilidade das instituições financeiras, a exemplo das chamadas agência de rating, que passam a escancarar a sua relação incestuosa com setores econômicos. O fim do mito da chamada “independência” dos Bancos Centrais, cujas políticas monetárias estariam sendo implementadas de forma neutra e isenta, uma vez que baseadas em critérios técnicos e científicos (sic...) do conhecimento econômico acumulado. A falência das correntes que se apegavam às teorias chamadas da “racionalidade dos agentes” para buscar assegurar que não haveria o que temer com o funcionamento das livres forças de mercado, pois o equilíbrio entre oferta e demanda sempre apontaria a solução mais racional possível. E por aí vai. A lista é quase infindável.
         Mas um elemento, em especial, chama a atenção em meio a essa enormidade de aspectos. E trata-se de algo importante, pois diz respeito à tentativa de legitimação de toda e qualquer ação dos poderes públicos na busca da saída para a crise econômica. Com isso procura-se fugir da conseqüência mais próxima em caso de fracasso: colocar em risco a sua própria legitimidade política. Ainda que nos momentos de maior tensão seja perceptível uma contradição entre os desejos dos representantes do capital financeiro e as possibilidades oferecidas pelos agentes do governo, no final quase tudo acaba se resolvendo no conluio entre o público e o privado. Nos bastidores do poder, a ação do Estado é ditada, via de regra, pelos interesses do capital.
         Mas nas conjunturas de crise profunda, como a atual, passa a operar também a chamada opinião pública. Os temas de economia e de finanças, antes restrito às páginas dos jornais especializados, ganham as manchetes de capa e se convertem em preocupação de amplos setores da sociedade. A população se assusta, exige mais explicações, quer entender melhor! Porém, não se consegue tornar tão claros os mecanismos de funcionamento da dinâmica econômica em tão pouco tempo e em tão poucas linhas. E nesse momento ganham importância os interlocutores chamados a explicar: os economistas dos grandes bancos, os analistas das instituições financeiras, os responsáveis pelas empresas de consultoria, enfim os chamados “especialistas”. Cabe a eles a tarefa de convencimento do grande público de que a crise é causada por este ou aquele fator, ou então de que as medidas anunciadas há pouco por um determinado Ministro da Economia são ou não adequadas para resolver os problemas a que se propõem.
         E aqui entra em campo um elemento essencial na dinâmica do discurso. Uma entidade que passa a ser reverenciada em ampla escala, coisa que era antes reduzida a uma platéia restrita. Trata-se do famoso “mercado” – muito prazer!. Um dos grandes enigmas da história da humanidade, tanto estudado e ainda tão pouco desvendado em seus aspectos essenciais, passa a ser tratado como um ser humanizado, um quase indivíduo. Isso porque para justificar a necessidade das decisões duras e difíceis a serem tomadas - sempre às custas de muitos e para favorecer uns bem poucos – recorre-se às opiniões de “alguém” que conheça, que assegure que não há realmente outra solução. Tem-se a impressão de que o mercado vira gente, um dos nossos!
         As matérias dos grandes jornais, as páginas das revistas de maior circulação, os sítios da internet, os programas na televisão e no rádio, enfim, por todos os meios de comunicação passamos a conhecer aquilo que nos é vendido como sendo a opinião dessa entidade, dessa quase pessoa. As frases e os estilos podem variar, mas no fundo, lá no fundo, tudo é sempre mais do mesmo. Recorrer a um mecanismo que beira a abstração para justificar as medidas mais do que concretas. Fazer um chamamento a uma entidade externa, com ares de messianismo e divindade, para convencer de que as proposições - expostas numa linguagem e numa lógica incompreensíveis para a maioria - são realmente necessárias. Sim, sim, é preciso também ter fé! Pois em caso contrário, aquilo que nos espera é ainda pior do que o péssimo do vivido agora. Será o caos!
         É o que tem acontecido na atual crise da dívida norte-americana ou na seqüência dos diversos capítulos da crise dos países da União Européia. O mercado “pensa”, o mercado “avalia”, o mercado “propõe”, o mercado “desconfia”, o mercado “sugere”, o mercado “reage”. E aí sim, de vez em quando, o tom de voz sobe e o mercado “exige”!! E depois o mercado “ameaça”. O mercado “cai”, o mercado “sobe”, o mercado “se recompõe”. O mercado “se sente inseguro”, o mercado “fica satisfeito”, o mercado “comemora”. O mercado “não aceita” tal medida, o mercado “se rebela” contra tal decisão.
         E assim, à força de repetir à exaustão essa fórmula aparentemente tão simples, o que se busca, na verdade, é fazer um movimento de aproximação. Tornar a convivência com um ser que conhece de forma tão profunda a dinâmica da economia um ato quase amical e familiar para cada um de nós. Mas o “mercado” - sujeito de tantos verbos de ação e de percepção - não tem nome! Ele não pode ser achado, pois o mercado não tem endereço. Ele não pode ser entrevistado, pois o mercado nunca comparece fisicamente nos compromissos. Ele tampouco pode ser fotografado, pois o mercado não tem rosto. O que há, de fato, são uns poucos indivíduos que fazem a transmissão de suas idéias, de seus pensamentos, de seus sentimentos. São verdadeiros profetas, que têm o poder de fazer a interlocução entre o “mercado” e o povo. Pois, não obstante a tentativa de torná-la íntima de todos nós, essa entidade não se revela para qualquer um.
         Ele escolhe uns poucos iluminados para representá-lo aqui entre nós. Como se, estes sim, tivessem a procuração sagrada para falar em seu nome e representar aqui seus interesses. E aos poucos o que era antes um sujeito, o indivíduo “mercado” também vai ganhando ares de divindade. Tudo se passa como ele se manifestasse exclusivamente por meio de seus oráculos, os únicos capazes de captar e interpretar o desejo do deus mercado. Pois ele pensa, fala, acha, opina, mas não se apresenta para um aperto de mão, ou mesmo para uma prosinha que seja, para confirmar o que andam falando e fazendo em seu nome aqui pelos nossos lados.
         Mas, apesar de toda evidente fragilidade da cena construída, não há como contestá-la. O mercado é legitimado por quem tem poder de legitimar. O discurso dos que não acreditam e dos que desconfiam não chega à maioria. Sim, pois aqui tampouco pode haver espaço para a dúvida. Nenhuma chance para o ato irresponsável que seria dar o espaço para o contraditório. A única certeza é de que o mercado sempre tem razão. E ponto final. Assim, todos passam horas na angústia e na agonia para saber como o mercado “reagirá” na abertura das bolsas de valores na manhã seguinte ou para tentar antecipar como o mercado “avaliará” hipotéticas medidas anunciadas para as transações de câmbio na noite da véspera.
         O resultado de toda essa construção simbólica pode ser sintetizado na tentativa do convencimento político e ideológico dos caminhos escolhidos para a solução da crise. O mercado “alertou”, o mercado “ponderou”, o mercado “pressionou”, o mercado “exigiu”. E, finalmente, o mercado “conseguiu”. Por todo e qualquer lado que se procure, tentam nos convencer que não havia realmente outra forma possível de evitar o pior dos mundos. Como somos todos mesmo ignorantes em matéria de funcionamento dessa coisa tão complexa como a economia, somos chamados a delegar também as formas de solução para a crise. E, como sempre acontece em nossa tradição, estamos às suas ordens, Dotô Mercado...
         *Paulo Kliass é Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal e doutor em Economia pela Universidade de Paris 10.

Fonte: texto enviado pelo jornalista Ernesto Germano Perés, ( no clipping   do dia 17/08/11) 

Marcha das Margaridas


Marcha das Margaridas afirma particapação das mulheres na construção de políticas públicas

"Brasília está florida, estão chegando as decididas". Quase 70 mil mulheres de todo o Brasil estão nesta terça-feira (16) e quarta-feira (17) em Brasília para a 4ª Marcha das Margaridas. A Cidade das Margaridas, no Parque da Cidade, foi o palco da abertura da marcha na tarde desta terça.
O Ministro do Desenvolvimento Agrário (MDA), Afonso Florence, destacou ações do Governo Federal em resposta a pauta das margaridas. “Quero destacar aqui a confirmação e o aprofundamento das políticas de ação afirmativa, nas políticas públicas desenvolvidas pelo o MDA. Quero anunciar que o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) vai incorporar em suas compras cotas para organizações de mulheres.”
A Secretária de Mulheres da Confederação Nacional de Trabalhadores na Agricultura (Contag), Carmen Foro, destacou que Margarida Alves, simbolo da luta das mulheres do campo está viva no espirito da marcha. “Fico feliz em ver aqui hoje mulheres de todo o Brasil, de diferentes comunidades rurais do país, que trazem para Brasília, na Marcha das Margaridas um grande bagagem de luta e militância política para transformar o Brasil.”
A ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Iriny Lopes, a macha é um  momento importante de diálogo entre os movimentos sociais e o governo. “Durante todo o processo da Marcha das Margaridas aqui em Brasília nós teremos a oportunidade de conversar. Nós respeitamos e admiramos a organização que vocês demonstram e queremos dialogar respeitando a autonomia dos movimentos”, concluiu a ministra.
O teólogo Leonardo Boff destacou a ampliação doa participação política das mulheres. “Vocês mulheres estão aparecendo como as novas protagonistas, novas atrizes sociais. Vocês ganharam visibilidade. E a força de vocês foi tão significativa que conseguimos eleger para presidência da república uma mulher.”
A marcha é uma iniciativa da Contag em parceira com a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), o Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), o Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste (MMTR/NE), o Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), o Movimento Articulado de Mulheres da Amazônia (MAMA), a Marcha Mundial das Mulheres (MMM) a Articulação de Mulheres Brasileira (AMB), a União Brasileira de Mulheres (UBM), a Rede de Mulheres Rurais da América Latina e Caribe (Rede Lac) e a Confederação de Organizações de Produtores Familiares do Mercosul Ampliado (Coprofam).


Fonte: Notícias do Ministério do Desenvolvimento  Agrário

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Madeireiros ameaçam fiscais e fazem churrasco para celebrar



por Leonardo Sakamoto*
1711 300x225 Madeireiros ameaçam fiscais e fazem churrasco para celebrarMadeireiros armados ameaçaram servidores da Funai, do Ibama e policiais militares para evitar que seus equipamentos fossem apreendidos no Sul do Estado do Amazonas. E comemoraram o desfecho do caso com uma churrascada noite adentro, mostrando que o governo federal, por lá, não manda muito.
“Chegaram caminhonetes e motos do meio do mato e nos cercaram rapidamente. Deviam ser uns 60 ou 70 madeireiros. Não estavam todos com armas aparentes, mas todos deviam armados, naturalmente. Todo mundo anda armado aqui, o pessoal do Ibama, inclusive, tem porte de arma, e muita gente da Funai anda com arma por conta própria. Eles chegaram, nos cercaram e não queriam deixar que levássemos os equipamentos apreendidos embora de jeito nenhum. Falavam em entrarmos em acordo para ‘evitar o pior’ ”, contou a este blog um dos servidores públicos presentes no incidente que começou na última sexta (12) à tarde na região do município amazonense de Humaitá.
Na divisa com Rondônia, Humaitá possui uma grande população Tenharim. E, básico, quem atua para proteger esses indígenas e suas terras está acostumado ao contato pouco amistoso com os madeireiros. Na tarde da última sexta-feira, a coisa estava bem mais quente do que o habitual. A Funai, em conjunto com o Ibama e o apoio de oito policiais militares do Amazonas, haviam apreendido máquinas usadas para cortar madeira de terras indígenas de forma ilegal. E, como era de se esperar, os madeireiros não estavam dispostos a deixar o material apreendido (dois tratores e um caminhão, além de 50 toras cortadas) sair dali. Custasse o que custasse.
O impasse e a negociação armada girava em torno de quem seria o fiel depositário do material. Funciona assim: quando Ibama ou Funai apreendem veículos e máquinas, alguém tem que ficar responsável por eles até que a Justiça defina seu destino final. Em tese, esse alguém manterá esse aparato longe das mãos dos madeireiros ou a apreensão não terá servido pra nada. Muitas vezes, quando o agente público não é muito, digamos, rigoroso, o próprio dono do equipamento ou algum amigo dele fica de fiel depositário. Nesses casos, assim que a equipe vira as costas, tudo volta a funcionar como era antes. Na situação ideal, uma pessoa ou entidade interessada na preservação do meio ambiente deve ser a responsável – por exemplo uma tribo indígena da região, uma prefeitura honesta ou um posto do Ibama ou da Funai.
Os madeireiros sabem bem como funciona esse jogo. E por isso bloquearam a pequena estradinha de terra que era a única saída para a clareira onde estava a equipe composta por cinco funcionários da Funai, os três servidores do Ibama e os oitos PMs que tentavam dar uma destinação adequada ao maquinário apreendido. Em outras palavras, os madeireiros fizeram os funcionários públicos de reféns. Alertavam que “o pessoal da vila pode ficar revoltado”, sendo que “o pessoal da vila” eram eles mesmos. Também não aceitaram que as coisas fossem levadas para um posto do Ibama na região ou que a negociação continuasse na cidade. Ameaças surgiram: “Pô, você é do Ibama e tá querendo apreender. Depois vai ter que voltar aqui pra trabalhar, como é que vai ser?”
Essa cena toda ocorria em uma clareira próxima ao “180”, como é conhecido o distrito de Santo Antônio do Matupi, vila de 5 mil habitantes entre os municípios de Humaitá e Apuí, cuja economia gira toda em torno da extração ilegal de madeira e da criação de gado nos locais já desmatados.
E se para os servidores as ameaças foram veladas, para os Tenharim elas foram diretas. Avisados no início de sexta de que havia uma chance deles ficarem como fiéis depositários do caminhão e do trator, um grupo de índios foi para a vila próxima à clareira onde ocorria a negociação entre o grupo de madeireiro armados e os servidores. Ao chegar lá no final da tarde, depois que a negociação já tinha tomado outro caminho, os índios foram cercados por um grupo fortemente armado de madeireiros e ameaçados de morte aos berros à luz do dia. A associação indígena dos Tenharim denunciou o ocorrido à Polícia Federal, que se comprometeu a abrir investigação sobre o caso.
Ao final, surgiu a proposta de levar os veículos apreendidos para a base do Ibama em Apuí, o que abriu um sorriso de orelha a orelha nos madeireiros porque não queriam que os veículos fossem deixados nem para os Tenharim e nem para a FUNAI. Enfim, segundo fontes ouvidas pelo blog, o material continuará acessível a eles. Aliás, gostaram tanto da solução que chegaram a providenciar fogos de artifício e a matar dois bois para promover uma grande festa à noite na cidade e festejar a solução encontrada que, segundo eles, “evitou o pior”.
Vale lembrar que a história recente mostra que o enfrentamento entre fiscais e infratores tem levado a baixas. Em 28 de janeiro de 2004, na região de Unaí, Noroeste de Minas Gerais, quatro funcionários do Ministério do Trabalho e Emprego foram emboscados e mortos no que ficou conhecido como a “Chacina de Unaí”. Entre os indiciados como mandantes, os irmãos Antério e Norberto Mânica, grandes produtores de feijão e que haviam recebido diversas multas por irregularidades trabalhistas. Antério foi eleito e reeleito prefeito do município depois do ocorrido e ninguém foi julgado até agora.
Os indigenistas e seus companheiros dormiram no mato, sozinhos, protegendo as toras, enquanto a festa dos madeireiros corria solta, a alguns quilômetros dali. No sábado, chegaram cinco agentes da Polícia Federal ao local em que passaram a noite, e os escoltaram de volta a Humaitá, onde chegaram em segurança.
O blog, até o momento, não conseguiu contato com os madeireiros envolvidos no caso.
Que o respeito pelo poder público em alguns locais da fronteira agricola amazônica é menor que um piolho de pomba isso é público e notório. A novidade agora é que tripudiar o Estado brasileiro acaba em festa.

Fonte:* Publicado originalmente no Blog do Sakamoto.
Extraído do site Envolverde

Página no Facebook pede morte da líder estudantil Camila Vallejo


         O conflito entre estudantes e simpatizantes do governo registrou mais um capítulo de agressão nas mídias sociais. A líder universitária e presidente da Confech (Confederação dos Estudantes da Universidade do Chile) foi alvo de uma página no Facebook que desejava sua morte. A página "Que matem Camila Vallejo" foi retirada do ar. O perfil de seu usuário, Marco Flores Conejeros também não se encontra no ar.
         A página foi criada como um evento, marcado para o dia 20 de agosto. A descrição, em espanhol, dizia: "Tem que matar esta infeliz de m..., que se acha legal e está cag... para os estudantes no ano letivo".
         Até o evento ter saído do ar, catorze pessoas já haviam aderido à página. 
         Camila Vallejo é o rosto principal do movimento estudantil que luta por reformas na Educação chilena. Nos últimos meses, os estudantes chilenos, com o apoio de professores e movimentos sindicalistas, realizaram uma série de passeatas com centenas de milhares de participantes em todo o país contra o projeto de reforma no setor apresentado pelo governo do presidente Sebastián Piñera.

Nota: Camila Antonia Vallejo Dowling tem apenas 23 anos, nasceu no dia 28 de abril de l988. Ela é a segunda mulher, no Chile, que ocupa a presidência da Confech.

domingo, 14 de agosto de 2011

Revoltas no mundo e a ausência da Teoria



Por Mauro Santayana*

Em todos os séculos houve a percepção de que o mundo chegava a seu fim, com a extinção da vida na Terra, como castigo divino ou inevitável cataclismo. Mas a vida, essa inexplicável rebelião da matéria, que encontra sua perfeição e perversão na existência do homem, consegue impor-se. O preço da sobrevivência é o conflito. Desde que o registro da vida da espécie existe, a existência tem sido a crônica da resistência contra as forças naturais, os outros seres biológicos, feras, bactérias e vírus, e, sobretudo, contra parcelas da própria espécie.

Há uma tese, presente em vários pensadores, e de forma difusa, que explica o conflito básico do homem entre o predador e o solidário. O instinto de caça e de destruição, enfim, de canibalismo direto ou sutil, só consegue ser combatido pela inteligência. A inteligência conduziu o homem a se ver como ser frágil e precário que só poderia sobreviver em comunhão com os outros, multiplicando a força individual, certo de que sua proteção dependia da vida do companheiro. Mas houve o momento em que essa mesma inteligência, que indicava a solidariedade como necessária à existência individual e coletiva, passou a servir ao instinto predador.

Ora o homem é o lobo do homem, na definição de Plauto, ora o homem é o anjo do homem, como ocorre, quase todos os dias, no heroísmo de pessoas simples, que chegam a morrer para salvar a vida de outras. Os homens são construtores de sua História. E a História, não obstante a presunção de alguns acadêmicos parvos, como Fukuyama, nunca chegará a seu fim – a menos que o Sol esfrie de repente ou de repente estoure, na impaciência de seus gases comprimidos.

O tempo histórico de vez em quando entra em exaustão. São momentos, que podem durar décadas ou séculos, em que os ritos essenciais da vida são perturbados pelas superestruturas da sociedade, e o indivíduo redescobre a solidariedade, aquele sentimento de que a sua sobrevivência (e sua autonomia como ente, ou aquele que é) só pode ser defendida se contar com o outro. Nesses momentos, para o bem – e, algumas vezes, para o mal – surgem as grandes mudanças, com novas normas de convivência da espécie. Embora possam identificar-se como religiosas ou étnicas, são necessariamente políticas, porque se referem à vida prática dos seres humanos.

Ontem, Londres entrava em seu terceiro dia de tumultos urbanos. Não é a primeira vez que isso ocorre. Além dos protestos sangrentos de Brixton, de há trinta anos, a cidade conheceu o conflito brutal de 1780, em que centenas de católicos foram massacrados pelos protestantes açulados por Lord George Gordon. Vivendo como cidadãos de segunda classe, desde Henrique VIII, os católicos recuperaram sua cidadania de acordo com o Catholic Relief Act, de 1778. Gordon, um nobre frustrado em sua tentativa de fazer carreira no Almirantado, encontrou sua chance para a demagogia, mobilizando os protestantes contra a lei e os levando a queimar propriedades de católicos e a assassiná-los em plena rua. Antes de ser condenado à prisão por rebeldia, Gordon se converteu ao judaísmo. Acabou morrendo na prisão de Newgate.

Há uma diferença entre as agitações urbanas e as revoluções. Como resumia um autor inconveniente, Lenine, sem teoria revolucionária não há revolução. Jean Tulard, um dos melhores historiadores contemporâneos, é seguro quando afirma que as rebeliões populares podem ser facilmente vencidas, seja pela repressão policial, seja pelo engodo por parte do poder. As revoluções necessitam de um esforço intelectual poderoso, de líderes que pensem uma nova ordem e a imponham no exercício da razão. Esses líderes podem surgir no desenvolvimento natural das rebeliões, como ocorreu na França de 1789, depois da Queda da Bastilha, ou em demoradas e pacientes carreiras políticas.

Londres repete, com a mesma impaciência, o que está ocorrendo em várias partes do mundo, e parece provável que virá a ocorrer nas regiões ainda preservadas. O tempo, e nele, os homens, parecem exaustos do modelo da sociedade contemporânea, baseado na competitividade, na voracidade do consumo e do lucro. É uma sociedade contraditória. De um lado, a aplicação tecnológica das descobertas científicas torna a vida mais confortável e mais durável, mas não parece que isso responda aos anseios mais profundos da espécie. E, ainda pior: a tecnologia torna a crueldade mais organizada e mais eficaz. O nazismo foi a mais perfeita utilização da tecnologia para o assassinato em massa de toda a História. Os norte-americanos os repetem, desde a Guerra do Golfo, no Oriente Médio.

Como em outras épocas, a civilização se encontra diante de uma ruptura. O sistema econômico, submetido ao domínio do capital financeiro, entra em crises sucessivas, com a criminosa especulação dos operadores no mercado de capitais. Os indignados, com razões maiores ou menores, se multiplicam. A internet substitui – é outra das surpresas da tecnologia – os agitadores de rua, na condução dos protestos. Falta apenas a ideologia, a que se referem, entre outros, Lenine e Tulard. 
 
 
Fonte: Publicado originalmente no Blog do autor, Mauro Santayana* e extraído do Blog do Miro
 

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

“ATIRADOR”, “VÂNDALOS” E “TERRORISTAS” – OS “PRINCÍPIOS DA GLOBO”



Laerte Braga


O primeiro-ministro da antiga Grã Bretanha – Micro Bretanha – foi ao Parlamento dizer que a Scotland Yard iria manter a ordem, impedir novos atos de “vandalismo”. David Cameron é o responsável pelo fim do “multiculturalismo” em declarações que fez numa conferência em Berlim. Foi apoiado por Ângela Merkel, chanceler alemã.

“Senhor: Sois célebre e vossas obras alcançam tiragem de trinta mil exemplares. Vou dizer-vos por quê: é que amais os homens. Tende o humanismo no sangue: eis a vossa sorte... Deleitai-vos quando vosso vizinho pega uma xícara da mesa porque há um modo de pegar que é propriamente humano e que sempre descrevestes em vossas obras como menos elástico e menos rápido que o do macaco não é?” (Sartre, O MURO, Nova Fronteira, 2005, Rio de Janeiro).

Ao longo de todos esses anos que existe, desde que inventado por potências do mundo à época, o Estado de Israel mata sistemática e deliberadamente palestinos. Rouba terras, rouba água, serviu de base para os Estados Unidos por esses anos todos no Oriente Médio. Hoje controla os EUA através de banqueiros e grandes corporações empresariais. Estende suas asas nazi/sionistas por todo o mundo.

As suásticas tremulam em Wall Street e nos píres que passam pelo mundo recolhendo riquezas para sustentar-lhes – as elites – a opulência e a arrogância.

“A burguesia é um grande incesto”. D. Thomas Balduíno em palestra feita em Juiz de Fora, MG, na década de 70.

Acreditam-se enviados divinos, povo superior, a taxa de juros é elevadíssima.

“Se não houvesse entre nós uma pequena diferença de gosto, eu não vos importunaria. Mas tudo se passa como se tivésseis a graça e eu não. Sou livre para gostar ou não de lagosta a americana, mas se não gosto de homens sou um miserável e não posso encontrar lugar ao sol. Monopolizaram a vida”. Do mesmo Sartre, no mesmo livro.

Comunidade Européia. O presidente da França Nicolas Sarlozy reuniu-se com seus ministros para avaliar a crise que devasta a Grécia, a Espanha, a Itália, a Irlanda, Portugal, começa a esticar seus tentáculos para a antiga Grã Bretanha e pode chegar tanto à França como ao reino de sua majestade a rainha Elizabeth II.

Louis Francis Albert Victor Nicholas Mountbatten, o primeiro Conde Mountbatten de Burma. Almirante da esquadra pirata de sua majestade a rainha, e tio materno do Príncipe Philip, Duque de Edimburgo, consorte da rainha Elizabeth. Em tempo algum negou seu fascínio pelo nazismo.

Os mulambos do conde assombram aos gritos e espasmos de HEIL HITLER na baía de Donegal, na República da Irlanda.  



Para a GLOBO os rebeldes ingleses são “vândalos”. A idéia de problemas sociais não passa pela cabeça dos que dirigem a organização e falam através de editorial em “princípios”.

O norueguês de olhos azuis e cabelos louros que matou quase uma centena de pessoas num ato de “purificação” segundo disse à polícia de seu país é um “atirador”.

Os que derrubam um helicóptero de assassinos norte-americanos no Afeganistão são “terroristas”.

Tudo segundo o editorial assinado pelos Marinhos. Os donos.

“... Eu vos digo: ou amamos os homens ou eles não nos permitem trabalhar a sério. Eu não quero meio termos. Vou pegar, agora mesmo, meu revólver, descerei à rua e verei se é possível executar alguma coisa contra eles. Adeus Senhor, talvez seja vós quem vou encontrar. Não sabereis jamais com que prazer explodirei vossos miolos. Se não – é o caso mais provável –, lede os jornais de amanhã. Lá vereis que um indivíduo chamado Paul Hilbert matou, numa crise de furor, cinco transeuntes no bulevar Edgard-Quinet. Sabeis melhor que ninguém o que vale a prosa dos grandes diários. Compreendei que não estou furioso. Estou muito calmo, pelo contrário, e vos peço que aceiteis meus melhores cumprimentos”.

Corta para aviões da OTAN – Organização do Tratado Atlântico Norte –, em nome da democracia, dos direitos humanos, dos valores cristãos e ocidentais bombardeando a Líbia, matando cidadãos líbios, homens, mulheres, criança, destruindo cidades, escolas e hospitais. Dão a isso o nome de “ajuda humanitária”.

William Bonner ou o outro, o preferido de Hilary Clinton, o Waack, noticiam solenes e pomposos esses “princípios”.

A GLOBO nasceu na mentira, vive na mentira.

São os “princípios” da organização. Como as máfias os têm.

A denúncia do jornalista Rodrigo Viana acerca do cerco a Celso Amorim define o verdadeiro caráter dessa gente.

Cada vez mais a democracia deixa de existir e se transforma numa imensa rede de comissões, agências, notáveis, sem o menor respaldo popular.

O mundo dos bancos, das grandes corporações, do latifúndio – o veneno em nossas mesas – e o ser humano transformado em objeto descartável.

É outro “princípio” da GLOBO. O do Homer Simpson, aquele que diz que somos idiotas.

Não há vida no mundo institucional da verdade única do capitalismo. É hora de começar a derrubar os muros mesmo que sejamos “vândalos” ou “terroristas”, nunca seremos atiradores.

Não temos olhos azuis, não somos louros e nem  descendência de vikings. E segundo a carta de centenas de laudas deixadas pelo “atirador”, somos miscegenados, logo, incapazes de alcançar o nirvana de metralhadoras “purificando”.

Para os “princípios” da GLOBO somos o alvo do espetáculo vazio.   Por isso os rios estão cheios de monstros, de loucos e loucas.

Que guardem a chave dos cofres e seus preciosos ”princípios” medidos em dólares. O ruído dos oprimidos está chegando.

“Que Deus abençoe a América e os americanos”. Barack Obama após o assassinato de Osama bin Laden. Centenas de pessoas dançavam nas imediações da Casa Branca e um louco matava colegas de trabalho para “purificar” o mundo.

É o “plim plim”, o universo da ditadura, da tortura, da mentira transformada em “princípios”.    


 

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

ONU quer ideias de universitários para problemas do mundo


por Yara Costa, da Rádio ONU em Nova York
38 300x257 ONU quer ideias de universitários para problemas do mundo
Kiyo Akasaka
A iniciativa global “Impacto Acadêmico” inclui 670 universidades e pretende aliar as pesquisas dos estudantes às ações das Nações Unidas
O Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, apelou nesta quarta-feira à comunidade acadêmica mundial para encontrar soluções para a fome e desnutrição.
Ban discursava na capital sul-coreana, Seul, na abertura do Fórum de Impacto Acadêmico.
Lançada em novembro do ano passado, a iniciativa global pretende aliar instituições de ensino superior à ONU, apoiando os princípios e ações nas áreas de direitos humanos, desenvolvimento sustentável e cultura de paz.
“Impacto Acadêmico”
Atualmente, 670 instituições acadêmicas em 104 países fazem parte do programa “Impacto Acadêmico”.
Um dos objetivos é que as universidades integrem em suas discussões e currículos, debates sobre como resolver os problemas humanitários do planeta.
Cooperação com ONU
Em entrevista à Radio ONU, em Nova York, subsecretário-geral de Comunicação e Informação Pública, Kiyo Akasaka, explicou que a organização pode se beneficiar  das pesquisas acadêmicas.
Akasaka também afirmou que as universidades tem a oportunidade de alargar a sua rede e cooperar com as Nações Unidas.
Falando sobre soluções necessárias para os problemas de água, fome e energia, Ban Ki-moon desafiou os estudantes a levarem suas ideias para a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, Rio +20, que será realizada no Rio de Janeiro em junho do próximo ano.
*publicado originalmente no site da Rádio ONU.

Fonte: Extraído do Site Envolverde

Nota do Blog: É necessario que todos os cidadãos;economistas, sociólogos,professores, estudantes, sindicalistas, médicos, advogados, ambientalistas, artistas, jornalistas, radialistas, comunicadoroes, em geral, além de outros trabalhadores  pressionem seus representantes ou govervantes para que  aprovem o Novo Tratado de Direitos Huamanos,junto à Assembléia da ONU, em outubro, quando deverá ser ratificado. Esse
novo Tratado prevê direitos sociais, econômicos e culturais. Há resistência dos países ricos e industrializados à aprovação. Mas, se for ratificado, os responsáveis pela fome  serão julgados. 

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A ONU é responsável pela fome

Leia também a entrevista  de Catarina Albuquerque, jurista portuguesa que presidiu a elaboração do novo  Tratado de Direitos Humanos -aprovado em junho pelo Conselho de Direitos  Humanos, em Genebra e deverá ser ratificado, em outubro, junto à Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque. Esse tratado  permitirá aos cidadãos de todo o mundo apresetarem queixas à ONU em caso de alegadas violções de direitos fundamentais como; direito ao trabalho, à alimentação, à água entre outros. As nações ricas e industrializadas  oferecem resistência a esse novo tratado. (Zilda Ferreira)


por Gustavo Capdevila, da IPS
02 A ONU é responsável pela fomeRose Ogola/PMA
Bebês africanos com desnutrição severa.
Genebra, Suíça, 10/8/2011 – A área especializada de direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) deve assumir a responsabilidade do fórum mundial pela fome que se estende pela África oriental e reclamar cooperação dos países-membros para solucionar essa grave crise alimentar, afirmaram especialistas. Um dos 18 especialistas independentes do comitê assessor do Conselho de Direitos Humanos da ONU, o acadêmico chileno José Antonio Bengoa, lançou a ideia de convocar uma sessão extraordinária e urgente desse órgão para tentar comover a comunidade internacional sobre a seriedade da crise no Chifre da África.O comitê assessor discutirá essa proposta no período de sessões iniciado no dia 8 e que terminará no dia 12. Bengoa descreveu para a IPS as condições sofridas por cinco países da região, Eritreia, Etiópia, Quênia, Somália e Djibuti, e que demandam uma ação imediata do Conselho, máximo organismo da ONU que cuida dos direitos humanos. No momento, o Programa Mundial de Alimentos (PMA), a agência da ONU encarregada do socorro às populações famintas, “está totalmente quebrado”, disse o especialista. Abandonado por países contribuintes inadimplentes, a situação do PMA é “escandalosa e dispõe de alimentos para apenas escassos dias”, ressaltou Bengoa.
O suíço Jean Ziegler, outro especialista do comitê assessor, que entre 2000 e 2008 foi relator especial para o Direito à Alimentação, estima que a proposta de uma declaração do Conselho sobre a fome “é inútil, porque a ONU e as organizações não governamentais são impotentes diante desta catástrofe espantosa”. O PMA perdeu metade ingressos nos dois últimos anos, ratificou Ziegler à IPS.
De US$ 6 bilhões que recebia em 2008, dispõe agora de apenas US$ 2,8 bilhões. E isto simplesmente porque os grandes países doadores ocidentais pagam aos seus bancos centenas e milhares de milhões de dólares ou euros e, ao mesmo tempo, reduzem radicalmente o valor da ajuda ao desenvolvimento e, sobretudo, o de ajudas urgentes, afirmou. Em consequência, disse Ziegler, o PMA deve nega assistência aos refugiados que chegam aos seus acampamentos. Esta agência carece do dinheiro suficiente para socorrer a quantidade de gente que precisa de ajuda. É provável que, desde abril, a soma seja de dezenas e dezenas de milhares de pessoas que morreram, afirmou o especialista.
Segundo o PMA, há 11 milhões de pessoas necessitando de alimentos urgentemente. Diante deste quadro, uma declaração do Conselho da ONU pode permitir uma nova capacitação. Pelo menos obrigará os Estados, comprometidos a defender em direito à alimentação, a pagarem suas cotas ao PMA, acrescentou Ziegler. Bengoa, que se define como “um pragmático”, concorda que esta situação tem um efeito muito complicado, porque todo o mundo está pendente neste momento da crise econômica nos Estados Unidos e em outros países do Norte rico.
“Obviamente, há cadeado no bolso. E não aumentará a crise norte-americana, nem a europeia, se for entregue um pouco de comida às crianças que estão nos acampamentos africanos”, ressaltou Bengoa. Entretanto, “é muito importante que no comitê se diga e que no Conselho se veja que isso ocorre nos acampamentos de refugiados da fome, onde as pessoas estão sob responsabilidade da ONU. E é gente que recebe por dia apenas um mínimo de calorias. Estão em um nível de famintos”, descreveu o especialista chileno. Em síntese, “temos aqui um caso de responsabilidade das Nações Unidas”, que deve fazer um chamado urgente aos países, insistiu.
Outro aspecto da crise que Bengoa destacou é a questão do desenvolvimento mais amplo. Isto é, as consequências da falta de programas de desenvolvimento nessa região da África, a falta de ajuda internacional e de cooperação. “Todos estes temas, que aqui na esfera internacional são tão discutidos teoricamente, não são aplicados na prática”, destacou.
Diante desta conjuntura, a única perspectiva realista, que, se conseguirmos, será um êxito, “é uma reunião urgente do Conselho de direitos humanos e que nesse encontro os países mais ricos se comprometam, pelo menos, com a vontade de contribuir, de participar com a intenção de contribuir”, disse o especialista. Também se “poderá alegar que esses compromissos tampouco são cumpridos, mas, no entanto, ficam registrados no papel. A França tem os silos cheios. Não é que a Europa esteja sem alimentos para enviar à África”, acrescentou Bengoa.
Na resolução da Assembleia Geral da ONU que criou o Conselho de Direitos Humanos, em março de 2006, em substituição à Comissão de Direitos Humanos, ficou estabelecido que quando 17 Estados demandassem ao novo organismo uma reunião especial sobre um problema atual, grave e imediato, que cause violações de direitos humanos, o órgão deveria convocar a sessão especial. Neste caso, “está sendo violado o direito à alimentação de 12 milhões de pessoas de cinco países”, assegurou Ziegler. Portanto, a proposta de Bengoa se ajusta perfeitamente ao mandato do Conselho, acrescentou.
Ziegler ressaltou que, dos cinco países afetados, nenhum tem reservas de alimentos por causa de uma seca que se estende há cinco anos, e as colheitas foram diminuindo paulatinamente até desaparecerem. Isto demonstra que se trata de uma situação que era previsível, afirmou. “E não têm reservas porque os preços das matérias-primas alimentares explodiram pela especulação, porque os grandes fundos especulativos (hedge funds) emigraram, diante das grandes perdas nos mercados financeiros, para as bolsas de produtos básicos agrícolas”, ressaltou.
E isso, segundo o especialista, é uma violação ao direito à alimentação porque dessa forma se impede os Estados de armazenar reservas de urgência porque para isso precisam pagar. “Em consequência, é preciso proibir a especulação sobre os alimentos básicos, que são arroz, milho e trigo, que cubram cerca de 75% do consumo normal”, propôs. Ziegler relatou alguns dos recentes episódios do mercado financeiro internacional, relacionados com a atual crise no Chifre da África.
Há 15 dias, a Grécia recebeu uma transferência de US$ 157 bilhões para salvar bancos e empresas financeiras, afirmou. Esse dinheiro foi para os gregos para que pudessem pagar aos bancos ocidentais. Entretanto, em uma conferência realizada em Nairóbi o PMA solicitou, para o período de 15 de julho a 15 de agosto, US$ 4,2 bilhões, e só conseguiu um terço dessa quantia. Segundo a mesma versão, Alemanha, Itália, Espanha ou outros países europeus podem adiantar milhares de milhões de euros para seus bancos, e esses mesmos países cortaram brutalmente, a partir de 2008, suas cotas para o PMA.
Para reparar essa violação do direito à alimentação é preciso proibir a especulação na bolsa de alimentos básicos, obrigar os Estados a honrarem suas obrigações estatutárias, porque o PMA é uma Convenção, e, ainda, reduzir maciçamente a dívida dos países mais afetados pela fome atualmente, propõe Ziegler. Envolverde/IPS
(IPS)

Açoes de Marketing voltadas para crianças misturam os universos adulto e infantil


É o que mostra pesquisa que analisa campanhas de comunicação de marca nacional de roupa infantil.
 
Agência Notisa – O século 21 vive um processo gradual de “adultização” das crianças, sendo as fronteiras que tradicionalmente as separam dos adultos cada vez menos nítidas. Estaríamos assistindo, então, um retorno a padrões da Idade Média, período no qual a criança nada mais era do que um “adulto em miniatura”, uma vez que o acesso a informações, facilitado pela televisão, Internet e outros instrumentos, estaria acabando com a distinção adulto-criança, surgida nos séculos 16 e 17. Nesse período, com o surgimento das escolas e livros, a separação entre aqueles que sabiam e os que não sabiam era a base para distinção entre a vida infantil e a adulta.
 

Diante desse cenário, como o marketing e as ações de propaganda, tão presentes em nosso século, atuam para reforçar este padrão de “adultização” dos pequenos? Esta questão é analisada no artigo “O fim da infância? As ações de marketing e a ‘adultização’ do consumidor infantil”, publicado ano passado na RAM - Revista de Administração Mackenzie (On-line). O trabalho é de autoria de Carla Freitas Silveira Netto, mestre em administração pela PUC-RS, Vinícius Andrade Brei, doutor em ciências de gestão pela École des Hautes Études Commerciales (França) e Maria Tereza Flores-Pereira, doutora em administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

 
Para realização da pesquisa, os autores escolheram analisar os trabalhos em propaganda da marca de roupas infantis Lilica Ripilica, atuante no mercado brasileiro há mais de 15 anos. Foram analisadas as campanhas de comunicação das coleções de outono/inverno 2008 e primavera/verão 2008/2009. Os objetos de estudo foram outdoors, catálogos, material impresso e vídeos, além do site da própria empresa.
 
Na avaliação dos autores, o trabalho de propaganda da empresa em questão se insere claramente em nosso momento atual, no qual há um “borramento” das fronteiras infantil-adulto. Por exemplo, tanto nos outdoors quanto nos catálogos do período estudado, as pequenas modelos que vendem as roupas da empresa se apresentam com maquiagem, poses e vestidas de maneira que lembram as propagandas de moda voltadas para mulheres adultas, remetendo a ideais de sofisticação não condizentes com sua condição de crianças. São vendidos também ideais do universo feminino de mulheres adultas, como o desejo de ser uma modelo famosa, mostrado em uma propaganda para TV da campanha de 2008 e em propagandas impressas que fazem referência ao mundo das top models, citam os autores no artigo.
 
Estas últimas mostram bem a ambiguidade com a qual a questão do infantil vem sendo tratada. As propagandas impressas, mostra o trabalho, tinham como mote frases como “‘Não é fácil entrar no mundo da moda’; ‘Sua filha sonha em ser modelo. E as modelos sonham em ser sua filha’; ‘É por isso que top model vive tentando emagrecer’; ‘Um dia você vai crescer e ter um corpão. Aproveite agora’; ‘Top models, morram de inveja’; ‘Top models são altas e de pernas longas. Azar o delas’; e ‘Infância nunca sai de moda’”, reproduzem os autores. Este contraste direto entre o mundo dos adultos – especificamente, das top models – e o período da infância acaba por colocar o primeiro como superior, uma vez que “não são os atributos infantis aqueles que são valorizados (poder brincar, ser socialmente protegida etc.), mas sim a possibilidade de, ao usar Lilica Riplica, estar mais próxima de atributos do mundo adulto feminino do que as próprias mulheres adultas (estar na moda, ser magra, ser top model etc.)”, considera o texto.
 
O estudo reforça que este discurso “adultizante” que aparece nas ações de propaganda convive com outros discursos que tentam separar as crianças dos mais velhos. Um outdoor da marca, que tinha como slogan a frase “Use e se lambuze”, foi enquadrado em 2008 pelo Ministério Público de Santa Catarina, pelo entendimento de haver uma possível conotação erótica na peça, contam os pesquisadores no artigo. Como justificativa para ação, o trabalho apresenta o parecer da psicóloga Maria Helena Masquetti, disponível no site do Instituto Alana, uma organização de defesa dos direitos da criança e do jovem. A profissional argumenta que “um adulto pode até compreender que a expressão ‘Use e se lambuze’ faz uma analogia entre o doce com o qual a pequena (modelo que aparece no outdoor) provavelmente lambuzou o rosto e a ideia de se deliciar com o uso da roupa”, mas “este tipo de mensagem ambígua não é decodificável por uma criança preservada em sua ingenuidade, restando a possibilidade incômoda de ser lida maliciosamente por adultos inescrupulosos”, reproduz o trabalho.
 
Através desse episódio, os pesquisadores buscam mostrar que a visão sobre a criança se encontra em dois extremos: “enquanto o discurso da marca Lilica Ripilica trabalha com uma ideia de infância que lembra a inexistência de um ideal de criança na Idade Média, o discurso do Instituto Alana resgata um sentido de infância que se constrói a partir dos séculos 16 e 17, no qual a criança é vista como algo diferente dos adultos, assim como carente de cuidados por parte destes”.
 
Por fim, os pesquisadores reforçam que o fato de a propaganda apresentar as crianças como pequenos adultos não é tendência do marketing propriamente dito, refletindo, pelo contrário, um movimento da própria sociedade como um todo. “Obviamente, não é só a comunicação das empresas que provoca esse tipo de resultado (adultização); ele é reforçado em várias das manifestações culturais exibidas na mídia de massa e pelo próprio comportamento das crianças, muitas vezes incentivado por familiares e amigos. Hoje, o senso comum exalta as relações entre beleza, moda e fama. O que a Lilica Ripilica faz é utilizar esses valores associados ao senso comum, e que indiscutivelmente são sedutores, em suas estratégias de comunicação”, concluem.
 

Agência Notisa (science journalism – jornalismo científico