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sábado, 13 de abril de 2013

Fórum Social Mundial, esperança e medo

03/04/2013 - Por Immanuel Wallerstein (*)
- Tradução de Gabriela Leite para o blog Outras Palavras

Immanuel Wallerstein resenha as principais polêmicas que marcaram FSM-2013 na Tunísia. E frisa: elas confirmam enorme importância do encontro.

O Fórum Social Mundial (FSM), que acaba de encerrar sua edição atualmente bienal, aconteceu este ano em Túnis.

Foi vastamente ignorado pela imprensa mundial mainstream.

Muitos de seus participantes eram céticos que falavam de sua irrelevância, algo que acontece a cada encontro desde sua segunda edição, em 2002.

Foi marcado por debates sobre sua própria estrutura e esteve repleto de polêmicas sobre qual a estratégia política correta para o mundo da esquerda.

Apesar disso, foi um enorme sucesso.

Uma maneira de medir seu êxito é relembrar o que ocorreu no último dia do último FSM, em Dakar, em 2011.

Neste dia, Hosni Mubarak foi forçado a abandonar a presidência do Egito. Todos no Fórum aplaudiram.

Mas muitos disseram que esse ato em si provava a irrelevância do encontro.

Algum dos revolucionários na Tunísia ou no Egito buscou inspiração no evento?

Eles ao menos tinham ouvido falar sobre o Fórum Social Mundial?

Mas, dois anos depois, o Fórum reuniu-se em Túnis, a convite dos próprios grupos que iniciaram a revolução na Tunísia.

Parecem ter considerado que sediá-lo em sua capital ampliaria a força de sua luta para preservar as conquistas da revolução, contra as forças que, acreditam, estão agindo para domá-la, e levar ao poder novamente um governo opressivo e anti-secular.

O slogan de longa data do FSM é “outro mundo é possível”.

Os tunisianos insistiram em adicionar um novo, exibido com igual proeminência no encontro.

A palavra era “Dignidade” (ao lado) — nos crachás de todos, em sete línguas.

De muitas maneiras, o slogan adicional enfatiza o elemento essencial que une as organizações e indivíduos presentes no Fórum — a busca por igualdade verdadeira, que respeita e aumenta a dignidade de todos, em todos os lugares.

Não significa que houve total acordo no Fórum. Longe disso!

Uma maneira de analisar as diferenças é observá-las como reflexo do contraste entre a ênfase na esperança e a ênfase no medo.

Em sua composição, o FSM tem sido sempre uma grande e inclusiva arena de participantes, que situam-se desde a extrema esquerda até o centro-esquerda.

Para alguns, isso tem sido sua força, permitindo educação recíproca entre pessoas e organizações ligadas diversas tendências, ou com foco em distintos temas — uma educação mútua que levaria a médio prazo a unir ações, para transformar nosso sistema capitalista existente.

Para outros, isso parece ser o caminho da cooptação por aqueles que desejam meramente atenuar as desigualdades existentes, sem fazer nenhuma mudança fundamental. Esperança versus medo.

Outra fonte de constante discussão foi o papel dos partidos políticos de esquerda no processo de transformação.

Para alguns, não é possível fazer mudanças significativas, tanto em curto quanto em médio prazos, sem partidos de esquerda no poder. E uma vez no poder, essas pessoas sentem que é essencial mantê-los lá.

Outros resistem a essa ideia. Sentem que, mesmo se ajudarem tais partidos a chegarem ao poder, os movimentos sociais devem permanecer de fora, como controle crítico destes partidos, que com a prática quase certamente descumprirão suas promessas. Mais uma vez, esperança versus medo.

A atitude a adotar diante dos novos países emergentes — os chamados BRICS e outros — é outra fonte de divisão.

Para alguns, os BRICS representam uma importante contra-força ao norte clássico — Estados Unidos, Europa Ocidental e Japão.

Para outros, eles levantam suspeitas sobre um novo grupo de poderes imperialistas. O papel da China na Ásia, África e América Latina hoje é particularmente controverso. Esperança versus medo.

O estado concreto da esquerda mundial é outra fonte de debate interno.

Para alguns, o FSM tem sido bom na negação — oposição ao imperialismo e neoliberalismo. Mas está, lamentavelmente, atrasado na formulação de alternativas específicas. Essas pessoas clamam pelo desenvolvimento de objetivos programáticos concretos para a esquerda mundial.

Mas para outros, a tentativa de fazê-lo serviria primariamente para dividir e enfraquecer as forças unidas no Fórum. Esperança versus medo.

Outra discussão constante é sobre o que tem sido chamada de “descolonização” do FSM.

Para alguns, ele está exageradamente, desde seu início, em mãos de gente do mundo pan-Europeu: de homens, pessoas mais velhas, das chamadas populações privilegiadas do mundo.

O Fórum tem, como organização, buscado estender-se além de sua base inicial — espalhando-se geograficamente, procurando fazer suas estruturas refletirem cada vez mais demandas a partir da base.

Isso tem sido um esforço contínuo, e ao comparar cada edição sucessiva do Fórum, percebe-se que ele tem se tornando, neste aspecto, cada vez mais inclusivo.

A presença em Túnis de todos os tipos de “novas” organizações — Occupy, Indignados, etc — é prova disso.

Para outros, este objetivo está longe de ser alcançado, a ponto de produzir dúvidas sobre se há uma real intenção de cumprir este objetivo. Esperança versus medo.

O FSM fundou um espaço de resistência. Doze anos depois, permanece o único lugar onde todas partes destes debates reúnem-se para continuar a discussão.

Existem pessoas que estão cansadas dos mesmos debates contínuos? Sim, é claro.

Mas também parece sempre haver novas pessoas e grupos chegando, que buscam participar e contribuir para a construção de um mundo de esquerda eficaz.

O Fórum Social Mundial está vivo e está bem.

(*) Immanuel Wallerstein é um dos intelectuais de maior projeção internacional na atualidade. Seus estudos e análises abrangem temas sociológicos, históricos, políticos, econômicos e das relações internacionais. É professor na Universidade de Yale e autor de dezenas de livros. Mantém um site. Seus textos traduzidos publicados por Outras Palavras podem ser lidos aqui 

Fonte:
http://www.outraspalavras.net/2013/04/03/forum-social-mundial-entre-esperanca-e-medo/

Nota:
A inserção de algumas imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Mino Carta: Nada assusta mais a direita do que demolir a senzala

A peculiaridade brasileira

Editorial da CartaCapital que está nas bancas
Nos seus derradeiros momentos como senador, Fernando Henrique Cardoso andava pelos corredores do Congresso acompanhado por Norberto Bobbio. Digo, carregava um ensaio do pensador italiano, a analisar um assunto veementemente provocado pela queda do Muro de Berlim: ainda vale falar de direita e esquerda?

A direita mundo afora decretava o fim das ideologias, enquanto a esquerda mostrava-se reticente. Bobbio entrou em cena e afirmou: nada disso, a dicotomia não se apaga, seria como pretender negar o bem e o mal, a luz e a sombra, a verdade e a mentira. E a verdade, no caso, é outra.

A tese de Bobbio pode ser resumida na seguinte ideia: é automática e naturalmente de esquerda quem se preocupa com os destinos dos desvalidos do mundo e se empenha pela igualdade. Recordam? Liberdade, igualdade, fraternidade. A liberdade por si só não basta à democracia, a igualdade é fundamental. Quanto à fraternidade talvez seja admissível substituí-la pela solidariedade.

A julgar pelo desvelo de ponta de dedos com que FHC carregava o livrinho (ia escrever, sobraçava, mas a obra é de porte modesto) me entreguei à suposição de que o futuro presidente da República rendia-se de bom grado aos argumentos do autor, a confirmar crenças pregressas. No entanto, pouco tempo após, soletraria: esqueçam o que eu disse.

À sombra de FHC presidente, o PSDB tornou-se um partido de direita. Em lugar de abrandá-las, acentuou as disparidades ao aderir à religião neoliberal e sujeitar-se às vontades e interesses do Tio Sam. Sem contar a bandalheira da privataria, a compra dos votos a favor da reeleição e o “mensalão” tucano.

Ao entrevistar o presidente Lula no fim de 2005, pergunto se ele é de esquerda, responde nunca ter sido. “Você sabe disso”, diz, ao recordar os velhos tempos em que nos conhecemos, já faz 36 anos. Jogo na mesa a carta de Norberto Bobbio, observo: “Você sempre lutou a favor da igualdade”.

Deste ponto de vista, há toda uma orientação esquerdista nas políticas sociais implementadas pelo governo Lula e hoje fortalecidas por Dilma Rousseff. E é de esquerda em mais de um aspecto a política econômica do governo atual, mais ousada do que a do anterior ao se desvencilhar das injunções neoliberais.

Nada irrita e assusta mais a direita brasileira do que qualquer tentativa de demolir de vez a senzala. É o que me permito explicar ao correspondente de um jornal americano, perplexo diante dos comportamentos da mídia nativa, sempre alinhada de um lado só. Digo: ela é o instrumento da casa-grande. O estupor do colega do Hemisfério Norte não arrefece: “Mas os governos Lula e Dilma produziram bons resultados para todos, senhores incluídos…”

Defronto-me, de súbito, com a dificuldade de aclarar uma situação incompreensível aos olhos do semelhante civilizado, capaz de usar, para medi-la, o metro próprio da contemporaneidade do mundo. E aos meus condoídos botões segredo: difícil, difícil mesmo, talvez impossível, trazer à luz da atualidade este cenário tão peculiar, de um país que viveu três séculos e meio de escravidão e que, de certa forma, ainda não digeriu o seu passado.

O jornalista americano arregala os olhos: “Mas como é possível que Dilma Rousseff tenha índices de aprovação elevadíssimos e sofra ao mesmo tempo o ataque maciço da mídia?” A presidenta, respondo, pretende erradicar a miséria… Logo percebo que a peculiaridade verde-amarela envolve o próprio governo. Há momentos em que Dilma parece isolada. Solitária. Ela é obrigada à aliança com o PMDB para garantir a maioria em um Congresso inconfiável e a postura do próprio PT é, no mínimo, dúbia. Falta ao Brasil desta hora um verdadeiro partido social-democrático, esquerdista no sentido de Norberto Bobbio.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Aos 25 anos da morte de Henfil - sem nenhum registro especial

Por Júlio Hungria, em seu portal Blue Bus


A Wikipédia nao conheceu Henfil pessoalmente, então passa pelo cartunista um tanto superficialmente, sem avaliar a tremenda importância que teve para o humor, para os quadrinhos, para o jornalismo e mesmo para a renovação do idioma natal – ele transformava a grafia das palavras em inglês comumente usadas ou das que referiam nomes próprios como, por exemplo, Nova York, que mudou para Nova Iorque – era a sua forma de não se conformar. 

Hoje se completam 25 anos da sua morte (1988) sem nenhuma lembrança especial. Ele incomodava muito – e até hoje – com os ‘tipos’ e as falas dos fradins, a Graúna, Bode Orelana, Zeferino e, depois, Ubaldo, o paranóico. Não era controlável – trafegava entre o impresso, o cinema, o teatro, a TV e também publicou alguns livros como o ‘Diário de um cucaracha’ (1976), em que falava com os amigos – “procurava sempre o tom intimista de quem dialoga não com um leitor anônimo, mas com um amigo ou conhecido” – como fez em ‘Cartas à mãe’.


segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Dez conselhos para os militantes da esquerda

Por Frei Betto*



1. Mantenha viva a indignação.

Verifique periodicamente se você é mesmo de esquerda. Adote o critério de Norberto Bobbio: a direita considera a desigualdade social tão natural quanto a diferença entre o dia e a noite. A esquerda encara-a como uma aberração a ser erradicada.

Cuidado: você pode estar contaminado pelo vírus social-democrata, cujos principais sintomas são usar métodos de direita para obter conquistas de esquerda e, em caso de conflito, desagradar aos pequenos para não ficar mal com os grandes.

2. A cabeça pensa onde os pés pisam.

Não dá para ser de esquerda sem "sujar" os sapatos lá onde o povo vive, luta, sofre, alegra-se e celebra suas crenças e vitórias. Teoria sem prática é fazer o jogo da direita.

3. Não se envergonhe de acreditar no socialismo.

O escândalo da Inquisição não faz os cristãos abandonarem os valores e as propostas do Evangelho. Do mesmo modo, o fracasso do socialismo no Leste europeu não deve induzi-lo a descartar o socialismo do horizonte da história humana.

O capitalismo, vigente há 200 anos, fracassou para a maioria da população mundial. Hoje, somos 6 bilhões de habitantes. Segundo o Banco Mundial, 2,8 bilhões sobrevivem com menos de US$ 2 por dia. E 1,2 bilhão, com menos de US$ 1 por dia. A globalização da miséria só não é maior graças ao socialismo chinês que, malgrado seus erros, assegura alimentação, saúde e educação a 1,2 bilhão de pessoas.

4. Seja crítico sem perder a autocrítica.

Muitos militantes de esquerda mudam de lado quando começam a catar piolho em cabeça de alfinete. Preteridos do poder, tornam-se amargos e acusam os seus companheiros (as) de erros e vacilações. Como diz Jesus, vêem o cisco do olho do outro, mas não o camelo no próprio olho. Nem se engajam para melhorar as coisas. Ficam como meros espectadores e juízes e, aos poucos, são cooptados pelo sistema.

Autocrítica não é só admitir os próprios erros. É admitir ser criticado pelos (as) companheiros (as).

5. Saiba a diferença entre militante e "militonto".

"Militonto" é aquele que se gaba de estar em tudo, participar de todos os eventos e movimentos, atuar em todas as frentes. Sua linguagem é repleta de chavões e os efeitos de sua ação são superficiais.

O militante aprofunda seus vínculos com o povo, estuda, reflete, medita; qualifica-se numa determinada forma e área de atuação ou atividade, valoriza os vínculos orgânicos e os projetos comunitários.

6. Seja rigoroso na ética da militância.

A esquerda age por princípios. A direita, por interesses. Um militante de esquerda pode perder tudo - a liberdade, o emprego, a vida. Menos a moral. Ao desmoralizar-se, desmoraliza a causa que defende e encarna. Presta um inestimável serviço à direita.

Há pelegos disfarçados de militante de esquerda. É o sujeito que se engaja visando, em primeiro lugar, sua ascensão ao poder. Em nome de uma causa coletiva, busca primeiro seu interesse pessoal.

O verdadeiro militante - como Jesus, Gandhi, Che Guevara - é um servidor, disposto a dar a própria vida para que outros tenham vida. Não se sente humilhado por não estar no poder, ou orgulhoso ao estar. Ele não se confunde com a função que ocupa.

7. Alimente-se na tradição da esquerda.

É preciso oração para cultivar a fé, carinho para nutrir o amor do casal, "voltar às fontes" para manter acesa a mística da militância. Conheça a história da esquerda, leia (auto) biografias, como o "Diário do Che na Bolívia", e romances como "A Mãe", de Gorki, ou "As Vinhas da Ira", de Steinbeck.

8. Prefira o risco de errar com os pobres a ter a pretensão de acertar sem eles. 

Conviver com os pobres não é fácil. Primeiro, há a tendência de idealizá-los. Depois, descobre-se que entre eles há os mesmos vícios encontrados nas demais classes sociais. Eles não são melhores nem piores que os demais seres humanos. A diferença é que são pobres, ou seja, pessoas privadas injusta e involuntariamente dos bens essenciais à vida digna. Por isso, estamos ao lado deles. Por uma questão de justiça.

Um militante de esquerda jamais negocia os direitos dos pobres e sabe aprender com eles.

9. Defenda sempre o oprimido, ainda que aparentemente ele não tenha razão.

São tantos os sofrimentos dos pobres do mundo que não se pode esperar deles atitudes que nem sempre aparecem na vida daqueles que tiveram uma educação refinada.

Em todos os setores da sociedade há corruptos e bandidos. A diferença é que, na elite, a corrupção se faz com a proteção da lei e os bandidos são defendidos por mecanismos econômicos sofisticados, que permitem que um especulador leve uma nação inteira à penúria.

A vida é o dom maior de Deus. A existência da pobreza clama aos céus. Não espere jamais ser compreendido por quem favorece a opressão dos pobres.

10. Faça da oração um antídoto contra a alienação.

Orar é deixar-se questionar pelo Espírito de Deus. Muitas vezes deixamos de rezar para não ouvir o apelo divino que exige a nossa conversão, isto é, a mudança de rumo na vida. Falamos como militantes e vivemos como burgueses, acomodados ou na cômoda posição de juízes de quem luta. 
Orar é permitir que Deus subverta a nossa existência, ensinando-nos a amar assim como Jesus amava, libertadoramente.

*assessor de movimentos sociais e autor de "Um homem chamado Jesus" (Rocco), entre outros livros

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

A política não é o pasto da fatalidade

30/11/2012 - Saul Leblon - Carta Maior


O mal que desaba sem que se saiba de onde vem nem como evitá-lo e que se multiplica quanto maior é o esforço para domá-lo chama-se tragédia.


Os gregos entendiam de fatalidade.

A política não é uma fatalidade - não deveria ser.


A política deveria ser justamente o espaço da liberdade, sobretudo dos que nunca tiveram espaço, nem liberdade, para se emancipar enquanto indivíduos e como classe. 

A subordinação da política aos desígnios dos mercados sanciona uma rendição que nega o seu apanágio. Ao confundir cordura com submissão, pragmatismo com desistência, a política se transforma no pasto do cavalo xucro que deveria domar; submete-se ao mal que não tem cura em si: é a tragédia econômica.


Há aqui uma boa dose de simplificação, mas estamos falando dos dias que correm e das horas que rugem.

A Europa culta e rica ilustra o custo humano e material da inversão de papéis: o desemprego bate recordes; um exército de 19 milhões de pessoas carecia de trabalho e de tudo o mais que acompanha essa inserção produtiva, na zona do euro em outubro; novas demissões estão previstas para sanear mercados doentes deles mesmos; a fome ronda a Espanha; na 4ª maior economia do euro, a Caritas servirá um milhão de refeições este ano aos novos e velhos pobres espanhóis. A classe média recorre às instituições e caridade para comer.

Há nuances mais próximas com igual peso e envergadura.

A população conjunta da América Latina e Caribe soma 597 milhões de pessoas; a região produz alimentos suficientes para abastecer 746 milhões de bocas, segundo a FAO. E todavia 49 milhões de latino-americanos e caribenhos passam fome nesse momento.


O fracasso da política explica o paradoxo de um planeta em rota de colisão com a sua própria natureza.

Imerso na lógica autorreferente de um sistema de produção à deriva, que se ergue pelos próprios cabelos, o planeta acumula desastres que tem a força impessoal, autônoma e ciclópica das tragédias.


Kioto fracassou.

No período de vigência do protocolo assinado há 15 anos as emissões aceleraram uma curva ascendente: o volume de emissões de gases efeito estufa hoje está 31% acima dos níveis de 1990; sua presença na atmosfera saltou de 2 ppm (partes por milhão) então, para 3 ppm. 


A temperatura média atual no globo já está 14% acima do que deveria atingir em 2020 para não romper o limite de aquecimento de 2 graus neste século - linha vermelha além da qual a ciência enxerga um ambiente clássico de... tragédia.

Eventos naturais extremos ganhariam frequência e gravidade desconhecidas a partir daí gerando energia própria inédita e autopropelida.

Em janeiro de 2013 a humanidade ingressará num desconcertante vazio de pactos ambientais. A política fracassou em construí-los.

Ninguém mais está comprometido com qualquer limite.

A prorrogação de Kioto é uma solução emergencial, insuficiente e incerta.

Depende do que for decidido na 18ª Conferência das Partes da Convenção do Clima das Nações Unidas (COP-18), que acontece agora no Qatar.

E da qual pouco se espera. Tragédia.

Quem pode reverter a fatalidade? Ou melhor, o que pode a política hoje? 
Resgatar o seu poder implica antes de mais nada apoderar-se de seus instrumentos indispensáveis: a democracia e os partidos são parte preciosa desse arsenal. 

Esse apoderamento tampouco é teórico. Trata-se de uma disputa. Ela está marmorizada na vida dos dias que correm. Na crise das horas que urgem. E nas arguições que os revezes desnudam.


É imperioso que os partidos da esquerda se assumam e se legitimem como ferramentas dessa emancipação histórica enredada na lógica da tragédia.

Sua captura pela força autorreferente do sistema que deveriam submeter destrói a bússola e perverte suas práticas.

Não é um problema de indivíduos corruptos ou apenas de oportunistas contumazes - embora eles existam, e como.


É pior que isso. A dissipação das referências históricas desencadeia um processo impessoal e autoimune que tritura consciências e valores, assumindo vida própria para subverter a meta e o método originais. É a tragédia.

O antídoto à fatalidade convoca a força da consciência e a consciência de que só a força da mudança pode evitá-la.

Repita-se: há aqui uma boa dose de simplificação, mas estamos falando dos dias que correm e das horas que rugem. Há vários perigos nessa travessia.

O maior deles é ignorar a sua urgência.


O outro, não menos delicado por conta da sedução das aparências, consiste em endossar o ardil das 'soluções redentoras', tenham elas o apelo dos tribunais 'faxineiros' de toga ou quepe; ou a ingênua aspiração ao partido puro.

Ambas são incompatíveis com os processos concretos, protagonizados por sujeitos intrinsecamente contraditórios, marcados pelos limites e vícios do sistema contra o qual se insurgem. 

A panaceia dos tribunais 'faxineiros' é conhecida; remete ao sonho conservador de engessamento da história num formol de hierarquia pétrea.

O sonho do partido puro carrega gravidade adicional: soterra no moralismo a tarefa mais difícil da história que é fazer das forças impulsionadas pelas suas contradições, o instrumento político efetivo da sua superação.

Fonte:
http://cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=6&post_id=1149

Imagens: Google Images

Não deixe de ler:
Barbosa pediu a Dirceu para ser Ministro do STF

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Tempo de Dilma, tempo de batalha

'A casa é nossa e estamos em boa companhia'. Foto: F.R. Pozzebom/ABr

Christina Iuppen*

Compas,

Amanhecemos num domingo diferente, um tempo diferente.

Entre amigos, companheiros, gente amada, eu vivi o momento esperado, tão trabalhado e tão longamente temido: nosso presidente Lula finalmente desceu a rampa.

Tudo é novo agora para os militantes, para nosso povo. Natural, atávico temermos o novo.

Eu me pergunto se, para além de todas as nossas teorias, temos a dimensão do que estamos vivenciando.

Porque, enquanto conspurcava a solenidade da cerimônia de posse 'pagando mico' com o nariz escorrendo e os olhos inchados, eu pensava, 'descobria' que ali se cristalizavam os sonhos de gerações de nossa melhor gente: ali estava um operário consagrado pelo povo, passando o poder formal a uma guerrilheira. Legalmente, voluntariamente, em paz. A tão famosa paz que surge do trabalho e do equilíbrio. E, fungando cada vez mais bandeirosamente, não controlei a viagem pela História e vi Manoel Fiel Filho, Vlado Herzog, Stuart, Iara, Honestino, Lyda, Grabois, Lamarca, Mariguela, Tito, Zuzu, vi todo o panteão que nossas gerações celebraram abraçado pela faixa verde-amarela, punhos definitivamente erguidos para a vitória.

O povo, o operariado, a resistência, a guerrilha. Lembra cartilha marxista-leninista versão tupiniquim, mas aconteceu na tarde nublada de ontem, no barro vermelho de Brasília.

Enfim, Lula repousou a cabeça por um momento no peito da companheira Dilma. E desceu. Sem gravata, descabelado, amassado, olhos bem mais inchados que os meus, missão cumprida, feliz, descomposto, desceu para ficar entre nós, os militantes.

Muita, muita batalha espera os que sabemos que é preciso combater a diário, lutar a diário para construir e manter o sonho. Que ainda é preciso muito até para configurar mesmo o sonho. Mas a casa é nossa. Cheia de tranqueiras e sapos, de obstáculos e infiltrações. Mas é nossa casa, nossa conquista, nossa tarefa. E estamos em boa companhia.

Saludos fraternos,

Christina
*professora de idiomas e militante da esquerda no Rio de Janeiro

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Brasil decide não conceder à Itália extradição de Cesare Battisti

Nota do governo brasileiro sobre o cidadão italiano Cesare Battisti

Brasília, 31 de dezembro de 2010

O Presidente da República tomou hoje a decisão de não conceder extradição ao cidadão italiano Cesare Battisti, com base em parecer da Advocacia-Geral da União. O parecer considerou atentamente todas as cláusulas do Tratado de Extradição entre o Brasil e a Itália, em particular a disposição expressa na letra “f”, do item 1, do artigo 3 do Tratado, que cita, entre as motivações para a não extradição, a condição pessoal do extraditando. Conforme se depreende do próprio Tratado, esse tipo de juízo não constitui afronta de um Estado ao outro, uma vez que situações particulares ao indivíduo podem gerar riscos, a despeito do caráter democrático de ambos os Estados.

Ao mesmo tempo, o Governo brasileiro manifesta sua profunda estranheza com os termos da nota da Presidência do Conselho dos Ministros da Itália, de 30 de dezembro de 2010, em particular com a impertinente referência pessoal ao Presidente da República.

CESARE BATTISTI

Laerte Braga, jornalista e analista político

A decisão do presidente Lula de conceder refúgio político ao escritor italiano Cesare Battisti é correta sob todos os aspectos. O governo italiano não conseguiu provar junto à Justiça brasileira que Battisti é culpado dos crimes dos quais é acusado e tampouco oferecer garantias de um julgamento justo, no caso da extradição, até em observância ao que determina o tratado sobre o assunto entre Brasil e Itália.

Foi desastrada a ação do governo de Berlusconi (como desastrado é o seu governo) na condução do processo. Vergonhosa a atitude do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) quando recebeu o embaixador da Itália pela porta dos fundos do seu gabinete e suas atitudes após essa visita.

Tratou o Brasil, os brasileiros, o governo, como se fossem lacaios de um governante irresponsável – Berlusconi.

A expressão “terrorista” usada pela mídia privada brasileira para rotular Battisti perdeu o sentido depois do WIKILEAKS e do terrorismo (sem aspas) praticado por norte-americanos e seus aliados (colônias) em todo o mundo.

Não cabe julgar politicamente a participação de Battisti no processo de resistência em determinada época a governos italianos. François Mitterand, socialista e presidente da França por 14 anos não hesitou um só instante em conceder asilo a Battisti.

O que está no centro do palco é outro tipo de jogo. Um jogo sórdido do primeiro-ministro Berlusconi, contestado por manifestações em toda a Itália e que queria exibir a cabeça de Battisti como troféu para tentar um novo mandato.

E, ademais, é da tradição brasileira abrigar, refugiar, asilar perseguidos políticos. Foi assim com George Bidault, líder fascista francês. Com Marcelo Caetano herdeiro do salazarismo depois da Revolução dos Cravos em Portugal. Não poderia ser diferente com Battisti.

A decisão final, segundo a Constituição, é do presidente da República. Todas as medidas protelatórias foram tentadas por Gilmar Mendes. À época presidente do STF E notoriamente ligado a grupos de extrema-direita e empresários envolvidos em corrupção (Daniel Dantas).

Sequer se preocupa em disfarçar, mesmo porque lhe falta o tal “notável saber jurídico”. Tanto quanto a “reputação ilibada” para integrar a mais alta corte de justiça do País. É invenção de FHC para garantir a impunidade da turma.

A decisão de Lula foi coerente com sua história, respaldada no Direito e reforça a tradição brasileira de braços abertos aos perseguidos políticos em outros países (exceção vivida apenas no período da ditadura militar, ela própria perseguidora).

Não se pode excluir a possibilidade de setores de extrema-direita tentarem reverter a decisão através de manobras comuns e típicas a esses foras da lei. A mídia privada, com toda a certeza, vai incentivar.

No apagar das luzes de seu governo o presidente da República assume a atitude de estadista num caso como este.

O que pouca gente sabe – é lógico, a mídia privada está no bolso e esconde – é que Berlusconi tem grandes negócios no Brasil e seus tentáculos chegam a setores do mundo institucional, com a prodigalidade típica dos corruptos.

Não há cabimento no argumento que temos nossos problemas e não devemos nos ocupar dos problemas dos outros.

Battisti está preso no Brasil, buscou o nosso País para refugiar-se de ações ilegais do governo de seu país, logo é um problema nosso.

Conceder ou não o status de refugiado político não muda as condições da saúde pública ou da educação por aqui.

Uma coisa não tem nada a ver com a outra.

Mas conceder o refúgio a Battisti reforça a grandeza da política externa brasileira e das tradições de paz e liberdade de nosso País.

São coisas distintas, portanto.

Esse é o típico argumento de quem não enxerga um palmo adiante do nariz, ou se enxerga, enxerga apenas o nariz e não o todo. Não se tem notícia de nariz que caminhe por si próprio.

Battisti foi partícipe de um processo de lutas que permeava toda a Europa na década de 60 e se estendia a todo o mundo de um modo geral. Um processo decisivo na construção de estradas passíveis de se começar a abrir picadas em meio a um estado autoritário no seu todo, mesmo em supostas democracias como a italiana.

Lula fecha com chave de ouro seu governo – ao qual cabem críticas, evidente – ao conceder refúgio político a Cesare Battisti sem se intimidar com a cara feia de um governo que preside uma colônia norte-americana na Europa, o italiano e a Itália e é antes de mais nada uma reedição trágica dos momentos pornográficos dos césares, ou histriônicos do Duce.

E não poderia ser diferente, Berlusconi é banqueiro.

Mostra um Brasil diferente daquele de FHC, ereto, de pé, que se espera, aliás, continue a ser assim com Dilma Roussef.

Leia ainda:
Marco Aurélio Mello, do STF: 'Battisti deve ganhar liberdade imediatamente'
O que ensina a 'guerrilha de Roma'

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Esse também é o espírito do Natal

Um ano depois, não haveria ocasião melhor para repostarmos. Por Frei Betto, escritor e assessor de movimentos sociais

Dez conselhos para os militantes da esquerda

1. Mantenha viva a indignação.

Verifique periodicamente se você é mesmo de esquerda. Adote o critério de Norberto Bobbio: a direita considera a desigualdade social tão natural quanto a diferença entre o dia e a noite. A esquerda encara-a como uma aberração a ser erradicada.

Cuidado: você pode estar contaminado pelo vírus social-democrata, cujos principais sintomas são usar métodos de direita para obter conquistas de esquerda e, em caso de conflito, desagradar aos pequenos para não ficar mal com os grandes.

2. A cabeça pensa onde os pés pisam.

Não dá para ser de esquerda sem "sujar" os sapatos lá onde o povo vive, luta, sofre, alegra-se e celebra suas crenças e vitórias. Teoria sem prática é fazer o jogo da direita.

3. Não se envergonhe de acreditar no socialismo.

O escândalo da Inquisição não faz os cristãos abandonarem os valores e as propostas do Evangelho. Do mesmo modo, o fracasso do socialismo no Leste europeu não deve induzi-lo a descartar o socialismo do horizonte da história humana.

O capitalismo, vigente há 200 anos, fracassou para a maioria da população mundial. Hoje, somos 6 bilhões de habitantes. Segundo o Banco Mundial, 2,8 bilhões sobrevivem com menos de US$ 2 por dia. E 1,2 bilhão, com menos de US$ 1 por dia. A globalização da miséria só não é maior graças ao socialismo chinês que, malgrado seus erros, assegura alimentação, saúde e educação a 1,2 bilhão de pessoas.

4. Seja crítico sem perder a autocrítica.

Muitos militantes de esquerda mudam de lado quando começam a catar piolho em cabeça de alfinete. Preteridos do poder, tornam-se amargos e acusam os seus companheiros(as) de erros e vacilações. Como diz Jesus, vêem o cisco do olho do outro, mas não o camelo no próprio olho. Nem se engajam para melhorar as coisas. Ficam como meros espectadores e juízes e, aos poucos, são cooptados pelo sistema.

Autocrítica não é só admitir os próprios erros. É admitir ser criticado pelos(as) companheiros(as).

5. Saiba a diferença entre militante e "militonto".

"Militonto" é aquele que se gaba de estar em tudo, participar de todos os eventos e movimentos, atuar em todas as frentes. Sua linguagem é repleta de chavões e os efeitos de sua ação são superficiais.

O militante aprofunda seus vínculos com o povo, estuda, reflete, medita; qualifica-se numa determinada forma e área de atuação ou atividade, valoriza os vínculos orgânicos e os projetos comunitários.

6. Seja rigoroso na ética da militância.

A esquerda age por princípios. A direita, por interesses. Um militante de esquerda pode perder tudo - a liberdade, o emprego, a vida. Menos a moral. Ao desmoralizar-se, desmoraliza a causa que defende e encarna. Presta um inestimável serviço à direita.

Há pelegos disfarçados de militante de esquerda. É o sujeito que se engaja visando, em primeiro lugar, sua ascensão ao poder. Em nome de uma causa coletiva, busca primeiro seu interesse pessoal.

O verdadeiro militante - como Jesus, Gandhi, Che Guevara - é um servidor, disposto a dar a própria vida para que outros tenham vida. Não se sente humilhado por não estar no poder, ou orgulhoso ao estar. Ele não se confunde com a função que ocupa.

7. Alimente-se na tradição da esquerda.

É preciso oração para cultivar a fé, carinho para nutrir o amor do casal, "voltar às fontes" para manter acesa a mística da militância. Conheça a história da esquerda, leia (auto)biografias, como o "Diário do Che na Bolívia", e romances como "A Mãe", de Gorki, ou "As Vinhas da Ira", de Steinbeck.

8. Prefira o risco de errar com os pobres a ter a pretensão de acertar sem eles.

Conviver com os pobres não é fácil. Primeiro, há a tendência de idealizá-los. Depois, descobre-se que entre eles há os mesmos vícios encontrados nas demais classes sociais. Eles não são melhores nem piores que os demais seres humanos. A diferença é que são pobres, ou seja, pessoas privadas injusta e involuntariamente dos bens essenciais à vida digna. Por isso, estamos ao lado deles. Por uma questão de justiça.

Um militante de esquerda jamais negocia os direitos dos pobres e sabe aprender com eles.

9. Defenda sempre o oprimido, ainda que aparentemente ele não tenha razão.

São tantos os sofrimentos dos pobres do mundo que não se pode esperar deles atitudes que nem sempre aparecem na vida daqueles que tiveram uma educação refinada.

Em todos os setores da sociedade há corruptos e bandidos. A diferença é que, na elite, a corrupção se faz com a proteção da lei e os bandidos são defendidos por mecanismos econômicos sofisticados, que permitem que um especulador leve uma nação inteira à penúria.

A vida é o dom maior de Deus. A existência da pobreza clama aos céus. Não espere jamais ser compreendido por quem favorece a opressão dos pobres.

10. Faça da oração um antídoto contra a alienação.

Orar é deixar-se questionar pelo Espírito de Deus. Muitas vezes deixamos de rezar para não ouvir o apelo divino que exige a nossa conversão, isto é, a mudança de rumo na vida. Falamos como militantes e vivemos como burgueses, acomodados ou na cômoda posição de juízes de quem luta.
Orar é permitir que Deus subverta a nossa existência, ensinando-nos a amar assim como Jesus amava, libertadoramente.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Hoje Oscar Niemeyer faz 103 anos. Vamos homenageá-lo?


Divulgue em suas listas. No Twitter e no Facebook utilize estas hashtags:

#Niemeyerday
#ParabensNiemeyer

Você pode ainda dar os parabéns a esse grande brasileiro pelo e-mail oscar.niemeyer@cdhrio.com.br.

Feliz cumpleaños, companheiro Oscar!

CARTA ABERTA À NAÇÃO BRASILEIRA

As entidades e pessoas abaixo assinadas, representativas da
diversidade do audiovisual brasileiro independente e com capilaridade
em todo o território nacional, vêm a público manifestar sua
discordância em relação a matérias publicadas nos últimos dias na
grande imprensa brasileira a titulo de análise das políticas
executadas pela atual administração do Ministério da Cultura para o
setor audiovisual.

Como pano de fundo das referidas matérias, encontramos a anacrônica
divisão entre cinema comercial e cinema cultural, um debate superado
pelo menos há uma década e que levou as indústrias culturais a serem
utilizadas como moeda de troca nas negociações da Organização Mundial
do Comércio. O mundo inteiro, à exceção de dois países, rejeitou
liminarmente essa visão ao retirar a cultura do âmbito da OMC e
colocá-la sob a chancela da Convenção da UNESCO que hoje promove e
protege a diversidade das expressões culturais.

O Brasil foi um dos países mais influentes na campanha pela aprovação
da referida Convenção, ocorrida em 2005, que hoje se constitui num
compromisso internacional das nações de todos os continentes,
inclusive o nosso. Coerente com essa visão abrangente da cultura, e,
portanto do audiovisual, as duas últimas administrações do Ministério
da Cultura atuaram no sentido de promover e fomentar a diversidade de
nossas manifestações culturais. O resultado dessa iniciativa foi que o
audiovisual brasileiro é hoje uma atividade que se faz presente em
todas as unidades da federação, com a multiplicação de núcleos de
criação, produção e difusão, devolvendo assim ao cinema e ao
audiovisual a sua dimensão cidadã, como expressão de um povo, e
superando a concepção mercadológica que vê no homem apenas um
consumidor.

A estrutura mercantil do cinema elitizou-se numa estreita faixa do
nosso território e atinge menos de 10% da população, submetidos a uma
oferta que só inclui filmes brasileiros por força de uma cota de tela
estabelecida por lei. Ao mesmo tempo, e como efeito das políticas de
descentralização de recursos e de regionalização da produção de
conteúdos, a maioria da sociedade, especialmente a que vive nas
periferias das grandes cidades e no interior do país, volta a ter
contato com nossos filmes e com nossa cultura graças à proliferação
dos pontos de cultura e de exibição, dos cineclubes, dos festivais e
mostras e inúmeras outras iniciativas.

As forças que hoje se manifestam contra essa democrática orientação,
com o objetivo indisfarçado de influenciar a escolha do próximo
titular do Ministério da Cultura por parte do governo recém eleito,
são as mesmas que impediram a aprovação da criação da ANCINAV,
protelaram as discussões sobre a Lei Geral das Comunicações,
arquivaram a Lei de regionalização das programações de televisão e
procuram descaracterizar o PLC 116/2010 em tudo o que ele tem de
defesa do conteúdo nacional. São enfim as mesmas forças que vêem na
universalização da banda larga uma ameaça e não um instrumento da
evolução social.

Por todas essas razões, vimos manifestar nosso repúdio a tais
manifestações e nossa certeza de que o Ministério da Cultura
continuará atuando para que a cultura que seja cada vez mais a
expressão de um povo e não de minorias e para que a sociedade seja a
protagonista de sua história e não apenas uma massa consumidora de
conteúdos que não lhe dizem respeito.

Para subscrever esta carta mande um e-mail para
comunicacoes@cbcinema.org.br

Assinam:

ENTIDADES NACIONAIS:

CBDC – Coalizão Brasileira pela Diversidade Cultural
CBC – Congresso Brasileiro de Cinema
UNINFRA - União Nacional da Infraestrutura Cinematográfica
ABPA – Associação das Produtores Brasileiras de Audiovisual
APRO – Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais
APIJOR – Associação Brasileira da Propriedade Intelectual dos Jornalistas
ABDn – Associação Brasileira de Documentaristas
CNC – Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros
FÓRUM DOS FESTIVAIS
CPCB – Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro
AR – Associação dos Roteiristas

ENTIDADES ESTADUAIS E REGIONAIS:

SINDCINE - Sindicato dos Trabalhadores na Industria Cinematográfica
Audiovisual dos Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio
Grande do Sul, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins e
Distrito Federal
SANTACINE – Sindicato da Indústria Cinematográfica de Santa Catarina
SINTRACINE - Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Cinematográfica
e do audiovisual de Santa Catarina
SIAV RS - Sindicato da Indústria Audiovisual do Rio Grande do Sul
APROCINE - Associação dos Produtores e Realizadores de Longas
Metragens de Brasília
APROECE - Associação das Empresas e Produtores de Cinema do Ceará
APCNN – Associação dos Produtores de Cinema do Norte e Nordeste
AMC – Associação Mineira de Cineastas
FUNDACINE - Fundação de Cinema Rio Grande do Sul
SATED MG - Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de
Diversão do Estado de Minas Gerais
ABDeC ES – Associação Capixaba de Documentaristas e Curtametragistas
APTC / ABD RS - Associação Profissional de Técnicos Cinematográficos
do Rio Grande do Sul
ABD MG – Associação Curta Minas
ABD / APECI - Associação Brasileira de Documentaristas – Seção
Pernambuco e Associação Pernambucana de Cineastas
ABDeC PA – Associação Brasileira de Documentaristas e Curtametragistas
– Seção PA
ABD MA - Associação Brasileira de Documentaristas – Seção Maranhão
ABCV DF - Associação Brasiliense de Cinema e Vídeo
ABCV BA - Associação Baiana de Cinema e Vídeo - Seção Bahia
ACCV - Associação Cearense de Cinema e Vídeo
AMV / ABD MT - Associação dos Profissionais de Cinema e outras
Tecnologias Audiovisuais de Mato Grosso
ABDeC AP - Associação Brasileira de Documentaristas e Curtametragistas – Amapá
ACV MS – Associação de Cinema e Vídeo do Mato Grosso do Sul
AVEC / ABD PR – Associação Brasileira de Documentaristas – Seção Paraná
FPC – Federação de Cineclubes do Estado de São Paulo
ASCINE RJ – Associação de Cineclubes do Rio de Janeiro
UCB – União de Cineclubes da Bahia
FEPEC – Federação Pernambucana de Cineclubes
ASCINES – Associação de Cineclubes do Espírito Santo
FECIRS – Federação de Cineclubes do Rio Grande do Sul
PARACINE – Federação Paraense de Cineclubes
ALDEIA - Agência de Desenvolvimento Cultural (CE)

ENTIDADES MUNICIPAIS:

ACVV – Associação de Cineclubes de Vila Velha (ES)
Associação de Difusão Cultural de Atibaia (Atibaia, SP)
Instituto Nangetu de Tradição Afro-religiosa e Desenvolvimento Social
(Belém, PA)
CISANE- Centro de Integração Social Amigos de Nova Era

FESTIVAIS E MOSTRAS:

FAIA – Festival de Atibaia Internacional do Audiovisual (Atibaia, SP)
CINE CEARÁ (Fortaleza, CE)
JORNADA INTERNACIONAL DE CINEMA DA BAHIA (Salvador, BA)
SMVC – SANTA MARIA VÍDEO E CINEMA (Santa Maria, RS)
FESTIVAL GOIAMUM AUDIOVISUAL (Natal, RN)
FESTIN – Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa (Lisboa, PT)
FESTIVAL DE CINEMA NA FLORESTA (Alta Floresta, MT)
TUDO SOBRE MULHERES (Chapada dos Guimarães, MT)
CURTA SANTOS (Santos, SP)

TVS COMUNITÁRIAS:

TV Cidade Livre – Canal Comunitário de Rio Claro (Rio Claro, SP)

CINECLUBES:

CREC – Centro Rioclarense de Estudos Cinematográficos (Rio Claro, SP)
Difusão Cineclube (Atibaia, SP)
Cineclube Guadala (Vila Velha, ES)
Cineclube Juparanã (Linhares, ES)
Cineclube Irmão Sol, Irmã Lua (Ijuí, RS)
Cineclube Atlântico Negro (Rio de Janeiro, RJ)
Cineclube Embu das Artes (Embu das Artes, SP)
Cineclube Lanterninha Aurélio (Santa Maria, RS)
Cineclube da ABDeC/ES (Vitória, ES)
Cine Teatro 14 Bis (Guaxupé, MG)
Cineclube Abelin Nas Nuvens (Caçapava, RS)
Cineclube Paraty (Paraty, RJ)
Cineclube SMVC (Santa Maria, RS)
Cineclube Natal (Natal, RN)
Cineclube Laguna (Laguna, SC)
Cineclube Amoeda Digital (Recife, PE)
CineolhO (Niterói, RJ)
Cineclube Vozes do Morro (Vila Velha, ES)
Cineclube Imaginário (Salvador, BA)
Cineclube Projeto Kalu (Altamira, MA)
Cineclube Central (Vila Velha, ES)
Cine Gastro (Fortaleza, CE)
CineOca (Porto Velho, RO)
Cineclube Aquiry (Rio Branco, AC)
[Rede Aparelho] (Belém, PA)
Cineclube Ideário (Maceió, AL)
Tela Tudo Clube de Cinema (Maceió, AL)
Cineclube Tela Crítica (Marília, SP)
Cineclube Clã Periférico (Salvador, BA)
Cine + Alto do Moura (Caruaru, PE)
Uni-Escola Cinema (Belém, PA)
Cineclube Floresta (Alta Floresta, MT)
Cineclube Aymoré Digital (Nova Iguaçu, RJ)
Cineclube AMBM (Nova Iguaçu, RJ)
Cineclube Nagetu (Belém, PA)
Cineclube Cultura Jorge Comasseto (Rio Pardo, RS)
Estação Cineclube (Rio Grande, RS)
Cineclube Argonautas (Belém, PA)
Cineclube de Santa Rosa (Santa Rosa, RS)
Cineclube Ibiapina, Barro (CE)
Cineclube de Getúlio Vargas (Getúlio Vargas, RS)
Cine Clube Araucária de Bom Jesus (Bom Jesus, RS)
Cineclube Gaia (Esteio, RS)
Cineclube Seriense (Sério, RS)
Cineclube Bom Retiro (Bom Retiro do Sul, RS)
Cineclube O Marisco (Cidreira, RS)
Cineclube Jaguarão (Juaguarão, RS)
Cineclube Cinema nos Bairros (Lins, SP)
Cineclube Gioconda (RS)
Cine Clube Armação (Florianópolis, SC)
Cine Mofo (Rio de Janeiro, RJ)

PONTOS DE CULTURA:

Comissão Nacional de Pontos de Cultura - CNPdC/GT AMAZONICO
Ponto de Cultura Cinema de Animação (Olinda, PE)
Ponto de Cultura 14 Bis (Guaxupé, MG)
Ponto de Cultura Minha Vila Filmo Eu (Curitiba, PR)
Pontao de Cultura Rede Juvenil (Belém, PA)

APOIOS INTERNACIONAIS:

FICC – Federação Internacional de Cineclubes


Pessoas Físicas

Geraldo Moraes, cineasta (BA)
Rosemberg Cariry, cineasta (CE)
Guido Araújo, cineasta (BA)
Vladimir Carvalho, cineasta (DF)
Manfredo Caldas, cineasta (DF)
Geraldo Veloso, cineasta (MG)
Orlando Bonfim Neto, cineasta (ES)
Bhig Villas Boas, cineasta (SC)
Jorge Alfredo Guimarães, cineasta (BA)
Lula Oliveira, cineasta (BA)
Solange Lima, produtora (BA)
Antonio Claudino de Jesus, cineasta e presidente da FICC (ES)
Edna Fujii, presidente da UNINFRA (SP)
João Baptista Pimentel Neto, jornalista e produtor cultural (SP)
Jorge Moreno, produtor (MG)
Wolney Oliveira, cineasta (CE)
Marcio Cury, cineasta e produtor (DF)
Cícero Aragon, produtor (RS)
Magdalena Rodrigues, atriz (MG)
Guigo Pádua, documentarista (MG)
Pedro Pablo Lazzarine, fotógrafo (SP)
Paulo Cannabrava Filho, jornalista e escritor (SP)
Beto Rodrigues, cineasta e produtor (RS)
Cesar Cavalcanti, cineasta e produtor (SC)
Carla Osório, jornalista e documentarista (ES)
Maria Clara Fernandez, produtora (SP)
Carlos Brandão, pesquisador e crítico (RJ)
Mirna Brandão, pesquisadora (RJ)
João Paulo Furtado, documentarista (MA)
Saskia Sá, documentarista (ES)
Petrus Cariry, cineasta (CE)
Glauber Filho, documentarista (CE)
Ursula Dart, documentarista (ES)
André Luiz de Oliveira, cineasta (DF)
Dani Franco, documentarista (PA)
Cynthia Falcão, documentarista (PE)
Carol Araujo, documentarista (MT)
Jaime Lerner, cineasta (RS)
Cibele Amaral, cineasta (DF)
Daniela Fernandes, jornalista (MG)
Antonio Leal, produtor cultural (RJ)
Luis Alberto Cassol, cineasta (RS)
Francisco Weyl, carpinteiro de poesia e cineclubista (PA)
Flávio Machado, cineclubista (RJ)
Cândido Alberto da Fonseca, documentarista (MS)
Ana Vidigal, documentarista (AP)
Marcio Moraes, diretor de animação (DF)
Guto Pasko, cineasta (PR)
Oscar Daniel Morales - Pró Reitor de Extensão Adjunto UFSM (RS)
Mateus Damasceno, documentarista (BA)
Roberto Sabóia, documentarista (PI)
Duarte Dias, documentarista (CE)
Denise Fontousa, roteirista e montadora (RJ)
Ana Paul, roteirista (SP)
Lucila Maia, cineasta (SP)
Arnaldo Galvão, cineasta de animação (SP)
Maria de Fátima Guimarães, documentarista (PI)
Calebe Pimentel, cineclubista e documentarista (SP)
Luiz Cavalari, jornalista (SP)
Nikole Kubli, artista plática e produtora cultural (SP)
Gilvan Dockhorn, professor Universitário e cineclubista (RS)
Lauro Monteiro, artista plástico e cineclubista (RJ)
Mariza Teixeira, cineclubista (ES)
Gleciara Ramos, cineclubista (BA)
Nelson Marques, pesquisador e cineclubista (RN)
Carolline Vieira, cineclubista e produtora cultural (CE)
Simone Norberto, jornalista e cineclubista (RO)
Télsio Brezolin, gestor cultural (RS)
Gê Carvalho, cineclubista (PE)
David Alexandriski, cineclubista e gestor cultural (RJ)
Jorge Conceição, professor universitário e cineclubista (BA)
Isidoro Cruz Neto, professor universitário e cineclubista (MA)

domingo, 5 de dezembro de 2010

Carlos Tautz, em agosto de 2010: Serra, Dilma, Marina e Plínio sofrem de insensibilidade ambiental

Nota do EDUCOM: Dilma ainda não nomeou seu ministro do Meio Ambiente. Meio ambiente será tratado como estratégico no novo governo?

Por Carlos Tautz, jornalista. Publicado em 17 de agosto de 2010 no website Opinião e Notícia
A menos de dois meses das eleições presidenciais, nenhum dos quatro principias candidatos (Dilma, Serra, Marina e Plínio) expressam compreensão ou sequer apreço pelos graves problemas ambientais que o Brasil precisa enfrentar. Problemas, aliás, que extrapolam os limites da “questão ambiental” e dizem respeito mesmo ao coração do modelo de desenvolvimento brasileiro. Todos e todas nobres candidatas e candidatos, quando sem saída, optam pelas expressões idiomáticas pobres de conteúdo e ricas em possibilidade de virarem noticia.

De mudanças climáticas a uma política nacional de economia de energia, passando pelo desenvolvimento de uma plano global de utilização sustentável dos recursos hídricos (que seria uma precondição ao país que aspira a ser produtor mundial da commodity álcool combustível), tudo de importante para um prometo de Brasil é desconsiderado. De olho na campanha, limitam-se a discutir ações de curto prazo que não projetam qualquer futuro para esta nação de 190 milhões de pessoas. Pior para o Brasil (ou seja, nós).

No campeonato da insensibilidade ambiental, candidatas e candidatos podem ser divididos em três grupos. No bloco dos pragmáticos estão Dilma (PT-PMDB) e Serra (PSDB-DEM), preconizando uma impossibilidade física: crescimento econômico sem fim, embora (como Marina) afirmem ser possível compatibilizar respeito ambiental e desenvolvimento.

O segundo bloco é o de Marina (PV), que escapa de emitir posições claras. Diz, apenas, que, eleita, manterá as “conquistas” dos últimos 16 anos: câmbio fixo, independência do Banco Central e superávit fiscal, na linha dos famosos ambientalistas Pedro Malan, Armínio Fraga e Henrique Meirelles.

O último bloco é o dos sem proposta. Integrado por Plínio (PSOL), que segue a tradição ideológica da esquerda e se relaciona com o ecologismo da mesma forma utilitária e não estratégica como o faz a esquerda também no campo da comunicação e da cultura.

Dilma evita comentar os efeitos da eventual entrada em vigor da proposta de novo Código Florestal (elaborada por um deputado de sua atual base congressual). A ser aprovada na forma como tramita agora na Câmara, o novo Código provocaria o aumento exponencial das emissões de gases causadores das mudanças no clima. Sequer menciona a possibilidade de fazer um balanço de emissões de seus carros-chefes, o PAC, e seus megaprojetos impactantes do meio ambiente.

Serra, por sua vez, é enfático. Garantiu ao Jornal Nacional ser “muito ambientalista”, e mais nada diz a respeito. Em coral com Dilma e Marina, entoa o mantra de que “é possível conciliar desenvolvimento econômico com proteção ambiental”, mas sempre escapole de abordar temas centrais, como o zoneamento econômico ecológico de todo o território nacional e o apoio do Estado brasileiro aos maiores desmatadores.

Marina reitera figuras retóricas vazias de conteúdo como “desenvolvimento sustentável” (expressão com mais de 300 significados reconhecidos pela ONU) e faz uma campanha fashion. Segue os moderninhos ambientais que propõem uma “economia de baixo carbono”, mas esquece que a economia brasileira é intensiva no uso de combustíveis fósseis ricos em… carbono! Registre-se a coerência histórica de continuar a ser contra a energia atômica.

A vontade como franco atirador, Plínio aborda questões chaves do desenvolvimento nacional, como o limite da terra, mas não escapa dos limites ideológicos da sua matriz, esquerda tradicional, e passa longe de encarar questões como a matriz energética ou o papel do Brasil na arena internacional como eterna plataforma de exportação de commodities.

OK, a opinião de candidatos e candidatas é pouco clara, mas tudo bem: não é preciso ter pressa. Afinal, nosso planeta nos proverá infinitamente de recursos, não é mesmo?

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Blogueiros de MG destacam revolução da Web, condenam 'AI-5 digital' e defendem integração da AL contra imperialismo

Por Rodrigo Brandão, da Equipe do EDUCOM*


JUIZ DE FORA - Internautas da mídia alternativa baseados na Zona da Mata mineira e região, além de convidados de outros pontos do Sudeste estiveram, durante a última semana, reunidos no campus da Universo de Juiz de Fora e espaços culturais da cidade para o 1º Encontro Regional de Blogueiros Progressistas - Blogs: A Revolução da Informação. A Carta aprovada pelos comunicadores você confere no final do post mas, a seguir, contaremos um pouco mais do que aconteceu por lá entre os dias 25 e 27. O Encontro da Zona da Mata, que teve debates e plenárias sábado, 27, é o primeiro desdobramento do Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, que aconteceu em agosto na cidade de São Paulo. Mostrou que os jornalistas da região vivem um momento de intensa mobilização para combater o discurso capitalista-neoliberal da mídia hegemônica, por uma articulada resistência aos avanços dos EUA e seus aliados contra a soberania da América Latina e na defesa de liberdade aos fazedores independentes das novas mídias.

Os blogueiros presentes ao Encontro, patrocinado pela Casa da América Latina, fizeram duras críticas à concentração econômica da mídia brasileira em apenas nove famílias, mas, confirmando o subtítulo do próprio evento, concordaram sobre o fato de que a internet abre possibilidades tempos atrás inimagináveis para disseminar conteúdos de pequenos comunicadores espalhados pelo país. Isto, segundo consenso entre os ativistas, tem impedido que os oligopólios da mídia falem sozinhos. Para realizarem de fato a revolução da informação, entendem que é hora de somar esforços, construindo veículos e ferramentas próprios para distribuir conteúdos, paralelamente abrindo canais de diálogo e articulação com movimentos de mídia ou não que resistem ao modelo neoliberal.

Venda do Google ameaça neutralidade da rede
Após comentários do professor universitário e dirigente comunista Edmilson Costa e do ex-prefeito de Juiz de Fora Tarcisio Delgado - blogueiro desde 2005 e respeitado na esquerda local como um dos líderes mais preocupados com a democratização das comunicações - sobre o difícil panorama da mídia no país, marcado pela concentração dos meios nas mãos de poucos e a serviço do capitalismo globalizante, o jornalista Laerte Braga, da comissão organizadora do 1º Encontro Regional, trouxe dados preocupantes para o campo da comunicação alternativa. Segundo Laerte, recentemente o Google foi comprado por um consórcio de corporações e investidores norte-americanos diretamente vinculados ao aparato político-militar do Império, tendo na linha de frente a CIA - Agência Central de Inteligência dos EUA.

Esses fatos, para Laerte, demonstram que "cada vez mais a mídia, mídia esta que é globalizada, já que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso abriu a possibilidade de estrangeiros participarem do capital das empresas brasileiras, se confunde com a própria hegemonia neoliberal". Segundo Braga, que escreve regularmente para blogs como o Café História, Rede Castor Photo, Brasil Mobilizado e este que você lê no presente momento, "num futuro bem próximo enfrentaremos não apenas a manipulação das corporações de imprensa locais, mas ainda os riscos de controle da informação pelo próprio Império, já que blogs como os nossos estão quase todos em servidores do sistema Google". "No Brasil, esses tentáculos das corporações tentando controlar o que se escreve na internet, ameaçando frontalmente a blogosfera, se materializam no PL 84/99, do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), que chamamos de 'AI-5 digital' (referência ao Ato Institucional que a ditadura militar baixou em 1968, endurecendo de vez o regime). Laerte Braga explica que o projeto pretende "estabelecer todos os mecanismos de controle possíveis, a partir dos provedores, quebrando qualquer privacidade na internet".

Laerte Braga (esq.): grande mídia e controle da internet desafiam blogs

"No Brasil, até hoje, a única autoridade que se preocupou em quebrar o monopólio da Microsoft e fazer de fato política de software livre foi o (petista) Olívio Dutra, quando foi governador do Rio Grande do Sul (1999-2002)", lembra Laerte. Para o jornalista, a solução está em os blogueiros e demais internautas interessados em desafiar a hegemonia na informação apostarem numa comunicação engajada, militante, empenhada em desmoralizar os discursos dominantes e integrar suas lutas às pautas dos movimentos sociais do Brasil e do restante da América Latina. "Países como Venezuela, Argentina e Bolívia têm governos interessados em construir uma nova comunicação. É com eles que devemos estar. Precisamos construir frentes reunindo variados matizes da esquerda, com pluralidade e solidariedade", reivindica Laerte.

Braga critica interesses de "setores do próprio movimento blogueiro alienados das lutas populares", citando nomes conhecidos como Luis Nassif, Luiz Carlos Azenha e Paulo Henrique Amorim. "Não podemos aceitar que alguns jornalistas vinculados a redes de TV ou portais, que não são verdadeiramente militantes, mas, ao contrário, preocupam-se permanentemente com questões comerciais, tentem impor à blogosfera uma linguagem única, que em realidade não contradiz o modelo da mídia hegemônica. "Reconheço que Nassif, PHA e Azenha são jornalistas independentes, mas o que precisamos mesmo é de engajamento, pois queremos revolucionar a informação e o mundo."

Internet sem controle, um campo favorável à esquerda
O economista e professor universitário Edmilson Costa e o historiador Alex Lombello, ambos dirigentes do PCB e ligados à Rede Comunista de Blogs, defenderam ação conjunta das forças de esquerda para impedir a aprovação de qualquer instrumento legal, como por exemplo o "AI-5 digital" de Azeredo, que signifique controlar ou limitar a atuação dos comunicadores independentes na internet. "Temos hoje 60 milhões de computadores em uso no Brasil, com outros 8 milhões de brasileiros plugados à Web, sendo que 78% de nossos internautas tem entre 14 e 18 anos. Se todos os 68 milhões de 'navegantes' brasileiros estiverem ao mesmo tempo conectados, isso significa audiência superior a todas as redes de TV juntas. Ou seja, hoje temos reais condições de responder aos ataques maciços da mídia em tempo real, com eficiência", observou Costa, rechaçando a necessidade de regulação da internet. "Trata-se de uma mídia 'faca de dois gumes', mas também de um terreno que tem se mostrado favorável à esquerda".

Para Costa e o ex-prefeito Tarcisio Delgado, a hegemonia da juventude entre os internautas traz um alento e um desafio. "Temos possibilidades de colher ótimos frutos num curto prazo de tempo, se o capitalismo hegemônico, um 'gato de sete fôlegos', não encontrar formas de controlar a grande rede", disse Delgado. Emenda Edmilson Costa: "Não há dúvida que é uma ótima notícia a juventude brasileira estar maciçamente conectada, em números impressionantes até em nível mundial, mas diante disso precisamos ter em mente a necessidade estratégica de nos abrirmos às redes sociais, onde está a juventude. Não podemos cair na armadilha de falar a maior parte do tempo para nós mesmos. É preciso ir em busca do discenso e das contradições, ampliar cada vez mais o alcance do que escrevemos".

Já Lombello duvida que o Brasil altere sensivelmente o marco regulatório da chamada "velha mídia", mas entende que é necessário buscar novas formas de disseminação de conteúdos para rebater o discurso do pensamento único. "Concordo integralmente com os companheiros aqui presentes sobre a necessidade de buscarmos domínios, provedores ou outros mecanismos de acesso próprios como alternativa ao Google", finalizou. Rubens Ragone, teórico da comunicação, professor universitário e autor de blogs como o Almas Corsárias, dedicado ao cinema político, definiu assim, de forma lapidar e otimista, o fenômeno que hoje vivemos: "No meu entender, o ser humano vive a terceira onda de consolidação da sua capacidade cognitiva. A primeira foi a oralidade, o advento da fala. Depois veio a escrita. Agora estamos vivenciando a explosão da internet".

Ao lado do consenso sobre a necessidade de priorizar as pautas regionais nos blogs, desconstruir a mídia hegemônica e articular mobilizações contra o PL 84/99, os blogueiros da Zona da Mata incluíram na Carta do Encontro, entre outros pontos, a perspectiva de criação de ferramentas unificadoras para, incorporando redes de correspondentes pelo país, socializar informações e articular lutas em defesa da soberania nacional e da América Latina.

Silvio Tendler e show de música latino-americana
Juiz de Fora começou na quinta, 25, a viver o clima da revolução da informação que seria discutida pelos blogueiros progressitas no sábado. Convidado de honra do 1º Encontro Regional, o documentarista Silvio Tendler exibiu, seguido por debate, seu "Utopia e Barbárie" no Anfiteatro João Carriço. Rodado ao longo de 20 anos, o filme de Tendler trafega por alguns dos episódios que mais marcaram o século passado, como o Holocausto, a Revolução Russa, o ano 1968 no mundo e a queda do Muro de Berlim. Na sexta, 26, o Espaço Mezcla, já consagrado como centro de resistência cultural de Juiz de Fora, recebeu o show "Sertão da Palavra", com os cantores Aliciane Rodrigues, Marcos Marinho e banda em repertório marcado por muita música de povos da América Latina e sucessos da MPB dos anos 1960 e 70.

Aperitivos culturais para o Encontro de Blogueiros em Juiz de Fora: na quinta, 25, Silvio Tendler fala em debate após a exibição de 'Utopia e Barbárie', seu mais recente documentário. Na sexta, 26 (abaixo), show 'Sertão da Palavra', no Espaço Mezcla, resistência cultural juizforana, com os cantores Aliciane Rodrigues e Marcos Marinho


CARTA DO ENCONTRO REGIONAL
BLOGUEIROS PROGRESSISTAS DE JUIZ DE FORA E ZONA DA MATA

BLOGS - A REVOLUÇÃO DA INFORMAÇÃO

CASA DA AMÉRICA LATINA - JUIZ DE FORA


Reunidos em Juiz de Fora, MG, nos dias 25, 26 e 27 de Novembro de 2010, em decorrência do I Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, blogueiros de Juiz de Fora e Zona da Mata Mineira, em seu primeiro encontro regional, deliberam o seguinte:

- As transformações promovidas pela INTERNET em todo o processo de comunicação, perceptíveis em momentos decisivos da História de nossos dias e desde o final do século XX e esse início do século XXI, apontam para a importância dessa ferramenta como fator de transformações políticas, econômicas e sociais.

- Todas as contradições do capitalismo, em sua versão neoliberal, se mostram plenas na chamada rede mundial de computadores, numa forma de exposição de suas vísceras, permitindo que a luta popular por um mundo alternativo gere condições objetivas para a construção de um contraponto que possibilite a emergência de novas formas de comunicação social.

- Ao mesmo tempo a Internet abre perspectivas de romper barreiras da comunicação restringindo o alcance e a influência da chamada grande mídia, ou mídia privada, instrumento de dominação das elites políticas e econômicas em todos os sentidos, permitindo a construção de canais de comunicação capazes de integrar campos diferenciados das forças populares em torno de princípios e ideais comuns.

- Os blogueiros discutiram a INTERNET no plano geral, o seu caráter revolucionário e as perspectivas de criação de uma ferramenta unificadora plural, progressista e solidária, capaz de incorporar uma rede de correspondentes pelo Brasil afora, visando à socialização das informações por eles geradas, que se preste a construir um processo de informação que resulte em formação, consciência e ação, levando em conta o tempo e o espaço que vivemos no mundo, particularmente na América Latina.

- Os blogueiros deste primeiro encontro entendem que devem ser privilegiadas as informações e lutas de suas cidades, compreendendo-as como realidade imediata de cada um e parte decisiva da luta do povo brasileiro.

- A integração de forças populares dentro desse espectro e por meio dessa ferramenta, abarcando companheiros de diferentes tendências, mas unidos em torno de objetivos comuns - a defesa da revolução bolivariana, dos novos rumos de países como o Uruguai, o Paraguai, a Argentina e países da América Central, dos governos progressistas da Nicarágua e El Salvador, da importância e peso de todo o processo da revolução cubana, bem como a resistência ao golpe militar contra o governo Zelaya em Honduras e às ações contrárias ao governo Chávez - todo esse conjunto de fatores dentro do processo político mundial aponta para a busca da unidade e da solidariedade entre os povos latino-americanos, percebendo o Brasil sua importância dentro dessa realidade, privilegiando a informação em contraponto à mídia privada.

- Assumimos o compromisso de combater sem tréguas os erros, omissões e manipulações que vêm caracterizando a ação da mídia privada. Exemplo de omissão é o silêncio diante dos genocídios na Palestina, no Iraque, no Afeganistão etc. Ao mesmo tempo denunciamos o processo de criminalização dos movimentos sociais e a discriminação de governos populares, rotulados de ditatoriais, procedimento padrão dessa mídia monopolizada, que comete crimes de lesa humanidade ao estimular a violência e preconceitos diversos.

- Repudiamos de maneira veemente o projeto de lei do Senador Eduardo Azeredo, PL 84/99, considerando-o um verdadeiro "AI-5 digital", uma vez que cerceia o direito de informação e tolhe a liberdade de expressão, assegurando o monopólio da mídia privada.

O quadro de desmantelamento da potência imperialista e a gravidade do momento vivido em todo o mundo, os riscos de ações militares, a partir da instalação de bases militares norte-americanas em vários países da América Latina, nos levam, num país como o Brasil, a deliberar que a luta na INTERNET deve agregar e juntar forças populares, mesmo que diferenciadas, num enfrentamento organizado e sistematizado, mas generoso na abrangência, provocando debate e organizando a luta, dentro e fora da INTERNET.

Juiz de Fora, 27 de Novembro de 2010
*especial para a Agência Petroleira de Notícias e o EDUCOM - Aprenda a Ler a Mídia. Crédito das fotos: Luís Carlos "Kaizim" Ragone