quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Onde estão os Amarildos?




por Martha Neiva Moreira, Rogério Daflon e Camila Nobrega, do Canal Ibase*

O assessor Guilherme Pimentel, da Comissão de Direitos Humanos, foi convocado, no último dia 17, a ir a uma manifestação de moradores da Rocinha, que, à noite, fechavam a AutoEstrada Lagoa-Barra na altura da comunidade. O protesto vinha em forma de pergunta: Cadê o Amarildo? O clima era de tensão e revolta. Na véspera, alertada por residentes da favela de São Conrado, a comissão já informara o desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza à Polícia Civil, à Coordenação das UPPs.

- É preocupante essa história de um cidadão desaparecer, logo depois de ter sido levado para averiguação na polícia na sede da UPP da Rocinha. Isso demonstra a fragilidade da democracia em algumas áreas da cidade – disse Guilherme, que informou que a família depôs na Comissão de Direitos Humanos da Alerj na presença do delegado que investiga o caso, Orlando Zaccone.

O pedreiro foi visto pela última vez na noite do dia 14 de julho, após uma operação da Polícia Militar para prender 30 pessoas da comunidade suspeitas de participação no tráfico local. Testemunhas dizem que ele entrou na sede da UPP, mas não saiu. A entrada foi filmada, enquanto, na saída, de acordo com a polícia, as câmeras não estavam funcionando. Para o delegado Orlando Zaccone, os protestos são legítimos.

- Eles mostram que não existe vida mais importante que outra – disse Zaccone.

O caso deve ir para a Delegacia de Homicídios nos próximos dias.

A Comissão de Direitos Humanos da Alerj, com a presença do deputado Marcelo Freixo, do PSOL, reuniu-se com cúpula de segurança pública, para fazer um pedido simples: uma resposta mais densa sobre o desaparecimento de Amarildo. Nela, estiveram presentes o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, a chefe da Polícia Civil Martha Rocha e o major Paulo Henrique, da UPP da Rocinha. Mas até agora não houve nenhuma resposta convincente.

Em 2011, primeiro caso de morte de morador de UPP

O primeiro caso de morte de um morador de uma favela pacificada de que se tem notícia ocorreu em 12 de junho de 2011, dia dos namorados, no Pavão-Pavãozinho. André Ferreira, de 19 anos, saiu apressado para uma festa onde a namorada, grávida de 9 meses, o esperava. No caminho, foi abordado por policiais e, logo depois, foi encontrado nas ruas da comunidade ferido por tiros. À época, a polícia classificou o caso como um “auto de resistência”, em menção a uma possível reação brusca do jovem à abordagem. A perícia concluiu, no entanto, que o jovem foi ferido pelas costas. No mesmo dia, moradores que assistiram à cena foram às ruas protestar. Os policiais envolvidos ainda respondem em liberdade por processo referente ao caso.

A morte de André estarreceu moradores e também pessoas que trabalhavam na favela. Segundo relatos de pessoas que não quiseram se identificar, a comunidade tem uma relação difícil com a UPP instalada lá e já houve outros casos de abuso policial.

Embora André tenha sido o primeiro caso, não foi o único. Segundo informações do site da Rede contra a Violência, no morro do Fogueteiro, no Catumbi, também em junho de 2011, a comunidade delatou o assassinato do mecânico Jackson Lessa dos Santos e do adolescente Thales Pereira Ribeiro. Policiais seriam os principais suspeitos da ação.

Os moradores protestaram, mas não houve respostas. Na Fallet, ocupada pela mesma UPP do Fogueteiro, uma menina de 10 anos foi baleada na perna durante uma operação policial pouco tempo depois. E, em março de 2012, um morador de 22 anos foi alvejado por um PM que teria agido, segundo moradores, por ciúmes da namorada que mora na comunidade.

No Complexo do Alemão, o jovem Abraao Maximiano, de 15 anos, teria sido executado, sem que tenha havido investigação. A Rede contra Violência ressalta que esses são casos que se tornaram públicos. A maior parte das famílias não chega a fazer denúncias por medo.

Outras formas de violação

Não apenas conflitos com policiais terminaram em morte nas comunidades pacificadas. Um caso que se tornou conhecido entre os moradores do Morro dos Macacos, em Vila Isabel, na Zona Norte, é o do comerciante, fundador e presidente da Associação Comercial dos Macacos, Flávio Duarte de Melo, de 40 anos. Ele foi assassinado em setembro de 2012, dentro de sua padaria. Ele era considerado um colaborador da UPP e havia sido chamado, pouco tempo antes, para ser mestre de cerimônia de um casamento comunitário organizado pela unidade pacificadora. Para moradores do local, a morte foi uma resposta do tráfico ao envolvimento de Flávio com os policiais, que não encontraram suspeitos. Menos de 48 horas depois, Gilmar Campos, amigo de Russo, também foi executado. Os dois casos foram divulgados na imprensa, mas a investigação não solucionou nenhum dos dois.

Para além destes casos, há outras violações policiais em favelas pacificadas. Uma pessoa que trabalha em uma instituição no morro do Andaraí e preferiu não se identificar contou à reportagem que o comando da UPP no local têm ações de intolerância religiosa. Ao proibir músicas a partir das 22h em determinada região, o objetivo principal seria coibir os rituais realizados em terreiros da favela.

- As mortes são os fatos que mais assustam, claro. Mas até que se chegue a esse extremo, há uma série de violações de diversas naturezas acontecendo nas favelas – contou a fonte.

No Santa Marta, uma das principais reivindicações dos moradores que foram às ruas em passeata realizada no início deste mês foi a liberação do uso da quadra da própria comunidade. A UPP coordena o uso do local e coibiu eventos realizados pelos moradores.

Em outras comunidades há denúncias de que policiais entram em casas de moradores para acabar com festas, proibindo sons de funk e outras músicas. Antes que haja agressões, há princípios da dignidade humana feridos. Por mais que se saiba da dificuldade de coibir a violência nas comunidades cariocas e a atividade dos traficantes, não há justificativa para tais ações frente aos moradores.

Papa pede justiça social em UPP

Em visita ontem ao Complexo de Manguinhos, no Rio, o papa Francisco disse que o esforço de pacificação tem que ser acompanhado de justiça social. No entanto, para os moradores da região esta realidade parece não existir nem em sonho. Há três meses a equipe do Fórum Social de Manguinhos se reúne com grupos do complexo de favelas para saber, entre outras informações, como eles imaginam que seja uma comunidade segura. Mas não consegue extrair qualquer impressão.

Segundo Fransérgio Goulart, uma das lideranças dali, por falta de parâmetros, a população local sequer vislumbra este cenário. Os anos de opressão e insegurança, explica ele, embaçam a visão de quem nunca teve paz. A violação de direitos, traduzida pela truculência policial e abandono por parte do poder público, naturalizou uma situação de exceção em Manguinhos, que se reproduz em outras favelas da cidade, mesmo depois da implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).

- Nos grupos focais com moradores que estamos realizando para produzir uma cartilha reunindo os direitos do cidadão que mora em favela, não conseguimos ter uma resposta deles de como seria uma favela segura. Simplesmente não conseguem vislumbrar sequer que uma rua iluminada possa trazer segurança. Nem em sonho parece possível imaginar uma favela mais segura – disse Fransérgio.

Por isso mesmo o sumiço recente do pedreiro Amarildo na Rocinha não causou espanto a Fransergio nem há outras lideranças de favelas que a equipe do Canal Ibase ouviu. Pelo contrário, eles reafirmaram que viver em território pacificado hoje é sinônimo de ter que lidar, diariamente, com violação de direitos por parte da polícia.

- Não me causou espanto – e acho que a ninguém que mora em favela – a história do Amarildo. Este não foi o primeiro caso suspeito em comunidades com UPP. Logo que foi implantada no Borel (2010), um rapaz foi parado em uma blitz dos policiais da UPP e ninguém mais soube dele. Foi visto pela última vez com os policiais. O Estado garantiu que os policiais de UPP seriam diferentes, mas o que vemos é que o treinamento é o mesmo de sempre. A polícia não mudou – contou Mônica Francisco, da Rede de Mulheres do Borel e do grupo Arteiras.

No Borel, como ela explica, a polícia parece não ter uma norma de conduta pois até crianças estão sendo revistadas, ferindo o artigo 18 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que estabelece que “é dever de todos zelar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório e constrangedor”.

Já cedo, por volta das sete da manhã, os moradores que estão levando filhos para a escola ou descendo para o trabalho se deparam com revistas de policiais. Nem idosos costumam ser poupados.

- É uma rotina de desrespeito com os moradores que o comportamento da polícia impõe. Outro dia, meu marido e filho estavam descendo do ônibus no ponto em frente à favela. Logo que saíram, tinha um policial fazendo revista de todos, de forma truculenta – observou Mônica.

Borel vive em meio a arbitrariedades

A lista de arbitrariedades no Borel não para por aí. No morro, é a UPP que tem o controle do mototáxi. Os moradores se perguntam porque o transporte tem que ser controlado pela força policial. Por que não por outra instância do Estado ou mesmo uma cooperativa organizada por meio de alguma ação do Sebrae, por exemplo?

Em Manguinhos a realidade não é diferente. Segundo Fransérgio Goulart, na favela persiste o toque de recolher não-oficial, às 23h, todos os dias, indicando que a presença de policiais da UPP ainda não deu tranquilidade à população para transformar uma rotina imposta durante anos pelo tráfico. Para fazer qualquer atividade cultural, é preciso pedir autorização do comandante da UPP.

A juventude é que mais sofre com as revistas arbitrárias e achaques em Manguinhos. Tanto é que passaram a só andar em grupo pelas ruas da comunidade como medida de proteção. Não faltam casos, segundo Fransérgio, de garotos que perderam seus CD players porque estavam ouvindo funk e policiais desligaram na marra e levaram o aparelho. Ele contou que o abuso é tamanho que policiais entram arbitrariamente na casa das pessoas sem pedir licença.

- Outro dia, próximo da minha casa, um grupo de policiais entrou na residência de uma vizinha porque queria saber o que o filho dela, que dormia, fazia da vida. O rapaz acordou e mostrou a carteira profissional. Era soldado do Exército. A polícia foi embora. Mas e se ele não fosse soldado ou não tivesse carteira de trabalho? O que aconteceria com este rapaz, arbitrariamente escolhido para uma revista pelos policiais?.

Os anos de opressão do tráfico e agora a vivência de situações desrespeitosas geram, na população das favelas cariocas, a sensação de medo:

- Quem mora em favela tem medo, originalmente. Isso tem que ser considerado em qualquer política pública. Existe muita desconfiança por parte da população. É um território que passou anos dominado pela institucionalidade do tráfico e, agora, pela da polícia dita pacificadora que segue a mesma lógica militar da polícia convencional – disse Fransérgio.

Nas últimas semanas, os debates sobre o assunto se tornaram ainda mais acalorados nas favelas cariocas, em função dos protestos que tomaram as ruas do Rio de Janeiro. Pela primeira vez, moradores estão encontrando apoio para denunciar a situação de opressão imposta pelas UPPs. Um twitaço realizado esta semana deixou a pergunta “cadê o amarildo” entre os trending topics – os tópicos mais recorrentes, segundo lista do próprio Twitter – no Brasil. O caso ganhou repercussão no país inteiro e ganhou adeptos pelo mundo.

Pela internet, a pergunta pelo paradeiro do morador já apareceu em pelo menos outras seis linguas. Amarildo se tornou um símbolo de um cotidiano onde os amarildos se proliferam. Onde estão todos eles? E para onde o Rio de Janeiro caminha nessa ótica de pacificação – sim, e com seus benefícios -, mas calcada na repressão? É o que milhares de pessoas perguntam a mais de um mês nas ruas. Sem resposta.

E cadê Amarildo?


Fonte: Site Envolverde

* Publicado originalmente no Canal Ibase.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

A Inteligência burra


Por Maurício Dias*  Carta Capital

Por que a polícia não havia previsto as recentes manifestações de rua?


Apesar de pequenas gafes e deslizes do policiamento encarregado de protegê-lo no Brasil, o papa Francisco saiu ileso. Nem sempre os erros são pequenos assim. Normalmente são graves e repetitivos, com mortos e feridos, como tem ocorrido nas manifestações de rua, nos últimos dois meses, em várias cidades do País.

Os equívocos são muitos e começam de um ponto banal, como aponta o professor Jorge da Silva. “A polícia brasileira, em geral, confunde as atividades de investigação com as de inteligência. A investigação, como é sabido, visa elucidar os fatos a posteriori e apontar culpados. A inteligência é o armazenamento de informações gerais que circulam na sociedade e no cruzamento e análise dessas informações, com a finalidade de prever acontecimentos futuros”, esclarece o professor, que é doutor em Ciências Sociais e ex-chefe do Estado-Maior da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

Atividades de investigação e de inteligência se confundem dentro das polícias

“No início, as autoridades demonstraram total desconhecimento do que viria à frente. Minimizaram as manifestações e rotularam os manifestantes de baderneiros e vândalos”, diz.

“Por que as polícias teriam se surpreendido pela ação de grupos ideológicos anarquistas que agiram conforme anunciaram em rede? Como não sabiam? E como não tinham uma estratégia específica para enfrentá-los?”, pergunta Jorge da Silva, surpreso com a surpresa dos serviços de inteligência sobre a existência do movimento anarquista.

“Desconhecem que grupos ideológicos como o Black Bloc, com simpatizantes também no Brasil, agem de forma idêntica, roupa preta, capuzes, máscaras, com a estratégia de infiltrar-se em manifestações e protestos para praticar atos de vandalismo e destruição?”

Ele não consegue evitar o tom de ironia ao falar do “serviço de inteligência” que havia detectado a infiltração de traficantes e milicianos nas manifestações. “Estranha conclusão. O objetivo de traficantes e milicianos é financeiro, é dinheiro. O dos anarquistas é outro. É ideológico, contra as estruturas. A não ser que traficantes e milicianos tenham aderido ao objetivo dos anarquistas de mudar a sociedade.”

No Rio, as hipóteses se misturam aos boatos. Um deles é o de que o vandalismo seria uma orquestração contra o governo com o propósito de desestabilizá-lo.

Para Jorge da Silva há uma perigosa inversão do papel da polícia, ocorrida principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, onde, “em vez de as polícias serem acionadas para garantir as manifestações e proteger os manifestantes, o foram para reprimi-los com rigor. Deu no que deu”.

Qual seria a forma adequada de ação das polícias? “Parece-me fácil concluir o que se deve fazer. Esse assunto não se resolverá apenas com a força, como sempre foi a tônica na nossa história. Não dá mais.”

Dilma em questão I

Não tem consistência a afirmação de que a queda na popularidade e, principalmente, a avaliação do governo da presidenta Dilma Rousseff seja resultado das manifestações de rua nos meses de junho e julho. As primeiras manifestações retumbantes, de 6 e 7 de junho, em São Paulo, foram feitas pouco antes do campo da pesquisa CNI/Ibope de 8 a 11 daquele mês. Tempo curto para refletir os protestos paulistanos e a data da sondagem de âmbito nacional.

Há uma queda de 8 pontos na avaliação do governo no item “ótimo/bom” em relação à pesquisa de março.Entre junho e julho, a avaliação do governo despencou de 55% para 31%.

Dilma em questão II

As manifestações e a queda não estão refletidas no juízo feito sobre as políticas públicas do governo federal. Entre março e julho, os índices de reprovação da saúde, educação e segurança têm pouca variação. A saúde tem sua variação negativa elevada em 4 pontos.

Segurança e educação, ao contrário, têm boa elevação positiva. A primeira cai de 66% para 40% e a segunda baixa de 50% para 37%.

Nesses cinco meses, de março a julho, o único solavanco nesses casos é a reprovação da política de combate à inflação, que entre março e junho subiu de 47% para 57%.

Esse é o sinal mais forte e aparentemente capaz de alterar a opinião.

Política e protestos

Surge, porém, um curioso complicador nessa hipótese.

A pesquisa faz uma pergunta aos entrevistados sobre razões que os levariam a novos movimentos de protesto. A resposta disparada é por maiores investimentos em saúde, 43%, seguida por “contra a corrupção”, com 35%. Surpreendentemente, somente 14% dos entrevistados se dispõem a se manifestar “contra os políticos em geral”. O porcentual desaba para apenas 4%, se o objetivo for protesto contra o governo federal e a presidenta. Número igual aos governos estaduais e aos prefeitos.

Contra os partidos, vetados nas manifestações, a mobilização atrai 3% das respostas.


Na semana passada, na edição nº 758, foi publicada nesta coluna a notícia sobre o alto índice de reprovação do governador Sérgio Cabral.

Na semana passada, na edição nº 758, foi publicada nesta coluna a notícia sobre o alto índice de reprovação do governador Sérgio Cabral.


A nota fazia referência a um episódio recente, desgastante para ele. O flagrante de um helicóptero oficial transportando sua família para um fim de semana na mansão de Cabral, em Mangaratiba (RJ).

Sugeri, como ilustração, a foto do embarque do cão do governador.

A produção da revista recebeu a seguinte resposta de um funcionário do detentor das fotos: “A Editora Abril informou que não podemos licenciar imagens de Veja para a CartaCapital”.

Por um lado, decisão surpreendente em operações comerciais. Por outro, os leitores deixaram de conhecer Juquinha, o cãozinho tibetano da raça shih-tzu.

Atos e fatos

Recentemente, a presidenta Dilma Rousseff convidou e recebeu, no Planalto, representantes do mundo jurídico para debater as manifestações nas ruas.

Joaquim Barbosa, presidente do STF, falou aos repórteres, por quase uma hora, sobre o encontro aparentemente amigável.

Na segunda-feira 22, JB foi cumprimentar o papa Francisco, no Palácio Guanabara, no Rio, em cerimônia com a presença da presidenta.

Após apertar a mão do papa, ele, ostensivamente, recusou-se a saudar Dilma. Depois emitiu um comunicado desmentindo o que as câmeras mostraram.

Como explicar a desfeita a uma senhora que, além disso, preside a República?

*Maurício Dias
No CartaCapital

Fonte:http://contextolivre.blogspot.com.br/2013/07/a-inteligencia-burra.html

terça-feira, 30 de julho de 2013

O contrário do "pequeno príncipe"

23/07/2013 - Ao contrário do "pequeno príncipe", um terço dos bebês britânicos viverá na pobreza
- do site Operamundi

Projeção é que o atual montante de 2,4 milhões de crianças vivendo na pobreza aumente para 3,4 milhões em 2020

Mais um entre cerca de dois mil nascidos no Reino Unido nesta segunda-feira (22/07).

O furor em torno do filho do príncipe William, herdeiro do trono britânico, trouxe à tona um dado preocupante sobre a situação das crianças no país. De acordo com uma pesquisa governamental, um em cada três bebês que nascem no Reino Unido – cerca de quatro milhões de pessoas – irá viver na pobreza.

Para a sorte do pequeno príncipe, que veio ao mundo já com título de nobreza, ele não faz parte dessa fatia desfavorecida.

De acordo com reportagem do The Independent, que cita estudo do Instituto Nacional de Estatística (ONS, na sigla em inglês), a projeção é que o atual montante de 2,4 milhões de crianças vivendo na pobreza aumente para 3,4 milhões em 2020.

Além disso, as más condições às quais essas crianças serão expostas faz com que somente uma em cada quatro possa ter chances de viver até os 100.

No Reino Unido, pobreza infantil é viver com menos de 60% da renda média nacional, ou o equivalente a 250 libras.

O jornal The Guardian ressalta que o cenário já foi mais crítico, durante o governo de Margaret Thatcher, morta nesse ano.

Na época, 3,4 milhões de crianças eram pobres e as administrações trabalhistas conseguiram baixar esse número para 2,8 milhões em 13 anos.

Agora o trabalho parece estar regredindo, resenha o Guardian.

Já segundo estudo do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), o crescimento da pobreza em países desenvolvidos é preocupante desde o começo da crise. Somente em terras britânicas, 15% das crianças vivem em pobreza extrema.

Alimentação
Dados da Trussell Trust, a maior organização de bancos alimentares no Reino Unido, revelam outra face da pobreza no país.

De acordo com a instituição, a situação de carência alimentar se agravou acentuadamente com as medidas de austeridade levadas a cabo com a recessão econômica.

Entre abril de 2012 e março de 2013, pelo menos 346.992 pessoas recorreram pelo menos uma vez ao dia ao centro em busca de produtos não perecíveis.

Segundo eles, se trata de um aumento de 170% em comparação com igual período do ano anterior, em que foram socorridas um total de 128 697 pessoas.

Esse período “foi muito mais difícil do que muitos esperavam. Ajudamos mais 100 mil pessoas do que tínhamos previsto”, afirmou o presidente da Trussell Trust, Chris Mould.

No período 2010-2011, a organização cuidou de 61.468 pessoas, contra 40.898 no anterior (2009-2010).

Fonte:
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/30184/ao+contrario+do+pequeno+principe+um+terco+dos+bebes+britanicos+vivera+na+pobreza.shtml

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Ora, então que aumentem o depósito compulsório!

25/07/2013 - Paulo Kliass (*) - do site Carta Maior

Por mais que esperneiem os chapabranquistas inveterados e os governistas de maneira geral, o fato é que a atual conjuntura econômica carrega consigo um grau razoável de incerteza e de insegurança.

Dessa forma, apontar os equívocos da política econômica não pode ser confundido com as críticas apresentadas pelo conservadorismo e pelo financismo, que buscam soluções ainda mais ortodoxas do que as já conservadoras medidas que têm sido implementadas pela equipe econômica.

Pelo contrário, trata-se aqui de apontar caminhos que permitam à nossa sociedade reencontrar o caminho do desenvolvimento sustentável em termos econômicos, sociais e ambientais.

Permanecer calado ou fazer o ilusório jogo do contente é a pior contribuição que se pode oferecer para essa mudança necessária.

Notícias preocupantes: crescimento do PIB, setor externo e emprego

É bem verdade que não estamos ainda em um quadro de recessão ou de estagnação econômica, apesar das expectativas de crescimento do PIB para esse ano se apresentarem como muito mais modestas do que as taxas inicialmente previstas pelo governo.

A Lei de Diretrizes Orçamentárias, encaminhada pelo Executivo ao Congresso Nacional em meados do ano passado, por exemplo, mencionava um crescimento do PIB de 5,5% em 2013.

Hoje em dia, integrantes do próprio Ministério da Fazenda reconhecem que o simples fato de se atingir 2% já pode ser objeto de comemoração.

As estatísticas relativas ao setor externo também são fonte de preocupação.

Apesar da manutenção de superávit na Balança Comercial (diferença entre o total de exportações e importações), a cada mês revela-se mais instável a situação da chamada conta de Transações Correntes, onde são computados os valores relativos às movimentações de natureza financeira do setor externo.

Para o primeiro semestre desse ano, por exemplo, o déficit foi de US$ 43,5 bilhões, um valor 73% mais elevado do que o do mesmo período do ano passado.

Apesar da folga relativa proporcionada pelo elevado estoque de nossas reservas internacionais (US$ 374 bi), o quadro começa a ficar tenso também nas contas externas.

A recente divulgação dos dados oficiais a respeito da dinâmica do emprego também aponta uma criação líquida de postos de trabalho ainda positiva.

O Relatório do CAGED relativo ao primeiro semestre, no entanto, demonstra que os 826 mil postos criados representam um índice 30% inferior ao desempenho do mercado de trabalho observado no período janeiro-junho do ano passado.

Ou então, um crescimento quase 50% inferior aos dados observados para o emprego ao longo do primeiro semestre de 2011.

A conclusão a se tirar é que a economia ainda cresce, mas a uma passada perigosamente mais lenta do que o ritmo observado nos anos anteriores e mais devagar do que o previsto pelo próprio governo.

O equívoco das medidas conservadoras do governo
O cardápio de medidas apresentadas e adotadas pela equipe de Dilma até o momento, no entanto, tem sido muito influenciado pela orientação do conservadorismo.

Em um quadro sensível como esse que vivemos, o governo tenta se vangloriar com um discurso que clama pela austeridade fiscal, que propõe cortes nas despesas públicas, que generaliza a concessão de isenções tributárias ao grande capital, que se orgulha pela geração de superávit primário e que tem provocado a elevação da SELIC durante as últimas 3 reuniões consecutivas do Comitê de Política Monetária (COPOM).

Ora, elas são o tipo de medida que incentiva a paralisia e não a busca do salto para frente, a saída para a crise.

A pretexto de tentar se sair bem na foto e demonstrar uma suposta “seriedade” na condução da política econômica, o que se consegue é promover a aproximação do Brasil às zonas perigosas da retração do nível de atividade.

Porém, os setores ligados aos interesses do capital financeiro não se dão jamais por satisfeitos. Insistem, persistem e repetem “ad nauseam” suas formuletas, supostamente as únicas eficientes para assegurar o equilíbrio macroeconômico.

O mais interessante é que seu raciocínio sempre termina com a exigência pura e simples de uma elevação da taxa de juros. E ponto final!

Em conjunturas passadas, por exemplo, o argumento esgrimado para que Henrique Meirelles mantivesse a SELIC na estratosfera se ancorava na suposta necessidade de oferecer alta rentabilidade ao capital especulativo internacional e assegurar um fluxo de ingresso de recursos externos em direção às nossas praias.

Já nos tempos mais recentes, o argumento utilizado para pressionar por novos aumentos da taxa oficial a cada nova reunião periódica do COPOM tem sido o eterno risco de retorno da inflação.

A manutenção do “tripé” e os juros elevados

Toda a ação no campo da economia está orientada pelo paradigma do famoso “tripé da política econômica”, em vigência desde a edição do Plano Real em 1994.

Criado para tentar por fim à espiral inflacionária que assolava o Brasil há muito tempo, o modelo pressupunha:
a) meta anual de inflação a ser cumprida pelo governo, com um índice como centro (atualmente fixada em 4,5% ao ano) e uma diferença de 2% para cima e para baixo;
b) geração de superávit primário para pagamento de juros e serviços da dívida pública;
c) liberdade de fluxo de capitais externos e na formação da taxa de câmbio.

A variável sobre a qual o governo menos tem capacidade de influenciar é o ritmo de crescimento dos preços.

Os modelos de macroeconomia que embasam esse tipo de ajuste encaram a inflação como sendo um problema de descompasso entre oferta e demanda de bens e serviços no conjunto da sociedade.

Em razão da livre ação das forças no mercado, um determinado volume de demanda agregada maior do que a oferta agregada pode significar fator de desequilíbrio.

Em tais circunstâncias, esse fenômeno tende a provocar preços mais altos nos mercados de bens e serviços, em comparação ao que seriam em situação de suposto equilíbrio.

De acordo com esse raciocínio, caberia à política monetária entrar em ação com o intuito de retirar recursos dessa pressão da demanda sobre a oferta. Esse seria o caminho para reequilibrar os preços de uma forma geral e evitar a inflação. E aqui entra o pulo do gato da política monetária contracionista.

A hipótese subjacente é que a elevação dos juros operaria como atrativo para parcela desses recursos da demanda, que deixariam de se dirigir ao consumo de bens e serviços e seriam reorientados à poupança, em busca da maior rentabilidade oferecida pelos títulos no mercado financeiro.

Como se pode perceber, trata-se de um mundo completamente idealizado, bastante distante da realidade concreta vivida pela maioria da população de um país chamado Brasil no ano de 2013.

As pressões inflacionárias mais recentes não serão resolvidas apenas pelo fato do COPOM aumentar a SELIC, pois a maior parte da pressão sobre a demanda vem de setores que nem tem essa capacidade toda de poupança e muito menos que deixariam de consumir para aplicar seus recursos em títulos oferecidos pelas instituições financeiras.

É o caso típico da tão famosa “inflação do tomate” de alguns meses atrás. Os preços recuaram pela dinâmica cíclica da produção e oferta de determinados alimentos.

O “esquecimento” de uma alternativa: depósito compulsório

Mas então, vá lá, sejamos generosos e vamos conceder um crédito a essa hipótese equivocada - que o problema seja realmente o excesso de demanda agregada e que ela deva mesmo ser reduzida.

Nesse caso, qualquer manual básico de macroeconomia tradicional oferece uma alternativa à elevação da taxa de juros para se obter o mesmo resultado de redução da pressão da demanda sobre a oferta.

Trata-se do aumento da alíquota do depósito compulsório.

O interessante é que nenhum desses sábios do financismo - que enchem a boca para defender maior rigidez na condução da política monetária – menciona essa alternativa a ser utilizada pelo governo.

O depósito compulsório é um instrumento já existente na regulamentação de nosso sistema financeiro e prevê que os bancos sejam obrigados recolher junto ao Banco Central um percentual de todos os seus depósitos.

A ideia é evitar que os bancos emprestem a terceiros um volume muito grande dos recursos que ali são depositados.

Esse mecanismo de controle sobre a chamada “criação monetária” pelo sistema bancário permite, assim, atuar sobre a quantidade de recursos que são canalizados para consumo. Com isso, tem-se uma redução da massa monetária disponível para a demanda agregada.

Atualmente, por exemplo, a alíquota de recolhimento compulsório sobre os depósitos à vista nas instituições financeiras é de 44%. Em outros tempos, já foi bem maior.

No primeiro semestre de 2003, por exemplo, estava em 60%. Em 1999, oscilou entre 65% e 75%. Ou seja, há espaço para uma eventual mudança.

Assim, se o governo pretende realmente “enxugar a liquidez”, como se diz no jargão do economês, ele pode aumentar o nível do depósito compulsório, ao invés de continuar elevando a taxa oficial de juros. O efeito sobre a redução da demanda agregada será no mesmo sentido.

E a maior parte da sociedade ficará agradecida, uma vez que não haverá o enorme impacto negativo sobre as despesas financeiras do orçamento do Estado.

Resta saber se há disposição da equipe de Dilma em contrariar os interesses da banca e liberar recursos para despesa orçamentária nas áreas sociais e não para gastos parasitas com o financismo.

(*) Paulo Kliass é Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal e doutor em Economia pela Universidade de Paris 10.

Fonte:
http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=6210

domingo, 28 de julho de 2013

A Amazônia pode mesmo virar cerrado?

27/07/2013 - extraído do site Saber Global

Segundo especialistas, a maior floresta tropical é capaz de resistir com bravura às mudanças climáticas. A questão é até quando?

As teorias sobre os feitos das mudanças climáticas e o aquecimento global na Amazônia são muitas.

Em 2000, o meteorologista Peter Cox lançou um estudo de grande repercussão, que previa que a Amazônia poderia secar até 2050. A possibilidade foi reforçada anos depois por estudos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Ong conservacionista WWF.

Em 2007, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) também considerou que uma área entre 10% e 25% da maior floresta tropical do mundo poderia virar cerrado até 2080.

Segundo Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), membro do IPCC e do Experimento de Larga Escala da Biosfera e Atmosfera da Amazônia (LBA), o primeiro estudo de Peter Cox baseou suas previsões em um único modelo climático que, se considerasse a taxa de precipitação da Amazônia atual, chegaria a um índice 30% abaixo do real.

“Se você propaga essa diferença para um aumento de temperatura de 3 a 4 graus nos próximos 50 anos, você não precisa nem ser modelador climático pra prever o resultado: a floresta morre”, afirma o cientista.

Floresta é mais resistente do que se esperava

Em fevereiro deste ano, outro estudo publicado pela Nature, assinado pelo próprio Peter Cox e por cientistas como o espanhol José Marengo, pesquisador do Inpe, trouxe a tona uma teoria conhecida como “Resilience” (“resiliência”, no português).

A pesquisa se baseia em 17 modelos climáticos e explica que os danos originados pelo aumento de CO2 na atmosfera – causado pelo desmatamento e queima de combustível de fósseis – serão minimizados pelo poder fertilizante do dióxido de carbono nas plantas.

Artaxo explica que a Amazônia atua hoje como um sumidouro de CO2 e absorve cerca de 0,9 toneladas de carbono por hectare ao ano.

Não quer dizer que a floresta está imune. O grande risco estudado pelos especialistas é que com as mudanças climáticas e a seca, as plantas entrem em estresse hídrico, deixem de fazer fotossíntese e percam biomassa, liberando carbono. Isso, além de causar um enorme dano à camada de ozônio, faria com que a floresta secasse.

O LBA, durante oito anos, realizou experimentos de exclusão de chuva nas regiões de Caxiuanã e Santarém, na floresta amazônica. Imensos painéis de plásticos foram colocados sobre as copas das árvores para coletar a água que cairia no ecossistema.

A descoberta foi que as florestas dessas regiões são resistentes a uma seca sazonal por um ou dois anos, mas começam a morrer depois de quatro anos.

Elas tem uma resistência natural. Conforme tem uma seca, a planta aprofunda suas raízes e tira água de lugares profundos, mas tem um limite pra elas fazerem isso”, afirma o físico.

E quando chega ao seu limite, a floresta começa a perder biomassa. Isso também pode ser comprovado nas secas de 2005 e 2010, onde houve redução significativa na absorção de carbono pelas plantas, o que prejudica seu crescimento. Pior, com a morte das árvores, além de se reduzir a absorção de CO2, uma quantidade extra do gás é liberada na atmosfera pela decomposição.

Até quando a floresta aguenta?

O que a teoria da resiliência vem mostrar é que, ainda que os efeitos nocivos das mudanças climáticas levem à liberação de bilhões de toneladas de carbono acumulados em terras tropicais, o dióxido de carbono estimularia o crescimento da floresta, levando a um aumento de até 319 bilhões de toneladas de carbono armazenado até o fim do século. Ou seja, as plantas continuariam acumulando CO2.

O pesquisador José Marengo explica que, dessa maneira, mesmo que a floresta fosse afetada, ela não entraria em colapso a ponto de secar. “Há possibilidades dela se transformar em outro tipo de vegetação”, explica.

Mas o cientista deixa claro que a fertilização por CO2 tem limites.

“A partir de um certo ponto, o CO2 não ajuda mais no crescimento da floresta”, explica.

Por isso, o que pode acontecer depois que o nível de dióxido de carbono chegar à sua saturação, ainda é imprevisível. O estudo se baseia em modelos climáticos com cenários até 2100.

Além disso, o estudo tem outras ressalvas. Marengo explica que a pesquisa não levou em conta outros gases do efeito estufa – como o metano -, e a capacidade de absorção de nutrientes do solo pelas plantas, um fator primordial para o crescimento da floresta.

O pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) Paulo Brando também aponta algumas incertezas

Mesmo com o aumento na concentração de CO2 na atmosfera, o crescimento que árvores pode ser restringido por outros nutrientes, principalmente o fósforo, que é escasso nos trópicos”, alerta. Segundo ele, estudos mostraram que o nitrogênio teve esse efeito em florestas temperadas, e o composto é abundante em florestas tropicais.

Ele também conta que não há estudos sobre os efeitos de fertilização de CO2 na dinâmica de florestas tropicais, e que todo o conhecimento sobre esse assunto vem de experimentos teóricos ou realizados em laboratórios.

Os resultados da pesquisa devem ser interpretados como hipóteses interessantes e importantes, mas que devem ser testadas com a utilização de diferentes técnicas”, ressalta.

Exame.com

Fonte:
http://saberglobal.com.br/?p=1494

Nota da editora do Blog: Segundo alguns cientistas, o IPCC manipula dados dos países em desenvolvimento para impor políticas ambientais de interesse dos países hegemônicos. Além disso, o nosso grande geógrafo Aziz Ab'Saber  não concordava com essas análises. Certa vez,ele me disse em uma entrevista que a Amazônia já teve uma vegetação de savanas. Argumentava que para a manutenção da Amazônia era fundamental a preservação do biodiversidade, incluindo a cultura dos povos originários. Por isso, defendia um Código da Biodiversidade e não apenas um Código Florestal como tínhamos.

sábado, 27 de julho de 2013

Marina Silva é lobo em pele de cordeiro



Quem diria, hein?!
Que Marina Silva tá longe de ser santa (por mais evangélica que seja) toda a Rede de brasileiros sabe. Mas o que descobrimos vai além!
Em cooperação com nosso departamento investigativo, o ex-agente-da-CIA-agora-foragido-e-perseguido-dedo-duro-X9-procurando-asilo-até-no-Acre Eduardo Snowden ligou alguns pontos e nos ajudou a descobrir ligações que podem passar despercebidas à maioria dos brasileiros. É bom lembrar dessa imagem quando formos às urnas.
Natura, BS Colway, WiseUp, Abril e agora, por mais que seja contra doação de campanha por bancários, até Neca Setúbal (neta do fundador do Itaú)? Parecem posições contraditórias ao discurso pregado. Quem te viu, quem te vê, hein Marina Silva?








Veja a manifestação contra a Natura

sexta-feira, 26 de julho de 2013

OS DEUSES DO FUTEBOL



Laerte Braga


O futebol é mágico, tem deuses próprios. Mortais ,Morreu, por exemplo, Djalma Santos, o maior lateral direito da história de nosso futebol e um dos maiores da história do futebol e o Atlético Mineiro conquistou a Taça Libertadores da América nas mãos do técnico Cuca.

É preciso chamar Celso Barros, o homem da UNIMED no Fluminense e apresentá-lo a realidade, maior que a pretensão. Dispensou Cuca que havia salvo o clube do rebaixamento e chamou outro pretencioso, Muricy, para conquistar a Libertadores Muricy saiu falando de ratos no vestiário do tricolor.

Heleno de Freitas, numa partida do Botafogo,irritou-se quando o companheiro não aproveitou um dos seus passes geniais. Mostrou a camisa, a sua era de seda e disse – “jogamos no mesmo time”. Terminou no campo de concentração de Barbacena, durante algum tempo chamado de hospício.

Foi um deus irado.
“Deem-me Zizinho e serei campeão”. Frase de Bela Gutman aos diretores do São Paulo quando chamado a trabalhar no clube. Zizinho foi para o tricolor paulista e Bela Gutman cumpriu a palavra, 1957. Em anos antes Gentill Cardoso havia dito aos diretores do Fluminense a mesma coisa só que em relação a Ademir Menezes, outro deus do futebol.
O São Paulo repetiu o fato anos mais tarde com Gérson e depois com Pedro Rocha.

Os dois últimos jogadores capazes de integrarem esse Olimpo foram Romário e Ronaldo o Fenômeno. Zico era um craque,,mas a mídia o transformou num deus sem condições para isso, no máximo semi-deus.
Pelé perdeu a condição de Zeus depois que abriu a boca. Segundo Romário foi o maior jogador de futebol do mundo, mas mudo seria um gênio absoluto..Tem o defeito de falar bobagens o tempo inteiro e servir aos seus senhores.

Didi  um dos que se assentam no trono de Zeus foi explicar a Feola e Carlos Nascimento em 1958 que não ganharíamos a Copa sem Garrincha, Pelé e Zito. Não estava criticando a Joel, ou a Dida ou a Dino Sani. Foi o contrário, perguntou a Feola e Nascimento se já haviam vistos os globe trotters jogarem basquete. E explicou que Dino era globe trotter, mas se esquecia que o gol era o objetivo.
Em 1958 deixamos aqui Maurinho, superior a Joel. Canhoteiro.

nhoteiro, superior a É  Pepe e Zagalo e Julinho e Evaristo Macedo porque jogavam-no futebol estrangeiro. Ou Gino, centro-avante do São Paulo e bem melhor que Mazzola
Vem cá Celso de Barros, lembra-se desse rapaz? É o Cuca, campeão da Libertadores da América.

Lembra-se dessa arrogância? É o Muricy, invenção de Rogério Ceni para derrubar Paulo Autuori no seu mau caratismo já denunciado pela mulher de um jogador.

Mané Garrincha, talvez o deus dos deuses. Comprou um rádio de pilhas na Suécia e deu de presente a Newton Santos, o maior lateral esquerdo do mundo em todos os tempos. “Quero isso não, só fala em sueco”

Na Copa de 70 Jairzinho inventou essa mania de entrar no meio da barreira adversária e Rivelino fez a bola passar por ali, Jair caiu propositadamente na hora do chute. Rivelino assenta-se no trono de Zeus. Era um fenômeno quase no nível de Pelé e Maradona ou Messi, hoje.

Nem falo de Di Stéfano ou Puskas, para ficar só nos brasileiros. Ou Néstor Rossi quando lhe perguntaram como fazia para jogar daquele jeito – “toco e me voy”.

Quero saber onde está Amarildo, o da Rocinha, nunca joguem com o time da PM, nem a guisa de treino. É a velha cavalaria de Átila, “por onde passa não medra grama”. Só coquetel Molotov.

E cuidado com Brilhante Ulstra. Joga com pau de arara, choque elétrico, bastões de basebol e tem mania de ser “patriota”, o “último refugio dos canalhas” na opinião de Samuel Johnson.

Zizinho assenta-se no trono de Zeus como um dos maiores. Gérson também. O drible formidável de Clodoaldo em quatro adversários lhe vale um trono e pena que Pagão tenha morrido cedo, mas foi para o Olimpo.

A vitória do Atlético, mesmo nos pênaltis, como diria Nélson Rodrigues estava escrita há mil anos. O gol aos 41 minutos explica isso.

E há um trono especial para Leônidas da Silva, o Diamante Negro.

Há muito mais tronos, mas gastaríamos um dia inteiro para relacioná-los.

O drible de corpo de Tostão nos ingleses. A jogada de Pelé que não entrou sobre o goleiro do Uruguai e o fantástico gol contra o País de Gales em 1958.

Tim, mais tarde técnico, segundo os especialistas da época, passava meses sem errar um passe.

E Castilho. Reserva de Veludo no Fluminense e titular da seleção brasileira com Veludo na reserva. Mais tarde passaram a fazer revezamento.
Era assombroso como goleiro.

E hoje a mídia rotula de craque qualquer perna de pau que faz um gol diferente,

É lógico, o futebol evoluiu, a questão do condicionamento físico, mas duvido que esses supermans segurassem Garrincha ou um passe de Didi, de Zizinho, de Gérson ou de Rivelino
.
Nem vou falar de Drceu Lopes. Deixa para lá, quero saber onde está o Amarildo e fora Cabral, o homem do novo AI-5.
Cabral não tem trono, tem cela.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Pesquisador alemão diz que discurso sobre fim da vida na Terra é mentiroso

Heloisa Cristaldo

Enviada Especial da Agência Brasil/EBC

Recife – Há 350 milhões de anos o planeta Terra enfrentava mudanças climáticas semelhantes às vividas atualmente, disse hoje (23) o pesquisador alemão Ulrich Glasmacher, da Universidade de Heidelberg. “[Mudanças climáticas] não são fenômenos novos na história. No passado, há 350 milhões de anos tivemos os mesmos problemas de hoje. Estamos no mesmo ponto daquela época”, explicou durante palestra na 65ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Segundo o pesquisador, a temperatura do planeta não está aumentando se comparada com a de outros períodos, mas oscilando. “As temperaturas estão flutuando – sobem e descem – neste momento que vivemos. Mas estamos muito influenciados pela mídia e diretamente pensamos em efeito estufa [como causa de aumento]”.

Glasmacher explica que o efeito estufa é agravado por poluição humana, mas um fenômeno antigo da própria natureza do universo. A energia irradiada pelo Sol é modificada ao chegar à atmosfera. As novas moléculas reagem se transformando em gás carbônico, metano e dióxido de nitrogênio – os principais gases que causam o efeito estufa.

“O gás metano tem os efeitos mais catastróficos, mas sobrevive menos tempo na atmosfera. O gás carbônico sobrevive mais, por esse motivo é que ouvimos falar mais a respeito dele. Outro processo importante e bem conhecido é que parte dessas partículas é desviada pelas nuvens [antes de chegar à superfície da Terra]”, explica.

Naquele período, segundo o pesquisador, dinossauros e vulcões foram responsáveis pela alta concentração de gases na atmosfera. “Existe uma teoria de que os dinossauros produziam gás metano com sua alimentação e a emissão era em níveis tão altos quanto acontece hoje. Os vulcões, mesmo fora de atividade, liberam volumes enormes de gás carbônico. No entanto, os dinossauros não foram extintos do nosso planeta por causa dos gases, mas devido a queda de um enorme meteorito na Terra”.

De acordo com Glasmacher, há 100 milhões de anos havia um clima completamente diferente na Terra. A hipótese do pesquisador é que o planeta era coberto por neve, “um bolo de gelo, com clima muito frio”.

“Há 60 milhões de anos, o Brasil, ainda unido com parte da África, também estava coberto por uma camada de gelo. As florestas substituíram o gelo e originaram depósitos de carvão. Há jazidas de carvão nos dois países com a mesma idade”.

Glasmacher aponta que fósseis e sedimentos rochosos mostram como era o clima no planeta há milhões de anos e que, em geral, períodos muito quentes são precedidos por época muito frias.

“A África Oriental era uma floresta úmida e se transformou em savana. Nesse período o homem aprendeu a se adaptar e criar instrumentos. O ser humano aprendeu que se bater na noz, ela vai se abrir. Em pouco tempo foi possível reagir a mudanças do ambiente”.

Nos anos 900 a 1000, segundo o pesquisador, os vikings navegavam a parte norte do Oceano Atlântico e por toda Groenlândia – ainda sem cobertura de gelo. “Parece que eles gostavam disso. Os vikings achavam muito bom o período quente e produziam vinho em locais que hoje são congelados”.

“Precisamos pensar também que até agora somos os únicos no universo. Não sabemos e nem temos ferramentas para saber se existem vidas como a nossa em outros planetas. Mas, mesmo sem o homem, a vida na Terra vai continuar em qualquer circunstância. Falar em cenário fatal para o planeta é mentiroso, só serve para gerar medo”, conclui.


Publicado originalmente no site Agência Brasil - Edição: Beto Coura
http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-07-23/pesquisador-alemao-diz-que-discurso-sobre-fim-da-vida-na-terra-e-mentiroso

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Afastamento dos réus do "mensalão" é ato de covardia

19/07/2013 - Por Breno Altman, especial para o Brasil 247

Em análise exclusiva para o 247, o jornalista Breno Altman comenta a decisão da corrente Construindo um Novo Brasil de excluir da relação de candidatos para a direção nacional do PT os nomes de José Dirceu, José Genoino e João Paulo Cunha.

"O mínimo que se pode exigir na política é coerência.

Se o comando petista considerou o julgamento da ação penal 470 um ato de exceção, a revelia das provas e das normas constitucionais, não passa de covardia o afastamento de dirigentes históricos que foram vítimas dessa eventual fraude jurídica.

Um partido não pode temer o combate pelo que acha justo e certo"

argumenta Altman, que vê "bomba de efeito moral" no partido.

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A decisão da corrente “Construindo um Novo Brasil”, principal tendência interna do PT, excluindo José Dirceu, José Genoíno e João Paulo Cunha de sua relação de candidatos para a próxima direção nacional, representa bomba de efeito imoral.

De joelhos diante da pressão exercida pela mídia tradicional e os setores conservadores.

O mínimo que se pode exigir na política é coerência. Se o comando petista considerou o julgamento da ação penal 470 um ato de exceção, a revelia das provas e das normas constitucionais, não passa de covardia o afastamento de dirigentes históricos que foram vítimas dessa eventual fraude jurídica. Um partido não pode temer o combate pelo que acha justo e certo.

Os três réus estão sendo sancionados pelo grupo majoritário antes até que seu processo transite em julgado. A decisão é de rara ignominia.

Possivelmente apavorada por pesquisas, a direção dessa corrente capitula diante dos que trataram de manipular fatos e denúncias para desmoralizar o PT. Ilude-se quem considerar que esse gesto pusilânime saciará a fome dos lobos.

A exclusão dos condenados levará sorrisos aos lábios das correntes mais reacionárias e desânimo às fileiras de esquerda. Há mais de quarenta anos, por todas as formas e meios, a direita pátria busca atirar Dirceu e Genoíno ao ostracismo.


Representantes de primeira linha da geração que combateu a ditadura e construiu o PT, são levados ao altar do sacrifício por alguns de seus próprios companheiros. Está se abrindo uma página indigna na esquerda brasileira.

Não se trata apenas ou principalmente de uma questão ética. Pior que um crime, é um erro.

Não há como o PT fugir de enfrentar a polêmica suscitada pelo chamado “mensalão”, a não ser que seus dirigentes assumam a versão de seus adversários como verdadeira.

Até que esta artimanha esteja desmontada junto à opinião pública, dure o tempo que durar, o partido terá que dar batalha contra a narrativa conservadora.

E só o fará se tiver postura solidária, altiva e corajosa.

Há quem alegue que os estatutos obrigam o afastamento de quem tenha sido condenado pela Justiça. Mas essa cláusula deveria ter validade para um processo considerado arbitrário e ilegítimo?

Além do mais, o parágrafo XII do artigo 231 atribui essa punição para casos de sentença definitiva.

Adotada antes de deliberação sobre embargos infringentes e declaratórios, a opção da chapa Construindo um Novo Brasil é ainda mais ultrajante.

Por fim, qual mensagem passa uma corrente que mantém entre seus candidatos uma figura como Paulo Bernardo, alinhado aos monopólios da mídia e empresas de telecomunicações, e afasta José Dirceu, o mais importante dirigente da história do PT?

Não é uma ironia que seja preservado personagem que se abraça à direita e sacrificado o principal inimigo do reacionarismo?

Um partido que trilha o caminho da concessão e da genuflexão estará sempre diante do perigo de virar navio-fantasma, desprovido de valores e compromissos que lhe deram vida e lugar na história.

Breno Altman é diretor editorial do site Opera Mundi e da revista Samuel

Fonte:
http://www.brasil247.com/pt/247/poder/109071/Altman-afastamento-de-r%C3%A9us-do-mensal%C3%A3o-%C3%A9-ato-de-covardia.htm

terça-feira, 23 de julho de 2013

Papa Francisco deve anunciar "evangelho social" no Brasil



Em Roma, há dez dias, o círculo próximo ao Papa falava de uma “mensagem revolucionária”. É preciso esperar para ver e ouvir. Desde o compromisso de forjar “uma igreja pobre para os pobres”, Francisco foi despindo a figura papal de toda a roupagem monárquica, que a colocava acima dos fieis. Chegou o “momento da renovação”, como dizem os jovens que chegam ao Rio. Esta renovação tem um nome que contrasta com os últimos 35 anos de política vaticana: o “evangelho social”.

Por Eduardo Febbro. - Carta Maior


Rio de Janeiro – Uma maré de algazarra, juvenil, explosiva em sua manifestação de alegria, com violões, cantos e mochilas às vezes maiores do que os corpos que as suportam. O aeroporto do Rio de Janeiro é um desfile interminável de jovens que chegam do mundo inteiro, enrolados em bandeiras e em abraços, cantando a fé só com a voz ou com violões. A hora é, ao mesmo tempo, grave e imensamente festiva. As jornadas mundiais da juventude que começam esta semana no Brasil fixarão o rumo oficial da mensagem que o Papa Francisco apresentará em sua primeira viagem internacional. Um momento que soa como um modelo de seu nascente papado.

Ficaram para trás as disputas orquestradas por João Paulo Segundo contra a Teologia da Libertação, os padres pedófilos, a corrupção no Banco do Vaticano, o IOR. Chegou o “momento da renovação”, como dizem os jovens que chegam ao Rio. Esta renovação tem um nome que contrasta com os últimos 35 anos de política vaticana: o “evangelho social”. A palavra “social” é já todo um desafio que prolonga a ruptura que Bergoglio encarnou na noite em que, após o Conclave tê-lo escolhido Papa, apareceu em uma janela da Praça de São Pedro e pronunciou a palavra “povo”.

Em Roma, há dez dias, o círculo próximo ao Papa falava de uma “mensagem revolucionária”. É preciso esperar para ver e ouvir. Desde o compromisso de forjar “uma igreja pobre para os pobres”, Francisco foi despindo a figura papal de toda a roupagem monárquica, que a colocava acima dos fieis. Há uma grande preocupação com a comunicação, inclusive com detalhes que assombram. A Santa Sé lançou um novo semanário para amplificar a mensagem papal: Credere. A publicidade diz: “o novo semanário que fará você viver a fé com alegria”. À esquerda, na capa, um retângulo diz: “a revista da Igreja de Francisco”.

Essa é a Igreja que Francisco apresentará no mais importante país católico do mundo, Bergoglio visitará os pobres de uma favela, doentes em um hospital, receberá presos, peregrinará ao santuário de Aparecida e, sobretudo, se encontrará com jovens de todo o mundo no que pode ser chamado de “Woodstock católico”. Sua viagem vem precedida por uma série de pronunciamentos que romperam com o conformismo vaticanista. Nas últimas semanas, Bergoglio denunciou a “tirania do dinheiro”, o “capitalismo selvagem” e a “globalização da indiferença”.

“Nos encontramos enfim com alguém que vê o mundo tal como é, com os mesmos olhos que o vemos e sofremos”, diz Angélica, uma espanhola de 19 anos, recém chegada ao Rio, vinda de Valência com centenas de outros espanhóis. Um dos vaticanistas mais célebres, Marco Politi, disse que o Papa, “no Brasil, dará continuidade, aprofundará e esclarecerá seu Evangelho social. Desde que foi eleito denuncia as novas formas de escravidão, a exploração, a desigualdade, a irresponsabilidade de algumas forças sociais”.

A história também parece correr na direção de Francisco. O Papa chega a um Brasil convulsionado pela revolta social, com demandas de justiça social, contra a corrupção, a favor da renovação de um sistema político gangrenado pelo clientelismo e pela corrupção. Francisco já havia escrito o discurso central que vai pronunciar no Brasil durante as Jornadas Mundiais da Juventude, mas, à luz dos protestos, o modificou. O arcebispo do Rio de Janeiro, Orani João Tempesta, responsável pela organização da Jornada Mundial da Juventude, viajou a Roma para se encontrar com Bergoglio. Depois, o seguiu o cardeal arcebispo emérito de São Paulo, Claudio Hummes, um homem de posições sociais conhecidas por ter aberto as portas de sua igreja a trabalhadores em greve.

O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal Raymundo Damasceno, também se reuniu com o Papa em Roma. Este encontro é muito importante na definição do pronunciamento de Bergoglio, uma vez que foi precedido por uma reunião da CNBB. Realizada quase no final de junho, a reunião terminou com a redação de um documento no qual a entidade manifesta “nossa solidariedade e apoio aos manifestantes”. O texto traz um apoio total aos protestos. Um de seus parágrafos diz que os gritos contra a corrupção, a impunidade e falta de transparência (...) fazem renascer a esperança”.

É a esse mundo que chega Francisco. Um cenário ideal que as autoridades do país temem que sirva de novo elemento detonador ao que já está latente há semanas. O Papa Francisco não gosta dos esquemas de segurança e os responsáveis por protegê-lo durante as Jornadas Mundiais da Juventude não gostam da possibilidade de a chegada do papa renovar os protestos contra o sistema político. O Brasil aumento de 11 mil para 14 mil o número de efetivos das forças de segurança encarregados de garantir a segurança de Francisco. A perspectiva de uma “revolução cidadã” durante a visita de Bergoglio levou as autoridades brasileiras a propor uma série de mudanças na agenda papal, mas o Vaticano rejeitou-as. “Não haverá mudanças de programa”, disse em Roma Federico Lombardi, o porta-voz do Papa.

No entanto, as autoridades do Brasil queriam modificar um monte de coisas. O Brasil argumenta que se descobriram “indícios” de que grupos opositores preparavam uma contraofensiva aproveitando a chegada de Bergoglio. O mais perigoso era o encontro de Francisco com a presidenta Dilma Rousseff, com o governador do Rio, Sérgio Cabral, e com Eduardo Paes, o prefeito da cidade. Esse ato deve ocorrer no Palácio da Guanabara, sede do governo do Estado do Rio. Mas como há uma manifestação programada contra o governador e o prefeito, as autoridades propuseram realizar o encontro em outro lugar. O Vaticano disse que não. Mais ainda, as declarações dos responsáveis que se reuniram com Francisco em Roma mostram que a Santa Sé está com os manifestantes. Após seu regresso de Roma, o cardeal Claudio Hummes disse: “a mensagem de Cristo está em sintonia com essas reivindicações do povo”.

Será preciso esperar para ver e ouvir. Francisco se negou a utilizar o papamóvel blindado. Ele se deslocará no mesmo jeep aberto com o qual circula em Roma. Ao pedido do Papa, tampouco haverá em seu lado “homens armados com fuzis”. O Papa, dizem em Roma, não tem medo das manifestações: “elas não são contra o Papa, mas sim contra os políticos”, diz o Vaticano. Se a promessa se confirmar, haverá no Brasil um encontro entre dois mundos: o do evangelho liberal que tudo corrompe e destrói, o planeta e os seres humanos, e o que Francisco traz em sua mensagem: o “evangelho social” do cristianismo.

Primeiro ato de um pontificado que, em seus primeiros passos, expôs a escandalosa e soja trama de corrupção e lutas pelo poder que o predecessor de Francisco, Bento XVI, não pode desarmar. Isso o levou a renúncia. Evangelho Social, Teologia da Libertação, segundo vários vaticanistas ambas têm encontro marcado esta semana no Brasil em uma espécie de reconciliação misteriosa.

O vaticanista Marco Politi alega que “Francisco é um fruto inesperado da Teologia da Libertação porque é um representante da chamada Teologia Popular, que não é marxista nem politizada”, mas que denuncia com força os horrores da miséria, da desigualdade e seus mecanismos econômicos. O combate que João Paulo II travou contra essa corrente deixou muitas vítimas, pactos com as ditaduras, corrupção, uma espécie de monstro que seguiu vivo muito depois da morte do papa polaco. Por esse abismo se foi Bento XVI. Do mesmo abismo chega Bergoglio. A chamada “igreja de Francisco se constrói sobre uma montanha de cinzas ainda fumegantes”.

Tradução: Katarina Peixoto

Fonte: Carta Maior
Leia também: A segunda comunhão de Dilma
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=22397


segunda-feira, 22 de julho de 2013

Das manifestações de rua, o que menos se salva é o Brasil


Não se tem claramente a quem interessam as manifestações. O roteiro ainda é confuso. Quando tudo parecia se encaminhar para o civismo empulhador, igual ao de 64, eis que a mídia hegemônica entrou também no repertório das vaias, dos xingamentos e até das pedradas.

Enio Squeff* - Carta Maior
   
Uma questão que quase ninguém sabe responder refere-se ao futuro das manifestações no Brasil. Na França revolucionária do princípio do século XIX, um jovem capitão, instado pelas autoridades do Diretório a fazer cessar os motins de rua ( que tinham dado na queda da Bastilha), usou o método que lhe parecia mais consentâneo com o momento que ele encarava como uma guerra. Foi assim, com canhões, sua arma preferida, que Napoleão Bonaparte começou a sua ascensão vertiginosa rumo ao poder na França. Os canhonaços que pegaram a turba desprevenida, nas então estreitas ruas de Paris, causaram dezenas de mortos entre os revoltosos, mas a nova ordem burguesa estava começando a ser, por fim, solidificada na França.

No Brasil, felizmente, não se cogitam em canhões, mas o encanto da grande imprensa com as "ações cívicas" (sic) das manifestações começa cada vez mais a ceder ao temor. Já agora as sagradas propriedades privadas estão sendo atingidas. E os embuçados, apesar dos disfarces, parecem não esconder a sua origem; não são mais os bem comportados jovens de classe média. Muitos certamente provêm dos morros e das periferias das grandes cidades. Este o perigo inadivinhado.

Em princípio, a ameaça parece ainda informe. Protesta-se contra o Estado, sob a forma, por enquanto escamoteada, de ataques aos governos, mas os alvos tanto podem ser uma câmara dos vereadores, como a de Porto Alegre, ocupada até bem pouco durante oito dias por manifestantes, quanto a casa do governador do Rio, assediada por populares. Em teoria, na visão dos editores da grande imprensa, seriam protestos contra a situação - notadamente os políticos do PT, do PMDB e do PDT; mas as depredações não têm se mantido no estrito cerco ao Estado. De passagem para uma ou outra instituição estatal, alguns manifestantes devidamente encapuzados, tidos agora como "arruaceiros", atacam bancos, butiques, casas de comércio - não exatamente em conformidade com a propalada "festa cívica"que a mídia flagrou - e consagrou - no início das manifestações. Aliás, atacar a casa do governador do Rio, e não o palácio, individualiza a questão ao linchamento público. Supondo-se que o sr. Sérgio Cabral não tivesse sido eleito, mesmo assim seu afastamento físico do governo, a bordoadas, não deixaria de ser uma violência inaceitável.

Que fazer? A esta pergunta que Lênin tomou de empréstimo do livro de Tchernichevsky, os políticos e analista, ou evitam responder - por temerem seu próprio temor; ou muitos vaticinam um movimento revolucionário, por enquanto difuso, mas com amplas possibilidades de se espraiarem de Norte a Sul, de Leste e Oeste, num país continental, paradoxalmente unificado, do Oiapoque ao Chuí, na ânsia de modificar algumas coisas. Manifestações que, entrementes, não parecem ceder às palavras de Lampedusa - de que alguma coisa deve mudar para que tudo permaneça como está.

O medo generalizado, de qualquer modo, parece se centrar no fato de que a canção de protesto de Vinícius de Moraes e Antônio Carlos Jobim, que cantavam há mais de 50 anos, que "o morro não tem vez que o que ele fez já é demais" dê-se, por fim, como profetizava a canção de que "se derem vez ao morro, toda a cidade vai cantar". Não é bem de canto que se trata, como se sabe. E a ameaça surpreendente parece ser de que a "vez do morro" , ou das periferias, se alastre não como prova de que as massas não tem vez, mas de que, ao lhes ser dado um pouco, como aconteceu nos últimos anos, reclamem muito mais, como é de seu direito. Foi isso, em síntese, que constatou o presidente Lula em seu artigo no "New York Times". No fundo, porém, a grande questão já não é essa , mas até quando a extensão das manifestações exigirão bem mais do que até agora está sendo prometido. De resto, é a confusão.

Uma reação conservadora, que se estranha e que desnuda o persistente bacharelismo brasileiro, é a defesa inexplicável do mercado de trabalho dos médicos. Ao se colocar contra a contratação de médicos de outros países - especialmente dos cubanos (cujo país detém os melhores índices de saúde do Continente Sul Americano) - muitas entidades médicas, parecem mirar um mercado inexistente: se os jovens médicos, recém formados, não se mostram inclinados a encarar os cafundós do Brasil, a quem a instalação de médicos estrangeiros nesses cafundós irá prejudicar?

Sob este aspecto, os reclamos das ruas formam um compósito difícil de deslindar. Ao jovem Napoleão impunham-se duas opções: ou o morticínio para manter a ordem - que foi o que ele fez e faria muito mais, com toda a Europa - ou guardar-se de não interferir nas manifestações. Agiu como general e futuro Imperador - nem mais nem menos do que à força. No caso brasileiro, além de felizmente, não se terem napoleões à vista, tem-se uma complexidade que atinge a todos, à direita e à esquerda. Os mesmos manifestantes que atiram pedras contra a casa do governador do Rio - inimigo das organizações Globo - mostram-se igualmente dispostos a quebrar a fachada do edifício que abriga a emissora e seu complexo midiático. Ao que fica, todos os protagonistas do Brasil, estão claramente isolados no aproveitamento do clamor das ruas. Se a aprovação da presidenta Dilma despencou ( não é essa a palavra da vez para a mídia hegemônica?), o prestígio dos jornais, revistonas e estações de TV, são "democraticamente" atingidos, quando não com pedras e coquetéis molotov, quase sempre com vaias e xingamentos.

Ou seja, no começo tudo parecia à feição das forças reacionárias do país: a despolitização da política é o melhor que o obscurantismo persegue em todos os tempos, para impor a ordem que só interessa aos ditadores, monopolistas da política. Foi assim em 64: naquele ano fatídico, dizia-se que, por não serem políticos, os militares fariam um governo sem a malfadada política. O que se viu não só foi o pior - de que ainda hoje nos ressentimos - mas o mais pesaroso: a política entrou nos quartéis, sem que saibamos ainda hoje, quem realmente mandou no Brasil a partir de então. Um dado significativo, a propósito, que não mereceu grandes destaques na imprensa, foi a votação do ato de repúdio no Congresso, à espionagem norte-americana. Não por coincidência, os que votaram contra o documento, foram os representantes do agro-negócio e os chamados "Democratas", isto é, a fina flor do reacionarismo e do atraso no Brasil. Notável, porém, foi a recusa do ex-capitão Bolsonaro de assinar o ato de repúdio: como defensor do golpe de 1964, ele deixou claro a quem os militares daqueles tempos prestavam continência. Não era propriamente à bandeira brasileira.

No mais, fica-se no aguardo: não se tem claramente a quem interessam as manifestações. O roteiro ainda é confuso. Quando tudo parecia se encaminhar para o civismo empulhador, igual ao de 64, eis que a mídia hegemônica entrou também no repertório das vaias, dos xingamentos e até das pedradas. Ao contrário do que se pensava, não parece que é só a política brasileira que está no alvo das manifestações de Junho. É o Brasil, como um todo. E aí, hajam analistas e análises para explicar o fenômeno.


Enio Squeff é artista plástico e jornalista.

fonte:http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=6206

domingo, 21 de julho de 2013

REDD+, uma "falsa solução" à ÁFRICA



por Isaiah Esipisu, da IPS*


Nairóbi, Quênia, 18/7/2013 – A iniciativa de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação de Florestas (REDD) parece ser uma estratégia para combater a mudança climática que se ajusta perfeitamente às necessidades da África. Contudo, também recebe muitas críticas. O desmatamento e a agricultura são responsáveis por uma parte significativa das emissões de gases-estufa da África, embora o continente não esteja entre os principais contribuintes para o aquecimento global.

Conservar e inclusive estender a cobertura florestal africana – a bacia do rio Congo contém a segunda maior floresta tropical do mundo – reduziria as emissões, e também absorveria carbono atmosférico. A iniciativa REDD “é muito boa para a África, embora sempre haverá detratores buscando inconvenientes. É especialmente bom para os países onde predomina o miombo” (savana florestada), disse Sharon Kockott, diretora da Conservation Science Africa, uma entidade que trabalha na conservação e recuperação de pradarias comunitárias em Botsuana, Quênia, Zâmbia e Zimbábue.

A REDD propõe estimar quanto carbono está armazenado na vegetação de uma determinada área, e com base nessa estimativa expedir os créditos de carbono necessários para manter e manejar de modo sustentável este elemento que, quando é convertido em dióxido de carbono e liberado na atmosfera, exacerba o aquecimento global.

Kockott afirmou à IPS que proteger as reservas de carbono nas pradarias e no matagal da savana é tão vital para mitigar a mudança climática como proteger as florestas tropicais da bacia do rio Congo. “A teoria que há por trás da REDD diz que uma floresta não existe isoladamente, especialmente as de savana. Pensemos nela como uma represa. A maior parte da água está na parte mais profunda da represa (as maiores reservas de carbono estão nas florestas tropicais equatoriais) e as savanas são como a beira de uma represa: a água mais plana, na realidade, é a que se retira mais rapidamente”, explicou.

No entanto, Nnimmo Bassey, diretor da Fundação pela Saúde da Mãe Terra e integrante da Rede contra a REDD na África, pensa o contrário. “A REDD é uma falsa solução para a mitigação da mudança climática. Quando alguém custodia uma floresta em particular sem oferecer uma solução alternativa, os cortadores mudam para outros lugares, porque a necessidade continua existindo”, disse à IPS. “O efeito é que não se detém o desmatamento. Embora o fazendo em um lugar em particular, não haveria nenhuma garantia de que o faria de modo permanente”, apontou.

A REDD também permite considerar como florestas várias classes de plantações, acrescentou Bassey. “Isso habilita os que veem as árvores como simples sumidouros de carbono a substituir florestas por plantações, dizimando, assim, a biodiversidade, a diversidade cultural e outros usos valiosos das florestas e dos produtos florestais”, advertiu. A REDD pode deslocar comunidades dependentes da floresta das áreas onde são desenvolvidos os projetos, em troca de uma limitada oferta de empregos, como guardas florestais dos próprios recursos florestais que antes desfrutavam.

Foram comprometidos milhares de milhões de dólares para desenvolver, implantar e expandir a REDD, mas, segundo a Atualização de Fundos Climáticos do britânico Instituto de Desenvolvimento em Ultramar, está claro que até agora se gastou uma parte relativamente pequena dessa quantia, especialmente na África. A mitigação da mudança climática exige dados detalhados e precisos, bem como mecanismos de verificação. O desenvolvimento da REDD expõe a falta de capacidade administrativa de instituições locais, nacionais e inclusive internacionais na África.

Os desafios que devem superar programas como a REDD incluem a complexidade de estabelecer níveis de referência, parâmetros como quanto carbono um determinado segmento de floresta retém, e como evoluirá se não mudarem as práticas atuais, para depois criar um projeto que gere melhores resultados. Uma vez que esses parâmetros e projeções estejam estabelecidos, resta o enorme problema de colocá-los diante das realidades e de sua evolução no terreno, em lugares que comumente são de difícil acesso.

A dificuldade de cumprir de forma verossímil estes requisitos determina, de certo modo, que o esquema não esteja incluído nas obrigações formais de diminuir a contaminação climática, e se mantenha entre as opções de um mercado voluntário, no qual as empresas podem adquirir bônus de carbono como parte de suas políticas de responsabilidade social corporativa. Por exemplo, o projeto REDD do corredor Kasigau, no Quênia, vendeu parte de sua primeira partida de 1,45 milhão de unidades voluntárias de carbono (que representam a mesma quantidade de toneladas de carbono sequestrado) ao Nedbank, da África do Sul, como parte da campanha do banco para se colocar na mídia como empresa neutra em matéria de carbono.

“Devido à crise econômica internacional que começou há alguns anos, se destina menos dinheiro aos programas de responsabilidade social”, admitiu Kockott. “As companhias sempre comprarão primeiro créditos de redução de emissões que sirvam para seus projetos obrigatórios antes de pensar nos voluntários”, acrescentou. Os governos africanos trabalham para criar os contextos necessários para se candidatar, receber e administrar fundos da iniciativa REDD.

A República Democrática do Congo conta com uma Coordenação Nacional para a REDD e está implantando um Sistema Nacional de Monitoramento Florestal. O Quênia realiza processos semelhantes e considera a criação de um fundo nacional para absorver financiamento internacional contra a mudança climática, catalisar recursos privados e alinhá-los com as prioridades nacionais. Philip Mrema, encarregado de programas de florestas e mudança climática na Aliança Pan-Africana de Justiça Climática, acredita que a REDD deveria centrar-se nas populações, fortalecer o manejo florestal e ampliar os depósitos de carbono e os benefícios sociais, dessa forma melhorando os meios de vida das pessoas.

Fonte Envolverde/IPS
Inter Press Service - Reportagens
18/7/2013 - 09h37
REDD+, uma “falsa solução” para a África

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