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segunda-feira, 6 de junho de 2011

Lições da lamentável repressão aos bombeiros

Por Mário Augusto Jakobskind


O Governador Sérgio Cabral deu o ar de sua graça política ao ordenar a violenta repressão contra os bombeiros que ganham salários aviltantes. São heróis e foram tratados de forma humilhante. Não satisfeito, Cabral ainda os ofendeu. Se alguém tinha dúvidas sobre Cabral, o episódio no Quartel General da guarnição esclareceu.
O lamentável nesta história é o fato do governador do Estado do Rio de Janeiro receber o apoio de partidos cujos integrantes em outros tempos se mobilizavam exatamente para denunciar violências do mesmo tipo que as praticadas agora no Rio de Janeiro.
Os bombeiros, considerados heróis pelo povo pelo tipo de trabalho que desenvolvem, foram tratados como marginais. Há testemunhas que comprovam os excessos praticados pelo Bope, uma delas a deputada Janira Rocha, do PSOL, que dignifica o seu mandato ao ficar ao lado dos manifestantes no QG dos bombeiros.
Bombeiros na ALERJCabral faz lembrar épocas do século passado, inclusive de governantes como Washington Luis, que consideravam a questão social como caso de polícia.
O que está acontecendo agora é na prática um divisor de águas. Se a esquerda parlamentar não repudiar o que foi feito pelo Bope e denunciar Cabral, entrará para a história ao lado do conservadorismo que não aceita  mobilizações populares, ainda mais o direito humano de reivindicar melhores salários e condições de vida.
Repressão aos bombeiros, aprovação na Câmara dos Deputados do Código Florestal que favorece os violadores do meio ambiente são demonstrações concretas da existência de uma esquerda que a direita gosta como diria o inesquecível Darcy Ribeiro.
Soma-se a isso o fato de o vice-governador Luiz Fernando Pezão estar sendo agraciado por uma entidade vinculada ao agronegócio, setor recém-favorecido pelo deputado Aldo Rebelo, do PC do B.
Bombeiro e DiginidadePor estas e muitas outras, a cada dia que passa os partidos políticos se distanciam dos anseios de amplas parcelas do povo brasileiro. Afinal de contas, como explicar a prática que adotam de apoio aos que ao longo da história foram combatidos por setores políticos que tinham como bandeiras principais a democracia e o socialismo?
É possível até que nas próximas horas os referidos partidos apresentem seus argumentos e criem as suas dialéticas para continuar com a mesma prática de apoio a quem reprime o povo. E até para justificar a ocupação de cargos na administração fluminense.

Publicado originalmente no Site Rede Democrática

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

As tragédias, a nova mídia e a incompetência governamental

Será que empresários que pedem a cabeça de técnicos e fiscais de órgãos ambientais não tem nada a ver com essas tragédias? Será que deputados que, pressionados pelo poder econômico, retiram projetos de zoneamentos ecológicos não tem nada a ver com essas tragédia? Será que um Judiciário que não pune corruptores não tem nada a ver com essas tragédias? Será que a grande mídia que doura a pilula desses corruptores, culpando sempre o governo e ganhando mais dinheiro com audiência, além de verbas desviadas das obras de contenção de encostas, não tem nada ver com essas tragédias? Normalmente o Poder Executivo é mais pressionado. É mais fácil... deputado ou juiz custa mais. Isto não quer dizer que o executivo não tenha culpa...

Toda a população atingida deveria seguir o exemplo do atual presidente do Supremo Tribunal Federal, Cesar Peluso, que acionou e ganhou, em primeira instância, uma ação contra a prefeitura de São Paulo porque seu automóvel foi atingido pela enchente, depois de uma forte chuva. Esse fato ocorreu há muitos anos. Mas a lei deve ser para todos... aqui no Rio de Janeiro todas as autoridades, inclusive as empresariais podem ser acionadas por omissão, conforme a Lei de Crimes Ambientais.

O governador Sergio Cabral está no segundo mandato. Além disso foi o principal fiador dos governos Garotinho e Rosinha, no Legislativo. Carlos Minc, secretário estadual de Meio Ambiente, está no poder há mais ou menos 20 anos. Antes no Legislativo e agora no Executivo. O vice-prefeito e secretário de Meio ambiente do município do Rio de Janeiro, Carlos Alberto Muniz, está na área ambiental há mais ou menos 30 anos. Foi presidente da antiga FEEMA - outrora principal órgão ambiental do Estado, hoje integrada ao INEA (Instituto Estadual do Ambiente), consultor para várias empresas e assessor do presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani. Presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) há dez anos, o engenheiro ambiental Fernando Almeida foi antes presidente da FEEMA, é consultor empresarial e o maior lobista ambiental do Rio de Janeiro.

Cabe lembrar que, além da Lei de Crimes Ambientais, o Código Civil também prevê punições, conforme fundamentou o hoje presidente da Suprema Corte, Cesar Peluso, quando ganhou acão contra a prefeitura de São Paulo. (Zilda Ferreira, editora política do EDUCOM)


As tragédias, a nova mídia e a incompetência governamental
Luiz Carlos Azenha, do Vi O Mundo

Descobri na internet que houve, em 1967, uma tragédia tão grave quanto a que afeta a região serrana do Rio de Janeiro.

Foi na serra das Araras, no Rio de Janeiro (foto, de arquivo), mas atingiu também Caraguatatuba, no litoral paulista.

Os detalhes dependem das pessoas que testemunharam, já que aparentemente não há estatísticas confiáveis. Houve muita chuva e desmoronamentos. O número de mortos é estimado, já que muitos nem mesmo foram resgatados.

O fato é que quarenta anos se passaram. Os governos brasileiros pouco aprenderam sobre prevenção desde então.

Qual a grande diferença entre as duas tragédias?

De cara, o fato de que vivemos numa sociedade altamente midiatizada. Com as câmeras dos telefones celulares, todo desabrigado é um repórter em potencial. As imagens se disseminam com uma rapidez impressionante. As chances de um evento catastrófico — ou pelo menos de uma imagem simbólica dele — ser capturado em foto ou vídeo são altíssimas. No caso da tragédia do Rio, é a imagem da senhora sendo resgatada com o cãozinho.

Logo as pessoas passam a tratar os personagens da tragédia como se fossem parte de suas próprias famílias: em algumas horas sabe-se quase tudo a respeito deles.

Ou seja, experimentamos as tragédias de hoje em dia como se estivéssemos lá, não apenas pela profusão de sons, imagens e depoimentos, mas pela expressão de sentimentos que nos aproximam das vítimas.

Hoje as pessoas trocam informações nas redes sociais em um ritmo alucinante. As demandas são feitas velozmente, mas a reação do aparato público é lenta.

É bobagem aquela história, que já li aqui ou ali, que diz que “se os repórteres conseguiram chegar rápido, como é que o estado demorou?” Tolice. O estado precisa chegar com máquinas, com comida, com vacinas, precisa desimpedir estradas, limpar ruas e procurar os soterrados. O repórter precisa de uma câmera, quando precisa.

O fato é que temos uma vaga lembrança da tragédia de 1967, mas vivemos a de 2011.

Nos Estados Unidos, George W. Bush foi “atropelado” politicamente pelo furacão Katrina, em Nova Orleans, justamente por não ter se dado conta dessa diferença de velocidade.

Os estadunidenses dispõem de um serviço meteorológico sofisticado. Os Estados Unidos tem defesa civil. Os Estados Unidos tem bombeiros treinados e equipados, especialmente depois do 11 de setembro. Os Estados Unidos tem uma infraestrutura muito melhor que a brasileira. Mas Washington demorou um ano-luz (24, 48 horas?) para se engajar de fato em Nova Orleans.

Além de revelar de forma dramática a miséria americana, o Katrina também revelou o descompasso entre a urgência dos que se afogavam e a lentidão governamental.

O despreparo demonstrado pelas autoridades brasileiras no Rio de Janeiro não é propriamente uma novidade. Os transbordamentos do rio Tietê, em São Paulo, já foram incorporados ao dia-a-dia dos cidadãos. É só perguntar a qualquer taxista de São Paulo: quando chove, eles correm para casa.

A velocidade na transmissão de informações apenas acentuou a percepção da incompetência. O que é bom, já que o custo político de não agir aumenta (você deve ter notado que não espero solidariedade genuína da parte de nossos eleitos).

A capa da Vejinhapaulistas, presumivelmente), de acordo com a chamada de capa, é a pessoa que coloca o lixo na rua fora de hora. Ou seja, antes de colocar o lixo na rua combine com São Pedro! Ou, como escreveu um internauta, peça autorização ao patrão para voltar para casa e colocar o lixo na rua na hora em que o caminhão de coleta passa…

Sabemos que o PIG pretende afogar Lula e Dilma nas águas do Rio de Janeiro, ao mesmo tempo em que faz-de-conta que não entende nada de gerenciamento das represas paulistas, por exemplo. Fica até parecendo que a Sabesp é uma grande patrocinadora!

De qualquer forma, soluções de fato — tanto nas encostas do Rio quanto nas ruas de São Paulo — custam competência técnica e dinheiro, muito dinheiro.

Não dá para cobrar dos governos com a mão esquerda e com a direita levantar um cartaz e pedir estado mínimo (ou apontar para o impostômetro).

Eu cobri os efeitos do trágico terremoto no Chile. O governo chileno levou dias para se organizar e levar ajuda aos atingidos. O governo chileno precisou emprestar telefones via satélite, levados pessoalmente pela secretária de Estado americana Hillary Clinton, para garantir a comunicação do alto escalão. O governo chileno foi alertado pelos Estados Unidos de que haveria maremoto, mas não agiu para alertar a população. Foi um gigantesco fiasco, que passou quase batido por causa do clima de união nacional atrás do qual a presidenta Bachelet se escondeu.

O estado “enxuto” do Chile se estatelou inapelavelmente nas ruas de Concepción.

Enchentes do RJ: a marota forma de ajuda de apresentador global

Nota do EDUCOM: preste atenção no link do pé do post e, caso ainda não a conheça, esteja apresentado à "Lei Luciano Huck"...

A marota forma de ajuda de Luciano Huck
do Luis Nassif On Line*

Sinceramente, não sei o que pensar sobre isso. Peço ajuda.

Luciano Huck é sócio do Peixe Urbano, um site de compras coletivas. Em dezembro último, o apresentador da Globo usou o Twitter para tentar bater o recorde de vendas de cupons no site:

"O apresentador Luciano Huck – agora sócio do site de compras coletivas Peixe Urbano - usou pela primeira vez o Twitter para impulsionar a venda de cupons de desconto – e quase conseguiu o que queria: superar o recorde de vendas do site."

idgnow.uol.com.br/internet/2010/12/08/luciano-huck-ja-usa-o-twitter-para-vender-seu-peixe

No dia 15 de janeiro, Huck postou esta mensagem no Twitter:

"Quer ajudar, e muito, as vítimas da serra carioca [sic]. Via @PeixeUrbano, vc compra um cupom e a doação esta feita. http://pes.ca/gZ2Ibb"

twitter.com/#!/huckluciano/status/26377814122962944

A compra dos cupons, segundo o site, reverterá em benefício de duas ONGs que estão ajudando as vítimas das enchentes. Parece bonito, mas não é.

Primeiro, é necessário ir ao site do negócio de Luciano.

Depois, é preciso se cadastrar no site. E então comprar um ou mais cupons de R$10.

Ganha Luciano porque divulga o seu negócio (mais de 7.000 RTs até agora), cadastra milhares de novos usuários em todo o Brasil, familiariza esses usuários com os procedimentos do site, incentiva o retorno e aumenta absurdamente o número de cupons vendidos – alavancando o Peixe Urbano comercial, financeira e mercadologicamente. Além do ganho de imagem por estar fazendo um serviço público (li vários elogios nos RTs).

Sabe-se lá como será contabilizado ou fiscalizado o total recebido como doação e repassado para as duas organizações parceiras. O usuário não tem nem terá acesso a esses dados internos.

Supondo que todo o montante arrecadado chegue às vítimas, se for mesmo o que estou entendendo, trata-se da mais sórdida exploração da desgraça alheia que já presenciei em toda a minha vida.

As pessoas que estão doando seu dinheiro, seus produtos, seu tempo, suas habilidades e sua atenção aos desabrigados e às vítimas não estão pedindo nada por isso, não estão ganhando nada com seu gesto de solidariedade, não estão usando essa tragédia para obter nenhuma forma de lucro pessoal. Fazem o bem porque são humanas, ficaram chocadas com as imagens e as informações, se sensibilizaram com o sofrimento alheio. Ajudam por solidariedade, empatia e até por desespero.

E a maioria delas não tem quase nada na vida, em comparação com o apresentador da Globo.

De todas as iniciativas já divulgadas até o momento, só a de Luciano Huck visa primeiramente ao lucro pessoal, para depois, secundariamente, resultar numa ajuda social.

Quando um tsunami matou 200 mil pessoas no sudeste da Ásia, em 2004, recebi um e-mail de um escritor inglês pouco conhecido, no qual se fazia a oferta: "Compre um dos meus livros, e eu doarei 30% do valor para as vítimas da tragédia". Saí da lista do explorador barato na hora, mas a favor dele contava o número reduzido de destinatários da mensagem.

Luciano Huck tem 2.600.000 seguidores no Twitter: é este o público-alvo do seu apelo interesseiro. Pode não bater o recorde de cupons, desta vez, mas temo que tenha batido o recorde da safadeza. Aceito argumentos que me provem o equívoco dessa suspeita.

Depois dos R$24 milhões entregues pelo Estado à Fundação Roberto Marinho, dinheiro originalmente destinado à contenção de encostas e às obras de drenagem, mais esta. Turma da Globo, vocês pensam que estão apenas lucrando com as águas, mas na verdade podem estar brincando com fogo.
*reprodução de comentário de leitor do blog

Governador Sergio Cabral favoreceu Luciano Huck em Angra

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Enquanto chove

Laerte Braga, jornalista e analista político
O xerife (ainda existe esse tipo de figura) do Arizona disse a jornalistas que “o estado se tornou a Meca do preconceito e do racismo”. Clarence Dupnik declarou que “os apresentadores de tevê e rádio vão ter que repensar suas atitudes”.

Referia-se a Rush Limbaugh e Glenn Beck, ambos de extrema-direita. Mandam mensagens que são definidas como “iradas” contra adversários políticos, inclusive o dublê de presidente e garçom Barack Obama. No auge das denúncias contra Julian Assange, fundador do WIKILEAKS, chegaram a pedir, junto com outros, que Julian fosse eliminado por algum “patriota”. “Basta um tiro na cabeça”, disse um deles.

É um conglomerado terrorista e o entorno vai ficando cada vez mais doente.

Sarah Palin, a musa da direita, decidiu dar um tempo em suas investidas patrióticas, depois de relacionada ao massacre em Tucson, onde a deputada democrata Gabrielle Giffords foi ferida a tiros e permanece em estado grave. Em estudos posar para uma revista masculina como forma de atenuar o impacto de seus discursos furibundos e irresponsáveis.

Por aqui a extrema-direita, através da OPUS DEI, o governador de São Paulo Geraldo Alckimin prefere usar veículos de uma funerária do cunhado para transportar merenda escolar.

Já nem há mais tanto espanto com o comportamento do primeiro-ministro (extrema-direita) italiano Sílvio Berlusconi. O dito cujo contratou os serviços de uma garota de programa de dezessete anos de idade, hoje com dezoito e se diz muito bem, cheio de vitalidade.

Segundo a moça, Berlusconi é “um solitário”. Karima El Mahroug é marroquina e o primeiro-ministro conseguiu inclusive que fosse solta depois de presa por furto. É conhecida como “Ruby Rubacuori” – Ruby, a ladra de corações. Fatura mais que qualquer sister do BBB e num espaço de tempo bem menor.

Os principais jornais da Itália têm provas – gravações telefônicas – onde Berlusconi é informado pela própria moça que a dita é menor de idade.

Nada deve acontecer, vão continuar achando que “terrorista” é Cesare Battisti.

Anos após a “reconstrução” do Haiti o ex-ditador Jean-Claude Duvalier retorna ao país, é recebido por uma multidão no aeroporto e aparentemente está em segurança. Duvalier não pode ter retornado sem o conhecimento prévio dos EUA. O Brasil tem forças militares no Haiti e nominalmente um general brasileiro comanda o esquema de “reconstrução” e “pacificação”.

É possível que no fundo se ache uma ligação entre isso e a decisão da presidente Dilma Roussef de rever todo o processo de compra de caças para a FAB – FORÇA AÉREA BRASILEIRA –, atendendo a “ponderações” do ministro da Defesa Nelson Jobim e do brigadeiro Juniti Saito, “representantes” da norte-americana BOEING no governo do Brasil.

Dilma teria escrito a senadores dos EUA pedindo garantias de transferência de tecnologia, vale dizer que, pelo menos tudo indica, os franceses (escolha de Lula) dançaram.

Na prática a EMBRAER teria tido condições de desenvolver um projeto de caça com tecnologia nacional, capaz de atender às necessidades da FAB e da segurança do espaço aéreo brasileiro, da soberania nacional, etc, etc, se o governo de Lula e agora o de Dilma tivessem peito para reestatizar a empresa privatizada por FHC, exatamente por ser um excelente negócio para o Brasil e péssimo para os norte-americanos.

A ligação entre esse fato e a volta de Jean Claude? Começam a dizer que lógica não existe, é ficção.

A tragédia que se abateu sobre alguns estados brasileiros por conta de fortes chuvas (Minas, São Paulo e Rio de Janeiro principalmente), causou mais de 630 mortes, deixa desabrigadas milhares de pessoas, destruídas cidades como Teresópolis, Friburgo, Sumidouro e outras, é conseqüência da absoluta falta de política ambiental de governos em todos os níveis (federal, municipal e estadual), incúria de governadores e prefeitos e como disse o pároco de uma dessas cidades em ato religioso celebrado pelas vítimas, “a natureza às vezes busca vingança”.

Milton Temer, ex-deputado, cassado pela ditadura militar, um dos combatentes socialistas de primeira linha, manifesta sua preocupação com o decreto de “estado de calamidade pública” no Rio de Janeiro. Prefeitos que chama adequadamente de “relapsos” passam a ter o direito de usar verbas de emergência ou não, a seu talante, sem licitações, sem qualquer dever de prestação de contas ou debate público.

É hora de criar mecanismos de participação popular para definir critérios, prioridades e exercer o direito de definir e fiscalizar o uso do dinheiro e doações a essas cidades. Do contrário o lucro é de empreiteiras, prefeitos e vereadores (ávidos de leis que favoreçam a “categoria”). Conselhos populares antes que prefeitos joguem dinheiro em vitrines e guardem parte em seus próprios cofres.

E olho vivo no escritório de advocacia da primeira-dama do estado do Rio. Legaliza propriedades em áreas de preservação (como o fez com a casa do apresentador da GLOBO Luciano Huck) e no próprio governador Sérgio Cabral. Doa dinheiro de verbas destinadas a obras de contenção de encostas, saneamento, etc, para a FUNDAÇÃO ROBERTO MARINHO.

Um desses parasitas declarou que uma das primeiras providências para “confortar” as vítimas e seus parentes, os desabrigados, seria providenciar aparelhos de tevê para que todos pudessem “minorar seus sofrimentos” vendo suas novelas preferidas e o Big Brother”.

E olha que condenam apedrejamento no Irã no pressuposto que barbárie é privilégio de radicais islâmicos. A propósito o governo daquele país suspendeu (tudo indica) a pena de morte aplicada a Sakineh.

A mulher do ditador Zine El Abidine Ben

Isso tudo enquanto chove e seres que vivem no entorno desses conglomerados maiores ou menores, tratados como objetos na Idade Média da Tecnologia, vão morrendo, sendo largados à própria sorte, mas...

...Tem políticos e empresários que não dormem com a ameaça de um ex-banqueiro suíço de divulgar os nomes dos que têm polpudas contas em bancos daquela empresa (a Suíça é uma empresa).

E entre eles não está Paulo Maluf, padrão de honestidade e ficha limpa. Se seu nome surgir, certamente vai dizer que é um “homônimo” e se o CPF ou a identificação for a mesma, vai dizer que “mera e desagradável coincidência”.

As previsões ainda são de fortes chuvas, pelo menos por mais alguns dias.

A despeito da falta de notícias adequadas, digamos assim, no JORNAL NACIONAL, não se sabe ao certo se a Europa ainda existe, ou se já afundou, a nova Atlântida, em bases militares dos EUA.

Como Berlusconi anda aprontando e conta com o apoio de Gilmar Mendes e Cesar Peluso o continente pode ainda “salvar-se”, quem sabe?

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A gramática social da tragédia

Diante dessa tragédia esperamos que nossos legisladores não cedam às pressões para alterar o Código Florestal. Os ruralistas querem tirar o topo dos morros, terra de encostas e áreas em altitude superior a 1.800 metros das APP - Áreas de Preservação Permanentes. A especulação imobiliária também pressiona por mudanças no Código Florestal, dentro da Reforma Urbana. E o relator do projeto na Câmara, deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), já acenou em atendê-los em parte, além de outras demandas. Como a mídia não abordou esse assunto decidimos postar este artigo, de um acadêmico de fora da região mais atingida, que faz uma análise da catástrofe pontuando esse problema (Zilda Ferreira, da Equipe do EDUCOM). Adendo: amigos, atenção a mais este oportuno artigo de Laerte Braga, no pé do post.

Por Edmilson Lopes Júnior*
Câmeras de TV capturaram os diversos ângulos da tragédia que se abateu sobre a região serrana do Rio de Janeiro. As imagens do alto e de baixo mostravam cenas de destruição e pessoas desesperadas. Casas, vidas e projetos de futuro arrastados montanha abaixo pelas chuvas de janeiro. Chuvas que desde o final de semana passado traziam dor e sofrimento aos moradores mais pobres de municípios da Grande São Paulo.

As esperadas tragédias de janeiro, neste ano, ganharam uma dimensão diferente. Não ficaram circunscritas aos lugares distantes, lá nas periferias onde pobres constroem suas precárias habitações em várzeas e margens de rios. As águas derrubaram casas luxuosas em cenários nos quais se desenvolve uma indústria turística requintada, destinada ao consumo conspícuo da burguesia e da classe média alta. A lama que varreu do mapa as casas mais vulneráveis, mas também adentrou as pousadas e hotéis de luxo da região serrana fluminense. Às mortes dos que, destituídos de identidade, tornam-se números nas estatísticas oficiais, somaram-se àquelas de pessoas com nome, sobrenome e vinculação com empresas e instituições que formatam o poder no país.

Por um momento, na inenarrável dor da perda, parecemos mais próximos. O bolo amargo que teima em não descer pela garganta de cada um de nós, cada vez que revemos as cenas de destruição, pareceu germinar uma solidariedade para além das classes sociais. E isso não seria pouco em um país no qual, normalmente, como aponta-nos o sociólogo Jessé Sousa, o valor da vida humana é maior ou menor dependendo do estrato social a que o indivíduo pertence.

Mas foi só um momento. Quinta, de manhã, bem cedo, as rádios já reproduziam os discursos de especialistas ou de atores e artistas metamorfoseados em doutos geólogos a reclamar da "falta de educação" da patuléia. Essa "gente sem educação que joga garrafa pet no leito dos rios". Comparações com o Japão foram feitas. E cobranças aos governos. Estes, sempre tomados por corruptos, não fariam o dever de casa: remover o povo das encostas e retirar os habitantes das várzeas. Nas TVs, a mesma cantilena, ao vivo e a cores.

Nenhuma palavra sobre a voracidade da indústria da especulação imobiliária, que "incorpora" áreas ambientalmente frágeis e monopoliza os terrenos mais próximos das áreas onde os mais pobres têm que trabalhar. Ou da criativa destruição ambiental desenvolvida pelo turismo, merecedor costumeiro de elegias por ser o exemplo da "indústria sem chaminés". Por certo não se esperaria alguma elaboração mais profunda desses meios de comunicação sobre como a suposta "falta de educação ambiental" dos mais pobres é produzida, mas a ausência de qualquer referência aos determinantes sociais de sua vulnerabilidade ambiental é quase um escândalo.

Na manhã de ontem, um programa de TV ocupou quase todo o seu tempo com a cobertura da tragédia. Cenas da destruição da região serrana e das enchentes em São Paulo durante toda a manhã. As imagens alternavam dos locais da tragédia para o estúdio, onde uma mesa farta, com pães, sucos e frutas, era o contraponto das cenas nas quais pessoas desesperadas tentavam se salvar ou salvar algo. Em uma dessas cenas, duas senhoras idosas, cabelos brancos, com água até a altura de suas cinturas, banhavam os seus rostos. No estúdio, um médico que, em um primeiro momento pensei tratar-se de um dos BBBs, fazia perorações sobre os riscos de doenças relacionadas ao contato com a água da enchente. Como se, para aquelas senhoras, o contato com a água suja fosse uma opção...

Uma das traduções que a solidariedade provocada pela tragédia poderia expressar seria uma alteração na gramática profunda subjacente à visão que temos de nós mesmos. Dessa forma, talvez, culpássemos menos as vítimas pelas tragédias que tragam a si e aos seus. Nos principais veículos de comunicação do país, ao menos desde ontem, não é isso o que está sendo vocalizado.

Mary Douglas, a antropóloga inglesa que escreveu um exemplar ensaio intitulado "Como as instituições pensam", apontava que os eventos emergenciais não revogam os princípios que baseiam as instituições. Não tomou o Brasil como referente. Poderia tê-lo feito.
*professor de sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

Mais informações sobre a tragédia das enchentes no Blog da Raquel Rolnik:
www.raquelrolnik.wordpress.com

Laerte Braga: 'ADEQUAR O JUDICIÁRIO AO MERCADO E À GARANTIA DA PROPRIEDADE PRIVADA'

Por Laerte Braga, no blog "redecastorphoto"
O processo de ocupação e incorporação do Brasil à chamada Nova Ordem, o neoliberalismo, começa com a eleição de Fernando Henrique Cardoso. Lei de Patentes, privatizações, controle da Amazônia pelos EUA (em parceria com os “patrióticos” comandantes militares brasileiros), todo um projeto montado no que se conhece como CONSENSO DE WASHINGTON que, pelo próprio nome, explica quem é o acionista majoritário desse conglomerado.

Foi nos primeiros anos do governo FHC

Segundo o estudo do Banco Mundial, “mais especificamente a reforma do judiciário tem como alvo o aumento da eficiência e equidade na resolução de conflitos, ampliando o acesso a justiça e promovendo o desenvolvimento do setor privado”.

O deus mercado transformando as cortes de justiça (?) em sacristias dos seus interesses. Os magistrados em sacerdotes dos resorts onde bancos promovem “seminários” - boca livre - visando assegurar sua primazia em decisões judiciais das quais sejam parte, como papas dessa igreja hedionda e totalitária.

São os novos títeres.

Há todo um conjunto, por isso um processo, de adequação aos estatutos dos donos do mundo. Os grandes conglomerados. São de tal ordem gigantescos que transformaram a maior potência do mundo, os EUA, num deles. O conglomerado EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A.

Terrorismo não é necessariamente arremeter aviões contra as torres gêmeas. Nem sempre se materializa em ações de violência explícita, tal como a conhecemos nos noticiários da GLOBO (a Fundação Roberto Marinho levou 24 milhões das verbas destinadas a obras de contenção de encostas e saneamento no Estado do Rio de Janeiro, ano passado, doação caridosa do governador Sérgio Cabral. Deve ter sido para ajudar o BBB-11).

O terror vem embutido no próprio deus mercado. Na transformação do ser humano em objeto, em mercadoria tanto no fetiche do espetáculo, como no da tragédia.

O estudo do Banco Mundial, diga-se de passagem, despertou indignação em magistrados sérios e associações do setor comprometidas com a liberdade e a Justiça. Propõe-se que o “Judiciário” seja um instrumento a mais na caminhada predadora da Nova Ordem.

A companhia mineradora de Eike Batista, por exemplo, vai causar prejuízos ambientais de tal ordem que a recuperação se torna impossível no futuro, vai gerar doenças como os transgênicos da MONSANTO. E daí? Cabe ao “Judiciário” assegurar que o progresso se construa na proteção ao “desenvolvimento do setor privado”.

Bombeiros que se virem para apagar o fogo depois.

Os estudos do Banco Mundial levam em conta a formação de blocos econômicos entre nações, caso do NAFTA (MÉXICO, EUA e CANADÁ) e propõem formas de homogeneização das leis para o setor, assegurando, por exemplo, o direito dos EUA construir um muro para impedir que mexicanos tenham os mesmos direitos que norte-americanos e impondo toda a sujeira industrial ao primo pobre (com governos corruptos e comprados), mas decisão final em cortes norte-americanas, como aconteceu no caso do lixo nuclear depositado numa cidade do México. O protesto dos cidadãos mexicanos foi julgado em New York e a empresa poluidora teve assegurado o seu direito.

Por isso a necessidade de magistrados como Gilmar Mendes, Cezar Peluso e outros mais. A necessidade de esmagar juízes independentes como o de Rodrigo de Sanctis do caso de Daniel Dantas – parte do “setor privado”, tudo em parceria com a mídia privada que em si e por si é podre, venal, é braço do modelo.

Uma das discussões preferidas dos bancos é sobre juros. O direito de extorquir. Uma das garantias que a reforma pretendida pelo Banco Mundial assegura é esse “direito”.

A extorsão vira lei, desde que, lógico, praticada pelo “setor privado” em função do “desenvolvimento econômico”.

O cidadão?

Bom, se um edifício cai em Teresópolis e mata trinta ou quarenta pessoas, óbvio, a Fundação Roberto Marinho, baluarte da iniciativa privada, não vai se sentir incomodada, afinal o grande dilema é saber o momento que um integrante transexual do BBB-11 vai se revelar aos seus brothers e sisters.

Mas os veículos de comunicação do grupo GLOBO vão acusar governos adversários e apontá-los como responsáveis.

Torna-se necessário que o cidadão comum, aquele que está no edifício, ou na casa que vai cair e matá-lo e a toda a família, entenda que está se sacrificando pelo “setor privado” (até porque a reconstrução vai ser feita por empreiteiras), pelo “desenvolvimento econômico”, no altar do deus mercado e com certeza ao acordar vai se vir no céu com Pedro Bial anunciando os “nossos heróis”.

É só assentar onde der (deve ter lugar nesse céu/inferno) é olhar para a telinha.

A Justiça garante esse direito e é até possível, dependendo do nível de submissão ou de mercadoria em que se transformou, que seja aquinhoado com algum tipo de graduação de anjo desse modelo político, econômico e social.

Quando FHC determinou ao seu ministro da Justiça que criasse a comissão para estudar a reforma do Judiciário, em seguida, colocou seu ministro no STF (Supremo Tribunal Federal), para evitar transtornos e obstáculos no caminho.

Quem? Quem?

Nelson Jobim, nosso impávido “general” ocupando, hoje, o Ministério da Defesa. Só não há uma explicação de “defesa de quem e do que” para não criar constrangimentos diplomáticos desnecessários.

No projeto de recolonização da América Latina através da ALCA – Aliança de Livre Comércio das Américas – se os norte-americanos tivessem a tecnologia do chicletes de bola, azar dos brasileiros, não poderiam produzir aqui o chicletes de bola, mas vender a matéria prima necessária, aí sim.

Repete hoje, anos depois, a canção do SUBDESENVOLVIDO – “vender borracha comprar pneu”.

“Adequar” o Poder Judiciário a esse modelo, ao mercado e garantir a “propriedade privada” é o objetivo do estudo do Banco Mundial, ainda que a ALCA não tenha conseguido se materializar nos termos pretendidos pelos norte-americanos. Hoje comem o mingau pelas beiradas, como no caso da compra de aviões para reequipar a FAB – Força Aérea Brasileirra.

A Nova Ordem tinha objetivos (e os mantém) tais como: a fusão das forças armadas em todas as Américas (do Norte, do Sul e Central) e o assunto chegou a ser discutido entre FHC e Bill Clinton. Só não prosperou porque segundo FHC era preciso fazer uma coisa de cada vez e naquele momento, tudo ao mesmo tempo poderia resultar em alguns “protestos incômodos”.

Esse nível de “adequação” seria alcançado algumas etapas à frente.

Por que o Judiciário? Óbvio; é um poder por natureza antidemocrático, frio, moldado por critérios técnicos nas instâncias inferiores (nem sempre competentes), no caso do Brasil e outros países, paquidérmico (os servidores são tratados como sub-gente), o que escancara as portas à corrupção e nas instâncias superiores é formado a partir de interesses políticos específicos (Jobim, Gilmar Mendes, Cezar Peluso, etc., etc.).

Aquela conversa escrita na Constituição de “notável saber jurídico e reputação ilibada” foi para o espaço faz tempo. É só imaginar que Gilmar Mendes é ministro da mais alta corte de Justiça (o cúmulo) do Brasil...

E de quebra emprega jornalistas da GLOBO (compra o silêncio, cumpre acordos no esquema de corrupção que permeia o modelo, é intrínseco ao modelo). Mais

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Nota de repúdio à agressão policial contra uma Defensora Pública no Rio de Janeiro

Do website da ANADEP
A Associação Nacional dos Defensores Públicos (ANADEP) vem a público manifestar seu repúdio à operação policial para desocupação do prédio do INSS, na cidade do Rio de Janeiro, que vitimou a Defensora Pública do Estado Adriana Britto, conforme noticiado na primeira página do Jornal O Globo de 14 de dezembro de 2010.

O direito à moradia é um direito social e deve ser respeitado pelos agentes do estado, principalmente quando conjugado com a função social da propriedade, conforme estabelece a Constituição da República.

A Defensora Pública Adriana Britto estava no local para tentar uma solução pacífica para o problema quando foi injustamente agredida com spray de pimenta, em uma ação policial totalmente desproporcional e violadora de direitos e prerrogativas.

A agressão por parte dos agentes policiais atinge diretamente a função institucional da Defensoria Pública, que deve promover os direitos humanos e defender judicial e extrajudicialmente os necessitados, como expressão e instrumento do regime democrático.

O problema habitacional existente no Rio de Janeiro certamente não será solucionado com ações desta natureza, com total desrespeito pelos agentes policiais aos direitos humanos e sociais.

Assim, a Associação Nacional dos Defensores Públicos expediu ofícios para os órgãos competentes dos governos Federal e Estadual, requerendo a imediata apuração dos fatos, especialmente a injusta agressão sofrida pela Defensora Pública.


André Luiz Machado de Castro
Presidente da ANADEP

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Bombas, disparos, gás lacrimogêneo, sprays de pimenta... 42 anos depois um novo AI-5, contra os pobres do Rio

Covardia da PM deixou 23 famílias sem casa. Fotos: Vladimir Santafé
Rodrigo Brandão, da Equipe do EDUCOM
Em pleno aniversário de 42 anos do Ato Institucional Nº 5, que a direita baixou em 13 de dezembro de 1968 para radicalizar de vez sua ditadura empresarial-militar (1964-85), o Rio de Janeiro do governador Sergio Cabral, aquele que virou "herói" do oligopólio da mídia por mandar a polícia e até o Exército massacrarem as favelas, teve mais uma prova de que nestas fronteiras foi instituído um outro AI-5. Cerca de uma centena de sem teto, entre homens, mulheres - algumas grávidas - e crianças, além de um grupo de militantes pelo direito a trabalho e moradia e um vereador presentes como apoios foram ontem escorraçados pelo Choque da PM de um prédio do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) no centro do Rio abandonado há 20 anos, a base de pancadas de cassetetes, bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e sprays de pimenta. Tudo isso sem que os "proprietários", o Ministério da Previdência, ou seja, a União, em última análise o povo brasileiro, em resumo sem que destes entes que nos representam tenha saído sequer um pedido de reintegração de posse.

O saldo da truculência liderada pelo capitão Thiago Machado, do Batalhão de Choque - quem com prepotência desembarcou na Praça da Cruz Vermelha aos berros de "vou liberar o prédio agora" e "tirem as mãos da minha viatura" - registra uma dezena de feridos, um estudante com perfurações na perna e no queixo depois de ser atingido por estilhaços de uma bala de borracha e sete ativistas detidos até as 4 horas desta madrugada na sede estadual da Polícia Federal, na Praça Mauá - todos irão responder a "processos" por "lesão corporal" e alguns, acredite, por "sequestro" e desacato a autoridade. Os acusados de "crimes" mais graves foram liberados sob fiança e ainda podem ser obrigados a indenizar policiais. Sergio Cabral e o prefeito do Rio, Eduardo Paes, já não fazem questão de esconder que seu projeto de "revitalização do Centro" tem o principal foco na expulsão de cariocas sem teto que vivem em diversas ocupações espalhadas pela região.

Mas qual seria o objetivo de toda essa operação de "limpeza" étnica e criminalização da pobreza? Respondemos. Preparar o que Sergio Cabral e seu assessor Eduardo Paes (o mesmo que anos antes de se candidatar disse não ver grandes problemas no controle de favelas por milícias de policiais) chamam de Corredor Olímpico, o entorno das sedes dos Jogos Rio 2016 e do principal palco da Copa do Mundo de 2014, o Maracanã, para a chegada de autoridades e atletas que estarão na cidade durante os megaeventos. Para Cabral e Paes, o Rio nunca foi, não é e sobretudo agora jamais o será de sua população, mas na verdade um cartão postal a ser maquiado e "revitalizado" através de "choques de ordem" e do Estado policial estruturado pelo secretário de Segurança, Mariano Beltrame e o ministro da Defesa, Nelson Jobim. Não pode haver "obstáculos" a que a cidade - na verdade os empresários da cidade - aproveite essa grande oportunidade para faturar milhões de dólares. Os prédios abandonados do INSS no centro do Rio, em consequência do desmonte da estrutura do antigo Inamps - a assistência médica da Previdência vem sendo transferida ao SUS - tornaram-se autênticos latifúndios urbanos e, portanto, instrumentos táticos do movimento pela Reforma Urbana. Mas nem o governo federal, muito menos as instâncias executivas locais demonstram sensibilidade para aproveitar a oportunidade e desenvolver políticas sociais.

Protesto foi pacífico
A antiga agência do INSS localizada na Rua Mem de Sá, 234, já havia sido ocupada por sem teto ativistas no MTD (Movimento dos Trabalhadores Desempregados) Pela Base, FIST (Frente Internacionalista dos Sem Teto) e Movimento Pela Moradia, sempre apoiados por Rede de Movimentos Pela Moradia, CMP (Central de Movimentos Populares) e Núcleo Estudantil de Apoio à Reforma Agrária em outras duas ocasiões nos últimos três anos. O resultado foi o mesmo em ambas as vezes. A Polícia Militar despejou brutalmente em questão de dias – ontem foi questão de horas - os sem teto, assim como na segunda-feira, com apoio da PF. Depois da remoção de 2009, bastante noticiada por causa da já ali demonstrada crueldade do capitão Thiago e seu Batalhão de Choque, o "proprietário" do latifúndio urbano - apuramos que o prédio está perto de ser recuperado pela União como execução de dívidas - mandou reforçar o trancamento dos acessos. Os ativistas lutam para construir ali o que será a Ocupação Guerreiros Urbanos e realizavam protesto pacífico em defesa do legítimo direito de morar, sob o lema "Ocupar, resistir, construir e produzir". Aí o Choque entrou em ação.

Estávamos nas primeiras horas do dia 13, que seria marcado por manifestações da esquerda em memória das vítimas do regime de 1964, quando dezenas de famílias de sem teto, juntamente com militantes na Guerreiros Urbanos, ocuparam o nº 234 da Rua Mem de Sá, nas cercanias da Praça da Cruz Vermelha, até 1990 agência do INSS. Com megafone e um carro de som cedido pelo Sindipetro-RJ, o apoio político cercou a entrada do prédio durante toda a manhã, enquanto divulgava para os transeuntes os objetivos da ação política. Acionada pelo vigia da noite, a polícia não demorou a chegar. Uma viatura foi estacionada junto à porta e deixada com o motor ligado todo o tempo, obrigando os ativistas que ali estavam, entre a P2 e o edifício, a suportarem forte calor e respirarem o monóxido de carbono da descarga. Um mutirão garantia o envio de alimentos e água - cortada após a ocupação - às famílias de sem teto. Enquanto a PM aguardava "ordens" e reforço, lideranças dos movimentos Pela Moradia e MTD Pela Base, defensores públicos do Núcleo de Terras e Habitação, bases de mandatos parlamentares do PSOL, o vereador Reimont Santa Bárbara (PT) e sindicalistas tentavam fazer contato com o Ministério da Previdência. Foi constatado que não haveria pedido de reintegração de posse, já que o imóvel está em litígio.

Violência e, mais cedo, tranquilidade. Foto abaixo: Lucas Duarte de Souza


"Estamos vivendo no Brasil uma situação fantasiosa, com projetos cosméticos para dizer que o governo faz política de habitação, como o 'Minha Casa, minha vida'. Mas no centro do Rio, onde sobram prédios públicos, sobretudo federais, ociosos há décadas, não se vê nenhuma iniciativa, nem para alojar moradores de rua nem para garantir sustentabilidade a quem já ocupou imóveis", protesta Hertz Leal, do Pela Moradia. "Tudo o que eles (as autoridades) querem no Rio é entregar esses prédios vazios, sem função social, à especulação imobiliária. Megaprojetos de habitação popular são custosos, mas até por isso abrem espaço a grandes obras e gastos com propaganda, trazendo dividendos políticos e ganhos para alguns", analisa. Apuramos que, segundo o Código Civil, todo imóvel tem que ter função social. Do contrário, torna-se passível de Reforma Urbana ou Agrária.

No final da manhã, chegou a tropa do Batalhão de Choque, com soldados usando coletes à prova de balas e fortemente armados. O comandante da tropa já desceu da viatura gritando que "ia liberar (o prédio) e pronto". Militantes, sem teto e até políticos e defensores públicos que isolavam a porta foram agredidos com cassetetes e sprays de pimenta contra os rostos. Quem se aproximava do local era rechaçado à base de gás lacrimogêneo e tiros com balas de borracha. O estudante de História Arthur Henrique tentou ajudar companheiros e recebeu estilhaços de uma bala de borracha atirada contra o solo. Após dar entrada no Instituto Nacional do Câncer com perfurações no queixo e na perna esquerda, foi liberado após sutura e aplicação de curativos. Isolado o acesso ao prédio, a PM passou a intimidar os trabalhadores sem teto e chegou a atirar bombas de gás lacrimogêneo, obrigando-os a deixarem as dependências. Mesmo após negociações, os desabrigados foram agredidos e atingidos por novas balas de borracha, antes de finalmente se dispersarem, voltando infelizmente a sua dura rotina cotidiana: sem casa, sem trabalho, sem comida. A desempregada Ana Cláudia, 35 anos, resumiu o horizonte do grupo: "Estou grávida de oito meses e tive que respirar esse gás (lacrimogêneo). Há vários idosos e crianças aqui. E agora, para onde a gente vai?"

Os movimentos fluminenses pela moradia anunciam que a luta, como bem definiram, através da qual sempre amadurecemos, continua. As famílias que os ativistas puderam reunir após as agressões policiais fizeram protesto em frente à sede regional do INSS, na Rua México. Ainda esta semana, sem teto, ativistas e outros apoios políticos devem preparar uma moção em desagravo aos detidos e processados e em protesto contra a truculência policial, o descaso com a problemática da moradia e a criminalização da pobreza que marcam a administração Sergio Cabral.

Mais de quatro décadas após a fatídica noite em que, num requintado salão do Palácio Laranjeiras, por triste coincidência no mesmo Rio de Janeiro, os generais ditadores e seus asseclas civis desferiram um golpe quase fatal em nossa República, cariocas e fluminenses vivem um novo AI-5. Agora as armas estão apontadas aos pobres e a quem mais ousar desafiar o Estado semifascista que Cabral, Paes e Beltrame orgulhosamente alardeiam nas mídias do mundo inteiro.

Vídeo: o despejo da Ocupação Guerreiros Urbanos



segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Perguntas que ainda ficam: 'A Operação Alemão já é um fiasco ou falta mais?'

Juracy Ventura, ativista, a partir do fórum 3setor
"Essas perguntas são antigas.

Alguém pode respondê-las?

Nem toda a força da Globo para transformar a operação num sucesso dos militares e dos governos de plantão, bem como as entrevistas de militares fardados e com 'caras e bocas' do filme 'Tropa de Elite' conseguiram fazer eu entender:

1) Para que seis mil militares para 'prender para averiguações' 20 pessoas, e 'capturar 2 bandidos'?

2) Onde estava o crime organizado? Na zona sul? Era uma tática de dissimulação?

3) Morreram só bandidos (55)? O critério é 'tomou tiro e morreu é bandido?' Tinham carteira de bandido? Confessaram antes de morrer?

4) A 'fuga' estava combinada? Não há serviço de inteligência nas forças militares? O PAC foi para preparar as rotas de fuga?

5) Os helicópteros (do estado principal e da mídia oficial do governo - concessões de TV) só tem vidro e câmaras para o Complexo do Alemão? Quase um milhar de bandidos brotando das galerias pluviais nos bairros em volta não foram registrados? Por que os poucos que correram a pé antes foram filmados, inclusive um atingido por um disparo? Ou eram atores? Ou foi combinando? Ou era tática dispersivo dos 'bandidos'?

6) Por que a Globo (emissora oficial do governo, haja visto as inúmeras entrevistas exclusivas da equipe do novo governo do Brasil que está em formação) e os militares, e os políticos insistem em tentar traçar o que os bandidos deveriam ter feito? Por exemplo: queriam que os líderes tivessem resistido heroicamente até a morte; ou que os 'soldados do tráfico' tivessem lutado até a morte em trincheiras; ou que fugir pelas galerias (se isto tiver acontecido) é coisa de 'desesperados' e derrotados etc. Só falta o Pedro Bial narrar tudo como no BBB.

7) Afinal, se os bandidos estavam lá desde o começo (será?), a Globo e os militares 'exigiam/esperavam' que eles fossem e se comportassem como burros e não questionassem o roteiro, como acontece nas eleições? Ao que me conste eles são bandidos, não burros ou idiotas.

8) Um capitão da força militar, comandado pela repórter da Globo, dá alguns passos toda hora na TV, como se fosse entrar numa tubulação de esgoto. A cena corta e aparecem drogas, armas, munições etc. Não é tudo muito 'pastiche'? Muito teatral e burlesco?

9) Não vemos mais nada sobre montagem de governo, política econômica, acertos financeiros e de poder, inflação, planos de governo, os financiadores do tráfico (usuários e políticos).

10) Qual política e tática será usada para conter a demanda? Para inflação e crédito deve ter. Para drogas não?

11) Estamos redirecionando as forças armadas para a guerra urbana e, mais grave, para cercar e dominar áreas urbanas? Vamos ter guetos?

12) Se existe tal quantidade de armamentos pesados de guerra nas mãos dos bandidos, ninguém sabe usar? São plantados? Se os bandidos disparam de longe fuzis e pistolas, por que não usam as metralhadoras pesadas, granadas e morteiros? Ninguém adquire tais artefatos para 'investimento' ou jogar dinheiro fora. Tem alguma coisa no ar. Não?

Alguém pode me ajudar?"


Guerra do bem contra o mal?

Um violento jogo de poder envolve facções, milícias e agentes públicos, no qual se confundem mocinhos e bandidos
Leandro Uchoas, do Brasil de Fato

Mais de 100 veículos incendiados, granadas e tiros contra delegacias, pelo menos 52 mortos, assaltos em profusão, pequenos arrastões, tiroteios em comunidades pobres. Na penúltima semana de novembro, o Rio de Janeiro esteve entregue à barbárie. Em pânico, parte da população deixou de ir ao trabalho, de frequentar bares, de transitar livremente pelas ruas. E comunidades inteiras, especialmente na Zona Norte, ficaram reféns dos “soldados” do narcotráfico e da insanidade de setores da polícia. Como tem sido comum nesses períodos, a opinião pública assumiu posições conservadoras. Exigia-se punição dura, resultados imediatos. Para os setores sociais de espírito crítico mais desenvolvido, porém, ficou a sensação de que assistia pela TV, ou lia pelos jornais, a uma farsa.

A onda de violência começou no dia 21 de novembro. Carros e ônibus foram queimados pela cidade por jovens ligados ao Comando Vermelho (CV), aliados a setores da Amigo dos Amigos (ADA). Os narcotraficantes teriam se unido contra a instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nos territórios anteriormente controlados por eles, segundo o discurso oficial. Estudiosos de Segurança Pública consideram essa uma explicação incompleta – além de oportuna ao governo estadual, por supor que a ação criminosa seria a resistência a um bom trabalho. Verdade é que a outra facção expressiva, o Terceiro Comando Puro (TCP), tem se aliado informalmente às milícias, em regiões da cidade, contra as outras duas. Até o aluguel de duas favelas aos grupos paramilitares teria ocorrido. De fato, TCP e milícias têm sido menos afetadas pelas UPPs. A pergunta não respondida, e sequer midiatizada, permanece: por que o Estado evita instalar UPPs nessas áreas?

Correu boato pela cidade, em fase de investigação, de que as ações seriam decorrentes da insatisfação com o aumento no valor da propina a policiais. Por enquanto, a explicação mais lúcida para a onda de violência é a perda de espaço do CV na geopolítica do crime. As milícias, ameaça maior, avançam território, e o setor nobre da cidade, altamente militarizado, segue protegido pelas UPPs. “Aqui no Rio há uma reconfiguração geopolítica do crime”, interpreta José Cláudio Alves, vice-reitor da UFRRJ. Ele explica que existe uma redefinição das relações de hegemonia, envolvendo disputa de território. O mapa de instalação das UPPs, somado à expansão das milícias, estaria levando à periferização do CV. A facção tende a se deslocar para as regiões da Leopoldina, da Central do Brasil e da Baixada Fluminense. “Isso leva, inclusive, à introdução veloz do crack no Rio de Janeiro. Ele é baratíssimo. A reconfiguração do crime também leva à reconfiguração do consumo da droga”, explica. Até 2009, o crack praticamente não entrava na cidade.

Tráfico em decadência
Há ainda a interpretação de que o modelo de negócios que se forjou no Brasil, do narcotráfico, estaria em declínio. A milícia, por modernizar o crime, apropriando-se de serviços públicos e disputando a política institucional, teria tornado a economia da droga obsoleta. O ex-secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Eduardo Soares, que se negou a atender jornalistas, divulgou artigo defendendo a tese. “O tráfico tende a se eclipsar, derrotado por sua irracionalidade econômica e sua incompatibilidade com as dinâmicas políticas e sociais predominantes, em nosso horizonte histórico. O modelo do tráfico armado, sustentado em domínio territorial, é atrasado, pesado, antieconômico: custa muito caro manter um exército, recrutar neófitos, armá-los, mantê-los unidos e disciplinados”, diz.

As ações das facções na cidade, em geral, objetivaram sobretudo gerar pânico. Em meio aos veículos queimados, houve poucos feridos. A reação policial foi de potência inédita. Foram mobilizadas todas as polícias, oficiais de outros estados, todo o efetivo em férias e reforços da Marinha, Exército e Aeronáutica. Os blindados, emprestados pela Marinha, eram de forte poderio bélico. Um deles, o M-113, é usado pelos Estados Unidos no Iraque. Cerca de 60% dos oficiais em operação estiveram com a Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti (Minustah). O general Fernando Sardenberg declarou ao O Globo que há similaridade nas ações do Rio e do Haiti. Sandra Quintela, da Rede Jubileu Sul, que acompanha a ocupação do Haiti, considerou o dado grave. “Há muito tempo estamos avisando que isso iria acontecer. Eles treinam lá para praticar aqui”, disse.

As autoridades não explicaram por que o TCP e as milícias não perdem território com as UPPs. Desconfia-se que haja pactos tácitos. “Há o controle eleitoral dessas áreas de milícias por grupos políticos. O Estado não vai jamais debelar isso, porque ele já faz parte, e disso depende sua reprodução em termos políticos, eleitorais. Ele está mergulhado até a medula”, diz José Cláudio. As UPPs têm sido instaladas num corredor nobre do Rio de Janeiro – bairros ricos da zona sul, região do entorno do Maracanã e arredores da Barra da Tijuca. Os narcotraficantes já vinham se refugiando, há tempos, na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão. “Era um tanto quanto previsível que essa barbárie pudesse acontecer”, acusa o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj.

Combate seletivo
O professor Ignácio Cano, do Laboratório de Análise de Violência da Uerj, também desconfia do privilégio da atuação do Estado contra o CV. “Há um tratamento seletivo da polícia, aparentemente. A milícia tende a não entrar em confronto armado com o Estado, e vice-versa”, diz. Embora veja avanços, o sociólogo se diz preocupado com a ação policial, que pode representar um recuo do Estado a posições mais recuadas do passado. O Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, afirmou em entrevista coletiva que a ADA é uma facção mais “pacífica”, mais preocupada com o comércio de drogas. O CV seria mais “ideológico”, estaria mais disposto à guerra.

Para Antônio Pedro Soares, do Projeto Legal, o modelo de Segurança Pública do governo teria ajudado a gerar esse conflito. As áreas “pacificadas” seriam planejadas de acordo com os interesses da especulação imobiliária. “O que está acontecendo tem a ver com a política de Segurança, que precisa ser melhor discutida. Continua a lógica de uma polícia controlando uma população considerada perigosa”, afirma. Em sua maioria, os ativistas de direitos humanos não negam a necessidade de se prender os narcotraficantes. Entretanto, combatem a execução sumária, e acusam o Estado de perseguir apenas os bandidos da base da pirâmide do crime. “É uma guerra em que só morre um lado, uma cor, uma classe social. É simbólico que tenha acontecido na Semana da Consciência Negra, e dos 100 anos da Revolta da Chibata”, afirma Marcelo Edmundo, da Central de Movimentos Populares (CMP). Desconfia-se que o número de mortos seja muito maior do que o divulgado.
(Leia mais na edição 405 do Brasil de Fato, que está nas bancas)

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A TOMADA DE MONTE CASTELO OU A BATALHA DE ITARARÉ

São cada vez mais fortes os indícios de que as manobras das Forças Armadas no Rio de Janeiro tem conexão com o lobby do PIG e dos setores mais conservadores de dentro e fora do governo para manter Nelson Jobim, o amigo e interlocutor dos interesses dos EUA na Esplanada dos Ministérios, à frente da pasta da Defesa após 1º de janeiro de 2011.

Por José Flávio Abelha*
Toda a mídia brasileira, com as exceções de praxe (pouquíssimas) levou o brasileiro às raias de um surto coletivo com o pânico que esparramou, via satélite, urbe et orbi. Espalhou o pânico no país em tal grau que o Brasil parou neste fim de semana, de sábado para domingo, para assistir à versão nova em cores da "Tomada de Monte Castelo". O pânico se espalhou de tal forma que, nos distritos mais longínquos, as pessoas não saíram de casa, algumas, nem as janelas abriram, com medo de bala perdida.

A invasão do chamado complexo do Alemão era uma espécie de versão com efeitos especiais do episódio italiano de Monte Castelo.

Na manhã de sábado recebi um telefonema da minha mulher que estava em Belo Horizonte, implorando para que eu não saísse da nossa casa aqui em Niterói. Perguntou-me sobre o tempo e eu informei que o céu era de brigadeiro, azul maravilhoso. Sol de rebentar mamona e o pessoal nas praias. Mas eu teria de ficar em casa ante o perigo do conflito iminente.

Disse-lhe não era possível atender ao seu pedido. Eu estava de carro, na Linha Amarela, rumo ao Rio Centro para visitar a Feira da Providência.

O telefone ficou mudo. Acho que minha mulher desmaiou.

À noitinha, fui busca-la do Santos Dummont, ambos tranqüilos, eu e o aeroporto. E tranqüi-los, eu e minha mulher, rumamos para Piratininga enfrentando o trânsito caótico com tanta gente voltando da região oceânica depois de um dia de praia.

Resumo da ópera que a mídia desejava, a anunciada Tomada de Monte Castelo, com a carnificina que os nossos comunicadores anunciavam, frustrou-se.

E o que se viu foi a repetição da famosa Batalha de Itararé. Em 1930 as tropas de Vargas não foram molestadas e, agora, as tropas das gloriosas Forças Armadas repetiram o ocorrido na naquela época.

O arsenal da bandidagem, tão decantado pela mídia, foi esquecido na retirada humilhante, afinal, o recado aos chefões do tráfico fora muito claro pelos comandantes das três armas: da aeronáutica, nossos helicópteros estão armados com foguetes mas não vamos dispara-los, da marinha, nossos tanques que rodam sobre lagartas e passam por cima de qualquer obstáculo servem para uma cobertura às forças policiais estaduais, e do exército surgiu o recado unificador e alertador: nossos homens estão portando armas de guerra mas somente serão disparadas se formos atacados.

E o conjunto de forças, de mãos dadas, sitiaram e depois entraram naquele território que era a casa do diabo: o complexo do Alemão. Enquanto isso o carioca estava curtindo um céu azul maravilhoso, um sol escaldante e um´mar calmo. Praias lotadas contrastando com o resto, a maior parte, do Brasil, apavorado, assustado, em pânico provocado pela nossa eficiente, competente e ética mídia.

Desta ameaça midiática de uma carnificina surgiram pontos que eu já andei indicando em um pequeno texto sobre os parafusos bambos da máquina chamada Brasil.
Seria bom que, passada a Batalha de Itararé, nossos homens públicos refletissem mais antes de se pronunciarem.

Uma alta autoridade judiciária mandou dizer ao Brasil que "ainda existem juízes em Berlim"...e no Rio de Janeiro também e, pela primeira vez, decretou a prisão de intocáveis advogados, os pombos-correios, os parafusos bambos.

A vaidade andou campeando ao ponto de um líder comunitário criticar as UPP's como se elas fossem a salvação da lavoura. Não são não. Elas são a abertura da estrada que vai levar a paz e a presença do Estado aos morros dominados por marginais de alta periculosidade.A finalidade é, tão somente, ganhar terreno. Elas são os pára-quedistas que primeiro saltaram no planalto central para fazer uma clareira onde avionetas, os teco-tecos, pudessem levar as primeiras ferramentas para a construção de uma pista de pouco maior. Nesta, desciam os Douglas transportando pequenos tratores e, quatro anos depois, nascia Brasília, o sonho de Dom Bosco e do Presidente Juscelino. Não fosse o cientista Sérgio Besserman Vianna explicar as verdadeiras funções das UPP's e o vaidoso líder, com uma pontinha de inveja por não ter dado palpites na engenharia dessa salvação da lavoura que o próprio Besserman havia ajudado a desenhar, teria azedado a entrevista global. De qualquer forma, saiu mal na foto.

O secretário Beltrame, com o seu ímpeto gauchesco declarou histórica a colaboração da Marinha e informou que o Exército não se pronunciara.(Nunca ouvi falar que cumprir o dever é um gesto histórico). A resposta veio no ato, dada pelo Comandante, dizendo que não lhe fora pedido nada. De imediato o governador pediu ajuda e o Presidente Lula determinou que o Ministro da Defesa fornecesse o necessário ao governador.

Corre, agora, o Secretário Bletrame o desprazer de ver um afoito vereador propor mais um feriado para marcar o "histórico" dia.

A OAB, diante da descoberta dos pombos-correios, apenas disse serem necessárias mais provas, ao contrário de dizer que está certo quem mandou prender seus associados pois são fora-da-lei, porém, o esprit de corps falou mais alto.

As ONG's caladinhas, nem tugindo nem mugindo.

Dizem, hoje, que associações na Rocinha estão com medo de uma futura invasão das forças do Bem visando colocar ordem naquela grande comunidade, como se a Rocinha fosse o melhor dos mundos e não precisasse de uma UPP

O resto é o resto e foi debitado na conta da excitação dos focas e repórteres que repetiam, à exaustão, as mesmas notícias e as TVs reprisavam as mesmas cenas. O Brasil em pânico e o carioca na praia, aproveitando o domingo de sol.

As favelas sentindo o gostinho da cláusula pétrea da Constituição que dá a todos o direito de ir e vir...sem pagar pedágio.

Muito político vendo seus currais eleitorais virarem fumaça...de pólvora.

E um Oscar para a Edith Head global que desenhou os elegantíssimos coletes a prova de balas com que os globais se apresentaram na frente da Batalha de Itararé!

E isso é só o começo. No Rio existem milhares de favelas pedindo PAZ!!!
*nascido em Minas Gerais, é autor de "A MINEIRICE" e vive na Restinga de Piratininga, em Niterói (RJ), onde é "Inspector of Ecology"

Veja ainda:
Instituto Humanitas Unisinos: Uma guerra pela regeografização do Rio de Janeiro. Entrevista especial com José Cláudio Alves
“O que está por trás desses conflitos urbanos é uma reconfiguração da geopolítica do crime na cidade”. Assim descreve o sociólogo José Cláudio Souza Alves a motivação principal dos conflitos que estão se dando entre traficantes e a polícia do Rio de Janeiro. Na entrevista a seguir, concedida à IHU On-Line por telefone, o professor analisa a composição geográfica do conflito e reflete as estratégias de reorganização das facções e milícias durante esses embates. “A mídia nos faz crer – sobretudo a Rede Globo está empenhada nisso – que há uma luta entre o bem e o mal. O bem é a segurança pública e a polícia do Rio de Janeiro e o mal são os traficantes que estão sendo combatidos. Na verdade, isso é uma falácia. Não existe essa realidade. O que existe é essa reorganização da estrutura do crime”, explica. Clique para ler a entrevista completa

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Dia D? O Alemão está dominado? Dúvidas que nos ocorrem

Por Rodrigo Brandão, da Equipe do EDUCOM
O portal de notícias das Organizações Globo, o G1, resume os acontecimentos de domingo no Complexo de Favelas do Alemão com o título "Alemão dominado", sobre foto em que aparece um policial enrolado numa bandeira do Brasil, como uma capa, "capa de super-herói" talvez... em seguida o leitor é apresentado a uma sucessão de números, relatos, fotos e vídeos que compõem um mosaico de imagens e outros elementos a impactar nossas retinas.

Recheado com as histriônicas declarações do secretário de Segurança Pública fluminense, Mariano Beltrame, do tipo "provamos que invadimos e tomamos qualquer espaço deste estado", "hoje foi o Alemão, amanhã será a Rocinha e o Vidigal" ou "o Alemão era o centro do mal e o Rio virou uma página de sua história" (frase reproduzida em 99% dos portais), todo esse banquete apreciado por setores da sociedade carioca poderia facilmente ser enquadrado no circo que a mídia habitualmente constrói nesses episódios, e que Guy Debord tão bem descreve em seu "A Sociedade do Espetáculo".

Ok, mas e a reflexão e a crítica por trás dos "fatos"? Durante a semana, Estado e mídia fizeram chegar a nós que no primeiro dia de operações na Vila Cruzeiro mais de 60 pessoas haviam morrido. Um dia depois, na noite de quinta, 25, disse a Secretaria de Segurança que o balanço da semana de incursões trazia 32 mortos. As polícias do Rio de Janeiro, o Exército e a PF diziam estar no Alemão porque 600 suspeitos de tráfico ou associação com o tráfico haviam escapado ao cerco da Vila Cruzeiro e se refugiado ali. Até a madrugada de ontem, 28, um suspeito, segundo as autoridades, se entregara. À noite, o G1 trazia este balanço: 20 presos, 3 mortos, 50 motos apreendidas, 150 quilos de cocaína e 40 toneladas de maconha apreendidos, 50 fuzis apreendidos...

Você acredita nesses números? Ou melhor, você confia em quem traz a público esses "números"? Eles fazem algum sentido? Terá a maconha se tornado a droga mais rentável para o crime no Rio de Janeiro?

Visitando fóruns de ativistas da esquerda na Web ou conversando com militantes via redes sociais, vemos um surpreendente e insuspeito regozijo com a "nova política de segurança" trazida pelo governador Sergio Cabral ao Rio de Janeiro. Ao apontarmos contradições no discurso de Cabral e seus assessores e dizermos que nem UPP - pelo menos com a superficialidade e a cosmética que marcam seu atual estágio - nem incursões militares significam a vitória sobre o crime, muito menos a "paz", somos questionados, acusados de não vermos o novo, de sermos sectários...

Que não estejamos tão isolados ou num diálogo de surdos.

Atualizando: taí uma reposta a algumas das perguntas que deixamos... ou uma pulga atrás da orelha de quem ainda não tinha
O Dia: 'Chefões do tráfico conseguem escapar'

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Governador Sergio Cabral favoreceu Luciano Huck em Angra

Quem acompanha o blog há mais tempo lembra que já trazíamos a denúncia desse escândalo em janeiro...

Cabral favoreceu Luciano Huck em Angra*

RIO - Alvo de ação civil pública movida pelo município de Angra dos Reis, litoral do Rio de Janeiro em outubro de 2007 por supostos danos ambientais e construções irregulares em sua casa de veraneio, o apresentador de TV Luciano Huck é representado pelo escritório de direito do qual é sócia a primeira-dama do Rio de Janeiro, Adriana Ancelmo Cabral.

Huck, entre Adriana Ancelmo e Cabral: troca de favores
Seu marido, o governador Sergio Cabral (PMDB), editou, em junho do ano passado, o Decreto 41.921, que alterava a legislação da Área de Proteção Ambiental (APA) de Tamoios, na Baía de Ilha Grande. A medida, cuja constitucionalidade é questionada no Supremo Tribunal Federal (STF) pela Procuradoria-Geral da República, beneficiaria proprietários de residências consideradas irregulares na região – caso de Huck e sua casa na Ilha das Palmeiras.

Ambientalistas contrários às mudanças determinadas por Cabral se referem ao decreto como “Lei Luciano Huck”. Na Ação 2007.003.020046-8, que tramita na 2ª Vara Cível de Angra, o apresentador é representado por dois integrantes do escritório Coelho, Ancelmo e Dourado Advogados. O município obteve liminar, em maio de 2008, que obrigou Huck a paralisar as obras em sua casa, que incluíam a construção de bangalôs, decks, garagem de barcos e muro para criação de praia artificial, “o que pode ocasionar danos ambientais irreversíveis, assim como agravar os já existentes” – conforme despacho do juiz Ivan Pereira Mirancos Junior.

Desde domingo, o jornal O Estado de S. Paulo vem mostrando a atuação da primeira-dama e de seu escritório de advocacia em ações judiciais, como a defesa do Metrô Rio e do grupo Facility, um dos maiores fornecedores do governo Cabral.

Procurado, o governo do Estado indicou o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) para comentar o caso. Cabral e Adriana estão em Londres, na Inglaterra, e não foram localizados. Em nota, o Inea informou que a licença ambiental para a casa de Luciano Huck foi concedida em junho de 2004 e o Estado “desconhece a existência de ação do município de Angra contra o apresentador e os motivos que fizeram com que o município movesse a ação citada”. Segundo o Inea, Huck nunca fez pedido ao Estado com base no decreto.

Por sua assessoria, Luciano Huck informou que o escritório da primeira-dama “atua há vários anos como correspondente de Lilla, Huck, Otranto, Camargo Advogados”, seus advogados em São Paulo, desde antes da gestão Cabral. “Não tínhamos conhecimento, até o momento, de que a primeira-dama do Rio de Janeiro era sócia desse escritório”, informou a assessoria. O advogado Sérgio Coelho não quis comentar o caso e informou apenas que representa Huck e seus sócios desde 2002.
*publicado em O Estado de S. Paulo de ontem, 10.11.10

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quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Angra dos Reis URGENTE: participe da luta pela revogação do decreto 41.921


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