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sábado, 25 de fevereiro de 2012

Brasil afasta-se dos Brics e vota contra a Síria na ONU

22/02/2012 - Beto Almeida* - Carta Maior

Às vésperas do carnaval, a representante do Brasil na ONU votou resolução de condenação ao governo sírio, afastando-se dos BRICS, dos países da ALBA , emitindo contraditória e perigosa mensagem de aproximação com as potências que sustentam intervencionismo militar crescente em escala internacional, especialmente contra países com políticas independentes e emergentes. Um voto que pode ser um tiro no próprio pé futuramente.
(Beto Almeida)

O Brasil ficou ao lado dos EUA, Inglaterra, França, Canadá, Espanha, Austrália, Alemanha, que deram sustentação à agressão ao Iraque, ao Afeganistão e , mais recentemente, à Líbia. Contra esta resolução que tendenciosamente condena e responsabiliza apenas o governo da Síria pela escalada de violência generalizada que atinge o país - na qual há farta evidência de ingerência estrangeira - estão a Rússia, China, Índia, África do Sul, países do grupo Brics - do qual o Brasil faz parte - e nove países da Alba, além do Irã, da Argélia, do Líbano, da Coréia do Norte. Este grupo reivindica que a solução da crise síria deve ser exclusiva dos sírios, que escolherão, nos próximos dias, pelo voto popular direto, um novo modelo de Constituição.

A votação na ONU ocorre em meio a pressões das grandes potências de realizarem uma ação de armar a oposição síria. A porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Victória Nulandi declarou a insatisfação de seu país diante do veto da Rússia e da China a uma intervenção militar internacional aos moldes da Fórmula Líbia. Ela afirmou, entretanto, que seu país não descarta o fornecimento de armas ao autodenominado Exército Livre da Síria, que, conforme demonstra abundante informação, conta com armamentos, apóio logístico, de comunicações, recursos financeiros e a presença de mercenários que atuaram e atuam na Líbia, com apoio dos principais aliados norte-americanos na região, especialmente da Arábia Saudita e do Qatar.

O papel intervencionista da TV Al-Jazeera
A participação da oligarquia do Qatar no conflito sírio inclui a sistemática falsificação midiática da situação síria por parte da TV Al-Jazeera, emissora que foi fundamental também na sustentação midiática da invasão neocolonial à Líbia, com sofisticada over dose de desinformação, reproduzida ad nauseun por toda a mídia comercial internacional como única fonte informativa, questionada apenas pela Telesur que informava sobre o monumental massacre promovido pela Otan. Aliás, completamente confirmado. A TV Al-Jazeera é uma emissora capturada e plenamente a serviço da oligarquia petroleira internacional e nem mesmo o elogio de certas vozes da esquerda guiada pela Otan ou de ongs internacionais metidas no movimento de democratização da mídia, podem mais evitar esta constatação. O Qatar é um enclave oligárquico onde tem sede uma das mais importantes bases militares dos EUA na região.

Estaria o Itamaraty entrando em algum desconhecido estado de hipnose para não prestar a devida atenção ao público e assumido propósito intervencionista das grandes potências ocidentais na Síria, como revelam as declarações da porta-voz do Departamento de Estado? Em entrevista recente à BBC, o Ministro de Relações Exteriores da Inglaterra, Willian Hauge, disse estar preocupado com uma guerra civil na Síria, mas, confessando o sentido e a sinceridade de sua preocupação, afirmou, na mesma entrevista: “Como todos viram, não conseguimos aprovar uma resolução no Conselho de Segurança por causa da oposição da China e da Rússia. Não podemos intervir como fizemos na Líbia, mas podemos fazer muitas coisas”. Declarações semelhantes, anunciando a disposição para apoio militar à oposição no conflito foi dada pelo Chanceler da Holanda, Uri Rosenthal. Com o emblemático silêncio do Itamaraty. Pior ainda, com a adesão do Brasil à resolução patrocinada por este grupo de países historicamente marcados pelo intervencionismo colonial.

Autorização para a matança
Sinais de que algo está se movendo negativamente no Itamaraty de Dilma Roussef surgiram quando, logo no início de seu governo, o Brasil absteve-se na votação da ONU que decidiu - tomando por base informações não confirmadas prestadas por emissoras como a Al Jazeera - pela gigantesca intervenção armada contra a Líbia. Aproveitando-se da frágil e acovardada posição da chancelaria brasileira naquele episódio, o presidente Barack Obama, o inacreditável Prêmio Nobel da Paz, desrespeitou a Presidenta Dilma e a todos os brasileiros ao declarar guerra à Líbia estando em Brasília! O que mereceu reparos posteriores da própria Dilma. E, pouco depois, uma espécie de confissão governamental sobre o trágico erro da posição brasileira então, quando o Assessor Internacional do Palácio do Planalto, Marco Aurélio Garcia, afirmou que aquela resolução foi na verdade uma “autorização para a matança”.

Foram 203 dias de bombardeios para “salvar civis”, destruindo toda a infraestrutura construída pelo povo líbio em 40 anos, o que levou aquela nação a registrar o mais elevado IDH da África. Hoje, o petróleo líbio, antes nacionalizado, e utilizado com alavanca para sustentar um sistema de eliminou o analfabetismo, socializou a educação e a saúde, já está nas mãos das transnacionais petroleiras, evidenciando a guerra de rapina. Nem mesmo a esquerda otanista, que apoiou a invasão, pode negar os 200 mil mortos líbios, as prisões abarrotadas, a dizimação sumária das populações negras em cidades totalmente calcinadas, as torturas. Qual é o balanço que o Itamaraty faz de seu próprio voto que, em última instância, encorajou semelhante massacre?

Também é sinal de involução na posição do Itaramaty em relação à gestão de Lula-Celso Amorim, o voto brasileiro na ONU contra o Irã na temática direitos humanos, sobretudo quando é conhecidíssima a descarada manipulação desta esfarrapada bandeira humanista pelo militarismo imperial. Aliás, aquele voto contra o Irã, só não foi acrescido de vexame diplomático internacional porque o governo persa advertiu com informações objetivas ao governo brasileiro de que a tão difundida cidadã iraniana Sakhiné foi condenada por ter assassinado seu marido e não porque teria praticado adultério como tantas vezes se repetiu no sempre duvidoso jornalismo global. E também de que era apenas uma grosseira mentira a “notícia” de que os livros de Paulo Coelho eram censurados no Irã, quando são vendidos livremente, e muito, em todas as livrarias das grandes cidades persas. A ministra da cultura de um país com taxas de leituras raquíticas e analfabetismo vergonhoso quase comete o papelão de um protesto oficial. Desistiu a tempo.

Telhados de vidro
Que diferença da postura firme do Itamaraty no governo que condenou veemente a criminosa guerra imperialista contra o Iraque! Agora, observa-se uma gradual aproximação das posições do Itamaraty aos conceitos e valores daqueles países que promoveram aquelas intervenções indefensáveis contra o Iraque, o Afeganistão e a Líbia. O que indicaria uma contradição evidente também diante das próprias declarações da presidenta Dilma Roussef sobre direitos humanos em Cuba, rejeitando, com justeza, a pressão das grandes potências para a condenação unilateral e descontextualizada de países com posturas independentes.

Todos temos telhados de vidro”, lembrou a mandatária verde-amarela. Corretíssimo! Mas por que então só o Irã foi alvo de voto da delegação brasileira na ONU? Por que não há voto brasileiro na ONU contra Guatânamo, as torturas praticadas pelos dispositivos militares dos EUA, os seqüestros de cidadãos islâmicos em várias partes do mundo, com a conivência dos países europeus que se gabam de serem professores em matéria de democracia e direitos humanos mas que oferecem seu território, seu espaço aéreo e suas instalações militares para, submissos, colaborarem com as repressivas leis exclusivas dos EUA? Será que o Itamaraty vai fazer algum protesto na ONU diante de declarações de autoridades do Pentágono de que comandos militares dos EUA que executaram Bin Laden no Paquistão poderão atuar também na América Latina?

Não estará havendo um descolamento de algumas posturas do Itamaraty em relação à posição estratégica que a política externa vem construindo ao longo de décadas, reforçada de modo mais elevado e coerente no governo Lula? Neste período, formatou-se uma estratégica prioridade para uma relação cooperativa com os países do sul, uma integração concreta com a América Latina e Caribe, agora consolidada na criação da Celac, a igual prioridade para o fortalecimento da Unasul (inclusive de seu Conselho de Defesa), a defesa da legítima soberania argentina sobre as Malvinas contra a ameaçadora pretensão colônia inglesa e, finalmente, a coordenação e inclusão do Brasil no Grupo do Brics, sem esquecer os objetivos que levaram Lula a promover a Cúpula de Países Árabes e América do Sul.

O Brasil diversificou prudentemente suas relações internacionais tendo agora como maior parceiro comercial a China e não os EUA, com quem possui perigoso e crescente déficit comercial, além de ser um país que já promoveu sanções contra o Brasil por causa do Acordo Nuclear, por causa da Projeto Nacional da Informática, sem esquecer, claro, o nefasto golpe militar de 64, confessamente apoiado pelo Departamento de Estado dos EUA.

A sinistra mensagem da Líbia
Enquanto o Itamaraty parece hipnotizado por uma relação de aproximação com os países que mais promovem intervencionismo militar unilateral e ilegal no mundo, nos círculos militares brasileiros se ouviu e se entendeu com clareza e concretude a ameaçadora mensagem enviada pelas grandes potências com a agressão à Líbia, inclusive, aplicando arbitrariamente, ao seu bel prazer, os termos da Resolução aprovada na ONU. Especialistas militares brasileiros já discutem em organismos superiores a abstração de uma visão política que não considera que a intervenção rapinadora sobre as riquezas da Líbia são também ensaios e testes para ações mais amplas e generalizadas que podem ser aplicadas contra todo e qualquer país que também possua riqueza energética e alguma posição independente no cenário internacional. O figurino não serve para o Brasil? Tal como Kadafi, que se desarmou, que abandonou seu programa nuclear, que se aproximou perigosamente dos carrascos de seu próprio projeto de nação, e que não pode organizar uma linha estratégica de defesa em coordenação com países como Rússia e a China, o Brasil também desarmou-se unilateralmente durante o vendaval neoliberal. A indústria bélica brasileira foi levada ao chão praticamente, configurando-se, agora, um perigoso cenário: é possuidor de imensas reservas de petróleo descobertas, como também de urânio, de nióbio, de água, de biodiversidade, e , simultaneamente, não possuidor da mais mínima capacidade de defesa para controlar eficientemente suas fronteiras ou até mesmo a Baía da Guanabara como porta de entrada do narcotráfico internacional, cujas noticiadas vinculações com organismos como a Cia deveria merecer a preocupação extrema do Itamaraty. Será que a robusta e impactante revisão pela Rússia e China de suas posições adotadas quando admitiram a agressão imperial contra a Líbia para uma nova postura de veto a qualquer repetição da fórmula líbia que a Otan confessa pretender aplicar contra a Síria não deveria alertar os formuladores da política do Itamaraty?

Da mesma forma que se ouviu estrondoso a acovardado silêncio itamaratiano quando um avião Drone dos EUA foi capturado, em dezembro pelos sistemas de defesa iranianos quando invadia ilegalmente o espaço aéreo do Irã, agora, repercute novo silêncio brasileiro diante das jorrantes informações de infiltração de armas e de mercenários da Al-Qaeda em território, como admitem autoridades de países membros da Otan. O que pretende o Itamaraty? Defender os direitos humanos dos mercenários da Al-Qaeda subvencionados por países como a Arábia Saudita e o Qatar, que já haviam violado a soberania da Líbia, com o conivente voto brasileiro na ONU?

Manifestações populares defendem posição da Rússia e da China
Que significado terá para o Itamaraty a gigantesca manifestação popular em Damasco para receber o Chanceler russo , Sergei Lavrov, e agradecer a posição da Rússia e da China contra qualquer intervenção militar na Síria? Não estará a própria Rússia saindo de uma fase de hipnose de anos que, baseada na insustentável credulidade em torno dos acordos de redução de arsenais firmados com os EUA, levou-a, de fato, apenas a um desarmamento unilateral enquanto os orçamentos militares norte-americanos multiplicam-se e já suplantam os orçamentos militares de todos os países do mundo somados? Que significa para o Itamaraty a contundente declaração do Primeiro Ministro da China, Hu Jin Tao, propondo uma aliança militar sino-russa, após advertir que os EUA “só entendem a linguagem da força”?

Enquanto o Brasil vota com os países intervencionistas contra a Síria, a Inglaterra eleva sua presença militar nuclear no Atlântico Sul e os organismo militares brasileiros, como já tinham detectado durante da guerra das Malvinas nos anos 80, percebem que não há suficiente e adequada capacidade de defesa nacional para as riquezas do pré-sal.

Naquela época, embora posicionando-se pela neutralidade, o Brasil assumiu uma posição de neutralidade imperfeita que não o impediu de dar ajuda logística e de material de reposição militar à Argentina em sua guerra contra o imperialismo inglês, ocasião em que Cuba também ofereceu tropas ao governo portenho para lutar contra a Inglaterra. Compare-se com a posição atual no caso sírio. Será que é motivo de preocupação concreta para o Itamaraty, tendo como base o princípio sustentado pelo Brasil, de que quantidades indeterminadas de aviões drones dos EUA vasculham o território sírio, como anunciam autoridades norte-americanas, violando, portanto, sua soberania? Esta ingerência externa não merece posicionamento formal do Brasil na ONU? Mas, na rasteira filosofia dos dois pesos e duas medidas, o Brasil vota em aliança os países intervencionistas para intimidar o Irã em matéria de direitos humanos, mesmo quando a presidenta Dilma anuncia que todos têm telhado de vidro e que a discussão sobre os direitos humanos deve iniciar-se pela sistemática câmara de torturas que os EUA mantém na base de Guantánamo. Será que as palavras de Dilma não são ouvidas no Itaramaty?

O governo do Líbano já está adotando posições políticas, que incluem manobras militares, para evitar que suas fronteiras com a Síria sejam utilizadas pelas nações que estão patrocinando o armamento e a infiltração de mercenários, com o apoio ostensivo de países intervencionistas, com o objetivo de derrubar o governo de Damasco. O mesmo está ocorrendo na Turquia, inclusive, com a ocorrência de uma grande manifestação popular em cidade turca fronteiriça à Síria, em apoio ao governo de Damasco. Em Curitiba, a Igreja Ortodoxa realizou Missa de Ação de Graças, organizada pelas comunidade sírio-libanesa e palestina, em agradecimento à Rússia e a China, gesto parecido ao ocorrido em Brasília, quando a mesma comunidade levou flores e agradecimento à embaixada da Rússia no Brasil.

Partidos e sindicatos
É importante que os partidos e sindicatos, sobretudo a aliança dos partidos progressistas e antiimperialistas que sustentam o governo Dilma, discutam atentamente as sombrias involuções da política do Itamaraty. Os militares brasileiros, certamente, já estão discutindo em seus organismos de estudo e planejamento, como indica a quantidade de textos e participações de autoridades militares brasileiras em audiências públicas e em publicações especializadas, sobretudo a partir da sinistra mensagem da Líbia.

Enquanto o Brasil é alvo de uma guerra cambial desindustrializadora, como advertem membros do governo, enquanto especialistas militares advertem para o período de nosso desarmamento unilateral frente a nossas gigantescas e cobiçadas riquezas naturais, observa-se, enigmaticamente, um reposicionamento do Itaramaty distanciando-se não apenas dos princípios e posturas aplicadas mais acentuadamente durante o governo Lula, mas, distanciando-se também do conjunto de países com os quais vem construindo uma linha de cooperação para escapar dos efeitos da crise que as nações imperialistas tentam descarregar sobre a periferia do mundo. E aproximando-se dos sinais e valores impregnados nos discursos e atos da sinistra Secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, aquela que comemorou com uma gargalhada hienística quando viu as imagens de Muamar Kadafi sendo sodomizado e executado graças a informações prestadas pelos comandos militares dos EUA, conforme denunciou Vladimir Putin.

Ponto alto da campanha eleitoral de Dilma Roussef foi a declaração de Chico Buarque em defesa de sua candidatura porque com Lula e Dilma, disse ele, “o Brasil não fala fino com os EUA e não fala grosso com a Bolívia”. O que explicaria então esta enigmática e contraditória aproximação do Itamaraty com as posturas ingerencistas de Hillary Clinton com relação à Síria e ao Irã? Seria afastamento em relação à genial síntese feita pelo poeta e revolucionário Chico Buarque?


* Jornalista, Membro da Junta Diretiva da Telesur

sábado, 18 de fevereiro de 2012

O MUNDO DOS “ZUMBIS”

 Laerte Braga




O incêndio numa prisão em Honduras matou perto de 400 presos. O “presidente” Pepe Lobo foi à tevê e em rede nacional disse que ia determinar a apuração dos fatos, punir os responsáveis e assistir às famílias dos mortos. A mídia domesticada – corrupta – não fala em presos políticos, mas em criminosos comuns.

No extinto estado do Espírito Santo, hoje dirigido por um fantoche do líder da principal máfia política local, um estudante foi preso por protestar contra o aumento das tarifas dos transportes coletivos urbanos e levado para um presídio de segurança máxima onde ficou por sete dias.

Foi preso pelos “bravos” soldados da PM – uma aberração em se tratando de polícia – e acusado da posse de explosivos. Não existiam esses. A transferência para um presídio de segurança máxima é a típica atitude de “autoridade H2o”. Ou o “teje preso”.

Honduras, com a deposição do presidente Manoel Zelaya vive um regime de terror imposto pelas elites que governam o país desde sua fundação e hoje se subordinam aos EUA. Nos arredores de Tegucigalpa, capital, está a maior base norte-americana na América Latina, conhecida como “escola de golpes”.

Lá foram planejados e montados golpes militares em vários países latino-americanos, um governo fora dos parâmetros traçados por Washington – caso de Zelaya – seria um complicador sem tamanho para os Estados Unidos.

Pepe Lobo é o típico representante de uma elite tacanha, bisonha e que ainda não descobriu nem a roda e nem o garfo e a faca. O fogo sim. Usa-o para eliminar inimigos do regime, misturados a uns poucos presos comuns (que são seres humanos e têm direitos básicos) e aí, em rede de tevê, contando com a cumplicidade da mídia domesticada – caso GLOBO no Brasil, RECORD, BAND, Folha de São Paulo, Veja, etc –, vende a idéia cristã e democrática que de fato preside Honduras e manda alguma coisa. Pode até mandar, mas depois de consultar o comandante da base norte-americana no país.

É mais ou menos como aqueles sargentos vendidos em massa pelos filmes patrióticos de Hollywood. Ironizados num anúncio de determinada marca de canos. Quem entra por esse tipo de cano são presos políticos. A avenida da “democracia” é pavimentada sobre corpos de adversários políticos e abençoada pelo crucifixo que criminosamente Pepe Lobo coloca ao alto do fundo que se presta ao seu discurso de “líder” cristão e democrático.

O governo de ultra-direita do Chile foi chamado a fornecer peritos para identificar os corpos carbonizados. O relatório final já está pronto, os “especialistas” vão apenas sacramentar a explicação do governo para a chacina.

Líderes católicos, entidades de direitos humanos denunciam a farsa e o crime hediondo. A mídia tradicional silencia.

O julgamento de Lindemberg Alves, um criminoso comum, vira manchete prioritária em todo o Brasil, na ânsia de alimentar a alienação dos “zumbis” conduzidos ao estilo Big Brother.

A prisão de um estudante em flagrante violação à lei num presídio de segurança máxima foi tão somente a costumeira tentativa de intimidar, coagir e assim buscar que os protestos contra o fantoche que imagina governar alguma coisa (Paulo Hartung governa o extinto Espírito Santo hoje um condomínio de máfias chamadas empresas), não aconteçam, os desmandos sejam acatados.

Notícias desse tipo de fato só fora da mídia de mercado. O silêncio é absoluto sobre assuntos assim. Tanto na mídia nacional, quando na estadual. São braços das quadrilhas.

Isso equivale a tratar o cidadão como objeto de segunda categoria na mentira de cada dia em redes de tevê, jornais e revistas.

Se listados os abusos – e são muitos os relatórios que condenam o Brasil por procedimentos abusivos de autoridades e polícia militar principalmente – contra direitos humanos, a quantidade de papel a ser gasta será absurda.

Pior que isso é o incitamento direto e indireto, via mídia, que direitos humanos são eufemismo para proteger criminosos. Abre espaços para barbáries em Honduras, no extinto Espírito Santo, em Guantánamo – campo de concentração montado pelos EUA em território ocupado de Cuba – e assim por diante. Mas vira “bandeira” quando um robô/jornalista defende assassinatos seletivos.

A afirmação feita pela presidente do Brasil, Dilma Roussef que “direitos humanos não podem ser uma arma ideológica”, a despeito dos rumos do governo, é precisa, correta.
Chegou-se a um ponto que o robô/jornalista – Caio Blinder – defende publicamente numa rede de tevê via satélite a validade e a necessidade dos assassinatos seletivos praticados por serviços secretos norte-americanos e israelenses, como forma de defender a “democracia”, a “paz”. E é secundado por um foragido da justi
ça brasileira o jornalista Diogo Mainardi. Não há espanto e nem indignação por um disparate desses.

A dose de anestesia aplicada pela mídia paralisa o que William Bonner chamou de “Homer Simpson, o público/vítima desse tipo de informação.

É o grande desafio das forças populares. Acordar, despertar desse estado as pessoas que a cada dia mais marcham como “zumbis” numa ordem desordenada que mantém intactos privilégios e leva o ser humano a uma condição de objeto/abjeto.

Os ataques do governo sírio contra rebeldes e mercenários financiados pelos norte-americanos vão ser sempre violação dos direitos humanos e o são numa boa medida (pelo caráter ditatorial do governo). A destruição da Líbia em nome de interesses de empresas e bancos do cartel ISRAEL/EUA TERRORISMO S/A foram divulgados como “missão libertadora”. A desordem na Líbia após a “ajuda humanitária” da OTAN (braço do terror capitalista) é de tal dimensão que as tribos brigam entre si e forças remanescentes do governo de Kadafi começam a ganhar espaço.

Na Grécia, um levante popular, protestos e luta contra pacotes impostos por bancos e grandes corporações, que sugam mais ainda os trabalhadores são vistos como manifestações de inconformismo diante do “estupro inevitável”. A necessidade de salvar a Comunidade Européia. O que é isso a não ser um arranjo das classes dominantes?

Cada vez mais, em países considerados “democráticos”, o poder popular é menor. Limita-se ao voto na presunção que isso é o bastante e ato contínuo os governantes entram na imensa bolha do capitalismo e só retornam ao mundo dos “zumbis” quando for novamente a hora de votar.

Não há quem seja “zumbi” por vontade própria, pelo menos nessa condição. Mas há um claro processo de formação de legiões de “zumbis” dóceis, servis à ordem dominante e em caso de reação a borduna. Seja em Honduras, no extinto Espírito Santo, no Egito, em qualquer canto do mundo onde prevaleça a informação que defende “assassinatos seletivos” pela “paz” e pela “democracia”.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Ministro russo explica veto à Resolução sobre Síria

5/2/2012, Grigory Sysoyev, em Ria Novosti - FM Lavrov Explains Russia’s Veto on Syria Resolution in UN - Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu - rede castorphoto


O Ministro das Relações Exteriores da Russia, Sergei Lavrov, enviou na sexta-feira (3/2/12) alterações ao projeto de resolução apresentado pelo Marrocos à Secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton e ao Embaixador da Rússia na ONU, Vitaly Churkin e conhecimento de todos os membros do CS ONU.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia Sergei Lavrov explicou, ontem, por que a Rússia vetou uma resolução sobre a Síria no Conselho de Segurança da ONU: nos termos em que estava redigida, a resolução seria unilateral e prejudicaria a Síria, se adotada.

O veto dos embaixadores de Rússia e China impediu que fosse aprovado o projeto de resolução encaminhado pelo Marrocos que exigia a imediata renúncia do presidente Bashar al-Assad. 13 dos 15 membros do Conselho de Segurança aprovaram o projeto apoiado pela Liga Árabe e pelo ocidente. (...)

As autoridades sírias têm atribuído a violência no país à ação de gangues armadas ligadas a al-Qaeda e informam que mais de 2.000 soldados e policiais já foram mortos.

Manifestação de apoio a Assad

Lavrov disse que, na 6ª-feira enviou à secretária de Estado dos EUA Hillary Clinton e ao embaixador russo na ONU, Vitaly Churkin, as emendas propostas pela Rússia ao texto do projeto a ser votado.

Quem desse atenção àquelas emendas facilmente perceberia a racionalidade e a objetividade de nossa posição” – disse Lavrov.

Vários países ocidentais dedicaram-se a tentar persuadir Moscou a apoiar uma resolução que, de fato, autorizaria uma ação militar na Síria, mas a Rússia respondeu repetidas vezes que o furor com que o ocidente está tentando legitimar aquela ação militar na Síria obriga a temer que esteja em preparação a repetição de um “cenário líbio”.

Na Líbia, forças rebeldes derrubaram e assassinaram Muammar Gaddafi em outubro de 2011, depois de meses de combates, para cujo desfecho as forças da OTAN tiveram influência decisiva.

Embora os termos do projeto que estava sendo votado tenham sido suavizados, aparentemente para superar a oposição dos russos, o ministro das Relações Exteriores da Rússia disse que, apesar das modificações, o projeto patrocinado pelo ocidente e pela Liga Árabe continuava a ser decisão “unilateral”.

Para o ministro russo, os grupos que estão provocando a violência na Síria teriam de ser conhecidos e examinados adequadamente – o que o Conselho de Segurança não fez em momento algum. Disse que o projeto agora vetado não impõe qualquer restrição à ação de grupos armados da oposição, e que a Rússia teme que, aprovada nos termos atuais, a resolução tornará impossível qualquer diálogo político nacional na Síria.

Além do mais, disse Lavrov, o projeto vetado incluía a exigência de que as forças regulares do estado sírio se retirassem imediatamente de cidades e vilas.

Essa exigência, se não estiver acompanhada da exigência de que os grupos armados extremistas entreguem as armas, é absolutamente provocativa. Nenhum presidente que não esteja absolutamente derrotado e que se respeite jamais aceitará essa exigência, por mais ameaçado que esteja. E nada, em nenhum caso, justifica render-se e entregar o país a extremistas armados”, disse Lavrov.

A embaixadora dos EUA na ONU Susan Rice disse no sábado que “há meses esse Conselho está refém de dois membros. Esses membros escondem-se atrás de argumentos ocos e de interesses particulares, ao mesmo tempo em que rejeitam qualquer redação que pressione Assad a deixar o governo”.


[A embaixadora dos EUA aparentemente esquece as mais de 50 vezes em que o mesmo Conselho esteve refém de um único membro, exatamente os EUA, que vetaram, contra a maioria dos demais membros,todos os projetos de resolução que visavam a garantir direitos para os palestinos, contra os interesses de Israel (NTs)]


(...) A Rússia e a China já haviam vetado outro projeto de resolução, em outubro de 2011, que continha ameaças de sanções contra a Síria. Lavrov disse também que outro problema do projeto agora vetado é a cláusula que exige que Assad deixe o governo.

A Rússia, dos principais apoiadores de Assad durante o levante contra seu regime, já dissera, no início da semana, que vetaria qualquer projeto de resolução que exigisse a renúncia de Assad e ameaçasse com “outras medidas” caso ele não concordasse. Moscou apresentou um texto alternativo de resolução, que os EUA criticaram por lhes parecer muito suave.

Já dissemos várias vezes que não estamos protegendo Assad. Estamos protegendo a lei internacional. O Conselho de Segurança da ONU não tem competência para intervir em questões internas dos estados”, disse Lavrov.

Lavrov disse também que sábado (4/2), ele e o chefe dos Serviço de Inteligência Exterior da Rússia, Mikhail Fradkov, estarão na Síria, para encontro com o presidente al-Assad agendado para a 3ª-feira, cumprindo instruções do presidente Dmitry Medvedev.

Churkin, embaixador russo na ONU, disse, depois da votação no Conselho de Segurança: “O projeto de resolução que vetamos não reflete satisfatoriamente a realidade em campo na Síria, e enviaria sinais conflitantes às forças políticas na Síria.”

Perguntado por que a Rússia concordou inicialmente e, adiante, mudou seu voto, Churkin disse que a situação mudou ao longo do último mês, depois que a Liga Árabe expôs seus planos para a Síria [1]. Os chefes das delegações russa e chinesa disseram que os países esperam que a comunidade internacional continue a trabalhar para pôr fim à violência na Síria. O governo da Síria nega qualquer envolvimento nos confrontos violentos em Homs nos últimos dias.

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Nota dos tradutores
[1] Sobre os planos da Liga Árabe para a Síria, ver 3/2/2012, Pepe Escobar, “Vazou! A agenda da Liga Árabe para a Síria”.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Primavera Árabe só deu outra cor à censura

31/1/2012 - por Simba Shani Kamaria Russeau, da Inter Press Service - postado em Envolverde - Jornalismo & Sustentabilidade


Cairo, Egito, 31/1/2012 – Os esforços dos regimes do Oriente Médio e do norte da África, para impedir o fluxo de informação durante as revoltas populares do ano passado, deixaram uma grande quantidade de jornalistas mortos, feridos ou detidos. Hoje, a censura continua. “No começo da Primavera Árabe, o controle de informação foi uma prioridade para as autoridades”, contou à IPS (Inter Press Service) a pesquisadora para o Oriente Médio e a África do Norte da organização Repórteres Sem Fronteiras, Soazig Dollet. “Os governos tratam de censurar a cobertura da repressão lançada pelas forças de segurança contra os protestos, impedindo o acesso à internet e bloqueando os telefones celulares, bem como atacando jornalistas locais e internacionais”, denunciou.

O levante popular na Tunísia, em janeiro de 2011, que levou à queda do presidente Zine al-Abidine Ben Ali, deu origem a uma onda de protestos que rapidamente se propagou pelo resto do mundo árabe. No dia 25 daquele mês, foi a vez do Egito, quando manifestantes começaram a reclamar o fim do regime de 30 anos do presidente Hosni Mubarak. Após o êxito de Egito e Tunísia, outros países como Bahrein, Marrocos, Líbia, Iêmen e Síria lançaram suas próprias revoltas.

A imprensa teve um papel fundamental informando sobre as manifestações e a consequente repressão, mas os profissionais correram sérios riscos quando as autoridades trataram de bloquear a propagação de notícias. Um informe da Repórteres Sem Fronteiras diz que pelo menos 20 jornalistas foram mortos e 553 agredidos ou ameaçados na Primavera Árabe, o que fez do Oriente Médio e do norte da África uma das regiões mais perigosas para os trabalhadores da imprensa.
Os regimes dos países onde houve levantes populares tentaram, no começo, censurar a informação”, apontou Ayman Mhanna, diretor-executivo da Fundação Samir Kassir. “Começaram bloqueando o acesso a redes sociais como Facebook e Twitter, mas depois se deram conta de que podiam abrir esses sites para controlar quem escrevia e o que escreviam. Depois restringiram o acesso a jornalistas estrangeiros e independentes, a menos que estivessem totalmente sob seu controle”, disse Mhanna à IPS.

A situação melhorou um pouco, salvo na Síria e no Bahrein. No primeiro país, os jornalistas estrangeiros só entram furtivamente, a menos que aceitem trabalhar sob controle das autoridades, que, por outro lado, não garantem sua segurança. A morte de Gilles Jacquier (no dia 11) é um exemplo disso”, afirmou Mhanna. “No Bahrein, a situação é muito difícil. Os países do Conselho de Cooperação do Golfo têm interesses em bloquear a revolução nesse país. Todos os meios de comunicação opositores estão censurados, e os que são afinados com o regime distorcem totalmente a informação”, ressaltou.

Defensores dos direitos humanos consideram o Oriente Médio e o norte da África uma das regiões com maior censura pela abundância de controles, leis, normas, hostilidades, detenções e restrições físicas. Disposições legais de todo tipo são usadas para deter jornalistas, acusando-os de prejudicar a reputação do Estado, freando, assim, denúncias de corrupção contra funcionários públicos. As autoridades do Bahrein utilizaram a Lei de Imprensa de 2002 para censurar. O Código Penal da Síria criminaliza a propagação de notícias no estrangeiro. Além disso, Egito e Síria têm leis de emergência que permitem perseguir e deter sem o devido processo jornalistas, trabalhadores de imprensa em geral e ativistas políticos.

Durante o regime de Mubarak houve muitas formas de censura, como pressão sobre os editores, proibições de impressão de determinados números em particular, confisco de edições diárias, hostilidades contra jornalistas e apreensão de seus pertences”, contou Ramy Raoof, diretor de mídia na internet para a Iniciativa Egípcia de Direitos Pessoais. “Estas coisas continuam ocorrendo, mas com diferentes funcionários. No lugar do pessoal do Ministério do Interior, entra o do sistema militar. Por exemplo, no dia 22 de fevereiro de 2011, uma carta da Marinha enviada aos jornais egípcios dizia, de modo resumido, que não publicassem nada sobre o exército”, afirmou Raoof à IPS.

Os códigos de imprensa da maioria dos países árabes pretendem respeitar a liberdade de imprensa, mas na realidade deixam amplos espaços para serem violados pelos regimes da vez. Alguns de seus artigos, como ‘desmoralizar a nação’, são usados muito nos últimos tempos na Síria. Acusar ativistas de traição ou de cooperar com inimigos estrangeiros é outra acusação à qual se recorre frequentemente”, esclareceu Mhanna.

No entanto, um ano depois do começo da Primavera Árabe, quando vários países lutam para construir um futuro democrático e em outros continuam ocorrendo manifestações reclamando democracia, ainda é difícil para os jornalistas fazerem seu trabalho.

Agora “os jornalistas podem expressar suas opiniões com maior liberdade porque quebraram a barreira do medo. Porém, continua sendo perigoso expressar sua opinião onde as revoluções conseguiram derrubar o regime ou onde cresce o peso de grupos religiosos extremistas”, alertou Mhanna. “De certa forma, mudou a natureza da censura. Agora, são perigosas as consequências do que escreve ou diz um jornalista”, acrescentou.

Envolverde/IPS

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Jakobskind lança livro sobre a Líbia



Líbia: Barrados na fronteira, de autoria do jornalista Mário Augusto Jakobskind, será lançado no próximo dia 11 de novembro, sexta-feira, a partir das 18h30 na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Rua Araújo Porto Alegre, 71, 7º andar. Antes da noite de autógrafos, haverá debate sobre o papel da mídia e o que ocorreu na Líbia nos últimos meses de conflitos. Está confirmada a presença do deputado federal Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), um dos integrantes da frustrada viagem da delegação brasileira, que tinha como objetivo preparar um relatório para a ONU sobre a invasão daquele país pelas forças da OTAN. O livro é mais uma edição da BOOKLINK (www.booklink.com.br), e conta com o apoio da ABI.

Além de analisar os acontecimentos naquele país do Norte da África, o autor mostra como os meios de comunicação manipularam fatos com a edição de imagens e textos que tiveram o objetivo de convencer a opinião pública sobre a “missão humanitária” exercida pelos bombardeios da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), fator determinante para a definição de um dos lados da disputa entre adeptos e opositores do regime líbio, capitaneado por Muammar Kadhafi.

O presidente da ABI, Maurício Azêdo, no texto de apresentação, assim se refere sobre o lançamento: “Com extremado senso de oportunidade jornalística, já demonstrado em outros trabalhos publicados pela mesma editora, Mário Augusto Jakobskind nos oferece neste seu mais novo livro não apenas o relato episódico de relevante acontecimento histórico, mas um amplo e circunstanciado painel da tragédia que se abateu sobre a Líbia e seu povo após a união de poderosas forças do Ocidente – Estados Unidos, Grã-Bretanha e França – para a derrubada de um dirigente nacional, Muammar Kadhafi, que durante mais de quatro décadas foi protagonista de destacados momentos da vida internacional.”

O autor, experiente repórter, com passagens por diversas redações, também fez parte da delegação brasileira à Líbia, que ficou barrada na fronteira da Tunísia e a Líbia. E atualmente é conselheiro da ABI e o representante da entidade junto à EBC (Empresa Brasileira de Comunicação). Dois dos seus livros também foram publicados com o selo da BOOKLINK: Parla! e Cuba: Apesar do bloqueio.  



domingo, 18 de setembro de 2011

"A AJUDA HUMANITÁRIA CRISTÃ, DEMOCRÁTICA E OCIDENTAL"



Laerte Braga


Em 26 de dezembro de 2004 um tsunami de grandes proporções varreu o litoral e boa parte do interior da Somália. Milhares de pessoas morreram, perderam suas casas, plantações foram devastadas, a fome, que já era uma realidade brutal no país, assumiu caráter tétrico.

Uma das conseqüências do tsunami não estava prevista. Ao revolver o fundo do oceano milhares de tambores de lixo atômico, hospitar e tóxico de várias naturezas vieram a tona. Foram depositados ali por britânicos, norte-americanos, franceses, entre outros.

A democracia cristã e ocidental havia escolhido o litoral próximo à Somália para despejar seus dejetos industriais, nucleares, etc.

Nasceram no tsunami os chamados piratas somalis. Passaram a ser constantes os seqüestros de petroleiros, iates de luxo, cargueiros, em troca de resgate.

O jornal norte-americano THE NEW YORK TIMES, na semana passada, em matéria do repórter Jeffrey Gettleman, faz um breve histórico das condições atuais da Somália e afirma que nos próximos meses podem morrer 750 mil pessoas de fome. Mesmo a chegada da estação das chuvas e possibilidade de plantar não vai permitir a essas pessoas sobreviver. Não há tempo.

As forças da OTAN – ORGANIZAÇÃO DO TRATADO ATLÂNTICO NORTE – braço do complexo terrorista ISRAEL/EUA/TERRORISMO S/A, destruíram um aqueduto de três quilômetros e meio e cinco metros de diâmetro, que levava água a toda a população líbia. Foi construído pelo governo do coronel Muamar Gadaffi. A falta d’água atinge Trípoli, capital do país devastado por bombardeios aéreos no afã de conquistar o petróleo líbio. A UNICEF está advertindo o mundo por conta dessa catástrofe e tentando comprar água para suprir a deficiência – não existia antes da “ajuda humanitária” – evitando doenças, mortes, todas essas conseqüências das “libertações” promovidas por norte-americanos, suas colônias européias sob a batuta sionista que controla o complexo.

Não há a menor disposição de ajuda humanitária – sem aspas – à Somália.

O país vive um caos político, econômico e social e não tem a qualquer perspectiva de sair da crise a curto e médio prazos.

O ex-presidente George Bush (o pai), assim que terminou a primeira guerra do Iraque anunciou que o Kwait precisava criar estruturas democráticas para evitar situações como a que viveu com a invasão iraquiana, apoiada por boa parte de sua população. Bush do alto de sua criminosa política de destruição reclamou da falta de democracia nos países árabes e “exigiu” que medidas fossem tomadas nessa direção. Hipocrisia pura.

À época o general Hosny Mubarack era o presidente/ditador do Egito e aliado norte-americano. O rei da Jordânia governava e governa o país com mãos de ferro e é aliado dos norte-americanos e submisso a Israel. Como Mubarack também. A Arábia Saudita é a principal base do complexo terrorista no Oriente Médio e é governada com mão de ferro por uma família real que se sustenta no luxo e no esplendor proporcionados pelo petróleo entregue a companhias estrangeiras.

Os egípcios derrubaram a ditadura de Mubarak, mas permanecem os militares no governo sem nenhuma direção democrática. Continuam batendo continência para Washington e Tel Aviv e temem que uma eleição livre possa levar ao poder um governo que vá romper os acordos com Israel (que humilham o país) e resistir ao avanço nazi/sionista.

As ditaduras leais aos EUA e submissas a Israel permanecem intocadas. A Líbia foi arrasada pela OTAN. Líderes tribais foram armados para simular uma reação e forças estrangeiras transformaram a infra estrutura do país em pó. O petróleo é o alvo e os caminhos de Gadaffi não interessavam ao Ocidente cristão e democrático, sob o tacão nazi/sionista.

Há uma característica na ação do complexo ISRAEL/EUA TERRORISMO S/A. Como controlam boa parte – a imensa maioria – da mídia privada em todo o mundo, revestem a boçalidade e a crueldade que é parte de sua genética imperialista do cinismo e da hipocrisia de “mundo livre”.

Você pode comprar um tênis ADIDAS a preço de banana. É produzido por trabalhadores escravos na China.

Os 750 mil somalis que vão morrer de fome nos próximos meses não têm idéia disso. São assolados por milícias, por grupos mercenários (alguns ligados a BLACK WATER, empresa terceirizada da força armada dos EUA) e por políticos corruptos.

Os palestinos de Gaza, mantidos sob um cerco estúpido por Israel e submetidos a crime de genocídio pelo “povo eleito”, não podem também receber ajuda humanitária. Os sionistas seqüestram, saqueiam, colocam no setor de secos e molhados e transformam em lucro. 

Cólera, febre tifóide e sarampo são algumas das doenças que vão matar milhares de somalis. Repete, como mostra a reportagem do THE NEW YORK TIMES a tragédia acontecida nos anos 90.

O mundo cristão, ocidental e democrático, sob a tutela do complexo ISRAEL/EUA TERRORISMO S/A está, literalmente, se lixando para os somalis. Os norte-americanos alegam que tentaram ajudar e não conseguiram. Claro. Um exército de mercenários foi formado à época para saquear o país, estuprar mulheres somalis e tentar implantar um governo fiel a Washington. Como não era compensador do ponto de vista econômico largaram para lá.

É a face democrática, cristã e sionista (uma estranha mistura, mas negócios são negócios) do capitalismo.

Pensando bem, o que são 750 mil somalis comparados com os barris de petróleo da Líbia? Para o complexo terrorista que dispõe de armas capazes de destruir o planeta cem vezes, não representam nada. Ou por outra, custos.

É a lógica perversa do capitalismo.

Jeffrey Gettleman, o jornalista que revelou a situação atual da Somália afirma em seu trabalho a não preocupação do mundo livre, cristão, ocidental e democrático com o problema. As tentativas da ONU esbarram tanto nas dificuldades dentro da própria Somália, como no desinteresse dos países ocidentais.  Afirma categoricamente que “a situação não deve mudar”.

A visão do complexo terrorista é que somalis são piratas e a Somália é uma espécie – como outros países – de depósito do lixo do terror capitalista.

Na terça-feira a presidente do Brasil Dilma Roussef vai abrir mais uma Assembléia Geral das Nações Unidas. Será a primeira mulher a fazê-lo, já que cabe ao Brasil o primeiro pronunciamento de chefe de Governo e Estado. Em seguida fala o terrorista Barack Obama – às voltas com demagogia eleitoral –.

Será a grande oportunidade da presidente do Brasil afirmar seu repúdio a “ações humanitárias”, defender sem meias palavras o Estado Palestino e mostrar que o Brasil não está disposto a ser, no futuro (há todo um processo em curso para isso desde a entrega de parte do País no governo FHC), outro depósito do lixo capitalista.

Romper as amarras com esse mundo hipócrita e perverso e dizer um sonoro não à Comunidade Européia no que diz respeito a empréstimos.

Não se cogita de emprestar dinheiro para salvar empregos, para dar aos europeus melhores condições de saúde (gregos, portugueses, espanhóis, etc). Mas apenas de salvar bancos.

E bancos devem ser enterrados e não salvos.

Metade do dinheiro gasto pela OTAN para destruir a Líbia resolveria o problema da fome dos somalis. E dizem que Obama é negro. Sarah Palin, uma de suas prováveis adversárias, ex-governadora do Alasca, acredita inclusive que o presidente seja um muçulmano disfarçado com a tarefa de destruir a sociedade norte-americana.

Nos EUA, esse negócio de matar os pais e ir ao cinema, ou dar uma festa, é corriqueiro. Faz parte da cultura terrorista implantada pelo medo em cada cidadão do país.

Tem todo dia. Como todo dia tem a declaração oficial da Casa Branca. “Foi um ato covarde e que nos faz pensar sobre se nossa sociedade não está doente”.

É questão de tempo de verbo. É doente. E ainda mais agora sob controle nazi/sionista.  


sexta-feira, 22 de abril de 2011

O novo colonialismo

(Chico Villela)*

Reino Unido, França e Itália comandam a chacina na Líbia e a destruição das bases da vida civil: instalações militares, de comunicação, obras civis usadas por Gaddafi. Encerrada a fase de “limpeza”, passarão à fase da “ocupação”. Após o primeiro-ministro do Reino Unido anunciar o envio de “conselheiros militares” à Líbia, em clara violação do disposto na Resolução 1973 do CS da ONU, os primeiros-ministros de França e Itália também anunciaram o envio dos seus “conselheiros”. No Vietnã começou exatamente assim, com a deposição de “conselheiros” estadunidenses. A reviravolta francesa e italiana ocorreu apenas um dia após o primeiro-ministro francês e o comandante-em-chefe militar italiano terem declarado à mídia grande que seus países não iriam depor tropas na Líbia de forma alguma.

É uma das desmoralizações mais rápidas da história. Um dia antes, o primeiro-ministro francês Alan Juppé era enfático: “Eu permaneço absolutamente contrário à deposição de tropas em solo líbio”. Compreende-se: governo nenhum quer deixar os outros à vontade, já que se prevê a derrota final de Gaddafi e um “novo governo” sediado em Benghasi simpático às corporações que irão dividir os recursos do país. Não se pode chegar atrasado ao banquete; a distribuição dos pratos é rápida, palavra com a mesma raiz de rapina.

Para a Itália, é uma volta ao velho domínio. No início do século XX a Itália invadiu as regiões líbias de Cirenaica e Tripolitânia, então em mãos do império otomano, com alegações de “missão civilizatória”. Desta vez, a desculpa oficial geral é “missão humanitária”. De lá até o fim da Segunda Guerra, metade da população líbia foi morta em combate contra o invasor, em campos de concentração ou de fome, e boa parte exilou-se. A população líbia foi a primeira da história a ser bombardeada por aviões, que pouco distinguiam entre alvos inimigos e civis; até mesmo caravanas eram trucidadas e plantações eram arrasadas.

A França ocupou a Argélia, vizinha da Líbia, de 1830 até 1962. A ocupação da Argélia, cujas populações reagiram com vigor até a independência, foi particularmente assassina. O editor do jornal Alger Républicain, Henri Alleg, deixou aos pósteros um livro devastador, “A Tortura”, em que descreve sua vida nas masmorras francesas.
A ação militar francesa na colônia argelina é hoje classificada como “genocida”: são estimados 1.5 milhão de mortos argelinos durante as batalhas contra a ocupação. As técnicas de tortura desenvolvidas pelos franceses membros de extrema-direita da Organização do Exército Secreto (OAS) foram depois repassadas aos estadunidenses, que as aperfeiçoaram ao ponto de atingir a “exatidão científica” da qual são vítimas os presos de Guantánamo.

A França do saltitante Sarkozy aderiu de vez às políticas imperiais de conquista e rapina. A crise humanitária na Costa do Marfim foi largamente agravada com a interferências de tropas francesas que ajudaram Quattara a retirar do poder o ex-presidente Gbagbo. Quattara, que alega ter vencido as eleições, é ex-diretor do FMI e bastante próximo da França e do próprio Sarkozy. Vem promovendo campanha de limpeza dos inimigos: o ex-ministro do Interior Dsir Tagro foi surrado até a morte por tropas de Quattara
.
A França também volta a uma antiga colônia, como a Itália. As razões falsas alegadas são as mesmas, como sempre: “ajuda humanitária” e “manutenção da democracia”. Não há médicos disponíveis, centenas de milhares fugiram sem seus pertences, moradores da região sul do país, que em parte apoiou Gbagbo, são perseguidos e mortos pelas tropas de Quattara. A pretexto de “ajuda humanitária”, a França interveio numa questão interna do país e agravou enormemente a questão social.

O Alto Comissariado para Refugiados da ONU relata que na cidade de Duékoué 27 mil pessoas buscaram refúgio na missão católica. O diretor padre Vicente Grupelli esclarece: “Não há comida, o povo dorme no chão, não há para onde ir, não há banheiros ou torneiras e não temos água de beber”. Além disso, surgiram alguns casos de morte por malária. A Organização Internacional para Migração, ligada à igreja católica, estima 800 mil refugiados no país apenas no oeste do país. Há muitos casos de diarréia e cólera.
Um vasto campo para a ação humanitária das tropas de Sarkozy, desde que deixem a cidade e o porto de Abidjan, maior cidade e centro de negócios do país, e passem a realizar sua “missão humanitária”. Quattara ordenou a abertura do porto, controlado pelos franceses, e retomaram-se as exportações: cacau (maior produtor mundial), café, produtos agrícolas e minerais, etc. O perfil perfeito da colônia: exportação de matérias-primas e importação de tudo da matriz.

O império inglês orgulhava-se de o Sol jamais se pôr nos territórios do império. No norte da África, o Reino Unido ocupou, entre outros, o Egito, outro vizinho da Líbia, durante 70 anos, desde 1916. Em todos os casos, a mesma coorte de horrores, saques, assassinatos. Com a criação do Africom, comando militar do Pentágono dedicado à África, nunca foram tão claros os sinais do renascimento do colonialismo no continente.

O mundo, ainda de braços cruzados, e a Líbia assistem à volta dos velhos colonialistas e, a partir de agora, passam a contar os mortos.

Fonte:  Blog NovaE por Chico Villela