Os 40 anos do assassinato do jornalista Mário Alves (ao lado, em fotografias do acervo do Instituto Mário Alves) serão lembrados em cerimônia realizada no auditório do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ), em parceria com o Instituto Mário Alves, na próxima sexta-feira, 15 de janeiro, às 17h30.
O sindicato fica na Avenida Passos, 34, no centro do Rio. Você está convidado.
Depois da homenagem ao jornalista, através de seus familiares, haverá um breve debate, com a participação do petroleiro, ex-preso político e hoje diretor do Sindipetro-RJ Francisco Soriano, e do representante do Instituto Mário Alves, Antonio Lúcio Soares, além do advogado Modesto da Silveira. O Sindipetro-RJ aguarda a confirmação da presença de um representante da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República.
“Quando a gente quebra o esquecimento, a gente está afirmando que valeu a pena” (Cecília Coimbra)
Parte da sociedade brasileira ainda prefere o esquecimento. Sente-se ameaçada quando se cobra a punição dos torturadores. Mas não será esse silêncio uma forma de cumplicidade com o crime? Calar diante de tais brutalidades não será uma forma de permitir que elas se repitam?
Por isso há uma parte da sociedade que faz questão de lembrar. A barbárie da tortura deve ser denunciada e lembrada sempre, para que a humanidade enterre essa cultura.
Mas também fazemos questão de lembrar para reverenciar nossos heróis assassinados. Esse o motivo principal do tributo ao revolucionário Mário Alves. A classe trabalhadora saúda a sua luta e a sua história.
Homenagem ao “Vila”
Eis o depoimento do camarada do PCBR Antonio Lúcio Soares, sobre o “Vila”:
"Dotado de uma imensa capacidade de articular o processo político ao organizativo, Mário (Vila, como o chamávamos) conseguiu reunir várias tendências internas do PCB que militavam na, então, Corrente Revolucionária do PCB e que desaguaria, em seguida, no Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). Alguns tentaram menosprezar sua liderança ao incluírem o Mário como 'influenciado por setores mais radicalizados que mergulharam o PCBR num viés militarista' (sic).
Grave erro de avaliação. Mário foi quem melhor soube unificar a concepção marxista-leninista à prática da resistência revolucionária, quando muitos grupos não sabiam ao certo que caminho seguir: se o da negação da construção do partido marxista-leninista para não incorrer na burocratização que envolvera o PCB à época ou de ser apenas mais um grupo resistente à ditadura sem uma orientação clara sobre tática e estratégia.
Conseguiu ele viajar todo o país a fim de não deixar que os militantes da base rebelde do PCB se desgarrassem e caíssem no empirismo da militância sem estudo ou no academicismo do estudo sem militância. Até hoje, as sementes por ele semeadas dão seus frutos nos estudos feitos sobre o PCBR e na luta dos que buscam estudar mais profundamente os documentos políticos de fundação do PCBR e aplicá-los na luta diuturna pelo socialismo: Camarada Mário Alves? Presente!"
Quem foi Mário Alves
Mário Alves foi fundador e principal dirigente do PCBR, uma dissidência do Partido Comunista Brasileiro (PCB) que defendia a luta armada, na época da ditadura empresarial-militar. Segundo testemunhas, o jornalista foi barbaramente torturado e morreu no cárcere, em 17 de janeiro de 1970, um dia depois de ter sido preso pelo Doi-Codi. Mas o crime nunca foi apurado e até hoje Mário é dado como desaparecido.
A história de vida de Mário Alves de Souza Vieira (1923-1970) é um capítulo da luta e da resistência da classe trabalhadora e das camadas populares durante a ditadura no Brasil. Em depoimento extraído do livro “Desaparecidos Políticos”, o advogado Raimundo Teixeira Mendes relata que ele teve papel fundamental na formação do movimento revolucionário brasileiro:
“Militante e ex-dirigente do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e, posteriormente, do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), Mário Alves esteve sempre ligado à base do partido e incentivou a organização e a formação política com o apoio permanente ao fortalecimento das organizações ligadas aos trabalhadores. Opondo-se à orientação da direção do PCB, que naquele momento defendia uma possível aliança com a burguesia nacional, ele seria expulso do Partido em 1967.”
Torturado até a morte
Mário Alves tinha 46 anos quando, conforme o relato de sua companheira Dilma Borges, foi preso pelo Doi-Codi e "barbaramente espancado, submetido à suplício, com o uso de um cassetete dentado e o corpo todo esfolado por escova de arame". Mantendo-se fiel a sua postura política que marca sua trajetória de vida, ele se recusou a prestar as informações exigidas pelos torturadores.
Segundo informações do Grupo Tortura Nunca Mais, "a companheira de Mário Alves e sua filha Lúcia conseguiram, em 1987, que a União reconhecesse a responsabilidade civil por sua prisão, morte e danos morais. Foi, assim, o primeiro caso em que a União reconheceu sua responsabilidade por um desaparecimento político".
O Instituto Mário Alves
Sediado em Pelotas, no Rio Grande do Sul, o Instituto Mário Alves (IMA) procura manter viva a trajetória política e os princípios que impulsionaram a caminhada deste importante militante comunista. O IMA promove cursos e palestras nas mais diversas áreas de interesse dos movimentos sociais, colaborando para a formação política da classe trabalhadora e estudantil. Além de buscar desenvolver estudos e pesquisas políticas, econômicas e sociais.
Seu acervo conta com uma biblioteca com mais de três mil volumes e uma videoteca com mais de 800 filmes em VHS e DVD. Todo esse material é de conteúdo político e filosófico e trata dos diversos temas que envolvem a questão da luta de classes e as experiências políticas que buscam o processo de liberdade humana.
Por se tratar de uma Organização Não-Governamental, sem fins lucrativos e não partidária, esta importante entidade se mantém com a colaboração dos associados e, também, de algumas entidades sindicais. Saiba mais em imapelotas.blogspot.com